Bechara na Simões de Assis

25/jul

O artista plástico José Bechara inaugurou exposição individual de seus trabalhos na Simões de Assis Galeria, conceituado espaço situado no Batel, Curitiba, PR. A mostra recebeu edição de um esmerado catálogo com reproduções das atuais criações do importante artista contemporâneo. O texto de apresentação traz a assinatura do crítico de arte e curador Felipe Scovino.

 

 

Pintura contaminada pela poeira do mundo

Texto de Felipe Scovino

 

No Brasil, o legado das tendências construtivas, ao longo da segunda metade do século XX, foi uma constante com algumas variáveis. A geração que se estabeleceu logo após o fim do neoconcretismo teve influências tanto da Pop quanto da arte conceituai, ainda que tenha criado uma linguagem muito própria e inventiva, sem abdicar em maior ou menor grau do abstracionismo geométrico, como foram os casos, por exemplo, de Antonio Dias, Carlos Vergara, Cildo Meireles, José Resende, Rubens Gerchman e Roberto Magalhães. Outras pesquisas estéticas, tais como as de Mira Schendel, Paulo Roberto Leal e Raymundo Colares, tiveram uma aproximação maior com as tendências construtivas e, sem dúvida, arquitetaram uma condição nova e abrangente para essa pesquisa. As obras desses três artistas, por exemplo, criaram uma superfície pictórica orgânica e fluída.

 

 

Era um novo entendimento sobre como o construtivismo tendia cada vez mais a um discurso sobre o sensorial. José Bechara e uma determinada parcela da geração em que está incluído — como Carlos Bevilacqua, (as primeiras obras de) Ernesto Neto e Raul Mourão — estendem essa vertente ao trabalharem de uma forma harmônica e orgânica com o metal – seja o aço, o ferro ou o cobre — como material para esculturas ou, especialmente no caso de Bechara, como matéria pictórica. Um primeiro ponto que sempre me chamou a atenção em sua obra foi o fato de substituir a tela branca por uma superfície suja, poeirenta, impregnada de história, que são as lonas usadas de caminhões. Esse é o primeiro passo para entendermos o aspecto orgânico — expressão clichê, mas que, aqui, perde efetivamente sua impotência para ganhar outra validade — de sua obra e como a forma cria mais uma variável para esse acento geométrico na arte brasileira. O artista sobrepõe camadas de tempo ao fazer uso de processos de oxidação daquele material. Bechara incorpora a morosidade da oxidação como condição para a aparição do aleatório. As modificações que ocorrem — marcas, texturas e manchas — tecem uma sobreposição de volumes, cor e textura. Em outros momentos, ele divide a lona entre uma parte marcada por esse processo de oxidação e outra, pelas marcas que foram adquiridas por aquele material ao longo de seu uso na estrada. São linhas construídas ao acaso, signos de memória, que passam em um gesto poético a serem incorporados como pintura.

 

 

Ademais, o artista faz uso da grade, elemento simbólico da gênese da pintura construtiva (vide os construtivistas russos e Mondrian) que, no pós-guerra, ganha distintas leituras (de Robert Ryman a Agnes Martin, passando por Gerhard Richter e Lygia Pape), como uma possibilidade real e precisa de criar uma perspectiva ilusória. Segundo Dan Cameron, “a grade lentamente se desenvolveu de um dispositivo usado para ajudar a criar uma ilusão espacial para um sistema que se impôs sobre o espaço propriamente dito.” A grade declarou a modernidade da arte ao ajudá-la a conquistar sua autonomia e, “em parte”, a dar as costas à natureza. Para Sennet, “a convicção de que as pessoas podem expandir os espaços infinitamente — através de um traçado em grade — é o primeiro passo, geograficamente, de neutralizar o valor de qualquer espaço específico.” Em Bechara, a grade aparece como um ato transformador. Antes de tudo, porque as linhas que a delimitam são tortas, sujas e erradas, assim como toda a superfície da lona. Há uma outra ordem para essa composição geométrica, minimalista e precisa. Suas obras são sobrevoadas por uma atmosfera ruidosa, poluída, violenta, urbana, na qual caos e ordem estão misturados. E é exatamente por isso que sua obra é extremamente real e viva. De alguma forma, a velocidade e a dinâmica que fizeram parte da história daquelas lonas são transferidas para as composições criadas pelo artista. E, ainda, a grade em determinados momentos parece avançar sobre o espectador, e em outros recua como se o que interessasse fosse tornar visível as figuras que são construídas aleatoriamente pelo processo de oxidação e por suas próprias linhas, tortas e precárias. E esse grito de defeito, de que algo deu errado que faz as obras de Bechara serem demasiadamente humanas. Ao aproveitar o que já vem dado pela lona — riscos e manchas —, o artista cria um novo repertório de traços e linhas que magistralmente equilibra passado (história e memória) e presente (a ressignificação da pintura — e por que não do desenho? — e da própria ideia de gestualidade).

