Os rinocerontes estão chegando

18/nov

No século XVI alguns animais exóticos foram “inocentes protagonistas de jogos de poder mundiais”. Nesse contexto, no ano de 1515 aportou em Lisboa, como um presente diplomático, o primeiro rinoceronte a pisar em solo europeu (Ganda), que naquele mesmo ano foi eternizado em gravura de Albrecht Dürer, constituindo-se como uma das imagens mais marcantes da história da reprodutibilidade. Antecipando as comemorações dos 500 anos de “Ganda” de Dürer, este projeto apresenta uma abordagem criativa do tema em gravuras e instalações gráficas de artistas vinculados a instituições de ensino de artes da África do Sul, Brasil, Portugal e Polônia. Por se tratarem de trabalhos múltiplos, exposições semelhantes abrem simultaneamente na Cidade do Cabo, Porto Alegre, Lisboa e Lodz. A organização geral é de José Quaresma da Universidade de Lisboa, com curadoria no Brasil de Maristela Salvatori, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. A exposição acontece na Sala O Arquipélago, Centro Cultural CEEE Erico Verissimo, Centro Histórico, Porto Alegre, RS, e ficará em cartaz até 28 de novembro e conta ainda com um ciclo de conferências: Rhinos are Coming: A Story that Changed History, a saber:

 

Portento diplomático com José Quaresma (Artista, professor da Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa).

 

A partir das noções de Empreinte (Didi-Huberman), Immémorial (Michel Guérin) e Instalação (Julie Reiss), será desenvolvido um arco de ampla e sucessiva mediação entre a Gravura ancestral da Gruta na Ilha de Celebes (Indonésia), os Rinocerontes da Gruta de Chauvet (França), o Ganda de Dürer, e o espírito da Instalação Gráfica Contemporânea.

 

A iconologia do Rinoceronte de Dürer com Francisco Marshall (Historiador, professor do PPGAV/Instituto de Artes/UFRGS).

 

Análise iconográfica e iconológica do caso do rinoceronte Ganda, dos imaginários teratológicos modernos e da arte de Albrecht Dürer (1471-1528), com apresentação do histórico e do contexto genético desta representação.

 

The Rhinoceros in South African Visual Vernacular (conferência com tradução) com Stephen Inggs (Artista, professor da Michaelis School of Fine Art, University of Cape Town).

 

Um olhar sobre a imagem vernacular do rinoceronte na cultura Sul-Africana, da arte à publicidade, e como ela foi apropriada para as questões espirituais, estéticas, políticas e de conservação. A imagem do rinoceronte aparece em primeiro lugar na arte rupestre da África do Sul, onde acredita-se ter tido significado religioso para os bosquímanos na expressão de experiências espirituais. Sua aparição na arte Sul-Africana contemporânea tem um papel mais político que, no trabalho de William Kentridge, pode ser lido como um símbolo da África colonial, um animal selvagem que precisa ser domado e explorado em benefício da Europa.

 

Travelling Prints (conferência com tradução) com Alicja Habisiak-Matczak (Artista, professora da Akademia Sztuk Pieknych, Lodz)

 

O trajetória do Rinoceronte de Dürer e possibilidades de circulação de gravuras nos dias de hoje. Algumas experiências de intercâmbio e a configuração da cidade de Lodz como um lugar de acolhimento de gravuras “em viagem”.

 

Rinocerontes do Museu Agrícola do Ultramar com Luís Jorge Gonçalves (Arqueólogo, professor da Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa).

 

Em 1929 foram expostos na Sala das Colônias do Pavilhão de Portugal, da Exposição Universal de Sevilha, dois rinocerontes taxidermizados oferecidos pela Agência Geral do Ultramar. Mais uma vez o rinoceronte era “embaixador” de um Portugal colonial, com forte presença em África, como o rei D. Manuel tinha realizado no início do século XVI. Os dois rinocerontes foram depois remetidos para o Palácio da Calheta, onde estava instalado o Jardim Colonial e Museu Agrícola Colonial, ficando expostos para a Exposição do Mundo Português de 1940, para ai permanecerem até aos nossos dias.

 

A imagem do Rinoceronte com Fernando Rosa Dias (Historiador, professor da Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa).

 

A gravura do Rinoceronte de Dürer é explorada como ícone de uma encruzilhada de mudanças de paradigmas no advento da modernidade, ao que Heidegger definiu como «a conquista do mundo como imagem». Entre o bestiário medieval e o desejo de ilustração científica, esta imagem de reprodutibilidade capta um animal exótico de valor diplomático ao serviço do jogo de exibição das cortes barrocas.

 

 

Anunciando uma invasão: um rinoceronte e muitas histórias com Maristela Salvatori (Artista, professora do PPGAV/Instituto de Artes/UFRGS).

 

Apresentação de diferentes visões sobre a perspectiva de encontro e/ou ressignificação de Ganda, abordando a interpretação dos artista da equipe brasileira deste projeto, todos oriundos do Instituto de Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, professores e alunos, de graduação, mestrado e doutorado, que responderam com entusiasmo a este desafio.

 

 

 

Animais raros na arte: imaginação e realidade com Maria Amélia Bulhões (Historiadora, professora do PPGAV/Instituto de Artes/UFRGS).

 

Se os animais raros permeiam o universo imaginário dos artistas através dos tempos, na contemporaneidade muitos deles se alimentam dessa tradição dando a ela novos sentidos. Walmor Corrêa é um desses artistas que mergulha totalmente no mundo animal para dele extrair uma obra rica e complexa. Ao primeiro olhar, suas obras parecem entrar no detalhado realismo que caracteriza os museus, os livros científicos e as enciclopédias. Observando mais detidamente, percebe-se que nada do que ali está é real ou possível. Para surpresa do espectador, vai se evidenciando um teatro do absurdo que se desdobra em inúmeros atos. A ambiguidade está sempre presente, não só como ferramenta operacional como também na estrutura de linguagem.

 

 

Rinocerontes mutantes. Fragmentos variáveis com Helena Kanaan (Artista, professora do Instituto de Artes/UFRGS).

A partir de uma ‘imagem-valise’, HELENA KANAAN ressalta a série como problemática intrínseca a constituição da imagem gerada por uma matriz. Do contorno de um rinoceronte às variações internas, acontecem combinações dos fragmentos em diferentes técnicas gráficas. A linguagem das correlações entre dissemelhanças é potencializada no formato livro de artista, conduzindo a uma alternância de aproximadamente 6000 concepções visuais. A série de rinocerontes com suas variantes, junto a pretensa multiplicidade de leituras de fragmentos impressos vai além e, o movimento provocado pelas mãos, torna-se animação por bits.

