Suzana Queiroga no MNBA

15/mai

Completando dez anos de criação, o projeto “Ver e Sentir através do toque” do Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro, RJ, voltado para a acessibilidade e a sustentabilidade, inaugura uma nova fase: o foco agora se volta para a arte contemporânea.

 

Nesta nova etapa a convidada é a artista visual Suzana Queiroga, integrante da famosa Geração 80 do Parque Lage, cuja exposição o MNBA abre na Sala Mario Barata, no dia 16 de maio, às 12h, em evento integrante da 15ª Semana dos Museus, promovida pelo IBRAM.

 

Um dos destaques da mostra é a obra “Topos”, um relevo em gesso doado em 2009 ao MNBA, produzida já com a intenção de participar de um projeto educativo, no qual a relação com a obra pudesse ser estimulada a partir da percepção tátil.

 

Além desta, serão exibidas outras três obras, sendo que uma delas será produzida na abertura da exposição, focando no desenvolvimento de uma rica experiência sensorial com cegos e videntes. Suzana Queiroga vai apresentar um mapa interativo da região onde se localiza o Museu Nacional de Belas Artes, além de outras obras que poderão ser tateadas.

 

O trabalho “Topos” será ambientado num novo contexto, onde a percepção visual pode ser minimizada e outros sentidos precisam ser ativados, o relevo, junto a outras obras, ganha novas dimensões e um espaço ampliado. Em um ambiente com pouca iluminação e sem informação textual, pretende-se acionar outros sentidos, que as cores ganhem som, cheiro, textura, sentimentos e sensações.

 

“É um caminho a ser percorrido com o corpo, onde o tempo é ativado e uma narrativa se inicia. Aqui, dar espaço aos outros sentidos é uma oportunidade singular de reaprender o mundo”, explicam os curadoes Daniel Barretto, Simone Bibian e Rossano Antenuzzi, todos técnicos do Museu Nacional de Belas Artes/Ibram/MinC.

 

Paralelamente, haverá uma mesa-redonda com a artista e seus convidados, discutindo o tema da ciência e arte, incluindo a participação de uma neurocientista.
Iniciado em 2007, o projeto previu a possibilidade do toque em reproduções em baixo relevo e algumas maquetes, feitas a partir do acervo artístico do museu, de obras especialmente selecionadas para este trabalho. O objetivo foi possibilitar a experimentação estética e o conhecimento sobre história da arte e processos artísticos, tornando-os acessíveis às pessoas cegas e com baixa visão, de forma a democratizar o acesso à cultura.

Memórias sobre papel

O artista plástico Marcos Duprat inaugura a exposição individual “Memórias Sobre Papel” na sala Clarival do Prado Valladares, no Museu Nacional de Belas Artes, Cinelândia, Rio de Janeiro, RJ.  

 

A mostra é um panorama dos desenhos de Marcos Duprat, em mais de quatro décadas, e reúne 36 obras sobre papel. As imagens ilustram as transformações em sua linguagem e imagística em seu enfoque do “enigma da realidade visível”.

 

Datadas de 1977 a 2017, seus trabalhos abordam a temática do mundo exterior (paisagens e figuras na água) e o mundo interior (naturezas mortas, retratos, figuras e reflexos em espaços íntimos). O artista utiliza diversos meios, como lápis de cor, crayon, pastel seco e oleoso, aquarela e óleo sobre diferentes papéis: Canson, Schoeller, Fabriano, polpa vegetal e papéis artesanais japoneses e brasileiros. A luz é um elemento chave na articulação dessas imagens.

 

Para o artista, essa mostra marca os momentos importantes em seu percurso artístico e pessoal: “Algumas dessas imagens são por mim associadas a minha memória afetiva e outras a lembranças e registros dos diversos países onde vivi, em especial os dez anos em que estive na Ásia. É para mim um momento feliz poder partilhar com o público da minha cidade esses registros”. Desde 2008, Marcos Duprat tem seu ateliê no Rio de Janeiro. Seu acervo pessoal conta com um número expressivo de pinturas, desenhos, fotografias e esculturas.  

 

 

Sobre o artista

 

Nascido no Rio de Janeiro em 1944, Marcos Duprat manteve ao longo de sua vida diplomática a constância e o fluxo de sua obra. As influências de sua formação artística no Rio de Janeiro e nos EUA, bem como posteriormente dos sete anos vividos na Europa e dos nove na Ásia, deixaram traços nítidos em seu trabalho. Não obstante, o seu registro visual é singular e se mantém coerente. Com sua formação artística iniciada no MAM do Rio de Janeiro, prosseguiu com o mestrado em Belas Artes em Washington, D.C, onde fez sua primeira individual, em 1977. Realizou inúmeras mostras individuais no Brasil, dentre as quais: MASP, SP, 1979 e 1988; MAC, SP, 1995; Pinacoteca do Estado de São Paulo, 2006; e MUBE, Museu Brasileiro da Escultura, São Paulo, SP, 2015.  No Rio de Janeiro apresentou suas obras no Centro Cultural Correios, em 1995 e 2008; Instituto Cultural Villa Maurina, 1996 e no Centro Cultural Banco do Brasil, 1999. No exterior realizou também inúmeras exposições em museus, dentre os quais o Centro Culturale San Fedele, Milão, Itália, 1990; Museu Nacional da Hungria, 1993; Museo de Arte Contemporaneo de Montevidéu, Uruguai, 1999; Teien Metropolitan Art Museum, Tóquio, Japão, 2003 e a Sidhartha Art Foundation em Kathmandu, Nepal, 2013. Em 2016, realizou mostra retrospectiva de pinturas no Espaço Cultural Eliseu Visconti, na Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro, RJ.

