Carlos Mélo na Galeria Kogan Amaro

16/ago

 

 

O artista multimídia Carlos Mélo reflete sobre o Nordeste em exposição inédita na Galeria Kogan Amaro. Obras em diferentes suportes utilizam-se de jogos de imagens e palavras para desmontar o estereótipo da região brasileira. As flexões semânticas são características marcantes no trabalho processual de Carlos Mélo. É a partir delas que o artista articula e ativa determinados assuntos, como a questão do lugar, especificamente o Agreste e o Nordeste, locais investigados pelo artista na exposição “Transes, rituais e substâncias”, cartaz da Galeria Kogan Amaro, Jardim Paulistano, São Paulo, SP.

 

 

Pinturas, fotografias, esculturas, desenhos e painel de neon são alguns dos suportes do conjunto de 16 obras inéditas exibidas na mostra. Em comum, elas buscam desfazer a ideia de nordeste, construindo um novo campo simbólico. “Todo meu trabalho artístico em torno das questões do nordeste tem como objetivo desmontar o estereótipo do Nordeste como o lugar com determinada comida, um sotaque determinado e com o chão rachado. A minha perspectiva é de uma região contemporânea, industrial e tecnológica, aonde as questões se dão a partir de uma realidade que não depende necessariamente da localização geográfica, mas sim de um campo simbólico.”, explica o artista.

 

 

Três esculturas têxtis da série “Overlock”, apontam para a forte produção da indústria de jeans no Agreste do Pernambuco. As obras são produzidas com diversos tecidos produzidos artesanalmente por uma cooperativa de costureiras que utilizam resíduos de fabricas de confecções. As esculturas criam uma forte referência às golas do maracatu, a mantos cerimoniais, e trazem uma reflexão em torno da modelagem e customização (paetês e spikes) das confecções de jeans na indústria no interior do estado.

 

 

Durante o período em que se aprofundava sobre a indústria têxtil, Carlos constatou o número crescente de motos com a finalidade de transporte de mercadoria, tanto no agreste, como no interior do Brasil, além do grande número de motoboys na cidade devido à pandemia. O resultado é a escultura com capacetes “Cascos”, produzidas com resíduos de capacetes em desuso pelos motoboys de Itu onde o artista residiu e coletou em cooperação com a Associação de Motoboys da cidade.

 

A série “Abismos” apresenta três autorretratos que carregam referências ao Nordeste. Em um deles, a figura com cabeça de carranca, cria uma forte relação com as mitologias do Rio São Francisco e seus projetos de transposição representado com a cabeça de uma carranca, em outro desenho o homem parece flutuar coberto de ossos bovinos carregando entres as mãos um ramalhete de flores, e a terceira imagem traz um corpo barroco onde é possível notar um conjunto de ossos, capacete e flores sobre parte do corpo vestido com uma calça jeans.

 

 

Uma série de fotografias e um backlight, advindos de uma performance de longa duração compõem a série “Sapukaia” (ave que grita ou galinha, no vocabulário tupi). Nela, o artista aparece vestido com um paletó em meio a uma paisagem com galinhas vivas sobre o seu corpo. “Os meus trabalhos artísticos ocorrem a partir do ritual e do transe. Eles surgem a partir da ativação deste lugar, deste território. No caso, este trabalho ativa novos campos simbolistas em meio ao impacto cultural e ambiental causado pela presença das indústrias na região.”, pontua Carlos Mélo.

 

 

Texto curatorial

 

 

Carlos Melo é uma invenção de si mesmo. Artista, humanista, escritor e poeta. Pernambucano, estudioso, de fala branda. Carlos é uma fera! Conquistou prêmios, bolsas e reconhecimentos públicos. Seu trabalho fala com as vísceras. Essa exposição revela uma parte da sua obra. Desenhos, pinturas, fotografias, esculturas, vídeos e performance. Tudo para nos fazer sentir o gosto da sua terra. Carlos incorpora mitos e tradições religiosas em sua poética visual. Retomando ritos e costumes dos povos originários. Carlos é um pesquisador e desbravador da nossa língua. Expandindo significados e interpretações. Carlos Melo é um artista completo. Dos pés a cabeça. Seu legado é uma esfinge. Tenho muito orgulho e admiração pelo seu trabalho e pela nossa amizade.

