Isidro Blasco no Brasil

23/mai

A SIM galeria, Curitiba, PR, exibe fotos de Isidro Blasco apresentadas por Tatiana Flores. Em seus trabalhos o fotógrafo desconstrói paisagens de cidades conhecidas como Nova Iorque, São Paulo, Sidney, Helsinque e Curitiba.

 

Isidro Blasco: Construção, Reconstrução, Desconstrução

por Tatiana Flores

 

A prática artística de Isidro Blasco desafia qualquer categorização dentro dos parâmetros convencionais. Em diferentes momentos, pode ser considerada como arquitetura, fotografia, ou escultura, e pode ser todas essas coisas simultaneamente ao mesmo tempo não sendo nenhuma delas. Ainda assim, é muito ligada a materiais recorrentes – suportes de madeira, imagens fotográficas – para pertencer à categoria amorfa descrita por Rosalind Krauss como a “condição pós-suporte.” Também nem sempre é confortavelmente categorizada como arte de instalação, particularmente na série de trabalhos baseados em paredes, tais como a série Planets – Planetas (2014) ou os vídeos. A obra do artista não deixa de ser marcada por consistência e coerência, mantendo um diálogo crítico produtivo com ambos os suportes tradicionais e a história da arte. Em vez de defender perspectivas individuais ou narrativas lineares, Blasco desmonta tais visões totalizantes de uma maneira análoga à abordagem teórica conhecida como desconstrução, tipicamente associada com a literatura. Contrariando a idéia de ilusão sugerida pela imagem singular ou de um ambiente tradicionalmente construído, seu trabalho argumenta contra um corpo unitário de conhecimento em favor da revelação da experiência contemporânea enquanto descontínua e fragmentada. Ele o faz, ironicamente, através de uma prática de construção, quer de fotografias compostas de arquitetura exterior e interior em suportes de madeira irregulares e complexos, ou de esculturas arquitetônicas baseadas em fotografias.

 

A desconstrução, desenvolvida enquanto teoria pelo filósofo francês Jacques Derrida, é sucintamente explicada pelo teórico de arte americano Stephen Melville como “uma prática de leitura, uma maneira de entender as coisas antagonisticamente a elas mesmas, ou às suas margens, de modo a mostrar algo sobre como elas são estruturados pelas próprias coisas que agem para excluir de si mesmas e então, mais ou menos sutilmente, para deslocar a estrutura dentro da qual essas exclusões parecem plausíveis ou necessárias.”¹ Vez por outra, essas características aparecem na arte de Blasco, bem como em seus escritos. Na apropriadamente intitulada Deconstructed Laneways – Vielas Desconstruídas (2011), uma obra de arte pública, ele criou uma imagem de construção espelhada de uma interseção em Sydney, Austrália, que, se visto de um ponto específico, faz com que a rua pareça continuar até encontrar a fachada de um prédio próximo. Uma vista de qualquer outro ângulo revela que a construção é uma ilusão. Isto é especialmente verdadeiro quando a imagem composta é vista de lado, o que expõe a marca registrada de Blasco: andaimes de madeira segurando a miragem fotográfica. Esta estrutura às margens desafia o espectador a questionar a distinção entre realidade e aparência. Embora suponha-se que as fotografias sejam um indicativo do real, Blasco mostra que elas são apenas construções que mantém-se a partir de um único ponto fixo. Com o menor movimento, a ilusão desaparece, e a pretensão de “verdade” fotografica é minada por completo. Um efeito similar acontece na instalação Seeing Without Seeing – Ver Sem Ver (2000), que usa a arquitetura para questionar a coerência espacial. Aqui, o artista projetou imagens de dois cantos do espaço, mapeou-os com linhas e recriou o espaço da sala usando madeira compensada pintada de branco para as paredes e teto e cinza para o chão. O resultado final foi tal que a instalação encaixava-se com a sala apenas a partir de um único ângulo. Qualquer outro ponto de vista revelava uma “estrutura deslocada”, empregando a terminologia de Melville, gerando uma experiência visual e espacial confusa.

 

No texto “Quando Acordei” (1996), que corresponde a uma escultura arquitetônica de mesmo título, Blasco descreve seu sonho de uma casa que é completamente incoerente, “uma casa falsa, como aquelas em um set de filmagem.”² Então, inexplicavelmente, uma segunda construção começa a se materializar, e “imagens estáticas a partir de meus próprios olhos, todas colocadas juntas, de alguma forma fazem isso acontecer.

