Remix de ícones

03/out

A exposição “Sincretismos”,  mostra individual de André Malinski, sob a curadoria de Marco Antonio Teobaldo, é o próximo cartaz da Galeria Pretos Novos, Gamboa, Rio de Janeiro, RJ. Antes de iniciar a sua trajetória como artista visual, André Malinski flertava com a moda e o design, projetando figurinos, chapéus e outros adereços. Seus estudos e projetos sempre passaram pela prancheta, e mais adiante, nas telas e programas de computador. Em 2006, a partir dessa experiência com o meio digital, surgiram as primeiras propostas para a série denominada que o artista nominou como “Sincretismos”.

 

Atendo-se ao volume e linha que as imagens de santos e santas poderiam lhe oferecer, André Malinski as coloriu com uma palheta vibrante e festiva, sobrepondo uma imagem sobre uma segunda, obtendo assim, uma interseção entre elas, que revelava então uma terceira imagem. Segundo o artista, este trabalho se tornou em uma ação lúdica de encontrar os pares, para que de seu encaixe surgisse uma silhueta híbrida. Obras em bordado, acrílica sobre tela e desenhos formaram um imenso e divertido repertório, em tamanhos e formatos distintos.

 

Passados alguns anos, e motivado por sua admiração pela arte da azulejaria, o artista retoma a série, desta vez destacando apenas alguns detalhes das obras originais e desmembrando-as em duas ou três partes, em tamanhos iguais e formatos quadrados. De acordo com o curador da mostra, esta nova fase do trabalho remete de alguma forma, a uma tradição trazida pelos portugueses, nos azulejos de ícones sagrados afixados no topo das casas dos subúrbios cariocas.

 

Nessa exposição, – “Sincretismos” -, também encontram-se as recentes criações deste jogo de sobreposições em aquarelados sobre tecido, além de infogravuras, obras trabalhadas a partir da linha do contorno de algumas imagens. Este verdadeiro remix de ícones que soam tão familiares na cultura popular brasileira, conduz o visitante a uma suave contemplação ao que é objeto de fé para muitos.

 

 

De 08 de outubro a 14 de novembro.

4ª Edição do Prêmio EDP

Em sua quarta edição, o Prêmio EDP nas Artes, parceria entre o Grupo EDP no Brasil e o Instituto Tomie Ohtake, Pinheiros, São Paulo, SP, com o apoio do Instituto EDP, anuncia os 10 finalistas para concorrer aos três primeiros lugares e participar da exposição no Instituto Tomie Ohtake (de 04 a 26 de outubro de 2014): Bruno Rios e Sara Não Tem Nome, de Belo Horizonte/MG; Daniel Lie, Gabriel Torggler, Janaína Wagner e Pedro Gallego, de São Paulo/SP; Felippe Moraes e Rodrigo Martins, do Rio de Janeiro/RJ; Flavio Yoshida, de Goiânia/GO e Ismael Monticelli, de Cachoeirinha/RS.

 

Dos 153 inscritos, foram selecionados 24 artistas. Após entrevistas individuais via skype, o júri indicou a lista dos 10 finalistas, que tiveram sua produção acompanhada pelo corpo de jurados entre julho e agosto de 2014. Esse acompanhamento diferencia o prêmio dos demais ao possibilitar um diálogo inédito entre o circuito da arte e participantes.

 

Os jovens artistas plásticos que se inscreveram para esta edição são provenientes de 13 Estados brasileiros: 100 de São Paulo; 18 do Rio de Janeiro; 08 de Minas Gerais; 07 do Rio Grande do Sul; 04 do Distrito Federal; 04 do Espírito Santo; 03 do Paraná; 02 de Goiás; 02 do Rio Grande do Norte; 01 do Mato Grosso do Sul. 01 de Pernambuco; 01 do Ceará; 01 da Bahia, além de um holandês residente no Brasil.

 

Compuseram o corpo de jurados: Ana Luiza Bringuente (Coordenadora da Ação Educativa do Instituto Tomie Ohtake); José Augusto Ribeiro (Curador da Pinacoteca do Estado de São Paulo); José Spaniol (Artista e Professor Universitário); Juliana Freire (Galerista da Galeria Emma Thomas); Olívia Ardui (Curadora do Núcleo de Pesquisa e Curadoria do Instituto Tomie Ohtake) e Virgílio Neto (Artista e 1º Lugar da 3ª Edição do Prêmio EDP nas Artes).

 

Os três vencedores, que serão anunciados na abertura da mostra, terão sua produção acompanhada por críticos durante um ano. Caberá ainda ao primeiro colocado uma bolsa de dois meses no The Banff Centre, no Canadá, ao segundo uma viagem ao exterior, pelo programa Dynamics Encounters, e ao terceiro cursos no Instituto Tomie Ohtake. Na edição anterior, em 2012, os vencedores foram o brasiliense Virgílio Neto (1º lugar), seguido pelo sergipano radicado em São Paulo Alan Adi (2º lugar) e pelo paulista André Terayama (3º lugar), enquanto a carioca Fernanda Furtado recebeu a menção honrosa. O vencedor Virgílio Neto ressalta o avanço que o Prêmio EDP nas Artes proporcionou à sua carreia:

 

“Quanto ao Prêmio EDP, há duas coisas que são importantes destacar. Uma é ter o seu trabalho exposto para um júri, para pessoas que estão no sistema da arte, mostrar e conversar com essas pessoas. A outra é participar de uma exposição, principalmente no Instituto Tomie Ohtake, um lugar muito importante para o circuito e que dá visibilidade  nacional. Além disso, tem a troca e o diálogo com outros colegas artistas. Já Banff foi a primeira grande residência que fiz, nunca tinha ido para a América do Norte. Foram dois meses de contato íntimo com o meu trabalho, porque lá você fica isolado e com toda uma infra-estrutura disponível para produzir e pensar sobre a sua obra. Há um grande respeito ao artista. A exposição que fiz depois, pela Funarte, surgiu, em grande parte, a partir dessa residência, dessa experiência”. O prêmio replica a experiência do Grupo EDP em desenvolver talentos nas artes plásticas. As edições anteriores nos mostraram que há jovens com grande potencial, mas sem oportunidades para projeção neste cenário.

