IWAJLA KLINKE EM SÃO PAULO

14/fev

Coerente em sua proposta de apostar em projetos de artistas residentes, que desafiam pelas temáticas e limites da representação, além de iluminar a questão do gênero, o Transarte, São Paulo, SP, realiza sua segunda exposição com obras de Iwajla Klinke.

 

A artista alemã, que nasceu em 1976 e mora em Berlim, reúne nesta mostra alguns trabalhos de suas expedições pela Europa, Canadá e Brasil realizados em 2013. O núcleo brasileiro – inédito – apresenta séries de retratos e composições de elementos da natureza que a surpreenderam. Usando a fotografia pura, sem luz artificial e sem manipulação digital, ela evidencia a sua lente Cult. “Iwajla negocia, com o delírio e a fantasia, sua maneira realista e despudorada de transgredir”, afirma Maria Helena Peres, idealizadora e diretora do espaço Transarte.

 

Sua obra, tão particular quanto a sua figura, já que Klinke é andrógina, estabelece relações do humano e da natureza com o sagrado. Sua forma de retratar pessoas, como a realizada no Brasil, conforme escreve Jorge Colli, “faz com que as imagens cheguem ate nós como vindas de um sonho embebido em espiritualidade”. Já nas chamadas “naturezas mortas” que produziu também por aqui, ela lança mão de pedaços de frutos, alimentos e plantas ao redor, para ali mesmo retirar toda a exuberância destas formas orgânicas que a provocaram. “Elas se organizam como as de Eckhout, um Eckhout convertido, católico, e tomado pela mística de Zurbarán”, escreve o crítico.

 

Com fundo neutro, preto ou marron, Klinke usa luz natural para criar efeito sépia remetendo a uma pintura de Vermeer, conforme ressaltou o crítico e colaborador da Art News e do Wall Street International, David Galloway, sobre a mostra da artista em cartaz até março, na galeria Voss, em Dusseldorf. “O que também parece irradiar em suas sobras é uma luz interior, espécie de epifania profundamente enraizada nos rituais cujas origens podem ter sido esquecidas, mas cuja energia espiritual persiste”, destaca Galloway.

 

Sobre a artista

 

Fotógrafa e cineasta baseada em Berlin, Iwajla Klinke estudou Ciência Política, Estudos Judaicos e Estudos Islâmicos na Universidade Livre de Berlim e trabalhou como jornalista durante muitos anos antes de dirigir seu primeiro filme, “Moskobiye”, em 2004. Seu segundo filme, “The Raging Grannies Anti Occupation Club” (o clube anti-ocupação das vovós enfurecidas), foi lançado para aclamação da crítica em 2007. Com obras no acervo da Saatchi Gallery, em Londres, Klinke, graças a seu interesse pela internet, tem um grande número de seguidores em suas redes sociais.

 

 

De 20 de fevereiro a 11 de junho.

Luigi Ghirri no IMS-Rio

06/fev

O Instituto Moreira Salles, Gávea, Rio de Janeiro, RJ, exibe – após temporada em São Paulo -, a primeira grande retrospectiva do fotógrafo italiano Luigi Ghirri. Dono de uma vasta produção e de um talento incomum para explorar a linguagem fotográfica, Ghirri foi uma figura fundamental da cena artística italiana, mas apenas depois de sua morte começou a ser redescoberto e consagrado no mundo todo. Essa nova fase da exposição ganha quase 100 novas obras e documentos do artista e sua passagem por São Paulo a colocou entre as cinco exposições mais bem avaliadas de 2013 da Veja São Paulo e mereceu a terceira colocação de melhor exposição do ano segundo o jornalista Silas Martí.

 

A exposição “Luigi Ghirri. Pensar por imagens. Ícones, Paisagens, Arquitetura” é uma das maiores exposições já realizadas sobre o fotógrafo e foi organizada segundo três caminhos centrais ao seu universo: a investigação dos ícones visuais que povoam o mundo contemporâneo; uma releitura da paisagem italiana, baseada num profundo conhecimento da história da arte; e uma indagação sobre os modos de viver, habitar e perceber o espaço.

 
A exposição apresenta quase 300 fotografias, a maior parte delas cópias de época, além de provas de impressão, livros de artista e outros objetos que ajudarão entender a carreira fascinante do fotógrafo que foi também editor, curador e um grande pensador da fotografia.

 

Ghirri contribuiu, na década de 1970, para que a fotografia ganhasse importância artística na Itália. À tradição pictórica de seu país, uniu a sedução da fotografia colorida e da fotografia amadora. Neste ano, quando assumiu o cargo de curador-chefe de fotografia do MoMA, o francês Quentin Bajac declarou que Ghirri é o exemplo de gênio subestimado pelo museu, que recentemente o incorporou à sua coleção.

 

O trabalho de Ghirri se debruça sobre fontes variadas: as montagens espontâneas, os achados do cotidiano, as paisagens sublimes e também as mais banais, a arquitetura autoral e a anônima. Para Ghirri, o mundo é um espetáculo que o fotógrafo deve decifrar, interpretar e traduzir. Com influências tão distintas como o neorrealismo italiano, os pintores renascentistas, a fotografia americana e Bob Dylan, Ghirri reinventou os modos de olhar e expandiu os limites do fazer fotográfico. “Suas fotos impressionam por mostrar objetos cotidianos como se estivessem sendo vistos pela primeira vez ou paisagens banais como se fossem lugares oníricos, onde temos vontade de viver”, afirma a pesquisadora Marina Spunta em matéria publicada na revista ZUM #3.