 

Devido a algum fenômeno desconhecido, as paredes da casa de set de filmagem começaram a se quebrar e separar, deixando amplas aberturas para o exterior… Todos esses painéis ao meu redor pareciam seguir uma narrativa seqüencial, saindo da parede como que em um saliência. Mas logo ficou claro que a divisão entre os painéis separados foi quase toda apagada, provavelmente por causa do fenômeno de impressão retinal. Eles estavam misturados, sobrepostos uns aos outros. Tudo parecia agora mais, de algum modo, com “Os Portões do Inferno” de Rodin, onde não se pode ver uma narrativa coerente.” Nas imagens correspondentes, a casa é um amálgama de painéis, um polígono aberto complexo sem teto ou paredes ou chão completos, sem fachada visível, como uma pintura cubista feita em um edifício. Tendo em conta que a casa é o espaço seguro final, fornecendo abrigo e conforto, é compreensível que o sonho do artista (mais como um pesadelo) seja tão desconcertante. A narrativa sequencial sugerida por uma estrutura com quatro paredes, um teto, portas e janelas, dá lugar a desarticulação e incoerência. Traz à vida as palavras de Gayatri Chakravorty Spivak ao descrever a abordagem de Derrida: “uma certa visão do mundo, da consciência, e da linguagem tem sido aceita como a correta e, se as minúcias de tal visão forem examinadas, uma imagem um tanto quanto diferente (que é também uma não-imagem, como veremos) emergirá.”

 

Descrever as obras fragmentadas e basedas em arquitetura de Blasco como “não-imagens” é certamente apto, não só porque elas negam a coerência estrutural da imagem (neste caso, a casa), mas também porque, em sua essência, existe uma crítica da visão monocular da fotografia tradicional e da câmera como uma máquina de fazer fotos que cria mecanicamente perspectivas pontuais. Amarrado à história da pintura ocidental como a busca da ilusão ótica, finalmente alcançada no Renascimento e aperfeiçoada ao longo dos séculos seguintes, tanto a pintura em perspectiva quanto a fotografia convencional transformam um espaço tridimensional em um suporte bidimensional e também oferecem uma visão do mundo como um todo e inteligível. Ao fotografar edifícios e reconstruí-los de acordo com os limites espaciais de fotografia, Blasco demonstra que isso não é verdade. As casas reconstituídas – se elas sequer podem ser chamados assim, já que elas são, de fato, desconstruções – em tais obras como Just Before – Logo Antes (2004), Father’s House – Casa do Pai (1998), e em Quando Acordei, são apenas fragmentos planares de paredes, tetos e pisos, com uma aparência precária. Fazendo-nos questionar as próprias estruturas que nos cercam, não apenas travam uma ataque à fotografia, mas também contra nossa própria percepção visual e espacial, desafiando-nos a aceitar o mundo como indecifrável. A caracterização da perspectiva por Melville lança luz sobre as questões insolúveis colocados pela artista: “Nossos usos comuns da palavra “perspectiva” estão estranhamente divididos: nós a reinvindicamos, por um lado, como aquilo que nos dá o mundo mais ou menos como ele o é, e, por outro, como um nome para aquilo que nos separa um do outro. Você tem a sua perspectiva e eu tenho a minha – e ainda assim a representação de perspectivas tem uma reivindicação sobre a verdade pública tão boa quanto qualquer outra que possamos imaginar. Algo desta divisão certamente informa periodicidade, muitas vezes argumentos estranhamente sem sentido sobre se perspectiva é ‘natural’ ou ‘convencional’ – a moral desses argumentos pode ser somente que a perspectiva se choca com incoerências profundas em nossa interpretação normal dessas palavras, o que seriam então também incoerências profundas em nossa compreensão de como nós encontramos um perante o outro.”4 No seu momento mais provocante, Blasco confronta-nos com este mesmo paradoxo, apontando repetidamente para a ilusão da coerência.

 

