Nova exibição de Ascânio MMM

01/out

A Casa Triângulo, Jardins, São Paulo, SP, inaugurou a exposição individual de Ascânio MMM. A curadoria é de Guilherme Wisnik. As peças espaciais de Ascânio MMM têm uma vocação pública, que denota seu vínculo de base com a tradição construtiva e, mais especificamente, uma proximidade com a Arquitetura, e com a noção de estrutura. Por isso é que muitos desses trabalhos tenham sido instalados em espaços abertos, fora de galerias ou museus.

 

No caso dessa exposição, a tipologia piramidal, remetida a formas históricas totêmicas, combina-se a um novo trabalho mais aberto e abstrato (Quasos/Prisma 1), cuja escala permite que as pessoas penetrem o seu espaço interior e o atravessem. Dependendo do ângulo pelo qual olhamos as peças espaciais de Ascânio – Quasos e Piramidais -, elas assumem aspectos mais sólidos ou mais vazados, dada a profundidade dos perfis utilizados.

 

Até 01 de novembro.

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Exposição Mario Mendonça

30/set

A Galeria Evandro Carneiro Arte, Shopping Gávea Trade Center, Gávea, Rio de Janeiro, RJ, apresenta de 05 de outubro a 09 de novembro a “Exposição Mario Mendonça”. A mostra conta com 37 telas, em destaque para algumas obras inéditas.

 
“Se parar de pintar… paro de respirar”

 

Mario Mendonça

 

Mario Mendonça nasceu no Rio de Janeiro, em 1934. Cursou Direito e trabalhou na empresa do pai por algum tempo, mas sua vocação pela arte sempre se manifestou, desde que, nos primeiros anos do Colégio Santo Agostinho, os padres confiscavam seus cadernos quando o flagravam desatento às aulas, desenhando.
Autodidata no campo artístico e católico de formação, a pintura sacra o impactava desde as missas frequentadas em família. Mario era afetado (a palavra deriva de afeto) por esse tipo de pintura, sobretudo a de Georges Rouault e Mathias Grunewald até que, em 1961, conheceu Emeric Marcier, em uma reunião de trabalho na corretora onde trabalhava. Havia um caderno de desenho sobre sua mesa e o artista folheou, convidando o jovem para visitar seu ateliê no sábado seguinte. Ali, no pequeno apartamento da Timóteo da Costa, Mario se deparou com um Cristo em proporções monumentais, ainda no cavalete e se apaixonou irreversivelmente. Foi acometido pelo pathos que se abriu em sua vida: a partir de então, estava decidido a viver da e para a arte.

Sua primeira professora de desenho foi Caterina Baratelli, uma italiana indicada por Marcier para o pupilo aprender o básico. E o desafiou: “depois que ela o dispensar das aulas, retorne aqui para o seu curso superior” (contou-me Mario em entrevista oral, 2019). Só que paralelamente às aulas de Baratelli, frequentava também as de Ivan Serpa e Aluísio Carvão, no MAM-RJ. Este parece ter sido um dos motivos de seu desentendimento posterior com Marcier. Antes, porém, chegou a viver um tempo em Barbacena, no sítio do pintor romeno. Mario confessa que ele o influenciou intensa e profundamente por 25 anos e sua admiração por Marcier é inesgotável, mas a amizade não foi. Romperam em 1964 quando, ao final do ano, Aluísio Carvão organizou uma exposição individual do aluno no próprio museu. Desde então, Carvão seguiu sendo mestre, amigo e parceiro de ateliê de Mario Mendonça por quase 40 anos, até o seu falecimento em 2001.