 

 

Marcos Amaro – julho de 2021

 

 

Sobre o artista

 

Riacho das Almas, Pernambuco – Brasil, 1969.
Carlos Mélo é um artista plástico brasileiro, nascido em Permanbuco, uma região formada por uma cultura complexa vista por várias nações africanas, algumas tribos indígenas e europeias de origem Moura. Seus trabalhos passam por vídeo, fotografia, desenhos, instalação, escultura e performance, em uma investigação do lugar que o corpo ocupa no mundo. Através de anagramas e ações de performance, o artista aborda imagens e palavras praticando o contorcionismo semântico. Busca convergir o corpo em situações de interação com o ambiente e imagens conceituais que sugerem que seja definido de forma relacional, operando simultaneamente um resgate de aspectos da formação cultural brasileira. Para Suely Rolnik, “a obra de Carlos demarca um território, ou melhor, o estabelece. Como nos animais, isso é feito por meio de dispositivos sempre ritualizados, que são, sobretudo, ritmos. No entanto, diferentemente dos animais. Aqui, o ritual e seu ritmo mudam constantemente; são inventados a cada vez, dependendo do ambiente em que são feitos e do campo problemático que procuram enfrentar, para isso o artista se instala na imanência do mundo, aos pés do real vivo, apenas apreensível pelo carinho.”

 

 

Idealizou e realizou a 1ª Bienal do Barro do Brasil, Caruaru (2014). Participou de exposições coletivas como a 3ª Bienal da Bahia, Salvador (2014); No Krannert Art Museum, Universidade de Illinois, Champaign, EUA. (2013); No Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães, Recife (2010 e 1999); No Itaú Cultural, São Paulo (2008, 2005, 2002 e 1999); Entre outras. Exposições individuais foram realizadas na Galeria 3 + 1, Lisboa, Portugal (2010); No Paço das Artes, São Paulo (2004); E na Fundação Joaquim Nabuco (Recife, Brasil, 2000). Foi vencedor do Prêmio CNI SESI Marcantonio Vilaça de Artes Plásticas (2006). Vive e trabalha em Recife.

 

 

Gabriel Chaim na Zipper Galeria

09/ago

 

 

 

Neste momento, não podemos fazer uma exposição romântica”. Com esta frase o curador Marcello Dantas definiu a tonalidade da segunda mostra individual de Gabriel Chaim, “Devolvo Ouro”, cartaz da Zipper Galeria, Jardim América, São Paulo, SP.

 

 

A exposição reúne fotografias produzidas pelo artista na Terra Indígena Yanomami, na fronteira entre os estados de Roraima e Amazonas, regiões de Surucucu e Palimiu. Gabriel Chaim acompanhou durante dois meses a ação do Exército e da Polícia Federal contra o garimpo ilegal naquele lugar. Lá, as condições geológicas justificam a presença do ouro. Já o garimpo ilegal e os sistemáticos ataques aos povos Yanomami são justificados por omissões políticas, em curso há décadas.

 

 

Por isso, o lastro para precificação dos trabalhos presentes na exposição é o grama do ouro. A mostra destinará os recursos arrecadados com a comercialização das obras ao Conselho distrital de saúde indígena yanomami e Ye’kuana.

 

 

“O povo Yanomami vem sendo recentemente massacrado por uma sucessão de eventos originados pelo garimpo ilegal em suas terras. Essa exposição do fotógrafo Gabriel Chaim aborda as recentes condições e imagens capturadas naquele território. Diante da sequência de injustiças e ilegalidades que contornam o comércio do ouro ilegal no Brasil, estamos propondo uma nova situação onde as coisas devem ser devolvidas ao seu lugar de direito”, afirma o curador Marcello Dantas.

 

 

Reconhecido pelas investigações visuais em áreas de conflito, crise e outras situações extremas, o artista Gabriel Chaim especializou-se na cobertura de guerra e confrontos por território. Desde 2013, cobre conflitos no Oriente Médio, o que deu origem à sua primeira exposição individual na Zipper Galeria: “Filhos da Guerra: o custo humanitário de um conflito ignorado” (2015). Agora, a galeria encampou o primeiro projeto do artista realizado dentro do Brasil.

 

 

“Infelizmente, as políticas atuais têm encorajado as organizações criminosas que atuam na Amazônia. É urgente o combate ao garimpo ilegal, a redução da impunidade e a proteção dos direitos dos povos indígenas e outros defensores da floresta”, afirma Anna Livia Arida, diretora adjunta da Human Rights Watch.

 

 

Até 28 de agosto.

 

 

 

Sergio Augusto Porto na Central

02/ago

 

 


A próxima exposição na Central Galeria, Vila Buarque, São Paulo, SP, abrirá no sábado, dia 07 de agosto. Com curadoria de Diego Matos, “De dentro para fora, da experiência à imagem” é a primeira exposição de Sergio Augusto Porto em São Paulo e, de certa forma, é uma retomada na carreira do artista, pioneiro da arte brasileira nos anos 1970 e que tem no currículo participações de destaque em grandes exposições como a 37ª Bienal de Veneza (1976), a 12ª Bienal Internacional de São Paulo (1973) e o 7 Panorama da Arte Atual Brasileira (1975).

Até 25 de setembro.