Embora o artista postule questões difíceis, seu trabalho também pode ser leve, caprichoso, e bem-humorado. Planets é um caso a ser analisado, uma série de relevos fotográficos em formatos circulares na parede, que retratam vistas das cidades geralmente tiradas dos prédios mais altos. Estes trabalhos encantadores e lúdicos consistem em fotografias de edifícios montadas em painéis de madeira em torno de um núcleo central aberto e irregular. Eles são a antítese de pinturas renascentistas tais como A Cidade Ideal (ca. 1480-1484) de Fra Carnevale e a obra de autoria desconhecida A Cidade Ideal (ca. 1480) da Galeria Nacional da Marche em Urbino, obras conhecidas que fazem uma analogia entre perspectiva pontual e utopia urbana, colocando edifícios de inspiração clássica no ponto de fuga. O centro de Blasco nesta série é, pelo contrário, literalmente o espaço vazio, e como tal, os seus “planetas” não nos apresentam “nenhuma identidade estável, nenhuma origem estável, nenhum fim estável”, correspondente à caracterização do método de Derrida por Spivak.5 Isto não quer dizer que cada uma das cidades representadas na série Planets careça de características únicas; pelo contrário, Alicante exibe pastéis calmantes, Helsinki é uma sinfonia de azuis e São Paulo apresenta retângulos largos, principalmente em cinza, pontuados por manchas vermelhas. Elas são todas visualmente diferentes, e isso não é, então, uma série de obras que argumenta um ponto sobre os efeitos homogeneizadores da globalização. A diversidade arquitetônica, topográfica e climática é o que faz com as obras de Planets tão convincentes como objetos distintos. Embora seja evidente que o formato circular marca estes relevos como não tendo começos nem fins, a falta de identidade estável, em última análise, tem a ver com o seu centro vazio. O prédio de onde foram tiradas estas fotografias foi anulado, e assim sendo o centro, que nas pinturas renascentistas marcou uma base sólida que significa coerência e unidade, aqui é desestabilizado, simbolizando incapacidade de conhecimento. O prazer visual que podemos receber dessas obras – que pode levar-nos a imaginar a nós mesmos como turistas catedráticos flutuando acima de cidades que nunca poderemos conhecer em pessoa – é rebatida pelo reconhecimento da construtividade e materialidade dos próprios objetos.

 

A desconstrução, de acordo com Melville, “surge como um certo compromisso com o fluxo e fluidez… ela divaga, circula, conecta, e desconecta.”6 Essa frase oferece uma descrição apropriada para a forma como Planets opera. Curitiba Planet é incapaz de realizar um círculo completo em torno de si mesma, deixando um espaço aberto que lembra a moldura quebrada no Ovo Linear de Lygia Clark (1958). Considerando que, na obra de Clark, a abertura sinalizava o espaço real derramando para dentro, na de Blasco o efeito é romper com a ilusão do “real” fotográfico. Em vez de unir os edifícios e de uma falsa coerência, nos deparamos com o suporte de madeira. Esta obra também desiste da pretensão do ilusionismo, ao apresentar vários blocos nas cores magenta, azul turquesa, e amarelo, colocados em intervalos aleatórios. Estes fazem lembrar o legado do Neoconcretismo na arte brasileira, gerando uma distinção instigante entre abstração e representação. New York Planet apresenta uma cidade amada e muito fotografada, bem como o lugar de residência do artista por mais de duas décadas. As impressionantes paredes de vidro dos arranha-céus próximos (o ponto de vista é o deck de observação do Rockefeller Center) contrastam com a base de madeira compensada assimétrica visível no centro e nas margens. O céu incrivelmente azul é pontuado por fantásticos desenhinhos, como que uma pixação aérea. Mudando constantemente nossa percepção entre a fotografia e seu suporte, entre arquitetura e arte, a série Planets de Blasco, tal como acontece com o resto de sua obra, envolve seus espectadores tanto esteticamente quanto conceitualmente. Através de meios visuais e espaciais, o artista consegue mudar a prática primariamente textual da desconstrução em direção à compreensão das imagens do mundo e sobre o mundo.

 

 

Sobre Tatiana Flores

 

Tatiana Flores é professora adjunta de História da Arte na Rutgers, Universidade Estadual de New Jersey. Uma especialista em arte moderna e contemporânea, ela publicou uma obra considerável sobre arte latino-americana e também opera como uma curadora independente. Ela é a autora de Vanguardas Revolucionárias do México: Do Estridentismo até ¡30-30! (Yale University Press, 2013)

 

 

Até 31 de maio.

Barceló no Brasil

Um dos mais prestigiados artistas espanhóis, Miquel Barceló, virá ao Brasil, iniciando por São Paulo, para apresentar sua obra recente, além de alguns trabalhos referenciais de sua produção, como o elefante de bronze apoiado pela tromba, que ocupou em 2011 a Union Square, em Nova York.

 

O também pintor da aclamada cúpula da sala de Direitos Humanos da ONU em Genebra, no qual imprimiu o seu fundo do mar (2007), traz para a Pinakotheke São Paulo, que depois seguirá para a do Rio e de Fortaleza, a série de telas brancas (monocromáticas), produzidas em 2013. Somam-se a estas pinturas e ao Elefandret (2007), uma peça em cerâmica de proporções monumental “Animals de Cap Fort’ (2012), com 180 x 110 cm, outros trabalhos em cerâmica e bronze, pinturas da série “Frutas” (2013), além de vídeos e um caderno do artista..