Com Carvão, Mario descobriu a magia das cores que passou a aplicar em suas obras, antes em tons escuros. Os temas preferidos continuavam a ser as cenas bíblicas e as paisagens montanhosas, duas constantes em sua pintura. Além das cores, trouxe a multidão compassiva para compor seus apocalipses, crucificações e calvários. “Trazer a multidão significa trazer à cena o nosso contemporâneo”, explica (entrevista oral, 2019). Ao cenário sagrado, incorporou também o impacto dos horrores do Holocausto: seus Cristos são cadavéricos e deformados, tão lúgubres quanto esteve a condição humana naquele período de Guerra Mundial e Guerra Fria. Sobre essa dimensão de seu trabalho, Walmir Ayala acrescenta que o artista realiza uma “abstração revolucionária dos cânones clássicos das imagens sagradas” e arremata toda uma trajetória artística no resumo inconteste: a obra de Mario se trata de um “apaixonante romance da salvação”. (Apud. In: Mendonça. Espaço Mendonça, 2003).

Retornando à cronologia, após a sua inédita exposição no MAM-RJ (1964), destacaram-se alguns marcos na carreira do artista: em 1967 expôs na Maison de France e pintou o interior da primeira igreja (Matriz dos Santos Anjos, Leblon). Muitas pinturas sacras em capelas se seguiram após esse evento inaugural, tendo pintado o interior de dez igrejas entre Rio de Janeiro e Minas Gerais, culminando com a Capela do Corcovado, no Rio de Janeiro, que abriga a sua solene Ressurreição de Cristo, desde 2014. Quanto às exposições, no ano 1970 realizou uma individual na Alemanha, que lhe abriu um leque de oportunidades internacionais: Portugal (ainda em 1970), Roma (1976 e 1982), Madri (1979), Bulgária (1987), Paris (1988) e Alemanha novamente, em 1989. No âmbito nacional, destacam-se a sua primeira exposição individual no Museu Nacional de Belas Artes (1972), composta de paisagens e uma impactante Via Sacra na entrada do Museu; a de arte sacra na Galeria Ipanema (1978), eleita uma das melhores naquele ano; a sua Retrospectiva na Casa do Bispo (1985, parceria da Fundação Roberto Marinho com a Arquidiocese do Rio de Janeiro, contendo 115 telas sacras do artista) e a exposição Abertura do Novo Milênio (2001, MNBA-RJ) que o consagrava como um pintor religioso secular.

Além desses marcos expositivos, Mario recebeu medalhas de honra e prêmios nacionais e internacionais por seu trabalho; teve obras escolhidas para compor acervos importantes, como o do Vaticano, o do Museu Ibero Amerikanishes Institut (Berlim), o do Museu Nacional de Belas Artes, os de palácios de governos no Estado de Minas Gerais e o do Palácio do Planalto, em Brasília; foi convidado para membro das Academias Brasileira de Arte (ABA) e de Belas Artes e também para conselheiro de cultura da Arquidiocese do Rio de Janeiro; editou livros sobre sua pintura e seus desenhos; criou um instituto cultural em Tiradentes, MG (2011); manteve uma linda família e pintou, pintou e pintou, com disciplina e paixão. Hoje, com 85 anos, Mario continua devoto de sua própria arte. E depois de um período de 20 anos sem expor, apresenta 37 obras (algumas inéditas) na Galeria Evandro Carneiro Arte.

Laura Olivieri Carneiro,

setembro de 2019.

 

Museu Histórico conta a sua história

26/set

Em comemoração aos 85 anos do MHCRJ, o Pavilhão de Exposições Temporárias, Casarão, Gávea, recebe a exposição “O Museu Histórico da Cidade do Rio de Janeiro conta a sua história”. A mostra recupera a trajetória da instituição para além dos fatos que a conformam, explorando aspectos diversos da atividade museológica e tornando conhecidos os rostos por trás dela. Para contar essa história, recorreu-se à memória de alguns destes agentes – do passado e do presente -, à fotografias da coleção do Museu, além de peças do seu rico acervo, como o estudo da Cabeça do Cristo e trabalhos do Mestre Valentim.

 

A exposição integra a 13ª Primavera dos Museus, uma iniciativa do Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM), que este ano traz como tema “Museus por dentro, por dentro dos museus”.

