Graphos:Brasil apresenta Lippe Muniz

11/fev

A galeria Graphos:Brasil, Copacabana, Rio de janeiro, RJ, inaugurou a exposição “História da Melancolia”, individual do artista plástico Lippe Muniz. A mostra reúne cerca de 50 obras produzidas desde 2010, apresentando diferentes séries cuja temática aborda a condição humana.  A partir de imagens coletadas em feiras de antiguidades, em velhos álbuns de fotografia ou em revistas antigas, o artista trata com uma ótica ultra contemporânea de temas recorrentes no imaginário humano: “Falo da morte usando imagens do passado. Logo, a memória e a história tornam-se elementos chaves em minha problemática. Toda a minha poética é baseada na ideia de uma arte trágica. Colagem, desenho, pintura, instalação e performance se entrecruzam, se contaminam e criam uma obra única. Talvez uma Gesamtkunstwek (obra de arte total),” diz o artista. Na obra de Lippe Muniz cenas de conflitos e do cotidiano sob a ótica da opressão social e da construção de utopias, criam uma atmosfera onde passado e presente, memória e atualidade convergem de forma incisiva.  A exposição apresenta telas impregnadas de tinta negra, instalações, assemblages e apurados desenhos em grafite. As obras são marcadas por textos escritos à mão e por detalhes pictóricos que flertam com o surrealismo, na medida em que a incorporação de objetos do dia a dia e sua consequente resignificação por meio da colagem reforçam a poética metafórica dos trabalhos. Para a crítica literária Lívia Letícia “os muitos negros que saem da palheta de Lippe se entrelaçam à poesia da palavra-tinta em diferentes línguas, para invadir e dilacerar as tramas históricas e as cavernas da memória, deslocando sentidos, pelo riso melancólico e nervoso que macula e tatua com cicatrizes a História e a história. Marcas na memória: arte suja, bela e feia”.

 

 

São apresentadas três séries e um conjunto de objetos e uma instalação:

 

“Weltwehmut” – desenhos que tem por base imagens fotográficas combinadas com novos elementos, objetos, estranhas formas negras e fragmentos textuais, denotam impressões do absurdo, solidão, tristeza, opressão e morte.

 

“História da Melancolia” – série de pinturas negras que explora as possibilidades de criação pictórica sem a presença marcante da cor. São vestígios de rabiscos, respingos e as camadas de tinta preta (e branca) cortado por linhas vermelhas finas semiprecisas que formam estruturas geométricas e desenham um espaço quase que gráfico. As estruturas geométricas nos remetem ao desejo construtivo de ordem e de utopia e em meio a massa pictórica escura da obra, evocam lucidez.  A colagem de imagens do passado, imagens fotográficas de anônimos e figuras históricas, achadas nas gavetas da memória trazem consigo nostalgia e melancolia. A visão de um passado trágico, da história traumática de um homem que gravita entre o incerto e a finitude.

 

“Homens Carregam Homens Desde Que Eu Me Conheço” – Pinturas negras sobre papel feitas sob o impacto visual, sensível e intelectual das manifestações políticas que povoaram as ruas do mundo nos últimos anos.

 

“Objetos e instalação” – objetos (assemblages) e instalações criados a partir da combinação de imagens e objetos coletados ao acaso, mas que carregam uma memória, uma história, e que quando combinados (muitas vezes de forma precária) exprimem uma condição frágil, de equilíbrio precário, numa metáfora da própria condição humana.

 

Repletas de referências históricas, literárias e filosóficas, as obras desdobram-se em muitas camadas, proporcionando um convite à reflexão – nem sempre fácil, mas necessária – de temas humanos, demasiado humanos.

 

 

Sobre o artista

 

Lippe Muniz nasceu em Duque de Caxias, RJ, em 1986. Estudou Gravura na Escola de Belas Artes da UFRJ, frequentou os cursos Arte Hoje, Performance: O Corpo Como Linguagem e o Aprofundamento na EAV Parque Lage, e o curso Pósmodernidade:  A arte na Contemporaneidade na Escola de Belas Artes da UFRJ. Participa do Programa de residência Master der Fremde=Master der Heimat – Wortwedding Lade für Kunst und Poesie, residindo por um ano em Berlim na Alemanha. Participou de diversas exposições coletivas no Brasil e na Alemanha. Na Alemanha apresentou as individuais: A Minha Euforia Eu Carreguei Para um Canto Longe, Wortwedding Lade für Kunst und Poesie, Berlim, Alemanha, 2012; e Bühne für Kohle, Stöcke und Schweigen, Kunsthof Jena, Jena, Alemanha, 2010.

