Mulheres sul-americanas e suíças

29/set

 

Um grupo formado por artistas mulheres sul-americanas e suíças – entre elas duas brasileiras – vai ocupar neste sábado, dia 30 de setembro, das 11h às 19h, a Casa França-Brasil, no Centro do Rio, com entrada gratuita. Elas farão performances com música, vídeo, dança, em que abordam cenas cotidianas, questões de gênero e de desigualdade. O Rio foi o escolhido para sediar o terceiro encontro do grupo, que começou esta troca coletiva de práticas artísticas em 2018, em Buenos Aires, e depois em 2021, na cidade de Basel, na Suíça.

As artistas que estarão no Rio de Janeiro são: Andrea Saemann (1962, Basel, Suíça), Barbara Naegelin (1967, nasceu na Venezuela e cresceu na Suíça, e vive em Basel), Chris Regn (1964, Nuremberg, Alemanha, e vive entre Hamburgo e Basel), Cinthia Mendonça (1980, Minas, vive na Serrinha do Alambari, Serra da Mantiqueira), Dorothea Rust (1955, Zurique, Suíça), Gisela Hochuli (1969, Berna), Jazmín Saidman (1987, Buenos Aires), Maja Lascano (1971, Córdoba, Argentina), Nicole Boillat (1974, Biel, Suíça) e Paola Junqueira (1963, São Paulo, vive em Ribeirão Preto). A artista Luján Funes (1944, Tandil, Argentina) estará presente com um vídeo.

No Rio desde o dia 19, elas estão em uma residência artística na Vila Laurinda, em Santa Teresa, para troca de experiências e práticas artísticas. Elas quiseram absorver a atmosfera da cidade, do mar, da cultura carioca, suas cores e música, para criar novas abordagens de participação e colaboração para o público do espetáculo na Casa França-Brasil.

A grande celebração

28/set

A Gentil Carioca, Centro, Rio de Janeiro, RJ, completou 20 anos com grande celebração. Uma das mais importantes galerias de arte contemporânea brasileiras, A Gentil Carioca, com forte presença e reconhecimento nacional e internacional, traduz o jeito carioca de ser. Marcando a data, foi inaugurada a grande exposição coletiva “Forrobodó”, – em cartaz até 21 de outubro -, com curadoria de Ulisses Carrilho, que celebra o potencial político, poético, estético e erótico das ruas. A mostra ocupa os dois casarões dos anos 1920 onde funciona a sede carioca da galeria, com obras de cerca de 60 artistas, como Adriana Varejão, Anna Bella Geiger, Antonio Dias, Antonio Manuel, Cildo Meireles, Hélio Oiticica, Lenora de Barros, Denilson Baniwa, entre outros, que, de diversas formas, possuem uma relação com a galeria.

Pioneira em vários aspectos, A Gentil Carioca fez história ao longo dos anos, sendo a primeira galeria brasileira fundada por artistas plásticos – Márcio Botner, Ernesto Neto e Laura Lima. Além disso, a galeria, que hoje também tem Elsa Ravazzolo Botner como sócia, está localizada fora do circuito tradicional de galerias, no Saara, maior centro de comércio popular da cidade. Com uma programação diferenciada e agregadora, há dois anos também possui um espaço em São Paulo.

“A Gentil já nasce misturada para captar e difundir a diversidade da arte no Brasil e no mundo. Tem como maior objetivo fazer-se um lugar para pensar, produzir, experimentar e celebrar a arte. Nossos endereços são lugares de concentração e difusão da voz de diferentes artistas e ideias”, afirmam os sócios Márcio Botner, Ernesto Neto, Laura Lima e Elsa Ravazzolo Botner.

A grande celebração

Os 20 anos da galeria marcados pela inauguração da exposição “Forrobodó”, foi uma grande celebração, com performances de diversos artistas, como Vivian Caccuri, Novíssimo Edgar e Cabelo, entre outros, além da obra do artista Yhuri Cruz, na “Parede Gentil”, projeto no qual um artista é convidado a realizar uma obra especial na parede externa da galeria. Além disso, ainda houve o tradicional bolo de aniversário surpresa, criado pelos artistas Edimilson Nunes e Marcos Cardoso: “Os desfiles carnavalescos no Brasil e suas configurações locais da América Latina têm como origem as procissões. Esta performance do bolo é uma espécie de procissão onde o sagrado é alimento para o corpo. Ação familiar e fraternal em que a alegria é alegoria de um feliz aniversário”.