 

Até setembro de 2020.

 

Exibição prorrogada

Roberto Magalhães e Carlos Vergara, dois expoentes da arte contemporânea brasileira, amigos há décadas – desde os tempos da “Nova Figuração” com os companheiros de ofício Antonio Dias e Rubens Gerchman – apresentam uma exposição em conjunto. A mostra, em cartaz na galeria Mul.ti.plo Espaço Arte, Leblon, Rio de Janeiro, RJ, foi prorrogada e permanecerá até 11 de outubro. Ao todo, são cerca de 20 trabalhos, ligados sob o fio do desenho e da obra gráfica. Os dois artistas criaram em conjunto novos trabalhos. A ideia é fazer com que a obra de dois artistas que seguiram carreiras paralelas com traços autorais muito fortes e absolutamente distintos possa se tocar pela primeira vez, em um horizonte improvável. Para criar essas obras, o espaço da galeria se transformou em ateliê e os artistas tiveram telas à sua disposição. Em cada uma, foram traçadas uma linha divisória: um desenha e pinta a parte de cima e outro a de baixo. Depois, eles invertem a ordem. “Não se trata de uma competição, mas de um desafio criado por eles mesmos como um gesto de respeito e admiração um pelo outro”, diz Maneco Müller, sócio da galeria.

 

Pioneiros da nova figuração brasileira, participantes da icônica exposição “Opinião 65″, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, em 1965, Roberto Magalhães e Carlos Vergara se conheceram ainda na adolescência, tiveram protagonismo cedo, desenvolveram longa carreira nas artes visuais e sempre foram muito próximos. Ao mesmo tempo, suas criações são definitivamente distintas. Até no temperamento são diferentes: Vergara é expansivo, enfático, agitado, veemente, esportista; Roberto é silencioso, introvertido, calado, contido e observador de tudo. Ainda assim, há um silêncio misterioso que os une em torno da transcendência ou “na busca do inefável”, como diz Vergara, que, em sua trajetória de “pintor viajante”, sempre traz como pretexto as trilhas misteriosas dessa busca. Magalhães, por rumo muito diverso, sempre esteve mergulhado nas questões místicas e suas obram falam de um mundo etéreo. “Minha arte é a busca e a expressão da subjetividade”, explica ele.

 

Na exposição, Vergara traz obras de duas séries: “Coração”, de técnica mista sobre papel, entre impressão, aquarela e pigmento, e outra chamada “Bodoquena”, com desenhos de uma viagem do artista à serra de mesmo nome, no Mato Grosso do Sul. São trabalhos recentes, de média proporção. Entre os trabalhos de Roberto, a maioria é inédita e outros são praticamente desconhecidos. São obras sobre papel, em técnica mista (bico de pena e aquarela). “Meus trabalhos têm uma conotação mística, esotérica, tema que eu persigo desde a década de 70. Sou um estudioso do assunto”, diz o recluso artista, que na semana que antecede à exposição, retorna de uma região desértica e isolada no noroeste da Argentina para onde foi meditar e desenhar.

 

“O primeiro nome que pensei para essa exposição foi Paralelos, depois tive uma ideia: por que não ‘Roberto Carlos’? Roberto Magalhães e Carlos Vergara!”, diverte-se este, feliz com a oportunidade de trabalhar ao lado do velho amigo. “Eu me dou com o Roberto desde 1959. Frequentava a casa dele, na Rua Farani, que era uma espécie de república de artistas. Fizemos muita coisa juntos, exposições, mas temos caminhos, interesses, ideias e métodos de trabalho muito diferentes. Isso, entretanto nunca nos afastou. Sempre tivemos ótimo convívio”, disse Vergara. “Apesar de certa ansiedade para saber como ficarão os nossos improvisos, vai ser inusitado… E divertido. É um grande prazer dividir essa exposição com o Vergara”, diz Roberto.