Encontros Fotográficos

21/jul

 

 

 O Clube Paulistano, São Paulo, SP, abriga, em suas alamedas, a coletiva “F23 – Encontros Fotográficos”, sob curadoria de Sergio Scaff e Bel Lacaz. Exposições individuais de profissionais convidados, em diferentes momentos de trajetória, oferecem um amplo conjunto de opções imagéticas, em um total de 1.213 imagens.

 

Convidados por Sergio Scaff, Alessandra Rehder, Antonio Mora, Betina Samaia, Carol Lacaz, Fabio Colombini, Fabio Figueiredo, Fabiano Al Makul, Giovanna Nucci, Ivan Padovani, Jose Roberto Bassul, Lucas Lenci, Luciano Bonomo, Luiz Aureliano, Melissa Szymanski, Paul Clemence, Pico Garcez, Renan Benedito, Renata Barros, Robério Braga, Romulo Fialdini, Tuca Reinés, Uiler Costa-Santos e Valentino Fialdini, trazem seu universo de imagens para que o público conheça e se aproxime de sua criação. “Esta exposição irá permitir apresentar as diferentes leituras, conceitos, trabalhos e a evolução da fotografia, no olhar destes fotógrafos”, explica Scaff.

 

 

Longe de ser uma exposição estática, em formato padrão, a mostra totalmente digital, estará posicionada nas alamedas internas do Paulistano em totens identificados por artista: “cada fotógrafo terá um totem individual para apresentar sua biografia, currículo e coleção fotográfica representativa dos trabalhos executados, durante a sua carreira artística e profissional”, define o curador. Isso possibilita ao visitante o contato com um amplo número de imagens que os transportará a diversos universos criativos peculiares e particulares de cada artista.

 

 

As imagens que os artistas apresentam, com seleção de Sergio Scaff, passeiam por temas diversos, distintos e plurais. Incluem temas como arquitetura, meio ambiente, fauna, flora, vida urbana noturna, cotidiano, moda, sonhos, emoções, fantasias, abraçam a vida!

 

 

Como um conjunto de possibilidades adicionais à realização da mostra de fotografias, a curadoria disponibiliza uma agenda de ações complementares com ampla programação de visitas guiadas à exposição, encontros, palestras, visitas à ateliês e galerias cuja agenda definitiva estará disponível nas redes sociais do Paulistano para inscrição e agendamento.

 

 

Sobre o curador

 

 

Sergio Scaff. Curador e Marchand, opera a mais de 36 anos no circuito cultural brasileiro e internacional. Através da Documenta Galeria de Arte, atua prioritariamente nas praças de São Paulo, Curitiba, Recife, Rio de Janeiro e Brasília, tanto em parceria com galerias locais como de forma independente, o que possibilita o intercâmbio cultural das diferentes leituras da arte brasileira. Foi representante, no Brasil, da London Contemporary Art; fundador e presidente da Associação Brasileira de Galerias de Arte, nos anos 1990 e é parte da coordenação das atividades culturais da Galeria de Arte do Clube Paulistano, desde 2010. “Interagir a fotografia a ser apresentada a céu aberto, dentro do espaço do Paulistano, para um público de milhares de pessoas, de várias idades, visões e conceitos artísticos, integrando a arte fotográfica ao cotidiano do seu espaço”. ( Sergio Scaff).

 

 

A retomada das atividades do Paulistano Cultural segue os protocolos da Fase de Transição do Plano São Paulo de controle à pandemia, implantada pelo governo estadual, além de seguir as medidas de proteção, saúde e higiene estabelecidas pela Organização Mundial de Saúde e Ministério da Saúde. O número de visitantes segue limitado ao percentual permitido; é feita medição de temperatura à entrada e dispositivos de álcool gel estão posicionados por diversos pontos no espaço. O uso de máscara é obrigatório.

 

 

Até 19 de setembro.

 

 Na Japan House

07/jul

 

A nova exposição da Japan House, Avenida Paulista, São Paulo, SP, apresenta as janelas como elementos fundamentais da   sociedade japonesa, além de ser ponto focal da representação da coletividade em tempos de Pandemia.

 

 

Depois de ser exibida na Japan House Los Angeles, a exposição inédita “WINDOWOLOGY: Estudo de janelas no Japão”, fica em cartaz até 22 de agosto com entrada gratuita. Tendo como ponto de partida o papel das janelas no design, na construção das relações sociais, nas artes, na arquitetura e na literatura, a exposição foi concebida pelo Window Research Institute, instituição japonesa que realiza pesquisas em torno deste elemento que, à primeira vista pode parecer ter um papel simples no cotidiano, mas que se torna imprescindível, principalmente em momentos de reclusão social como o que o mundo vive atualmente. Por meio de nove categorias, a exposição propõe diversas leituras sobre a representação da janela nos processos artesanais, em produções audiovisuais, na construção das casas de chás, na arquitetura contemporânea, nos mangás, nas suas diferentes aplicações nos diversos ambientes japoneses e seus múltiplos formatos, que foram se refinando e se adaptando às necessidades das diferentes culturas ao longo da história.

