Caleidoscópio da SIM galeria

14/mar

A SIM galeria, Curitiba, Paraná, apresenta “Vertigo”, exposição de caráter coletivo com artistas de diversas origens (alguns estrangeiros) que lançam mão de materiais inusitados e linguagens múltiplas que perpassam da pintura ao vídeo. A exibição conta com nomes pontuais da cena contemporânea como Carmela Gross, Darren Almond, Eduardo Kac, Isao Hashimoto, Ivan Grilo, Jules Spinatsch, Katinka Pilscheur, Luiz Roque, Luiz Zerbini, Miguel Palma, Nuno Ramos, Odires Milászho e Semiconductor (Ruth Jarman e Joe Gerhardt).

 

 

 

 

A palavra da curadoria

 

 
A vertigem é sintoma de descompasso. Ocorre em curto circuito perceptivo quando, por exemplo, o feedback dos dados processados pelo cérebro diverge das sensações experimentadas pelos sentidos que orientam o corpo no espaço. O indivíduo, mareado, sente como se tudo ao seu redor estivesse a ponto de dissolver; a matéria, então, menos sólida parece ondular em um universo elástico.

 

No âmbito estético, a vertigem é frequentemente associada a situações em que representações ambíguas desafiam a interpretação do olhar. Imagens em que a reversibilidade entre figura e fundo pulsa, alternadamente, disputando a atenção em primeiro plano. Vertigo busca ampliar esta abordagem sugerindo também alegorias de ordem psicológica ou social para além da dinâmica fisiológica.

 

Testemunhamos uma era em que a humanidade está mergulhada no oceano polifônico de informações partilhadas em rede. A conexão com esta teia coletiva insere percepções de outros tempos e espaços no seio da vivência do agora.

 

Há tanto para ver, tanto para saber, tanto para digerir…

Tudo, ao mesmo tempo, dilatado por um caleidoscópio de possibilidades.

O vasto mosaico de expressões singulares é consequência da popularização dos meios técnicos que facilitam o acesso à representação. Após séculos em que somente a voz da elite ecoou no imaginário coletivo, finalmente a evolução tecnológica possibilitou aos demais indivíduos a chance de inscrever suas histórias pessoais na crônica social.

 

Por outro lado, a multiplicação excessiva de pontos de vista circulando indiscriminadamente pode nublar o discernimento subjetivo. O redemoinho de opiniões heterogêneas tem efeitos atordoantes; o acúmulo de diversas referências tende a se tornar indigesto. Paul Valéry alertou, ainda em 1923: “O ouvido não suportaria dez orquestras juntas. O espírito não pode seguir muitas operações distintas, não há raciocínios simultâneos”.

 

O elenco de obras que compõem Vertigo não foi elaborado sob a obrigatoriedade de justificar a coerência do conjunto. Ao contrário, sua seleção é identificada pela noção de enumeração disjuntiva, pela qualidade da lista poética – aquela que não pretende representar integralmente a totalidade, mas sugere um horizonte de eventos abertos às associações flexíveis. Esse conjunto exprime o senso de fragmentação e a complexidade de uma sequência de impressões sem conexões rigorosas.

 

Há desde obras onde a ambiguidade visual incita jogos óticos vertiginosos, até proposições que tensionam os limites da representação, exibindo-a em escala análoga ao espaço físico real (trompe l’oeil). Há também um objeto feito com assemblage de relógios digitais cujos algarismos estão partidos ao meio, quebrando a linearidade da progressão temporal. /Retratos constituídos por milhares de números carimbados, marcando a quantidade de gestos necessários para traçar a figura. /Uma instalação que contabiliza quantas vezes a ganância de certos grupos humanos levou à eclosão de bombas atômicas. /Fotografias de flores transgênicas que contém o DNA do artista que as cultivou. /Gravações de sons captados acima da atmosfera terrestre decodificados em imagens gráficas. /Pintura feita por meio da retenção de gases tóxicos expelidos por um carro. /Cartografias celestes, mapeadas tanto a partir do polo norte quanto do polo sul, sobrepostas em lâminas transparentes, unindo paradoxalmente dimensões opostas no mesmo plano. /Desenhos que apresentam uma notação de escala em uma folha em branco dando margem à projeção mental de um espaço imaginado. /Um filme que mostra o simulacro de uma obra de arte reconhecida transportada a um contexto insólito. /…/