 

Para compreender o processo do artista, montou-se também o seu “Gabinete de curiosidades”, com elementos e objetos pessoais caros à composição de sua obra e que nunca haviam saído de seu ateliê parisiense, portanto, inédito para o público. Na abertura da mostra será lançado ainda um livro da Edições Pinakotheke, que reúne uma entrevista do artista concedida ao crítico Adriano Pedrosa, além de textos do pensador espanhol Enrique Juncosa e imagens da coleção, seguido de cronologia sobre a vida e a obra de Miguel Barceló.

 

Com capacidade de trabalho surpreendente e atuando em múltiplos suportes – pintura, escultura, murais, cerâmica, desenho, ilustrações de livros – Miguel Barceló se divide entre os seus ateliês de Paris, Ivry e o de cerâmica em Palma de Maiorca, sua terra natal. O crítico Enrique Juncosa destaca a capacidade rara de Miguel Barceló em se desdobrar para conceber vários projetos ao mesmo tempo.

 

Dos trabalhos mais recentes e presentes na mostra, o crítico espanhol ressalta a série de pinturas brancas cuja aparência pode aproximá-la da abstração. Juncosa adverte, contudo, que não é o caso, tal como provam os títulos das obras, sempre inspirados nos elementos eleitos pelo artista para a composição da tela. Os círculos remetem a nomes de praças de toros, outras se referem à espuma das ondas do mar, mas que, como em ambos os casos, ilustram o comportamento da matéria e dos pigmentos sedimentados em camadas. “Ação arriscada de um artista solitário, como um toureiro na arena, mas também contemplação hipnótica da natureza e das possibilidades da pintura, o que pouco tem a ver com a abstração monocromática, seja esta formalista ou de exploração do sublime”, completa.

 

Na exposição, os quadros de frutas, sobretudo os tomates partidos contrastam com os brancos pela intensidade cromática. Segundo o crítico, a pintura “Tomate-Mars” (2013), joga com o nome Marte, do planeta vermelho, e a metade do tomate que se vê tem algo de planeta vivo, com um interior que sugere movimento perpétuo, como uma caldeira em ebulição.

 

Se a experiência com a pintura está presente desde o início de sua obra, o interesse pela cerâmica começa em Mali, em 1995, onde também mantinha um ateliê. Desde então, se dedicou a aprender técnicas em Maiorca, França e Itália e a cerâmica tornou-se um dos suportes fundamentais de sua produção, culminando com os espetaculares murais que realizou na Capela de São Pedro no interior da catedral gótica de Palma de Maiorca (2007). Algumas são concebidas a partir de formas de objetos tradicionais, mas em outros casos são verdadeiras esculturas, tanto de formas abstratas como de formas reconhecíveis – alimentos (pão e furtas) e animais. Às vezes há figuras em suas superfícies como é o caso da monumental “Animals de Cap Fort” (2012), que remetem a certas imagens tântricas do budismo tibetano. Algumas cerâmicas, como na obra de Joan Miró, podem servir para realizar as peças em bronze, como “Estatuária equestre” (2014). A presença do bronze na mostra se completa com a famosa escultura “Elefandret” (2007).

 

Desde o início da sua carreira Miguel Barceló produz “cadernos de artista”, referências que recolhe em suas viagens. São dezenas de cadernos muito bem encadernados, com datação precisa, e páginas repletas de elementos naturais: folhas, gravetos, desenhos, terra, pigmentos, pintura, tudo o que reproduz com exatidão a experiência vivida naquele momento. Os primeiros foram organizados por sua mãe e os mais recentes, pela equipe do seu estúdio de Paris. Em 2003, Le Promeneur-Gallimard editou “Carnets d’Afrique”, uma seleção destes cadernos que realizou na África entre 1988 e 2000. Na mostra haverá um exemplar de 42 páginas realizado em maio de 2011 na Ilha La Graciosa, Canárias, Espanha.

 

Complementam a exposição, os filmes: “Mar de Barceló”, especialmente produzido durante a execução da cúpula das nações da ONU, e “Paso Doble”, referência ao processo criativo das cerâmicas.

 

 

Pinakotheke São Paulo / Morumbi

 

Abertura 28 de maio.
De 28 de maio a 12 de julho. de 2014

 

 
Pinakotheke Rio de Janeiro / Botafogo

 

Abertura 23 de setembro.
De 23 de setembro a 30 de outubro.

 

 
Galeria Multiarte / Aldeota / Fortaleza


Abertura 11 de novembro.
De 11 de novembro a 15 de dezembro.

