Pelé por José Dias Herrera

04/jun

A galeria Lume, Itaim Bibi, São Paulo, SP, abre a exposição “Pelé: A Construção de um Rei”, com curadoria de Paulo Kassab Jr, composta por 12 fotografias, em preto e branco, feitas por José Dias Herrera, algumas inéditas, e um vídeo que mostram a elegância, versatilidade e o encanto do atleta do século, dentro e fora dos gramados. Em parceria com o Museu Pelé, a exposição conta como ocorreu a construção do mito que conhecemos hoje, como ele transformou Edson Arantes do Nascimento em Pelé.

 

Acompanhado pelo fotógrafo José Dias Herrera entre 1956 e 1966, Pelé foi retratado em imagens que ficariam guardadas para a eternidade, como o primeiro dia do jogador no Santos Futebol Clube – logo após vestir a camisa do time -, alguns lances que mostram toda sua destreza na prática do esporte, bem como situações de sua vida pessoal, ainda muito jovem. O público também terá acesso a um vídeo com alguns momentos em que o Rei brilha ao balançar a rede, fazendo gols que ficaram marcados no imaginário mundial.

 

Além da indiscutível marca deixada na história do esporte, o ex-jogador sempre foi distinto no que se refere ao contato com as pessoas. “Entre celebridades, jornalistas, políticos, artistas e fãs, desde os tempos de jogador até hoje, Pelé se eternizou com simpatia e carisma, dignos de um rei”, comenta Paulo Kassab Jr. Seu lado humano e dedicado é o mote central da exposição, reunindo os principais registros do início de uma carreira estrondosa que o levaria, anos mais tarde, ao indiscutível título de “Rei do futebol”. A coordenação é de Felipe Hegg.

 

 

De 10 de junho a 26 de julho.

Mauro Restiffe no Instituto Moreira Salles/Rio

O Instituto Moreira Salles, Gávea, Rio de Janeiro, RJ, inicia junho seu programa anual de exposições de fotografia contemporânea brasileira. Durante três meses de cada ano, o centro cultural do Rio de Janeiro abrigará uma exposição inédita desenvolvida em parceria com um artista ou fotógrafo, seja através de um trabalho comissionado ou de apoio a um trabalho em andamento.

 

A primeira exposição do novo programa é “São Paulo, fora de alcance”, do fotógrafo paulista Mauro Restiffe. A pedido da revista ZUM, Restiffe já havia fotografado o bairro da Luz em 2012. Para esta exposição, o fotógrafo foi convidado a estender seu trabalho sobre a cidade de São Paulo, realizando caminhadas por outros bairros, centrais e periféricos, como Brás, República, Pinheiros, Vila Congonhas e Itaquera. Esses deslocamentos aconteceram quase diariamente por três meses e deram origem a centenas de fotografias, feitas com a câmera Leica e o filme preto e branco de alta sensibilidade que fazem parte da poética do artista. Mauro Restiffe é conhecido pelas séries fotográficas que desenvolve em torno de questões urbanas de relevância histórica, política e arquitetônica. As 18 obras escolhidas para a exposição apresentam a cidade, o espaço urbano e seus habitantes. Muito longe de cartões-postais, as fotografias atualizam o repertório visual de São Paulo ao olhar para espaços públicos e construções importantes como o Itaquerão, a praça do Relógio, o Templo de Salomão, a praça Roosevelt, o vão livre do Masp e o Museu do Ipiranga. Ampliadas em formatos que variam de 60 centímetros a mais de dois metros de largura, as imagens ganham escala monumental.

 

Os usos variados que os habitantes fazem da cidade e os diversos estágios de construção e conservação do patrimônio arquitetônico se combinam para narrar visualmente a experiência fragmentada que caracteriza a vida urbana. Nas imagens da exposição, os deslocamentos diários ao trabalho ou os passeios de fim de semana se misturam a fatos extraordinários, como o incêndio no Memorial da América Latina, ocorrido em novembro do ano passado, ou um dos vários protestos realizados este ano. Ao usar o preto e branco para fotografar acontecimentos recentes, o fotógrafo dá às obras uma ambiguidade temporal. O preto e branco e a alta granulação produzem uma unidade entre as pessoas e o variado tecido urbano, ao mesmo tempo em que serve de metáfora para a organização caótica e precária das cidades.