 

 

Em sua série mais recente, Bechara intensifica a aparição da grade, pois sua composição se torna mais fechada e apresenta sucessivas camadas que, ao se sobreporem, “apagam” a “pele” da lona. Todavia, o plano se torna ainda mais dramático — como se a um olhar leigo fosse possível criar drama apenas e tão somente pelo cruzamento de linhas verticais e horizontais, e é aqui que a deflagração poética transforma a banalidade e o ordinário em um acontecimento mágico e encantador — com a incapacidade em denotarmos o que é figura ou fundo, pois a perspectiva se transforma amplamente em uma experiência ilusória. A oxidação, porém, continua presente e cria zonas gráficas e de interferência cromática que continuam transformando essas obras em uma espécie de canteiro de obras. E um processo sucessivo de decantamento (ao aplicar a emulsão sobre a lona, a oxidação derivada desse processo precisa de um repouso para a sua ação) e encantamento. Bechara é um artista incansável, pois estão lá gravados, na lona, sua força, sua participação, sua investigação de materiais e técnicas; como uma experiência biológica, assistimos ao jogo de forças e presença que a emulsão de cobre ou aço, o uso da palha de aço e a corrosão derivada desse processo realizam sobre a superfície da lona.

 

 

Suas esculturas não constituem uma outra fase de produção em relação às pinturas, pois são diálogos pertinentes e imbricados. Sua mais recente série de obras, denominada Enxame ou estudos para uma aproximação de suspensos (2013-14), torna clara essa aproximação. Ela possui um papel intermediário nessa aproximação entre a bidimensionalidade e o ar. São caixas de madeira cujo interior é formado pela sobreposição, com pequenos intervalos, de placas de vidro. Sobre as placas, há a aplicação de tinta spray de distintas cores que, como um pincel, imprime um preciso e livre jogo de formas geométricas. No fundo de algumas dessas caixas, placas de madeira cortadas, que acentuam não só o legado construtivo na obra de Bechara mas também a pesquisa sobre cor e planaridade que tanto interessa a sua produção. Na construção de uma relação óptica e ilusória, essas obras parecem lançar ao espaço as linhas e campos de cor, fazendo que com que elas bailem por entre os vidros.

 

 

E essa constituição de um desenho no espaço que cria o diálogo entre suas pinturas e esculturas. Especialmente na série Esculturas gráficas, a tridimensionalidade pertence mais ao ar do que à terra. E essa imagem advém principalmente pelo fato de Bechara equilibrar cheio e vazio, o dentro e o fora. Seus volumes preenchidos de ar nos fazem ver aquelas formas como estruturas gráficas suspensas do papel e tendo o espaço como seu habitat. Mesmo sendo esculturas, ficam na fronteira entre a bidimensionalidade e a tridimensionalidade. E mais um fator que nos ajuda a compreender essa fronteira borrada é como o artista continua a investigar a cor. Esses monocromos tridimensionais elevam a cor que estava no plano do papel ou da lona para a superfície. Criam formas gráficas suspensas que se equilibram minimamente, transmitindo uma sensação de precariedade e instabilidade, entre o balanço de preenchidos de vazio e outro com grande carga cromática. Não me parecem que ocupam o espaço de uma forma vigorosa e pesada, mas pousam sobre ele. Há uma sensação de que o peso foi retirado daquelas estruturas, e elas simples e decisivamente ganharam leveza e um ritmo que as leva a ocuparem e se infiltrarem naquela área de uma maneira cadenciada. Por outro lado, a série Open House traz uma velocidade caótica e desorganizada. E importante relatar que, nesse percurso de experimentação acerca do espaço, a casa é um arquétipo freqüente na obra do artista. Entretanto, é uma casa que procura ser esvaziada, como presenciamos na série em questão, pois, ao mesmo tempo que parece desejar ser ocupada pelo vazio, expulsa o que contém ou que estava sendo mantido em âmbito privado. As duas séries de esculturas se situam em uma zona de conflito, porque, nessa imagem dionisíaca e hostil de uma escultura que se faz no turbilhão do caos, o artista quer demonstrar que “o vazio tem solidez, é uma matéria.” E um vazio que se coloca como personagem de um enredo trágico.

 

 

 

Desde 24 de julho.

Mesa-redonda e Lançamento

21/jul

A Galeria Mamute, novo espaço de arte contemporânea, situado no centro histórico de Porto Alegre, RS, convida para mesa-redonda com os artistas residentes Andreia Vigo, Nelton Pellenz, Walter Karwatzki e a curadora Niura Borges.  Serão abordados o processo criativo e as produções desenvolvidas durante o projeto de residência artística  em vídeo da Galeria Mamute, a “Videoresidência Território Expandido”.

 

Neste mesmo dia ocorrerá o lançamento do catálogo do projeto e DVD com as obras dos artistas.  “Videoresidência Território Expandido” foi contemplado  com o Prêmio Rede Nacional Funarte Artes Visuais 10ª Edição.

 

 

Local: Galeria Mamute, Rua Caldas Júnior, 375, dia 23 de julho, às 18h.

 

Galeria Beatriz Abi-Acl exibe Júlio Hubner

26/jun

Em sua nova exposição individual, Júlio Hübner muda radicalmente seu estilo para fazer uma reflexão sobre a importância das vias públicas em nossa sociedade e exibe a série “Via Pública ou Marginal – Trajetos da Nação sem Noção”. na galeria de arte Beatriz Abi-Acl, bairro Lourdes, Belo Horizonte, MG.

“A rua sempre exerceu em mim um grande fascínio”. Assim, Júlio Hübner começa a falar sobre as suas mais recentes obras, inspiradas nos espaços públicos.