Com curadoria de Ulisses Carrilho, a exposição “Forrobodó” apresenta obras em diferentes técnicas, como pintura, fotografia, escultura, instalação, vídeo e videoinstalação, de cerca de 60 artistas, de diferentes gerações, entre obras icônicas e inéditas, produzidas desde 1967 – como o “B47 Bólide Caixa 22″, de Hélio Oiticica – até os dias atuais.

A palavra do curador

Cruzaremos trabalhos de diversos artistas, a partir de consonâncias e ecos, buscando uma apresentação de maneira a ocupar os espaços da galeria em diferentes ritmos, densidades, atmosferas, cores e estratégias – como dramaturgias distintas de uma mesma obra. O nome “Forrobodó” vem da opereta de costumes composta por Chiquinha Gonzaga. “A grande inspiração para a exposição foi a personalidade da galeria, que tem uma certa institucionalidade, com projetos públicos, aliada a uma experimentabilidade, com vernissages nada óbvios para um circuito de arte contemporânea”, conta Ulisses Carrilho.

Ocupando todos os espaços da galeria, as obras encontram-se agrupadas por ideias, sem divisão de núcleos. No primeiro prédio, há uma sala que aponta para o comércio popular, para a estética das ruas, em referência ao local onde a galeria está localizada. Neste mesmo prédio, na parte da piscina, “…uma alusão aos mares, que nos fazem chegar até os mercados, lugar de trânsito e troca”, explica o curador. Neste espaço, por exemplo, estará a pintura “Sem título” (2023), de Arjan Martins, que sugere um grande mar, além de obras onde as alegorias do popular podem ser festejadas. No segundo prédio, a inspiração do curador foi o escritor Dante Alighieri, sugerindo uma ideia de inferno, purgatório e paraíso em cada um dos três andares. “O inferno é a porta para a rua, a encruzilhada, onde estarão, por exemplo, a bandeira avermelhada de Antonio Dias e a pintura de Antonio Manuel, além das formas orgânicas de Maria Nepomuceno e trabalhos de Aleta Valente sobre os motéis da Avenida Brasil”, conta. No segundo andar, está uma ideia do purgatório de Dante, e, nesta sala, vemos a paisagem, a linha do horizonte, com muita liberdade poética. “É um espaço em que esta paisagem torna-se não apenas o comércio popular, mas o deserto do Saara e as praias cariocas”, diz o curador. No último andar, uma alusão não exatamente ao paraíso, mas aos céus, com obras focadas na abstração geométrica, na liberdade do sentido e na potência da forma, com trabalhos escultóricos de Ernesto Neto, Fernanda Gomes e Ana Linnemann, por exemplo. “São trabalhos que operam numa zona de sutileza, que apostam na abstração e precisam de um certo silêncio para acontecer. Atmosferas distintas, que parte deste forrobodó, deste todo, para de alguma maneira ir se acomodando”, afirma Carrilho.

Artistas participantes

Adriana Varejão, Agrade Camíz, Aleta Valente, Ana Linnemann, Anna Bella Geiger, Antonio Dias, Antonio Manuel, Arjan Martins, Bob N., Botner e Pedro, Cabelo, Cildo Meireles, Claudia Hersz, Denilson Baniwa, Fernanda Gomes, Guga Ferraz, Hélio Oiticica, Neville D´Almeida, João Modé, José Bento, Lenora de Barros, Lourival Cuquinha, Luiz Zerbini, Marcela Cantuária, Marcos Chaves, Maria Laet, Maria Nepomuceno, Maxwell Alexandre, Novíssimo Edgar, O Bastardo, Paulo Bruscky, Rafael Alonso, Rodrigo Torres, Sallisa Rosa, Vinicius Gerheim, Vivian Caccuri, entre outros.

Outras programações

Ainda como parte dos 20 anos, a galeria está com outros projetos, tais como: a exposição “Moqueca de Maridos”, de Denilson Baniwa, na Gentil Carioca São Paulo, que reúne uma nova série de obras do artista que trazem o imaginário de quadros clássicos e uma iconografia colonial num gesto antropofágico. Ainda na sede da galeria em São Paulo, serão apresentadas exposições dos artistas Rose Afefé, Yanaki Herrera e Newton Santanna. Além disso, A Gentil Carioca também participou da ArtRio.