 

As obras de Mauro Restiffe serão afixadas em painéis espalhados pelo espaço expositivo, ao invés de estarem penduradas nas paredes, como numa exposição fotográfica tradicional. A montagem, que faz alusão ao percurso das cidades, obriga o visitante a confrontar-se com as obras e contorná-las, construindo planos, perspectivas e bloqueios conforme se caminha pela galeria. O título da exposição também sugere a impossibilidade de representar uma cidade grande e complexa como São Paulo. A exposição tem curadoria de Thyago Nogueira, coordenador de fotografia contemporânea do IMS. O projeto expográfico é de Martin Corullon, do escritório Metro Associados, e a identidade visual de Daniel Trench. A exposição será acompanhada de um livro com cerca de 50 imagens do projeto.

 

O novo projeto de exposições em fotografia contemporânea vem se somar às atividades que o IMS vem desenvolvendo nesta seara nos últimos anos e que incluem a publicação da revista de fotografia ZUM e o oferecimento da Bolsa de Fotografia ZUM/IMS.

 

 

 

Sobre o artista

 

Mauro Restiffe nasceu em São José do Rio Pardo, em 1970. Formou-se em cinema pela Faap e estudou fotografia no International Center of Photography e na New York University. Suas obras foram expostas, entre outros lugares, no MAC-SP (2011) e na 27ª Bienal de São Paulo. Seu trabalho faz parte de coleções importantes, como as da Tate Modern, do MoMA de São Francisco, de Inhotim e da Pinacoteca do Estado de São Paulo. Foi indicado ao prêmio BES-Photo de 2011 e, em 2013, foi premiado pela Fundação Conrado Wessel. Expôs no Rio de Janeiro em 2006, na galeria Laura Marsiaj. Esta é sua primeira individual institucional na cidade.

 

 

De 07 de junho a 28 de setembro.

Livro de Cristina Schleder na Cultura/SP

28/mai

A Luste Editores lança “Os Tapetes Voadores da Mata Atlântica”, da artista plástica Cristina Schleder, com fotografias autorais que registram texturas, tramas e detalhes de sua inspiração maior – a Natureza. As imagens e espelhamentos de alguns fragmentos possibilitam novos significados à importância e beleza deste ecossistema.

 

Para a criação da série, Cristina Schleder adentrou a área da Mata Atlântica munida de olhos treinados em busca do inusitado, do oculto, e não de uma mera imagem. Em seus momentos preferidos, os pós chuva ou os dias nublados de luz prateada, quando a vegetação atinge seu pico de beleza, a artista vislumbrava detalhes de cores que surgiam em troncos e musgos, criando uma inédita fábula visual formada por fotografias marcantes. Sua imersão era tamanha que encontrava novos personagens, os quais a acolhiam e descortinavam um novo cenário, levando-a a lembrar das estórias em que os seres viajavam em tapetes voadores. Desenhos, formatos, cores e padronagens surgiam diante da artista, leves e harmônicos, que possibilitavam a imaginação de Cristina Schleder alçar vôo.

 

Os Tapetes Voadores da Mata Atlântica não versa apenas sobre o lúdico: também nos permite acesso à precisão da técnica e a conquista da verdade, visto que as formas e tons são exibidos em sua verdade máxima sem interferência ou alteração; o titulo de cada fotografia é o código da própria maquina quando apertado o disparador – sendo que cada imagem é realizada por um único clique, enfatizando a o momento único de cada cena.

 

Nas palavras da própria artista, travestida em uma personagem de contos “…a verdade deste pensamento mágico conseguia levá-la para todos os lugares imaginados, sentada em seu próprio tapete voador que a mata, com seus fios, tramas e bordados, teceu especialmente para ela.” A apresentação é de Tereza de Arruda.

 

Onde e quando: 05 de Junho de 2014, quinta-feira, das 18h às 22h na Livraria Cultura – Shopping Iguatemi, Jardim Paulistano.

Babenco apresenta Baccaro em “Deep”.

26/mai

O artista Thomas Baccaro abre exposição individual,  “Deep”, na Galeria Vilanova, Vila Nova Conceição, São Paulo, SP, para a qual contou com um apoio especial: o cineasta Hector Babenco assina o texto de apresentação.  A curadoria é de Bianca Boeckel. Thomas Baccaro apresenta onze  imagens,  realizadas na Itália entre novembro de 2013 a janeiro de 2014.