 

Vik Muniz no Santander Cultural

19/mai

Um dos artistas brasileiros de maior destaque no mercado e nos museus internacionais, Vik Muniz apresenta pela primeira vez em Porto Alegre, RS, no Santander Cultural, Centro Histórico, exposição individual, destacando colagens e fotografias. Também será exibido o documentário “Lixo Extraordinário”, que concorreu ao Oscar em sua categoria em 2011 e acompanha o trabalho que o artista realizou com catadores de lixo reciclável no maior aterro da América Latina, em Jardim Gramacho, no Rio. A curadoria é de Lígia Canongia.

 

A obra de Vik Muniz questiona e tensiona os limites da representação. Apropriando-se de matérias-primas como algodão, açúcar, chocolate, e até lixo, o artista meticulosamente compõe imagens icônicas e lhes repropõe significações. O objeto final de sua produção mais conhecida atualmente é a fotografia, mas sua obra já transitou pelo tridimensional, pelo desenho e até pela escultura.

 

 

A partir de 20 de maio.

Três do Sul

13/mai

Percevejo, mostra de Jailton Moreira

 

O Museu do Trabalho, Centro Histórico, Porto Alegre, RS, apresenta “Percevejo”, exposição individual de Jailton Moreira que reúne uma série de trabalhos recentes e outros realizados na última década. O conjunto de vinte e três obras inclui fotos, vídeos e desenhos. As montagens com fotografias utilizam-se de imagens obtidas pelo artista em viagens pelo mundo que, ao rever este material de arquivo, escolheu-as considerando mais as possibilidades críticas da maneira de expor cada uma delas do que as qualidades formais ou mesmo textuais das mesmas. O grupo de fotografias testa as relações da imagem com o quadro, a moldura e suas potências estruturais. Já os três desenhos exibidos apontam para uma dimensão mental do ato gráfico onde as linhas e as formas são apenas índices para a reconstituição de pensamentos. Os vídeos, por sua vez, indicam direções diversas abrangendo o aspecto conceitual da edição, os limites do discurso artístico e as dimensões temporais da imagem em movimento.

 

 

De 17 de maio a 29 de junho.

Conversa com o artista: dia 31 de maio, sábado, às 16 horas.

 

………………………………………………………………………………………………………………………………………

 

Anotações de Eduardo Haesbaert

 

A mostra “Anotações de uma obra depois das cinco”, na Galeria de Arte da Fundação Ecarta, Redenção, Porto Alegre, RS, é composta por uma série de fotografias dos vestígios de uma reforma no atelier do artista: formas, linhas e texturas, que, a partir da visão de Eduardo Haesbaert, adquirem uma surpreendente dimensão pictórica. E, para dialogar com a arquitetura do próprio espaço expositivo, ele faz, também, um desenho nas paredes da galeria.

 

 

De 22 de maio a 13 de julho.

 

………………………………………………………………………………………………………………………………………

 

Teresa Poester, o traço das paisagens

 

Em mais de 35 anos de produção, seja no desenho, na pintura, no vídeo, na fotografia ou na gravura, a representação da paisagem – ou pelo menos uma sugestão dela – se faz constante, persistente, no trabalho de Teresa Poester. Em meio a figurações de jardins, pedras, janelas ou mesmo entre abstrações, entre gestos largos ou miúdos, entre linhas e manchas, entre a cor e o preto-e-branco, de repente irrompe uma paisagem. Daí o recorte desta exposição individual de Teresa Poester denominada “Território da Folha – paisagens de Teresa Poester” em cartaz no Museu de Arte Contemporânea do Rio Grande do Sul, MAC-RS, Galeria Sotero Cosme/Casa de Cultura Mario Quintana, Centro Histórico, Porto Alegre, RS.

 

 

Até 15 de junho.

Centenário de Vasco Prado

29/abr

O Guion Arte, exibe em seu hall de entrada dos cinemas do Centro Comercial Nova Olaria, Cidade Baixa, Porto Alegre, RS, a exposição “Vasco Prado, O Centenário de Um Farol Das Artes”. Abril é o mês do centenário de Vasco Prado. A mostra reúne desenhos, gravuras, pinturas, esculturas, entre outras técnicas desenvolvidas pelo grande mestre da arte nacional. Uma parte da mostra provém de acervos de colecionadores.