 

 

De 16 de maio a 02 de julho.

Curso sobre Doris Salcedo

Será desenvolvido nos dias 18 e 25 de maio curso sobre a obra de Doris Salcedo com a professora e museóloga Libia Schenker na Casa Museu Eva Klabin, Lagoa, Rio de Janeiro, RJ. No curso, “O grito de uma mulher”, Libia Schenker vai analisar o contexto histórico das obras da artista e seu discurso conceitual. O curso é imperdível. Doris Salcedo é uma das artistas colombianas de maior reconhecimento internacional. A artista plástica explora temas como a violência política, o tráfico de drogas, as milícias e o machismo em seu país.

 

 

Sobre a artista

 

Doris Salcedo, artista contemporânea colombiana, atua na denúncia da dramática luta entre o tráfico de drogas, guerrilheiros, milícias e o governo, uma tragédia que atinge esse país há cerca de 50 anos. Mas para concretizar essa temática ela cria uma linguagem visual sem sentimentalismo, e sim como um lugar simbólico onde o que foi destruição é refeito como memória coletiva, com características plásticas singulares, sem estetizar a dor.

Desvelar o seu discurso conceitual para captar a essência do trágico, é a tarefa primordial. Doris Salcedo busca quebrar a força agressiva do anonimato das mortes, do brutal assassinato dos mais desprotegidos, sem cair na armadilha oposta de voyeurismo, de exploração sentimental. Ela, acima de tudo, expõe como o tempo pode ser cruel com a memória. Mas não cria monumentos perenes, e sim obras que se apropriam de objetos cotidianos e simples pertences dessas vítimas da violência. Nomes e identidades, assim como imagens reais do drama são omitidos, a memória surge através do grito silencioso da sua Arte

 

1ª aula – Apresentação do contexto histórico e dos seus trabalhos desde o início da sua carreira e análise do seu discurso conceitual.

2ª aula – Continuação dessa apresentação até os dias atuais, e sua análise conceitual.

 

 

Sobre Líbia Schenker

 

Museóloga, especialista em História da Arte pelo Curso de Pós-graduação da PUC-RJ. Professora adjunta do Curso de Museologia da UNI-RIO (1977 – 2012), professora de História da Arte Moderna dos cursos do Departamento de Atividades Educativas no MAM-RJ (1982-1985). Autora do livro “Colecionismo Moderno – Uma Saga Russa”, Rio de Janeiro, Usina de Letras, 2011.

60ª  World Press Photo

11/mai

A fotografia vencedora do prêmio principal, a World Press Photo do Ano, foi “Um assassinato na Turquia”, do turco Burhan Ozbilici. O registro foi feito em dezembro de 2016, quando o policial Mevlüt Mert, que estava de folga, atirou contra o embaixador da Rússia Andrei Karlov em uma sala de exposições, em Ancara. Na imagem, o assassino aparece com a pistola na mão e o dedo em riste. Na ocasião, ele gritava: “Não se esqueçam de Alepo. Não se esqueçam da Síria”.

 

A foto esteve envolvida em certa polêmica e dividiu opiniões. O próprio presidente do júri – Stuart Franklin, também fotógrafo –  se opôs à escolha. Segundo ele, conceder o prêmio mais importante ao registro de um assassinato premeditado é amplificar a sua mensagem. No entanto, a maioria prevaleceu e a foto foi selecionada. O júri do concurso é independente e a sua decisão é sempre respeitada pela Fundação World Press Photo.

 

“Foi uma decisão muito, muito difícil, mas no final a maioria sentiu que a foto era uma imagem explosiva e muito representativa do ódio contemporâneo. Nós realmente achamos que ela resumia o que uma World Press Photo do Ano deve ser e representar”, afirmou Mary F. Calvert, membro do júri.

 

Segundo Rafael Ferraz, diretor executivo da Capadócia Produtora Cultural, que há dez anos realiza a exposição no Brasil, essas imagens, nos dão o real conhecimento do que está acontecendo no mundo. “Por exemplo, não teríamos dimensão da crise dos refugiados, se não fossem essas fotografias. Por isso, espero que a exposição ajude as pessoas a se sensibilizarem e refletirem sobre os assuntos que estão afligindo o nosso planeta”, afirma.

 

 

O Brasil na World Press Photo 2017

 

O brasileiro Lalo de Almeida, fotógrafo da Folha de S. Paulo, foi premiado pela primeira vez na World Press Photo. Ele recebeu o 2º lugar na categoria Assuntos Contemporâneos com o ensaio sobre bebês com microcefalia, vítimas do vírus da Zika, no Nordeste. O ensaio foi parte de um especial publicado pelo jornal em dezembro.

 

Já Felipe Dana, que trabalha para a agência The Associated Press e havia recebido uma Menção Honrosa em 2013, levou o terceiro lugar na categoria Notícias em Destaque com a imagem Batalha por Mosul, feita no Iraque durante a ofensiva das forças especiais iraquianas e das milícias aliadas para recuperar o controle da cidade tomada pelo Estado Islâmico.