 

 

Sobre os artistas e palestrantes

 

José Quaresma

 

Coordenador geral do Projeto Rhinos are coming. Professor na FBAUL, é Doutor em Estética e Filosofia de Arte e Mestre em Estética e Filosofia de arte pelo Departamento de Filosofia da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Licenciado em Artes Plásticas – Pintura pela Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa. Curador de exposições coletivas, tem editado e coeditado livros sobre investigação em Arte, Arte Pública, Estatutos Ontológicos da Imagem, Arte em Ambiente Digital e Reprodutibilidade entre outros. Realizou numerosas exposições, entre elas as coletivas The Rape of Europe, com exposições em Utrecht, Lodz, Porto Alegre e Lisboa, 2013, e Printmaking, Installation, Poetry, The Joy of a Reencounter, com exposições em Granada, Utrecht, Copenhaga, Londres e Lisboa, 2012.

 

 

Francisco Marshall

 

Licenciado em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1988) e doutor em História Social pela Universidade de São Paulo (1996), realizou pós-doutorado na Princeton University (NJ, EUA, 1998), como bolsista Capes-Fulbright, convidado de Peter Brown, e na Ruprecht-Karls-Universität Heidelberg (Alemanha, 2008-9), como bolsista da Fundação Alexander von Humboldt. É professor associado da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, atuando no Depto. e PPG História (IFCH) e no PPG Artes Visuais (IA). Tem experiência nas áreas de História e de Arqueologia Clássica, com ênfase em História Antiga e Medieval, atuando principalmente em história antiga, arqueologia clássica, museologia, iconologia, estudos do imaginário e história da cultura.

 

 

Stephen Inggs

 

Nascido na Cidade do Cabo, 1955. Professor de gravura e fotografia na Michaelis School of Fine Art, da University of Cape Town, onde também exerceu a função de Diretor. É graduado em Fine Art, pela Natal Technikon, e realizou estudos de pós-graduação na Brighton Polytechnic, Inglaterra, e na University of Natal, África do Sul. Realizou exposições individuais na Inglaterra e na África do Sul, participou de numerosas exposições coletivas na África do Sul e exterior. Entre suas publicações destacamos os livros Making Prints With Light e What’s Bred in the Stone: Art and Technique of Lithograph (2011 e1998, ambos editados pela Michaelis School of Fine Art).

 

 

Alicja Habisiak-Matczak

 

Nascida em Piotrków Trybunalski, Polônia, 1978. É Doutora em Artes pela Akademia Sztuk Pieknych, Lodz, onde também é professora. Realizou estudos superiores no Departamento de Gráfica e Pintura da Akademia Sztuk Pieknych (Academia de Belas Artes), de Łódź. Recebeu bolsa de estudos de pós-graduação do Ministério da Cultura e do Patrimônio Nacional e do Governo italiano para a Academia de Belas Artes de Urbino, Itália. Realizou exposições individuais na Polônia e no exterior. Participou de numerosas exposições coletivas de gravura e desenho. Recebeu prêmios na Polônia, Romênia, Itália e Canadá. É membro da Associação Internacional de Designers Gráficos – AMIGRAV, com sede em Montreal.

 

 

Luís Jorge Gonçalves

 

Nascido em Portugal, em 1962, é doutor em Ciências da Arte e do Patrimônio pela Faculdade de Belas- Artes da Universidade de Lisboa, com a tese Escultura Romana em Portugal: uma arte no quotidiano. Professor na Faculdade de Belas-Artes, atua nas áreas de História da Arte (Pré-História e Antiguidade), Museologia, Arqueologia e Patrimônio, na graduação, no mestrado e no doutorado. Tem desenvolvido pesquisas em Arte Pré-Histórica, Escultura Romana, Arqueologia Pública e Paisagem. Desenvolve ainda projetos em ilustração reconstitutiva do patrimônio, da função da imagem no mundo antigo e interfaces plásticas entre arte pré-histórica, antiga e arte contemporânea. É responsável por exposições monográficas sobre monumentos de vilas e cidades portuguesas.

 

 

Fernando Rosa Dias

 

Nasceu em Caldas da Rainha, 1964. Professor na Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa. Doutor em Ciências da Arte pela Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa (FBAUL). Mestre em História da Arte Contemporânea pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa (FCSH-UNL). Licenciado em Design de Comunicação pela Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa. Pesquisador do Centro de Investigação e de Estudos em Belas-Artes (CIEBA) – Secção de Ciências da Arte e do Património. Tem organizado colóquios e exposições, editado livros e artigos, e coordenado edições, em torno de questões como a arte portuguesa do século XX, a Investigação em Arte, a Imagem, as vanguardas culturais, entre outros.

 

 

Maristela Salvatori

 

Organizadora do ciclo de palestras, curadora do projeto Rhinos no Brasil, é professora do Instituto de Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, onde foi Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais. Doutora por Paris I, Estágio Sênior/CAPES, Université Laval, Canadá. Líder do Grupo de Pesquisa Expressões do Múltiplo. Artista Residente na Cité Internationale des Arts, Paris, e no Centro Frans Masereel, Kasterlee, Bélgica. Realizou individuais e participou de coletivas no Brasil e exterior, recebeu prêmios, entre os quais o prêmio GRAV’X 1999, Fundação GRAV’X / Galerie Michèle Broutta, Paris.

 

 

Maria Amélia Bulhões

 

Graduada em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1973), mestrado em História pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (1983), doutorado em História Social pela Universidade de São Paulo (1990) e pós doutorado na Universidade de Paris I, Sorbonne (1997) e na Politecnica de Valencia (2008). Atualmente é professor do corpo permanente do PPG em Artes Visuais da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, atuando na área de Artes Visuais, com ênfase em História, Teoria e Crítica de arte Coordena o Grupo de Pesquisa Territorialidade e subjetividade. Dedica-se principalmente aos seguintes temas: artes visuais contemporâneas, arte na América Latina e web arte. Escreve, desde junho de 2011, uma coluna semanal sobre artes visuais no jornal online Sul 21.

 

 

Helena Kanaan

 

Artista Visual com investigações em Gravura Contemporânea e Procedimentos Híbridos na Arte Impressa. Doutora em Poéticas Visuais pelo PPG em Artes Visuais / UFRGS e Universidade Politécnica de Valencia / Espanha. Mestre em Poéticas Visuais pelo PPG Artes Visuais / UFRGS. Especialização pela Scuola d’Arte Grafica Il Bisonte Florença / Itália. Professora no Centro de Artes / UFPel (1991 / 2013) na linha de Poéticas Visuais, orientando trabalhos de pesquisa (bacharelado, licenciatura, pós-graduação), quando coordenou o projeto de pesquisa e extensão Grupo Gravadores de Rua com dois bolsistas. Foi membro da Comissão de Consultoria do MALG (Museu de Arte Leopoldo Gotuzzo) e membro na Câmara de Extensão. Em 2014 assume docência na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, atuando na área da gravura. Coordena o grupo de pesquisa Práticas críticas da gravura à arte impressa. Processos e procedimentos matriciais, transferências, impregnações.

 

 

Até 28 de novembro.

