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AGENDA CULTURAL

Os rinocerontes estão chegando

No século XVI alguns animais exóticos foram “inocentes protagonistas de jogos de poder mundiais”. Nesse contexto, no ano de 1515 aportou em Lisboa, como um presente diplomático, o primeiro rinoceronte a pisar em solo europeu (Ganda), que naquele mesmo ano foi eternizado em gravura de Albrecht Dürer, constituindo-se como uma das imagens mais marcantes da história da reprodutibilidade. Antecipando as comemorações dos 500 anos de “Ganda” de Dürer, este projeto apresenta uma abordagem criativa do tema em gravuras e instalações gráficas de artistas vinculados a instituições de ensino de artes da África do Sul, Brasil, Portugal e Polônia. Por se tratarem de trabalhos múltiplos, exposições semelhantes abrem simultaneamente na Cidade do Cabo, Porto Alegre, Lisboa e Lodz. A organização geral é de José Quaresma da Universidade de Lisboa, com curadoria no Brasil de Maristela Salvatori, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. A exposição acontece na Sala O Arquipélago, Centro Cultural CEEE Erico Verissimo, Centro Histórico, Porto Alegre, RS, e ficará em cartaz até 28 de novembro e conta ainda com um ciclo de conferências: Rhinos are Coming: A Story that Changed History, a saber:

 

Portento diplomático com José Quaresma (Artista, professor da Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa).

 

A partir das noções de Empreinte (Didi-Huberman), Immémorial (Michel Guérin) e Instalação (Julie Reiss), será desenvolvido um arco de ampla e sucessiva mediação entre a Gravura ancestral da Gruta na Ilha de Celebes (Indonésia), os Rinocerontes da Gruta de Chauvet (França), o Ganda de Dürer, e o espírito da Instalação Gráfica Contemporânea.

 

A iconologia do Rinoceronte de Dürer com Francisco Marshall (Historiador, professor do PPGAV/Instituto de Artes/UFRGS).

 

Análise iconográfica e iconológica do caso do rinoceronte Ganda, dos imaginários teratológicos modernos e da arte de Albrecht Dürer (1471-1528), com apresentação do histórico e do contexto genético desta representação.

 

The Rhinoceros in South African Visual Vernacular (conferência com tradução) com Stephen Inggs (Artista, professor da Michaelis School of Fine Art, University of Cape Town).

 

Um olhar sobre a imagem vernacular do rinoceronte na cultura Sul-Africana, da arte à publicidade, e como ela foi apropriada para as questões espirituais, estéticas, políticas e de conservação. A imagem do rinoceronte aparece em primeiro lugar na arte rupestre da África do Sul, onde acredita-se ter tido significado religioso para os bosquímanos na expressão de experiências espirituais. Sua aparição na arte Sul-Africana contemporânea tem um papel mais político que, no trabalho de William Kentridge, pode ser lido como um símbolo da África colonial, um animal selvagem que precisa ser domado e explorado em benefício da Europa.

 

Travelling Prints (conferência com tradução) com Alicja Habisiak-Matczak (Artista, professora da Akademia Sztuk Pieknych, Lodz)

 

O trajetória do Rinoceronte de Dürer e possibilidades de circulação de gravuras nos dias de hoje. Algumas experiências de intercâmbio e a configuração da cidade de Lodz como um lugar de acolhimento de gravuras “em viagem”.

 

Rinocerontes do Museu Agrícola do Ultramar com Luís Jorge Gonçalves (Arqueólogo, professor da Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa).

 

Em 1929 foram expostos na Sala das Colônias do Pavilhão de Portugal, da Exposição Universal de Sevilha, dois rinocerontes taxidermizados oferecidos pela Agência Geral do Ultramar. Mais uma vez o rinoceronte era “embaixador” de um Portugal colonial, com forte presença em África, como o rei D. Manuel tinha realizado no início do século XVI. Os dois rinocerontes foram depois remetidos para o Palácio da Calheta, onde estava instalado o Jardim Colonial e Museu Agrícola Colonial, ficando expostos para a Exposição do Mundo Português de 1940, para ai permanecerem até aos nossos dias.

 

A imagem do Rinoceronte com Fernando Rosa Dias (Historiador, professor da Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa).

 

A gravura do Rinoceronte de Dürer é explorada como ícone de uma encruzilhada de mudanças de paradigmas no advento da modernidade, ao que Heidegger definiu como «a conquista do mundo como imagem». Entre o bestiário medieval e o desejo de ilustração científica, esta imagem de reprodutibilidade capta um animal exótico de valor diplomático ao serviço do jogo de exibição das cortes barrocas.