 

 

Texto de Hector Babenco

 

“Thomas, primeiro e talvez último mergulho no profundo. Vendo estes bucólicos flagrantes do Thomas, a última pergunta que viria não é necessária. Onde esta paisagem dorme? Esta frágil melancolia que este jovem artista deixa seu olho pousar. Melancolia seria uma palavra óbvia. A palavra é PROFUNDO. Há algo nesta neblina que não nos remete ao mar, ao contrário, ela nos deixa na terra. Não na desolação e sim no nascimento e na perenidade assustadora do que é, e de onde viemos… ”

 

 

 

De 27 de maio a 17 de junho.

Isidro Blasco no Brasil

23/mai

A SIM galeria, Curitiba, PR, exibe fotos de Isidro Blasco apresentadas por Tatiana Flores. Em seus trabalhos o fotógrafo desconstrói paisagens de cidades conhecidas como Nova Iorque, São Paulo, Sidney, Helsinque e Curitiba.

 

Isidro Blasco: Construção, Reconstrução, Desconstrução

por Tatiana Flores

 

A prática artística de Isidro Blasco desafia qualquer categorização dentro dos parâmetros convencionais. Em diferentes momentos, pode ser considerada como arquitetura, fotografia, ou escultura, e pode ser todas essas coisas simultaneamente ao mesmo tempo não sendo nenhuma delas. Ainda assim, é muito ligada a materiais recorrentes – suportes de madeira, imagens fotográficas – para pertencer à categoria amorfa descrita por Rosalind Krauss como a “condição pós-suporte.” Também nem sempre é confortavelmente categorizada como arte de instalação, particularmente na série de trabalhos baseados em paredes, tais como a série Planets – Planetas (2014) ou os vídeos. A obra do artista não deixa de ser marcada por consistência e coerência, mantendo um diálogo crítico produtivo com ambos os suportes tradicionais e a história da arte. Em vez de defender perspectivas individuais ou narrativas lineares, Blasco desmonta tais visões totalizantes de uma maneira análoga à abordagem teórica conhecida como desconstrução, tipicamente associada com a literatura. Contrariando a idéia de ilusão sugerida pela imagem singular ou de um ambiente tradicionalmente construído, seu trabalho argumenta contra um corpo unitário de conhecimento em favor da revelação da experiência contemporânea enquanto descontínua e fragmentada. Ele o faz, ironicamente, através de uma prática de construção, quer de fotografias compostas de arquitetura exterior e interior em suportes de madeira irregulares e complexos, ou de esculturas arquitetônicas baseadas em fotografias.

 

A desconstrução, desenvolvida enquanto teoria pelo filósofo francês Jacques Derrida, é sucintamente explicada pelo teórico de arte americano Stephen Melville como “uma prática de leitura, uma maneira de entender as coisas antagonisticamente a elas mesmas, ou às suas margens, de modo a mostrar algo sobre como elas são estruturados pelas próprias coisas que agem para excluir de si mesmas e então, mais ou menos sutilmente, para deslocar a estrutura dentro da qual essas exclusões parecem plausíveis ou necessárias.”¹ Vez por outra, essas características aparecem na arte de Blasco, bem como em seus escritos. Na apropriadamente intitulada Deconstructed Laneways – Vielas Desconstruídas (2011), uma obra de arte pública, ele criou uma imagem de construção espelhada de uma interseção em Sydney, Austrália, que, se visto de um ponto específico, faz com que a rua pareça continuar até encontrar a fachada de um prédio próximo. Uma vista de qualquer outro ângulo revela que a construção é uma ilusão. Isto é especialmente verdadeiro quando a imagem composta é vista de lado, o que expõe a marca registrada de Blasco: andaimes de madeira segurando a miragem fotográfica. Esta estrutura às margens desafia o espectador a questionar a distinção entre realidade e aparência. Embora suponha-se que as fotografias sejam um indicativo do real, Blasco mostra que elas são apenas construções que mantém-se a partir de um único ponto fixo. Com o menor movimento, a ilusão desaparece, e a pretensão de “verdade” fotografica é minada por completo. Um efeito similar acontece na instalação Seeing Without Seeing – Ver Sem Ver (2000), que usa a arquitetura para questionar a coerência espacial. Aqui, o artista projetou imagens de dois cantos do espaço, mapeou-os com linhas e recriou o espaço da sala usando madeira compensada pintada de branco para as paredes e teto e cinza para o chão. O resultado final foi tal que a instalação encaixava-se com a sala apenas a partir de um único ângulo. Qualquer outro ponto de vista revelava uma “estrutura deslocada”, empregando a terminologia de Melville, gerando uma experiência visual e espacial confusa.