 

O Brasil ainda está presente na foto do alemão Kai Oliver Pfaffenbach, que congelou o sorriso vitorioso do atleta jamaicano Usain Bolt na semi-final dos 100 metros rasos, nas Olimpíadas do Rio de Janeiro. A imagem recebeu o 3º lugar na categoria Esporte, fotos individuais. Já a série de fotos premiada com o 3º lugar, na categoria Assuntos Contemporâneos (histórias), apresenta a triste realidade dos moradores de um conjunto habitacional abandonado em Campo Grande, no Rio de Janeiro. Os registros são do alemão Peter Bauza.

 

 

A premiação em números

 

A World Press Photo 2017 registrou inscrições de todo o mundo: 5.034 fotógrafos de 126 nacionalidades inscreveram 80.408 imagens. O júri distribuiu prêmios em oito categorias para 45 fotógrafos de 25 países: Austrália, Brasil, Canadá, Chile, China, República Tcheca, Finlândia, França, Alemanha, Hungria, Índia, Irã, Itália, Paquistão, Filipinas, Romênia, Rússia, África do Sul, Espanha, Suécia, Síria, Nova Zelândia, Turquia, Grã-Bretanha e EUA. A exposição é realizada em 45 países e vista por mais de quatro milhões de pessoas anualmente.

 

A World Press Photo, organização independente sem fins lucrativos, promove este que é o mais importante concurso internacional de fotojornalismo. A fundação está empenhada em apoiar e promover altos padrões de qualidade na fotografia, com o objetivo de gerar interesse no grande público pelo trabalho dos fotógrafos e de outros jornalistas visuais, e pela livre troca de informações.

 

 

De 16 de maio a 18 de junho

Véio na Gustavo Rebello

O artista sergipano Véio mostra esculturas na galeria Gustavo Rebello Arte, Copacabana, Rio de Janeiro, RJ. Cícero Alves dos Santos, conhecido no mundo das artes como Véio, exibe esculturas talhadas em troncos, galhos e raízes, nessa que é a sua primeira exposição individual no Rio de Janeiro. O trabalho deste artista combina aspectos da tradição popular – como a escultura em madeira, o aproveitamento das figuras sugeridas por troncos e galhos e o uso de ferramentas rudimentares – com cores intensas, muito mais próximas das cores industriais que dos matizes da natureza.

 

Essa estridência algo pop é intensificada por uma imaginação formidável, que nos faz ver em suas madeiras figuras híbridas, que compartilham traços dos bichos que conhecemos com os androides e transformers de filmes e desenhos animados. Com um simples canivete, Cícero esculpe formas diminutas em tamanho, mas com uma figuração enigmática, que lhes restitui a força reduzida pela escala.

 

Cícero Alves dos Santos vive nos arredores de Nossa Senhora da Glória, uma importante cidade do sertão de Sergipe, com aproximadamente 50 mil habitantes e uma feira de renome no Estado. A convivência com um ambiente tão ambíguo e dinâmico certamente instigou ainda mais o talento desse sertanejo incomum, que fez da preservação da memória de sua gente a razão de sua existência, mostrando um mundo rural que vai desaparecendo. Trabalho este que já foi exibido em Londres, em individual na Seeds Gallery, e já participou de coletiva na Fundação Cartier, em Paris.

 

“Quando a Vilma Eid, da Galeria Estação, sondou-me a respeito de uma mostra do trabalho do Véio, minha resposta afirmativa foi imediata. A obra do artista sempre me fascinou, pois dialoga com as questões da arte brasileira atual, não fica restrito ao rótulo de arte ingênua e popular, transcende”, analisa Gustavo Rebello.

 

“O que chama logo a atenção é o modo livre e franco como essa fauna imaginária chega ao real. Quase sempre em movimento, mais ou menos como um bicho sai do mato e, de repente, surge à nossa frente. Não sei, sinceramente, se Véio conhece Picasso e Miró. Em todo caso, eles o conhecem, rondam o seu imaginário, participam de seu processo de produção. A divertida economia de meios, a espontaneidade com que vêm a ser, certo tônus vital descontraído, talvez as deixem mais à vontade sob a rubrica do Pitoresco”, diz o curador da exposição, Ronaldo Brito.       

 

Véio é como um repentista ágil, a improvisar com as madeiras nativas de seu habitat agreste, acompanhando ou contrariando as rimas de sua morfologia, e delas tirar efeitos inesperados. Alguma peças se me afiguram quase ready-mades do sertão – duas ou três manobras inspiradas bastam ao artista para transformar os galhos secos de uma árvore morta num bicho ligeiro de escultura.

 

“A nenhum texto crítico, ainda que curto e despretensioso, seria perdoável calar-se diante do pequeno escândalo que representa a cor na escultura de Véio. E não apenas porque se mostram cores abertas, sem nuances ou matizes, extrovertidas e vibrantes, aptas a competir com a luz brutal do sertão. Mesmo o seu negro parece suscetível de brilhar no escuro. O importante é que atuam de maneira substantiva na definição do corpo da escultura, caracterizam a sua personalidade. Intuitivamente, Véio faria um uso topológico da cor. Elas promovem a interação entre as partes das peças de modo a torná-las um Todo descontínuo moderno. As esculturas não se resumem a simples figuras projetadas contra um fundo neutro. Elas reagem a seu entorno, acontecem no mundo”, finaliza o curador da exposição, Ronaldo Brito.