 

 

Anunciando uma invasão: um rinoceronte e muitas histórias com Maristela Salvatori (Artista, professora do PPGAV/Instituto de Artes/UFRGS).

 

Apresentação de diferentes visões sobre a perspectiva de encontro e/ou ressignificação de Ganda, abordando a interpretação dos artista da equipe brasileira deste projeto, todos oriundos do Instituto de Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, professores e alunos, de graduação, mestrado e doutorado, que responderam com entusiasmo a este desafio.

 

 

 

Animais raros na arte: imaginação e realidade com Maria Amélia Bulhões (Historiadora, professora do PPGAV/Instituto de Artes/UFRGS).

 

Se os animais raros permeiam o universo imaginário dos artistas através dos tempos, na contemporaneidade muitos deles se alimentam dessa tradição dando a ela novos sentidos. Walmor Corrêa é um desses artistas que mergulha totalmente no mundo animal para dele extrair uma obra rica e complexa. Ao primeiro olhar, suas obras parecem entrar no detalhado realismo que caracteriza os museus, os livros científicos e as enciclopédias. Observando mais detidamente, percebe-se que nada do que ali está é real ou possível. Para surpresa do espectador, vai se evidenciando um teatro do absurdo que se desdobra em inúmeros atos. A ambiguidade está sempre presente, não só como ferramenta operacional como também na estrutura de linguagem.

 

 

Rinocerontes mutantes. Fragmentos variáveis com Helena Kanaan (Artista, professora do Instituto de Artes/UFRGS).

A partir de uma ‘imagem-valise’, HELENA KANAAN ressalta a série como problemática intrínseca a constituição da imagem gerada por uma matriz. Do contorno de um rinoceronte às variações internas, acontecem combinações dos fragmentos em diferentes técnicas gráficas. A linguagem das correlações entre dissemelhanças é potencializada no formato livro de artista, conduzindo a uma alternância de aproximadamente 6000 concepções visuais. A série de rinocerontes com suas variantes, junto a pretensa multiplicidade de leituras de fragmentos impressos vai além e, o movimento provocado pelas mãos, torna-se animação por bits.

 

 

Sobre os artistas e palestrantes

 

José Quaresma

 

Coordenador geral do Projeto Rhinos are coming. Professor na FBAUL, é Doutor em Estética e Filosofia de Arte e Mestre em Estética e Filosofia de arte pelo Departamento de Filosofia da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Licenciado em Artes Plásticas – Pintura pela Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa. Curador de exposições coletivas, tem editado e coeditado livros sobre investigação em Arte, Arte Pública, Estatutos Ontológicos da Imagem, Arte em Ambiente Digital e Reprodutibilidade entre outros. Realizou numerosas exposições, entre elas as coletivas The Rape of Europe, com exposições em Utrecht, Lodz, Porto Alegre e Lisboa, 2013, e Printmaking, Installation, Poetry, The Joy of a Reencounter, com exposições em Granada, Utrecht, Copenhaga, Londres e Lisboa, 2012.

 

 

Francisco Marshall

 

Licenciado em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1988) e doutor em História Social pela Universidade de São Paulo (1996), realizou pós-doutorado na Princeton University (NJ, EUA, 1998), como bolsista Capes-Fulbright, convidado de Peter Brown, e na Ruprecht-Karls-Universität Heidelberg (Alemanha, 2008-9), como bolsista da Fundação Alexander von Humboldt. É professor associado da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, atuando no Depto. e PPG História (IFCH) e no PPG Artes Visuais (IA). Tem experiência nas áreas de História e de Arqueologia Clássica, com ênfase em História Antiga e Medieval, atuando principalmente em história antiga, arqueologia clássica, museologia, iconologia, estudos do imaginário e história da cultura.

 

 

Stephen Inggs

 

Nascido na Cidade do Cabo, 1955. Professor de gravura e fotografia na Michaelis School of Fine Art, da University of Cape Town, onde também exerceu a função de Diretor. É graduado em Fine Art, pela Natal Technikon, e realizou estudos de pós-graduação na Brighton Polytechnic, Inglaterra, e na University of Natal, África do Sul. Realizou exposições individuais na Inglaterra e na África do Sul, participou de numerosas exposições coletivas na África do Sul e exterior. Entre suas publicações destacamos os livros Making Prints With Light e What’s Bred in the Stone: Art and Technique of Lithograph (2011 e1998, ambos editados pela Michaelis School of Fine Art).