Iberê: 100 anos – A programação

17/nov

A partir de 18 de novembro, dia em que o artista Iberê Camargo faria cem anos de idade, a Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, RS, promove a abertura da exposição “Iberê Camargo: século XXI”. Com curadoria de Agnaldo Farias, Icleia Cattani e Jacques Leenhardt, a mostra comemorativa baseia-se nas principais questões e séries de trabalhos do artista, como os carretéis e ciclistas. Pela primeira vez desde que a criação da Fundação, todos os ambientes do prédio projetado por Álvaro Siza serão preenchidos por obras. As pinturas, gravuras e desenhos de Iberê Camargo dividem espaço com obras de mais dezenove artistas brasileiros, evidenciando o diálogo entre as diferentes linguagens.

 

 

Programação

 

No dia 19, quarta-feira, às 18h, será lançado o livro “100 anos de Iberê”, pela editora Cosac Naify, com organização de Luiz Camillo Osorio. Na quinta, dia 20, no mesmo horário, acontece o lançamento do filme documentário “Magma”, com direção e roteiro de Marta Biavaschi, que aborda o universo do artista. No dia 21, sexta-feira, ocorre a apresentação do vídeo da performance inspirada na “Série Carretéis”, assinada por Eva Schul.

 

Também nos dias 19, 20 e 21 de novembro, a Fundação Iberê Camargo promove o seminário “Iberê Camargo: século XXI”. Sempre com início às 19h, o evento traz discussões sobre a obra e o legado de Iberê Camargo. A cada noite, haverá um painel de discussões com três palestrantes e um mediador abordando diferentes aspectos da produção do artista.

 

No dia 22, sábado, ocorre o “Encontro para Educadores”, promovido pelo Programa Educativo da Fundação. Nele, os professores têm a oportunidade de conversar com os curadores sobre a exposição. Antes do início do debate, acontece a apresentação do documentário “Pare olhe escute”, realizado pela Fundação Iberê Camargo, com comentário da diretora e roteirista Marta Biavaschi. O filme tem narração do próprio Iberê, com imagens e sons de arquivo, a partir do universo de sua obra e, de acordo com Marta Biavaschi, foram criados quadros vivos que dialogam com seus quadros. Além disso o filme evoca “a paisagem da memória do artista com filmagens realizadas em Restinga Seca, Jaguari, Santa Maria, Porto Alegre e Rio de Janeiro, lugares onde viveu, observou e transfigurou a realidade”. A escolha do título relaciona o Pare Olhe Escute do cruzamento da via férrea com o sentido de parar, olhar e escutar sua obra.

 

 
Outros destaques do Centenário de Iberê Camargo

 

Exposições:

 

Itália

Serão apresentadas três mostras  em maio de 2015. O Museo Marino Marini, em Florença, exibirá gravuras. O Palazzo Pitti, igualmente em Florença, mostrará obras do artista criadas nos anos 1960. O Museo Morandi, em Bolonha, mostrará um paralelo entre as obras de Iberê e do mestre Giorgio Morandi (1890 – 1964), apresentando naturezas-mortas de ambos.

 

São Paulo
O Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) inaugurou dia 15 a retrospectiva “Um Trágico nos Trópicos”.  A Pinacoteca do Estado de SP terá mostra dedicada às gravuras. No Rio de Janeiro, o Museu de Arte Moderna (MAM) apresentará uma retrospectiva  em outubro de 2015.

 

Interior do RS
A mostra itinerante “Iberê Camargo – Um Homem a Caminho” passa por Bagé, na Da Maya Espaço Cultural e Lajeado,  no Sesc.

 

 

 

Digitalização

 
Até o fim do ano, o acervo da Fundação Iberê Camargo estará disponível na internet, reunindo mais de 5 mil obras e documentos.

 

 

 

Expositores

 

A mostra foi concebida a partir das principais problemáticas da obra de Iberê Camargo e as repercussões na produção de artistas brasileiros contemporâneos. Diferenciando-se de um formato convencional de exposições comemorativas, em geral um conjunto representativo ordenado cronologicamente, a exposição destaca a potência da poética de Iberê Camargo em diálogo com trabalhos de dezenove artistas brasileiros de gerações variadas como Angelo Venosa, Arthur Lescher, Carlos Fajardo, Carmela Gross, Cia. De Foto, Daniel Acosta, Edith Derdyk, Eduardo Frota, Eduardo Haesbaert, Fabio Miguez, Francisco Kingler, Gil Vicente, Jarbas Lopes, José Bechara, José Rufino, Karin Lambrecht, Lenir de Miranda, Regina Silveira e Rodrigo Andrade.

 

 

Até 29 de março.

Kandisnky no Brasil

14/nov

Brasília é a primeira cidade fora da Europa a receber uma exposição com obras do criador do abstracionismo, Wassily Kandinsky. Cerca de 150 peças, entre quadros, objetos, fotos, livros e cartas sobre o artista, seus contemporâneos e suas influências podem ser vistos no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB). A mostra está dividida em cinco blocos: Kandinsky e as raízes de sua obra em relação com a cultura popular e o folclore russo; Kandinsky e o universo espiritual do xamanismo no Norte da Rússia; Kandinsky na Alemanha e as experiências no grupo Der Blaue Reiter, vida em Murnau; Diálogo entre música e pintura: a amizade entre Kandinsky e Schonberg; Caminhos abertos pela abstração: Kandinsky e seus contemporâneos.

 

As peças em exposição pertencem ao acervo de nove museus e de coleções particulares vindos da Rússia, Alemanha, Áustria, Inglaterra e França. Alguns dos principais itens são do Museu Estatal Russo de São Petersburgo. A organização da mostra também teve participação da Arte A Produções, responsável pela “Virada Russa”, realizada em 2009, no circuito do CCBB.

 

Mais do que apresentar obras do pintor russo, “Kandinsky – Tudo começa num ponto” oferece ao público a oportunidade de conhecer as referências de sua obra, como a relação entre arte e espiritualidade, a cultura popular no norte da Sibéria, o folclore russo, a música e os rituais xamânicos. As peças em exposição estão divididas em três espaços, um deles interativo. Utilizando óculos especiais, o público pode conferir uma das obras do pintor se desmembrando de acordo com o movimento do visitante e emitindo sons. Também é possível ouvir a descrição das cores e de suas características.

 

Na exposição, há pinturas de todas as fases do pintor, ilustrações de contos populares, símbolos religiosos, séries de paisagens, roupas e tambores utilizados em rituais xamânicos, coleções de objetos de cerâmica e litogravuras. Além de Kandinsky, a mostra traz quadros de artistas contemporâneos, como a ex-mulher Gabriele Münter, Alexej Von Jawlensky , Mikhail Larionov, Pavel Filonov, Nikolai Kulbin e Aristarkh Lentulov.