 

Nome histórico da arte moderna brasileira, o escultor tornou-se ao longo de sua carreira um mestre cultuado por diversas gerações de escultores no Rio Grande do Sul. Na juventude dividiu atelier com Iberê Camargo e nos anos 1950 criou ao lado de Carlos Scliar, Glauco Rodrigues, Danúbio Gonçalves, Glênio Bianchetti e outros artistas da mesma geração o hoje histórico Clube da Gravura, experiência baseada nos atelier de xilogravura mexicanos que tratava das edições populares dessa técnica.

 

Foi dado um destaque especial para diversas peças como as realizadas em terracota, técnica em cerâmica com a qual Vasco Prado ficou reconhecido por desenvolver uma linguagem própria. A curadoria é de Carlos Schmidt, também editor de esmerado catálogo que acompanha a exposição. No conjunto, esculturas como “Os Amantes”, além de terracotas em únicas edições, bronzes iconográficos e uma escultura em pedra, material com o qual Vasco Prado trabalhou muito pouco, ganham especial atenção. Da mesma forma a reedição em bronze da escultura “Gaúcho”, obra dos anos 1940.

 

 

Até 26 de junho.

Homenagem a Sante Scaldaferri

15/abr

No próximo dia 16, quarta-feira, às 19h00min, na Sala Walter da Silveira, Bilbioteca Pública dos Barris, Salvador, Bahia, serão exibidos dois documentários sobre a obra do notável artista plástico baiano Sante Scaldaferri. Uma justa homenagem ao conhecido artista plástico. Acompanhe a programação e as sinopses dos dois documentários.

 

 

16/04 – 19h00min
Sante Scaldaferri, A Dramaturgia do Sertão; Direção: Walter Lima; Documentário | 26min | 1999

 

Vídeoarte sobre o pintor, ator, gravurista, cenógrafo e professor Sante Scaldaferi (1928). Formado na Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia, Scaldaferri foi assistente da arquiteta Lino Bo Bardi. No cinema, trabalhou como cenógrafo em produções do Cinema Novo e como ator em filmes de Glauber Rocha.

 

 

16/04 – 19h30min
Sante Scaldaferri; Direção: Cícero Bathomarco; Documentário | 34 min |2013

 

Na primavera de 2011, o Palacete das Artes Rodin Bahia promoveu a exposição POP / BIENAIS com obras do premiadíssimo artista plástico Sante Scaldaferri. O documentário que leva o nome do artista, teve como base os diversos quadros e painéis expostos na referida mostra. SANTE fala do conteúdo e da forma do seu trabalho, do seu processo criativo, da descoberta de uma “escrita” própria, da sua convivência com Glauber Rocha, da sua fidelidade à temática cultural nordestina, da sua resistência na realização de trabalhos não folclóricos e de fácil comercialização.

 

Ficha técnica :

Locução: Selma Santos;

Direção de fotografia: Carlos Modesto;

Edição: Mirilusa Barreto;

Pesquisa sonora: Robinson Roberto;

Roteiro e direção: Cicero Bathomarco;

Ano de realização: 2013.

Cores & Formas com Ranulpho

07/abr

O conceituado marchand Carlos Ranulpho, através de sua Ranulpho Galeria de Arte, Bairro do Recife, Recife, PE, apresenta a exposição “Cores&Formas” com a participação de obras assinadas por Carlos Scliar, Claudio Tozzi, Juarez Machado, Lula Cardoso Ayres, Fédora e Vicente do Rego Monteiro, Virgolino, Reynaldo Fonseca, Siron Franco, Mário Nunes Alcides Santos e a participação especial de obras (e texto) do pintor Carlos Araujo que afirma:

 

Que belas recordações as visitas que fazia em minha adolescência na Galeria Ranulpho em São Paulo! Pacientemente ele atendia àquele curioso rapaz e revelava as belezas das pinturas de grandes artistas que, devido a seu trabalho, a cidade tinha a honra de acolher. Maravilhosas surpresas do espírito que o tempo se encarrega de explicitar. Agora tenho a oportunidade de me apresentar no Recife, através da mesma galeria da qual recebi tanto carinho e orientação. Dos treze aos trinta anos, me dediquei à pintura que descrevia um mundo das consequências da ausência da solidariedade e amor ao próximo nas atitudes humanas. Este trabalho resultou em monografia editada por Claude Draeger, em Paris, apresentada por Pietro Maria Bardi e Pierre Restany. A partir dos trinta adentrei, pela Misericórdia Divina, ao mundo das causas que provocavam tanta desigualdade, e esta época marcou minha conversão, também pela Misericórdia; a partir de então comecei a pintar a Mensagem Bíblica. Após 25 anos este caminho resultou na edição de “Bíblia Citações” em 2007, com 1200 pinturas que tentam ilustrar cerca de 1750 versículos da Bíblia Sagrada e gostaria de deixar, através delas um depoimento que veio através de mim como instrumento, de uma Força imensamente maior, adimensional.