 

Em cartaz no segundo andar da instituição, a “WINDOWOLOGY: Estudo de janelas no Japão” explora a janela por meio de desenhos técnicos, maquetes, fotos, vídeos, mangás e obras literárias, que buscam mostrar aos visitantes as janelas como um dos componentes mais fascinantes da arquitetura e do dia a dia de todos. Para isso, apresenta seus diferentes tipos e movimentos, sua posição de destaque em ambientes e histórias, assim como revela sua potência, capaz de conectar o externo e o interno, permitir entrada de luz e ar nos ambientes, proteger do frio e da chuva e fazer com que seja possível observar o outro, a natureza e o movimento das cidades e das pessoas.

 

Falando sob o viés arquitetônico, no contexto japonês elas são, em sua maioria, feitas em madeira e compostas por colunas e vigas. Os vãos possuem características peculiares: quando se move um tategu (portas e janelas), o espaço transforma-se em um ambiente inteiramente ventilado. Um exemplo que reflete esse uso são as salas de chá japonesas (chashitsu), um programa arquitetônico especial que reúne diferentes tipos de janelas num espaço pequeno, em especial, o Yōsuitei, denominado também de Jûsansōnoseki (sala de 13 janelas), casa de chá que possui o maior número de janelas e que, nesta mostra, será exibida como uma réplica em tamanho real (escala 1:1) feita de papel artesanal japonês (washi).

 

Outra perspectiva apresentada na exposição é a relação das janelas com os locais de trabalhos manuais no Japão. Nesses ambientes, elas possuem lugar de destaque, inserindo ou expulsando elementos como a luz, o vento, o calor, a fumaça e o vapor, por exemplo, que alteram características de materiais como argila, madeira, tecido e papel. “As janelas são repletas de simbologias e atribuições poéticas e valorizar algo que está ao nosso lado nem sempre é uma percepção imediata. Mas basta pensar nas consequências da sua ausência, especialmente em tempos de confinamento e isolamento, para entendermos o porquê de elas merecerem tanta deferência”, afirma Natasha Barzaghi Geenen, diretora cultural da Japan House São Paulo.

 

 

Para Igarashi Taro, curador da mostra, além de seu valor histórico e arquitetônico, as janelas desempenham papel sem igual durante uma crise, por permitirem que as pessoas possam compartilhar esperança e gratidão de forma única. “As janelas sempre evocaram comportamentos específicos em pessoas de diferentes regiões e culturas – e essa diversidade pode ser reconhecida ainda hoje, em meio à pandemia”, afirma dando exemplos como “Ir até a varanda cantar ópera para os vizinhos, mandar mensagens de agradecimento aos profissionais de saúde e passar objetos pela janela para garantir o distanciamento social”. Taro é Doutor em engenharia, historiador, crítico de arquitetura e leciona na Universidade de Tohoku, em Sendai, no Japão. Foi curador do Pavilhão japonês na Bienal de Veneza, em 2008 e atuou como diretor artístico da Trienal de Aichi, em 2013.

 

 

“WINDOWOLOGY: Estudo de janelas no Japão” chega como uma leitura sobre o papel das janelas no mundo, como objetos culturais que relatam as diferentes visões e perspectivas sobre o que se vive hoje. A exposição conta com programação paralela online e conteúdos compartilhados por meio das redes sociais da Japan House São Paulo e, depois de passar por São Paulo, segue ainda este ano para a Japan House Londres.

 

 

Sobre o Window Research Institute

 

O projeto de pesquisa WINDOWOLOGY faz parte das atividades do Window Research Institute (Instituto de Pesquisas sobre Janelas) e se baseia na crença de que as janelas refletem a civilização e a cultura ao longo do tempo. Esse instituto dedica-se a contribuir para o desenvolvimento da cultura arquitetônica mediante a coleta e disseminação de uma vasta gama de ideias e conhecimentos sobre janelas e arquitetura, por meio do apoio e organização de iniciativas de pesquisa e projetos culturais. Nos últimos 10 anos, além de diferentes frentes de estudo, o Instituto também vem desenvolvendo projetos internacionais que englobam temas relacionados a arquitetura, cultura e artes, com a colaboração de diferentes instituições de pesquisa, museus e órgãos privados, entre outros.