 

O objetivo dos curadores da mostra, Evgenia Petrova e Joseph Kiblitsky, é fazer com que o espectador entenda vida e obra do pintor e também a relação com outros artistas e com a cultura de sua época. A ideia é compreender o contexto que ajudou na sua formação, dar um “mergulho no mundo que cercou e influenciou Kandinsky”. Para o diretor-geral da exposição, Rodolfo de Athayde, entender o gênio criativo implica compreender a sensibilidade que marcou a história da arte no século XX. “Esta exposição apresenta o prólogo dessa história enriquecida, que é a arte moderna e contemporânea. O modo em que se forjou a passagem para a abstração, os recursos a partir dos quais a figuração deixou de ser a única via possível para representar os estados mais vitais do ser humano, e finalmente o novo caminho desbravado a partir dessa ruptura”.

 

 

Sobre o artista

 

Nascido em Moscou, em 16 de dezembro de 1844, Wassaly Kandinsky formou-se em Direito antes de iniciar sua vida como pintor. Uma visita a uma exposição de artistas impressionistas franceses e ao Teatro Bolshoi, onde assistiu à ópera Lohengrin, de Richard Wagner, despertaram o desejo de produzir arte. Em 1896, ele se mudou para Munique, na Alemanha, onde iniciou o curso de pintura. Em 1900, ele ingressou na Academia de Artes de Munique, onde estudou com Franz Stuck. Foi neste período que conheceu a artista Gabriele Münter, com quem passou a viver até o início da 1ª Guerra Mundial. Em 1911, Kandinsky e Franz Marc criaram o grupo Der Blaue Reiter (Cavaleiro Azul).  O período em que viveu na Alemanha é considerado o de maior desenvolvimento da arte abstracionista do pintor. No ano seguinte, ele publicou “Do espiritual na arte”, a primeira fundamentação teórica da arte abstrata. Ele escreveu ainda um livro de memórias e uma coletânea de poesias com 55 litogravuras, ambos em 1913. No início da guerra, voltou para Moscou, já sem Gabriele. Participou de eventos culturais e políticos no período após a Revolução Russa. Casou-se com a filha de um general, em 1917, e cooperou com o comitê popular de educação, ensinando arte e auxiliando na reforma e na criação de museus, entre 1918 e 1921. Kandinsky voltou à Alemanha em 1922. Em seguida, aceitou o convite de Walter Groupiuos e começou a lecionar na escola Bauhaus, onde permaneceu até 1932. Os 159 quadros pintados a óleo e as 300 aquarelas produzidos entre 1926 e 1933 se perderam depois que os nazistas declararam o artista “degenerado”.  Aos 67 anos, o pintor se mudou para a França. Ao lado da mulher, ele passou a viver em Neuilly-sur-Seine, perto de Paris. Foi a última morada de Kadinsky até sua morte, em 13 de dezembro de 1944.

 

 

Locais e datas.

Depois de Brasília, a mostra “Kandinsky- Tudo começa num ponto” segue para o Rio de Janeiro, entre 27 de janeiro e 30 de março de 2015. São Paulo receberá o evento entre 18 de abril e 29 de junho de 2015. A exposição se despede do Brasil em Belo Horizonte, entre 21 de julho e 28 de setembro de 2015.

Eliane Prolik: Mira & Múltiplos

05/nov

Em paralelo à exposição “Da Matéria ao Mundo”, que acontece no Museu Oscar Niemeyer, a artista plástica Eliane Prolik lança seus mais recentes trabalhos em uma exposição pop-up na SIM Galeria, Curitiba, Paraná. A mostra “Eliane Prolik: Mira & Múltiplos” apresenta a série inédita de esculturas de mesa e dois múltiplos que trazem questões significativas da poética da artista.

 

Em metal, as obras de Eliane Prolik articulam elementos geométricos, urbanos e cotidianos. Suas esculturas constroem uma variedade de intensidades luminosas e ópticas, que capturam o dinamismo do corpo no espaço e na arquitetura. Também fazem parte da exposição os “Tapumes”, de 2013, elementos que criam uma espécie de labirinto para o espectador e que integram a exposição individual da artista no MON, além de “Brise”, de 2014, composta por esculturas suspensas que colocam o tempo em evidência.

 

A mostra ainda traz a obra Mira, realizada entre 2013 e 2014, exibida na feira ArtRio e adquirida para o acervo do Museu de Arte do Rio, o MAR.

 

“É uma obra muito interessante, em que há um aspecto reflexivo. Nessa escultura, você busca o horizonte ao mesmo tempo em que se vê”, explica Guilherme Simões de Assis, diretor da SIM Galeria, que representa a artista com exclusividade.

 

 

De 05 a 12 de novembro.

No Santander Cultural

23/out

Todas as coisas, surgidas do opaco, exposição de Ismael Monticelli é o cartaz da Galeria superior do Santander Cultural, Centro, Porto Alegre, RS.

 

Ismael Monticelli encerra a programação do “Projeto RS Contemporâneo” em 2014. Com curadoria de Luisa Duarte, a exposição reúne sete obras como fotografias e cartazes. Ismael usa como fio condutor objetos do nosso cotidiano e cria novas leituras sobre eles.

 

 

Até 23 de novembro.

A arte incomum de André Venzon

22/out

Artista visual e multimídia, Integrante da nova geração da arte contemporânea no Rio Grande do Sul, André Venzon realiza a exposição intitulada “Pois eu estou em sua memória”, individual na Galeria Península, Centro, Porto Alegre, RS. A mostra recebeu apresentação do crítico paulista Gilberto Habib Oliveira.

 

 

POIS ELE MERECE ESTAR EM NOSSA MEMÓRIA

Texto de Gilberto Habib Oliveira

 

Tão oportuna quanto arriscada, já se faz necessária uma leitura retrospectiva da obra e da trajetória do artista gaúcho André Venzon. A oportunidade é dada pelos ciclos que se completam, ressaltando a visão teleológica dos significados que de pouco em pouco construíram o corpus de sua obra, somados a alguns de seus feitos institucionais, dentre os quais, à frente da Associação Chico Lisboa ou, mais recentemente, do MAC-RS. O risco, em se tratando da arte, é encerrarmos tal percurso em adjetivos que se acercam sem tentar definir. Lançando-nos, pois, a tentativa de esclarecer, sem aprisionar, uma obra por natureza aberta e um percurso por trilhar.

 

André sempre surpreendeu com seu senso de coletividade, envolvendo-se em movimentos, projetos, editais, simpósios ou organizando mostras coletivas pelo Brasil afora. Voltado em seus trabalhos aos  conceitos de identidade e lugar na construção poética, sempre teve coragem e consciência de não relegar o entorno e o social à mera indiferença. Fosse por meio das diversas figuras de alteridade criadas em seu universo estético, nos elementos constituintes da arquitetura e da paisagem presentes desde o início em sua produção; fosse na mobilização de outros artistas, colecionadores, críticos ou dirigentes culturais nas muitas frentes institucionais em que buscou estar inserido. Expressões talvez de uma única realidade construtora de sua identidade como cidadão e como artista, que perpassa a responsabilidade de engajar, envolver, conscientizar ou, no mínimo, provocar espectadores e produtores de um único grande circuito. “Em sua silenciosa luta ética, este jovem artista extravasa a busca de identidade para muito além de si mesmo e projeta-a à arte. Mesmo que esta, hoje, já distante dos seus contornos formais e conceituais, esteja voltada à miragem de referências e ao provisório da verdade, André a resgata como busca máxima de autenticidade e criticidade” profetizava Monica Zielinsky, em seu texto sobre o ainda jovem artista, em 2006.