 

Mas a ideia de reunir a dupla na exposição vai muito além de uma crônica entre dois personagens das artes plásticas brasileiras. Segundo Maneco, essa é uma mostra a ser contemplada com calma e concentração. “É necessário repousar o olhar em cada trabalho para que a exposição possa ser absorvida com toda a sua intensidade”, finaliza ele.

 

Salgado no Sesc Paulista

24/set

A exposição “Gold – Mina de Ouro Serra Pelada” é a atração do Sesc Paulista, Bela Vista, São Paulo, SP. O trabalho do fotógrafo Sebastião salgado conta com 56 fotografias que retratam a realidade dos cerca de 50 mil brasileiros que abriram mão de tudo para tentar a sorte nos garimpos de Serra pelada, no Pará.

 

Dentre as fotografias selecionadas para a exposição, se encontram 31 imagens inéditas que também foram captadas durante o período que Salgado passou na região ainda explorada, em 1986. Assim como as já conhecidas, as recém-apresentadas ao público também foram feitas em preto e branco, ressaltando os contrastes do que aparenta ser um formigueiro humano.

 

Além de serem encontradas na exposição física, que tem curadoria de Lélia Wanick Salgado, esposa do fotógrafo, as obras também estão presentes no formato de livro, havendo uma versão para o público geral e outra para colecionadores, ambas editadas pela Taschen.

 
Até 03 de novembro

 

Juntos, Caciporé & Toyota

23/set

Caciporé Torres e Yutaka Toyota inauguram “Caciporé & Toyota – Formas em União | Dicotomia em Diversidade Visual – Ocidente & Oriente”, com curadoria de Issao Minami, no Clube Atlético Monte Líbano, Jardim Luzitânia, São Paulo, SP. A mostra representa um conjunto de obras escultóricas que demonstram a transformação da matéria bruta da natureza em formas espaciais de grande significância visual – as quais ocupam espaços públicos e convivem harmoniosamente com complexos arquitetônicos -, em um encontro histórico que diz respeito à amizade, ao amor e à esperança.

 
“Oriente é o lado do horizonte onde o Sol aparece pela manhã. Ocidente é o lado do horizonte onde o Sol se põe, ao fim do dia. Assim, ‘Oriente & Ocidente’ é nascente e poente, é dicotomia. Dicotomia por ter o mesmo caminhar – tanto faz – do Ocidente & Oriente ou do Oriente & Ocidente! Afinal Oriente, mais introspectivo, cultiva um despertar do divino de dentro para fora e o Ocidente, mais expansivo, faz o caminho da busca ascendente de baixo para cima, do Deus que está nos céus”, comenta o curador Issao Minami.

 

De 25 de setembro a 13 de outubro.

O nome é “Romance”

19/set

 

Desde o dia 20 e até 28 de setembro, a Luciana Caravello Arte Contemporânea, Ipanema, Rio de Janeiro, RJ, apresenta a exposição coletiva “Romance”, com cerca de 50 obras de 31 artistas: Adrianna Eu, Afonso Tostes, Alan Fontes, Alexandre Mazza, Alexandre Sequeira, Almandrade, Armando Queiroz, Bruno Miguel, Daniel Escobar, Daniel Lannes, Delson Uchoa, Eduardo Kac, Elle de Bernardini, Fernando Lindote, Gabriel Giucci, Gê Orthof, Gisele Camargo, Guler Ates, Igor Vidor, Ivan Grilo, Jeanete Musati, João Louro, Jonas Arrabal, Lucas Simões, Marcelo Macedo, Marcelo Solá, Marina Camargo, Nazareno, Pedro Varela, Ricardo Villa e Sergio Allevato.

 

Com curadoria de Gabriela Davies, a exposição apresentará obras em diversos suportes, como pintura, colagem, desenho, fotografia, vídeo, escultura e instalação. Os trabalhos abordam os diversos tipos de romance, atravessando o romance da memória, o romance da história, o romance clichê e também o romance erótico.

