Esculturas e objetos de Rafael Bqueer

08/jun

 

Conhecida por trabalhos de performances, fotos e vídeos, a artista Rafael Bqueer criou, pela primeira vez, esculturas e objetos tridimensionais, que serão apresentados a partir do dia 11 de junho e até 17 de julho, na exposição “Boca que tudo come”, na C. Galeria, Jardim Botânico, Rio de Janeiro, RJ. Com curadoria de Paulete Lindacelva, serão apresentadas dez obras inéditas, criadas este ano, inspiradas no carnaval, mas que também se desdobram em temas que a artista já vinha trabalhando, como o universo Drag Themonia e a luta por questões raciais e de gênero. No dia da abertura, às 17h, será realizada uma visita guiada com a artista e a curadora.

“Meu trabalho percorre o universo das escolas de samba e da cultura drag. Estes novos trabalhos trazem esse universo da fantasia, dos adereços, da maquiagem. É como se eu tivesse tirado esses elementos do corpo, dando a eles uma nova forma”, diz Bqueer. “Sinto este trabalho como uma prática de desuniformizar, de criar também uma trama de propósitos, de refazer os tecidos da linguagem com nós”, acrescenta a curadora.

As obras são compostas por paetês, pedrarias e tecidos diversos, elementos que fizeram parte do carnaval de 2020 e foram doados pela escola de samba Grande Rio para a artista. “As alegorias exuberantes dos barracões são transportadas para a galeria como alegorias da própria língua e confirmam sua presença no trabalho como algo vasto de muita suntuosidade e de potencial transformador do material”, ressalta a curadora Paulete Lindacelva.

Muito ligada ao carnaval, Bqueer foi destaque da escola campeã deste ano, cujo tema foi Exu, que também inspirou a artista na criação das novas obras. “O desfile da Grande Rio deste ano foi uma das principais referências para a criação de vários trabalhos e também do título da exposição, em referência a Exu. Mastigar os universos e vomitar um novo projeto”, conta a artista, que começou sua história com o carnaval em Belém, onde trabalhou em diversos desfiles, incluindo o da Império de Samba Quem São Eles, uma das maiores agremiações paraenses, além de ter trabalhado em diversas escolas cariocas dos grupos D, B e A.

“É a gênese e uma boca com fome que não se sacia. Pela boca de Exu tudo passa. A fome de Exu não cessa, pois é pela sua boca que tudo acontece, conflui, compartilha. Na boca de Exu se instaura o mistério de todo acontecimento vivo. Engole para devolver de maneira ambívia! O que ultrapassa a ideia de antropofagia, pois é muito mais antigo e é na diferença que o mistério acontece”, ressalta a curadora.

Os trabalhos também abordam a questão do racismo, trazendo suas experiências com os desfiles das escolas de samba, arte drag e a cultura de massa das periferias para questionar os símbolos eurocêntricos de poder, bem como a ausência de narrativas afro-brasileiras e LGBTQIA+ na arte-educação e em instituições de arte. Paralelamente a seu trabalho como artista visual, Bqueer tem um trabalho como drag queen e é uma das fundadoras do coletivo paraense Themônias. O grupo, formado em 2014, reflete, já no nome, a estética distante do padrão das drags luxuosas e subverte o fato dos corpos LGBTQIA+ terem sido historicamente demonizados. “Isso tudo também está presente nesses novos trabalhos, a estética da monstruosidade, do exagero, do brega”, ressalta Rafael Bqueer, que foi selecionada pela Bolsa ZUM 2020, do Instituto Moreira Salles, com uma série de quatro curtas-metragens do projeto Themônias, que tratam da cena drag-themônia amazônica.