 

Até 1º de março.

Três artistas na Inox

05/fev

Chama-se “ Diálogo: Um Chão Para Brincar, Um Céu Para Voar”, exposição coletiva dos artistas Adrianna eu, Lívia Moura e Renato Bezerra de Mello, com curadoria de Isabel Portella,  na Galeria Inox, Shopping Cassino Atlântico, Copacabana, Rio de Janeiro, RJ. Em exibição: cinco objetos, dois desenhos, um vídeo, uma fotografia e duas instalações. Um diálogo sutil entre esses três artistas. Ao se apropriarem sutilmente de suas poéticas eles criaram diálogos entre si, traçaram pontes, caminhos e comungaram das mesmas questões. O olhar desses artistas alcança outras verdades. Escadas, gaiolas e espirais guardam visões e ampliam o olhar do espectador.

 

Adrianna eu apresenta uma instalação e dois objetos que abordam o campo dos afetos, tema recorrente em seus trabalhos. Depois de uma visita ao oftalmologista e a possibilidade de “corrigir” seu grau, por meio de uma cirurgia, a artista decidiu não mudar nada para que seu olhar singular sobre o mundo se mantivesse. Logo depois, começou a esboçar uma série inteira de trabalhos relacionados a esse tema, que vai ser apresentando na Galeria Inox. São óculos antigos, suspensos no ar, que hora estão ligados por costura, hora pendem do teto da galeria na altura dos olhos, seguros por fios transparentes, hora se agrupam dentro de uma gaiola de pássaros. Para a artista, eles questionam as distâncias, os padrões, o que é perto e o que é longe na relação com o outro, com si mesmo e com o mundo.

 

Depois de alguns diálogos com o grupo, Lívia Moura teve uma sensação que a acompanha desde pequena, quando está para dormir, naqueles instantes de vigília. Uma sensação de ser extremamente minúscula em um espaço gigantesco ou ser gigantesca num espaço extremamente minúsculo. Desse sentimento, veio a instalação “Vigília”, criada em Lisboa e banhada na água benta do santuário de Nossa Senhora de Fátima. Quase como um altar, a escada de rendas brancas fica pairando no ar e se desmancha em uma nuvem. Ela não toca o chão, mas um fio ligado a ela chega até o chão e se espalha pela sala. No fim do fio está o rolo de linha que a tudo originou. As rendas são uma marca no trabalho da artista, onde atuam como uma rede de conexões com a grande paisagem, com a totalidade.

 

Renato Bezerra de Mello mostra um conjunto de obras em diferentes mídias (um vídeo, três objetos, um desenho e uma fotografia) tendo como ponto de partida o vídeo “Um chão para brincar”, no qual o artista trava um embate inglório com pequenos tubos de papel, muito leves, que tenta a todo custo manter de pé, sem muito sucesso. Este movimento contínuo evoca primeiramente a visão do perfil de uma grande cidade e suas constantes transformações, mas o espectador não deve se prender a isto, estabelecendo outras relações. Na sua queda os tubos emitem um belo som, compondo uma discreta peça musical surgida do acaso. Esses mesmos tubos serão apresentados na exposição, quer seja deitados sobre uma superfície plana (nos fazendo pensar numa maquete de uma pequena biblioteca de rolos em pergaminho); ou recolhidos em pequenos rolos condicionados em pequenas caixas, uns dentro dos outros. Além disso, numa alusão aos tubos também vai mostrar uma nova série de desenhos em grafite. Por fim, vai exibir uma fotografia escolhida entre várias que costuma fazer durante a elaboração de suas obras, um fragmento do seu processo de trabalho.