 

 

Sobre o Instituto EDP

 

Instituição sem fins lucrativos responsável pelo desenvolvimento e coordenação das ações ambientais e sócio-culturais da EDP e suas controladas.

 

 

Sobre o Instituto Tomie Ohtake

 

O Instituto Tomie Ohtake, inaugurado em 2001, em São Paulo, é referência na América Latina por seu espaço diferenciado para exposições e por sua forte atuação no campo das artes no Brasil e no exterior. Suas exposições já conquistaram vários prêmios, entre os quais: ABCA – Associação Brasileira dos Críticos de Arte, como a melhor do Brasil de 2004; APCA – Associação Paulista dos Críticos de Arte, como melhor exposição de 2007; ABCA – Associação Brasileira dos Críticos de Arte pelo conjunto da programação, em 2007; APCA – Associação Paulista dos Críticos de Arte melhor iniciativa cultural pela programação, em 2008; APCA – Associação Paulista dos Críticos de Arte melhor exposição obra gráfica e indicação Prêmio Bravo melhor programação cultural, em 2009

 

 

De 04 a 26 de outubro de 2014.

Inéditos de Carlos Zilio

Nesta exposição na Galeria Raquel Arnaud, Vila Madalena, São Paulo, SP, Carlos Zilio dá prosseguimento à série apresentada no Centro Maria Antonia em 2011, exibindo trabalhos realizados em 2013 e 2014 nos quais se destaca a peculiar figura do tamanduá. A mostra reúne cerca de 10 obras em técnicas e suportes diversos, que aludem ao icônico animal, recorrente no imaginário do artista desde a sua infância. “Figura da minha história familiar, o tamanduá ganha nestas pinturas uma condição quase de totem no trabalho de subjetivação operado pela pintura”, diz Zilio.

 

Conforme ressalta Ronaldo Brito no texto de apresentação da mostra, “as telas recentes se transformaram em lugares do tempo – elas demandam investidas sucessivas, reviravoltas inesperadas; como o sonho, não se deixam dominar, parecem perseguir um objetivo secreto.”

 

Para Ronaldo Brito, o passado inquietante, fantasmático, às vezes revelador, nos leva a enxergar coisas que jamais notamos embora vivam debaixo de nossos olhos. O crítico cita um exemplo patente e literal na obra de Zilio: uma mancha indelével, no chão de granito do corredor que conduz ao ateliê do artista, “perfeita e inexplicavelmente idêntica à forma do tamanduá em queda livre.”O artista fotografou a mancha, cujas ampliações, com intervenções de suas pinceladas, integram esta exposição.

 

Carlos Zilio, segundo Ronaldo Brito,  pertence a uma geração que vivencia a inauguração da arte contemporânea no Brasil. Denominado pelo crítico como “Pós-pop”, esse grupo de artistas dispunha de um enorme leque de linguagens possíveis: da arte conceitual à interativa; das instalações às performances.

 

Depois de suas primeiras exposições coletivas e individuais realizadas na primeira metade dos anos 70, Zilio é convidado a participar da Bienal de Paris em 1976 e acaba por passar um período de quatro anos morando na capital francesa. Nesse momento há uma transição em seu percurso e passa a privilegiar a pintura como principal suporte de sua atividade artística. Esse movimento acontece ainda nos anos 70, antes do retorno à pintura proposto pela Geração 80.

 

O aprendizado como aluno de Iberê Camargo no Instituto de Belas Artes da Guanabara (atual Escola de Artes Visuais do Parque Lage), também marcou profundamente o trabalho do artista. Na década de 1960, tornou-se assistente do famoso pintor, e logo percebeu que a desenvoltura pictórica de Iberê não era passível de repetição. Segundo Ronaldo Brito, Zilio “… tratou de tomar suas contra medidas— abandona o óleo virtuoso, utilizando, sobretudo o esmalte industrial, diversifica meios e modos para evitar que toda essa sincera agitação pictórica sugira ilusionismo de profundidade e termine, isto sim, numa franca convulsão de superfície”.

 

O que interessa ao artista é, sobretudo, a temporalidade que a pintura tem na história da arte. Segundo Carlos Zilio, a pintura possui uma potencialidade transhistórica. “Está no passado e no presente, permitindo sucessivas retomadas sempre carregadas de uma alta carga de expressão, e isso que me fascina”, afirma Zilio.  A sua relação afetiva com o tamanduá segue essa lógica de trazer à tona questões do passado que se colocam no presente. Essa possibilidade de entrar em contato com um embate de emoções, reativando e reatualizando memórias afetivas.