 

 

Apresentação

 

Esta é mais uma conquista do Cícero Alves dos Santos, Véio. De Nossa Senhora da Glória a Paris, Veneza, Londres, e agora o Rio de Janeiro. Homem sensível, ele percebeu cedo seu dom. Tinha consciência de que era artista e, quando o conheci, sabia muito bem que o que desejava era o reconhecimento. Conseguiu, e isso não é algo fácil. Escultor desde sempre, seu trabalho ganhou espaço no mercado de arte entre colecionadores e instituições, como a Pinacoteca de São Paulo e a Fundação Cartier em Paris. No Rio de Janeiro ele está nas coleções do MAM e do MAR. Seu nome e sua obra são conhecidos e reconhecidos. A associação feliz da Galeria Estação com a Gustavo Rebello Galeria de Arte nos trouxe aqui. Gustavo, querido amigo e admirador do Véio, tornou-se importante parceiro para que a Cidade Maravilhosa também seja palco e sede desta individual. E o fato de o Ronaldo Brito ter aceitado, com alegria, o convite para a curadoria coroa este projeto. Seu texto, generoso e preciso, é mais um passo para a compreensão da obra contemporânea do Véio. Precisa ser lido e assimilado porque, entre muitos atributos, tem o mérito de contribuir para acabar com as falsas fronteiras na arte.

Divirtam-se.

Vilma Eid

 

 

A palavra do Curador

 

De Surpresa no Mundo

 

O que chama logo a atenção é o modo livre e franco como esta fauna imaginária chega ao real. Quase sempre em movimento, mais ou menos como um bicho sai do mato e, de repente, surge à nossa frente. E não se trata de um movimento representado – sua própria formalização é que é movimentada, rápida e sucinta a escultura se apresenta e nos interroga.  Traduz assim o ideal moderno da autossuficiência da forma: ela sustenta a sua surpresa estética como se quisesse aparecer, de novo e sempre, pela primeira vez. Não sei, sinceramente, se Véio conhece Picasso e Miró. Em todo caso, eles o conhecem, rondam o seu imaginário, participam de seu processo de produção.

 

Dado o seu aspecto disforme, muitas dessas figuras mereceriam se incluir na categoria do Grotesco. Poderiam até responder ao célebre apelo surrealista de André Breton: “A beleza será convulsiva ou não será”. No entanto, a divertida economia de meios, a espontaneidade com que vêm a ser, certo tônus vital descontraído talvez as deixem mais à vontade sob a rubrica do Pitoresco. A meu olhar, pelo menos, não parecem nada assustadoras. Estranhamente familiares, teriam com certeza algo de onírico, jamais evocam contudo o terror do pesadelo. Mas o principal, o que de fato interessa é o seu modus operandi poético. Reparem a desenvoltura com que fazem coincidir meios e modos – seja qual for o seu enigma de origem, sua aparência intrigante, as contorções da madeira nunca perdem de vista a exigência escultórica básica: a peça há de ficar de pé por si mesma. Esses bichos inverossímeis começam por enfrentar o teste de realidade elementar: existir por conta própria, exercer sua liberdade de ação.

 

À contracorrente do cânone da chamada Arte Popular Brasileira (de resto, no modesto entendimento do crítico outsider nesse domínio, uma classificação essencialista caduca) as esculturas de Véio são tudo menos hieráticas. Não surgem, estáticas e extáticas, do fundo do tempo, a conservar tradições e vivências varridas pela ação predatória da modernidade. Tampouco obedecem à religiosidade inerradicável de certa estatuária humilde que costuma ser agraciada – e, com isso, esteticamente sublimada – com a aura da humanidade pura. Em comparação, já por sua mobilidade casual, a escultura de Véio resulta decididamente profana. Ninguém ousará contestar sua extração mítica; dito isso, ela vale sobretudo por seus achados formais, indissociáveis, é evidente, de seu conteúdo de verdade histórico e existencial. Ela nos atrai justo por sua contemporaneidade, porque nela pulsa uma vida imaginativa atual.

 

De imediato, sem preâmbulos, nos descobrimos às voltas com uma verve combinatória capaz de articular, desarticular e rearticular seus elementos plásticos de maneira coerente e inventiva. Nesse sentido, Véio demonstraria, acima de tudo, expediente. É o repentista ágil, a improvisar com as madeiras nativas de seu habitat agreste, acompanhando ou contrariando as rimas de sua morfologia, e delas tirar efeitos inesperados. Algumas peças se me afiguram quase ready-mades do sertão – duas ou três manobras inspiradas bastam ao artista para transformar os galhos secos de uma árvore morta num bicho ligeiro de escultura.

 

A nenhum texto crítico, ainda que curto e despretensioso, seria perdoável calar-se diante do pequeno escândalo que representa a cor na escultura de Véio. E não apenas porque se mostram cores abertas, sem nuances ou matizes, extrovertidas e vibrantes, aptas a competir com a luz brutal do sertão. Mesmo o seu negro parece suscetível de brilhar no escuro. O importante é que atuam de maneira substantiva na definição do corpo da escultura, caracterizam a sua personalidade. Intuitivamente, Véio faria um uso topológico da cor. Elas promovem a interação entre as partes das peças de modo a torná-las um Todo descontínuo moderno. As esculturas não se resumem a simples figuras projetadas contra um fundo neutro. Elas reagem a seu entorno, acontecem no mundo.