 

 

Adrianna Eu

 

Nasceu no Rio de Janeiro, em 1972, onde reside e trabalha. É formada pela EAV-Parque Lage. Realizou sua primeira exposição individual em 2005, Trabalhos Recentes, Comemorativa de 20 anos do Paço Imperial/RJ. Participou de diversas exposições coletivas nacionais e internacionais. Tem como um de seus temas as relações das pessoas com a própria identidade. Gosta de pensar que sua trajetória é traçada pelo desejo.

 

 

Lívia Moura

 

Lívia Moura, 27 anos, nasceu e cresceu no Rio de Janeiro. Iniciou sua pesquisa poética nas artes plásticas aos 15 anos. Frequentou a Escola de Artes Visuais do Parque Lage, formou-se no Instituto de Artes da UERJ. Atualmente, vive e trabalha entre o Brasil e a Itália. Seus desenhos são como uma planta de arquitetura que se desdobra em instalações e performances. O resultado é uma produção multimidiática que inclui livros, fotografias e vídeos. Em março, Lívia fará uma exposição invidual na galería Dino Moora, em Nápoles, Itália.

 

 

Renato Bezerra de Mello

 

Natural de Pernambuco, mora no Rio de Janeiro há 30 anos, tendo trabalhado como arquiteto no restauro de bens tombados até o início dos anos 2000, quando vivendo em Paris passou a dedicar-se exclusivamente às artes plásticas. Já fez exposições em varios lugares do mundo e no Brasil. No momento, participa de uma exposição coletiva Play, no Museu Bispo do Rosário Arte Contemporânea, no Rio de Janeiro, assim como da itinerância da 17ºBienal de Cerveira, em Portugal.

 

 

De 19 de fevereiro a 22 de março.

Ernesto Neto no Guggenheim Bilbao

22/jan

A partir de fevereiro, o museu Guggenheim Bilbao, Bilbao, Espanha, vai dedicar uma exposição ao artista brasileiro Ernesto Neto. A exibição ganhou o título de “The Body that Carries Me” e o artista, que se autodefine escultor, cria seus trabalhos para que sejam percorridos, habitados e sentidos, permitindo que o espectador, ao contemplá-las, experimente seu próprio corpo e sensações através da obra e vice-versa. Ao interagir com as obras e com as outras pessoas, os visitantes se veem imersos em uma fusão de escultura e arquitetura. Nelas, Ernesto Neto explora a sensualidade e a corporalidade, nos aspectos comuns das relações interpessoais. A exposição no Guggenheim Bilbao ocupará o átrio central e oito galerias do segundo andar do prédio. Cada uma delas oferecerá uma experiência diferente, que exigirá um ritmo distinto para sua consequente visão ou participação.

 

Segundo o Guggenheim Bilbao, a mostra foi desenvolvida em parceria com o artista. Suas obras exploram os sentidos, como olfato, visão, linguagem e outros aspectos sensoriais. Para Ernesto Neto, a mostra é um local para a poesia, onde os visitantes podem escapar da rotina. Ao todo, serão exibidos cerca de 25 trabalhos  que marcaram a trajetória do artista. A curadoria é de Petra Joos, um nome de referência no circuito artístico europeu.

 

 

A palavra do artista

 

“Estamos sempre recebendo informação, mas na exposição o meu desejo é fazer com que as pessoas parem de pensar e encontrem um refúgio na arte. Eu acho que não pensar é bom, porque isso nos dá um respiro da vida”.

 

De 13 de fevereiro a 18 de maio.

Coletiva na Galeria Laura Marsiaj

A Galeria Laura Marsiaj, Ipanema, Rio de Janeiro, RJ, apresenta a exposição coletiva “JUNTOS, APOLO e DIONISIO”, sob a curadoria da crítica de arte Ligia Canongia. A curadoria elencou os seguintes artistas (em ordem alfabética): Angelo Venosa, Antonio Dias, Daniel Senise, Fábio Miguez, José Damasceno, José Resende, Kilian Glasner, Laura Vinci, Marcos Chaves, Paulo Pasta e Paulo Vivacqua. A proposta da curadoria foi reunir artistas que fundem a bipolaridade entre as formas apolíneas e as dionisíacas, isto é, aquelas que primam pela definição de uma estrutura precisa e aquelas que carregam uma pulsão mais vital e romântica.

 

 

A palavra da curadora

 

“Essa tensão bipolar sempre esteve enraizada na civilização ocidental, como uma esquizofrenia crônica, gerando programas artísticos que pendiam ora para a grade matemática, ora para a prática mágica ou orgíaca.”