 

 

Sobre o Artista

 

Carlos Zilio, Rio de Janeiro, 1944. Vive e trabalha no Rio de Janeiro. Estudou pintura com Iberê Camargo no Instituto de Belas Artes e formou-se em Psicologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Participou de algumas das principais exposições brasileiras da década de 1960 – Opinião 66 e Nova Objetividade Brasileira, por exemplo, ambas no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro –, e de mostras com repercussão internacional: a 9ª, 20ª e a 29ª Bienais de São Paulo (1967, 1989, 2010), a 10ª Bienal de Paris (1977), a Bienal do Mercosul (2005) e Tropicália, apresentada em Chicago, Londres, Nova York e Rio de Janeiro. Na década de 1970 morou na França, onde se doutorou em Artes. Desde o retorno ao Brasil, em 1980, participou de inúmeras mostras coletivas e fez diversas individuais, entre as quais Arte e Política 1966-1976, nos Museus de Arte Moderna do Rio de Janeiro, de São Paulo e da Bahia (1996 e 1997), Carlos Zilio, no Centro de Arte Hélio Oiticica (Rio de Janeiro, 2000), que abrangeu sua produção dos anos 1990, e Pinturas sobre papel, no Paço Imperial (Rio de Janeiro, 2005) e na Estação Pinacoteca (São Paulo, 2006). A mais recente coletiva que tomou parte foi a exposição Brazil Imagine no Astrup Fearnley Museet, Oslo 2013 e MAC Lyon, 2014. Suas últimas exposições individuais foram no Museu de Arte Contemporânea do Paraná (Curitiba, 2010), no Centro Universitário Maria Antonia (São Paulo, 2010) e no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (2011). Zilio foi professor na Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Em 2008, a editora Cosac Naify publicou o livro Carlos Zilio, organizado por Paulo Venancio Filho, sobre sua produção artística. A Galeria Raquel Arnaud representa o artista desde 1997.

 

 

De 09 de outubro a 19 de novembro.

Portinari: A capela da Nonna

02/out

O Museu de Arte Sacra de São Paulo – MAS-SP, equipamento da Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo, em parceria com o Museu Casa de Portinari, exibe “Capela da Nonna: Fé, Religiosidade e Arte”, uma reprodução em tamanho real do cômodo pintado pelo artista especialmente para que sua avó Pellegrina orar, porque em virtude da idade avançada e pouca saúde, não podia se locomover até a igreja da cidade (Brodowsqui). A obra apresenta os santos de devoção da “Nonna”.

 

Por meio de painéis e recursos cênicos, o espaço original foi recriado com as dimensões e as mesmas pinturas feitas pelo artista: São Francisco de Assis, Santa Luzia, São Pedro, São João Batista, a Sagrada Família, entre outras. As imagens dos santos são reproduzidas com a feição de parentes e amigos do pintor, uma tradição presente na pintura do século XV, principalmente entre artistas flamengos e italianos, e que Portinari retomou.

 

Para Angelica Fabbri, diretora do Museu Casa de Portinari, a presente exposição “leva ao público este conjunto de arte sacra tão significativo e ímpar na obra de Candido Portinari, em forma de capela, feita para a avó num gesto de amor e carinho.”.

 

 

A partir de 07 de outubro.  

O realismo de Giovani Caramello

01/out

As esculturas de Giovani Caramello, artista representado pela OMA|Galeria, São Bernardo, SP, intrigam, e muito, o expectador ao exprimir de maneira realista sentimentos comuns, como ansiedade, tristeza e a sensação de que não há um passado ou um futuro, mas somente o presente. Assim, com esse mix, surgiram as obras de “Impermanência”, primeira mostra individual do artista, que será apresentada no Museu de Santo André. “Ter a chance de mostrar esse lado efêmero da vida por meio da minha arte é incrível. Nas minhas obras tento retratar sentimentos que deixam cada pessoa refletindo de uma maneira diferente. Acho que esse é o grande lance da arte”, conta.

 

Com clara inspiração em Ron Mueck, escultor australiano que utiliza efeitos especiais cinematográficos para criar obras de arte hiper-realistas, Caramello, que é andreense, iniciou sua carreira de escultor em 2010, como modelador 3D, e nunca mais parou. Nessa estreia, o público poderá conferir seis peças, produzidas com resina poliéster, silicone e fibra de vidro, que possuem como principal característica a humanidade. “É uma honra poder contar com o Giovani Caramello em nosso quadro de artistas representados. Afinal, seu talento para recriar detalhes corporais e faciais é fascinante e tenho certeza de que isso também deixará o público curioso para seguir os passos dele e passar a valorizar ainda mais este tipo de arte que já é muito bem aceita no exterior ”, diz Thomaz Pacheco, da OMA|Galeria.

 

 

De 10 a 30 de outubro.

Uma curadoria de Andreas Brøgger

30/set

A Casa França-Brasil, Centro, Rio de Janeiro, RJ, um espaço da Secretaria de Estado de Cultura, apresenta, a exposição “Histórias Frias e Chapa Quente”, com obras inéditas e recentes da dupla de artistas Maurício Dias & Walter Riedweg, em curadoria de Andreas Brøgger, curador do Nikolaj Kunsthal, em Copenhague. Na mostra, estarão as obras “Cold Stories”, “Chapa Quente”, “Sob Pressão”, “Evidência”, “Blocão”, e “Throw” (“Tiro”), de 2004, incluída por ter sido a primeira da dupla de artistas a utilizar imagens de arquivos. “A exposição abrange oito décadas de nossa história recente”, explica o curador. “A viagem nos leva do início da guerra fria a nossa época atual de aquecimento global, enquanto nos vemos em um dos lugares incontornáveis do mundo atual, o Rio de Janeiro. Um novo conjunto de obras de Dias & Riedweg explora o contexto brasileiro contemporâneo, relatando a influência dos tempos da guerra fria sobre a atmosfera cultural e política de hoje”.