Sobre a artista

Rafael Bqueer nasceu em Belém, Pará, 1992. Vive e trabalha entre Rio de Janeiro e São Paulo, tem formação em Artes Visuais pela UFPA. Trabalha com múltiplas plataformas, como fotografia, vídeo e performance. Em seu trabalho, investiga o impacto do colonialismo e da globalização por meio de ícones da cultura de massa recontextualizando as complexidades sociais, raciais e políticas do Brasil. Participou de exposições nacionais e internacionais, destacando: “Against, Again: Art Under Attack in Brazil”, Nova York (2020), e a individual “UóHol”, no Museu de Arte do Rio (2020). Artista premiada na 8º Edição da Bolsa de fotografia da Revista ZUM – Instituto Moreira Salles (2020) e na 7º edição do Prêmio FOCO Art Rio (2019).  Participou da 6º edição do Prêmio EDP nas Artes do Instituto Tomie Ohtake (2018) e da 30ª edição do Programa de Exposições do Centro Cultural São Paulo-CCSP (2020). Atualmente, além da exposição individual “Boca que tudo come”, na C. Galeria, a artista também participa das exposições coletivas “Crônicas Cariocas” e “Enciclopédia Negra”, no Museu de Arte do Rio (MAR), “Zil, Zil, Zil”, no Centro Municipal de Artes Hélio Oiticica (RJ) e “Misturas”, no Galpão Bela Maré (RJ). Suas obras fazem parte das coleções do Museu de Arte do Rio (MAR), Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM Rio) e Museu do Estado do Pará (MEP).

Sobre a Galeria

A C. Galeria é uma galeria de arte contemporânea que, através de novas ideias e formatos, contribui para uma nova forma de fazer e pensar o colecionismo da arte. Dirigida por Camila Tomé, a galeria surgiu em 2016 e está localizada no Jardim Botânico onde desde então apresenta um programa que auxilia e desenvolve nacional e internacionalmente a carreira de seus artistas representados. A C. Galeria propõe projetos plurais de arte contemporânea e abre espaço para discussões sobre ativismo, arte e vida sendo representante dos artistas Bruno Weilemann, Diego de Santos, Eloá Carvalho, Emerson Uýra, Laura Villarosa, Marcos Duarte, Maria Macedo, Paul Setúbal, Piti Tomé, Rafael Bqueer, Ruan D`Ornellas e Vítor Mizael.

Primeira individual européia

06/jun

 

 

O artista brasileiro Mundano exibe novas criações na Galeria Kogan Amaro, Zurich, de 11 de junho até  22 de outubro. Mundano é um artista e ativista cultural brasileiro cujas obras têm sido vistas tanto nas ruas como em museus e galerias. As obras em “Made in Brazil”, sua primeira exposição individual na Europa, parecem a princípio ser sedutoras e mordedoras. Uma série de pinturas retrata cenas de floresta nebulosa, enquanto várias esculturas aparecem, em inspeção próxima, para representar bifes de carne. Mas o verdadeiro tema destas obras altamente carregadas é tudo menos divertido: o corte claro e a queima de vastas faixas da floresta tropical amazônica, para criar terras de pastagem para gado cujas carcaças abatidas serão enviadas ao redor do mundo.

 

“Esta exposição é a prova de um crime”, diz o artista. “A população bovina do Brasil é mais do que sua população humana, e nós exportamos 80% da carne”.

 

Com energia incansável, Mundano dedicou-se a uma missão de vida de criar um legado ambiental e social com sua arte – uma missão que o levou, nos últimos quinze anos, a dar palestras, montar exposições e encenar intervenções em mais de quarenta cidades ao redor do mundo, incluindo o Brasil. Considerado pela Much-awarded na área de arte pública, direitos humanos, criatividade e inovação digital, Mundano é um TED Fellow e fundador da ONG Pimp My Carroça, que leva seu nome de um corpo de trabalho de Mundano iniciado em 2007, quando o artista começou a usar suas habilidades de pintura para embelezar os carrinhos de madeira e metal, cenouras, usados por catadores de lixo no Brasil para transportar lixo e recicláveis como os carrinhos usados por pessoas de rua em todo o mundo, mas raramente notados de forma comemorativa.

 

A arte e o ativismo de Mundano são construídos sobre uma grande tradição avançada por uma geração de artistas conceituais dos anos 80 e 90, cuja fúria sobre os males sociais os inspirou e os capacitou a fazer obras de arte revolucionárias. Hoje, o século XXI enfrenta uma crise ainda mais maciça – como abordar a própria saúde do Planeta Terra? – e uma nova geração de artistas está enfurecida e engajada. Essencial para o DNA da arte de Mundano é o engajamento comunitário, que promove a transmissão de conhecimento, insights, práticas e sabedoria para nossos semelhantes mortais. Qual deve ser nosso legado, pergunta Mundano através de seu trabalho, e como todos nós podemos praticar uma melhor administração de nosso amado mundo?