 

“Se a quebra do romance permeia os dias de hoje, as histórias de bom-mocismos também ficaram em patamares passados. Mas a verdade é que o romance não deixou de existir, o conceito foi ressignificado. Nosso novo romance é descobrir nossos verdadeiros desejos, nossas identidades, nosso sexo, a vontade de ser nossa própria força. Estamos lutando contra estereótipos sociais rígidos”, afirma a curadora Gabriela Davies.

 

A exposição apresenta trabalhos recentes e inéditos, sendo que muitas obras foram produzidas especialmente para esta exposição, como é o caso dos trabalhos de Adrianna Eu, Afonso Tostes, Alan Fontes, Armando Queiroz, Bruno Miguel, Daniel Escobar, Daniel Lannes, Delson Uchoa, Elle de Bernardini, Ferrnando Lindote, Pedro Varela, Ricardo Villa e Sergio Allevato.

 

Obras em exposição

 

Nas pinturas de Alan Fontes, aparecem palácios e casarões históricos, que nos remetem a beleza de outras épocas, enquanto Daniel Escobar produz colagens com diversos elementos ressaltados de páginas demonstrando a bela flora brasileira. “Ambas tentativas românticas exaltando desejos de mundos mais sensíveis, mas compreendendo que estes beiram o esquecimento (já não vemos mais estas construções em suas formas majestosas, e nas notícias apenas as chamas flamejantes que tomaram nossa imensa floresta da Amazônia)”, diz a curadora Gabriela Davies. Já Marcelo Macedo, através do mesmo suporte, o livro, ao recortar página após página no mesmo polígono, “revela pequenas lâminas de cada página, sem nos revelar o seu verdadeiro conteúdo dando-nos a responsabilidade de criar sua história com o que achamos próprio”.

 

Os romances também aparecem nas pinturas de Daniel Lannes, que retratam sessões de análise, “onde expressamos nossos desejos mais profundos, mas logo os reprimimos ao sair do consultório – que no caso da pintura, parece mais um “talk-show” de grande audiência que uma sessão particular”, ressalta a curadora.

 

Em uma sala separada no terceiro andar, haverá, ainda, trabalhos com temas eróticos.

 

As fotografias de Eduardo Kac apresentam uma grande passeata nudista pela praia de Ipanema. “Uma atividade que é repetidamente repudiada por moralistas, mas que na verdade expressa a vontade de ser em liberdade”, diz a curadora. Em paralelo, Güler Ates, uma fotógrafa turca, também se apropria do seu corpo com registros fotográficos, mas, por sua vez, encoberta por uma manta de seda que revela apenas uma sugestão de figura feminina. “Esse desaparecimento atrás do véu, uma tradição da religião muçulmana, estimula um senso erótico no imaginário do espectador que é contrário ao propósito do encobrimento”, conta a curadora. Já Élle de Bernardini cria sua série “Formas Contrassexuais”, em que abrange os diferentes campos de gênero e sexualidade, “…possibilitando inúmeras classificações (a insenção de) para o descobrimento de nossos ”‘eus’”.

 

 

 

Leonilson & Dias

17/set

A Pinakotheke Cultural, Botafogo, Rio de Janeiro, RJ, abriu para o público a exposição “Leonilson por Antonio Dias – Perfil de uma coleção”, que reúne 38 desenhos e pinturas de Leonilson (1957-1993) que pertenciam a seu amigo Antonio Dias (1944-2018). A quase totalidade das obras é dos anos 1980. A exceção é a pintura “o biblioteca; o espelho”, de dezembro de 1992, com uma dedicatória a Antonio Dias, e enviada por Leonilson junto com uma carta em 1993, pouco antes de sua morte. A ideia da exposição surgiu em outubro de 2015, em Fortaleza, quando Antonio Dias preparava sua individual na Galeria Multiarte. Na ocasião, ele, sua mulher Paola Chieregato e Max Perlingeiro deram partida ao projeto.