 

 

ENCONTROS E LANÇAMENTO DE CATÁLOGO

 

No dia 11 de outubro, às 17h, haverá um encontro aberto com o curador Andreas Brøgger. No dia 15 de novembro, às 17h, será feito o lançamento do catálogo, seguido de mesa-redonda com os artistas, a crítica Glória Ferreira e a artista Juliana Franklin.

 

 

COLD STORIES

 

A obra “Cold Stories” (Histórias Frias) ocupará o espaço central da Casa França-Brasil, com um atraente e gigantesco cubo com 5,5 metros de lado e 5,5 metros de altura, onde serão projetados, em uma espécie de lanterna mágica, mais de seiscentos arquivos de vídeos e suas trilhas sonoras coletados exclusivamente da internet, que cobrem os anos da Guerra Fria, de 1944 até os dias de hoje. Na vertiginosa edição de imagens estão desde trechos de séries de TV como “A feiticeira”, “Perdidos no espaço”, “Kojak”, “Túnel do tempo” e “Jeannie é um gênio”, comerciais que propagaram a “invenção do conforto doméstico”, a eventos e discursos históricos, fatos políticos, imagens de conflitos e guerras. Cada videoclipe aparece dentro de uma bolha colorida que circula de tela a tela, cresce de tamanho até explodir e desaparecer, como fragmento de nossa memória coletiva. Juntos a esta estrutura central, estarão quatro velhos baús de viagem, cada um contendo uma marionete de expoentes dos tempos da Guerra Fria: Che Guevara, Mao Tsé-Tung, John F. Kennedy e Nikita Kruschev. Dentro de cada baú, vemos um vídeo em que a marionete fala trechos de um discurso icônico, editado de maneira perturbadora, de modo a se transformar em um mantra absurdo.  “Por décadas, essas figuras manipularam tantos países na Europa, na América do Sul, na África e na Ásia. Aqui nós encontramos as quarto figuras históricas, elas mesmas controladas por uma força externa, invisível ao público”, salienta o curador.

 

Em versão menor do que a apresentada na Casa França-Brasil, “Cold Stories” integrou a exposição individual “Possible Archives”, no Nikolaj Kunsthal, em Copenhague, ano passado.

 

 

CHAPA QUENTE

 

Como em uma máquina “caça-níqueis”, a videoinstalação “Chapa Quente” (2014) mostra em quatro telas objetos utilizados pela polícia, como capacetes, cassetetes e ampolas de gás lacrimogêneo. A cada vez que os objetos se repetem em sequência, surgem imagens de arquivos dos protestos que sacudiram o Brasil em junho e julho de 2013, associadas a fotos históricas dos pesados anos da ditadura e a fenômenos naturais de grande intensidade, como vulcões, gêiseres, deslizamentos de terra e tsunamis.

 

 

SOB PRESSÃO

 

No trabalho “Sob pressão”, criado este ano, trinta barômetros, de 14 centímetros de diâmetro, alinhados sobre a parede, mostram a pressão atmosférica do espaço, mas contêm discretas intervenções gráficas que inserem nomes de favelas do Rio de Janeiro: Maré, Mangueira, Rocinha, Alemão, Fogueteiro, Cidade de Deus, entre outras.

 

 

EVIDÊNCIA

 

Também de 2014, “Evidência” traz um termômetro de três metros de comprimento que mede a temperatura ambiente, mas que na sua escala entre 40 graus Celsius negativos e 40 graus positivos, revela inscrições com datas do período entre 1944 e 2014.

 

 

THROW (TIRO)

 

Criada em 2004, “Throw” (“Tiro”) foi uma obra comissionada para a coleção do Kiasma, Museu de Arte Contemporânea de Helsinque. Dias & Riedweg convidaram transeuntes a atirarem, diretamente no olho da câmera, uma série de objetos dispostos no chão. O gesto das pessoas ganharam maior potência sob o efeito da câmera lenta e da inclusão de imagens de arquivo de manifestações políticas que aconteceram na Finlândia durante o século 20. Walter Riedweg observa que o filósofo alemão Pieter Sloterdijk (1947), em seu livro ”Spheren III”, afirma que “o ato de atirar algo marca uma diferença significante na história do Homo sapiens”. “Quando o homem primitivo aprendeu a atirar coisas, ele iniciou a ideia de comunicação à distância. Este mesmo gesto permanece como uma ferramenta social de comunicação e protesto”, diz o artista.

 

 

BLOCÃO

 

Realizada este ano em colaboração com a crítica de arte Glória Ferreira e a artista Juliana Franklin, “Blocão” reúne, em 30 mil folhas de um bloco de aproximadamente um metro quadrado, uma seleção de 80 frases diferentes, uma por página, ditas por políticos e personalidades da mídia. O público poderá escolher uma frase, e destacar a página para levar consigo.