 

Simon Watson

 

Sobre o artista

 

Utilizando a arte para marcar seu posicionamento social, ambiental e político, o paulistano MUNDANO há mais de 15 anos exerce efetivamente o artivismo como ferramenta de transformação social. Defensor de causas ambientais e dos direitos humanos universais, fundou em 2012 a ONG Pimp My Carroça, e o aplicativo Cataki, ambos voltados para a conexão entre geradores de resíduos e os catadores de material reciclável. O resultado do seu trabalho abriu portas para replicar essas ações artivistas mundo afora – mais de 20 países visitados realizando murais, exposições, graffiti, palestras, parcerias e integrando programas globais como o TED Fellows. Nos últimos anos, vem desenvolvendo uma intensa pesquisa de materiais, coletando resíduos dos maiores crimes ambientais da história do país, criando assim seus próprios insumos a partir desses dejetos:   lama tóxica, cinzas das queimadas das florestas e óleo derramado nas praias do nordeste. Esses resíduos se transformam em obras de denúncia, seja por meio do graffiti, em esculturas, telas ou nas empenas de prédios. Sua última obra, com mais de 1000m2, homenageia os brigadistas das florestas que apagam os incêndios criminosos – em uma releitura da obra “O Lavrador de Café” de Cândido Portinari, Mundano usa cinzas das queimadas de 4 biomas brasileiros: Floresta Amazônica, Mata Atlântica, Cerrado e Pantanal para criar essa gigantesca pintura como um símbolo contra o desmatamento ilegal.

 

Sobre o curador

 

Nascido no Canadá e criado entre a Inglaterra e os Estados Unidos, Simon Watson é um curador independente e educador artístico baseado em Nova York e São Paulo. Veterano de trinta e cinco anos no cenário cultural em três continentes, Watson concebeu a curadoria de mais de 300 exposições para galerias e museus e consultou programas de coleção de arte para inúmeros clientes institucionais e privados. Durante as últimas três décadas, Watson trabalhou com artistas emergentes e pouco conhecidos, trazendo-os à atenção de novos públicos. Sua área de especialização curatorial está identificando artistas visuais com potencial excepcional, muitos dos quais são agora reconhecidos internacionalmente na categoria blue-chip e são representados por algumas das galerias mais famosas e respeitadas do mundo.

 

 

Zerbini, exibição prorrogada

 

Luiz Zerbini é um dos principais nomes da arte contemporânea latino-americana, e esta é sua primeira individual em um museu em São Paulo. A mostra “Luiz Zerbini: a mesma história nunca é a mesma”, reúne cerca de 50 trabalhos e foi prorrogada até 31 de julho, em sua maioria inéditos, em que é possível ver características de sua diversa produção: o interesse na pintura, na monotipia, na instalação, na paisagem e na botânica, a paleta multicolorida e os diálogos entre abstração, geometria e figuração.

 

A exposição inclui cinco pinturas de grandes dimensões, quatro delas produzidas especialmente para a mostra, em que o artista revisita de maneira crítica a pintura histórica. Utilizada para representar eventos marcantes de uma nação, como guerras, batalhas, independências e abolições, a pintura histórica frequentemente os idealiza ou romantiza, a serviço de uma certa ideologia.

 

Em 2014, Zerbini recriou uma das imagens mais clássicas da pintura histórica brasileira, em sua icônica Primeira missa, formulando uma nova representação para essa cena ocorrida em 1500, que é um emblema da colonização portuguesa no Brasil. A partir dessa obra, o MASP comissionou novas pinturas para o artista, que realizou trabalhos sobre a Guerra de Canudos, ocorrida em 1896-97, o Massacre de Haximu, em 1993, o garimpo ilegal e os ciclos históricos de monocultura na agricultura no país.