 

O micro universo desta exposição propõe uma narrativa aberta e não linear, articulada em linguagem visual. Orquestra experiências díspares, contrapondo proposições de natureza totalmente diversa. Alude à alguma coisa imensa, impossível de ser totalmente conhecida. Faz analogia à convivência cotidiana com pluralidades cada vez mais abundantes e o consequente sentimento de angústia vertiginosa gerado pela incapacidade de apreender o todo. Apoiado em breves epifanias estonteantes, o tema de Vertigo remete à perda de escala, à desorientação e ao gosto pelo excesso, tão característicos dos tempos turbulentos deste barroquismo tecnológico em que hoje vivemos.

 

Denise Gadelha

 

 

 

DE 13 de março a 19 de abril.

 

 

Artistas internacionais na Fundação Iberê Camargo

06/dez

A Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, RS, exibe a exposição “ZERO”, uma compilação de obras originais e reconstituições de uma das mais importantes vanguardas do pós-guerra europeu. Iniciado em Dusseldorf no final da década de 50 pelos alemães Heinz Mack e Otto Piene – a quem posteriormente se juntou Günther Uecker –, o movimento “ZERO” promoveu uma ruptura com o expressionismo abstrato e o tachismo em voga, utilizando em suas obras vibração, luz e sombra, monocromia, movimento mecânico e deslocamentos rítmicos. A mostra busca estabelecer um diálogo entre o trabalho do grupo de Mack, Piene e Uecker e o de artistas de outras partes do mundo, cujas aproximações nem sempre se deram de forma consciente – a exemplo dos quadros Branco/Preto de Hércules Barsotti; de Bicho – Relógio de Sol, de Lygia Clark e de Progressão e Sequência Vertical S-30, de Abraham Palatnik. Almir Mavignier, único brasileiro que participou ativamente do movimento, ganha a reconstrução de seu painel de cartazes Forma. Por outro lado, a exposição traz nomes que influenciaram o pensamento de ZERO, como o de Yves Klein com sua pintura monocromática azul e dos Conceitos Espaciais de Lucio Fontana.

 

O trabalho com a luz de Heinz Mack aparece na réplica da estrutura de espelhos em movimento Interferências – Movimentos integrantes de um espaço virtual e na original Vibração da luz, bem como no óleo sobre tela Estrutura dinâmica branco sobre cinza. Já Otto Piene faz a luz dançar com as instalações Balé de Luz, Sonâmbulo e Cilindro de Luz e duas telas, o óleo Luz em agosto e a pintura de fumaça Pintura a fumaça sobre vermelho / 1 volume. Os pregos, matéria-prima de Uecker, aparecem em Pintura branca, que, junto com o Objeto de cabides 1 e a reconstrução de sua Chuva de luz de 66, dão prova do talento e inventividade do artista da Alemanha Oriental.

 

Destaca-se também Hans Haacke, com a reconstrução de Pequena vela, tecido suspenso sobre ventilador, e com sua Escala grande de água. As pinturas móveis de Jean Tinguely e as grandes esculturas de espelhos de Christian Megert estabelecem um paralelo com a ambientação Espaço Elástico de Gianni Colombo, composta por feixes de elásticos movimentados eletromecanicamente. Já Corpo de ar, conjunto de balão, suporte e máquina pneumática, e Linha – trechos de uma linha infinita traçada pelo artista – são uma pequena amostra do trabalho conceitual de Piero Manzoni.

 

Não apenas uma exposição histórica, ZERO é uma experiência fortemente sensorial, que mostra, no segundo e terceiro andares do espaço expositivo da Fundação Iberê Camargo, a atualidade do pensamento de grandes nomes das décadas de 1950 e 1960. Com curadoria da historiadora de arte Heike van den Valentyn, a exposição é uma realização da Fundação com o Museu Oscar Niemeyer de Curitiba e a Pinacoteca do Estado de São Paulo e conta com a parceria do Goethe-Institut e o apoio do Ministério NRW e Pro Helvetia.