Sobre A Gentil Carioca

Fundada em 06 de setembro de 2003, a Gentil Carioca está localizada em dois sobrados dos anos 1920, unidos por uma encruzilhada, na região conhecida como Saara, no centro histórico do Rio de Janeiro. Em 2021, expandiu sua essência com um novo espaço expositivo na Zona Central de São Paulo. Ao longo dos anos realizou diversas exposições de sucesso, entre as quais pode-se destacar: “Balé Literal” (2019), de Laura Lima, “Chão de Estrelas” (2015), de José Bento, “Parede Gentil Nº05 – Cidade Dormitório” (2007), de Guga Ferraz, e “Gentileza” (2005), de Renata Lucas. Além disso, também realizou diversos projetos, que, devido ao grande sucesso, permanecem na programação da galeria, tais como: Abre Alas, um dos mais conhecidos projetos da galeria, que acontece desde 2005, inaugurando o calendário de exposições, com o intuito de abrir espaço para jovens artistas, e que, atualmente, tem a participação de artistas do mundo todo; Parede Gentil, que desde 2005 recebe convidados para realizar obras especiais na parede externa da galeria, já tendo recebido nomes como Anna Bella Geiger, Paulo Bruscky, Marcos Chaves, Lenora de Barros, Neville D’Almeida, entre muitos outros; Camisa Educação, desenvolvido desde 2005, o projeto convida artistas a criarem camisas que incorporem a palavra “educação” às suas criações e Alalaô, idealizado pelos artistas Márcio Botner, Ernesto Neto e Marcos Wagner, teve início no verão de 2010, onde a cada edição um artista era convidado para realizar uma obra de arte, intervenção ou performance na praia do Arpoador, RJ, mostrando que a praia também pode ser um espaço para a cultura.

Sete episódios em exibição

O coletivo Pressão de Borda apresenta exposição na Galeria Paulo Branquinho, Lapa, a partir do dia 07 de outubro que permancerá em exibição até 04 de novembro.

Trata-se de “Notícias à boca miúda de um Mundo sem rumo” que propõe o objeto de arte de pequeno formato como reação à (doentia) exteriorização da vida que levamos – além de práticas artísticas e assuntos cuja disparidade é indicativa de uma crise cultural sem precedentes. Da figuração à abstração em maiores ou menores graus, sete episódios envolvendo uma teoria geral da atualidade: a feminilização do poder; a inclassificabilidade do gênero; a dessegregação de genealogias não-brancas; a grandeza dos não-humanos; disrupção ambiental e sistêmica; a neoromantização da paisagem; entropia psíquica e anomia social.

Reunindo 28 artistas com formação na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, no Rio, o coletivo Pressão de Borda é formado por Beth Ferrante, Capilé, Carlos Formiga, Carol London, Daniela Barreto, Elaine Moraes, Fellipe Caetano, Graça Pizá, Ivo Minoni, Jack Motta, Jacquesz, Jeni Vaitsman, Julia Garcia, Katia Politzer, Luiz Eduardo Rayol, Magali Lobosco, Mônica A. Barreto, Nando Paulino, Nildete Gomes, Nora Sari, Not a Doctor, Rafael Avancini, Regina Dantas, Reitchel Komch, Sandra Sartori, Solange Jansen, Tathyana Santiago e Verônica Camisão.

Franz Weissmann na Casa França-Brasil

22/set

Após onze anos sem uma individual no Rio de Janeiro um dos mais importantes nomes do movimento neoconcreto brasileiro ganha exposição inédita – até 19 de novembro – na Casa França-Brasil, Centro, Rio de Janeiro, RJ. Cumprindo um intervalo de 22 anos desde a última exposição individual de Franz Weismann (1911-2005), a Casa França-Brasil inaugura mostra inédita do renomado artista.

A exposição intitulada “Franz Weissmann: Ritmo e Movimento” oferece ao público carioca a oportunidade de contemplar 20 obras que ilustram diversos aspectos da trajetória desse multifacetado artista, que atuou como escultor, desenhista, pintor, professor e como escultor fundamentou as bases de um pensamento escultórico brasileiro. Com o patrocínio da Petrobras e curadoria de Marcus de Lontra Costa e Rafael Fortes Peixoto, a mostra explora as íntimas  relações entre as obras de Franz Weissmann e a paisagem, ocupando o histórico prédio da Casa França-Brasil através de diálogos de formas e cores no espaço.  Além disso, os visitantes terão a chance de apreciar a diversidade dos procedimentos e manipulações presentes no processo criativo de Franz Weissmann, como as cisões, as dobras, as aglutinações e até mesmo o simples ato de amassar, incorporado pelo artista em obras dos anos 1970. A proposta da exposição é apresentar este importante nome da escultura brasileira para as novas gerações e também oferecer uma importante oportunidade de mergulhar em seu universo e explorar a riqueza de sua expressão artística.

