MATCH!

21/mai

Exposição de desenhos reflete sobre performatividade masculina em plataformas do tipo Tinder. Com humor e ironia, mostra de Júnia Azevedo abraça temas como identidade, corpos, afetos e subjetividades no Centro de Arte UFF, Icaraí, Niterói. A curadoria é de Renato Rezende. A abertura acontece no dia 21 de maio

Júnia Azevedo apresenta de 10 retratos com textos, feitos em grafite sobre papel algodão. Como em plataformas de namoro virtual tipo Tinder, homens distintos apresentam seus perfis conforme seus interesses – sexo, amizade, uma parceira amorosa ou a busca da alma gêmea. “Há algo de machista e patético na forma como esses homens nos olham (olham para as mulheres) e se descrevem. Ao mesmo tempo, eles nos comovem. São pessoas solitárias, que carregam em seus rostos as marcas do tempo, e buscam ser felizes, como é de seu direito, a partir de seus princípios e conceitos de amor e sexo. As obras de Júnia nos provocam, desestabilizando-nos entre o repúdio e o terno, entre o estético e o ético, entre o trágico e o risível”, diz o curador Renato Rezende. Os desenhos apresentam com ironia e humor a maneira como homens heterossexuais de meia-idade se expõem e se posicionam em aplicativos de relacionamento. “Com traço preciso e sutileza crítica, a artista revela os discursos afetivo-sexuais e políticos que esses homens – em sua maioria brancos e urbanos – mobilizam ao se apresentarem nessas plataformas. Ao provocar o riso, suas obras também abrem um espaço de crítica sobre a performatividade masculina em contextos digitais”, explica Fernando Lima, diretor da Galeria de Arte UFF.

No mesmo dia e horário, abrem também no Centro de Artes UFF as exposições “Abismo”, de Rodrigo Pedrosa; “Afiyé”, da dupla Jão&Jota; e “É no silêncio que meu corpo grita”, de Nawi da Mata. As mostras são produzidas pela Divisão de Artes Visuais do Centro de Artes UFF, que tem como objetivo a promoção e divulgação de arte contemporânea, com vistas a fomentar a pesquisa, estimular novos processos investigativos e experimentações de linguagens, além de fortalecer as dinâmicas sociais.

Até 13 de julho.

Mostra individual de Manfredo de Souzanetto.

A exposição “da terra, o que vem…”, individual de Manfredo de Souzanetto na Simões de Assis, Jardins, São Paulo, apresenta obras produzidas entre 1976 e 2025, reunindo vários momentos de sua produção ao longo de quase seis décadas, mas que reafirmam seu vínculo com o entorno natural. A paisagem de Minas Gerais atravessa a trajetória do artista, reaparecendo como forma, relevo e superfície. Em sua prática artística, Manfredo de Souzanetto tenciona os limites entre pintura e escultura, desenvolvendo uma linguagem que evoca o território e os efeitos do tempo sobre a matéria.

O trabalho de Manfredo de Souzanetto é um contínuo diálogo entre pintura e escultura, transitando entre o bidimensional e o tridimensional originando relevos orgânicos/geométricos que questionam o comportamento da forma no plano e seu desenvolvimento no espaço. Além disso, utiliza pigmentos naturais extraídos das terras de Minas Gerais em um movimento de ativismo ecológico, tornando a terra, na condição de pigmento, matéria do trabalho. Em boa parte de sua produção, as formas criadas pelas cores estão diretamente relacionadas com os formatos das próprias telas, incorporando a cor ao objeto e as pinturas com formatos mais tradicionais que passa a produzir a partir dos anos 2000.

O artista possui obras em importantes instituições como MASP-Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand, São Paulo, Brasil; Pinacoteca do Estado de São Paulo, Brasil; MAM-São Paulo, Brasil; MAC-USP, São Paulo, Brasil; Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro, Brasil; MAM-Rio, Brasil; IMS-Rio, Brasil; Coleção Gilberto Chateaubriand, Rio de Janeiro, Brasil; MAC-Niterói, Brasil; Museu de Arte da Pampulha, Belo Horizonte, Brasil; Museu de Arte Moderna da Bahia, Brasil; Museu de Arte Brasileira FAAP, São Paulo, Brasil; Musée de l’Abbaye Sainte-Croix, Les Sables d’Olonne, França; Fond National d’Art Contemporain, França; Brazilian American Cultural Center of Washington, EUA; Coleção Statoil, Stavanger, Noruega; e Tel Aviv Museum of Art, Israel.