 

O catálogo que acompanhará a exposição traz um longo portfólio de imagens, textos do próprio Ghirri, que era um escritor perspicaz, além de ensaios críticos dos curadores Francesca Fabiani, Laura Gasparini e Giuliano Sergio, e de Quentin Bajac (MoMA), do fotógrafo alemão Thomas Demand, de Bice Curiger (que apresentou Ghirri na Bienal de Veneza de que foi curadora), de Lorenzo Mammì e de Larissa Dryansky.

 

 
Sobre o artista

 

Luigi Ghirri nasceu em Scandiano, Reggio Emilia, no norte da Itália, em 1943. Começou a vida como topógrafo e designer gráfico, antes de se tornar fotógrafo no início dos anos 1970. Mais para fins da década, começou a ser conhecido no exterior: em 1979, foi convidado a expor na Light Gallery, em Nova York; em 1980, foi chamado para trabalhar no estúdio da Polaroid de Amsterdã; já em 1982, foi eleito um dos maiores fotógrafos do mundo na feira Photokina. Em alguns projetos, Ghirri colaborou com escritores como Geoff Dyer e o arquiteto Aldo Rossi. Morreu em 1992.

 

“Cada uma das fotografias do livro de Ghirri, explícitas e infinitamente misteriosas, não contém quase nenhum incentivo para avançarmos, para virarmos a página e ver a foto seguinte. Satisfazemo-nos com olhar e esperar, observar”. Geoff Dyer, ensaísta britânico e colunista do site da ZUM, sobre Kodachrome.

 

“Ghirri não se pauta pela poética do momento decisivo, pelo esforço de resumir no instante o significado inteiro de uma ação. É fotógrafo dos tempos longos, das permanências.” Lorenzo Mammi, crítico de arte.
“Ghirri fez muita coisa que eu não faço, e que provavelmente não farei – mas, sem dúvida, estou feliz que ele tenha feito.” William Eggleston, fotógrafo americano.

 

“No trabalho de Ghirri sempre há uma surpresa. As fotografias das maçãs na máquina de venda automática (Lucerna, 1971), por exemplo: é uma coisa tão comum, mas é também uma sensação e tanto. Transformar as coisas mais normais em sensações, e fazer isso repetidamente, é grande arte.” Thomas Demand, importante fotógrafo contemporâneo, sobre a obra do Ghirri.

 

A exposição “Luigi Ghirri. Pensar por imagens. Ícones, Paisagens, Arquitetura” é promovida por MAXXI Museo nazionale delle arti del XXI secolo, pela municipalidade de Reggio Emilia e pela região de Emilia Romagna, e tem curadoria de Francesca Fabiani, Laura Gasparini e Giuliano Sergio.

 

 

De 06 de fevereiro a 13 de abril.

RAQUEL ARNAUD APRESENTA DANIEL FEINGOLD

30/jan

Em 2014, quando Raquel Arnaud, Vila Fidalga, São Paulo, SP, completa 40 anos de dedicação à arte contemporânea, sua galeria inicia as atividades com uma exposição de telas e fotografias de Daniel Feingold. O conjunto de obras estabelece narrativas entre o espaço e seus desdobramentos, planos cromáticos e suas dobraduras, e revela uma longeva ambição por transcendência – o fundamento da poética do artista. Com curadoria do crítico norte-americano Robert C. Morgan, serão apresentadas oito telas e aproximadamente 30 fotografias.

 

O térreo da galeria foi dividido em dois ambientes, cada um recebendo uma família distinta de pinturas. O primeiro ambiente reúne duas pinturas monocromáticas preto sobre branco, também dípticos, intituladas “Yahweh”, Deus Judaico. De acordo com Robert C. Morgan, a escolha do “Deus Judaico” como título da série sugere mais do que um processo estritamente formal e a maneira com que a tinta escorrida (esmalte sintético), forma uma sorte de escrito religioso não é insignificante. “Ao contrário, é a própria essência que o artista está se esforçando para obter, como se a imprevisibilidade relativa da ação da tinta fosse parte de um plano aleatório, um universo construído sobre o impulso criativo, sugerindo uma espécie de espelho ou reflexão sobre o significado do ato criativo”, completa o curador.

 

No segundo ambiente estão os dípticos “Estrutura” e “Sócrates na Alice”. “São faixas formadas com tinta derramada (esmalte sintético), que não se movem em uma única direção e se cruzam com o uso de cores (principalmente primárias) de maneira altamente controlada, sugerindo uma versão mais comprimida de Mondrian”, afirma o curador.

 

Já as cerca de 30 fotografias apresentadas no primeiro piso são parte da série  “Homenagem ao Retângulo,” em paráfrase ao quadrado homenageado por Joseph Albers. Todas são abstrações geométricas em preto e branco, criadas a da topiária das árvores do “Jardin des Plantes”, em Paris. As imagens de Feingold são caligráficas, conectando-as ao grupo de telas e a maneira do artista de lidar com a fotografia. Para Feingold, a fotografia é simplesmente outra ferramenta por meio da qual se pode descobrir a pintura. “Tanto na pintura quanto na fotografia, o trabalho de Feingold sempre foi caligráfico no sentido dos escritos (religiosos). Sua obra é uma busca persistente pela ordem sistêmica. É um tipo de escrita pictórica, uma condensação de palavras que invocam a sua consciência como pintor”, reflete Morgan.