 

SOBRE OS ARTISTAS

 

Desde 1993, Maurício Dias, Rio de Janeiro, 1964, e Walter Riedweg, Lucerna, Suíça, 1955, trabalham juntos em projetos de arte que investigam a maneira como psicologias privadas afetam o espaço público e vice-versa. Estes projetos têm como característica principal o fato de envolver o público na elaboração de cada obra e apresentar a própria alteridade e a percepção do outro como questões centrais, o que consagrou o trabalho da dupla como pioneiro de uma nova arte pública na cena de arte contemporânea internacional. Com obras em museus como o Centre Georges Pompidou, em Paris, o MACBA, em Barcelona; MOCA, em Los Angeles; Kiasma, em Helsinki, no MAR e nos Museu de Arte Moderna de Lisboa, da Bahia, do Rio de Janeiro e de São Paulo, Dias & Riedweg foram laureados com os prêmios da Fundação Guggenheim, Nova York, das Fundações Vitae e Video Brasil, São Paulo, e da Pro Helvetia, na Suíça. Realizaram projetos de arte no Brasil, na Argentina, África do Sul, Egito, China, Japão, Estados Unidos, México e em diversos países da Europa, bem como exposições individuais marcantes tais como no Centro Cultural do Banco do Brasil, Rio de Janeiro, o Espace Le Plateau, de Paris; Americas Society em Nova York; Museu de Arte de Lucerna, na Suíça; Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo, e MUAC, Museu de Arte Contemporânea do México. Dias & Riedweg integraram várias das mais importantes exposições internacionais, entre elas, a documenta 12, em Kassel (2007), a Bienais de Veneza (1999), São Paulo (1998, 2000 e 2002), Istambul (1998), Havana e Mercosul (2003), Liverpool e Shangai (2004), e Gwangju (2006), bem como “Conversations at the Castle”, de Homi Bhabha e Mary Jane Jacob, em Atlanta, em 1996, e “L’État des Choses”, de Catherine David, no Kunst-Werke, Berlim, em 2001.

 

 

O PROJETO COFRE

 

Os artistas convidaram Jorge Soledar, Porto Alegre, RS, 1979, para participar do “Projeto Cofre”, no qual um artista é convidado a ocupar o cofre da instituição. A ideia dos artistas ao fazerem o convite foi mostrar mais um desdobramento dessa reflexão no mundo contemporâneo, uma vez que Soledar vem realizando uma pesquisa acerca do corpo na sociedade de controle. Além de ocupar o recinto do cofre da Casa França-Brasil, o artista propõe intervenções, na hora do almoço, cujos limites se confundem no cotidiano dos usuários da área externa do edifício.

 

 

De 07 de outubro a 30 de novembro.

O vasto mundo de Romy

29/set

A fotógrafa Romy Pocztaruk exibe em exposição individual na SIM Galeria, Batel, Curitiba, PR, com fotos e vídeos realizados em diversos países que viajou observando os detalhes arquitetônicos das cidades que foram sedes de Olimpíadas durante a história. O mote é o Brasil, o próximo país olímpico, em 2016. A mostra, denominada de “Um, vasto mundo”, apresenta imagens das vilas olímpicas de Berlim, na Alemanha, que organizou o evento esportivo em 1936, e Saravejo, na Bósnia, sede de 1984. A partir dos resquícios abandonados, na maior parte das vezes instalações em ruínas, a artista rastreia o impacto do evento, que caracteriza como “apocalíptico”. A curadoria é de Gabriela Motta. Destaque da cena nacional, Romy Pocztaruk inaugurou exposição individual no Santander Cultural, Porto Alegre, RS, e participa da delegação brasileira na atual edição da 31ª Bienal Internacional de São Paulo.

 

 

Um vasto mundo

 

O exercício de olhar, olhar, olhar e de novo olhar estas e outras dezenas de imagens traz à tona uma constante no percurso da Romy: a viagem como trabalho. Amazonas, Islândia, Uruguai, Alemanha, Nova Iorque, Bósnia, China são algum dos lugares para os quais a artista apontou sua câmara. No entanto, ao ver as imagens, salvas poucas exceções, não é possível dizer precisamente em qual país cada uma delas foi feita. Os trailers estacionados estão na Islândia ou no Uruguai? Os restos de concreto tomados por vegetação são sobras de obras em Manaus ou em Sarajevo? O carro funerário está ao lado de um prédio administrativo ou do muro de Gaza ou de uma igreja em Reykjavík? A resposta “certa” dessas perguntas é sempre a segunda opção: Uruguai, Sarajevo e Reykjavík; mas a insistente indefinição geográfica das imagens conduz a outras reflexões.

 

Quando se sabe em que lugar cada fotografia foi feita, claro, contextualizam-se as imagens, atribui-se a elas uma história, um clima, uma identidade. No entanto, tudo isso logo se perde novamente, fazendo emergir do conjunto de trabalhos uma tônica dominante que revela não o específico de cada lugar, mas o comum de todos eles. Essa imprecisão dos locais nos leva à compreensão de um mundo não delimitado por fronteiras políticas, aquelas que acabam sempre, em algum momento, gerando guerras, mortes, destruição. Uma constante entre tantas outras que nos definem.

 

Ao reconhecer a importância da viagem para o trabalho da Romy, é preciso comentar esse tipo de procedimento em relação à arte como um todo. Muito se fala de uma pegada etnográfica da arte contemporânea. Pelo menos desde os anos 1970, identifica-se uma parcela de artistas preocupada em investigar/entender outros mundos além daquele que lhes diz respeito. Isso também, reiteradamente, aponta para a fragilidade desse modo de agir, geralmente moldado por vícios de um olhar exterior aos contextos, incapaz – porque é mesmo impossível – de se libertar de seus próprios códigos. De fato, esse problema já era reconhecido pelos próprios etnógrafos, como Lévi-Strauss, que falava da equivalência das culturas e da limitação de falar de algum povo sem fazer parte dele.

 

Quando a imagem fotográfica é o principal meio através do qual se materializa a obra de um artista, por sua vez, construída a partir de andanças pelo mundo, a relação com esse outro se complica ainda mais, já que a tendência é associar a fotografia à realidade. Por mais que já tenha se escrito muito sobre o risco de se entender a fotografia como meio privilegiado para tratar do real, ainda costumamos vê-la como apreensão e registro de alguma verdade. Entretanto, a única verdade de uma foto é sua própria realidade, tamanho, cor, contraste, textura, recorte de imagem. Elas até podem partir de um “real”, mas jamais irão além daquilo que enquadram, do espaço que escapa à lente do fotógrafo.