Até 26 de julho.

Encontro de outono no Instituto Brando Barbosa.

15/mai

Os artistas Anna Bella Geiger, Carlos Vergara, Jeane Terra, Heberth Sobral, Marcos Corrêa, Diana Gondim, Márcia Martins, Dani Justus, Volnei Malaquias, Hélio Vianna, Fessal, Carolina Kasting, Beto Gatti, Coletivo MUDA e SAFE Art será o time de peso presente na exposição “Encontro de outono”, com curadoria de Elis Valadares, que celebra a terceira edição da versão PopUp da Casa70Rio de 19 a 23 de maio, das 10h às 16h.

O evento conta também com participações especiais de Tatiana Bertrand, Vintage Brasil com curadoria da arquiteta Giulia Borborema, ensaio de moda de Dani Lacerda, Sabrina Cuiligotti e Victor Niskier. Este ano, a Casa70Rio – projeto criado por Elis Valadares no Rio e que cruzou o oceano por cinco anos, até Lisboa – volta à cidade na versão PopUp, realizado em parceria com galerias nacionais e internacionais (nesta edição com as galeristas Anita Schwartz e Gaby Índio da Costa).

Um modo de fazer e pensar.

13/mai

O Centro Cultural Correios Rio de Janeiro exibe até 28 de junho, na Galeria C, a exposição individual Denso e Sutil, da artista visual Stella Mariz.

Dois adjetivos à primeira vista contraditórios dão nome à mostra com curadoria de Shannon Botelho. Denso e Sutil aponta para a tensão entre extremos justamente onde reside a essência do trabalho de Stella Mariz. A exposição reúne cerca de 30 obras que exploram os limites entre bidimensionalidade e tridimensionalidade em três séries de trabalhos que atravessam a escultura, a pintura, a fotografia, a costura e o bordado, propondo uma reflexão sobre o desenho e a paisagem na contemporaneidade.

“O escultórico é o eixo em torno do qual orbitam as demais linguagens da artista”, aponta o curador. A tridimensionalidade é um traço que acompanha toda a trajetória de Stella Mariz.

A paisagem como tensão entre plano e espaço.

Na exposição, o público se depara com a série de foto-pinturas em alto-relevo. Iniciada a partir de registros fotográficos de ruínas feitos durante uma viagem a Portugal. “Ao espessar as camadas, ao sobrepor superfícies, Stella rompe a bidimensionalidade da fotografia, criando uma zona ambígua, quase tátil, onde a imagem se desestabiliza e nos convoca ao estranhamento”, escreve Shannon Botelho no texto de apresentação da mostra. “Denso e Sutil é, afinal, um modo de fazer e de pensar”, diz o curador. Na tensão entre opostos – peso e leveza, presença e apagamento – a artista constrói um espaço ambíguo de contemplação e sentido. Um campo em que olhar e pensamento são continuamente convocados a permanecer.

Sobre a artista.

Stella Mariz nasceu no Porto, Portugal. Vive e trabalha no Rio de Janeiro onde desenvolve trabalhos tridimensionais transitando pela escultura figurativa, desenho, foto-pinturas em alto relevo, fotografia, videoinstalações e é cirurgiã plástica. Possui pós-graduação em História da Arte, PUC/Rio, e pós-graduação em Arte e Filosofia, PUC/Rio. Fez residência artística no Art Students Leage, em Nova Iorque e no Atelier Charles Watson, RJ, cursos na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, RJ, recebeu prêmio no Salão Nacional de Arte em Cuba e fez inúmeras exposições coletivas e individuais. Em sua trajetória, criou várias séries com técnicas elaboradas especialmente para diversos resultados formais.

As múltiplas dimensões da temporalidade.

07/mai

“Em busca do tempo roubado” é o atual cartaz da Galeria de Arte Flexa, Leblon, Rio de Janeiro, RJ, com curadoria de Luisa Duarte, tendo Daniela Avellar e Lucas Alberto como curadores assistentes. A mostra reúne cerca de 80 obras que buscam abordar as múltiplas dimensões da temporalidade. Os três núcleos que compõem a coletiva se apresentam como capítulos de uma espécie de pedagogia do tempo: “O herói como garrafa”, “Frequência dos hábitos” e “A pele do tempo”.