 

A mostra inclui também 29 monotipias em papel da série Macunaíma (2017), concebidas para uma edição do livro do mesmo nome de Mário de Andrade (1893-1945), um marco da literatura modernista brasileira. As pinturas e as monotipias são instaladas em uma expografia que desdobra uma outra, elaborada em 1970 para uma mostra no MASP por Lina Bo Bardi (1914-1992), arquiteta que concebeu este edifício. Duas instalações ocupam as vitrines do Centro de Pesquisa e do restaurante no 2º subsolo do museu, uma com raízes extraídas do jardim do ateliê do artista no Rio de Janeiro, e outra com um conjunto de objetos expostos sobre caixas de areia.

 

A mostra foi especialmente pensada no enquadramento de Histórias brasileiras, ciclo temático da programação do museu em 2021-22. Seu subtítulo, a mesma história nunca é a mesma, aponta para a repetição das histórias ao longo dos séculos, bem como para a necessidade de se criar outras narrativas para esses episódios, fazendo emergir novas leituras, protagonistas e imagens.

 

“Luiz Zerbini: a mesma história nunca é a mesma” é curada por Adriano Pedrosa, diretor artístico, MASP, e Guilherme Giufrida, curador assistente, MASP.

 

Símbolos nacionais

 

 

No ano em que se comemora o bicentenário da Independência do Brasil, a Galeria Movimento, Gávea, Rio de Janeiro, RJ,  apresenta a partir do dia 09 de junho, das 18h às 21h, a exposição “Re-Utopya”, primeira grande individual do artista Hal Wildson, nascido em 1991 no Vale do Araguaia, região de fronteira entre Goiás e Mato Grosso, com obras em diferentes suportes que fazem uma revisão crítica da história de nosso país. Os trabalhos, recentes e inéditos, mostram as várias séries que compõem a pesquisa poética a que o artista se dedica, onde memória, esquecimento, identidade e a palavra são suas ferramentas para pensar em um futuro possível para o país, e para o povo brasileiro, “ainda em formação”. Símbolos nacionais, máquina de escrever, digitais, primeiros registros históricos do povo brasileiro são usados nas obras em exposição, que tem texto crítico do artista e curador Divino Sobral.

 

Atualmente morando em São Paulo, Hal Wildson é conhecido principalmente por seu trabalho com imagens criadas a partir de uma datilografia extrema, e sua obra “República da Desigualdade – Meritocracia seja Louvada” (2018-2020) foi vista em rede nacional na abertura do documentário especial “Mães do Brasil”, produzido pela Favela Filmes e KondZilla Filmes, com direção de  Kelly Castilho e John Oliveira, e exibida pela Globo em dezembro. Naquele trabalho, imagens de arquivos nacionais de trabalhadores brasileiros, fotografias autoriais e registros da infância do artista são plasmadas em notas de “zero real”.

 

Um vídeo poético, feito durante o processo de criação da obra “Singularidades” (2020/2022), viralizou, e alcançou a marca de mais de cinco milhões de visualizações no Instagram, sendo compartilhado também por artistas, como Vik Muniz.

 

Gonçalo Ivo no Paço Imperial

03/jun

 

 

Nominada como “Zeitgeist” e sob a curadoria de Luiz Chrysostomo de Oliveira Filho, o pintor Gonçalo Ivo é o atual cartaz do Paço Imperial, Centro, Rio de Janeiro, RJ.

 

“A importância de um artista se mede pela quantidade de novos signos que ele introduz na linguagem”

 

Henri Matisse em conversa com Louis Aragon, 1942

Texto de Luiz Chrysostomo de Oliveira Filho

 

A presente exposição de Gonçalo Ivo no Paço Imperial reflete sua produção dos últimos quatro anos, alternando suas estadas nos ateliers de Vargem Grande, no Rio de Janeiro, Madrid e Paris, onde vive desde 2000, entremeadas por residências artísticas em New York e Bethany (Connecticut), nos anos de 2019 e 2020.