 

“A ideia da exposição é exatamente revelar como os artistas contemporâneos romperam essa dicotomia, fundindo os dois polos de sua oposição, e imiscuindo a energia dionisíaca no seio mesmo do equilíbrio apolíneo.”

 

“Os artistas escolhidos parecem impermeáveis às dicotomias que nortearam a tradição histórica da arte, propondo obras que entrelaçam o cogito com as experiências sensoriais, na busca de espacialidades mais complexas e dissonantes.”

 

 

De 28 de janeiro a 13 de março.

 

Inos Corradin no Espaço Citi

15/jan

O Espaço Cultural Citi, Paulista, São Paulo, SP, inaugura exposição do pintor Inos Corradin. A curadoria é do crítico de arte Jacob Klintowitz que também assina a apresentação do artista. O artista exibe seu conhecido universo poético e geometrizado povoado de músicos, malabaristas, jogadores, paisagens que ganhou o sugestivo título “Inos Corradin. No percurso da arte, o artista na estrada”.

 

 

A palavra do curador

 

É espantoso como os fios que o pintor Inos Corradin urde criam personagens tão vivos, atuais e dotados do encantamento lírico que quinhentos anos de história agregaram ao nosso psiquismo. Os seus mágicos, equilibristas, músicos, cantores, mímicos, artistas itinerantes sem pouso e que percorrem estradas apenas pressentidas, são quase os mesmos que no século XV andavam pelo interior da Itália e que criaram a lendária Commedia d’ella Arte. Hoje estes artistas ambulantes e a sua arte impregnada de improviso são o emblema da cultura antiacadêmica e o antípoda do naturalismo. O mundo contemporâneo ama e anseia por esta ação artística filha do eterno presente.

 

O nosso espaço é limitado, mas como não recordarmos da “Família de saltimbancos”, de Pablo Picasso, feita em 1905? Ou do casal de artistas ambulantes, na sua carroça, no “Sétimo Selo”, de Ingmar Bergman, no seu confronto com a morte e a fugacidade da vida, onde o símbolo da continuidade é o jovem casal itinerante e o seu bebê? Neste contexto, talvez seja pecado não citar “La Strada”, de Federico Fellini, de 1954, centrado num artista circense e na mais doce e evanescente musa inventada pela arte, Gelsomina- Giulietta Masina. Ou o mito americano do horizonte libertário, núcleo do épico no cinema do faroeste e raiz da literatura on the road. Esses e centenas de outros artistas buscaram os fios no mesmo tear que alimentou Inos Corradin.

 

A produção de Inos Corradin, aos 85 anos, é esfuziante e certamente ele é um exemplar raro do artista que cria por prazer. O seu domínio do ofício é também raro, pois ele pinta à semelhança dos mestres. É curiosa uma época na qual temos que destacar como virtude o que parece a obrigação mínima de qualquer profissional. A iconografia do artista está centrada na figura humana travestida na sua função poética, o que explica a quantidade de trajes característicos, instrumentos musicais, cenas teatrais. A partir desta proposta essencial, o artista se detém nas vilas e casarios e nas paisagens e nelas, antes de tudo, temos o espaço aéreo, o céu, como personagem. De certa maneira, o conceito de elevação simbolizado pela ação artística, pelos artistas, pelos emblemas populares como as bandeiras, os pequenos núcleos de moradia, a paisagem dominada pelo céu, é o que determina a pintura e a escultura de Inos Corradin. Refinamento pela poética da ação artística e o espaço celeste marcante como ascenção.

 

É possível que Inos Corradin, como parte da melhor arte da nossa época, possa ser entendido como um momento anárquico de rejeição de padrões institucionais marmóreos e estáticos, mas é, antes de qualquer outra coisa, um gesto pessoal de fidelidade à arte como poética e a certeza de que a humanização do ser humano não pode prescindir da vivência estética.

 

 

De 20 de janeiro a 21 de março.