 

No texto “Quando Acordei” (1996), que corresponde a uma escultura arquitetônica de mesmo título, Blasco descreve seu sonho de uma casa que é completamente incoerente, “uma casa falsa, como aquelas em um set de filmagem.”² Então, inexplicavelmente, uma segunda construção começa a se materializar, e “imagens estáticas a partir de meus próprios olhos, todas colocadas juntas, de alguma forma fazem isso acontecer.

 

Devido a algum fenômeno desconhecido, as paredes da casa de set de filmagem começaram a se quebrar e separar, deixando amplas aberturas para o exterior… Todos esses painéis ao meu redor pareciam seguir uma narrativa seqüencial, saindo da parede como que em um saliência. Mas logo ficou claro que a divisão entre os painéis separados foi quase toda apagada, provavelmente por causa do fenômeno de impressão retinal. Eles estavam misturados, sobrepostos uns aos outros. Tudo parecia agora mais, de algum modo, com “Os Portões do Inferno” de Rodin, onde não se pode ver uma narrativa coerente.” Nas imagens correspondentes, a casa é um amálgama de painéis, um polígono aberto complexo sem teto ou paredes ou chão completos, sem fachada visível, como uma pintura cubista feita em um edifício. Tendo em conta que a casa é o espaço seguro final, fornecendo abrigo e conforto, é compreensível que o sonho do artista (mais como um pesadelo) seja tão desconcertante. A narrativa sequencial sugerida por uma estrutura com quatro paredes, um teto, portas e janelas, dá lugar a desarticulação e incoerência. Traz à vida as palavras de Gayatri Chakravorty Spivak ao descrever a abordagem de Derrida: “uma certa visão do mundo, da consciência, e da linguagem tem sido aceita como a correta e, se as minúcias de tal visão forem examinadas, uma imagem um tanto quanto diferente (que é também uma não-imagem, como veremos) emergirá.”

 

Descrever as obras fragmentadas e basedas em arquitetura de Blasco como “não-imagens” é certamente apto, não só porque elas negam a coerência estrutural da imagem (neste caso, a casa), mas também porque, em sua essência, existe uma crítica da visão monocular da fotografia tradicional e da câmera como uma máquina de fazer fotos que cria mecanicamente perspectivas pontuais. Amarrado à história da pintura ocidental como a busca da ilusão ótica, finalmente alcançada no Renascimento e aperfeiçoada ao longo dos séculos seguintes, tanto a pintura em perspectiva quanto a fotografia convencional transformam um espaço tridimensional em um suporte bidimensional e também oferecem uma visão do mundo como um todo e inteligível. Ao fotografar edifícios e reconstruí-los de acordo com os limites espaciais de fotografia, Blasco demonstra que isso não é verdade. As casas reconstituídas – se elas sequer podem ser chamados assim, já que elas são, de fato, desconstruções – em tais obras como Just Before – Logo Antes (2004), Father’s House – Casa do Pai (1998), e em Quando Acordei, são apenas fragmentos planares de paredes, tetos e pisos, com uma aparência precária. Fazendo-nos questionar as próprias estruturas que nos cercam, não apenas travam uma ataque à fotografia, mas também contra nossa própria percepção visual e espacial, desafiando-nos a aceitar o mundo como indecifrável. A caracterização da perspectiva por Melville lança luz sobre as questões insolúveis colocados pela artista: “Nossos usos comuns da palavra “perspectiva” estão estranhamente divididos: nós a reinvindicamos, por um lado, como aquilo que nos dá o mundo mais ou menos como ele o é, e, por outro, como um nome para aquilo que nos separa um do outro. Você tem a sua perspectiva e eu tenho a minha – e ainda assim a representação de perspectivas tem uma reivindicação sobre a verdade pública tão boa quanto qualquer outra que possamos imaginar. Algo desta divisão certamente informa periodicidade, muitas vezes argumentos estranhamente sem sentido sobre se perspectiva é ‘natural’ ou ‘convencional’ – a moral desses argumentos pode ser somente que a perspectiva se choca com incoerências profundas em nossa interpretação normal dessas palavras, o que seriam então também incoerências profundas em nossa compreensão de como nós encontramos um perante o outro.”4 No seu momento mais provocante, Blasco confronta-nos com este mesmo paradoxo, apontando repetidamente para a ilusão da coerência.