 

“Esta era a vontade de Antonio, além de mostrar esta coleção, contar a história de sua amizade pelo “Leo”, e sua visão. Tudo começou no outono de 1981, em Milão, Itália. Madrugada fria. Estação de trem. Desembarca Leonilson, vindo de Madri. Depois de beber algumas xícaras de café para acordar, resolve ligar: “Antoim! É o Zé! Zé Leonilson”. “E quem te deu meu telefone?”, pergunta Antonio. “Foi o Piza”. “Então vem pra cá!”, responde Antonio, relata Max Perlingeiro.“Leonilson havia conhecido Arthur Luiz Piza (1928-2017) em Paris, por intermédio de Geraldo Holanda Cavalcanti, embaixador do Brasil junto à Unesco (Paris 1978-1981)”, conta. Dali em diante começou uma grande amizade, com respeito mútuo, confiança, afeto, que durou até a morte de Leonilson.

 

Complementam a exposição quatro obras pertencentes a outras coleções particulares. Acompanha a exposição o livro “Leonilson por Antonio Dias – Perfil de uma coleção” (Edições Pinakotheke), com capa dura, bilíngue (port/ingl), 120 páginas, com textos de Paola Chieregato e Max Perlingeiro. O livro conterá ainda uma entrevista com Luiz Zerbini, também amigo do artista, e uma cronologia da trajetória de Leonilson, além das imagens das obras da exposição.

 

Sábados na Pinakotheke

 

Em torno da exposição “Leonilson por Antonio Dias – Perfil de uma coleção”, a Pinakotheke Cultural realizará ao longo de alguns sábados, sempre das 11h às 13h, atividades gratuitas para crianças em seu jardim, ou, em caso de chuva, no espaço expositivo.

 

Curadoria: Antonio Dias – Planejamento e organização: Max Perlingeiro e Paola Chieregato – Realização: Pinakotheke Cultural – Apoio institucional: Apoio Projeto Leonilson – Entrada gratuita

 

Até 26 de outubro.

 

Na Paulo Darzé

16/set

Em outubro de 2017, Daniel Senise registrou os espaços do casarão seiscentista do Museu do Recôncavo Wanderley Pinho, em Candeias, Bahia. Nessa época, o Museu estava fechado para restauro e o artista realizou suas monotipias dos pisos das salas do casarão que funcionou como um engenho de açúcar no século XVI, monotipias em tecido e médium acrílico sobre alumínio e monotipias sobre fotografia em jato de tinta. São os trabalhos realizados neste momento, com o título “Museu do Recôncavo”, que Daniel Senise traz para a mostra na Paulo Darzé Galeria de Arte, Salvador, Bahia, com abertura dia 17 de setembro, às 19 horas, e temporada até o dia 18 de outubro.

 

Vergara no MAM Rio

10/set

O celebrado artista ocupará o Espaço Monumental do Museu de Arte Moderna, MAM Rio, Parque do Flamengo, Rio de Janeiro, RJ, com quatro conjuntos de obras que percorrem seu trabalho iniciado em 2003, em que busca os sinais do sagrado. Entre trabalhos inéditos e criados especialmente para a exposição estão pinturas de grande formato – as maiores já realizadas pelo artista -a partir de monotipias feitas no Cais do Valongo, na zona portuária carioca, onde chegaram os escravizados vindos da África, e nos trilhos do bonde em Santa Teresa, no Rio de Janeiro, onde fica seu ateliê. E ainda as resultantes de sua recente viagem no sul da França, pelo caminho do sagrado feminino, que teria sido trilhado pelas Três Marias – Maria Madalena, Maria Jacobé (ou Jacobina, mãe de Tiago), e Maria Salomé – e Santa Sara, a escrava egípcia que se tornou padroeira dos ciganos. A exposição entrará em cartaz a partir de 14 de setembro – e até 12 de janeiro de 2020 – em seu Espaço Monumental. A exposição “Carlos Vergara – Prospectiva”, percorre a produção do celebrado artista, desde 2003 até obras recentes e inéditas. Outros destaques da exposição são as novas obras da série “Sudário”, com monotipias colhidas em sua viagem ao sul da França em maio último. A curadoria da exposição é de Carlos Vergara.