Tomie Ohtake no Rio

13/dez

O Centro Cultural Correios, Centro, Rio de Janeiro, RJ, exibe a exposição “Correspondências”, mostra organizada pelo Instituto Tomie Ohtake, que faz parte das comemorações do centenário da artista e conta com obras de sua produção desde 1956 até 2013, além de trabalhos de artistas contemporâneos. Com curadoria de Agnaldo Farias e Paulo Miyada, a homenagem em forma de mostra aproxima o trabalho de Tomie Ohtake de outros artistas através de interesses em comum, como o gesto, a cor e a textura, e o modo como cada um deles lida com essas características. A partir daí, revelam-se temas e sensações inesperados, tanto na obra de Tomie, como na de seus interlocutores. “Partindo do gesto, por exemplo, somos conduzidos pelas linhas curvas das esculturas de aço pintado de branco de Ohtake, que atravessam o espaço e lhe imprimem movimento, as quais se encontram com a linha inefável dos desenhos Waltercio Caldas e a linha espacial composta pelo acúmulo de notas de dinheiro de Jac Leirner”, ressaltam os curadores.

 

Agnaldo Farias e Paulo Miyada destacam também que a curvatura do gesto das mãos de Tomie anuncia-se nos indícios da circularidade presentes em suas primeiras telas abstratas produzidas na década de 1950 e culmina no círculo completo e na espiral, formas recorrentes nas últimas três décadas de sua produção. Esse percurso é apresentado em companhia de obras que extravasam o interesse construtivo da forma circular, como nas obras de Lia Chaia, Carla Chaim e Cadu. Uma vez que se forma o círculo, discute-se a cor, pele que corporifica toda a produção de Tomie Ohtake e que é fundamental aos artistas que são apresentados nesse grupo. “De contrastes improváveis a variáveis que demonstram a profundidade latente em um simples quadro monocromático, exemplos de pinturas dos anos 1970, figuram lado a lado com obras recentes de Tomie e com telas de especial sutileza na produção de artistas como Paulo Pasta e Dudi Maia Rosa”. Segundo eles, em Tomie, a cor é sempre realizada por meio da textura e da materialidade da imagem, que foi deixada a nu em suas “pinturas cegas” do final da década de 1950 e, desde então, nunca se recolheu, mesmo em telas feitas com delicadas camadas de tinta acrílica.

 

Complementa o pensamento dos curadores a tese de que há uma longa linha de experimentos que desfazem a ilusão da neutralidade do suporte da imagem pictórica, a qual se inicia muito antes das colagens cubistas e possui um momento decisivo nas iniciativas que ousaram liberar-se do verniz em parte de algumas pinturas realizadas no século XIX. “Essa linha de experimentos tem em Tomie uma pesquisadora aplicada, que pode reunir em torno de si figuras tão distintas como Flavio-Shiró, Arcangelo Ianelli, Oscar Niemeyer, Daniel Steegmann Mangrané e Carlos Fajardo”.  A exposição conta com 84 obras, sendo 28 de Tomie Ohtake e mais: Adriano Costa, Angela Detanico & Rafael Lain, Bartolomeu Gelpi, Carmela Gross, Cildo Meireles, Claudia Andujar, Cristiano Mascaro, Fabio Miguez, Israel Pedrosa, Karin Lambrecht,  Kimi Nii, Leda Catunda, Luiz Paulo Baravelli, Maria Laet, Nélson Félix, Nicolas Robbio, Paulo Pasta, Sergio Sister, Tiago Judas e Tony Camargo.

 

 

De 18 de dezembro até 09 de fevereiro de 2014.

Duas mostras de Antonio Henrique Amaral

11/dez

O artista plástico Antonio Henrique Amaral inaugura, aos 78 anos, duas exposições em São Paulo. A primeira acontece na Pinacoteca do Estado, Praça da Luz; e a segunda estará em cartaz na Caixa Cultural, Praça da Sé. Para o jornalista Silas Martí, a obra do artista saiu no início “…do verde ao amarelo e ocre, … frutas que dominaram cerca de 200 pinturas do artista nos anos 1960 e 1970, entraram para a história da arte brasileira como metáfora tropical dos descaminhos da ditadura que começou com o golpe de 1964”.