 

Embora o artista postule questões difíceis, seu trabalho também pode ser leve, caprichoso, e bem-humorado. Planets é um caso a ser analisado, uma série de relevos fotográficos em formatos circulares na parede, que retratam vistas das cidades geralmente tiradas dos prédios mais altos. Estes trabalhos encantadores e lúdicos consistem em fotografias de edifícios montadas em painéis de madeira em torno de um núcleo central aberto e irregular. Eles são a antítese de pinturas renascentistas tais como A Cidade Ideal (ca. 1480-1484) de Fra Carnevale e a obra de autoria desconhecida A Cidade Ideal (ca. 1480) da Galeria Nacional da Marche em Urbino, obras conhecidas que fazem uma analogia entre perspectiva pontual e utopia urbana, colocando edifícios de inspiração clássica no ponto de fuga. O centro de Blasco nesta série é, pelo contrário, literalmente o espaço vazio, e como tal, os seus “planetas” não nos apresentam “nenhuma identidade estável, nenhuma origem estável, nenhum fim estável”, correspondente à caracterização do método de Derrida por Spivak.5 Isto não quer dizer que cada uma das cidades representadas na série Planets careça de características únicas; pelo contrário, Alicante exibe pastéis calmantes, Helsinki é uma sinfonia de azuis e São Paulo apresenta retângulos largos, principalmente em cinza, pontuados por manchas vermelhas. Elas são todas visualmente diferentes, e isso não é, então, uma série de obras que argumenta um ponto sobre os efeitos homogeneizadores da globalização. A diversidade arquitetônica, topográfica e climática é o que faz com as obras de Planets tão convincentes como objetos distintos. Embora seja evidente que o formato circular marca estes relevos como não tendo começos nem fins, a falta de identidade estável, em última análise, tem a ver com o seu centro vazio. O prédio de onde foram tiradas estas fotografias foi anulado, e assim sendo o centro, que nas pinturas renascentistas marcou uma base sólida que significa coerência e unidade, aqui é desestabilizado, simbolizando incapacidade de conhecimento. O prazer visual que podemos receber dessas obras – que pode levar-nos a imaginar a nós mesmos como turistas catedráticos flutuando acima de cidades que nunca poderemos conhecer em pessoa – é rebatida pelo reconhecimento da construtividade e materialidade dos próprios objetos.

 

A desconstrução, de acordo com Melville, “surge como um certo compromisso com o fluxo e fluidez… ela divaga, circula, conecta, e desconecta.”6 Essa frase oferece uma descrição apropriada para a forma como Planets opera. Curitiba Planet é incapaz de realizar um círculo completo em torno de si mesma, deixando um espaço aberto que lembra a moldura quebrada no Ovo Linear de Lygia Clark (1958). Considerando que, na obra de Clark, a abertura sinalizava o espaço real derramando para dentro, na de Blasco o efeito é romper com a ilusão do “real” fotográfico. Em vez de unir os edifícios e de uma falsa coerência, nos deparamos com o suporte de madeira. Esta obra também desiste da pretensão do ilusionismo, ao apresentar vários blocos nas cores magenta, azul turquesa, e amarelo, colocados em intervalos aleatórios. Estes fazem lembrar o legado do Neoconcretismo na arte brasileira, gerando uma distinção instigante entre abstração e representação. New York Planet apresenta uma cidade amada e muito fotografada, bem como o lugar de residência do artista por mais de duas décadas. As impressionantes paredes de vidro dos arranha-céus próximos (o ponto de vista é o deck de observação do Rockefeller Center) contrastam com a base de madeira compensada assimétrica visível no centro e nas margens. O céu incrivelmente azul é pontuado por fantásticos desenhinhos, como que uma pixação aérea. Mudando constantemente nossa percepção entre a fotografia e seu suporte, entre arquitetura e arte, a série Planets de Blasco, tal como acontece com o resto de sua obra, envolve seus espectadores tanto esteticamente quanto conceitualmente. Através de meios visuais e espaciais, o artista consegue mudar a prática primariamente textual da desconstrução em direção à compreensão das imagens do mundo e sobre o mundo.