 

 

O asfalto áspero, as placas de sinalização de trânsito, as pessoas andando apressadamente contra o tempo, os veículos cruzando para um lado e outro. Tudo estava acomodado em seu subconsciente, até que alguns acontecimentos fizeram aflorar todo esse fascínio. O grito “vem pra rua”, ouvido nas manifestações populares nos meados do ano passado, o levou literalmente para a rua e fez brotar a necessidade de traduzir plasticamente esse sentimento.

 

 

Da mesma forma que a mobilização popular lhe serviu de inspiração, ao visitar países europeus em 2013 ficou fascinado com as autopistas alemãs, onde pode exercer o prazer de dirigir em alta velocidade. Não lhe passaram despercebidas algumas sinalizações de trânsito bem diferentes das usadas em nosso País. Daí, o grande desafio de levar para as telas essa nova inspiração. “A rua é rude, o asfalto é áspero, por isso a solução encontrada foi representá-la tal como ela é, trocando apenas o cinza do asfalto pelo negro texturizado e as faixas ou cores, representadas com espessas camadas de tinta acrílica, o que ressaltou a qualidade das obras, tirando-as do lugar comum das tradicionais pinturas”, destaca o artista.

 

 

Nesse novo trabalho, ele rompe com seu estilo de pintar a sensualidade do corpo, estilo esse que lhe rendeu prêmios, como “Honra ao Mérito Artístico Cultural”, concedido pela Academia Brasileira de Arte e Cultura e pela Secretaria Estado de Cultura do Governo de São Paulo. “Com o passar do tempo, deparei-me com a necessidade de novos desafios”, explica. Agora, as 20 obras que integram a mostra individual intitulada “Via Pública ou Marginal – Trajetos da Nação sem Noção”, são mais concretas.

 

 

Na montagem da exposição, Júlio Hübner vai projetar sobre um políptico composto por seis telas de 1,80 cm x 1,80 cm, sombras de manifestantes nas ruas de Belo Horizonte. De forma simples e minimalista, onde o menos é mais, Júlio Hübner transforma os símbolos encontrados nas ruas em imagem que produzam significados diferentes se vistas sozinhas ou em conjunto. É o caso das obras “Princípio, “Meio” e “Fim”, com faixas desencontradas representando o povo que, com a ajuda das redes sociais, consegue se alinhar em busca de uma melhor administração pública. Já a obra “Governados, desgovernados e governantes” representa o símbolo maior da Capital Federal.

 

 

 

De 03 a 27 de junho.

 

Experimentos em Narrativas

16/jun

Galeria Mamute, Centro Histórico, Porto Alegre, RS, abriu a exposição “Sobre Tempos e Narrativas”, individual de Marcelo Gobatto. A mostra “Sobre tempos e Narrativas” apresenta o produto de investigação do artista visual Marcelo Gobatto sobre o tempo, cujo ponto de partida é o filme-ensaio produzido durante sua pesquisa de doutorado. Ao lado de produções mais recentes, são apresentados fragmentos de narrativas e imagens de algumas produções realizadas entre 2000 e 2008 junto com cenas de filmes emblemáticos dos diretores do cinema moderno como Michelangelo Antonioni, Alain Resnais, Robert  Bresson, Ingmar Bergman e Yazujiro Ozu.

 

Ao explorar o uso de fotografias, relatos e paisagens sonoras, Marcelo Gobatto cria ficções sobre nossas relações com a memória, o afeto e o real. A disposição das obras no espaço da Galeria Mamute e algumas estratégias de difusão utilizadas pretendem que a exibição,  em seu conjunto, proponha um questionamento (talvez político, mas sempre poético e filosófico) sobre nossa percepção do tempo e do espaço.

 

 

Até 05 de julho.

Téti Waldraff no MAC-RS

09/jun

O Museu de Arte Contemporânea do Rio Grande do Sul, Centro Histórico, Porto Alegre, RS, inaugura a exposição “JARDIM EM FLOR”, uma panorâmica de 25 anos da artista Téti Waldraff. A mostra entra em cartaz na Galeria Xico Stockinger, 6º andar da Casa de Cultura Mario Quintana, Porto Alegre, RS. A curadoria é da crítica de arte Paula Ramos.

 

 

Texto do diretor do MAC-RS

 

A exposição JARDIM EM FLOR da Téti Waldraff é uma intensa e radiante ode a vida, aquela que pulsa na natureza e é apreendida com sensibilidade pela artista em centenas de desenhos e objetos, com múltiplas formas e cores, traduzindo na sua arte, cheia de força e verdade próprias, o significado do “exercício experimental de liberdade”, como Mario Pedrosa conceituava o fazer artístico. O que também podemos sentir na obra da Téti é a capacidade infinita que o verdadeiro artista tem de se deslumbrar com a natureza e a vida.

 

André Venzon

 

 

Texto da curadoria

 

Uma das lembranças mais vívidas de Téti Waldraff (Sinimbu, RS, 1959) é do período em que, menina, percorria e observava o primoroso jardim mantido pela mãe. O amor que Dona Íris devotava às plantas e o modo como distribuía as espécies, harmonizando formas e cores, foram alimentando desde cedo o olhar e a sensibilidade de Téti, que, quando percebeu, também cultivava jardins. Reais ou fictícios, eles são como a própria artista: lúdicos, desembaraçados, obsessivos. E, fundamental: plenos de memórias e afetos.