 

 

Até 17 de abril.

Isabel Ramil no Santander Cultural

Espaço que contribui há mais de década para a divulgação da arte contemporânea no circuito de Porto Alegre, RS, o Santander Cultural iniciou sua programação de exposições para 2014. Com a primeira das quatro mostras do “Projeto RS Contemporâneo”, que destaca a produção de jovens artistas, a instituição abre um calendário que ainda contará com Vik Muniz e uma homenagem à memória do escritor Moacyr Scliar.

 

A exposição “A Dimensão Lírica das Coisas” apresenta a produção recente de Isabel Ramil. O curador Gilberto Habib selecionou trabalhos que, ao mesmo tempo em que demonstram a diversidade de linguagens de uma artista em formação (fotografia, vídeo, gravura, desenho e áudio), têm em comum referências de infância e família. É o caso de “Implacável”, instalação composta por áudio e 25 fotos que a artista registrou nas ruas de Rosário do Sul, RS, cidade de seus avós. Nesse trabalho, Isabel Ramil compõe cenas a partir de uma série de lugares que são igualmente identificados por placas de sinalização, criando uma espécie de jogos de metalinguagem. O folder da exposição traz uma foto de Isabel Ramil em performance na qual representa o escritor Marcel Proust na pose que foi pintado por Jacques-Emile Blanche.

 

O RS Contemporâneo ainda apresentará a produção dos artistas Daniel Escobar, Romy Pocztaruk e Ismael Monticelli.  Seguindo com sua programação, em 21 de maio o Santander trará uma exposição que já se candidata a figurar entre as principais do ano em Porto Alegre: Vik Muniz, um dos nomes brasileiros mais requisitados no exterior, apresentará 45 trabalhos produzidos desde os anos 1980. O artista é conhecido por usar materiais e imagens de todo tipo, de lixo reciclável a recortes de revistas. Destacando colagens e fotografias, será a primeira individual de Vik em Porto Alegre.

 

 

Até 04 de maio.

Iberê: anos 80

01/abr

Entrou em cartaz a mostra “Iberê Camargo: as horas [o tempo como motivo]”, na Fundação Iberê camargo, Porto Alegre, RS. Com curadoria do filósofo e crítico de arte Lorenzo Mammì, a exposição joga luz sobre a produção do artista durante a década de 1980, em um ponto de virada de sua produção, quando Iberê insere as primeiras figuras humanas em sua obra. Esses elementos passam a estabelecer novas dinâmicas em seus quadros, configurando o espaço pictórico como um lugar fora do tempo, de simultaneidade entre memórias e presente. Entre os carretéis e a produção tardia das idiotas e dos ciclistas, desponta um Iberê de cores fortes e de figuras abundantes, que reflete sobre o seu lugar no tempo e sobre o lugar do tempo na obra.

 

As figuras de Iberê, frequentemente autorretratos, olham ora para os objetos, ora para fora do quadro, estabelecendo novas tensões internas às telas. O gesto não está só na marca deixada na tinta, mas está ele também representado. Agora, o artista não pinta somente meras lembranças, pinta a si mesmo junto a elas, colocando-se também em cena. Essa é uma presença angustiada, como fica evidente nos nomes de algumas obras, como Grito (1984) e Medo (1985).
É nessa década que se dá também a consagração de Iberê Camargo como um dos grandes artistas brasileiros – ele alcança grande valorização no mercado e serve de referência para a geração de artistas responsáveis pela “volta à pintura”.  Por isso, a exposição também traz notícias de jornais pertencentes ao acervo documental da Fundação, mostrando como o artista era retratado pela mídia da época e contextualizando o recorte de obras apresentado.

 

Cabe ressaltar, ainda, o novo fôlego de produção literária que acompanha essa mudança na pintura de Iberê: o artista trabalha nas prosas autobiográficas reunidas posteriormente em Gaveta dos Guardados e publica, em 1988, No andar do tempo, em que resgata contos antigos e apresenta novos, colocados lado a lado como as figuras nos quadros, em uma revisão e atualização do passado em sincronia com o presente. O curador chama a atenção para o conto O relógio, de 1959, em que o personagem vasculha obsessivamente uma latrina, fascinado pelos objetos do passado que encontra e com a própria matéria em decomposição. Uma analogia aos quadros da época: os elementos do passado e do presente mesclados, sobrepostos, em uma massa de memória e de tempo.
A exposição acontece no 2º andar da Fundação Iberê Camargo.