 

 

Até 04 de março de 2014.

 

Em Curitiba, na SIM galeria

22/nov

O pintor Paolo Ridolfi exibe uma série de obras inéditas na SIM Galeria, Curitiba, PR. Essa nova série de trabalhos foi designada pelo artista como “Pintura ao Quadrado” e ganhou apresentação assinada pelo crítico Fernando Cocchiarale.

 

 

 

A palavra de Fernando Cocchiarale

 

 

As pinturas mais recentes de Paolo Ridolfi, aqui expostas, podem ser tomadas como um balanço poético de sua trajetória, iniciada na década de 1980. Neste balanço, porém, o artista não se contentou em reavaliar as conquistas visíveis daqueles trabalhos que lhe abriram novos caminhos. Ridolfi foi além e mergulhou em direção a uma camada profunda e menos evidente de seu processo criativo: aquela da articulação semântica de recorrências – cromáticas, espaciais, temáticas e intuitivo-conceituais, etc. – que em três décadas formaram um sentido comum, processual, subjacente à sua produção, desde o florescimento inicial até o presente. Dentre as diversas séries de pinturas expostas algumas dão continuidade a experiências anteriores. Este não é o caso de suas Pinturas Vazias. Novas, estas pinturas são a melhor expressão da radicalidade do mergulho dado por Ridolfi. As Pinturas Vazias não são, porém, planos simples. Formadas por paralelepípedos montados e costurados com a mesma lona de suas telas, elas estão pintadas por camadas monocromáticas de tinta acrílica que ratificam seu status pictórico apesar de sua tridimensionalidade flácida.Mais próximos dos temas da própria arte as Pinturas Vazias de Paolo Ridolfi parecem corresponder ao anseio do artista manifesto em seu depoimento – voltar ao primeiro assunto: apenas a arte.

 

 

 

De 26 de novembro a 21 de dezembro.

 

Em Curitiba: Alex Flemming e Clif

19/nov

Com o tema “Território estrangeiro”, o Curitiba Luz Imagem e Fotografia (Clif), Curitiba, PR, começa hoje, na capital paranaense, com uma programação que inclui exposições, palestras, oficinas e sessões de cinema, com curadoria do artista visual Tom Lisboa. A coletiva “Território Estrangeiro”, no Museu Municipal de Arte (MuMa) – Portão Cultural,  abre a programação e reúne nomes importantes da fotografia e das artes visuais, como Juliane Fuganti, Tony Camargo, Vilma Slomp, Rosangela Renó, entre outros.

 

O artista visual Alex Flemming, que também ministrará uma das palestras no Museu Niemeyer, veio da Alemanha especialmente para duas exposições no Brasil, entre elas, a que acontece em Curitiba. “Ele é uma das estrelas do evento”, diz o idealizador do Clif, Guilherme Zawa, que realiza a ação em Curitiba desde 2011.

 

Os trabalhos de Flemming integram importantes coleções de museus no Brasil e no mundo, como o MASP, São Paulo, o Museu Nacional e Belas Artes, Rio de Janeiro, e o Museu de Arte da América Latina, em Washington. No MuMa, estarão expostas obras de uma de suas séries mais famosas, Body Builders (2001-2002), quando o artista fotografou corpos jovens e esbeltos e desenhou em cima das imagens mapas de áreas de conflitos e guerras.

 

Na programação, Zawa destaca ainda a palestra com Eder Chiodetto, um dos maiores curadores de fotografia do país, e a oficina de construção de câmeras digitais artesanais, com Guilherme Maranhão. Pela Rua XV de Novembro, os fotógrafos do coletivo “O Estendal” levarão imagens da série “Paisagem Alterada”, impressas em papel de algodão. As obras, que estarão à disposição do público a partir de amanhã, poderão sofrer intervenções das pessoas. No final do Clif, no sábado, 23, acontece também o “Foto Escambo”, projeto idealizado por Hans Georg, no qual fotógrafos e amadores trocam, sem a necessidade de dinheiro, imagens expostas e sem identificação do autor. “No meio das imagens, têm fotos valiosas que são dadas de bom grado pelos artistas. Também é um momento imprescindível para o fotógrafo que quer tirar um trabalho da gaveta”, diz Zawa.