Em busca do tempo roubado

Secularmente, a passagem do dia foi medida pelo lento deslocamento dos astros. Hoje, a interface do mundo clareia e anoitece regida pela modulação do brilho das telas, simbolizada por um pequeno sol nos aparelhos de celular. Em um estranho paradoxo, temos o dia disposto na palma da mão, enquanto a experiência do seu desdobrar escorre entre os dedos.

Em busca do tempo roubado se dedica a abordar distintas formas de temporalidade em contraposição ao mundo 24/7 – aquele no qual nos distanciamos da realidade sensível à medida que habitamos, grande parte das horas, zonas digitais cujas telas, sempre lisas e limpas, simulam uma temporalidade para a qual as marcas do tempo nunca chegam. Ou ainda: aquele que se descortina a partir de dinâmicas ininterruptas de estímulos, que acabam por nos fazer reféns de uma constante atenção distraída.

Os três núcleos que compõem a exposição se apresentam como capítulos de uma espécie de pedagogia do tempo. O herói como garrafa propõe um deslocamento da centralidade do imaginário heroico ao privilegiar o ordinário. Em A teoria da bolsa de ficção, Ursula K. Le Guin (1929-2018) faz menção a um glossário inventado por Virginia Woolf (1882-1941) no qual a palavra “herói” é substituída pelo termo “garrafa”. Tal operação encena um gesto crítico à reincidência da tônica heroica nos modos de contar histórias. Assim, a atenção ao ordinário recolhe, no tecido dos dias, as narrativas mínimas e as possíveis surpresas que habitam as malhas do comum.

Em Frequência dos hábitos recordamos que, na repetição dos gestos mais banais – escovar os dentes, riscar um fósforo, cortar uma fruta – podem habitar desvios inauditos. Assim, a repetição surge como recurso poético que aponta para o cotidiano como campo de invenção e subversão.

Já em A pele do tempo, o tempo se revela por sua densidade, menos como medida homogênea cronometrada e antes como matéria sensível. E se a pedra fosse uma metáfora para o relógio? Como mediríamos as horas? Tal pergunta parece sugerir a existência de fusos horários próprios a cada matéria, desobedientes às cronologias já catalogadas.

Luisa Duarte – curadora

Daniela Avellar – curadora assistente

Lucas Alberto – curador assistente

Iole de Freitas lança livro no Paço Imperial.

05/mai

Neste sábado, dia 10 de maio, às 15h30, será lançado o livro da exposição “Fazer o Ar”, da artista Iole de Freitas, na Sala dos Archeiros, no Paço Imperial, Centro, Rio de Janeiro, RJ. Para marcar o lançamento, será realizada, às 16h30, uma conversa gratuita e aberta ao público com a artista, o curador e poeta Eucanaã Ferraz e o artista visual e poeta João Bandeira, que assinam textos inéditos no livro. A mostra foi prorrogada e poderá ser visitada até o dia 18 de maio.

Com 120 páginas, o livro, organizado por Eucanaã Ferraz e Rara Dias, traz imagens inéditas da exposição, em um ensaio fotográfico feito por Vicente de Mello, e também fotos de Ricardo Miyada, Maria Camargo, Sérgio Zalis, Jaime Acioli, Iole de Freitas e Helena Makun. Além de textos do curador e poeta Eucanaã Ferraz e do artista visual e poeta João Bandeira, a publicação também terá a transcrição de uma conversa inédita entre eles e Iole de Freitas, realizada no ateliê da artista. No Paço Imperial, o livro será vendido pelo valor promocional de R$ 90,00 e após o lançamento estará disponível na livraria Blooks.

Lançamento do Catálogo Casa Própria.

O Paço Imperial, Centro, Rio de Janeiro, RJ, apresenta no dia 08 de maio o lançamento do catálogo Casa Própria, da artista Ana Hortides.  Mais do que um simples registro visual, a publicação oferece um levantamento crítico sobre a obra de Ana Hortides, aprofundando-se nas questões materiais e simbólicas que permeiam sua produção artística. Com contribuições dos curadores Daniela Avellar, Lucas Albuquerque e Renato Menezes, o catálogo traz ensaios que discutem a relevância da pesquisa de Ana Hortides no contexto da arte contemporânea brasileira. Além disso, uma entrevista exclusiva de Pollyana Quintella com a artista oferece uma visão íntima de seu processo criativo e de sua trajetória.