 

Foi em Bethany, na Fundação Annie e Josef Albers, no início de 2020, que a atual narrativa começou a tomar forma. Vindo de uma tradição sólida da pintura e considerado um dos maiores coloristas contemporâneos, o artista traduziu aqui, em óleos, têmperas e aquarelas, nos suportes de tela, papel e madeira, uma reflexão que altera não somente o caráter atemporal de suas obras anteriores mas também a noção de movimento e ordem. Seu recente isolamento, forçado pelas circunstâncias da realidade global, revelou nesses últimos trabalhos, a captura de elementos essenciais da existência humana, nossa fragilidade, a vulnerabilidade e o espiritual, na acepção dos melhores trabalhos de Kandinsky e Hilma af Klint, produzidos no convulsionado início do século XX. A exposição perpassa uma tríade de elementos que se interconectam, e que só podem ser plenamente apreendidos quando o todo se completa, ou quando o olhar se abastece de todas suas possíveis variantes.

 

Se nas Cosmogonias abrimos o caminho para o mistério da criação do universo e do simbólico, seja na exatidão de uma geometria cósmico-cinética das esferas, estruturadas por superposições e confrontos de cores, seja pela infinitude de nebulosas que mesclam sensações e diluem as certezas, são nas transparências das Contas de Vidro que ele introduz o lúdico, o melódico, o tátil e o jogo da vida . A alusão a obra de Herman Hesse não é fortuita.

 

Seus círculos cromáticos não se limitam a aplicação dos estudos sobre a cor como em Chevreul, Goethe ou nas proposições modernas do casal orfista Delaunay. São na verdade experiências sensoriais que se revelam a cada interação com o espectador, expandindo a percepção de que vivemos em um mundo mutável, muitas vezes distópico.

 

Mas é no seu Inventário das Pedras Solitárias, de complexa execução, que expande seu léxico e completa a referida tríade. As obras que compõem este inventário somente puderam ser pintadas pela experiência vivida em um exílio involuntário, onde a natureza bruta se mesclou a sensações de contemplação, erosão, perda e renascimento. Como um ciclo que se fecha, elas podem significar em seus múltiplos cinzas ou tonalidades leves de cor, tanto algo que flutua no espaço como algo que está entranhado na terra, querendo se revelar, isoladas, ou em busca de um encontro, um recomeço. Podem nos remeter a ancestralidades, mas também nos indicar a abertura para o novo. São as partes de um tempo partido, não apenas cronológico.

 

Da mesma forma como Hélio Oiticica escreveu em seu artigo Cor, Tempo e Estrutura (1960) que o tempo na obra de arte tem um sentido especial, diferindo dos sentidos que toma em outros campos do conhecimento, Gonçalo percorre o caminho simbólico, explorando a relação interior do homem com o próprio mundo, sempre em sua relação existencial.

 

Até 26 de junho.

 

Reinauguração e Exposição

 

 

 

O Instituto de Pesquisa e Memória Pretos Novos (IPN) reinaugura a exposição permanente do Museu Memorial Pretos Novos, Gamboa, Rio de Janeiro, RJ, sob a curadoria de Marco Antonio Teobaldo, no próximo dia 09 de junho, que foi construída sobre três eixos principais:

 

 

  1. Matriz Africana – na qual o visitante poderá compreender melhor sobre as diferentes civilizações africanas antes de serem escravizadas e suas contribuições para as ciências, tecnologias e artes.

 

  1. Mercado da escravidão no Brasil – foi traçado um percurso temporal desde a chegada dos primeiros grupos de escravizados, a brutalidade que eram submetidos e a constituição do Complexo do Valongo, no ápice do tráfico escravagista no Rio de Janeiro.

 

  1. A tentativa de apagamento da memória da escravidão na Pequena África, o descobrimento do sítio arqueológico pela família Guimarães dos Anjos e os seus desdobramentos.

 

O curador atenta que é preciso ampliar o campo de visão para uma abordagem mais realista e menos colonialista sobre a escravidão no Brasil. O sítio arqueológico do Cemitério dos Pretos Novos é uma ferida aberta na sociedade e se apresenta como testemunho de um genocídio africano em terras brasileiras. Esta falta de entendimento histórico fomenta a manutenção de uma sociedade brasileira racista e violenta.