 

 

Ideia

 

O curador do Clif, Tom Lisboa, conta que a escolha do tema “território estrangeiro” (um recorte para falar sobre as outras áreas que “invadem” a fotografia) foi bastante particular. “Quando fui convidado para fazer a curadoria, o Guilherme Zawa me pediu para dar um enfoque muito pessoal à mostra. Toda minha produção mescla a fotografia com outras áreas, tais como a literatura, o vídeo, a pintura, o cinema, a intervenção urbana e a internet”, diz. Lisboa conta que o projeto coincidiu com a leitura do livro Cidade Polifônica, do antropólogo italiano Massimo Canevacci. “Nele, ele afirma que compreendeu o que é ser italiano quando se sentiu perdido em um território estrangeiro, no caso o Brasil. A partir dessa vivência, eu desenhei o que seria o território estrangeiro do Clif. A fotografia deveria aparecer diluída, mas, ao mesmo tempo, afirmando sua identidade perante os outros meios”, define Lisboa.

 

Até 15 de dezembro.

Multiarte: Fortaleza exibe Tomie Ohtake

06/nov

No próximo dia 21 de novembro, Tomie Ohtake completará 100 anos. A Galeria Multiarte (leia-se Max Perlingeiro), Aldeota, Fortaleza, CE, foi convidada por Ricardo Ohtake, diretor do Instituto Tomie Ohtake, a integrar o conjunto de instituições e galerias em torno desta grande homenagem a Tomie apresentando obras recentes da artista. Convém assinalar que a ligação afetiva de Tomie Ohtake com Fortaleza data dos anos 1990. Nesta ocasião a artista visitou a cidade e lá fez bons amigos e voltando com regularidade.

 

A presente exposição apresenta um conjunto de obras da sua última produção datada de 2013. São pinturas monocromáticas que mostram a grande capacidade da artista em busca da criação. Entretanto o seu processo criativo, gesto e cor continuam de forma marcante. Nove gravuras em metal de grandes dimensões, constituindo um conjunto raro de uma série praticamente esgotada. E uma escultura de grande formato.

 

 

Sobre a artista: palavras de Agnaldo Farias

 

“Tomie Ohtake, como sempre perseverando na busca da depuração, preparou ao longo dos últimos meses de trabalho contínuo, filtrado por sua costumeira insatisfação, três conjuntos de telas, cada um deles focados numa única cor, ou quase isso. Dois grupos compostos por cores primárias – amarelo e azul -, e o terceiro por uma cor secundária, verde, resultante da soma das outras duas. Os três conjuntos são praticamente monocromáticos, a exceção corre por conta da presença, em algumas das telas verdes e azuis, do vermelho, ou seja, da terceira cor primária. A inclinação imediata é dizer que o vermelho entra de forma discreta, como se ele fosse capaz disto. Pois não é, ainda mais tendo por fundo cores tão intensas, como o azul e o verde empregado pela artista. Qualquer aprendiz sabe que o simples contato entre cores primárias e secundárias, por adjacência ou, pior ainda, sobreposição, é conflitivo. Embora cada conjunto apresentado nesta exposição concentre-se numa cor, todos três têm como denominador comum o mesmo gesto, isto é, a mesma pincelada curta e circular, cuja justaposição e sobreposição combinadas produz o mesmo efeito, a mesma atmosfera cromática arejada como um tecido cuja trama é mais ou menos densa mas sempre esgarçada, deixando ver, ou melhor, atraindo o olhar para dentro de si, convidando-o a mergulhar em suas profundezas, flutuar nas formas enunciadas, devolver-se à luz exterior que incide sobre ela, sobre a porções de branco que lhes constitui. Esses gestos não são guiados pelo acaso, não se justificam pelo puro prazer de existir, como uma ação sem finalidade que se completa em si mesma…”

 

 

A palavra de Ricardo Ohtake

 

“Essas obras são marcadas por texturas resultantes de rápidas pinceladas, cujas curvas remetem à geometria característica de Tomie. São “pinturas para ver”, segundo o crítico Agnaldo Farias, em referência ao cuidadoso e aprofundado olhar que esses trabalhos exigem. Contemplar a exposição torna-se, então, um processo de descoberta e imersão no gesto construtivo da artista”.