 

 

Fonte: ARTSOUL

 

 

Mostra individual de Arthur Scovino

30/jun

O Paço Imperial, Centro, Rio de Janeiro, RJ, em parceria com o projeto de extensão Arte & Curadoria, vinculado ao Instituto de Artes da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), apresenta “Lágrimas de Nossa Senhora”, sétima exposição individual de Arthur Scovino, artista licenciado em Desenho e Plásticas pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) que investiga símbolos atravessadores do afeto subjetivo e da memória cultural, a partir da presença pulsante do seu corpo.

 

 

Presente em coleções do Museu de Arte Moderna da Bahia, com participação marcada na 3ª Bienal da Bahia e na 31ª Bienal de São Paulo, o artista já indicado três vezes ao Prêmio Pipa agora apresenta parte da sua produção no Paço Imperial, lugar onde iniciou seu contato com as exposições cariocas e conheceu A Imagem do Som, uma série de exibições que propunham interpretações de canções brasileiras por artistas contemporâneos. Esse encontro instigou a relação do artista com a música popular brasileira e as capas de discos, desdobrando-se inclusive na realização da mostra individual, inspirada na música “Um Índio”, de Caetano Veloso. A partir dessa canção, Arthur Scovino, na busca do “ponto equidistante entre o Atlântico e o Pacífico”, propõe uma relação com pontos do Brasil e suas paisagens, como a capital do Estado do Mato Grosso.

 

 

Com curadoria de Marcelo Campos e assistência dos colaboradores do Arte & Curadoria, projeto universitário de sua coordenação, a individual apresenta alguns trabalhos inéditos e a instalação “Lágrimas de Nossa Senhora”, uma referência às sementes presentes nas contas de rosário, utilizadas em cultos católicos e afro-brasileiros, que são fiadas pelo artista junto a meditações durante suas ativações performáticas. A exposição homônima propõe um encontro entre o simbólico e o terreno, apresentando articulações de ícones religiosos da cultura brasileira, e suas potências visuais múltiplas, estabelecendo um pensamento mágico que, como um sismógrafo de epifanias, busca captar em cada gesto e, em cada movimento, os sinais que a terra pode nos apresentar.

 

 

Em exibição de 08 de julho a 26 de setembro.

 

 

Esperança

29/jun

 

O Museu de Arte Sacra de São Paulo – MAS/SP, instituição da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo, exibe até 22 de agosto, “Esperança”, mostra coletiva sob curadoria de Simon Watson, composta por trabalhos dos artistas contemporâneos Ana Júlia Vilela, Andrey Rossi, Desali, Enivo, João Trevisan, Leandro Júnior, Lidia Lisbôa, Mag Magrela, Moisés Patrício, Paulo Nazareth, Thiago Rocha Pitta, Yasmin Guimarães, onde cada obra é acompanhada de um texto crítico assinado por curadores convidados Thierry Freitas, Márcio Harum, Fernando Mota, Carlo McCormick, André Vechi, Jackson Gleize, Mirella Maria, Gabriela Longman, Guilherme Teixeira, Janaina Barros,  Ulisses Carrilho e Carollina Lauriano.

 

O segundo evento do Projeto LUZ Contemporânea, Esperança, traz a sensação de acolhimento, do olhar para frente, do ser bem-vindo. “Vista pelas lentes de diversas práticas artísticas contemporâneas, Esperança é uma observação curatorial caleidoscópica buscando resposta aos 18 meses de pandemia. Para muitos de nós, o ano passado pareceu se arrastar, de forma lenta e dolorosa. Foi um tempo de espera e esperança, um tempo de autorreflexão. Um período que despertou consciências, tanto pessoais como coletivas, em resposta a uma crise global de saúde; como cada um de nós se relaciona com o outro e como compartilhamos nossa saúde coletiva”, explica o curador Simon Watson. Como mote para exposição, um dos conceitos que interligam os trabalhos são as múltiplas formas pelas quais as mãos e corpos dos artistas se fazem presentes na criação dessas obras de arte. “Ao reafirmar sua presença, esses artistas confirmam nossa existência como humanos e, com a presença de sua mão somos lembrados de nossa impermanência, da fragilidade de nossas vidas. E por serem obras de arte, possuem uma permanência no registro de nosso tempo. Na presença da mão do artista, encontramos sinais pessoais de propósito, determinação e esperança”, conclui o curador.

 

 

Como um presente adicional ao público, Simon Watson convidou críticos e curadores do circuito cultural para escreverem sobre as obras exibidas por cada um dos artistas participantes: “como um estrangeiro engajado e apaixonado pela cena cultural brasileira contemporânea, estou muito impressionado com a nova onda de curadores e críticos de arte brasileiros que, por conta própria, estão forjando uma nova versão da história da arte, vista por meio de perspectivas novas e variadas. Fazendo perguntas provocativas sobre quem está faltando e porque, sua investigação enérgica está provocando e apoiando artistas e diversas práticas artísticas. Meu interesse por esta nova onda levou-me a convidar profissionais das artes para fazerem ensaios para cada um dos 12 artistas de Esperança”.