“Weissmann é o escultor das linhas e dos vazios, as suas obras incorporam o espaço, dialogam com a paisagem e entre os grandes artistas marcados pelo concretismo e neoconcretismo Weissmann é essencialmente a voz do Rio de Janeiro, ele incorpora a paisagem luxuriante da cidade, suas formas, sua natureza, sua arquitetura e cria um diálogo permanente entre a arte e a natureza, entre a sensibilidade e a beleza, Weissmann  também dialoga com o espaço criativo  que é a Casa França-Brasil”, diz o curador Marcus de Lontra Costa

Franz Weissmann nasceu na Áustria em 1911 e chegou ao Brasil em 1921. Com ativa relação com o cenário cultural brasileiro, se tornou um dos mais importantes nomes dos movimentos artísticos que, nos anos 1950, transformaram o nosso ambiente artístico. Integrante do Grupo Frente (1955) e do movimento neoconcreto, suas obras sintetizam a proposta de associar o método construtivo à experiência lírica da criação artística, princípios teóricos do projeto neoconcreto carioca que alcançaram repercussão internacional pela profundidade de suas rupturas e por uma proposta de reconexão entre arte e vida.

“A trajetória de Weissmann é fundamental para entendermos a importância do salto que o movimento neoconcreto carioca dá em relação tanto ao objeto artístico como também ao papel da arte e do artista. Através de uma manipulação da geometria ele mantém a liberdade do fazer artístico como um processo de experimentar e não apenas como uma produção estritamente racional. Assim como Lygia Clark, Helio Oiticica, Aloisio Carvão e outros contemporâneos, Weissmann e sua obra representam uma trajetória de emancipação da arte que estrutura toda a produção brasileira, das gerações seguintes ao ambiente contemporâneo”, afirma o curador Rafael Fortes Peixoto.

Esta exposição, encerra o projeto “Paisagens Fluminenses”, que graças ao apoio da Petrobras através da Lei Estadual de incentivo à Cultura, permitiu à Casa França-Brasil revitalizar suas ações culturais ao longo deste ano. Com números de visitação expressivos, estas mostras reforçam a relevância deste espaço como importante equipamento da arte e da cultura fluminense.

“Weissmann constrói volumes que editam a paisagem através de um diálogo de imagens alternadas a partir do ponto de vista do espectador. A cor, como elemento fundamental do processo construtivo, define a obra como uma presença no espaço. Na síntese entre a clareza do método e a experiência barroca da forma, as esculturas de Weissmann habitam a malha urbana. Como elementos de surpresa e provocação do olhar, suas obras revelam ritmos inesperados e novas maneiras de se ver e apreender o mundo”, complementam os curadores Marcus de Lontra Costa e Rafael Fortes Peixoto, no texto de abertura da exposição. “Franz Weissmann: Ritmo e Movimento” é a terceira de três exposições da série “Paisagens Fluminenses” que foram apresentadas ao longo de 2023 na Casa França-Brasil. Contemplada na chamada do Programa Petrobras Cultural Múltiplas Expressões, conta com o apoio da Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Rio de Janeiro, e o patrocínio da Petrobras, através da Lei de Incentivo à Cultura, com o intuito de revitalizar o espaço, tomando como ponto de partida sua importância histórica, cultural e de valorização da produção artística brasileira.  A primeira da série, “Navegar é Preciso – paisagens fluminenses”,  ficou ambientada na Instituição com grande sucesso de público, a segunda foi “O real transfigurado | Diálogos com a Arte Povera | Coleção Sattamini/MAC-Niterói”, recebendo mais de 20 mil espectadores em menos de dois meses de exibição.

Simples e Sofisticado

21/set

Exposição do artista Paulo Roberto Leal é o atual cartaz da Galeria de Arte Ipanema, Rio de Janeiro, RJ, e obedece curadooria de Paulo Venancio Filho. Para o curador, a exposição “Simples/Sofisticado”, é uma reapresentação importante da obra de Paulo Roberto Leal, uma oportunidade ímpar de rever parte do seu legado, que dá prosseguimento à abstração geométrica pós neoconcretismo de uma maneira muito pessoal e, como o próprio artista costumava dizer, bastante lúdica. Tendo realizado algumas importantes exposições do artista, a Galeria de Arte Ipanema – inaugurada em 1971 com uma exposição de Paulo Roberto Leal – desta vez reúne mais de 20 trabalhos. Uma das precursoras do Modernismo e uma das mais longevas do Brasil, a galeria presta homenagem a Paulo Roberto Leal reunindo parte da coleção do acervo, entre pinturas e objetos, em um recorte que vai dos anos 1970 aos 80. Sua experiência anterior como artista gráfico deu intimidade para solucionar a ocupação de espaços especialmente bidimensionais, introduzindo uma certa liberdade cromática que imprime o clima do Rio de Janeiro dos anos 1970, mais extrovertido, diferente do neoconcretismo dos anos 1950.