 

 

Atividade complementar

 

Como atividade complementar a Multiarte convidou o crítico de arte Agnaldo Farias, curador do Instituto Tomie Ohtake, para proferir uma palestra sobre a produção atual da artista, dia o2 de dezembro às 19h.

 

De 07 de novembro  20 de dezembro.

Na galeria de Roberto Alban

04/nov

Chama-se “Conversa Tranquila na Praia da Paciência” o título da exposição individual do artista plástico Paulo Whitaker a realizar-se na Bahia. A mostra – inédita – dá prosseguimento a programação da Roberto Alban Galeria de Arte, Ondina, Salvador. É a primeira vez que Salvador recebe uma mostra significativa do trabalho pictórico de Paulo Whitake, com 21 óleos sobre tela que refletem sua produção atual. O artista já vem sendo exposto, premiado e elogiado pela crítica em diversos lugares do Brasil e do mundo. Além de integrar o acervo de diversas coleções privadas e públicas, como o Instituto Cultural Itaú e o Museu de Arte Contemporânea do Paraná, Whitaker foi prêmio de aquisição da Pinacoteca de São Paulo neste ano de 2013 e do MAC- USP em 1993, através do Prêmio Gunther de Pintura. Também em 2013, outra obra do artista foi doada ao acervo do MAC-USP a partir da escolha de seu atual diretor, Tadeu Chiarelli.

 

Paulo Whitaker tem uma presença expressiva no cenário nacional desde a década de 1980, afirmando-se internacionalmente como um dos expoentes do abstracionismo brasileiro. Participou da 3ª Bienal do Mercosul, 2001, em Porto Alegre; da 25ª edição da Bienal Internacional de São Paulo, 2002 e da Biennale de Montreal, 2007, no Canadá. Ainda na década de 1990, foi artista residente na Alemanha, E-Werk Freiburg, e duas vezes no Canadá, Plug In e The Banff Centre for the Arts. Sua obra despertou a merecida atenção de nomes importantes da crítica e curadoria brasileira e internacional, como Ivo Mesquita, curador e diretor da Pinacoteca de São Paulo, Frederico Morais, figura central na crítica e curadoria brasileira e um dos criadores e curador geral da 1ª Bienal do Mercosul, Jacopo Crivelli Visconti, curador italiano de atuação internacional residente em São Paulo, e Wayne Baerwaldt, curador da Alberta College of Art + Design.

 

A obra de Paulo Whitaker desafia o próprio universo da pintura e a composição tradicional de seus elementos: cores, formas, manchas, linhas, planos que não têm o compromisso de representar o mundo; alfabetos que não se deixam decodificar. Sua pintura põe em cheque os limites entre abstração e figuração e convida o público para uma conversa mais intrigante do que tranquila. Apenas diante de sua pintura, ao vivo, os olhos mergulham em toda sua matéria, mas nunca atingem o fundo do seu mistério. Segundo o próprio artista: “A espinha dorsal do que é hoje o meu trabalho vem de 1989, quando criei um alfabeto próprio de formas e conteúdos. Desde então as minhas construções e formas vêm se desenvolvendo. É como se fosse a criação de uma música instrumental, por exemplo”.

 

 

Sobre o artista

 

O artista plástico vive e trabalha em São Paulo, cidade onde nasceu em 1958. Pintor e desenhista, Paulo Whitaker formou-se em Educação Artística na Universidade para o Desenvolvimento do Estado de Santa Catarina – Udesc/SC, em 1984. Com uma sólida carreira nacional, suas obras estão em acervos de importantes instituições e museus como: Museu de Arte de Santa Catarina – MASC; Museu de Arte Moderna de São Paulo – MAM/SP; Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, MAC/USP; Museu de Arte Contemporânea do Paraná – MAC/PR; Museu de Arte Brasileira da Fundação Armando Álvares Penteado – MAB/Faap e Pinacoteca do Estado de São Paulo. Entre diversas exposições, participou da 25ª edição da Bienal Internacional de São Paulo em 2002. Entre 1991 e 1992, foi artista residente no Plug In, em Winnipeg, no Canadá, em E-Werk Freiburg, na Alemanha, e, em 1999, no The Banff Centre for the Arts, também no Canadá. Naquele mesmo ano participou da exposição Arte Contemporânea Brasileira sobre Papel no MAM, em São Paulo, e, em 2001, participou da 3ª Bienal do Mercosul em Porto Alegre. Já em 2007, ele participou da Biennale de Montreal, no Canadá. Paulo Whitaker recebeu, em 1993, o Prêmio Gunther de Pintura do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo e, em 1998, no VI Salão Nacional Victor, o Grande Prêmio no Museu de Arte de Santa Catarina.