Questões do feminino e da natureza.

30/abr

Os caminhos trilhados por Sandra Felzen perpassam as questões femininas, as causas ambientais e suas várias vivências culturais. Seus instrumentos são a arte, a natureza, o estudo da língua hebraica, tudo imerso no contexto da cultura brasileira.

Em “O Tempo, O Feminino, A Palavra”, que abre no dia 08 de maio, na Galeria do Espaço Cultural Municipal Sérgio Porto, Humaitá, Rio de Janeiro, RJ, a artista constrói artesanalmente um caderno, um útero e inúmeros potes, feitos a partir de tiras de vários tecidos afetivos que coletou ao longo da vida.  O conteúdo do caderno mostra os desdobramentos de sua trajetória artística, suas reflexões sobre a passagem do tempo, sobre o feminino e sua conexão com a Natureza, representada pela árvore. Ela ressalta a importância da palavra como geradora de conteúdos e de sentidos.

Para a artista, a árvore possui uma grande ligação com o feminino. Além da palavra ser feminina em português, ela simboliza o equilíbrio. Ela é o elo entre a terra e o céu. Enraizada, com uma potencialidade de crescimento, doa flores e gera frutos. É a Árvore da Vida.  Árvore da Vida é um conceito na cultura judaica que significa tanto sabedoria como a integralidade do Ser e todas as suas manifestações. As obras de Sandra Felzen contam histórias dos saberes ancestrais e revelam uma visão integrada da experiência humana. Reforçam a ideia de que arte, memória e natureza estão entrelaçadas em um diálogo contínuo com a vida. Esses temas se estendem do caderno, do útero e dos potes até às paredes da galeria, onde suas pinturas se apresentam. Nas telas, a artista se aprofunda nas nuances da cor, da composição e das texturas.

A palavra da artista.

“Meus temas principais, o Feminino e a Árvore, estão entrelaçados e dialogam entre si. Na verdade, são um grande tema único. Ao longo da minha carreira, pintei Umbuzeiros, Umburanas, Bacuris, Bambus, Monjolos, Carnaúbas, Veredas. As árvores representam nossas raízes, que nos dão sustentação. Elas nos fincam na história, em nossas ancestralidades. Ao mesmo tempo, nos dão o sentido de direção e nos remetem às alturas”.

Outros dois temas recorrentes em seu trabalho, inter-relacionados com o todo de sua obra e retratados nas páginas do caderno são os receptáculos (o útero, inclusive) e as janelas/espelhos, que são, segundo a artista, “Portais no Tempo e no Espaço”.

 Sobre a artista. Sandra Felzen

Carioca, Sandra Felzen graduou-se em Química com Mestrado em Ciências Ambientais. Iniciou seus estudos de pintura e desenho durante os anos 1980 em Nova York. Participou de vários cursos na Escola de Artes Visuais do Parque Lage e MAM, no Rio, entre o final dos anos 1980 e início dos anos 1990. Realizou várias exposições individuais e coletivas no Brasil e no exterior ao longo dos 40 anos dedicados à arte.

Até 29 de junho.

A investigação metafísica de Alberto Saraiva.

A Galeria Patrícia Costa, Copacabana, Rio de Janeiro, RJ, abre individual de Alberto Saraiva, que apresenta pinturas em diálogo com o pictórico e a investigação metafísica. Usando acrílica e óleo sobre tela, Alberto Saraiva vai construindo uma narrativa própria em nuances coloridas capazes de revelar sutilezas, entre planos e figuras, ao olhar mais atento.

“Sobre Pintura”, exibição individual do artista que ocorre entre maio e 16 de junho, na Galeria Patrícia Costa, apresentará um conjunto com cerca de 20 pinturas. A curadora, Daniele Machado, selecionou um recorte que vai de 2009 à produção recente, de 2025 – algumas obras foram produzidas para esta exposição, como o díptico “Chuvinha de outono”. Segundo Daniele Machado, a pintura de Alberto Saraiva é construída por partes, com centros de gravidade coexistentes, que ora disputam, ora desorientam, ao tensionarem a perspectiva clássica que tanto educou o olhar ocidental. O conjunto reflete a investigação do pintor sobre a metafísica em diálogo com a tradição pictórica.

“Eu busco a presença humana no horizonte, no desconhecido, ainda que ela não esteja dentro da tela, mas fora dela”, afirma Alberto Saraiva.