 

 

Sobre o artista

 

Formou-se em Arquitetura na FAUSS, RJ 1983. Estudou: História da Arte e Filosofia com o crítico Ronaldo Brito, UFRJ 1988-1992; Teoria da Arte & Pintura e Núcleo de Aprofundamento, EAV Parque Lage, RJ 1988-1991; Mestrado no Pratt Institute, NY 1993. Principais exposições individuais: Galeria Mercedes Viegas, RJ 1997; “Espaço Empenado,” Paço Imperial, RJ 2001; “Amigos da Gravura,” Fundação Castro Maia, RJ 2001; Galeria Candido Portinari, UERJ, RJ 2002; “Pintura,” Centro Universitário Maria Antonia, SP 2003; Galeria Marília Razuk, SP 1996, 1999; Galeria Raquel Arnaud, SP 1996, 1999, 2002, 2006, 2014; Atelier Sidnei Tendler, Bruxelas 2011; “Acaso Controlado,” MAM RIO, RJ 2013; “Pintura em Fluxo,” Múltiplo Espaço Arte, RJ 2013.  Principais exposições coletivas: CCSP, SP 1991; “Gravidade e Aparência,” MNBA, RJ 1993; “Coleção Chateaubriand, O Moderno e Contemporâneo na Arte Brasileira,” MASP, SP 1998; “Crossing Lines,” Art in General, NY 1998; “Artists in the Marketplace,” Bronx Museum, NY 1998; “O Beijo,” Paço Imperial, RJ 1998; “Gestural Drawings,” Neuhoff Gallery, NY 2000; 5ª Bienal do Mercosul, RS 2005; “Chroma,” MAM RIO, RJ 2005; “Itaú Contemporâneo Arte no Brasil 1981-2006,” SP 2007; “Minus Space at PS1 Contemporary Art Center,” NY 2008; “Escape From NY,” Minus Space curatorial, Sidney/Aus 2007, Melbourne/Aus 2009, Wellington/NZ 2010; “The Machine Eats,” Frederico Sève Gallery, NY 2010; “Arte Brasileira e Depois na Coleção Itaú,” Paço Imperial, RJ 2011; “Cinéticos e Construtivos,” Galeria Carbono, SP 2013. A Galeria Raquel Arnaud representa Feingold desde 1993.

 

 

 De 30 de janeiro a 08 de março.

LiliRoze na Lume

A Galeria Lume, Itaim Bibi, São Paulo, SP, abre a exposição “Acervo: LiliRoze”, da fotógrafa franco-suíça LiliRoze, com curadoria de Paulo Kassab Jr. Composta por 10 obras da coleção pessoal do curador, são exibidas fotografias das séries “Eden”, “Colors” e “Vanité”, nas quais a artista expressa suas fantasias em ensaios que retratam o sentimento da mulher em harmonia com a vulnerabilidade e delicadeza das flores. A abertura da mostra contará também com uma performance de dança da bailarina Marina Droghetti.

 

Em “Eden”, verifica-se um ambiente de certa forma “frio”, no que se refere à temperatura de cor, onde LiliRoze fotografa o corpo de uma mulher nua, interagindo com plantas verdes, cena que remete ao título da série. Já na série “Colors”, distante da fotografia realista e no limiar da pintura, a fotógrafa revela a memória de uma sensação, dando a impressão de entrar na intimidade de seus modelos. Contornos imprecisos vistos como reminiscências de um sonho. Tudo se concentra em um segundo de abandono onde a graça e a intimidade se misturam em um gesto suspenso no tempo. Por sua vez, “Vanité” é um estudo sobre a natureza morta que exibe a fragilidade e o efêmero da existência.

 

Usando uma câmera de grande formato e filmes de Polaroid, o trabalho de LiliRoze é imbuído de intimidade, tendo como fonte de inspiração o desnudamento, a ideia da fragilidade e do abandono. Com pouca luz, filmes de baixa sensibilidade e longos períodos de exposição, sua obra se aproxima mais do imaginar do que da realidade, trazendo um leve desfoque e nuances que traduzem a imaginação da artista.

 

Paolo Roversi, Sarah Moon, Joel-Peter Witkins, Duane Michals são algumas das inspirações de LiliRoze para fazer suas imagens impressionistas, como ela mesma define. “Nunca expresso uma representação do real e sim algo próximo do imaginário, em que as cores e as formas contam uma história original”, afirma. Para Lili, a fotografia é uma realidade, porém uma realidade que provém das visões do fotógrafo. E as visões trazem consigo nossas fantasias, intimidades, loucuras, e outras pequenas coisas sem procedência.

 

 

De 30 de janeiro  a 20 de fevereiro.

DUAS VISÕES

Com exposições simultâneas no Centro de Arte Hélio Oiticica, Rio de Janeiro, RJ, os artistas  Armando Queiroz, inspirado em Serra Pelada, e Alessandra Bergamaschi, sob o fascínio do Morro da Viúva, apresentam trabalhos que transitam entre a transformação de espaços naturais, destruição e beleza.

 

De um lado, o olhar retrospectivo sobre o estrago ecossocial operado em Serra Pelada pela exploração desordenada do ouro, nos anos 1970; de outro, a visitação consentida de um espaço emparedado pelas transformações urbanas no Rio de Janeiro. Duas histórias distintas, aproximadas pela poética e pelos suportes da fotografia e do vídeo. Dois olhares argutos a contar histórias que não se parecem, mas se irmanam. Assim são as exposições “Visitas”, de Alessandra Bergamaschi, e “Midas”, de Armando Queiroz.