À frente da galeria, Luiz Sève e sua filha Luciana Sève, falam sobre a relevância deste evento na sua cronologia: “Para nós, da Galeria de Arte Ipanema, esta exposição do Paulo Roberto Leal é motivo de grande orgulho e entusiasmo. Depois de 35 anos da última mostra conosco, Paulo continua sendo, através do seu trabalho, o mesmo jovem com quem convivemos: alegre e contagiante através de suas maravilhosas telas e esculturas. Temos muita satisfação em poder oferecer ao público o acesso às suas obras espetaculares”, afirmam.

A palavra do curador

A obra de Paulo Roberto Leal pode ser compreendida como uma inventiva continuidade pessoal aos processos abstrato geométricos neoconcretos, em especial, as suas escolhas e soluções cromáticas e ao tratamento que deu ao plano pictórico.  A novidade que introduz ao que seria possível de chamar de “pós-neoconcretismo” é a franca liberdade que concede às cores e ao material, em especial do papel. Sua atividade anterior como artista gráfico deu a ele uma intimidade e sensibilidade única com o papel – o elemento polivalente de sua obra. Para ele a materialidade própria do papel é simultaneamente suporte planar e fator “objetal”, pois podemos designar como objetos as tão conhecidas caixas de acrílico do artista nas quais o papel assume uma tridimensionalidade inusitada. Aí se percebe a inteligência do artista gráfico em articular e organizar o espaço pictórico – ou tridimensional -, tudo, imagina-se, deriva dessa convivência íntima com o planaridade. Nas cores que utiliza percebe-se uma determinada característica intimista e extrovertida, um possível paradoxo que articula a intimidade do exercício lúdico e extroversão cromática. O mesmo ocorre em certas reverberações cinéticas, como o movimento instável e gracioso do papel dentro das caixas e outros ritmos que permanecem ao longo da obra. O elemento constante, fundamental e que conduze toda obra é a presença da linha; não só sua presença como elemento divisório do espaço que tem inédita continuidade na costura que une as diversas partes da tela – costura que em alguns trabalhos é o único elemento que se apresenta na tela; só ela e mais nada.  Estas singelas inovações dão a dimensão do processo que se desenvolve até mesmo na presença efetiva da linha como elemento físico. Ela que também é a linha que costura, indica pluralidade de funções que executa – a linha costura e a costura é uma linha, mostrando a igualdade de uma e outra. Poderia se dizer que a linha que é um dos fundamentos do “pensamento gráfico ampliado” desenvolvido em diversas fases da obra do artista. Mesmo nas caixas, a vista privilegiada é aquela que oferece ao olhar as linhas sinuosas e ondulantes do papel recortado tocando a face do acrílico – esta a face “cinética” do trabalho que o artista encontrou na maleabilidade do papel, a espécie de “corpo” sensual que o papel forma dentro da caixa. O lirismo que percorre a escolha das cores – cores levemente pop -, especialmente os vermelhos e laranjas, extravasa uma cálida temperatura visual. Esta que deriva certamente do ambiente e da época – década de 1970 – da cidade do Rio de Janeiro. De uma simplicidade sofisticada – uma equação que é difícil solucionar -, despretensiosa e assertiva, implicada em seus delicados problemas, estendendo a abstração geométrica para uma absorção da experiência gráfica, de cuidadosa execução e disposição dos elementos geométricos, Paulo Roberto atraiu uma atenção que o levou a 36ª Bienal de Veneza e ampliou o interesse nacional e internacional por sua obra, que ainda persiste. A diversidade dos procedimentos que utilizou: costura, uso de linhas de seda, papel, acrílico, estabeleceram sua posição única naqueles anos de intensa experimentação das práticas artísticas onde começavam a prevalecer instalações, objetos e performances, colocando-o numa posição lateral, e não só ele. Nesse contexto sua obra não se alterou, permaneceu constante, reafirmando a cada momento a integridade da sua poética artística. E ainda hoje seu trabalho continua a sugerir uma singular intimidade ao estabelecer uma escala de pequena dimensão que circunscreve o espaço de uma convivência próxima, sugestiva ao jogo, ao interesse e prazer lúdico. Assim muitas de suas telas sugerem a disposição e a montagem das figuras geométricas, estabelecendo entre elas um convívio que manifesta a sensação do acerto buscado e encontrado: medida que o artista, desde sua experiência gráfica, tinha dentro de si. Uma obra, que vista depois de décadas, ainda exala um frescor intocado, rejuvenescido pelo tempo. (Paulo Venancio Filho).