 

 

Novas escavações e laboratório de arqueologia interativo já têm data para começar

 

 

Cinco anos após a última escavação, a equipe de arqueologia do (PPGArq/Museu Nacional/UFRJ) volta a campo para realizar novas buscas. Sob o comando da professora Dra. Andrea Lessa, o início do trabalho está previsto para julho, exatamente no local destinado ao novo laboratório. Com uma proposta, até então, inédita, um dos principais objetivos é comparar os estudos já realizados nas escavações anteriores, com esta nova área que nunca foi tocada. ”Estou muito entusiasmada com essa nova etapa da pesquisa, uma vez que será escavada uma área diferente do cemitério, mais central. Assim, por um lado, será possível verificar se as informações inicialmente obtidas sobre a dinâmica de ocupação são válidas para todo o espaço; e ao mesmo tempo esperamos encontrar um número maior de estruturas funerárias intactas, o que será fundamental para ampliarmos o entendimento sobre as práticas funerárias e sobre os indivíduos ali enterrados”.

 

 

A dra. Andrea Lessa destaca ainda que esta pesquisa busca revelar um pouco mais sobre a vida e a morte dos cativos africanos, atores sociais protagonistas na formação social e cultural brasileira. ”Após tanto tempo de esquecimento, reconhecer o Cemitério dos Pretos Novos Novos como um importante patrimônio nacional e como um local sagrado para a população afrodescendente representa um resgate histórico obrigatório e um meio eficaz de preservação da nossa memória”, conclui a arqueóloga. Além das informações atualizadas levantadas a partir das pesquisas arqueológicas, o espaço expositivo terá um laboratório arqueológico que vai permitir ao público na galeria acompanhar de perto o trabalho dos profissionais, através de uma janela generosa.

 

 

Em 08 de janeiro de 1996, os Guimarães dos Anjos faziam uma descoberta que mudaria definitivamente o rumo de suas vidas e da história carioca quando, a partir da reforma de sua residência na Gamboa, foi encontrado o Sítio Arqueológico Cemitério dos Pretos Novos – logo no primeiro dia de obra durante uma manutenção na casa em que vivem até os dias de hoje. Desde a sua fundação, em 13 de maio de 2005, a família tem se mobilizado para preservar o sítio arqueológico e reverenciar a memória dos quase 60 mil corpos despejados naquele pequeno terreno. A presidente do IPN, Merced Guimarães dos Anjos revela que a resistência de sua família durante todos esses anos garante a continuidade das ações. ”O que, de fato, interessa é poder preservar este patrimônio e colaborar para que esta história não seja esquecida jamais”; reitera a diretora.

 

 

Programação dobrada com abertura da exposição ”Erva Santa”, do artista visual Geleia da Rocinha.

 

As obras da série “Alguidar” trazem o talento e olhar do artista, nascido e criado na favela da Rocinha, através de ervas sagradas utilizadas nos ritos das religiões de matriz africana para a galeria de arte contemporânea. O curador do IPN, Marco Antonio Teobaldo, destaca que desde sua fundação (em 2005) o espaço se transformou em um lugar de respeito à memória daqueles que por ali passaram, mas principalmente de resistência. ”A exposição “Erva Santa” marca a reabertura da galeria de arte contemporânea e se apresenta como um instrumento de divulgação dos saberes das religiões de matriz africana e também como inspiração para o combate ao racismo religioso, que vem crescendo nos últimos anos, sobretudo no estado do Rio de Janeiro” – acrescenta Marco Antonio Teobaldo.

 

Além do Museu Memorial e da Galeria de Arte Contemporânea, o IPN também conta com uma Biblioteca e um auditório constantemente ocupado com a programação de oficinas ao longo de todo o ano. Após quase dois anos de distanciamento social, o Museu já se encontra funcionando normalmente. As visitações gratuitas acontecem às terças-feiras das 10h às 16h. As pagas são de quarta à sexta das 10h às 16h e aos sábados  das 10h às 13h com ingressos a R$20,00 (inteira) e R$10,00 (meia entrada).

 

Sobre o IPN

Descoberta do sítio arqueológico.