Ronaldo Brito

 

 

Até 25 de maio.

JAPAN HOUSE em São Paulo

Dois eventos marcaram o lançamento da JAPAN HOUSE São Paulo, Avenida Paulista, São Paulo, SP. A primeira exposição traz uma coleção de obras que formam uma cronologia visual de mais de 150 anos de arte em bambu, um protagonista silencioso da cultura japonesa. Rico pelas suas múltiplas aplicações como recurso natural, esse elemento simples se revela um ingrediente secreto que permeia os meandros da vida cotidiana do Japão. O segundo evento foi um concerto musical. Porém, a primeira etapa cumpriu-se com a performance “Flower Messenger” do artista Makoto Azuma pelas ruas de SP de 08 de abril a 07 de maio, quando um grupo de ciclistas percorreu trechos da cidade de um jeito único no Parque do Ibirapuera.

 

Já na exposição “Bambu – Histórias de um Japão”, os destaques são: – Esculturas dos artistas Chikuunsai IV Tanabe, Hajime Nakatomi, Shigeo Kawashima e Akio Hizume, principais nomes da arte do bambu no Japão hoje; – Obras históricas da NAEJ Collection, nas quais o bambu se mostra a fibra que dá corpo e transforma aspectos da cultura japonesa; – Seleção de peças de Kazuo Hiroshima, artesão rural que orientou sua vida por um forte sentido de dever social ligado a seu trabalho artesanal; – Curiosidades sobre o uso do bambu em importantes descobertas do século 19, como a lâmpada de Thomas Edison, cujo filamento era de bambu. E o 14 Bis e o Demoiselle, de Santos Dumont, feitos de bambu; – O bambu na cerimônia do chá e no design de diversos objetos, nas artes marciais e na gastronomia; – O bambu na animação em torno da princesa Kaguya do Conto do Cortador de Bambu, de Isao Takahata (2013), produzido pelo Studio Ghibli.

 

A exposição “Bambu – Histórias de um Japão” tem o apoio da Lei de Incentivo à Cultura do Ministério da Cultura do Brasil, do patrocinador Master Bradesco Seguros e dos co-patrocinadores MUFG e Mitsubishi Electric.

 

 

Duração da exposição: até 09 de julho.

 

Sobre a Japan House

 

JAPAN HOUSE São Paulo abriu suas portas na Avenida Paulista, 52, e preparou um grande evento para celebrar a data. Trouxe dois expoentes da música contemporânea japonesa, Ryuichi Sakamoto e Jun Miyake, para um concerto inédito e gratuito.

 

Sakamoto apresentou-se com os músicos brasileiros Jaques Morelenbaum e Paula Morelenbaum, com um repertório que incluiu Bossa Nova e Tom Jobim; enquanto Miyake, em sua primeira apresentação no Brasil, ganhou um grupo variado de talentos, como o Cosmic Voices da Bulgária, o jovem brasileiro Bruno Capinam e outras parcerias. O concerto aconteceu no dia 07 de maio, na plateia externa do Auditório do Ibirapuera. No primeiro dia, a Japan House recebeu 4.290 visitantes! Nem a fila ou a chuva intimidaram os espectadores.

 

JAPAN HOUSE é uma iniciativa do governo japonês, um local que reúne arte, tecnologia e negócios para mostrar o Japão contemporâneo – sem esquecer raízes e tradições. São Paulo, Londres e Los Angeles são as três metrópoles selecionadas pelo governo japonês para receber as primeiras Japan House no mundo.

 

A casa conta com atividades variadas: exposições, palestras, seminários, eventos culturais e performances artísticas. Trará ao Brasil personalidades japonesas de perfis variados – de artistas a cientistas, de esportistas a homens de negócios, de chefs de cozinha a líderes da sociedade civil -, para encontros e workshops. O espaço abriga, ainda, um restaurante, cafeteria, biblioteca e lojas. Igualmente disponível para o lançamento de produtos, encontros de negócios, seminários executivos e outros eventos empresariais.

Cine Clube Despina

09/mai

O Cine Club Despina, Largo das Artes, Rua Luís de Camões, 2, Sobrado, Centro, Rio de Janeiro, RJ, terá uma sessão especial em parceria com a ArtRio, Canal CURTA! e Revista Select. No dia 25 de maio, quinta-feira, às 19h30, será realizada a exibição do documentário “Shoot Yourself”, dirigido por Paula Alzugaray e Ricardo van Steen. O evento será na Despina e terá um bate-papo dos convidados com Paula.

 

Produção de 2012, a narrativa de “Shoot Yourself” acompanha o trabalho de nove artistas: a cubana Tania Bruguera, o norte-americano Gary Hill, a suíça Pipilotti Rist, a espanhola Esther Ferrer, o coletivo francês Calvacreation, a iraniana Ghazel, a alemã Rebecca Horn e os brasileiros Cripta Djan e Paula Garcia.

 

O ponto em comum entre esses artistas é a utilização do corpo como instrumento de sua arte. E o ponto que mais os distancia é como essa arte é documentada – ou não, ficando apenas na memória do público e do próprio artista.