 

 

De 07 de novembro a 07 de dezembro.

Raridades com Ranulpho

No ano em que comemora 45 anos de atividades, a Galeria Ranulpho, Bairro do Recife, Recife, PE, iniciou com um dos fatos mais importantes da sua existência, o lançamento do livro sobre o pintor Vicente do Rego Monteiro “Um olhar sobre a década de 60”. Além da sólida trajetória vinculada aos grandes pintores da tradição Modernista, a galeria decidiu cobrir suas paredes, pela primeira vez, com duas exposições de importantes artistas da Arte Contemporânea de Pernambuco. A garimpagem correu paralela aos eventos significativos realizados ao longo do ano. Entre as preciosidades, constam três telas de Lula Cardoso Ayres, uma delas raríssima, da década de 1940. Recentemente adquirido da família de Vicente do Rego Monteiro, da década de 1960 representando um colhedor de cacau. Reynaldo Fonseca, assina a “Anunciação”, datada de 1994. O trabalho de Cícero Dias, que está entre os melhores do artista, foi tirado da coleção particular do marchand Ranulpho. Outro destaque é o conjunto de três pinturas sobre o circo do pintor primitivo Alcides Santos; as obras são da década de 1970, período em que teve uma sala especial na 1ª Bienal Latino Americana, “Mitos e Magia” em São Paulo.

 

Entre outras raridades, uma escultura do Mestre Dezinho, retratando um anjo em madeira maciça de cedro. E de Francisco Brennand, um par de jarrões com 70 centímetros cada, pintados em 1971 em azul e branco, as cores utilizadas em toda azulejaria portuguesa e brasileira. Ainda em destaque, três pinturas representando São Francisco, de autoria de Aldemir Martins, Virgolino e José de Dome. O conjunto exposto apresenta ainda duas antigas obras de Mário Nunes; uma paisagem de Olinda assinada por Rebolo; pinturas de Ado Malagoli; uma ciranda, datada de 1968, de autoria de Orlando Teruz; uma Natureza-Morta de Carlos Scliar e uma pintura de Siron Franco.

 

 

A partir de 07 de novembro.

Kboco na SIM galeria

14/out

A SIM galeria, Curitiba, Paraná, apresenta trabalhos recentes de Kboco. A apresentação é de Felipe Scovino: “Nas recentes obras de Kboco nos deparamos com uma imagem fatiada, retomada e reinventada. Mas que imagem é essa? Qual é o signo que ela revela? São cidades que apresentam uma arquitetura em trânsito, um dinamismo frenético da urbanidade. São obras que não possuem apenas a visualidade da rua mas possuem o cheiro, as incongruências e belezas do nosso entorno.  Não há uma narrativa com começo, meio e fim, porque aliás não há fim. É uma obra em andamento. Nosso olhar se perde – pois não há um centro -, ele é multidirecionado e assim avistamos as inúmeras encruzilhadas, avenidas, ruas, prédios, casas, parques que compõem essas telas. Como uma planta baixa, suas pinturas sobrevoam uma cidade imaginária constituída por inúmeras referências, que variam desde fabulações a indícios de arabescos, torres, portais, pórticos e fachadas. Esta proximidade com a transformação da cidade e o contato com a arquitetura estão conectados desde o início da trajetória do artista. Suas pinturas murais realizadas em cidades com características e formações históricas e temporais tão distintas como Goiânia, Olinda e Porto Alegre auxiliaram na construção de um método muito próprio relacionado a sua percepção sobre o desenvolvimento da cidade, seus males e benefícios.