 

Venzon é, neste sentido, cumpridor de uma vocação profunda de artista. Como poucos que se conhece. Tudo nele é mobilização, da matéria prima ao tema, do significado ao suporte, tudo é pretexto para pensar e compor o papel afirmativo e interrogativo no infinito campo de interações entre artista e espectador. Como destacou a historiadora Paula Ramos, ele “…tem buscado estabelecer pontes formais e conceituais entre o lugar e o sujeito, entre aquele que vivencia e aquilo que o envolve, alinhavando múltiplas temporalidades”.

 

Não haveria, assim, neste infinito de possibilidades, necessidade mais natural do que tentar encontrar, passados os anos, um denominador comum para o que lhe é próprio. E eis que encontra na cor fúcsia dos tapumes ― por vezes aliada à sua textura ou a materialidade mesma da madeira ― um signo forte para si. Não importa não se tratar do primeiro artista a utilizá-la, mas basta ter acertado na escolha, fazendo dela um signo potente e singular de si mesmo.

 

Síntese fascinante, excêntrica e exótica. Social e atemporal, a cor de tapume na poética de André Venzon perpassa uma década sendo incorporada aos seus feitos até converte-se, definitivamente, na pele do artista. Dos vários signos que com ela pode compor em séries de trabalhos como “Qual é o seu lugar?”, “Boates”, “Vitrines”, “Cidade sem face”, “Luxúria”, entre a consciência do lugar, do corpo, da memória e da arte, essa cor já lhe serviu a vários discursos. Vindo agora a completar-se na exposição “Pois eu estou em sua memória”, ela penetra definitivamente nosso imaginário, se derramando como figura espectral, brilhante e fugidia tal como indexada no cartaz da mostra.

 

Hoje “sua”, a cor de André é ainda mais eloqüente, convertida em unidade identitária, mas também suporte de uma alteridade contemporânea, extemporânea, mítica, à serviço das muitas “capas”, peles ou máscaras a que os tapumes se convertem. Incapazes de disfarçar as mazelas, de encobrir os defeitos, de sustentar o (falso) glamour da cidade que, em nome do progresso, mais se arruína ao definir tão somente não-lugares. Destas vãs tentativas, os tapumes, com sua cor marcante, logram apenas ressaltar sua própria identidade e presença. “Matam” a paisagem real para ressuscitarem como memória artística, impondo o protagonismo desta sobre a outra.

 

Novas possibilidades de um imaginário urbano, a tomar a frente dos “flaneurs” e “futuristas”, o fúcsia dos tapumes se somam aos reflexos caóticos de prédios envidraçados e vitrines, sublimando em silêncio o vazio das cidades. Seriam talvez, versões luxuriosas do famigerado cinza das “selvas de pedra”? Ou novas expressões da teatralidade do mundo, ao fazerem-se de moldura ou cortina do palco em que encena-se a vida cotidiana? Eis que André se reveste dessa pele como a alma ancestral das cidades do futuro, a renovar-lhe possíveis novas metáforas. Dando novo corpo, alma e cor a um sempre crescente coletivo de muitos.  Formando um corpus significante, em tempos de uma experiência de arte e de cidade carente de significados.

 

 

Sobre o artista

 

André Venzon, nasceu em Porto Alegre, 1976. Diplomado em Desenho pelo IA/UFRGS. Dedica-se ao estudo dos conceitos de lugar na construção poética dos seus trabalhos. Diante de sua forma de olhar e perceber a arte como atributo social, participou do FUMPROARTE (PMPA), foi presidente da Associação Riograndense de Artes Plásticas Francisco Lisboa (2006-2010) e vice-presidente do Conselho Estadual de Cultura, membro do Colegiado Nacional de Artes Visuais e, atualmente, é diretor do Museu de Arte Contemporânea do Rio Grande do Sul – MAC/RS – e curador do Projeto RS Contemporâneo do Santander Cultural. Realizou diversas exposições, entre as quais se destacam: 18º Salão de Arte Jovem de Santos; 3º Salão de Arte de Porto Alegre; 3º Salão Nacional de Arte de Goiás; 4ª Bienal de Arte e Cultura da UNE em São Paulo; BOATES no Centro Cultural dos Correios no Rio de Janeiro e no MARGS; 10ª Bienal de Santos; 13° Salão da Bahia, do Museu de Arte Moderna na Bahia. Foi curador da I Bienal B, artista-âncora do Essa Poa é Boa e oficineiro da Rede Nacional de Artes Visuais da Funarte em Parintins, Manaus e Rio de Janeiro.

 

 

Até 06 de novembro.

Curadoria de Angélica de Moraes

15/out

A Galeria Mamute, Centro, Porto Alegre, RS, apresenta a exposição “De Longe e de Perto”, com curadoria da crítica de arte Angélica de Moraes. A mostra marca o novo posicionamento da galeria e apresenta seus representados:  Antonio Augusto Bueno, Bruno Borne, Claudia Barbisan, Claudia Hamerski, Clóvis Martins Costa, Danilo Christidis, Dione Veiga Vieira, Fernanda Gassen, Fernanda Valadares, Hélio Fervenza, Hugo Fortes, Ío, Letícia Lampert, Marília Bianchini, Mariza Carpes, Nathalia Garcia, Pablo Ferretti, Patricia Francisco e Sandra Rey.

 

A exposição “De longe e de Perto” propõe uma prática curatorial executada em dois momentos/exposições consecutivos. A primeira mostra resulta de seleção e concepção de montagem à distância, via recursos digitais. A segunda, reúne escolhas presenciais. São duas exposições sucessivas que poderão reafirmar ou substituir obras, gerando novo conjunto e propondo uma avaliação das escolhas efetuadas.

 

 

Sobre a galeria

 

A galeria Mamute realizou em dois anos, inúmeras ações destinadas à produção prática e teórica na área. Propôs diálogos entre o segmento e cruzamentos com produções artísticas contemporâneas, por meio de exposições, palestras, mostras de vídeo, conversas com artistas, lançamentos de publicações, debates, cursos, residências artísticas, entre outros. Com o novo posicionamento, pontuado na sua atuação comercial como galeria de arte, a Mamute propõe instaurar no cenário local um ponto de referência comercial de arte contemporânea no Sul do Brasil.

 

 

De 25 de outubro a 22 de dezembro.