 

Assim é que a obra da Romy, o recorte aqui apresentado, se situa entre um procedimento etnográfico que não tenta destacar do estrangeiro seu exotismo e o entendimento da fotografia enquanto imagem construída. No olhar da artista sobre o “outro”, sobre a paisagem cultural estrangeira, há pouco sobre o específico de um povo, de uma região, de um país. Nessas fotografias, há muito sobre o que nos equipara, sobre o que nos torna sempre o mesmo homem, que destrói, constrói, arruma a casa, transporta seu mundo sobre quatro ou duas rodas. Entender-se como igual, nem mais, nem menos, nem melhor, nem pior é um partido que não necessariamente nega as singularidades da cada indivíduo, mas assume aquilo que temos em comum como o verdadeiramente extraordinário de todos nós.

 

Ao mesmo tempo, esses trabalhos de Romy insistem em nos lembrar que, como as palavras desse texto, fotografia é linguagem. Enquanto linguagem, essas imagens não encerram um sentido, e sim uma multiplicidade de significados, tanto sobre suas características individuais quanto sobre o real do qual partem, bem como sobre quem as fez. Porém, ao contrário do que se poderia concluir, a autonomia dessas imagens não as retiram do mundo do qual partem. Essas fotografias, ao se apresentarem também como linguagem, assumem a ambiguidade do meio, contribuindo para o sentimento de dúvida gerado pelo conteúdo das imagens.

 

 

Arrumar a casa

 

Dois interiores. Duas salas arrumadas, cores, flores, cadeiras, quadros na parede. Um ambiente doméstico que, em breve, receberá quem vive ali. Duas casas, uma na China e outra na Amazônia. Tão distantes e tão próximas, porque feitas por gente: cabeça, ombro, joelho e pé. Tudo igual, tudo radicalmente o mesmo e diferente. O instante captado no relógio da casa brasileira também permite congelar o tempo na China. Enquanto aqui o sol está prestes a atingir seu ápice, lá a noite já chegou. No dia seguinte, o ciclo se repetirá, as tarefas do dia serão realizadas, as cadeiras receberão o peso dos corpos. Talvez nossa maior diferença não passe das onze horas de fuso horário que nos distanciam.

 

 

Habitar espaços

 

Há um conjunto de fotografias de rastros de ocupação no interior de algumas ruínas. Não se sabe por que essas construções foram abandonadas. Intui-se que, como sempre, a violência ou o descaso esvaziaram esses lugares. Nas três imagens, janelas se abrem para o exterior, fazendo com que o ar atravesse esses ambientes, arejando-os. As carcaças desses prédios e os vestígios de novos usos dessas estruturas fazem com que se sobressaia dessas imagens muito mais uma noção de transformação do que de pesar. Ao mesmo tempo, a dramaticidade das fotos apresenta esses lugares como cenários. Assim como aqueles que, possivelmente, ali realizaram um ritual, uma pintura, um espetáculo teatral, Romy também ocupa esses lugares, enquadra-os atenta às sobreposições temporais e de uso que abrigam.

 

 

Inventar imagens

 

A imagem de quatro colunas que abre a exposição se conecta àquela de uma construção no deserto. Enquanto a miragem que vemos ao longe é “real”, uma construção perdida no meio de um mundo de areia, as colunas, altivas e imponentes num outro deserto, são “falsas”, restos de um set de filmagem. Esse jogo entre o que é visível e o que não é – por exemplo, quando vemos as colunas, mas não vemos sua artificialidade – se revela agudamente nessas fotografias e atravessa todas as obras aqui reunidas.

 

Romy manipula habilmente aquilo que tem em mãos, o aparato tecnológico capaz de gerar imagens. A máquina a serviço de um olhar que se quer sempre múltiplo, ambíguo, abrangente. Assim, a artista compartilha com o espectador um olhar perplexo com uma certa dureza do mundo. Mas, sobretudo, nos convida a duvidar dessas e de todas as imagens e de qualquer ideia de verdade absoluta.

 

Gabriela Motta

 

 

Até 31 de outubro.

Evento no Hospital Matarazzo

26/set

A mostra que ocupa todos os espaços do Hospital Matarazzo, Bela Vista, São Paulo, SP, denominada “Made by… Feito por Brasileiros”, oferece, além da gama de obras de arte contemporânea, uma programação paralela com performances e exibição de filmes. O público tem a chance de conferir um trabalho artístico sem-igual e ainda presenciar uma intervenção ao vivo, tudo sem pagar nada. A curadoria é de Marc Pottier.Entre os brasileiros, estão Tunga, Henrique Oliveira, Márcia e Beatriz Milhazes, Iran do Espírito Santo, Nuno Ramos e Vik Muniz. Eles dividem espaço com Adel Abdessemed, Moataz Nasr, Jean-Michel Othoniel, Joana Vasconcelos, Francesca Woodman, Tony Oursler e Kenny Scharf, entre outros artistas estrangeiros. Um dos destaques é a obra Baba Antropofágica, de Lygia Clark, criada em 1973. Para os fashionistas, a curiosidade é ver as imagens e os vídeos feitos por Oskar Metsavaht, da Osklen. Algumas peças foram encomendadas e criadas especialmente para o espaço. Os organizadores também propuseram parcerias entre artistas estrangeiros e brasileiros, que foram instigados a elaborarem trabalhos conjuntos.