 

 

Sobre Tatiana Flores

 

Tatiana Flores é professora adjunta de História da Arte na Rutgers, Universidade Estadual de New Jersey. Uma especialista em arte moderna e contemporânea, ela publicou uma obra considerável sobre arte latino-americana e também opera como uma curadora independente. Ela é a autora de Vanguardas Revolucionárias do México: Do Estridentismo até ¡30-30! (Yale University Press, 2013)

 

 

Até 31 de maio.

Luiz Braga no Sesc Pinheiros

Chama-se “Retumbante Natureza Humanizada” o recorte inédito na obra do paraense Luiz Braga, a partir de uma pesquisa coordenada pelo curador da exposição, Diógenes Moura, iniciada em 2009. Com trabalhos realizados entre 1976 e 2014, o conjunto de 160 fotografias privilegia grande parte da produção (inédita) do artista realizada em preto e branco. Encerra o percurso da exposição, o vídeo igualmente inédito filmado em Belém e na Ilha de Marajó, “O sem nome e o nada” (2014, 30’), inspirado na obra do fotógrafo, idealizado pelo curador e realizado pelo coletivo paraense “Cêsbixo”.

 

A mostra, que entrará em cartaz no Sesc/Pinheiros, São Paulo, SP, reúne imagens concebidas em Belém e na Ilha de Marajó – Soure, Cachoeira do Arari, Salvaterra, Quilombo do Pau Furado -, territórios onde o fotógrafo vem trabalhando mais constantemente, um pouco afastado de sua Belém pela violência que ronda as capitais brasileiras. “Mas eu quero tratar da alegria e do afeto que resistem em lugares como a Ilha de Marajó que, sem dúvida, é a minha paixão ancestral”, diz o artista.

 

O curador destaca como na obra de Luiz Braga se entrelaçam os contrastes entre a paisagem humana e a paisagem da arquitetura. Segundo ele, nas fotografias da Ilha de Marajó se nota o semblante dos filhos do lugar, cada um deles pode ser homem, mulher, criança, tronco de árvore, ventania, paisagem avassaladora. “O Marajó profundo, o lugar onde as árvores falam, onde famílias inteiras descansam nas cadeiras e até em pequenos sofás, nas portas das casas, diante do luar, como se estivessem no cinema vendo a vida passar em technicolor”, completa Moura.

 

Braga diz que seguiu a sua intuição e se manteve onde nasceu. Talvez por isso, em sua obra, ressalta o curador, o tempo chega largo, vasto, sem pressa, vem com o ritmo das águas, já que o artista foi criado conhecendo apenas duas estações: chuva (o inverno amazônico) e menos chuva e mais sol (o verão); maré seca, maré cheia. “Depois de muito refletir sobre o que fazia, notei que voltava naturalmente aos mesmos lugares e temas, mas que a cada retorno minha fotografia poderia se expandir e se aprofundar, mantendo acesa a inquietude que alimenta a experimentação de novas técnicas e maneiras de fotografar”, diz o artista. “Num caso raríssimo, a fotografia de Braga é o resultado dos seus dias, uma reinvenção do que está (e persiste) ao seu redor, como a sua própria natureza, a natureza do homem amazônico sofisticadamente infindável”, complementa Diógenes Moura.

 

 

 

Sobre o artista

 

Luiz Braga nasceu em 1956, em Belém (Pará), onde vive e trabalha. O seu primeiro contato com a fotografia foi aos 11 anos. Em 1975, montou seu primeiro estúdio para trabalhar com retratos, ao mesmo tempo em que ingressava na Faculdade de Arquitetura, onde se graduou em 1983, embora nunca tenha trabalhado como arquiteto. Até 1981, fotografava principalmente em preto e branco. Suas primeiras exposições (1979 e 1980) eram compostas de cenas de dança, nus, arquitetura e retratos. Após essa fase, descobriu as cores vibrantes da visualidade popular amazônica e, convidado pela Funarte, viajou pela região aprofundando o ensaio que seria exibido sob o título No Olho da Rua (Centro Cultural São Paulo, 1984), considerado o primeiro passo de seu amadurecimento autoral. Em A Margem do Olhar (1985 a 1987) retorna ao preto e branco dos primeiros tempos, retratando com dignidade o caboclo amazônico em seu ambiente. Exibido nacionalmente em 1988, esse ensaio rendeu-lhe o Prêmio Marc Ferrez conferido pelo Instituto Nacional da Fotografia. O encantamento pela cor da sua região e as possibilidades pictóricas extraídas do confronto entre a luz natural e as múltiplas fontes de luz dos barcos, parques e bares populares resultam no ensaio Anos Luz, premiado em 1991 com o “Leopold Godowsky Color Photography Awards” da Boston University e exibido no Museu de Arte de São Paulo (Masp) em 1992. Uma de suas características é o enfoque, que passa ao largo das visões estereotipadas e superficiais sobre a Amazônia. A outra é o domínio da cor, com a qual passou a ser referência na fotografia brasileira contemporânea.