 

Pode-se dizer que tudo, na sua obra, é resultado de encontros. Para Téti, é essencial vaguear pela cidade, deixar-se surpreender pela natureza, respirar o mato verde do distrito de Faria Lemos, no interior de Bento Gonçalves, onde mantém ateliê. Os registros desses percursos, depois elaborados, manifestam-se nos diários da artista, nos quais escreve, projeta, risca, colore, fixa imagens e impressões. Anotações pessoais e, ao mesmo tempo, documentos de trabalho, esses cadernos revelam procedimentos similares aos verificados em seus desenhos e objetos: sobreposição, aglutinação, colagem, costura, embrulhamento, amarração.

 

Tais processos despontaram no final dos anos 1990, quando, perguntando a si mesma se ainda poderia pintar uma paisagem, Téti trocou os materiais tradicionais por uma miríade de tecidos, lantejoulas, flores de plástico, botões e artefatos hodiernos frequentemente qualificados como kitsch. Fascinada por seus brilhos, transparências e texturas, passou a construir jardins ambulantes, cujos títulos sugerem a capacidade de ressignificação de nossas bagagens cotidianas.

 

Organizada como uma pequena antologia, a mostra articula trabalhos de mais de 25 anos de perseverante e contínua produção, escancarando o transbordamento de emoções dessa artista e arte-educadora que resolveu fazer da vida um ato potente de arte.

 

Paula Ramos

 

Mediação educativa para a exposição

 

A artista ministrará ainda a oficina: “TRIPADEIRAS… EXTENSÕES QUE ANIMAM!” para professores, estudantes de arte e interessados inaugurando o Espaço Vasco Prado do MACRS, no 6º andar da CCMQ, como espaço educativo do Museu. A atividade pedagógica tem como objetivos principais: Atiçar a observação cotidiana para que seja possível constituir memórias afetivas dos espaços que habitamos e a partir desta percepção recriar /inventar/propor novas geo-grafias; Buscar a essência do convívio com a natureza, sem o compromisso de imitar ou reproduzir o real; Explorar a forma, a cor e a linha da natureza, ativando as memórias já constituídas; Construir metáforas singulares; Experimentar o exercício de pintura/desenho expandido, visando procedimentos construtivos artísticos contemporâneos;

 

Desencadear questionamentos sobre intervenções artísticas no espaço. A oficina será desenvolvida no turno da tarde, das 13h30min às 17h30min (4 horas), em sete momentos de trabalho em grupo, partindo de uma visita guiada com a artista à exposição, passando pela processo de criação de “tripadeiras” individuais até a troca destes trabalhos entre os participantes ao final do processo. As datas e inscrições da oficina serão divulgadas no facebook.com/contemporanears, a partir do dia 11 de junho.

 

 

Sobre a artista

 

Téti Waldraff nasceu em Sinimbu, RS, 1959. ) Possui Licenciatura em Educação Artística, Feevale, Novo Hamburgo, RS, 1979; Licenciatura em Artes Plásticas, Instituto de Artes da UFRGS, Porto Alegre, RS, 1984; Bacharelado em Artes Plásticas – Habilitação Desenho, Instituto de Artes da UFRGS, Porto Alegre, RS, 1986. Com formação complementar em curso de desenho com Carmen Moralles, Atelier Livre, Porto Alegre, RS, 1980/1982; Curso de desenho com Marcos Coelho Benjamim, 16º Festival de Inverno, Universidade Federal de Minas Gerais, Diamantina, MG, 1983; Curso de pintura com Karin Lambrecht, Instituto Goethe, Porto Alegre, RS, 1983; entre as exposições individuais realizadas destacam-se: “Finitus… ou configurar a geografia por um instante”, intervenção no Espaço Cultural de Arte Contemporânea Torreão, Porto Alegre, RS, 1994; e “Téti Waldraff.- Bagagem de Jardim”, Kunsthalle Köln-Lindenthal, Kulturgalerie Bi Pi´s Köln, Alemanha, 2006.

 

 

 

De 10 de junho a 10 de agosto.

Julia Kater na SIM galeria

05/jun

A SIM galeria, Curitiba, Paraná, exibe nova série de trabalhos fotográficos realizados por Julia Kater. A apresentação desta mostra individual da artista é apresentada por Eder Chiodetto. Julia Kater exibe um conjunto especial de imagens em sua particular técnica constituída de relevo seco sobre fotografia impressa em algodão.

 

 

O elogio do encontro

 

Uma garota se curva até o solo e nesse movimento suas costas desenham um arco que casualmente ecoa e dá novo sentido ao conjunto de árvores que estão ao fundo. Figura e fundo, assim captados, não podem mais se dissociarem diante de nossa visão. Ambos passam a ter uma conexão física tão intensa, que tendem a deixar de ser primeiro e segundo plano, para se manifestarem como uma superfície homogênea.

 

Julia Kater cria, em diversos momentos de sua trajetória como artista visual, hiatos que interrogam a fotografia no seu nascedouro. A linguagem que surgiu com a intenção de mimetizar a realidade por meio da perspectiva renascentista – criando assim a ilusão de tridimensionalidade num suporte plano – vê-se desvelada dessa pseudo potência nas várias estratégias criadas por Kater.

 

Kater parece sequestrar as distâncias entre aqui e acolá, entre o que está próximo e o que parece distante. Ao subtrair esses espaços que distam figura e fundo, os corpos se amalgamam em sobreposições que sugerem novos desenhos, novas intersecções que criam um novo e inesperado organismo. Inesperado? Talvez nem tanto para quem, no desafio de observar atentamente a paisagem e seu entorno, perceba cenários em movimentos contínuos, que se alternam e se recombinam o tempo todo. As séries de Kater nos dizem que nada é estático, tudo está apto a ser recriado com novas informações, cores e texturas.