 

Entre os pontos centrais do documentário está também a análise do mundo atual, que com a democratização digital permitiu que qualquer pessoa tivesse acesso a fazer sua imagem e se auto difundir na internet, e a atuação dos primeiros artistas de performance, que desde os anos 70 se auto documentam.

 

 

Sobre Shoot Yourself

 

Shoot Yourself (Paula Alzugaray e Ricardo van Steen, 72’, Brasil, 2012)– uma co-produção internacional da Delicatessen Films, Moviart, Tempo Design e La F.I.L.M (França), com direção de Paula Alzugaray e Ricardo van Steen, montagem de Yann Malcor e Antoine Vareille, e trilha sonora de Sergio Mekler e Chico Neves. Gravado em São Paulo, Rio de Janeiro e Paris, durante uma residência artística dos documentaristas no Centre International D’Accueil et D’Échanges des Récollets, entre outubro e dezembro de 2010.

 

 

Sobre a ArtRio

 

A ArtRio 2017, que acontece entre os dias 13 e 17 de setembro, tem novo endereço: a Marina da Glória. O espaço, totalmente renovado e com vista para icônicos cartões postais da cidade – a Baía de Guanabara e o Pão de Açúcar – irá receber pela primeira vez as mais importantes galerias brasileiras e internacionais.

 

A ArtRio pode ser considerada uma grande plataforma de arte contemplando, além da feira internacional, ações diferenciadas e diversificadas com foco em difundir o conceito de arte no país, solidificar o mercado, estimular e possibilitar o crescimento de um novo público oferecendo acesso à cultura.

 Mostras no Museu da República

As duas novas exposições que ocupam espaços no Museu da República, Catete, Rio de Janeiro, RJ, guardam em comum o fato de ambas remeterem, de alguma forma, à história do lugar.

 

Em “Do pó ao pó”, o artista Zé Carlos Garcia lança, na Galeria do Lago, um questionamento sobre a importância dos bustos que “povoam” os corredores do museu, com suas montagens de pedras sedimentares que se assemelham a figuras humanas sem identidade.

 

 

“Do pó ao pó”

 

Morador de Nova Friburgo, o artista Zé Carlos Garcia começou a selecionar pedras que tivessem alguma identificação com os rostos humanos há mais um menos um ano atrás. O resultado deste garimpo pode ser conferido na exposição “Do pó ao pó”, totalizando cerca de 18 peças de pedra que remetem a bustos, na Galeria do Lago.

 

“Minha ideia é instigar o questionamento sobre os bustos de figuras consideradas importantes, mas que hoje ninguém sabe quem são. Por que devemos louvá-los?”, provoca Zé Carlos Garcia. Uma curiosidade: o Museu da República possui a maior coleção de bustos de todos os presidentes do Brasil na 1ª República.

 

“O trabalho do Zé Carlos Garcia promove a reflexão sobre diversas questões e simbolismos que acompanham o ser humano desde sempre. Vida e morte, permanência, deterioração, pedra e pó são algumas das instigantes propostas exploradas pelo artista visual, ao retomar sua pesquisa sobre monumentos urbanos, representados por ele como bustos em pedra sedimentar”, afirma a curadora Isabel Sanson Portella.

 

Já o artista visual Alessandro Sartore, propõe, com sua instalação “Fa Pianger e Sospirare”, montada no Coreto, uma volta à sua função regressa. A curadoria é assinada por Isabel Sanson Portella e a abertura acontece no dia 13 de maio, a partir das 16h, com food trucks e bebidinhas do Hostel Contemporâneo.

 

 

“Fa pianger e sospirare”

 

Alessandro Sartore foi buscar na sua própria memória a música reproduzida dentro do Coreto onde monta a sua instalação “Fa pianger e sospirare”. O nome da exposição foi tirado de um trecho da canção italiana “Quel Mazzolin Di Fiori”, que Sartore ouvia na casa da família de ascendência italiana quando criança.

 

“Idealizei a manipulação do espaço de forma que ele voltasse a ter uma função regressiva, já que o público terá que adentrar o coreto para ouvir a música e visualizar a obra composta por luzes que emanam de uma gambiarra dourada, fumaça e uma bailarina de porcelana no centro de um banco. Se para ouvir música o público antigamente se reunia do lado de fora, agora terá que adentrar a construção existente para vivenciar outra forma de arte. Pretendo acionar, ao mesmo tempo, as memórias afetiva, visual e auditiva dos visitantes”,explica Alessandro Sartore.

 

“Sartore gosta de pensar na manipulação dos espaços como uma equação matemática. Imagina todas as informações agregadas ao seu trabalho como dimensões. São mais do que camadas sobrepostas, são planos cuidadosamente organizados que constroem espaços tridimensionais. Em ‘Fa Pianger e Sospirare’, percebemos claramente os diversos planos com que o artista construiu sua equação. A delicada porcelana, a luz, a fumaça e a música trazem para dentro do espaço o encantamento que antes dele saía”, explica a curadora, Isabel Sanson Portella.

 

 

De 13 de maio a 20 de agosto.