 

Um dos grandes nomes da arte brasileira, Carlos Vergara nasceu em 1941 em Santa Maria, Rio Grande do Sul, e é radicado no Rio de Janeiro desde a adolescência. Sua última individual no MAM Rio foi “A Dimensão Gráfica”, há dez anos. Carlos Vergara explica o título da exposição: “Minha ideia é olhar pra frente, viver o presente e propor através do trabalho, e do encontro com o público, novas possibilidades e perspectivas”. São quatro os grandes conjuntos de obras na exposição: “Sudários”, “Natureza Inventada”, “Prospectiva” e “Empilhamento”. A mostra será acompanhada de uma série de ações, tanto encontros e conversas, como expandidas para fora do Museu, com intervenções dos artistas Lynn Court e Xadalu.

 

Os “Sudários” são monotipias realizadas desde 2003, quando o artista iniciou seu trabalho sobre os sinais do sagrado nos Sete Povos das Missões, no Rio Grande do Sul e até o momento. Ao longo deste período, este trabalho levou o artista a diversos locais, como Istambul e Capadócia, na Turquia; Pompeia, Itália; Serra da Bodoquena em Mato Grosso do Sul; Caminho de Santiago de Compostela, Espanha; Cazaquistão, na Eurásia; e Rio Douro, Portugal. Os 200 lenços da série “Sudário” estarão suspensos, dispostos em um percurso labiríntico para o público. Carlos Vergara destaca que seu trabalho “não é um projeto cristão ou antropológico”. “Esses lugares todos têm sinais do inefável, do sagrado. Não estou atrás de religião. São caminhos do sagrado, sinais do sagrado”, afirma o artista.

 

No núcleo “Natureza Inventada”, estarão dez esculturas em aço cortén e duas pinturas com 3m x 6m e 2m x 6m, em torno de uma grande mesa escultórica, também em aço, com 12 cadeiras criadas pelo artista e designer Zanini de Zanine. Esse será um espaço de encontros a ser ativado em conjunto com o público, a partir de ações e conversas abertas.

 

A série que dá nome à exposição, “Prospectiva”, é composta por três pinturas recentes e inéditas de grande formato, as maiores já feitas por Vergara – 5,40m x 5,40m cada – a partir de monotipias feitas no Cais do Valongo, e nos trilhos de Santa Teresa, onde tem seu ateliê. O Sítio Arqueológico Cais do Valongo, na antiga área portuária do Rio de Janeiro, é reconhecido pela Unesco por sua importância histórica, por ser o local onde cerca de 900 mil africanos escravizados chegaram à América do Sul.

 

Carlos Vergara fala da importância do bonde, dos caminhos, das encruzilhadas: “Trilhos indicam sempre uma dupla ação: trazer ou levar. No Rio Grande do Sul visitei Restinga Seca, onde nasceu Iberê Camargo, cujo pai era motorneiro de trem. Fiz então uma monotipia no trilho que o levou ao mundo. A imagem dos trilhos sempre é eloquente pra mim. Em 1950 visitei a Bienal de São Paulo de bonde. Ia muito de bonde do Jóquei para o Bar 20, no Rio de Janeiro. Hoje com os bondes infelizmente circulando apenas dos arcos da Lapa até os Prazeres, Santa Teresa tem esses desenhos dos trilhos que são incríveis e sempre me vêm à cabeça. Deste que é o bonde elétrico mais antigo do Brasil. Hora de colocar esses sudários no mundo”. No último bloco estará uma releitura de sua icônica obra “Empilhamento”, uma grande coluna formada por bonecos de papel kraft e papel corrugado empilhados, que chegará ao terceiro andar do Museu, como uma torre de babel.