 

Suas bananas estrearam com um estrondo em 1968, no auge da arte pop e da nova figuração, que dissolviam a austeridade do concretismo e viraram uma espécie de síntese colorida da tropicália de Caetano Veloso e Gilberto Gil. No começo, elas eram verdes, saudáveis, exuberantes. Depois, amadureceram até apodrecer. Foram parar no prato, destroçadas por garfos e enforcadas por cordas até que não sobrasse mais nada Agora, quase três décadas depois do fim da ditadura, Amaral e suas bananas são relembradas nessas duas mostras em São Paulo – uma retrospectiva com 160 obras na Pinacoteca  e a exposição de 100 desenhos e gravuras na Caixa Cultural. A curadoria da mostra da Pinacoteca é de Maria Alice Milliet,  que  vê uma série de elementos nas polêmicas telas. “A banana é o fálico, a latinidade, o luxuriante, o tropicalismo”, afirma. “Elas serviam para tudo.” Também serviram para alçar o artista ao panteão de sua geração no circuito das artes visuais no país.

 

 

A palavra do artista

 

“Queria esculhambar com o governo militar, que estava reduzindo o Brasil a mais uma república das bananas, como eram as republiquetas centro-americanas”.

 

“Meu desafio era pintar e, ao mesmo tempo, refletir sobre a tortura e as prisões numa coisa explosiva, sarcástica, de deboche.”

 

Ele lembra que na ditadura os censores do regime notaram as pencas de ironia plasmadas nas telas. “Mas eles cairiam no ridículo fechando uma exposição de bananas”, afirma. “Esse foi meu jeito de fazer uma sátira sem ser massacrado por eles.”

 

Sou um incoerente confesso”, diz Amaral. “Sempre fui um lobo solitário no meio das tendências.”

 

Na Pinacoteca do Estado de São Paulo,

até 23 de fevereiro de 2014.

 

Na Caixa Cultural,

de 14 de dezembro até 16 de fevereiro de 2014.

 

Fonte: Silas Martí – Ilustrada/Folha de São Paulo.

Artistas internacionais na Fundação Iberê Camargo

06/dez

A Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, RS, exibe a exposição “ZERO”, uma compilação de obras originais e reconstituições de uma das mais importantes vanguardas do pós-guerra europeu. Iniciado em Dusseldorf no final da década de 50 pelos alemães Heinz Mack e Otto Piene – a quem posteriormente se juntou Günther Uecker –, o movimento “ZERO” promoveu uma ruptura com o expressionismo abstrato e o tachismo em voga, utilizando em suas obras vibração, luz e sombra, monocromia, movimento mecânico e deslocamentos rítmicos. A mostra busca estabelecer um diálogo entre o trabalho do grupo de Mack, Piene e Uecker e o de artistas de outras partes do mundo, cujas aproximações nem sempre se deram de forma consciente – a exemplo dos quadros Branco/Preto de Hércules Barsotti; de Bicho – Relógio de Sol, de Lygia Clark e de Progressão e Sequência Vertical S-30, de Abraham Palatnik. Almir Mavignier, único brasileiro que participou ativamente do movimento, ganha a reconstrução de seu painel de cartazes Forma. Por outro lado, a exposição traz nomes que influenciaram o pensamento de ZERO, como o de Yves Klein com sua pintura monocromática azul e dos Conceitos Espaciais de Lucio Fontana.

 

O trabalho com a luz de Heinz Mack aparece na réplica da estrutura de espelhos em movimento Interferências – Movimentos integrantes de um espaço virtual e na original Vibração da luz, bem como no óleo sobre tela Estrutura dinâmica branco sobre cinza. Já Otto Piene faz a luz dançar com as instalações Balé de Luz, Sonâmbulo e Cilindro de Luz e duas telas, o óleo Luz em agosto e a pintura de fumaça Pintura a fumaça sobre vermelho / 1 volume. Os pregos, matéria-prima de Uecker, aparecem em Pintura branca, que, junto com o Objeto de cabides 1 e a reconstrução de sua Chuva de luz de 66, dão prova do talento e inventividade do artista da Alemanha Oriental.

 

Destaca-se também Hans Haacke, com a reconstrução de Pequena vela, tecido suspenso sobre ventilador, e com sua Escala grande de água. As pinturas móveis de Jean Tinguely e as grandes esculturas de espelhos de Christian Megert estabelecem um paralelo com a ambientação Espaço Elástico de Gianni Colombo, composta por feixes de elásticos movimentados eletromecanicamente. Já Corpo de ar, conjunto de balão, suporte e máquina pneumática, e Linha – trechos de uma linha infinita traçada pelo artista – são uma pequena amostra do trabalho conceitual de Piero Manzoni.