 

 

Os 54 trabalhos – bidimensionais, tridimensionais, tecnológicos – de Esperança, que abrangem técnicas diversas como aquarelas, pinturas, grafitti, esculturas, fotografias e vídeo performances, estão dispostos na sala de exposições temporárias do MAS/SP bem como em seu jardim interno – Jardim do Claustro – como um brinde de formas, cores e convite a estar perto.

 

 

Os trabalhos de Andrey Rossi sugerem uma meditação tranquila em uma enfermaria de hospital fictício. Os desenhos são altamente detalhados e formam a base de um ciclo contínuo de pinturas que, por mais que pareça um assunto sombrio, são estranhamente sedutoras e transmite uma mensagem poderosa e agem como meditação e celebração do impulso humano para superar a tragédia e descobrir a vida no mais improvável dos lugares. Desdobrando materiais primordiais está Leandro Júnior cujas pinturas figurativas de argila líquida se inspiram na cultura do vale do Jequitinhonha onde cresceu e no material com que pinta. Seus retratos invocam pungência e tristeza, bem como sentimentos de empoderamento, pois as figuras parecem estar contemplando a luz de um dia de céu azul.

 

 

Muito parecido com um oratório contemporâneo, Desali faz acrílicos em escala íntima pintados em pedaços de madeira de descarte. São atos de meditação pessoal, um reflexo do sofrimento cotidiano, frequentemente impregnado pela presença de luz natural e céus radiantes. Temas do cosmos podem ser claramente sentidos nas pinturas terrestres e paisagísticas de Yasmin Guimarães. Em pequena escala, examinando detalhes aparentemente microscópicos ou em telas maiores e robustas, ela é um mundo de magia e maravilhas no mundo natural. Moisés Patrício se apresenta com uma pintura em grandes dimensões que retrata uma mulher negra vestida de branco em um ritual performativo de nascimento e renascimento. Um momento comovente e comemorativo.

 

 

Esperança apresenta três murais site specific nas paredes do museu. Dois dos murais estão nas extremidades da sala expositiva. De um lado, uma figura feminina pintada por Mag Magrela e do outro, uma figura xamã masculina pintada por Enivo. Mag Magrela se inspira no tumulto das imagens urbanas e na mistura das culturas brasileiras. A imagem retrata um mundo de gigantes gentis, mulheres que são poderosas e dominadoras, mas ainda mantêm uma intimidade vulnerável em seus olhos, bem como em sua postura. Enivo está presente na cena mural de rua de São Paulo, e se tornou conhecido por suas pinturas de prática de estúdio “alienígenas futuristas”, que nesta exposição vê a união dos dois, uma enorme pintura mural de uma figura futurista semelhante a um xamã de otimismo e esperança instalada com um agrupamento de pinturas de resina.

 

 

Ana Júlia Vilela cria um terceiro mural no centro da sala expositiva onde combina intervenção direta na parede e um aglomerado de telas. Ela brinca com o espectador, revelando apenas alguns fios de investigação pictórica, todos interrompidos por fragmentos de texto que lembram um tweet ou a troca casual de uma breve conversa.

 

 

O tema do fogo e da ressurreição ígnea tem sido um elemento recorrente na ampla prática de Thiago Rocha Pitta. Suas aquarelas sugerem um mundo mítico e ardente equilibrado entre o apocalíptico e o alucinógeno. Igualmente alucinógena é uma performance de Lidia Lisbôa. Suas esculturas do Casulo são uma versão suave de sua mediação ao longo da vida sobre o tema dos formigueiros encontrados em todo o Brasil. A exposição inclui a vídeo-performance Alvorecer.

 

 

O tema abrangente da exposição é retratado de forma mais vívida no vídeo performático “Cuando tengo comida en mis manos” de Paulo Nazareth. Situado contra um céu azul claro, ele lembra São Francisco como a ação de mãos erguidas com comida e pássaros se precipitando e se alimentando parece tão generoso, tão frágil e tão importante.

 

 

Esperança finaliza no pátio interno com uma escultura em madeira de sete partes de dormentes criada por João Trevisan. A obra convida o espectador a sentar-se e, ao fazer isso, você se torna primeiro consciente da arquitetura e, então, totalmente ciente da existência do céu.

 

 

Sobre o curador

 

 

Simon Watson – Nascido no Canadá e criado entre Inglaterra e Estados Unidos, Simon Watson é curador independente e especialista em eventos culturais baseado em Nova York e São Paulo. Um veterano com trinta e cinco anos de experiência na cena cultural de três continentes, Watson concebeu e assinou a curadoria de mais de 250 exposições de arte para galerias e museus, e coordenou programas de consultoria em colecionismo de arte para inúmeros clientes institucionais e particulares.