 

 

Alicja Habisiak-Matczak

 

Nascida em Piotrków Trybunalski, Polônia, 1978. É Doutora em Artes pela Akademia Sztuk Pieknych, Lodz, onde também é professora. Realizou estudos superiores no Departamento de Gráfica e Pintura da Akademia Sztuk Pieknych (Academia de Belas Artes), de Łódź. Recebeu bolsa de estudos de pós-graduação do Ministério da Cultura e do Patrimônio Nacional e do Governo italiano para a Academia de Belas Artes de Urbino, Itália. Realizou exposições individuais na Polônia e no exterior. Participou de numerosas exposições coletivas de gravura e desenho. Recebeu prêmios na Polônia, Romênia, Itália e Canadá. É membro da Associação Internacional de Designers Gráficos – AMIGRAV, com sede em Montreal.

 

 

Luís Jorge Gonçalves

 

Nascido em Portugal, em 1962, é doutor em Ciências da Arte e do Patrimônio pela Faculdade de Belas- Artes da Universidade de Lisboa, com a tese Escultura Romana em Portugal: uma arte no quotidiano. Professor na Faculdade de Belas-Artes, atua nas áreas de História da Arte (Pré-História e Antiguidade), Museologia, Arqueologia e Patrimônio, na graduação, no mestrado e no doutorado. Tem desenvolvido pesquisas em Arte Pré-Histórica, Escultura Romana, Arqueologia Pública e Paisagem. Desenvolve ainda projetos em ilustração reconstitutiva do patrimônio, da função da imagem no mundo antigo e interfaces plásticas entre arte pré-histórica, antiga e arte contemporânea. É responsável por exposições monográficas sobre monumentos de vilas e cidades portuguesas.

 

 

Fernando Rosa Dias

 

Nasceu em Caldas da Rainha, 1964. Professor na Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa. Doutor em Ciências da Arte pela Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa (FBAUL). Mestre em História da Arte Contemporânea pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa (FCSH-UNL). Licenciado em Design de Comunicação pela Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa. Pesquisador do Centro de Investigação e de Estudos em Belas-Artes (CIEBA) – Secção de Ciências da Arte e do Património. Tem organizado colóquios e exposições, editado livros e artigos, e coordenado edições, em torno de questões como a arte portuguesa do século XX, a Investigação em Arte, a Imagem, as vanguardas culturais, entre outros.

 

 

Maristela Salvatori

 

Organizadora do ciclo de palestras, curadora do projeto Rhinos no Brasil, é professora do Instituto de Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, onde foi Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais. Doutora por Paris I, Estágio Sênior/CAPES, Université Laval, Canadá. Líder do Grupo de Pesquisa Expressões do Múltiplo. Artista Residente na Cité Internationale des Arts, Paris, e no Centro Frans Masereel, Kasterlee, Bélgica. Realizou individuais e participou de coletivas no Brasil e exterior, recebeu prêmios, entre os quais o prêmio GRAV’X 1999, Fundação GRAV’X / Galerie Michèle Broutta, Paris.

 

 

Maria Amélia Bulhões

 

Graduada em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1973), mestrado em História pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (1983), doutorado em História Social pela Universidade de São Paulo (1990) e pós doutorado na Universidade de Paris I, Sorbonne (1997) e na Politecnica de Valencia (2008). Atualmente é professor do corpo permanente do PPG em Artes Visuais da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, atuando na área de Artes Visuais, com ênfase em História, Teoria e Crítica de arte Coordena o Grupo de Pesquisa Territorialidade e subjetividade. Dedica-se principalmente aos seguintes temas: artes visuais contemporâneas, arte na América Latina e web arte. Escreve, desde junho de 2011, uma coluna semanal sobre artes visuais no jornal online Sul 21.

 

 

Helena Kanaan

 

Artista Visual com investigações em Gravura Contemporânea e Procedimentos Híbridos na Arte Impressa. Doutora em Poéticas Visuais pelo PPG em Artes Visuais / UFRGS e Universidade Politécnica de Valencia / Espanha. Mestre em Poéticas Visuais pelo PPG Artes Visuais / UFRGS. Especialização pela Scuola d’Arte Grafica Il Bisonte Florença / Itália. Professora no Centro de Artes / UFPel (1991 / 2013) na linha de Poéticas Visuais, orientando trabalhos de pesquisa (bacharelado, licenciatura, pós-graduação), quando coordenou o projeto de pesquisa e extensão Grupo Gravadores de Rua com dois bolsistas. Foi membro da Comissão de Consultoria do MALG (Museu de Arte Leopoldo Gotuzzo) e membro na Câmara de Extensão. Em 2014 assume docência na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, atuando na área da gravura. Coordena o grupo de pesquisa Práticas críticas da gravura à arte impressa. Processos e procedimentos matriciais, transferências, impregnações.

 

 

Até 28 de novembro.

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