 

Não apenas uma exposição histórica, ZERO é uma experiência fortemente sensorial, que mostra, no segundo e terceiro andares do espaço expositivo da Fundação Iberê Camargo, a atualidade do pensamento de grandes nomes das décadas de 1950 e 1960. Com curadoria da historiadora de arte Heike van den Valentyn, a exposição é uma realização da Fundação com o Museu Oscar Niemeyer de Curitiba e a Pinacoteca do Estado de São Paulo e conta com a parceria do Goethe-Institut e o apoio do Ministério NRW e Pro Helvetia.

 

 

Até 04 de março de 2014.

 

A arte sonora de Floriano Romano

03/dez

A Galeria Laura Alvim, Ipanema, Rio de Janeiro, RJ, exibe sob a curadoria de Glória Ferreira, “Sonar”, exposição individual do artista carioca Floriano Romano. São oito instalações sonoras, das quais seis inéditas, e 14 desenhos. Floriano Romano é um precursor em obras que combinam instalação, performance e som. Seu programa ‘Oinusitado’, na Rádio Madame Satã, entre 2002 e 2004, na Lapa, RJ, foi considerado excepcional em termos de artes visuais, música e poesia. Ele teve propostas sonoras transmitidas pela Rádio WKCR, Columbia, NY, 2004; Rádio Student, Liubliana, Eslovênia, 2006; Rádio Ressonance FM, Londres, 2008 e Rádio MEC/FM, RJ, entre 2005 e 2007.

 

A exposição “Sonar”, segundo Floriano Romano, é “toda baseada em ruído”. Cabe definir ruído para as artes, com um trecho do texto do folder da mostra, assinado pela curadora: “A palavra ruído, no senso comum, significa barulho, som ou poluição sonora não desejada. Adquire, porém, outros significados em diversas áreas. (…). Para Romano, além do aspecto político, por estar à margem e ser, assim, expressão desordenada, ‘o ruído é a expressão do mundo, é indeterminado, então ele toca direto nos sentidos, fala direto com os sentidos (…)’”.

 

Os trabalhos da exposição estão programados para não soarem ao mesmo tempo. O som de cada um cresce na medida que o do outro decresce. São eles: “O Estrangeiro” é um móvel com vinte gavetas, cada uma emitindo ruídos diferentes de cidades visitadas pelo artista;
“Radionovelas” se compõe de quatro a seis rádios antigos. De cada um sai uma curta história ficcional de autoria de Romano; “Acusmata” batiza uma instalação de parede com uma cavidade, da qual partem ruídos gravados no cruzamento de ruas do centro da cidade do Rio. Acusmata é quem não percebe a origem de um som; “Turbina” ficará na sala que dá para a praia de Ipanema. Tubos de PVC, perpendiculares à parede de 9m2, recobrem a superfície, onde se ouve o som do mar. Paisagem externa e som aqui se fundem; “O Passeio” intitula 29 caixas de papelão que repercutem ruídos de atritos do corpo humano gravados por dois bailarinos dirigidos pelo artista; “Kafka” tem três máquinas de escrever mecânicas, cujas teclas se movem sozinhas, acionadas por motores. O título se refere a uma cena do filme “O processo”, de Orson Wells, sobre o livro homônimo de Franz Kafka; “Polipoesia” são criações em texto veiculados em monitores de TV; Na área externa da galeria, está a instalação “Chuveiros Sonoros” com três duchas de piscina que “despejam” músicas cantadas no chuveiro por anônimos. A torneira regula o volume. Os desenhos abstratos são feitos com fita isolante sobre papel. As linhas dialogam entre o bi e o tridimensional. São realizados como performances, sem projeto anterior, e remetem à trajetória do movimento do encontro de pessoas.