A MEMO em Basel​

08/mai

Com preview para convidados marcado para o dia 12 de junho, a Design Basel recebe este ano a primeira galeria brasileira e de toda a América Latina: o Mercado Moderno, conhecido também como MEMO Galeria. Considerada uma das principais galerias de design do Brasil, o Mercado Moderno, tem à frente os sócios-fundadores Alberto Vicente e Marcelo Vasconcellos.

 

Para a Design Basel, que estará aberta ao público entre os dias 13 e 18 de junho, a MEMO vai levar peças selecionadas criteriosamente como a “Namoradeira” assinada por Zanine Caldas. Trata-se de uma das mais emblemáticas obras do importante designer produzida no início dos anos 1970. A peça foi feita especialmente para a casa construída nesta mesma década em Ilhéus, no sul da Bahia. Esta peça foi exibida no início dos anos 1980 em Brasília em exposição individual de Zanine. Entre outras surpresas que serão expostas pela galeria estão a emblemática “Poltrona Feijão”, obra recente, de 2017, de Rodrigo Simão, e a “Espreguiçadeira Linha Z”, também de Zanine Caldas, que se destaca por ter o assento original feito em plástico azul.

 

Vale lembrar que a MEMO participou da Design/Miami, no último ano, levando apenas trabalhos de um designer contemporâneo, aposta da galeria que representa um design brasileiro bem atual, Hugo França. Em 2016 a MEMO também expôs na SP Arte e Art Rio.

 

Para Alberto Vicente, participar de uma feira internacional, tão exclusiva como a Design Miami/Basel, na Basiléia, Suíça, possibilita ir de encontro direto com colecionadores e galeristas europeus, além de outras nacionalidades. “Temos em nosso acervo peças raras, algumas exclusivas e apostamos no lançamento de designers contemporâneos brasileiros para o mercado internacional”, conta Alberto.

 

Entre os designers contemporâneos representados pela galeria estão Hugo França, Zanini de Zanine, Ronald Sasson e Rodrigo Simão, além do designer italiano Giorgio Bonaguro. Todos estarão com peças expostas no estande da Basel.

 

 

Sobre Mercado Modeerno – MEMO Galeria

 

Sua fundação, em 2001, coincidiu com o momento em que se iniciava, após duas décadas de ostracismo, uma revisão da história no Brasil sobre esta rica produção do período entre os anos 1940 e 1970. Grande parte de seu acervo foi adquirido em leilões de antigas empresas, em que poucas peças eram especificadas e não havia parâmetros de valor. A empreitada envolvia um árduo trabalho de investigação, em contato com designers, herdeiros e especialistas, contraposto pelo deslumbre de descobrir pequenos tesouros a cada dia. E se desdobrou em diversas ações, para registrar, ampliar e disseminar o conhecimento adquirido, como a organização e apoio de algumas das obras fundamentais da literatura sobre o assunto e a curadoria de exposições em instituições de referência de diversas cidades brasileiras.

 

Nesta trajetória, a galeria se aproximou também dos principais nomes da produção contemporânea de design brasileiro, e hoje representa algumas das iniciativas mais criativas e consistentes neste segmento, entre eles Domingos Tótora, Zanini de Zanine, Gustavo Bittencourt, Hugo França, Paulo Alves e Flávio Franco. A partir de sua filial americana, o Mercado Moderno amplia sua presença global e está apto a comercializar diretamente seu catálogo em todo o mundo. Em seu casarão na Lapa, no Rio de Janeiro, a galeria continua a receber clientes, aficionados por design, arquitetos, designers de interiores e colecionadores que podem apreciar um conjunto único de móveis, peças únicas e objetos raros, garimpados pelos proprietários. Visite nosso portfólio e veja as últimas aquisições, além de criações de designers-artistas como Joaquim Tenreiro, Jorge Zalszupin, Sergio Rodrigues, Oscar Niemeyer, Lina Bo Bardi e José Zanine Caldas.

 

Sobre a Art Basel

 

Fundada em 1970 na cidade suíça da Basiléia, foi iniciativa de três galeristas: Trudi Bruckner, Balz Hilt e Ernst Beyeler (da Fundação Beyeler). Não demorou muito para se tornar a meca do mercado de arte europeu. Depois de se impor também nas Américas, em 2013 a Art Basel partiu para a conquista da Ásia, passando a acontecer também em Hong Kong. Durante a semana da feira, que acontece sempre em junho, a Basiléia se torna a capital mundial da arte contemporânea, atraindo galerias, colecionadores, curadores de museus e aficionados de todo canto. Paralelamente à exposição, a Art Basel oferece uma programação intensa com filmes, eventos, mostras paralelas, shows e até mesmo cardápios inspirados na arte. A parte de design na Art Basel começou em 2014. E teve início em Miami. Por isso a feira se chama Design/Miami Basel. Em Hong Kong ainda não há uma parte de design, apenas de arte.

Flávio Damm, um fotógrafo

A Galeria Marcelo Guarnieri, Ipanema, Rio de Janeiro, RJ, inaugura, no dia 11 de maio a exposição “Flávio Damm, um fotógrafo”, com 36 fotografias em preto e branco do importante fotógrafo, um dos grandes nomes do fotojornalismo brasileiro, que tem mais de 70 anos de trajetória. Flávio Damm fez fotografias históricas, como de Getúlio Vargas em seu autoexílio, em 1948 em São Borja, no Rio Grande do Sul, sendo o primeiro fotógrafo autorizado a fazê-lo naquela circunstância e produzindo importantes imagens que circularam o mundo. Foi também o único fotógrafo brasileiro presente na cerimônia de coroação da Rainha Elizabeth II, na Inglaterra, em 1953, e no lançamento do primeiro foguete na base de Cabo Canaveral, nos Estados Unidos, em 1957.