 

Ao raptar os espaços que a fotografia, de fato, não nos mostra – mas para os quais nossa percepção visual foi culturalmente treinada pela história da arte e da representação para assimilá-los – Kater cria colisões que geram o que podemos nomear de eventos escultóricos efêmeros.

 

As inéditas obras da série “Um e Outro”, criadas para essa primeira individual de Kater na SIM Galeria, apontam novos desdobramentos na busca incessante por esses eventos escultóricos fortuitos, que a artista tem apreendido nos últimos anos. Os planos fotográficos agora se rebelaram a ponto de escaparem da moldura que os encerravam, como nas séries “Ao Mesmo Tempo” e “Lugar do Outro”, por exemplo.

 

Essa inesperada cisão, que gera dois corpos isolados, traz elementos renovados para as relações entre figura e fundo e parece criar um novo foco de interesse da artista, que consiste na fatura quase impossível de se representar no mesmo plano, que é a relação entre o observador e o que este observa na paisagem.

 

Novamente uma garota – será a mesma que curvou as costas diante das árvores? – sugere com sua postura, que está observando algo num horizonte que não nos é possível enxergar. Apenas sugere porque Kater oblitera nossa visão do rosto da garota interceptando-a bruscamente com outro quadro, outro plano. Somos levados instintivamente a pensar em causa e efeito: a garota flerta com a paisagem e, nessa deambulação, ela é envolvida quase inteiramente por aquilo que vê.

 

Se nas séries anteriores o evento escultórico se dava pelo confronto e justaposição de dois corpos distintos, que tendiam a criar um novo desenho-organismo, agora em “Um e Outro”, temos um observador que é tomado por aquilo que ele observa. É ele quem elege na paisagem o elemento que irá transformá-lo. Nessa inversão sutil de ponto de vista, a artista parece se ausentar momentaneamente e deixar de orquestrar os encontros entre figura e fundo, para que o observador fotografado por ela lhe indique aquilo que tem o poder de transformá-lo pelo sentido da visão.

 

O estilete com o qual a artista criou as conhecidas incisões na superfície das suas fotografias, para revelar novas camadas significantes sob a paisagem, nesse instante foram transferidos para os olhos dos personagens que ela encontra em seu cotidiano.

 

Escultóricos, orgânicos e desafiadores, esses novos trabalhos de Julia Kater fazem uma espécie de elogio ao encontro entre pessoas, paisagens e histórias. Afinal, são sempre os encontros que nos propiciam transformações nos roteiros que seguimos, desenhando no fluxo contínuo da vida.

 

Eder Chiodetto

 

 

 

Sobre a artista

 

Julia Kater nasceu em Paris, França, em 1980. Vive e trabalha em São Paulo, Brasil. Possui formação em fotografia pela Escola Superior de Propaganda e Marketing – ESPM, São Paulo, SP, Brasil. Entre suas premiações encontram-se 2012, Residência Artística, Carpe Diem Arte e Pesquisa, Lisboa, Portugal e em 2011, Prêmio Funarte de Arte Contemporânea, São Paulo, Brasil. Realizou exposições individuais em 2014, Caixa Cultural Brasília; Galeria Vitrine, Brasília, DF; 2013, Projeto 3C, Centro de Criação Contemporânea, Salvador, BA; 2012, Galerie Virginie Louvet, Paris, França; Ao Mesmo Tempo, Fundação Abraço, Lisboa, Portugal; Lugar do Outro, Zip´up, Galeria Zipper, São Paulo, SP. Entre as exposições coletivas que participou destacam-se: 2013, Carla Chaim, Julia Kater, Marcia de Moraes, Casa do Brasil em Bruxelas, Bélgica; 2012, Soma, Genebra, VL Contemporary, Suíça, Inventário da Pele, Fotografia Contemporânea Brasileira, Curadoria Eder Chiodetto, SIM Galeria, Curitiba; 2011, Carla Chaim, Julia Kater, Marcia de Moraes: Um de Três. Prêmio Funarte de Arte Contemporânea, Galeria Flávio de Carvalho, Complexo Cultural, Brasilia, DF, About Change, Banco Mundial, Washington, EUA, Outras Perspectivas, Espaço Texprima, São Paulo, SP, Idioma Comum, Artistas da CLPL na Coleção da Fundação PLMJ, Lisboa, Portugal; 2010, Projeto Dobradiça, Curadoria Eder Chiodetto, Arterix, São Paulo, SP, 12º Salão Nacional de Arte de Itajaí, Itajaí, SC, Incompletudes, Curadoria Mario Gioia, Galeria Virgílio, São Paulo, SP, Fidalga no Paço, Paço das Artes, São Paulo, SP, SP-ARTE, site specific, Pavilhão da Bienal, São Paulo, SP; 2009, Projeto Tripé, Natureza, SESC Pompéia, São Paulo, SP.

 

 

De 10 de junho a 12 de julho.

Marcos Duarte no MAC/Niterói

04/jun

A instalação VOCÊ JÁ VIU UM?, de Marcos Duarte, será exposta na área externa do MAC, Museu de Arte Contemporânea de Niterói, durante o período de realização da Copa do Mundo de 2014. A obra nos remete à dimensão lúdica e híbrida da materialidade do tatu-bola, um ser estranho, hábil no curvar-se em si mesmo para se defender, adotando forma de bola. Esta singular forma de defesa, paradoxalmente, facilita sua captura e contribui com sua condição de vulnerabilidade na natureza.