 

 

Sobre o artista

 

Floriano Romano se intitula “artista visual e sonoro”. Seu programa de rádio “Oinusitado” foi ponto de encontro da cena de arte sonora carioca de 2002 a 2004. Ele trabalha com intervenções urbanas e sonoras, abertas à participação e produzidas pelo próprio público. A partir do imáginário da multidão, produz objetos ou ações sonoras voltadas para os passantes. Entre os prêmios e bolsas conquistados pelo artista estão: Prêmio Projéteis de Arte Contemporânea e o Prêmio Marcantonio Vilaça, da FUNARTE, 2012;  Prêmio Interações Estéticas da FUNARTE com o trabalho “Sapatos Sonoros”, 2009 e Prêmio Projéteis de Arte Contemporânea com a performance “S.W.O.L, Sample Way of Life”, 2008. Sua performance com a mochila sonora “Falante” foi premiada no Salão de Abril, Fortaleza, em 2007, e participou da coletiva “Futuro do Presente”, no Itaú Cultural, São Paulo, SP. Em 2000/1 ganhou a bolsa de Artista Residente pela Câmara Municipal do Porto, Portugal, e, em 2008, a Bolsa de Estímulo às Artes Visuais da FUNARTE, com o projeto de intervenção urbana “Lugares e Instantes”. Entre várias outras mostras, realizou, em 2011, o projeto “INTRASOM” no MAM-Rio e participou das coletivas Panorama da Arte Brasileira no MAM-SP e “Voces Diferenciales”, em Havana, Cuba. Em 2009 integrou a 7ª Bienal do Mercosul, com “Grito e Escuta”. Esteve na “Mostra Desenho das Ideias” com a ação sonora “Crude”, de Guilherme Vaz, usando a arquitetura do museu como instrumento para executar a composição, e na “Mostra Absurdo”, com seus “Chuveiros Sonoros”. Participou da coletiva “Desenhos&Diálogos” em 2010, na Anita Schwartz, RJ, através de quem participou também da ArtRio de 2011.

 

 

Até 09 de março de 2014.

Memórias do artista

A Galeria Lume, Itaim-Bibi, São Paulo, SP, realiza a exposição “Avessos”, individual do artista plástico Lúcio Carvalho, com curadoria de Paulo Kassab Jr. A mostra é composta por 16 obras inéditas, entre fotos, esculturas, backlights e pinturas, totalizando a uma representação de uma coleção de memórias do artista por meio de lembranças reconstruídas.

 

Com recordações pessoais remontadas em suportes distintos, Lúcio Carvalho elabora suas obras a partir de elementos representativos de uma determinada época de sua vida, tais quais o onipresente coração, o crânio, o esqueleto animal, o pneu, entre outros. Cada um deles tem um significado único para o artista – como o pneu, que era um de seus “brinquedos” favoritos. Os trabalhos que compõem “Avessos” se apresentam como uma fusão de elementos da memória do artista. A série inédita possui uma intensa carga de memória afetiva e relata suas vivências.

 

Quando criança, Lúcio Carvalho conviveu com seus pais, avós, irmãos e primos em uma fazenda chamada “Não Sei”. O artista reparava e desenhava tudo ao seu redor, sempre em clima de diversão e amor, dentro de uma família muito extensa.  Entretanto, Lúcio Carvalho sentia-se deslocado nesse meio. Enquanto as demais crianças brincavam no campo e andavam a cavalo, o artista escondia-se embaixo da mesa ou em outros lugares, reparando o dia a dia na fazenda: “A mesma árvore onde brincávamos balançando em pneus, eram pendurados os alimentos. (…) Porém, ponderando sobre isso, eu percebi que meu trabalho é muito mais sobre os sentimentos nos quais se envolvem as minhas lembranças, do que simplesmente objetos pendurados. O “Avesso” é minha vontade de ver o contrário do que tudo aquilo representa como figura”, confessa o artista.

 

Nas palavras de Paulo Kassab Jr., diretor cultural da Lume e curador da exposição: “A nostalgia está sempre muito presente nos trabalhos de Lúcio Carvalho. Nessa série, observamos que todas as obras são acúmulos de memórias. Histórias contadas em uma única escultura, pintura ou fotografia. As cristaleiras de sua avó, usadas para guardar objetos e presentes importantes, misturam-se com os pneus que eram um dos seus brinquedos favoritos, envoltos em uma nevoa criada pela queima da cana de açúcar.”

 

 

 Até 21 de dezembro.