 

Realizou mais de 150 exposições entre individuais e coletivas no Brasil e no exterior, e suas fotografias compõem coleções públicas e privadas importantes, como a do Museu de Arte Moderna (MAM) de São Paulo, do Centro Português de Fotografia, do Museu de Arte Moderna (MAM) do Rio de Janeiro e da Pinacoteca do Estado de São Paulo, entre outras. Em 2005, comemorou 30 anos de carreira abordando os diversos segmentos de sua obra na mostra Retratos Amazônicos, no MAM/SP, e na exposição Arraial da Luz, a maior de sua carreira, montada ao ar livre num parque de diversões em sua cidade natal, a qual recebeu mais de 35 mil visitantes. Em 2009, foi um dos representantes do Brasil na 53ª Bienal de Veneza.

 

 

 

Sobre o curador

 

Diógenes Moura nasceu na Rua do Lima, em Recife, Pernambuco. Passou a infância entre os quintais, os pés de abiu e a linha do trem no arrabalde de Tejipió. Depois viveu 17 anos em Salvador, na Bahia, no bairro negro da Liberdade, quando a cidade ainda não havia perdido a memória. Vive em São Paulo desde 1989. É escritor, curador de fotografia e editor independente. Entre 1998 e maio de 2013 foi Curador de Fotografia da Pinacoteca do Estado de São Paulo onde realizou exposições e reflexões sobre o pensamento fotográfico e possibilitou o reconhecimento do acervo do museu – hoje com cerca de setecentas imagens de fotógrafos brasileiros – como um dos mais importantes da América Latina. Premiado no Brasil e no exterior, só entende fotografia vendo-a como literatura. Em 2009 foi eleito o Melhor Curador de Fotografia do Brasil pelo Sixpix/Fotosite. No ano seguinte recebeu o prêmio APCA (Associação Paulista de Críticos de Artes) de melhor livro de contos/crônicas com Ficção Interrompida – Uma Caixa de Curtas (Ateliê Editorial). Com o mesmo título foi finalista do Prêmio Jabuti de Literatura 2011. Acaba de finalizar seu novo livro, Fulana Despedaçou o Verso (Ed.TerraVirgem). Mesmo sem ter nenhuma expectativa em relação ao futuro da humanidade, atualmente trabalha na sua primeira novela, A Placa Mãe.

 

 

 

 

Sobre a equipe Cêsbixo Coletivo

 

 

Cêsbixo Coletivo é um grupo formado em 2010 por Pedro Rodrigues, Bruno Leite, Carol Lisboa e Marise Maués, todos atuantes no âmbito artístico, seja fotografia, vídeo, desenho ou design gráfico. O coletivo tem como objetivo integrar as suas áreas de interesse em busca de um produto que converse com as diferentes formas de linguagem visual. Dedica-se a produzir conteúdo multimídia e atua na cidade de Belém.

 

 

 

De 27 de maio a 03 de agosto.

 

Vik Muniz no Santander Cultural

19/mai

Um dos artistas brasileiros de maior destaque no mercado e nos museus internacionais, Vik Muniz apresenta pela primeira vez em Porto Alegre, RS, no Santander Cultural, Centro Histórico, exposição individual, destacando colagens e fotografias. Também será exibido o documentário “Lixo Extraordinário”, que concorreu ao Oscar em sua categoria em 2011 e acompanha o trabalho que o artista realizou com catadores de lixo reciclável no maior aterro da América Latina, em Jardim Gramacho, no Rio. A curadoria é de Lígia Canongia.