 

Comemoração

22/jun

 

 

 

A galeria Simone Cadinelli Arte Contemporânea, Ipanema, Rio de Janeiro, RJ, inaugura dia 23 de junho, a exposição “Modo Contínuo”, em comemoração aos seus três anos de atividades.

 

A mostra apresenta uma seleção de 35 obras inéditas e emblemáticas – em vídeo, pintura, escultura, fotografia, objeto, e instalação – dos artistas Claudio Tobinaga, Gabriela Noujaim, Isabela Sá Roriz, Jeane Terra, Jimson Vilela, Leandra Espírito Santo, Pedro Carneiro, PV Dias, Roberta Carvalho e Virgínia Di Lauro, representados pela galeria.

 

 

A exposição permancerá em cartaz até 27 de agosto.

 

 

A visitação é por agendamento prévio, pelos telefones+55 21 3496-6821 e +55 21 99842-1323 (WhatsApp).

 

 

Escrito no corpo

18/jun

 

 

Com curadoria de Keyna Eleison e Victor Gorgulho, a Tanya Bonakdar Gallery, Nova York, apresenta de 25 de Junho até 30 Julho, uma exposição coletiva com obras de Abdias Nascimento, Agrippina R. Manhattan, Antonio Tarsis, Ayrson Heráclito, Carla Santana, Davi Pontes & Wallace Ferreira, Diambe, Dona Cici, Efrain Almeida, Herbert de Paz, Marcia Falcão, Melissa de Oliveira, Moisés Patrício, Panmela Castro, Paulo Nazareth, Rodrigo Cass e Sonia Gomes.

 

 

Tanya Bonakdar Gallery e Fortes D’Aloia & Gabriel têm o prazer de apresentar “Escrito no corpo”, na Tanya Bonakdar Gallery. A coletiva é um desdobramento da pesquisa realizada para a mostra homônima ocorrida na Carpintaria, Rio de Janeiro, em 2020. A exposição costura as produções de jovens e consagrados artistas brasileiros com o acervo fotográfico do Teatro Experimental do Negro (TEN), fundado e dirigido por Abdias Nascimento (1914 -2011). “Escrito no Corpo” toma parte do acervo fotográfico do TEN como marco e ponto de partida para a discussão de questões relacionadas à raça, identidade e corpo. Em uma época em que experiências de injustiça e racismo sistêmico se tornaram áreas cada vez mais urgentes de investigação cultural, esta exposição estabelece um diálogo entre as histórias de raça e representação em ambos os países, enfatizando as especificidades e circunstâncias que tanto as aproximam quanto as diferem O legado multidisciplinar de Nascimento, que desenrolou-se nos campo da arte, da política e do meio acadêmico, torna-se evidente na mostra também pela exibição de duas de suas pinturas – Composição n. 1 e Frontal de um tempo -, datadas do início da década de 1970 e produzidas em território norte-americano. Autoexilado do Brasil em 1968, quando uma ditadura militar esteve em curso no País, o artista viaja aos Estados Unidos – apoiado pela Fundação Fairfield – com o objetivo de realizar um intercâmbio entre os movimentos norte-americano e brasileiro na promoção dos direitos civis da população negra. Nessa época torna-se professor emérito da Universidade do Estado de Nova York, em Buffalo, EUA, aprofundando também seu interesse pela pintura. Para Abdias, a representação visual de signos e divindades ligadas às religiões afrobrasileiras se mostra um poderoso instrumento de comunicação não apenas com seu entorno, em um plano terrestre, como também com realidades extrafísicas, planos espirituais. Abdias retorna ao Brasil somente em 1978. Abdias Nascimento fundou o Teatro Experimental do Negro no Rio de Janeiro em 1944, com o propósito central de reivindicar espaço para pessoas negras no teatro da época. A estratégia inicial de apropriação do teatro como espaço de poder, revela-se um tanto mais tentacular e amplia-se em novas frentes de articulação. O TEN foi pioneiro em organizar, por exemplo, cursos de alfabetização, frentes trabalhistas e até concursos de beleza que enalteciam a cultura negra em uma sociedade profundamente racista, apesar de ainda pautada pelo mito da “democracia racial”. As atividades do TEN encerraram-se em 1961, mas o pensamento de Abdias continuou a ecoar nas décadas seguintes e até hoje. “Escrito no corpo” toma como ponto de partida parte do acervo fotográfico do TEN para discutir questões ligadas à raça, identidade e corpo. A dimensão narrativa do corpo aparece em vários trabalhos da mostra, especialmente nas foto-performances de Antonio Tarsis, Ayrson Heráclito e Carla Santana. Através de diferentes abordagens, suas obras partilham a ideia de uma escrita de si através do ato performativo. A fotografia de Melissa de Oliveira, por sua vez, caminha em via oposta ao arquitetar um olhar sobre o outro, entendendo a fotografia como exercício de alteridade e construção de subjetividade em retratos realizados no Morro do Dendê, um complexo de comunidades na periferia do Rio de Janeiro, onde nasceu e vive. Obras em vídeo também servem de suporte para gestos performáticos, seja na busca por seu próprio reflexo empreendida por Rodrigo Cass em Narciso no mijo, ou na documentação da ação Devolta, de Diambe, em que a artista coreografa um círculo de fogo ao redor do monumento público em homenagem à Princesa Isabel, figura da família imperial brasileira responsável pela assinatura da Lei Áurea, que aboliu a escravidão no país, em 1888 – 23 anos depois dos Estados Unidos. Se a atitude de Isabel foi digna de homenagem em praça pública, no Rio de Janeiro, seu papel histórico é, há muito questionado como apenas um gesto ilustrativo que não oferecia perspectiva para o modelo escravagista no país, à época. Já o filme de Davi Pontes & Wallace Ferreira reflete sobre a racialidade e flerta com a física quântica em uma performance que se instaura em um território híbrido entre a dança e a autodefesa. A problematização em torno do imaginário colonial também aparece na obra de Herbert de Paz, em que o artista preenche a silhueta de uma figura indígena com imagens retiradas da revista História do Brasil, editada há décadas pela Biblioteca Nacional, perpetuando uma narrativa histórica forjada no seio do colonialismo. As esculturas de Paulo Nazareth reafirmam a negação da lógica colonial e imperialista. O corpo enquanto narrativa encarnada reaparece nas pinturas de Márcia Falcão, Moisés Patrício e Panmela Castro. Ao passo em que as obras de Falcão usam o corpo feminino como significante de violência e também de liberdade nas esferas público e privada, as pinturas de Castro são retratos de pessoas próximas à artista que se dispuseram a posar à noite, em vigília comum, durante a pandemia do Covid 19. Os personagens das telas de Patrício, por sua vez, incorporam a ancestralidade do candomblé, uma das vertentes da religiosidade afro-diaspórica mais fortes no Brasil. A relação entre a representação do corpo e a religiosidade é temática frequente também na produção de Efrain Almeida, cujas esculturas de madeira e bronze compreendem o imaginário popular do Nordeste do Brasil, onde o artista nasceu. O interesse por materiais cotidianos marca o fazer escultórico de Sonia Gomes, cuja gaiola envolta por pedaços de tecidos torcidos sugere a liberdade almejada pela frase de autoria de Agrippina R. Manhattan, em sua obra de led: Antes de caírmos, nos tornaremos o sol. Agradecimento especial à Elisa Larkin Nascimento e ao IPEAFRO (Instituto de Pesquisas e Estudos Afrobrasileiros).