 

O sítio arqueológico Cemitério dos Pretos Novos (1769 – 1830) é uma das principais provas materiais mais contundentes e incontestáveis encontradas até hoje sobre a barbárie ocorrida no período mais intenso do tráfico de seres humanos. Foram depositados neste cemitério os restos mortais de dezenas de milhares de africanos brutalmente retirados de sua terra natal e trazidos à força para o trabalho escravo. Apesar de ser considerado o maior cemitério de escravizados deste gênero nas Américas, o terreno destinado aos ”sepultamentos” é muito pequeno e ocupa ”apenas” quatro imóveis da Rua Pedro Ernesto. Os vestígios arqueológicos e históricos são provas da ação violenta e cruel sofrida pelos africanos que não resistiram aos maus tratos da captura e viagem transatlântica.

 

Fundação do IPN

 

Devido ao descaso das autoridades e morosidade na realização de pesquisas, a família Guimarães dos Anjos decidiu fundar o Instituto de Pesquisa e Memória Pretos Novos (IPN), nove anos após a descoberta do sítio arqueológico, em 13 de maio de 2005. O IPN é uma organização não governamental, apartidária e sem fins lucrativos, que tem por missão pesquisar, estudar, investigar e preservar o patrimônio material e imaterial africano e afro-brasileiro, com ênfase ao sítio histórico e arqueológico do Cemitério dos Pretos Novos, valorizando e salvaguardando parte da memória diaspórica e identidade cultural brasileira.

 

Texto: Priscila Bispo  Imagens: Alex Ferro

 

Expo Jóia II

02/jun

 

 

Agora com um propósito mais amplo e concreto, a Art Lab Gallery abriga “Expo Joias II”, – feira de joias autorais -, sob curadoria de Juliana Monaco, nos dias 04 e 05 de junho, à Rua Oscar Freire, 916,  Jardins, São Paulo, SP. A partir dessa edição, a “Expo Joia II”, além de propiciar uma oportunidade  aos criativos de estarem presentes em contato direto com o público, eles também vão poder utilizar o momento tanto como uma plataforma de inclusão social como inserção no mercado de trabalho. A parte relacionada à técnica e ao “fazer joia” pode ser ensinada em cursos e faculdades mas o contato com o público, com o real mercado, é muitas vezes dificultado pela falta de contatos e conhecimento das regras de funcionamento do mesmo.

 

A Art Lab Gallery surge como um facilitador para esse encontro e dinamiza esse primeiro contato, fomentando o trabalho complementar dos joalheiros artistas. 37 criativos, entre joalheiros, artistas plásticos e designers estarão presentes, apresentando diretamente ao público suas peças, com a oportunidade única de falarem sobre suas criações, inspirações bem como disponíveis a novas propostas de mercado.

 

Criativos

 

Alexandra Hardt, Andreia Nince, Boreale Joias, Casulo Escola de Joalheria, Cris Lezo, Danilo Ramos Funes, Elcio Maiani, Elisa Fracchiolla, Fernanda Delpizzo, Flávia Vidal, Graphis Escola de Desenho, Helio Kawakami, Inesita Pasche, Jacque Basso, Jú & Co., Juliana Xavier Joias, Kathy Naturaleza, labmobili, LECARLE JEWELS, Lena Emediato, Lisia Barbieri, Luciana Laborne, Magia da Prata, Maison Borogodó, Marcel Motta, Marla Designer, Nogh, Or Noir, Pedro Sérgio Chaves, Perséfone.lab, Plume Joias, Poemário, PYXIS Joias, Rafael Ilhescas – Joalheria Emocional, Sabrina Azoury, SK Design, Ville des Folies.

 

Três artistas no Museu da República

 

 

Será inaugurada dia 04 de junho, no Palácio do Catete, Museu da República, Rio de Janeiro, RJ, a exposição coletiva “Nem sempre dias iguais”, com cerca de 68 obras das artistas cariocas Bárbara Copque, Cláudia Lyrio e Yoko Nishio. Com curadoria de Isabel Portella, a mostra ocupa as três salas de exposições temporárias do Palácio do Catete com pinturas, desenhos e fotografias, produzidas durante o isolamento social.