 

 

A natureza oculta pelo concreto

 

Os mistérios de um espaço natural encoberto – o Morro da Viúva, de quem todo mundo ouviu falar, mas que ninguém vê – motivaram Alessandra Bergamaschi a criar o projeto “Visitas”, quando foi morar naquela área, em 2008. O morro acabou escondido pelas construções feitas no seu entorno, de cujas janelas é possível divisar paisagens impensáveis: floresta densa no topo, rasteira nas bordas, voo de falcões e até visitas de respeitáveis corujas.

 

Alessandra teve a ideia de enviar uma carta aos moradores dos prédios que circundam o morro, pedindo para marcar uma visita e fotografar a grande montanha de pedra de suas janelas. Com a aquiescência e a colaboração dos quinze destinatários que responderam, a artista fez as fotos em preto e branco com máquina analógica e realizou reproduções com superposição de imagens, seguindo um exercício matemático que lhe permitia registrar pequenas, porém significativas transformações – e gerar, com isso, imagens que, na realidade, são “visões” que interpretam o real.  Os negativos também foram usados para produzir dois vídeos que dão ritmo às várias visões do espaço (quase) secreto, mas num processo inverso: enquanto as ampliações analógicas refletem tempos de espera em que os elementos reagem, os negativos – traduzidos em píxeis – são cirurgicamente recortados e manipulados em tempo real criando uma nova dinâmica de visibilidade.

 

De quebra, a partir de uma pergunta (Pode me descrever a visão da janela que fotografei?), Alessandra colecionou ricos depoimentos dos moradores visitados, que compartilharam com ela suas fantasias e afetos pelo encantado lugar que avistam todos os dias, como o de Gianluca Manzi:

 

“O magnífico exemplar de falcão carijó que vejo frequentemente das minhas janelas, diversamente de nós, prefere vigiar quase que exclusivamente o seu território, chamando de tanto em tanto a companheira, escondida sob as copas na mata ou protegendo-a, enquanto choca, entre as folhas secas sobre a rocha […]. Vigio-os com meus binóculos do mesmo modo que acompanho o crescimento das sarças, dos cactus e até mesmo das árvores na íngreme parede rochosa que dir-se-ia esboçada e cinzelada por um mestre impaciente.”

 

Na exposição, Alessandra apresenta onze reproduções fotográficas e dois vídeos digitais, realizados a partir dos registros feitos das janelas dos apartamentos visitados.

 

 

Armando Queiroz e o triste caminho do ouro

 

Miséria, hanseníase e abandono espreitam Serra Pelada quase trinta anos depois do início da ‘febre do ouro’. Restaram casebres abandonados, pessoas perambulando, quais mortos-vivos, numa cidade fantasma ao redor de um grande lago contaminado de mercúrio, o oco. Restaram velhos aposentados, mulheres e a prostituição infantil. O índice de HIV é altíssimo. O gigante ameaçador, percebido no clima tenso do local, está presente a todo o momento. O gigante quer terra, o gigante quer expulsão, o gigante tem papéis e advogados, o gigante tem anuência do poder constituído. (Armando Queiroz)

 

Nas telas das tevês no meio da desolação, o artista expõe, em fotos e vídeos, as vísceras de Serra Pelada e as pegadas de seus solitários e tristes habitantes na trilha da miséria e da degradação social – sempre assombrados pelo perigo de serem desalojados do pouco que ainda lhes resta.

 

– O garimpeiro tem apenas uma amarfanhada carteirinha de autorização para exploração de minério, e muita tristeza da sua atual situação – conta o artista. – O garimpeiro tem ao lado de si muitas cooperativas, nem todas bem intencionadas. Muitos não deixam o local simplesmente por vergonha; não teriam condição de encarar seus familiares tantos anos depois, sem nada nas mãos.

 

Para Armando, registrar em fotografia e vídeo essa chaga social brasileira é “uma ode aos primeiros vermes-insetos que irão comer nossas carnes frias”.

 

As fotos e vídeos serão exibidos em 15 televisores e DVDs interligados, fora de sincronia, de modo a ampliar a intensidade das cenas e criar uma sensação que reflita o drama real do esquecido lugar.

 

 

Os artistas

 

Alessandra Bergamaschi, nasceu em Lorena, SP, 1978.  Artista visual, graduada em Comunicação pela Universitá di Bologna, Itália, e pós-graduada em Escritura Criativa pela Accademia di Comunicazione, Milão, Itália. Estudos em fotografia e arte incluem cursos livres na Accademia di Belle Arti, Bologna, na Escola de Artes Visuais Parque Lage e no grupo de estudo do Prof. Charles Watson, Rio de Janeiro. Participou de projetos internacionais, Arte Laguna International Art Prize, Arsenal, Tesedi San Cristoforo/Veneza, residência no Teatro Monty/Antuérpia e coletiva Art Transponder Gallery/Berlim.  Em 2011 ganha menção honrosa no festival de documentários “É tudo verdade”. Vive e trabalha no Rio de Janeiro.

 

Armando Queiroz, nasceu em Belém, Pará, 1968. Expõe desde 1993 e participou de diversas mostras coletivas e individuais no Brasil e no exterior. Integrou, dentre outros, os projetos Macunaíma, Rio de Janeiro, 1997 e Prima Obra, Brasília, 2000. Participou do Salão Arte Pará como artista convidado em 1998 e de 2005 a 2008. Foi bolsista do Instituto de Artes do Pará, IAP, em 2003 e 2008. Conquistou bolsa de pesquisa em arte do Prêmio CNI/SESI Marcantonio Vilaça, 2009-2010 e o 2o Grande Prêmio do 28o Arte Pará 2009, com o site-specific “Tempo Cabano”. No ano seguinte, como homenageado, recebeu Sala Especial no 29o Arte Pará. Coletivas internacionais: Festival de L’oh, Maison-Alfort, Paris, França. 2003; coletiva em Wiesbaden, Alemanha, 2005, promovida pela Kunsthaus da cidade e pela Associação de Artistas Plásticos do Pará/AAPP. Vive e trabalha em Belém.