 

 

Tanya Bonakdar Gallery 521 West 21st Street New York, NY 10011

 

Sebastião Salgado, a Amazônia em Paris

02/jun

 

A fotografia de Sebastião Salgado impacta sempre. Mas desta vez, a exposição Amazônia na Philarmonie de Paris apresenta o resultado de um trabalho de 7 anos de viagens pela floresta amazônica, não só mostrando magistralmente a fragilidade e beleza do ecossistema e assim, alimentar o debate sobre o futuro, mas aborda essa questão sob o prisma da música.

Sebastião Salgado convidou o compositor francês de música eletrônica e concreta, Jean-Michel Jarre, para compor uma obra que utiliza arquivos sonoros gravados na Amazônia desde 1950 e conservados no MEG-Museu Etnográfico de Genebra. O imenso talento dos dois criou um “percurso fotográfico-sonoro em estéreo” que convoca os olhos e os ouvidos para uma imersão emocionante nas imagens e nos sons.

Se estamos habituados às exposições de Salgado, aqui, embarcamos na emoção de “viver” de forma sensitiva a vivência do fotógrafo e das dezenas de pesquisadores que gravaram ao longo de décadas, os sons da biodiversidade e dos povos desse lugar.

A diretora do MEG nos ensina: “No ocidente, a visão e o tato são os sentidos dominantes. Na Amazônia é antes de tudo pela audição, logo, é pelo som que a conexão de si mesmo com o resto do mundo se estabelece”.

A partir disso, Lélia Salgado, comissária e cenógrafa da exposição que também traz a força de Heitor Villa-Lobos em uma das salas, espera que a experiência carregue o público para o interior da voz da Amazônia.

Prepare o seu coração antes de ir.

O evento Amazônia continua até o segundo semestre com shows de Caetano Veloso, Philip Glass, Rodolfo Stroeter, Marlui Miranda e Djuena Tikuna.

Rosangela Meletti (de Paris, com autorização).