Ao se interessar por arte aos 7 anos de idade, quando passou a desenhar, foi aos 21 anos que Alberto Saraiva teve seu real encontro com a pintura, tendo Katie van Scherpenberg como a sua grande mestra, durante dez anos, na Escola de Artes Visuais do Parque Lage (onde anos mais tarde ele mesmo viria a se tornar professor). Katie van Scherpenberg foi, para ele, uma referência que o ensinou a compreender a pintura como realidade física e, igualmente, como pensamento. “Costumo sempre relembrar o “paradoxo da Katie”, que dizia que a pintura não é algo que você ensina, no entanto algumas pessoas aprendem. A pintura, na verdade, é um pensamento que parte da matéria, que são os pincéis, as tintas, os lápis; a partir daí criamos uma imagem que se torna um pensamento claro que pode se desenvolver ou não. Pintura é um processo, passa pelo refinamento do pensamento”, diz o artista, que destaca a contribuição de Katie van Scherpenberg em uma das telas a ela dedicada.    A todo tempo, olhar para as pinturas é questionar sobre o que está ali e o que extrapola os limites do mundo físico. Ele vai deixando pistas para que esse movimento seja conduzido e descoberto pelo espectador, alternando a extrema habilidade técnica naturalista com as referências do universo gráfico. É uma obra “sobre pintura” e sobre a condição do homem contemporâneo: o que vive no tempo oportuno, suspendendo o cronos.

Sobre o artista.

Alberto Saraiva naceu em Manaus, em 1967, vive e trabalha no Rio de Janeiro. É artista-curador e pintor, graduado em Arte Educação e Museologia, com pós-graduação-especialização em Arte e Filosofia pela PUC-RIO e mestre em museologia pela UNI-RIO. Estudou desenho e pintura na Escola de Artes Visuais do Parque Lage no Rio de Janeiro com Katie van Scherpenberg com quem aprendeu a pintar; estudou cor com o pintor José Maria Dias da Cruz e videoarte no Parque Lage nos anos 1990 com Adriana Varella onde fez parte do grupo de produção de vídeo que se reconectou aos artistas da produção de videoarte dos anos 1970. Fez sua primeira exposição individual na Galeria Candido Mendes no ano 2000, a segunda no Castelinho do Flamengo em 2008 e a terceira individual na Galeria do Lago em 2014. Dentre suas coletivas destacam-se a Bienal do Recôncavo-Bahia onde ganhou o segundo lugar no prêmio aquisição – Coleção Dannemann em 2000; 7a Bienal do Mercosul – Radiovisual com curadoria de Lenora de Barros em 2009. Imagens Paradoxais no Parque Lage em 2000; Rio Trajetórias: Ações Transculturais: Funarte em 2001; Obranome no Museu Nacional de Brasília em 2008; O corpo – entre o público e o privado com curadoria de Christine Mello no Paço das Artes em São Paulo em 2004; Rumos da Videodança – Itaú Cultural São Paulo em 2003; Ensaio sobre a beleza com curadoria de Bruno Miguel na Galeria Movimento em 2025.

Exposição de colagens e esculturas.

29/abr

Colagens de Roberto Scorzelli e esculturas de Marcos Scorzelli na Galeria Evandro Carneiro, Gáves, Rio de Janeiro, RJ. Roberto Scorzelli (PB, 1938 – RJ, 2012) foi um importante arquiteto e artista plástico. A Galeria Evandro Carneiro já realizou duas exposições de suas pinturas, em 2019 e 2022. Agora, apresenta seus inéditos trabalhos de colagens em papeis de seda e papeis de origami japoneses.

Texto de Laura Olivieri Carneiro.

Em conversa com sua viúva e mãe de seus dois filhos, um dos quais também presente nesta mostra (Marcos, de quem falaremos adiante) Rosa Bernstein Scorzelli me contou toda a história por trás dessas maravilhosas formas coloridas que ora se apresentam. Assim, usamos a metodologia da memória oral (entrevista gravada em áudio, transcrita e referenciada aqui) na pesquisa para escrever o texto que se segue.

No finalzinho da década de 1960 e início dos anos 1970, Roberto Scorzelli se interessou pelas colagens, desde que se tornou amigo da escultora Mary Vieira, quando ele era arquiteto do Itamaraty e ela estava em Brasília para instalar no palácio dessa instituição a icônica obra Ponto de Encontro (1969-1970). Nessa ocasião, a escultora presenteou o arquiteto com algumas peças de papeis de seda suíços.