 

 

Até 09 de novembro.

Mario Carneiro em livro

31/mar

A belíssima edição do livro que apresenta a obra completa de Mario Carneiro contribui com valor inestimável para a memória das artes visuais do país e será lançado na Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, RS, dia 10 de abril. Os autores realizam bate papo com o público antes dos autógrafos. O livro será distribuído gratuitamente ao público presente.  Seu “olhar educado nas artes visuais” – como o próprio Mario Carneiro gostava de dizer – foi o diferencial na sua fotografia de cinema, imprimindo nas suas imagens uma sensibilidade e uma temporalidade características.

 

Sua concepção de iluminação foi identificada e celebrada por companheiros de trabalho e estudada por teóricos do cinema.   No entanto, sua extensa e rica obra visual, composta por desenho, pintura, gravura e fotografia ainda não haviam sido reunidas e estudadas. A publicação do livro “Mario Carneiro  Trânsitos”,  vem preencher esta lacuna, evidencia a dimensão da obra do artista e colabora para acrescentar informação à história da arte brasileira recente.

 

Os textos do curador, poeta e crítico de arte Adolfo Montejo Navas, do jornalista, escritor, pesquisador e crítico de cinema, Carlos Alberto Mattos e de Fabiana Éboli, artista plástica, professora e pesquisadora de artes visuais, respondem eficientemente ao conceito central do livro que é a ideia do trânsito do artista pelas diferentes linguagens. Dividido em sete capítulos com cerca de 300 imagens, a edição descortina a vasta produção visual do artista multimídia reconhecido como o grande fotógrafo do Cinema Novo. Sua atividade profissional nos meios cinematográficos dispensa apresentação. Contemplado com o Prêmio Procultura de Estímulo às Artes Visuais – 2010, o livro será distribuído gratuitamente às principais instituições culturais de todo o país.

 

 

Sobre Mario Carneiro

 

Mario Carneiro fez desenho, gravura, pintura, fotografia, cinema e se assumia como pintor. Sua formação universitária foi em arquitetura. Formou-se em 1955 na Faculdade Nacional de Arquitetura, no Rio de Janeiro, paralelamente ao estudo da pintura. O desenho foi uma constante, feito em casa ou no ateliê, nos sets de filmagem ou na prancheta. No período passado na França, fins da década de 1940 e início da de 1950, onde Mario Carneiro conhece Iberê Camargo e com ele estabelece uma amizade e há uma grande produção de gravura, ao lado do estudo da pintura. Nesta mesma época, junto com o pintor Jorge Mori, faz cópias dos grandes mestres no Louvre, exercita a fotografia e logo surge o cinema através de uma câmera presenteada pelo pai por sugestão da irmã. A fotografia em preto e branco atesta, já nos fotogramas da década de 40, um olhar agudo nos contrastes. Em 1953, Mario faz seus primeiros filmes amadores, alguns de caráter experimental e influência dadaísta, entre eles “A Boneca”, com colaboração de Mori. A obra de Mario Carneiro, a maior parte produzida na segunda metade do século XX, é marcada pela passagem da modernidade para a contemporaneidade. Mario fez parte de uma geração de artistas que criou pontes nessa transição, explorando várias linguagens artísticas e deixando uma obra diversa e coerente com seu momento histórico.

 

 

Sobre os autores

 

Adolfo Montejo Navas é poeta, critico e curador independente. Correspondente da revista internacional Lápiz, de Madri, desde 1998, e colaborador de diversas revistas culturais. Ganhou Premio Mario Pedrosa de Ensaio Arte e Cultura Contemporânea (2009, Fundação Joaquim Nabuco). Sua última produção bibliográfica inclui “Anúncios” (Katarina Kartonera, 2012), “O outro lado da imagem – A poética de Regina Silveira” (Edusp, 2012), “Poiesis Bruscky” (Cosac Naify, 2013).

 

Carlos Alberto Mattos é jornalista, crítico de cinema e escritor. Autor de livros sobre os cineastas Walter Lima Jr., Eduardo Coutinho, Carla Camuratti, Jorge Bodanzky, Maurice Capovilla e Vladimir Carvalho. Foi coordenador de cinema do CCBB-Rio e presidente da Associação de Críticos  de Cinema-RJ. Criou o DocBlog (extinto) em O Globo. É editor da revista Filme Cultura.

 

Fabiana Éboli Santos é Mestre em Linguagens Visuais – EBA- UFRJ, artista plástica, professora na Escola de Belas Artes UFRJ. Socióloga, curadora e pesquisadora em artes visuais, com diversos prêmios em seu currículo, exposições e textos publicados.