 

 

Performances e exibições de filmes

 

Márcia e Beatriz Milhazes

 

Nos dias 27 e 28 de setembro, no edifício que abrigava a seção de Maternidade, as irmãs Márcia e Beatriz Milhazes apresentam a performance de “Camélia”, uma dança do olhar, sem acomodações, através de múltiplos detalhes de formas geométricas articuladas e sobrepostas. Márcia fica à frente da coreografia com sua Companhia de Dança, enquanto que Beatriz assina a cenografia.Debruçados sobre a cena dourada, membros da Márcia Milhazes Companhia de Dança desenham com os seus corpos, gestos divididos em três interlúdios como sonetos sussurrados entre si.

 

 

Tunga

 

Os visitantes da exposição poderão também assistir no jardim do bloco A à performance de Tunga, diariamente em dois horários: das 10 às 13 e das 14 às 17 horas. Nessa performance de movimentos leves e calmos, o milho, que simboliza a fertilidade feminina, é debulhado com uma rapidez que entra em contraste com o movimento vagaroso de costurar as pérolas que representam o esperma solidificado.

 

 

Vídeos

 

Paralelamente a essas performances, a mostra conta com exibições permanentes de vídeos e filmes de artistas nacionais e internacionais no bloco E. A programação se divide em quatro projetos:

 

– Everything I Want, com curadoria de Nadja Romain;

– Cinema Yamanjá, com filmes da 3ª Bienal da Bahia;

– Mostra Vídeo Tal, de Gabriela Maciel & André Sheik;

– Com curadoria de Marc Pottier, os projetos “Espírito da Floresta”, de Amilton Pellegrino de Mattos e Ibã Huni Kuin; “Manifesto do Naturalismo Integral”, de Sepp Baendereck.

 

 

Até 12 de outubro.

A volta de Thomas Cohn

25/set

A Galeria Thomas Cohn, Jardim Paulistano, inicia outro ciclo de atividades com novo espaço e novo conceito. Com mais de 30 anos de experiência, o conhecido marchand pretende abrir um novo capítulo no cenário das artes visuais, inaugurando a primeira galeria de joias de arte no Brasil, com obras únicas ou pequenas edições assinadas por artistas contemporâneos internacionais. As exposições serão complementadas com programas educativos, que incluem palestras e workshops com algumas das maiores autoridades do universo da joalheria de arte internacional.

 

Intitulada “Colares Contemporâneos”, a mostra inaugural reúne joias de cerca de 30 artistas oriundos de 12 países como Alemanha, Holanda, Suécia, Noruega, Estônia, Taiwan e Coréia do Sul. Entre os participantes figuram artistas seminais do segmento, que se destacam em carreiras de sucesso, com exposições em museus e galerias, além de dirigirem academias e ministrarem em importantes escolas de arte da Europa, EUA e Austrália, como Annelies Planteijdt (Noruega), Bettina Speckner (Alemanha), Beppe Kessler (Holanda), Karin Johansson (Suécia), Mallory Weston (EUA), Liv Blavarp (Noruega), Kadri Mälk e Tanel Veenre (Estônia)Sara Borgegard (Suécia), Myung Urso (Coréia do Sul) e Phoebe Porter (Austrália), entre outros.

 

Diferente da joia clássica, afinal um produto industrial, a joia de arte é valorizada pela qualidade artística (mão de obra) e não pelos materiais usados. Propõe arte vestível que identifica o grau de cultura e bom gosto da pessoa ao invés do seu status socio-econômico.  Permite a quem a usa levar arte no corpo e do corpo à rua.

 

A joalheria contemporânea surgiu como especialidade a partir dos anos 1970, mas antes disso grandes artistas como Picasso, Man Ray, Salvador Dalí e Magritte criaram peças para serem usadas no corpo. É um nicho do mercado de arte inovador, que vem encontrando cada vez mais espaço com a colocação de novas galerias no mercado, com a institucionalização do setor por coleções de importantes museus (como o MoMA de Nova York e o Stedelijk, de Amsterdã), com o surgimento de feiras de arte especializadas (como as anuais Schmuck, em Munique; Sieraad, em Amsterdã; e Collect, em Londres), e com revistas com foco no assunto, como  Art Aurea (Alemanha) e a Current Obsession (Holanda).

 

 

Até 11 de outubro.

Miguel Barceló no Rio

22/set

Chega ao Rio de Janeiro a exposição do prestigiado artista catalão Miquel Barceló, na Pinakotheke Cultural, Botafogo. Será apresentada sua obra recente, além de alguns trabalhos emblemáticos de sua produção, como o elefante de bronze apoiado pela tromba, que ocupou em 2011 a Union Square, em Nova York, e que está na frente da Pinakotheke Cultural, podendo ser visto por quem passa pela Rua São Clemente.

 

O artista é o pintor da aclamada cúpula da Câmara dos Direitos Humanos e Aliança das Civilizações, Organização das Nações Unidas (ONU), em Genebra, na Suíça, que tem aproximadamente 430 m², e na qual ele imprimiu o fundo do mar, usando 60 toneladas de tinta, em um trabalho que durou treze meses. A obra foi uma doação do governo espanhol para a ONU, em 2007. Outra grande obra do artista que merece destaque é a instalação executada durante um período de seis anos, entre 2000 e 2006, na Capela do Santíssimo na Catedral de Santa Maria, arquitetura do século XVI, em Palma de Maiorca, na Espanha. A Capela foi revestida com imensos painéis contínuos de cerâmica policromada (300m²) e cinco vitrais de 12 metros de altura.