Guilherme Dable em Salvador

09/out

O artista plástico Guilherme Dable, um dos jovens expoentes da arte contemporânea nacional, faz sua primeira exposição em Salvador na Roberto Alban Galeria, bairro Ondina. Guilherme Dable trabalha com formas geométricas em carvão e acrílica, traduzindo o desejo confesso de abstração diante de um mundo sobrecarregado de imagens. Seus trabalhos são reconhecidos pela crítica e já integram importantes coleções, como as de Gilberto Chateaubriand, Museu de Arte Contemporânea do Rio Grande do Sul, Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, entre outras.

 

A mostra em Salvador tem um título, no mínimo, intrigante: “Desse lugar entre meio-dia e duas horas da tarde”, reunindo trabalhos em pinturas numa perspectiva que revela o criativo equilíbrio do artista entre a forma e a cor na apreensão dos flagrantes do seu cotidiano.

 

Ao apresentar a mostra, o crítico, curador e estudioso das artes visuais, Guilherme Bueno, enfatiza o papel do desenho nas telas de Dable: “A linha que corre os planos num momento serve para cercar uma área a ser pintada; noutro, delimita a superfície já pintada. Ela se esvai assim do mero caráter projetivo atribuído ao desenho, conferindo-lhe antes um valor de eixo para articular a relação entre esses planos, porém fazendo-o pela anulação de uma estrutura “imediata” de figura e fundo”, diz.

 

 

Reorganizando o mundo

 

Revelando paisagens, o artista aposta num conceito muito particular de abordagem da realidade. Como ele mesmo confessa, o seu trabalho é a maneira que encontrou para “ um reorganizar interno do mundo”. Das caminhadas que faz pelas cidades que se encontra, anotando o que vê em cadernos, fotografando coisas, ele constrói repertório para alimentar o seu ateliê de criações.

 

“Meu trabalho não tem uma figuração explícita, ele alude à cidade, mas na verdade essas anotações sobre a arquitetura, as observações sobre como a luz incide nas coisas pela rua ou como a refração da luz altera a percepção, por exemplo, do que tenho dentro do ateliê em determinada hora do dia, servem como uma espécie de desculpa pra trabalhar, pra mexer com os materiais, pra achar alguma maneira de dialogar com essa experiência quando vou pra frente do suporte”, explica o artista.

 

 

Sobre o artista

 

Guilherme Dable, Porto Alegre, RS, 1976, é bacharel em Artes Visuais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, com mestrado em Poéticas Visuais. Já participou de coletivas internacionais – como por exemplo, em Londres e Nova Iorque – e realizou seis individuais no país, em cidades como Porto Alegre, São Paulo, Rio de Janeiro e Recife.

 

Em 2009, conquistou as suas primeiras premiações, entre as quais é destaque a seleção no Rumos Artes Visuais 2011-2013, maior mapeamento da produção artística brasileira, organizado pelo Itaú Cultural. O último reconhecimento ocorreu em 2013 com a conquista do cobiçado Premio Marcantonio Vilaça, concedido pela Funarte. Além disso, seus trabalhos integram coleções importantes, como Gilberto Chateaubriand/ MAM- RIO; Fundação Vera Chaves Barcellos, Viamão, RS; e Museu de Arte Contemporânea, MAC-RS, Porto Alegre.

 

 

O texto do curador

 

Há duas cenas marcantes da história da pintura na metade do século XX: a primeira, mais conhecida, é a sequência com Jackson Pollock filmada por Hans Namuth, na qual ele comenta rapidamente seu método de trabalho, logo a seguir “demonstrado” em uma tela e um vidro; a segunda, célebre mas menos vista, traz o encontro de Duke Ellington e Joan Miró no ateliê do último em Jan les Pins, no sul da França.  Não é à toa que remetemos a tais referencias para refletir sobre as pinturas de Guilherme Dable. Evidentemente, os sessenta anos que as separam corresponde as diferenças de lugar, prioridades e objetivos. Contudo, servem de pretexto para discutirmos como o artista gaúcho lida com dois termos ali visíveis e correntes em sua produção – a musicalidade e o improviso.

 

Os dois se apresentam principalmente em alguns trabalhos que Dable realiza com seus colegas do Ateliê Subterrânea em Porto Alegre. Neles há a alternância entre composição musical, performance e desenho, criando um “perímetro de energia poética” onde as três linguagens se fundem e se retroalimentam. O improviso ali funciona como um transplante não de uma obra, e sim de uma dinâmica do ateliê enquanto trabalho, isto é, do processo – com suas manobras e soluções – enquanto matéria poética. Nisso eles se desloca da pintura moderna (e os filmes citados testemunham melhor que ninguém) na medida em que tanto no caso de Pollock quanto de Miró / Ellington, a ênfase recaía sobre a correspondência, e não necessariamente sobre a convergência entre meios artísticos. Mas, para nos atermos ao nosso ponto, devemos nos perguntar: o que há e o que não há em comum entre o Dable do ateliê coletivo e o que vemos aqui em sua mostra individual? Esta pergunta se mostra fundamental naquilo em que percebemos suas pinturas como uma condensação num objeto (a tela) daquele campo delineado pela performance. Mais além, nos indaga sobre qual o lugar do improviso – se improviso há – em seus trabalhos. Nesse ponto justo notamos sua incisiva reflexão sobre a pintura.

 

Retornemos momentaneamente a Pollock, tal como o filósofo francês Hubert Damisch analisava sua pintura: “A questão desses entrelaçamentos [ele se refere ao dripping] não é […] um dado sobre o qual a pintura trabalha: ela nasce do gesto, do qual traduz cada um dos desvios, a menor hesitação, as recusas. É a conquista de uma relação imediata […] Um quadro de Pollock não é apenas o resultado de um trabalho, produto acabado que escapa ao produtor, mas o registro das etapas sucessivas de gênese de uma obra em que cada gesto vem, por sua vez, modificar ou completar a estrutura¹”.

 

A lógica aqui descrita é oportuna e permite em certa medida ser transposta para as preocupações de Dable. E nelas sentimos a inflexão, ou melhor, ajuste, entre o improviso e a articulação de uma ordem pictórica. Isso pode ser melhor notado por três fatores: o valor maleável do desenho, o sistema de “cortes” de algumas pinceladas e a equalização de determinadas qualidades plásticas a um meio nem sempre afável a elas.  Desdobremos cada uma das partes.

 

O desenho nas telas de Dable oscila entre uma marcação inicial e uma final. A linha que corre os planos num momento serve para cercar uma área a ser pintada; noutro, delimita a superfície já pintada. Ela se esvai assim do mero caráter projetivo atribuído ao desenho, conferindo-lhe antes um valor de eixo para articular a relação entre esses planos, porém fazendo-o pela anulação de uma estrutura “imediata” de figura e fundo. Ele é um anti-contorno duplamente, naquilo em que não pré-determina o design da pintura, nem produz uma compartimentação que separa em definitivo as áreas, fazendo com que elas se permitam assumir valores conforme as relação com o todo e com segmentos vizinhos. O desenho pode, como dissemos, ser uma marcação final, mas ele não tem um sentido finalista de “concluir” a pintura, de lhe impor o “toque final”.