 

Nas 11 peças que se distribuem no espaço, bola e bicho mesclam seus atributos híbridos. São sólidos, múltiplos, em escala ampliada, que exaltam a singularidade daquele que, como mascote da Copa do Mundo de 2014, se destina a desaparecer no fluxo de um evento espetacular. A intenção é de resgatar, simbolicamente, o tatu-bola do vácuo que acompanha sua popularidade repentina e fugaz, no momento singular de interferência em uma paisagem que expressa seu acolhimento através de sua natureza essencialmente curva, em contraponto ao ícone arquitetônico de Oscar Niemeyer, às margens da Baía de Guanabara. O artista é um dos representados da MUV gallery, o novo espaço de Camila Thomé e Stephanie Afonso.

 

 

De 07 de junho a 24 de agosto.

Nuno Ramos na Fundação Iberê Camargo

30/mai

A Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, RS, apresenta a mostra “Nuno Ramos – Ensaio sobre a dádiva”. Pensando o conceito antropológico de dádiva  – troca entre dois objetos distintos com base em valores simbólicos, e não econômicos  – o artista desenvolveu o trabalho especialmente para o espaço do 4º andar da Fundação, em diálogo com a arquitetura do edifício. Na exposição, que tem curadoria do crítico de arte e filósofo Alberto Tassinari, objetos se lançam no vão do espaço expositivo e ocupam o interior das salas, acompanhados por dois curtas-metragens intitulados “Dádiva 1 – copod’águaporvioloncelo”  e “Dádiva 2 – cavaloporPierrô”, desenvolvidos pelo artista e produzidos em Porto Alegre pela Tokyo Filmes.

 

Toda a instalação gira em torno dessas duas trocas, que se desdobram em três formas: escultura, vídeo e réplica da escultura. Na sala de “Dádiva 1”, um pedaço de barco – elemento recorrente na obra de Nuno – se projeta sobre o parapeito da sala, sustentando um violoncelo sobre o vão do átrio e fazendo a ligação entre ele e o copo d’água. Na parede oposta, é exibido o curta-metragem correspondente, que mostra uma mulher recolhendo o copo d’água na praia, trocando o objeto por um violoncelo em um bar e devolvendo o violoncelo para a água. No roteiro original de Nuno, um mar calmo remete à metáfora purificadora da água marinha, porém, durante a produção, o mar virou o rio Guaíba e a Lagoa dos Patos.

 

O espaço dedicado a “Dádiva 2” recebe um trilho de montanha russa que lança um cavalo de carrossel no vazio e o liga a Pierrô, aqui representado por um aparelho de som que toca o samba “Pierrô Apaixonado”, de Noel Rosa e Heitor dos Prazeres. O curta apresenta a história de um Pierrô, interpretado pelo artista plástico Eduardo Climachauska, que é sequestrado por motociclistas em Porto Alegre e preso em uma casa, sendo devolvido um cavalo em seu lugar. Segundo o curador, a personagem tradicional e carnavalesca da Commedia dell’Arte, que, pela mão de artistas do início do século XX,  vira Pierrô Lunar, encarnação do artista, repete sua transformação na mostra de Nuno.

 

Na sala central, são colocadas réplicas em tamanho real das duas esculturas das salas anteriores, uma em latão e outra em alumínio, interligadas por tubos de vidro em que circulam dois líquidos diferentes, representando o sono e a vigília. Além das esculturas, são expostas gravuras produzidas pelo artista no Ateliê de Gravura da Fundação, com auxílio técnico de Eduardo Haesbaert.

 

 

Sobre o artista

 

Nascido em 1960, Nuno Ramos tem formação em Filosofia pela USP e se debruça sobre diversas formas artísticas, como pintura, desenho, escultura, vídeo, instalação, poesia, prosa e ensaio.  Na juventude, participou do ateliê Casa 7, integrando a Geração 80, responsável pela volta à pintura e fortemente influenciada por Iberê Camargo. Em “Ensaio Sobre a Dádiva”, o público porto-alegrense terá a oportunidade de conferir de perto o trabalho de Nuno Ramos.

 

 

Até 10 de agosto.

Indicadores de gênero

29/mai

Encontra-se em circulação e chama-se “Mulheres Gaúchas – Indicadores de Gênero”, a mais recente publicação da Fundação de Economia e Estatística Siegfried Emanuel Heuser, Porto Alegre, RS. A abordagem da publicação anterior constava com reproduções de pinturas de Iberê Camargo. Na edição atual, foi selecionado expressivo grupo de mulheres/artistas como Clara Pechansky, Magliani, Maria Tomaselli e Zorávia Bettiol, trazendo como homenageada especial a pioneira Tarsila do Amaral.

 

O projeto gráfico é de Nara Fogaça. A equipe técnica contou com as pesquisadoras Clitia Helena Backx Martins (coord.), Gabriele dos Anjos, Irene Galeazzi, Marilene Bandeira e Paula Caputo.