 

 

De 04 de fevereiro a 06 de abril.

 

Fachadas cariocas

28/jan

O Centro Cultural Correios, Centro, Rio de Janeiro, RJ,  inaugura “O Rio que o Rio não vê — a ornamentação simbólica na fachada carioca”, uma exposição de 36 fotos, assinadas pelo fotógrafo, designer gráfico e historiador Luiz Eugênio Teixeira Leite. Trata-seda exibição de ornamentos simbólicos das fachadas de construções civis – instituições públicas e privadas do centro do Rio, área escolhida por ser a interseção arquitetônica de uma cidade que dali se expandiu. Nas legendas, haverá minifotografias da fachada inteira, para que o visitante se familiarize com o imóvel no qual está inserido o ornamento e possa visitá-lo e apreciar ao vivo o detalhe que as fotografias da exposição destacam.

 

Desde 2000, Teixeira Leite realiza esta pesquisa iconográfica que chega hoje a 974 ornamentos mapeados, catalogados, minuciosamente descritos e com endereço, uso original, nome do projetista, data do projeto da fachada, uso atual, autor do ornamento, técnica e data da execução. A pesquisa resgata nomes de artistas e artesãos executantes dos ornamentos, bem como dos arquitetos e projetistas de fachada. A partir de 2013, o autor vem estendendo o levantamento a outros bairros cariocas, incluindo portas e gradis, além decoração escultórica dessas construções.

 

Luiz Eugênio reuniu parte desta pesquisa no livro ”O Rio que o Rio não vê – os símbolos e seus significados na arquitetura civil do centro da cidade do Rio de Janeiro”, lançado em 2012, e avaliado pela Associação Brasileira de Críticos de Arte (ABCA) como o primeiro livro de arte do gênero no país e indicado e indicado pelo IPHAN como representante fluminense ao XXVI Prêmio Rodrigo Mello Franco de Andrade, entre outras indicações para prêmios.

 

A mostra é acompanhada de catálogo com reprodução de todas as fotos expostas e texto de Joaquim Marçal Ferreira de Andrade, mestre em design pela PUC Rio, doutorando em história social na UFRJ e autor de História da fotorreportagem no Brasil: a fotografia na imprensa do Rio de Janeiro de 1839 a 1900 (Campus, 2003). O lançamento do catálogo acontece no dia 8 de março, com visita guiada à mostra por Luiz Eugênio Teixeira Leite, aberta ao público.

 

A palavra do fotógrafo e pesquisador

 

A decoração aplicada à arquitetura, isto é, a forma pela qual se idealiza um programa ornamental para a fachada de uma construção, já teve papel de destaque na História da Arquitetura. A partir de determinado momento entrou em declínio, chegando a ser tratada com repulsa. Disso resultou um quase total abandono pelo estudo das artes da ornamentação. O Ecletismo, estilo que mais se valeu da ornamentação para fundamentar seu discurso arquitetônico, acabou por herdar, por tabela, essa repulsa, e tem ficado, desde há muito, esquecido pela historiografia da arte nacional.

 

Até 16 de março.

Cildo, Restiffe e Warchavchic no Maria Antonia

20/dez

Funcionando regularmente desde 1999, o programa de exposições do Centro Universitário Maria Antonia da USP, Vila Buarque, São Paulo, SP,  orienta-se por um conceito abrangente de formação, tendo como diretriz geral reunir artistas de gerações diversas. Procura dar espaço às mais diferentes técnicas e poéticas, com especial atenção a propostas de reavaliação de artistas e movimentos atuais e do passado recente, além de mostras de design e arquitetura. No momento o Maria Antonia apresenta  três exposições com a assinatura dos curadores João Bandeira com a instalação “4/4” de Cildo Meireles;   José Tavares Correia de Lira com “Warchavchik – metrópole, arquitetura” e  Agnaldo Farias com “Interseção” de Mauro Restiffe.

 

 

A palavra dos curadores

 

Cildo Meireles – 4/4

 

Percebe-se um recinto por dentro. Não apenas a olho, não só porque nos rodeia. Por dentro também do nosso corpo. Sua existência se realiza na medida em que sentimos a nossa nele. Se for uma sala qualquer e que esteja, em princípio, vazia, não haverá muito mais a fazer. Sendo, no entanto, um espaço de exposições em que se espera encontrar arte, tudo pode mudar de figura. E se ali parece não haver de fato coisa alguma, é bem provável que nossa mente, na hora, relute.

 

Mas se ao nos movermos por esse espaço detectamos alterações meio estranhas, em nós mesmos como na sua arquitetura? Ainda que oco, o espaço agora é um lugar – revela qualidades mais específicas. Lugar inventado por Cildo Meireles, onde alguma coisa discretamente acontece, chama e recua. É difícil dar nome certo a isso que desde dentro, sem sair do aqui-agora, cede também no tempo (pouco a ver com o vácuo mítico de Yves Klein; quem sabe uma volta a mais no parafuso daqueles Cantos, do próprio Cildo), como um golpe por subtração, uma esquiva às palavras rodando na consciência.