 

O sistema de “cortes” da pinceladas vai em sentido análogo. A impressão inicial que algumas partes podem suscitar é a de uma geometria, porém o contrário parece ocorrer. Afinal, a geometria é, queira-se ou não, uma estrutura senão aplicada, um instrumental previamente determinado a partir do qual o artista estabelece um método segundo o qual pretende conceituar o espaço dado da tela. Em Dable, as linhas e planos são antes a busca de um modo de definir até onde uma parte se assenta, quando separa ou junta duas áreas, como a pintura se organiza entre a contenção e o transbordamento da tela. Seria lícito, inclusive, perceber que não é contraditória a coexistência entre alguns desses cortes mais secos e a assimilação dos escorridos de tinta, uma vez que ambos trazem a justaposição entre uma dimensão física (a materialidade propriamente dita) e outra ótica (a organização espacial da tela, com seu jogo entre profundidade e superfície) constituintes da pintura, sem fazer a primeira tentar recalcar a segunda.

 

Por fim, o “atrito” entre certas qualidades plásticas e o meio que escolhem. Isto talvez soe estranho, mas se resume ao seguinte desafio: produzir transparências e veladuras com tinta acrílica. As características do acrílico não são das mais afáveis – aliás, tendem muito mais a serem arredias – a tal possibilidade. O acrílico exige execução ágil, na contramão da cadência demorada do óleo, que permite uma acumulação gradativa ou raspagens. A secagem rápida não daria margem para decisões ponderadas mais lentamente, como exigiria a obtenção de uma veladura. Ademais, um plano inferior pode deixar uma “cicatriz” naquele mais externo, dada a corporeidade adquirida pela tinta.  Ou seja, Dable obtém uma qualidade pictórica mediante condições razoavelmente hostis: ela precisa conciliar uma substancial quantidade de intuição com um timming das tintas e misturas de cores num gesto cuja chance do improviso comprometer irremediavelmente a pintura é considerável. Afora isso, há ainda o bom desafio de obter de uma determinada matéria aquilo que ela parecia não oferecer, levando-nos então a reconhecer o quanto um discreto passo é capaz de desencadear um repertório de novos problemas para a pintura.

 

Comprometer-se com a pintura, mesmo sabido que ela não credita mais a sua longa tradição um privilégio hierárquico, não deixa com isso de guardar grandes ambições e expectativas. Depende da sensibilidade em reconhecer diante de supostos limites a fresta que permite esse passo – não para além, nem para trás, tampouco para o lado – certeiro em ativá-la como uma linguagem apta a nos dizer e fazer descobrir sua enorme potência e atualidade.

 

Guilherme Bueno

 

 

De 09 de outubro a 10 de novembro.

Fotografias de Daniel Sasso

06/out

Um verdadeiro paradoxo toma conta do Museu do Trabalho, Porto Alegre, RS, quando as fotografias de Daniel Sasso, repletas de vivacidade e frescor invadem o espaço expositivo do Museu na mostra “Ideia Morta – A Frustração em Delírios Cintilantes”. Essa exposição no Museu do Trabalho é um desdobramento da mostra “Ideia Morta – A Frustração em Devaneios Coloridos”, apresentada por Sasso em 2010, na Livraria Cultura de Porto Alegre, sucesso de público e crítica. Publicitário, artista e principalmente fotógrafo, Daniel Sasso sempre mergulhou profundamente no estudo das mais diversas técnicas fotográficas. Daí o seu perfil ousado que mistura o tradicional com a inovação, captando imagens com técnicas rudimentares como a pinhole (câmera fotográfica sem lente), até a tecnologia digital de captura e tratamento. Inquieto, Sasso já está trabalhando em um novo projeto totalmente diferente do exposto no Museu, mas que ainda está em segredo.

 

Texto de Vitor Necchi

 

Há uma tríade de efes sugerida pelas imagens reunidas na exposição Ideia Morta – A Frustração em Delírios Cintilantes, de Daniel Sasso: fato-farsa-fantasia.

 

Cada palavra decorre de uma leitura, da maneira que se reage à visão nada corriqueira de uma mulher se lançando ao espaço, quando os pés se desgrudam de uma superfície elevada. Ou ainda quando ela se detém sobre trilhos, confrontando o vagão que se aproxima. Não há fim em nenhuma delas – tudo é começo. Cada cena surpreende e instaura uma nova possibilidade, principalmente para quem traduz o mundo ancorado na vida que se tem, e não na que se poderia ter.

 

Fato. Se encaradas dessa forma, esta seria a associação imediata: suicídio. Esqueça-se disso. O mundo está farto de literalidade. No universo das possibilidades sugeridas pelo trabalho de Daniel, abandone a leitura que cumpre o protocolo da obviedade. O mundo pode ser tão previsível que o entendimento das pessoas beira a grosseria, deformação de olhos viciados, embrutecidos ou preguiçosos. A vida é mais do que fatos.

 

Farsa. Esqueça também. Não existe tapeação nessas imagens que sugerem mulheres aladas e destemidas, quase mitológicas, quase impossíveis, senhoras do acaso. Não há engodo, mentira, embuste. Não seja ingênuo em pensar que a fotografia guarda compromisso com a realidade. Nem mesmo da foto documental se poderia exigir um estatuto de verdade, como se o registro fosse testemunho de fé sobre a existência de algo. A verdade é uma perspectiva, um compromisso do autor com a situação ou o personagem fotografados. Trata-se de uma relação ética, uma intenção. A farsa resulta da traição do olhar de quem faz – ou de quem vê.

 

Fantasia. Bem-vindo seja a este reino tão necessário e abandonado. Humanos são terrestres e não nasceram para voar, mas as mulheres de Daniel conseguem mais do que meramente caminhar porque o artista se insurge. Ele desdenha a previsibilidade dos fatos e a doença coletiva que torna o olhar refém da mesmice. Se manipulou, se de fato flagrou uma das cenas, pouco importa – a fantasia independe do que se vê, ela resulta de como se vê. Sem ela, resta a loucura.

 

 

Até 23 de novembro.

O vasto mundo de Romy

29/set

A fotógrafa Romy Pocztaruk exibe em exposição individual na SIM Galeria, Batel, Curitiba, PR, com fotos e vídeos realizados em diversos países que viajou observando os detalhes arquitetônicos das cidades que foram sedes de Olimpíadas durante a história. O mote é o Brasil, o próximo país olímpico, em 2016. A mostra, denominada de “Um, vasto mundo”, apresenta imagens das vilas olímpicas de Berlim, na Alemanha, que organizou o evento esportivo em 1936, e Saravejo, na Bósnia, sede de 1984. A partir dos resquícios abandonados, na maior parte das vezes instalações em ruínas, a artista rastreia o impacto do evento, que caracteriza como “apocalíptico”. A curadoria é de Gabriela Motta. Destaque da cena nacional, Romy Pocztaruk inaugurou exposição individual no Santander Cultural, Porto Alegre, RS, e participa da delegação brasileira na atual edição da 31ª Bienal Internacional de São Paulo.