 

A exposição faz um recorte da trajetória do fotógrafo, com imagens que exploram a linguagem fotográfica com fotos que buscam extrair das cenas urbanas a poesia de seu caráter trivial. As imagens foram produzidas nas décadas de 1950 e 1960 e também entre 2000 e 2010, no Brasil – em cidades como Salvador, Porto Alegre e Rio de Janeiro – e no exterior – em países como Portugal, Espanha e França.

 

As fotografias evidenciam uma liberdade de composição formal e poética, transportando o espectador a momentos de contemplação e beleza, à posição do flâneur, que, vagando pela cidade, é surpreendido por situações dignas de registro. Flávio Damm espera o momento “correto” para fotografar. Mais do que testemunha de um fato, ele escolhe cuidadosamente o enquadramento através da lente 35mm de sua câmera Leica, que, por seu tamanho e leveza, permite a ele agir com rapidez e discrição. Com isso, ele acaba por assumir o lugar de testemunha de um instante, que, ao se transformar em imagem, traz junto uma atmosfera, seja de humor, encanto ou melancolia. “Fotografadas pelo tradicional processo analógico – o ar que eu respiro – pratiquei um tripé fotográfico composto de sorte, paciência e a experiência vivida que se alonga por 72 anos de câmera na mão e pé na estrada…”, ressalta.

 

Nas imagens apresentadas é possível ver associações entre os elementos da imagem, como, por exemplo, na fotografia em que um homem está deitado no banco da rua na mesma posição da imagem do outdoor que está logo acima dele. Outro exemplo é o senhor em Portugal que passa em frente a um grafite que parece refletir a sua imagem. Já em outras fotografias percebem-se figuras humanas na imensidão da arquitetura.

 

Flávio Damm foi indicado como um dos oito fotógrafos brasileiros de linha bressoniana pelo curador Eder Chiodetto. “Persigo sempre meus motivos pelo interesse documental que os mesmos contenham e, seguindo o mestre Cartier Bresson, ‘tirar uma foto é como reconhecer um evento e naquele exato momento – e, numa fração de segundo – organizar as formas que vê para expressar e dar sentido ao mesmo: é uma questão de pôr o cérebro, o olho e o coração na mesma linha de visão. É uma forma de viver’”.

 

Fiel à fotografia analógica em preto e branco e avesso ao uso do Photoshop ou de outras manipulações na imagem, Damm preza pelo registro direto, pois acredita que assim cumpre, de maneira responsável, com a sua função de “testemunha ocular”. “Para estudar melhor a forma dispenso sempre a cor por ser desnecessária”, afirma.

 

 

Sobre o artista

 

Flávio Damm nasceu em 1928 em Porto Alegre, Brasil. Vive e trabalha no Rio de Janeiro, Brasil. Um dos grandes nomes do fotojornalismo brasileiro, Flavio Damm integrou, de 1949 a 1959, a equipe da revista O Cruzeiro, realizando, ao longo desse período, reportagens históricas ao redor do mundo. Suas fotografias davam conta de retratar um grande escopo de assuntos e situações, que iam desde os modos de vida de comunidades isoladas no interior de um Brasil ainda pouco conhecido, até a coroação da Rainha Elizabeth II na Inglaterra. Em 1962, fundou, junto a José Medeiros e Yedo Mendonça, uma das primeiras agências de fotografia do país, a Image. Possui em seu acervo mais de 60 mil negativos. Ilustrou 29 livros, sendo cinco – edições e reedições – de Jorge Amado. Ilustrou, em 1949, o livro “Um roteiro histórico de Recife”, de Gilberto Freyre. Fotografou o dia-a- dia de Candido Portinari em seu ateliê durante os dois últimos anos de vida do artista. Trabalhou dois anos agregado ao escritório de Oscar Niemeyer na época da construção de Brasília. Participou de diversas exposições individuais e coletivas, destacando-se: Museu Oscar Niemeyer, Curitiba, Brasil (2009); Caixa Cultural do Rio de Janeiro e Curitiba, Brasil (2012-2013); As origens do fotojornalismo no Brasil, Instituto Moreira Salles, Rio de Janeiro e São Paulo, Brasil.

 

 

Sobre a Galeria

 

Marcelo Guarnieri iniciou as atividades como galerista nos anos 1980, em Ribeirão Preto, e se tornou uma importante referência para as artes visuais na cidade, exibindo artistas como Amilcar de Castro, Carmela Gross, Iberê Camargo, Lívio Abramo, Marcelo Grassmann, Piza, Tomie Ohtake, Volpi e diversos outros. Atualmente com três espaços expositivos – São Paulo, Rio de aneiro e Ribeirão Preto – a galeria permanece focada em um diálogo contínuo entre a arte moderna e contemporânea, exibindo e representando artistas de diferentes gerações e contextos – nacionais e internacionais, estabelecidos e emergentes – que trabalham com diversos meios e pesquisas.

 

 

De 11 de maio a 17 de junho.