 

Ainda pensando no alargamento das influências ou diálogos que sua obra realiza, é interessante pensar não apenas nas relações (talvez já óbvias) que as obras de Jean-Michel Basquiat e Keith Haring tiveram não somente para a obra de Kboco mas para a transição entre uma produção artística realizada na rua e seu deslocamento para o cubo branco.

 

O trabalho especialmente produzido para a exposição cria uma associação com as suas telas e além disso, deslocando para a história da pintura, sua obra amplia o conceito de pintura de paisagem. Não seriam paisagens de ordem mimética, mas formas que ao mesmo tempo em que apontam a falência de uma representação figurativa, alcançam novos limites para a pintura. Em suas obras, a fragmentação do objeto leva-nos a duvidar sobre a realidade ou presença de um lugar, e aí surge a necessidade de reunir seus pedaços em uma unidade. Este discurso acerca da paisagem não tem mais ligação com um objeto do mundo natural, mas com a investigação a respeito das próprias circunstâncias que são mobilizadoras dessa transformação da paisagem”.

 

 

De 18 de outubro a 16 de novembro.

Anna Bella Geiger, Mostra Síntese em BH

08/out

“Mostra Síntese”, como sugere o nome, levou à Galeria Murilo Castro, Savasi, Belo Horizonte, MG, um recorte da obra da artista plástica Anna Bella Geiger. Conhecida por uma vasta e ininterrupta produção artística, Anna Bella Geiger, hoje com 80 anos de idade, está entre os poucos artistas brasileiros surgidos no começo dos anos 50 ainda em ação na atualidade. A exposição reúne 32 obras, desenhos e gravuras produzidos em épocas diversas; vídeos; duas pinturas; trabalhos fotográficos; além de dois “Fronteiriços” e peças tridimensionais (como os rolos/scrolls, recentemente produzidos). “É, portanto, uma mostra única, já que pode contribuir para a compreensão dos liames existentes entre o processo criativo pessoal de Anna Bella e as transformações experimentadas pela produção artística brasileira a partir do pós-guerra”, analisa o crítico Fernando Cocchiarale.

 

Sua obra inovadora, é marcada por uma veia irônica trazendo sempre à tona questões ideológicas do universo das artes e do contexto político. Em 1974 participou de uma mostra de videoarte na Filadélfia, que foi considerada a primeira exibição pública de vídeos brasileiros. Em Belo Horizonte, além da Galeria Murilo Castro, a artista tem obras na exposição “ELLES: Mulheres Artistas na coleção do Centro Pompidou”, no Centro Cultural Banco do Brasil, organizada pelo Centro Georges Pompidou/Musée National d’Art Moderne, na França, que traz um olhar contemporâneo de mulheres inovadoras. Ao longo dos 60 anos de sua produção artística, Anna Bella Geiger vem mantendo notável atualidade, posto que, frequentemente, ultrapassa o âmbito de sua dinâmica processual específica, para somar-se à de outros artistas que contribuíram para as transformações ocorridas na arte do país ao longo desse extenso período.

 

“Questões formuladas no âmbito da arte só se consumam por meio da criação de sistemas que as distinguem de discursos meramente ideológicos, transmitidos por meio da palavra falada ou escrita. O sucesso do sistema Geiger resulta da superação desses discursos por intermédio de uma ordem espacial gráfica de teor geográfico, pela apropriação de materiais de trabalho e mídias diversos, elaborados isoladamente ou combinados às instalações e aos objetos atualmente produzidos. De seu cais poético, a obra de Geiger segue viva, experimental e surpreendentemente contemporânea”, completa Cocchiarale.

 

 

Sobre a artista

 

Anna Bella Geiger nasceu no Rio de Janeiro em 1933. É escultora, pintora, gravadora, desenhista, artista intermídia e professora. Com formação em língua e literatura anglo-germânicas, inicia, na década de 1950, seus estudos artísticos no ateliê de Fayga Ostrower (1920 – 2001). Em 1954, vive em Nova York, onde frequenta as aulas de história da arte com Hannah Levy no The Metropolitan Museum of Art – MET (Museu Metropolitano de Arte) e, como ouvinte, cursos na New York University. Retorna ao Brasil no ano seguinte. Em 1960 participa do ateliê de gravura em metal do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro – MAM/RJ, onde passa a lecionar três anos mais tarde. Em 1969, novamente em Nova York, ministra aulas na Columbia University. Em 1982, recebe bolsa da John Simon Guggenheim Memorial Foundation, em Nova York. Publica, com Fernando Cocchiarale, o livro “Abstracionismo Geométrico e Informal: a vanguarda brasileira nos anos cinquenta”, em 1987.