 

Pouco vaza, em direção ao vértice de algum futuro, pelos quatro cantos dessa instalação, que se rebatem cruzados, costurando de modo inusitado piso e paredes, dentro e fora. E, paralelamente, não muito mais do que um sinal parece ser captado ali, vindo de mais longe, do mais básico que nos toca como instabilidade de todo abrigo. Num caso e no outro, tudo agora se adensa se lembrarmos que 4/4 está precisamente no mesmo local que desde a terceira década do séc. XX, guardada quase a mesma volumetria, foi parte de uma residência, de uma escola privada, de uma universidade pública, dependência de órgãos do Estado, incluindo escritórios de seu sistema prisional, no período da ditadura militar de 64, até ser devolvido à mesma universidade, expulsa dali naquele período. Que finalmente o destinou, passando por mais outros usos, a abrigar as exposições de artes do Centro Universitário Maria Antonia.

 

A Física moderna permite imaginar que a torções no espaço correspondem outras no tempo, variando vis-à-vis conforme a referência. Empregando livremente essa ideia, seria possível considerar, lado a lado, o projeto arquitetônico de restauro e reforma desenvolvido para essa instituição – que deixa à mostra partes antigas no que foi recém-construído e cria vazios (retirada de muros, extensão da calçada numa laje que, por sua vez, leva a uma praça aberta no miolo da quadra, ligando seus dois edifícios), no esforço de reavaliar na prática uma tradição de lugar público – e a instalação de Cildo Meireles, com sua intervenção radical no histórico do espaço expositivo, que mantém ainda em suspenso o desaparecimento da arte nos fluxos do mundo. (João Bandeira)

 

 

Gregori Warchavchik – Warchavchik – metrópole, arquitetura

 

Gregori Warchavchik transcende em muito a figuração genérica do pioneiro isolado que atravessou o século XX. Manifesta lugares chave da arquitetura entre os processos materiais da sociedade e os esquemas mentais associados às técnicas e programas modernos. Arte social, a mais material das artes, sempre produzida coletivamente e referida aos imperativos práticos, injunções da encomenda e do investimento e à recepção distraída das massas, a arquitetura em Warchavchik imbrica-se à experiência metropolitana.

 

Esta exposição pretende flagrar o arquiteto modernista na São Paulo de 1930 aos anos 1960, quando a cidade passa de um núcleo provinciano à metrópole nacional. Até então achatada e esparramada por colinas e várzeas da região, a cidade observou no período a canalização de rios e córregos, a proliferação de loteamentos, avenidas e arranha-céus, o aparecimento de novas formas de habitação, locomoção, espaços comuns, serviços e múltiplas dificuldades. Sob o influxo avassalador da urbanização, da especulação e da construção civil, os arquitetos transformariam tudo isso em matéria de projetos e planos. Conscientemente ou não, passaram a operar na produção da metrópole: de sua imaginação erudita à sua edificação e ecologia, esquadrinhando e modelando situações, reproduzindo divisões e conflitos reais e fomentando novos arranjos sociais.

 

Os projetos de Warchavchik aqui expostos remetem a posições relevantes quanto aos espaços de vida coletiva na metrópole em seus atributos fundamentais de eficiência e monumentalidade, complexidade e especialização, densidade e fluidez. Com eles, propõe-se repensar o papel representacional do desenho em transmutações de outra ordem que não exatamente sua tradução construtiva. Mas como forma de olhar oblíquo para o real, subterfúgio ativo em relação ao peso das soluções imediatas, investigação do mundo edificado, resposta a convenções espaciais, presença crítica e mesmo visionária na cidade. Todos eles integram um acervo precioso, conservado pela biblioteca da FAU-USP, que ilustra um conjunto variado de especulações em torno das alegorias e materiais arquitetônicos. Exibidos em meio a imagens retiradas ao cinema, à imprensa e à publicidade da época visa justamente potencializar os nexos da arquitetura com as impressões da grande cidade. Submetendo suas formas projetuais e estruturas edificadas ao fluxo de fragmentos e detalhes instantâneos, espera-se fazer ressoar os artefatos arquitetônicos na atmosfera das aparências e na vida dos objetos tangíveis a que, sólidos e duradouros, sorrateiramente, e cotidianamente, se reúnem. (José Tavares Correia de Lira)

 

 

Mauro Restiffe – Interseção

 

Já em sua primeira individual, em 2000, Mauro Restiffe sinalizou que pensaria a relação entre arquitetura e fotografia sob ângulos imprevistos. Não que suas fotos tivessem a arquitetura como tema exclusivo. O assunto preponderante era o lugar da fotografia, a plasticidade com que se aproxima e se afasta do mundo. Isso e mais sua problematização como produto do olhar, do fotógrafo e do visitante que, diante de suas fotos, percebe-se percebendo.

 

Desde o princípio, Restiffe resolveu demonstrar que a arquitetura podia converter-se em fotografia, além de lhe servir como tema privilegiado. Como? Na mostra de 12 anos atrás, ele, em lugar de simplesmente pendurar as fotografias, abriu “três janelas” na longa parede situada à esquerda da entrada da sala expositiva, revelando o muro alto e branco que separava, da casa do vizinho, o lote da casa onde funcionava a galeria, o corredor estreito onde jaziam, até então ocultos, despojos das tralhas típicas de montagens de exposições, e finalmente a vista parcial do tronco de uma árvore emparedada. Fechadas com vidro, as aberturas, por efeito de sua transparência e reflexividade, embaralhavam as imagens de dentro e fora.

 

A obsessão pela arquitetura volta nessa mostra de agora sob a forma de imagens extraídas de dois edifícios, a Casa Serralves, o belo exemplar de Art Déco português construída no Porto, de autoria de Charles Siclis e José Marques da Silva, e o Edifício Cícero Prado, obra do introdutor da arquitetura moderna no nosso país, Gregori Warchavchik.