 

Na apresentação, a Secretária de Políticas Para as Mulheres do RS, Ariane Leitão, além de destacar as artistas convidadas, sintetiza  o trabalho da seguinte forma: “…Além de abordar a diversidade de temas referentes à situação da mulher no Rio Grande do Sul e no Brasil, que perpassam questões como sua inserção no mundo do trabalho e do conhecimento, este é mais um material enriquecedor, dando-nos subsídios para trabalharmos com a promoção da igualdade, através da garantia dos direitos humanos das meninas e das mulheres gaúchas.”

Bahia, contemporânea Bahia

26/mai

“Bahia, contemporânea Bahia” é o título da coletiva que a  Roberto Alban Galeria de Arte, Ondina, Salvador, Bahia, apresenta a com curadoria de Marcelo Campos. Esta exposição marca a iniciativa da galeria em apresentar a produção de arte visuais contemporânea na Bahia. “Esta exposição vem em um momento especial, no qual o nosso estado será o centro da arte no país, a 3ª Bienal da Bahia, com abertura prevista para o dia 29 de maio. Visitei diversos ateliês no estado e selecionei oito deles, independentemente de serem jovens artistas ou mais experientes. Esta exposição me conquistou, pois retrata um universo mais amplo em seus diversos elementos de criação”, observa Marcelo Campos. A diversificação da linguagem é um aspecto relevante na  exposição, com posta por pinturas, desenhos, fotografias, esculturas e instalações.

 

Em “Bahia, contemporânea Bahia”, cada artista selecionado traz suas referências. “Almandrade conviveu com Helio Oiticica e Paulo Brusky, Willyams Martins começou a produzir concomitantemente a eventos como a exposição que lançou pintores da Geração 80, Lara Viana estudou na Inglaterra nos centros acadêmicos que formaram Damien Hirst, Josilton Tom conviveu com os modernistas da terra e com os longos anos do importante Salão da Bahia. Március Kaoru pensa a partir da memória familiar, na produção de um nipo descendente em Salvador, Vinícius S.A. expande a apropriação dos objetos domésticos para as grandes instalações e Fábio Magalhães, cuja pintura ativa dissimula possíveis aderências a imagens baianas. Ao mesmo tempo, temos a surpresa de poder contar com um interesse fotográfico, instalativo e performático de Rosa Bunchaft, que faz da fotografia uma experiência imersiva”, afirma Marcelo Campos.

 

“Uma exposição como esta, sendo realizada em uma galeria comercial, serve também para suprir parte das lacunas institucionais, nas quais os museus exibem propostas tradicionais e as galerias abrem-se para ousadas proposições. A produção da arte contemporânea precisa do apoio de espaços como a do Roberto Alban Galeria de Arte, que abre as portas para a disseminação do potencial dos artistas. Estamos aproveitando este momento de efervescência em arte, no qual os olhos do mundo estarão voltados para a Bahia, entre maio e setembro deste ano, para reafirmar nossa proposta de fortalecimento da arte contemporânea”, explicam Roberto e Cristina Alban, proprietários da Roberto Alban Galeria de Arte.

 

O professor Marcelo Campos também fala sobre outra corrente artística: o modernismo. “Torna-se necessário, também, atualizar e rever o modernismo de longa duração que ainda predomina em grande parte do Brasil. Sim, é a hora de pensarmos o contemporâneo, por mais problemático que seja o termo,  para que possamos recodificar materiais e métodos, poéticas e imagens, abrindo caminho para os que se aventuram”, finaliza Marcelo Campos.

 

 

Artistas participantes:

 

Almandrade – Ousou ao ser o primeiro artista contemporâneo da Bahia. Construiu seu trabalho sem ter uma referência local, a partir da década de 1960. Almandrade é um artista que ativa interesses históricos, desenvolve imensamente a materialidade de procedência comum, banal, para pensar mensagens, palavras que se tornam poemas-visuais. Pertencente à geração que usava a arte como palavra de ordem, Almandrade manteve-se atento aos campos semânticos, para além da visualidade, produzindo situações que são, principalmente, jogos de linguagem.

 

Rosa Bunchaft – Premiada em 2013 com projeto participativo envolvendo uma fotografia artesanal da cidade, durante o 13º Salão Nacional de Artes, realizado na cidade de Itajaí-SC, um dos lugares mais interessantes sobre Arte Contemporânea. Rosa observa não somente o que será fotografado, mas seu entorno. Atualiza a imagem, pensando-a temporalmente. Calcula a ampliação da fotografia com seu próprio corpo. Cria longas exposições para que a fotografia funcione não somente como um clique definitivo, mas como possibilidade de alargamento do tempo, da mudança na paisagem, da alteração da luz. Com o uso do pinhole, Rosa cria uma outra configuração, utilizando-se de lugares de observação, frestas, janelas, bastiões, observatórios para criar imagens em amplas metragens lineares. Assim, recodifica o que antes chamávamos de imagem panorâmica.

 

Lara Viana – Baiana, soteropolitana, mas que exporá pela primeira vez em sua terra natal. Morou em Londres e estudou no Royal College of Art, na capital inglesa. A pintura de Lara Viana observa a tradição como sintoma, como mote a ser citado. Assim, vemos estudos refinados de poses, figuras, paletas que ora encontramos no porcelanato palaciano, ora vivenciamos em pinturas do Rococó. O que era imagem, retrato, torna-se fantasma. Sabemos que “fantasmas” são encarnações da própria ideia nuclear da pintura. Com isso, Lara potencializa com grande originalidade uma experiência imagética, ao mesmo tempo, abstrata e fenomenológica.