 

A obra de Vik Muniz questiona e tensiona os limites da representação. Apropriando-se de matérias-primas como algodão, açúcar, chocolate, e até lixo, o artista meticulosamente compõe imagens icônicas e lhes repropõe significações. O objeto final de sua produção mais conhecida atualmente é a fotografia, mas sua obra já transitou pelo tridimensional, pelo desenho e até pela escultura.

 

 

A partir de 20 de maio.

ARTEFUTEBOLARTE

13/mai

Uma viagem pela história do futebol é a proposta da exposição “ARTEFUTEBOLARTE”, que o Instituto Tomie Ohtake, Pinheiros, São Paulo, SP, apresenta no período quase concomitante ao que o Brasil abriga o rito supremo desse esporte, a Copa do Mundo. Com curadoria de Hélio Campos Mello, fotógrafo e diretor editorial da Brasileiros Editora, a mostra exalta o nosso país como o inventor do “Futebol Arte”, a qualidade da produção fotográfica dedicada ao esporte e traça um paralelo, histórico e contemporâneo, com as artes plásticas.

 

Com expografia assinada por Martin Corullon, da Metro Arquitetos, “Artefutebolarte” dividi-se em três núcleos. No primeiro, que ocupa o grande hall do Instituto, criou-se um espaço retangular que remete a arquibancadas de estádio, onde são apresentadas obras dos premiados fotógrafos Jorge Araújo (Folha de S. Paulo), Ricardo Stuckert e Paulo Pinto (Agência Fotos Públicas). A excelência dos trabalhos, que revelam momentos em campo de jogadores como Neymar, Ronaldo e Ronaldinho, deixa claro que além de craques da bola, o Brasil também é celeiro de grandes fotógrafos.

 

O segundo núcleo trata da relação entre a arte e o futebol no Brasil. Uma seleção de fotografias – que mostra desde os primórdios do futebol no final do século XIX até os dias de hoje – é intercalada por imagens de obras de arte correspondentes aos períodos ilustrados pelos feitos do esporte. Pinturas de Almeida Junior, Tarsila do Amaral, Alfredo Volpi, Rubens Gerchman, Aguillar, Cildo Meirelles e expoentes do cenário artístico atual são exibidas  ao lado de fotografias de Pelé, Garrincha, Tostão, Zico, Romário, Ronaldo, entre outros, com destaque para os anos de 1958, 62, 70, 94 e 2002.

 

Para completar a exposição, uma sala recebe obras do artista plástico Lula Wanderley, em uma espécie de reinvenção do futebol. Jogadas antológicas de Maradona, Pelé, Zidane e Romário são retrabalhadas em três vídeos que registram estes ícones em seus momentos sublimes, mas sem a bola – retirada pela arte de Wanderley.

 

 

De 15 a 25 de junho.

Olhar das mulheres

O Centro Cultural São Paulo, Paraíso, São Paulo, SP, abre a exposição “As Donas da Bola”, com curadoria de Diógenes Moura, reunindo 11 dos mais representativos nomes da fotografia brasileira: Ana Araújo, Ana Carolina Fernandes, Bel Pedrosa, Eliária Andrade, Evelyn Ruman, Luciana Whitaker, Luludi Melo, Marcia Zoet, Marlene Bergamo, Mônica Zarattini e Nair Benedicto. A exposição tem um conjunto com 121 imagens, cor/preto e branco, as quais retratam a presença da mulher e suas relações com a cultura do futebol, esporte tão característico do universo masculino.

 

“As Donas da Bola” reúne fotógrafas profissionais com grande experiência no fotojornalismo, seja em trabalhos autorais ou em ensaios, e mostra o lado delas acerca desta tradição, por meio de um modo de ver especial, sensível, de um ponto de vista interior – sem a pretensão de considerá-lo material de consumo. “Essa iniciativa pretende preencher uma lacuna importante ao aplicar a percepção e a consciência social sobre a importância da mulher no futebol enquanto esporte, dentro de uma cultura nacional ainda em formação.”, comenta Diógenes Moura.

 

Neste sentido, o material produzido e apresentado nesta mostra resulta em um documento fundamental para o entendimento e a compreensão da fotografia, a partir de um olhar feminino sobre o maior fenômeno cultural do Brasil.

 

 

De 17 de maio a 13 de julho.