 

Mostra paralela

 

Paralelamente à exposição “Prospectiva”, será exibido no terceiro andar do Museu, dentro da mostra “Alucinações à beira-mar”, um conjunto de obras de Carlos Vergara pertencente às Coleções do MAM, com curadoria de Fernando Cocchiarale e Fernanda Lopes.

 

Ações na rua

 

Carlos Vergara expandiu a exposição, desde sua produção, para além do MAM. Convidou dois artistas, a carioca Lynn Court, que está produzindo 200 cartazes sobre a exposição para o mobiliário urbano, a partir de intervenções sobre a exposição “Sagrado Coração”, que Carlos Vergara fez no Paço Imperial, no Rio de Janeiro, em 2008. Outro artista convidado é Xadalu, de origem guarani, que chegou a viver nas ruas de Porto Alegre, até que ganhou uma bolsa de estudos gráficos e começou a desenvolver um trabalho com forte representação e manifestação das causas indígenas e já ganha reconhecimento e presença em exposições internacionais. Ele fará uma residência artística no Rio, onde fará intervenções em Santa Teresa.

 

Roteiro sagrado no sul da França

 

Em maio, Carlos Vergara percorreu o sul da França, seguindo um caminho que teria sido trilhado pelos primeiros cristãos em fuga dos romanos: as Três Marias – Maria Madalena, Maria Salomé (mãe dos apóstolos João e Tiago) e Maria Jacobina (ou Jacobé), irmã de Maria de Nazaré, além de Santa Sara, ex-escrava egípcia de São José de Arimatéia que se tornou padroeira dos ciganos. O ponto de partida foi o porto de Saintes-Maries-de-la-Mer, na costa mediterrânea, por onde teriam chegado os cristãos. De lá, Vergara percorreu cerca de 250 quilômetros para leste, até Saint-Maximin-la-Sainte-Baume, onde após uma subida de mais de três horas a pé chegou à gruta que acredita-se contém as relíquias de Maria Madalena. Em Saintes-Maries-de-la-Mer, no dia 24 de maio, sem ter planejado, o artista participou da grande festa realizada em honra à Santa Sara, uma peregrinação mundial dos povos ciganos. Por todo o trajeto, passando por santuários e pontos de reverência para várias crenças, Vergara fez diversas monotipias, no chão de terra, nas pedras, ou ainda nos monumentos, recolhendo os sinais do sagrado. Dentre os vários locais por onde passou nessa travessia estava o Château La Coste, a quinze quilômetros de Aix-en-Provence, o grande museu a céu aberto composto por pavilhões projetados pelos arquitetos Tadao Ando, Frank O. Gehry, Jean Nouvel e Renzo Piano. Entre as obras dos grandes nomes da arte, Vergara esteve no conjunto de esculturas “Psicopompos”, de Tunga, seu amigo. Em Camargue, Vergara fez monotipia na fachada da capela onde está o símbolo dos navegantes, que se assemelha ao Sagrado Coração trabalhado pelo artista em sua residência na Missão de São Miguel, Rio Grande do Sul, 2003. Em Camargue, ele se encontrou com o músico Canut Reyes, um dos fundadores dos Gipsy Kings, que o levou a conhecer trilhas emblemáticas para os ciganos. Em Arles, esteve no icônico Moulin Ribet, conhecido como Moulin de Daudet (escritor francês Alphonse Daudet, 1840-1897), construído em 1814, e em Marselha visitou o Mucem (Musée des civilisations de l’Europe et de la Méditerranée). Carlos Vergara viajou acompanhado do crítico e curador Marc Pottier, e de João Vergara, filho do artista e coordenador de seu ateliê, com apoio do Consulado da França do Rio de Janeiro.