 

Josilton Tom – Vencedor em 2012 da XI Bienal do Recôncavo na categoria “Prêmio Aquisição”. Trabalha com esculturas em madeira, usando desde a caixa da feira aos mais nobres altares religiosos e salões da sociedade, a madeira pode criar distintas genealogias. Josilton Tom se mostra interessado em toda a amplitude desta matéria: o cheiro, a nobreza, a viralatice. E, assim, se apropria de madeiras novas, usadas, de demolição ou achadas ao relento. Suas peças trazem efeitos brancusianos, simulando partes do corpo, e esquemas como diagramas. De um simples gesto num arame, Josilton cria linhas, segmentos de reta, nós, encontros, observando extensões que se tridimensionalizam como malhas em desenhos quase biológicos.

 

Vinícius S. A. – A observação da luz é um dos mais recorrentes caminhos que a arte problematizou. Vinícius empenha-se nos exercícios de luz e na seleção de materialidades (terras, poeiras, pedras) para propor situações instalativas. Partindo tanto de fatos religiosos (lágrimas) quanto da violência dos panópticos (câmeras de segurança), Vinícius relaciona objetos de descarte e geringonças. Criam-se máquinas e ações do desejo para se chegar ao núcleo das estruturas, como alguém que se interessa por uma estética interna, subcutânea, epitelial. Realizou a exposição “Lágrimas de São Pedro” que percorreu diversas capitais, incluindo Salvador. Ainda neste mês de maio fará uma viagem para os Estados Unidos para uma exposição.

 

Március Kaoru – Evidencia a potência de um artista dedicado ao fazer. Não aquele que prevê lugares de chegada, repetições. Percebem-se imagens de sua ascendência oriental coadunadas com um ar, um espírito entre os brinquedos populares e os altares orientais, herdados de pai para filho. Em outro sentido, o uso do bambu o possibilita pintar, gravar, decalcar situações como se estivéssemos lidando entre modos milenares e os meros excedentes de uma sociedade pós-industrial.

 

Willyams Martins – Pesquisa as peles da arquitetura. A arquitetura é e será cada vez mais a pele dos lugares. Hoje, tornou-se necessário pensarmos a sustentabilidade, o aproveitamento da luz solar, da água das chuvas. E a arquitetura se faz pele. Willyams pensa, antes, que precisamos preservar a beleza do que está gravado, subversivamente, nos muros da cidade, nos cárceres. Fatos que o conferiram a alcova de “ladrão de grafiti”, já que o artista inventara uma técnica de resinar os muros e retirar as marcas. Pensar o muro e suas inscrições, a pintura como pele, faz de Willyams um artista interessado em preservar a memória, roubando aquilo que já nasce fadado a desaparecer.

 

Fábio Magalhães – A pintura de Fábio Magalhães traz uma sedução evidente: a possibilidade de representação figurativa mais aproximada ao realismo fotográfico. Porém, Fábio subverte esta sedução inicial trazendo relações e referências da história da arte coadunadas com observações sobre práticas cotidianas. Como compreensão de tradições brasileiras, Magalhães funciona como um magarefe, personagem destinado a escarnar animais. Ao mesmo tempo, animais escarnados estão na história da pintura, como o Boi de Rembrandt. As pinturas de Fábio criam, potentemente, distintas filiações. Dos memento mori, Magalhães ironiza a certeza da morte com a sedução de um beijo, mas, antes de tudo, com a perplexidade de um ser perante um lago de narciso.

 

 

Sobre a curadoria

 

Marcelo Campos – Professor Adjunto do Departamento de Teoria e História da Arte do Instituto de Artes da UERJ. Professor da Escola de Artes Visuais do Parque Lage. Doutor em Artes Visuais pelo PPGAV da Escola de Belas Artes/ UFRJ. Desenvolveu tese de doutorado sobre o conceito de brasilidade na arte contemporânea. Possui textos publicados sobre arte brasileira em periódicos e catálogos nacionais e internacionais. Curador das exposições: Laboratório de Artes Visuais do Porto Iracema das Artes, Dragão do Mar, Fortaleza, 2014. Elisa de Magalhães: Nenhuma Ilha, no Oi Futuro, Ipanema, Rio de Janeiro, 2013; Co-Curadoria junto com Paulo Herkenhoff da XVII UNIFOR Plástica, Fortaleza 2013; Crer em fantasmas, coletiva com Daniel Lannes, Fábio Baroli, Fábio Magalhães, Flávio Araújo, Thiago Martins de Melo, Caixa Cultural, Brasília, 2013; de Trajetórias: arte brasileira na Coleção Fundação Edson Queiroz, Espaço cultural UNIFOR, Fortaleza, 2013.

 

 

Sobre a 3ª Bienal da Bahia

 

Após uma lacuna de 46 anos, tempo decorrido desde o fechamento da 2ª Bienal de Artes Plásticas pelo regime militar, o Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM-BA), junto com a Secretaria de Cultura do Estado (SECULT-BA), lança a 3ª Bienal da Bahia, que acontecerá entre os dias 29 de maio e 07 de setembro de 2014. Com uma programação que se estende por 100 dias, a  Bienal apresenta ao público exposições, ciclos de cinema, performances, atividades educativas e conversas públicas, envolvendo cerca de 150 artistas e 200 obras espalhadas por  Salvador e outras 9 cidades do interior baiano.

 

 

 

De 28 de maio a 12 de julho.