 

Até 19 de outubro.

 

Suzana Queiroga no MAC Niterói

02/out

O Museu de Arte Contemporânea de Niterói, Mirante da Boa Viagem s/n, Boa Viagem,  Niterói, RJ, apresenta a exposição “Olhos d’Água”,  de Suzana Queiroga, artista contemplada com o 5º Prêmio de Artes Marcantonio Vilaça – MINC – Funarte. A mostra apresenta uma grande escultura de ar (inflável) : “Olhos d’Água”, que será doada ao acervo do MAC  como contrapartida do prêmio. Sob a curadoria de Guilherme Vergara, também serão expostas três séries de sete desenhos, três vídeos e uma pintura todos inéditos.  Ainda em outubro a artista vai realizar uma exposição na galeria Artur Fidalgo e uma instalação em homenagem a Hilda Hilst na vitrine da Livraria da Travessa, Ipanema. “Olhos D’água” é um trabalho que se relaciona com a questão da morte do pai de Suzana, na década de 1960, em um acidente aéreo na Baía de Guanabara próximo ao aeroporto Santos Dumont, enquanto sua mãe ainda estava grávida da artista.  O MAC fica exatamente em frente ao aeroporto que seria o destino de um pouso que não aconteceu.

 

A palavra da artista

 

“A localização do museu foi essencial para esse projeto. Lido com essas memórias simbolicamente, o despedaçamento e dissolução do corpo no mar, o fado, a espera de quem jamais virá. É um contato cada vez maior que faço com minha origem portuguesa. Para mergulhar nessa proposta, precisei pesquisar e abrir recentemente, junto com minha mãe, os arquivos que ela não via desde a época do acidente, as matérias do jornal, as cartas de amor de um para o outro, os diários do meu pai, telegramas, enfim, toda uma sorte de coisas que fizeram com que eu pudesse passar a conhecê-lo, e houve sintonias incríveis, os desenhos dele em azul, diários dele com as capas no mesmo azul que eu uso, telegramas de minha mãe falando de azul. Aos poucos, conheço esse homem com uma memória construída no hoje, o que talvez revestirá, com algum tipo de membrana esse buraco enorme que sempre senti dentro do peito”, declara a artista.

 

“Neste momento estou  profundamente ligada a uma paleta de azuis profundos, azuis violetados, cinzas azulados e oceanicamente esverdeados. Minha relação com as cores agora só passa pelo que é céu, densidade atmosférica, ar, nuvem, e também mar, oceano e profundidade. Tenho um respeito tão grande pela cor, que é como se essa fosse algo que pairasse acima de tudo, pois a cor é a própria luz, e o seu comportamento mutante, desviante, relativo e infinitamente plural é de uma poesia imensa a qual penso que poucos artistas conseguem tocar. Sinto que não é uma operação meramente técnica ou objetiva, não basta saber as misturas e conhecer os pigmentos. Existe uma resposta maior que a cor me dá e que é proporcional ao quanto eu consigo me aproximar mais e mais delicadamente de seus sutis momentos de transformação vibracional. A cor “ideia” logo me vem como algo pronto, idealizado, e plenamente dominado, porém, a cor que “realmente” torna potente as minhas intenções diante de um trabalho somente será obtida a partir de uma busca, revalidada a cada instante, num percurso no qual é exigida a totalidade de minha atenção”, completa.
Suzana Queiroga começou a trabalhar com infláveis há 10 anos, pelo anseio de ampliação dos limites da pintura. “Ver a pintura fora do plano, no espaço. O material transparente, os reflexos do espaço em torno na película de PVC colorido se relaciona com aspectos da pintura, tais como transparências, manchas e pinceladas”, explica.

 
 
De 05 de outubro a 08 de dezembro.