Mary viveu muitos anos na Europa e fixou residência em Basel, Suiça. Roberto foi algumas vezes à Berna para reuniões sobre o projeto da embaixada do Brasil que seria construída nesta cidade e era assinado por ele. Foi quando aprofundou suas pesquisas sobre os papeis coloridos de excelente qualidade que ali pôde comprar e trazer para o Brasil.

Rosa lembra que o processo era complicadíssimo à época: primeiramente porque não havia a diversidade de colas que existem hoje. Roberto usava cola de sapateiro para o trabalho pois era mais adequada à lisura dos papeis. Aquilo exalava um cheiro tóxico e ele precisava interromper a produção de quando em vez para não prejudicar a saúde dele e de sua família. Neste momento, Isabella era pequena e Marcos acabara de nascer. Não bastasse isso, em alguns trabalhos, ele desejou criar um efeito diferencial e precisava queimar controladamente os papéis. Para tal, punha-se com o material dentro do box do apartamento para, se preciso, abrir as torneiras d´água e não incendiar a casa. Em conversas de casal, Rosa e Roberto concordaram que aquele processo era demasiadamente arriscado. O artista, então, continuou se dedicando à pintura a óleo e tinta acrílica e aos desenhos. Seguiu uma sólida carreira, com exposições em galerias consagradas, como a Bonino e a Saramenha, abriu uma loja de design na badalada Ipanema e seu escritório de arquitetura “bombava”. Situado em uma casa com quintal em Botafogo, seus filhos têm uma doce e lúdica lembrança da fase das colagens: Roberto enchia uma piscina inflável e com uma mangueira e seus papeis de seda, fazia cachoeiras coloridas com a tinta que o material soltava na água. Passados muitos anos, na década de 1990, Rosa que é física, estudava os meteoritos da Antártica e ia muito a Congressos realizados no Japão. Roberto adorava a cultura japonesa, o Zen-budismo, os monumentos sagrados e acompanhava a esposa. Certa vez ela precisou trabalhar um mês em um laboratório em Kyoto e, nos tempos vagos e andanças pela cidade, Roberto encontrou lojas especializadas em papéis: de seda em coloridos especiais como os dourados, com texturas e ranhuras, cortados geometricamente para origamis. Passava as tardes por ali, experimentando ideias para, no retorno ao seu país, voltar a criar colagens.

Assim, surgiu uma nova série nos anos 1990, com motivos semelhantes aos de vinte anos antes, mas utilizando papéis japoneses e não mais suíços. A amizade com Mary Vieira sempre foi constante e Roberto a presenteou com algumas dessas novas colagens. Mary se casara com Carlo Belloli, crítico de arte e galerista em Milão que quando viu o trabalho, quis realizar uma exposição em sua galeria. A mostra aconteceu em 2000. Depois disso, as colagens não mais foram apresentadas ao público até a presente data. Reunimos aqui 30 colagens dos dois tempos, 1970 e 1990. Guardadas com o primor dos princípios norteadores da conservação de obras de arte, os exemplares da produção foram acondicionados em mapotecas e chegaram até aqui intactos. Ainda inéditos no Brasil, expomos agora estes lindos trabalhos de papeis de seda e papeis de origami colados sobre cartão.

Inspirado na obra do pai, foi a partir dos desenhos de bichos de Roberto que Marcos Scorzelli, designer e artista, criou em 2018, a sua série de esculturas em chapas de aço representando animais brasileiros. Seguindo a premissa de somente dobrar as chapas, sem cortes nem colas ou soldas, o escultor desenvolveu uma técnica genial, com resultado colorido, lúdico e de uma beleza que encanta a todos que entram na galeria e percebem a originalidade do trabalho. Expusemos os Bichos em 2019 e, depois disso, ele seguiu trabalhando com o mesmo conceito em uma série Botânica, com vários espécimes da nossa flora, sobretudo a nordestina e do cerrado. Expusemos essas novas peças em 2022 e agora trazemos 30 exemplares de ambas as séries para complementar, na tridimensionalidade do espaço na galeria, as obras na parede de seu pai Roberto. O diálogo entre os conjuntos escultóricos e das colagens é evidente. Geométrico, colorido, impactante.

A exposição ficará em cartaz na Galeria Evandro Carneiro de 03 a 24 de maio.