 

 

Um vasto mundo

 

O exercício de olhar, olhar, olhar e de novo olhar estas e outras dezenas de imagens traz à tona uma constante no percurso da Romy: a viagem como trabalho. Amazonas, Islândia, Uruguai, Alemanha, Nova Iorque, Bósnia, China são algum dos lugares para os quais a artista apontou sua câmara. No entanto, ao ver as imagens, salvas poucas exceções, não é possível dizer precisamente em qual país cada uma delas foi feita. Os trailers estacionados estão na Islândia ou no Uruguai? Os restos de concreto tomados por vegetação são sobras de obras em Manaus ou em Sarajevo? O carro funerário está ao lado de um prédio administrativo ou do muro de Gaza ou de uma igreja em Reykjavík? A resposta “certa” dessas perguntas é sempre a segunda opção: Uruguai, Sarajevo e Reykjavík; mas a insistente indefinição geográfica das imagens conduz a outras reflexões.

 

Quando se sabe em que lugar cada fotografia foi feita, claro, contextualizam-se as imagens, atribui-se a elas uma história, um clima, uma identidade. No entanto, tudo isso logo se perde novamente, fazendo emergir do conjunto de trabalhos uma tônica dominante que revela não o específico de cada lugar, mas o comum de todos eles. Essa imprecisão dos locais nos leva à compreensão de um mundo não delimitado por fronteiras políticas, aquelas que acabam sempre, em algum momento, gerando guerras, mortes, destruição. Uma constante entre tantas outras que nos definem.

 

Ao reconhecer a importância da viagem para o trabalho da Romy, é preciso comentar esse tipo de procedimento em relação à arte como um todo. Muito se fala de uma pegada etnográfica da arte contemporânea. Pelo menos desde os anos 1970, identifica-se uma parcela de artistas preocupada em investigar/entender outros mundos além daquele que lhes diz respeito. Isso também, reiteradamente, aponta para a fragilidade desse modo de agir, geralmente moldado por vícios de um olhar exterior aos contextos, incapaz – porque é mesmo impossível – de se libertar de seus próprios códigos. De fato, esse problema já era reconhecido pelos próprios etnógrafos, como Lévi-Strauss, que falava da equivalência das culturas e da limitação de falar de algum povo sem fazer parte dele.

 

Quando a imagem fotográfica é o principal meio através do qual se materializa a obra de um artista, por sua vez, construída a partir de andanças pelo mundo, a relação com esse outro se complica ainda mais, já que a tendência é associar a fotografia à realidade. Por mais que já tenha se escrito muito sobre o risco de se entender a fotografia como meio privilegiado para tratar do real, ainda costumamos vê-la como apreensão e registro de alguma verdade. Entretanto, a única verdade de uma foto é sua própria realidade, tamanho, cor, contraste, textura, recorte de imagem. Elas até podem partir de um “real”, mas jamais irão além daquilo que enquadram, do espaço que escapa à lente do fotógrafo.

 

Assim é que a obra da Romy, o recorte aqui apresentado, se situa entre um procedimento etnográfico que não tenta destacar do estrangeiro seu exotismo e o entendimento da fotografia enquanto imagem construída. No olhar da artista sobre o “outro”, sobre a paisagem cultural estrangeira, há pouco sobre o específico de um povo, de uma região, de um país. Nessas fotografias, há muito sobre o que nos equipara, sobre o que nos torna sempre o mesmo homem, que destrói, constrói, arruma a casa, transporta seu mundo sobre quatro ou duas rodas. Entender-se como igual, nem mais, nem menos, nem melhor, nem pior é um partido que não necessariamente nega as singularidades da cada indivíduo, mas assume aquilo que temos em comum como o verdadeiramente extraordinário de todos nós.

 

Ao mesmo tempo, esses trabalhos de Romy insistem em nos lembrar que, como as palavras desse texto, fotografia é linguagem. Enquanto linguagem, essas imagens não encerram um sentido, e sim uma multiplicidade de significados, tanto sobre suas características individuais quanto sobre o real do qual partem, bem como sobre quem as fez. Porém, ao contrário do que se poderia concluir, a autonomia dessas imagens não as retiram do mundo do qual partem. Essas fotografias, ao se apresentarem também como linguagem, assumem a ambiguidade do meio, contribuindo para o sentimento de dúvida gerado pelo conteúdo das imagens.

 

 

Arrumar a casa

 

Dois interiores. Duas salas arrumadas, cores, flores, cadeiras, quadros na parede. Um ambiente doméstico que, em breve, receberá quem vive ali. Duas casas, uma na China e outra na Amazônia. Tão distantes e tão próximas, porque feitas por gente: cabeça, ombro, joelho e pé. Tudo igual, tudo radicalmente o mesmo e diferente. O instante captado no relógio da casa brasileira também permite congelar o tempo na China. Enquanto aqui o sol está prestes a atingir seu ápice, lá a noite já chegou. No dia seguinte, o ciclo se repetirá, as tarefas do dia serão realizadas, as cadeiras receberão o peso dos corpos. Talvez nossa maior diferença não passe das onze horas de fuso horário que nos distanciam.

 

 

Habitar espaços

 

Há um conjunto de fotografias de rastros de ocupação no interior de algumas ruínas. Não se sabe por que essas construções foram abandonadas. Intui-se que, como sempre, a violência ou o descaso esvaziaram esses lugares. Nas três imagens, janelas se abrem para o exterior, fazendo com que o ar atravesse esses ambientes, arejando-os. As carcaças desses prédios e os vestígios de novos usos dessas estruturas fazem com que se sobressaia dessas imagens muito mais uma noção de transformação do que de pesar. Ao mesmo tempo, a dramaticidade das fotos apresenta esses lugares como cenários. Assim como aqueles que, possivelmente, ali realizaram um ritual, uma pintura, um espetáculo teatral, Romy também ocupa esses lugares, enquadra-os atenta às sobreposições temporais e de uso que abrigam.

 

 

Inventar imagens

 

A imagem de quatro colunas que abre a exposição se conecta àquela de uma construção no deserto. Enquanto a miragem que vemos ao longe é “real”, uma construção perdida no meio de um mundo de areia, as colunas, altivas e imponentes num outro deserto, são “falsas”, restos de um set de filmagem. Esse jogo entre o que é visível e o que não é – por exemplo, quando vemos as colunas, mas não vemos sua artificialidade – se revela agudamente nessas fotografias e atravessa todas as obras aqui reunidas.

 

Romy manipula habilmente aquilo que tem em mãos, o aparato tecnológico capaz de gerar imagens. A máquina a serviço de um olhar que se quer sempre múltiplo, ambíguo, abrangente. Assim, a artista compartilha com o espectador um olhar perplexo com uma certa dureza do mundo. Mas, sobretudo, nos convida a duvidar dessas e de todas as imagens e de qualquer ideia de verdade absoluta.

 

Gabriela Motta

 

 

Até 31 de outubro.