 

A disposição das imagens na sala confirma a importância que Restiffe confere à relação entre fotografia e arquitetura. Na parede principal, sem portas ou janelas, “Vertigem”, a sucessão de imagens com o mesmo formato, todas reverberando os ritmos escandidos da Casa Serralves. Nas outras três paredes, coerente com as perturbações das aberturas, o jogo com tamanhos e ângulos propiciado pelas linhas de fuga verticais do Cícero Prado.

 

Se a arquitetura, como a música, destrava-se no tempo dispendido caminhando-se em seu interior, Restiffe adverte-nos que ela também acontece quando se olha para cima e para baixo; quando se mira torto; quando se mergulha no infinito inventado pelos ocos das escadas; quando se alça ao sublime do teto intangível. Suas fotos convertem arquiteturas em imagens e, impregnadas por elas e pelo espaço em que estão expostas, flexibilizam-se, ficam de frente, de lado, de cabeça para baixo; seus tamanhos expandem-se e contraem-se, com as maiores imantando à distância, com as menores trazendo para perto, convidando a escrutinizar seus detalhes. (Agnaldo Farias)

 

 

Até 23 de fevereiro de 2014.

Luzia Simons na Pinacoteca

18/dez

A Pinacoteca do Estado de São Paulo, Estação Luz, São Paulo, SP, apresenta a exposição “Segmentos”,  individual de Luzia Simons. Realizada especialmente para o” Projeto Octógono Arte Contemporânea”, a instalação é composta de quatro obras, quatro ampliações fotográficas moduladas, recortadas em 12 partes que são posicionadas no espaço com suas costas voltadas para cada uma das entradas. Incomuns em seu efeito claro-escuro, de concepção barroca, os scannogramas de Luzia Simons têm uma sonoridade trazida do silêncio para o rumor barulhento da metrópole, voltando depois ao silêncio.

 

Segundo Luzia Simons, a instalação faz uma alusão aos jardins fechados, tradicionalmente encerrados com tramas metálicas ou cercas de madeira. Alude, ainda, ao próprio Jardim do Éden. Este ambiente, no entanto, não se propõe acolhedor, mas sacramental como os ostensivos jardins ou mesmo os museus. A tulipa é o motivo central da série “Stockage”. Suas inúmeras espécies e criações deixam claro para Luzia Simons o que ela chama de “tingimento” e “transferência de cor” ou seja, o processo de adaptação e transformação. As flores brilham em meio a um escuro difuso, o que pode ser entendido como uma releitura das naturezas-mortas holandesas, mas que também trata do aspecto da fugacidade. Afinal, a tulipa tornou-se um dos motivos centrais da vanitas após o colapso do mercado holandês em fevereiro de 1637. Com isso, a artista construiu uma ponte – do século XVII até os tempos atuais, com os aspectos típicos da nossa época, como globalização, nomadismo cultural e marcas multiculturais. A quantidade de referências metafóricas que explicitamente se debruçam sobre temas atuais de nossa sociedade transformou o conteúdo aparentemente „adorável” da peça floral em uma mídia discursiva surpreendente.  Com fotografias, filmes, performances e instalações a artista, residente em Berlim, vem desenvolvendo um corpo de trabalho, desde os anos 1990, em torno de questões como identidade, memória e globalização. Ela desenvolveu sua linguagem no captar e registrar imagens, que denominou “scannograma”. Feito para a digitalização de documentos, o scanner não possui lente nem foco. ao contrário das imagens produzidas, correntemente, com lentes fotográficas. Nesta técnica os objetos são colocados diretamente sobre um scanner, que capta, minuciosamente por um sistema de linhas e pontos, todos seus detalhes formais e variações cromáticas. Os scannogramas reproduzem uma luminosidade dramática e quando ampliados em grande escala ganham teatralidade.

 

 

 

Sobre a artista

 

Luzia Simons nasceu em 1953, em Quixadá, CE. Vive e trabalha em Berlim e já participou de importantes exposições internacionais como:  Flowers and Mushrooms, Museum der Moderne, Salzburg, Áustria, 2013;  Personificação de Identidades, Bienal de Curitiba, Casa Andrade Muricy, 2013; Wenn Wünsche wahr werden, Kunsthalle Emden, Emden, Alemanha, 2013;  Lost Paradise, Mönchehaus Museum Goslar, Goslar, Alemanha, 2012;  Flowers in photography , Tokyo Art Museum, Tóquio, Japão, 2012; Time, death and beauty, FotoKunst Stadtforum, Innsbruck, Áustria, 2011; Wild Things, Kunsthallen Brandts, Odense, Dinamarca,  2010; Nature forte, Kunstverein Wilhelmshöhe, Ettlingen, Alemanha, 2009; e Garden Eden – A representação do jardim na arte desde 1890, Kunsthalle Emden, Emden, Alemanha, 2007. Suas exposições individuais incluem: Jardins Alheios, Kunstverein Bamberg, Bamberg, Alemanha, 2012; Stockage, Centre d’Art de Nature, Château Chaumont-Sur-Loire, França, 2009; Stockage, Künstlerhaus Bethanien, Berlim, Alemanha 2006; Stockage, Städtische Galerie Ostfildern, Alemanha 2005; Face migration: sichtvermerke, Württembergischer Kunstverein Stuttgart, Alemanha 2002 e Transit, SESC Paulista São Paulo, Brasil 2001. Possui trabalhos em coleções públicas como as de Graphisch Sammlung der Staatsgalerie, Stuttgart, Alemanha; Fonds National d’Art Contemporain, Paris, França; Casa de las Américas, Havana, Cuba; University of Colchester, Collection of Latin American Art, Essex, Inglaterra; Museu de Arte de São Paulo Coleção Pirelli, São Paulo, Brasil: Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil, entre outros.