 

Com capacidade de trabalho surpreendente e atuando em múltiplos suportes – pintura, escultura, murais, cerâmica, desenho, ilustração de livros – Barceló se divide entre os seus ateliês de Paris, o de cerâmica em Palma de Mallorca, sua terra natal, e o de Mali, na África. Foi o artista mais jovem a se apresentar no Museu do Louvre e esteve presente na Bienal de Veneza, na Bienal de São Paulo, e na Documenta de Kassel, na Alemanha. Realizou retrospectivas em instituições de renome, como o Centro Pompidou, em Paris; o Museu Nacional Centro de Arte Reina Sofia, em Madri; o Museu Rufino Tamayo, no México e o Museu Guggenheim Bilbao, na Espanha.

 

“A exposição apresentada foi pensada, junto com o artista, com o objetivo de mostrar sua produção atual de pinturas e cerâmicas, complementada com uma seleção de suas mais importantes esculturas em bronze”, conta o curador Max Perlingeiro.

 

Na Pinakotheke Cultural serão apresentadas 20 obras, dentre pinturas e esculturas. A mostra também terá dois filmes: “Mar de Barceló”, especialmente produzido durante a execução da cúpula das nações da ONU, e “Paso Doble”, referência ao processo criativo das cerâmicas. Para compreender o processo do artista, foi montado um “gabinete de curiosidades”, com elementos e objetos pessoais caros à composição de sua obra e que nunca haviam saído de seu ateliê parisiense, portanto, inédito para o público. A exposição será acompanhada de um livro (Edições Pinakotheke), com 203 páginas, bilíngue, que reúne uma entrevista do artista ao crítico Adriano Pedrosa, textos do pensador espanhol Enrique Juncosa e imagens da coleção, além de uma cronologia sobre a vida e a obra de Miquel Barceló.

 

Dentre as pinturas apresentadas na exposição estarão os quadros brancos, feitos somente com esta cor, mas com texturas diferentes, que formam diversos desenhos. “Como se pode ver, cada nova camada apaga, mas também deixa uma transparência. Estes quadros são cada vez mais sintéticos, cada vez há menos coisas, e estão mais apagados. Há muitas camadas de pintura, tornando-se espesso no centro, tudo acontece por baixo, é quase invisível, conta o artista em entrevista a Adriano Pedrosa.

 

O crítico de arte espanhol Enrique Juncosa afirma, no livro que acompanha a exposição, que a cor branca sempre esteve presente no trabalho de Barceló. Sobre a origem dos quadros totalmente brancos ele diz: “No Pavilhão Espanhol da Bienal de Veneza de 2009, Barceló apresentou, entre outros, dois quadros brancos de grande formato, Mare tranquilitas e Mare nectaris, 2008, de novo sobre o ritmo e a forma das ondas admiradas de uma praia. O tema das ondas e da espuma do mar, iniciado nas Canárias, e depois com esses dois grandes quadros exibidos em Veneza, é o ponto de partida dos últimos quadros brancos que Barceló pintou desde 2012, tal como os apresentados aqui”.

 

Além dos quadros brancos, também serão apresentadas pinturas de frutas, como tomates partidos. “Como um contraponto à ‘série branca’, ‘os frutos’, obras de grande formato com tomates e figos que explodem no meio da tela. Suas telas brancas persistem há mais de duas décadas. Quando regressou de uma longa temporada na África, em 1988, sua pintura antes densa e cheia de referências culturais e autobiográficas, transforma-se em enormes extensões de paisagens brancas. Um branco que não significa ausência”, afirma Max Perlingeiro.

 

“A exposição inclui também alguns quadros de frutas e tomates partidos, que contrastam com os quadros brancos por sua intensidade cromática, pois são em sua maioria vermelhos. Em um desses quadros, o intitulado Tomate- Mars, 2013, um jogo com o nome que se dá ao planeta vermelho, Marte, a metade do tomate que vemos tem algo de planeta habitável, com um interior que sugere movimento perpétuo, como uma caldeira em ebulição”, ressalta o crítico espanhol Enrique Juncosa no livro que acompanha a mostra.

 

As cerâmicas são outro destaque da trajetória do artista. Se a experiência com a pintura está presente desde o início de sua obra, o interesse pela cerâmica começa em Mali, em 1995. Desde então, o artista dedicou-se a aprender técnicas em Maiorca, França e Itália e a cerâmica tornou-se um dos suportes fundamentais de sua produção. Para a exposição, foram selecionadas cerâmicas no seu ateliê em Vilafranca de Bonany (pequeno vilarejo em Maiorca) instalado numa antiga fábrica de artefatos de cerâmica. “O artista trabalha com a imperfeição da matéria. É um trabalho solitário e bruto onde ele não admite colaboração. São obras autorais. Uma luta incessante entre o homem e a matéria. O artista explora ao máximo o imprevisível e depois recobre com desenhos ou fuligem do resíduo das chaminés, onde um novo processo se inicia”, diz Max Perlingeiro.

 

Sobre as cerâmicas, Enrique Juncosa escreve: “As cerâmicas mais inovadoras que apresentamos aqui, neste livro são pretas. Foram produzidas a partir de uma forma inventada pelo artista. Uma vez cozidas, foram colocadas nas chaminés do forno e ficaram cobertas da fuligem proveniente da fumaça. Depois, fixou a fuligem com um fixador transparente, mas o aspecto continua sendo frágil, como se fosse desprender se alguém as sustentasse com a mão o tentasse limpá-las com um pano”.

 

 

De 23 de setembro a 09 de novembro.