 

Os trabalhos tratam de temas cotidianos, para além da pandemia, como o nosso contato com o mundo através das telas, as relações interpessoais e o excesso de informações e imagens fragmentadas do nosso dia a dia. “Os trabalhos resultam dos afetos provocados pelo período pandêmico em nossas pesquisas individuais”, dizem as artistas.

 

 

Panorama da Arte Brasileira

 

Durante o período emblemático do bicentenário de independência do Brasil, o Museu de Arte Moderna de São Paulo, Parque do Ibirapuera, São Paulo, SP, recebe a partir do dia 23 de julho (e até 15 de janeiro de 2023) o 37º Panorama da Arte Brasileira – “Sob as cinzas, brasa”, que propõe desconstruir paradigmas naturalizados em relação ao Brasil colônia. Em contraponto, neste ano, também é celebrado o centenário da Semana de Arte Moderna de 1922, marco para o modernismo brasileiro que trouxe um novo e amplo cenário cultural, com artistas de distintas regiões do país.

 

Com grupo curatorial diverso, composto por Claudinei Roberto da Silva, Vanessa Davidson, Cristiana Tejo e Cauê Alves, o “37º Panorama” enfatiza as pesquisas que resultam em questionamentos e possíveis soluções artísticas surgidas do enfrentamento de um cenário onde a barbárie está manifestada de diversas formas. Ideais de civilização se atritam na busca da dimensão plural sobre as questões trazidas à tona a partir de obras que se relacionam tanto pela condição comum deste cenário quanto por uma diversidade de perspectivas, sendo seus autores de diferentes gerações e identidades étnico raciais e de gênero. A mostra valoriza a dimensão pedagógica da arte e prospecta rupturas estruturais. Ainda em um mundo pandêmico, o Panorama propõe investigar como os artistas enraizados no Brasil têm enfrentado os múltiplos problemas causados pelo modelo de desenvolvimento adotado nos últimos séculos. A curadoria se baseou em signos que interligam de maneira sutil à brasa, como símbolo de resistência e também de ambiguidade, trazendo uma diversidade de pontos de vista e pesquisas.

 

Artistas participantes

 

Ana Mazzei, André Ricardo, Bel Falleiros, Camila Sposati, Celeida Tostes, Davi de Jesus do Nascimento, Éder Oliveira, Eneida Sanches e Tracy Collins, Erica Ferrari, Giselle Beiguelman, Glauco Rodrigues, Gustavo Torrezan, Jaime Lauriano, Lais Myrrha, Laryssa Machada, Lidia Lisbôa, Luiz 83, Marcelo D’Salete, Maria Laet, Marina Camargo, No Martins, RODRIGUEZREMOR (Denis Rodriguez/Leonardo Remor,  Sérgio Lucena, Sidney Amaral, Tadáskia, Xadalu Tupã Jekupé.

 

Coletiva na Central Galeria

 
A Central Galeria apresenta até 30 de julho, “Nunca foi sorte”, Vila Buarque, São Paulo, SP, exposição coletiva com curadoria de Ludimilla Fonseca que explora noções de meritocracia, a partir das pesquisas das/dos artistas Allan Pinheiro, Ana Hortides, Fábio Menino, Gabriella Marinho, Gustavo Speridião, Janaína Vieira, Leandra Espírito Santo e Marta Neves.

 

Apresentando trabalhos configurados a partir de visões e vivências do aqui-agora, o projeto aborda questões como a da “precariedade enquanto realidade inevitável”, do “sucesso como providência divina” e do “empreendedorismo como salvação”.

 

“Trata-se de um exercício curatorial que justapôs conceitos e impressões decantados de cada um dos repertórios artísticos, a fim de que a reunião das obras no espaço expositivo produzisse uma imagem de coletividade”, comenta a curadora.

 

A maioria dos trabalhos são inéditos e giram em torno de ideias como precariedade, hierarquização, mercado de arte, subúrbio, vernissage, propaganda, meme, plano, ironia e decepção. Assumindo, assim, uma certa confusão entre artes visuais, comunicação social e cultura material no neoliberalismo. “A estrutura social, com toda sua complexidade e desigualdade, está reduzida a uma questão de foco, fé e força.