 

 

Até 02 de março de 2014.

Miguel Rio Branco, o livro

06/dez

A Luste Editores lança “Out of Nowhere”, do pintor, fotógrafo, diretor de cinema e artista plástico multimídia Miguel Rio Branco. O livro é um registro da instalação homônima, criada para a 5ª Bienal de La Habana, 1994, e apresenta uma reflexão do artista sobre a obra e suas inspirações. A exposição “Out of Nowhere” passou por diversos países, sendo composta por fotografias, recortes do jornal nova-iorquino Police Gazette (anos 1920), além de stills de filmes antigos e “flashbacks” de suas criações anteriores.

 

As imagens que permeiam o livro foram capturadas na Academia de Boxe Santa Rosa, Lapa, Rio de Janeiro, e mostram figuras do bairro encontradas pelo artista: boxeadores, meninos de rua, jovens prostitutas, marginais. Além deste trabalho, a publicação conta com registros – feitos pelo próprio artista – da instalação, fotografias de outras séries, um texto curatorial de Ligia Canongia, e um depoimento de Miguel Rio Branco. Com uma visão mais atenta, o trabalho surge como uma retrospectiva das imagens e dos assuntos da própria obra de Miguel Rio Branco, uma recuperação geral de seu olhar e das coisas que lhe interessam, ainda que captadas por fragmentos espaciais e memoriais.

 

Nas palavras de Ligia Conongia: “Out of Nowhere coloca de imediato, a partir do próprio título (“Fora de Lugar Nenhum”), a questão da superação dos limites, espaciais e temporais. Funde passado e presente, descentraliza todo e qualquer eixo de percepção (…).”

Dois na galeria Laura Marsiaj

26/nov

Edgar Martins nasceu em Évora e cresceu em Macao, mudando-se para Londres aos 18 anos, onde se especializou em fotografia. Seu trabalho hoje é conhecido na Europa, Estados  Unidos, China e América Latina. Participou de importantes exposições, inclusive da Bienal de Veneza em 2011, bem como foi ganhador de inúmeros prêmios pela sua obra. A exposição que a galeria Laura Marsiaj, Ipanema, Rio de Janeiro, RJ, inaugura traz duas séries fotográficas:  This  is not a House e A Metaphysical Survey of British Dwellings.

 

 

Isto não é uma casa

 

A crise das hipotecas no mercado americano, que tem suas raízes nos anos finais do século XX, tornou-se evidente em 2007, e expôs fraquezas generalizadas na regulação do setor financeiro e do sistema financeiro global. Este trabalho foi fotografado nos Estados Unidos, entre novembro e dezembro de 2008, no contexto de uma comissão do The New York Times Magazine. Produzido em oito estados separados em dezesseis locais diferentes, esses locais cuidadosamente pesquisados expõem toda a extensão, latitude e impacto desta crise. O projeto buscou reunir e catalisar novas experiências de uma nova forma de arquitetura americana convocando uma conjunção inquietante de realismo e ficção. Empregando tanto dispositivos analógicos quanto digitais permitiram aumentar as possibilidades paradoxais da imagem fotográfica e reunir contradições insolúveis. As casas descritas nesta série não se referem apenas ao particular. São imagens de coleções espaciais, de tipos de estágios em que uma série de narrativas completamente diferentes (e talvez incompatíveis) podem ser ordenadas. “Isto não é uma casa” surge justamente nesse momento em que as palavras claras hesitam, onde a linguagem é perturbada. Ele nos lança para as antinomias de percepção e existência, a exploração de limites e limites instáveis.

 

 

Uma pesquisa metafísica de moradias britânicas

 

Fotografado inteiramente em uma cidade cenográfica, construída em 2003, para treinar as
unidades de armas de fogo e de Ordem Pública da Polícia Metropolitana do Reino Unido, esta série trata de urbanismo em toda a sua contradição e ambiguidade. Este centro de formação especializada, ultrarrealista, não é apenas um simulacro de cidades britânicas contemporâneas, é também uma metáfora para a cidade moderna asocial. Nada se move dentro ou fora desses edifícios. O tecido urbano desaparece no crepúsculo, obrigando-nos a preencher as ausências que a noite implacavelmente expõe. Um ambíguo jogo de identidades e de relações está acontecendo, um jogo que engloba um conjunto enigmático da vida cotidiana, transmissão e fluxo, deslocamento, confusão e solidão. Há uma sugestão inquietante de que nem tudo é o que parece.

 

 

Andrea Rocco

 

Andrea Rocco fará sua primeira individual na galeria Laura Marsiaj ocupando o espaço do ANEXO. A exposição “Miscellanea” irá mostrar os diversos aspectos que Andrea vem desenvolvendo em seu trabalho: colagens, aquarelas, bordados e objetos.  Sobre ela afirma Agnaldo Farias: “De um lado a imaginação e o sonho, de outro o desejo de registro objetivo dos fatos da natureza, as pretensões de controle e certeza tão próprios a ciência. Entre um e outro domínio Andrea Rocco vai estabelecendo o seu território; um lugar onde os termos são embaralhados  como um caleidoscópio que se vai virando e que de quando em quando sacudimos com a expectativa de uma nova surpresa.”

 

 

Até 21 de dezembro.