A trajetória de Paulo Roberto Leal

Um dos ícones da expressão artística nos anos 1970, Paulo Roberto Leal (1946-1991) foi funcionário do Banco Central em 1967, tendo realizado os primeiros trabalhos de programação visual em 1969, produzindo catálogos de exposições de artes plásticas no Rio de Janeiro. Nesse mesmo ano, entra em contato com o neoconcretista Osmar Dillon e, na década 70, inicia experimentação com materiais ligados a seu trabalho no banco, como bobinas de papel. Ministra curso sobre criatividade com papel no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro – MAM/RJ e recebe prêmio na 11ª Bienal Internacional de São Paulo, em 1971. No ano seguinte, integra, com Franz Weissmann e Humberto Espíndola, a representação brasileira na 36ª Bienal de Veneza. Por ocasião da mostra O Gesto Criador, Olívio Tavares de Araújo realiza filme sobre sua obra em 1977. Trabalha como curador do Museu de Valores do Banco Central até 1980. Em 1984, em parceria com Marcus de Lontra Costa e Sandra Magger, faz a curadoria da mostra “Como Vai Você, Geração 80?”, na Escola de Artes Visuais do Parque Lage – EAV/Parque Lage, no Rio de Janeiro. É projetado em 1995 o Centro de Referência Iconográfica e Textual PRL no MAM/RJ, com a documentação deixada pelo artista sob a guarda de Armando Mattos. Em 2000, ocorre a exposição Projeto Concreto/PRL, no Centro Cultural da Light, no Rio de Janeiro, e, em 2007, 102 obras de sua autoria são reunidas na mostra Da Matéria Nasce a Forma, no Museu de Arte Contemporânea – MAC-Niterói. Dentre suas participações em exposições internacionais, merecem destaque “Unexpectedly” (Cloud Seven/Bruxelas), a coletiva “Afinidades Eletivas” (Galeria Esther Schipper/Berlim), com curadoria de Olivier Renaud-Clement, que em 2018 agrupou obras de Fernanda Gomes, Jac Leirner, Marcius Galan, Mira Schendel.

Sobre a Galeria de Arte Ipanema

A história da arte moderna e contemporânea brasileira se funde com a da Galeria de Arte Ipanema, que é reconhecida pelas importantes mostras de renomados artistas já realizadas ao longo dos seus 57 anos. Desde que surgiu, vem consolidando uma identidade própria e ocupa assim um espaço fundamental para o despontar artístico no Brasil. Considerada uma das mais relevantes e antigas galerias do país, reúne um acervo de peso e representatividade com obras de artistas internacionalmente reconhecidos, como Volpi, Cruz-Díez, Milton Dacosta, Lygia Clark, Sérgio Camargo, Di Cavalcanti, Portinari, Ivan Serpa, Guignard, Cícero Dias, Iberê Camargo, Antônio Bandeira, Pancetti, Tomie Ohtake entre outros. Tendo começado sua história no Copacabana Palace e ocupado endereço na Rua Farme de Amoedo, hoje está instalada no andar térreo de um belo prédio na Rua Aníbal de Mendonça, na quadra da praia, com projeto arquitetônico do escritório de Miguel Pinto Guimarães.

Esculturas de Angelo Venosa

A Casa Roberto Marinho, Cosme Velho, Rio de Janeiro, RJ, apresenta até o dia 13 de novembro, a mostra panorâmica “Angelo Venosa: Escultor”, sob curadoria de Paulo Venancio Filho.

Angelo Venosa, escultor

Angelo Venosa é o mais importante escultor brasileiro de sua geração. Sua obra cria uma linguagem na contramão da febre pictórica de seus pares dos anos 1980 no Parque Lage assim como subverte a lógica de planos que se deslocam para criar espaços vazados na sólida experiência da arte construtiva brasileira.

Não interessa ao artista um puro louvor ao orgânico ou ecológico. Ele nos revela as estruturas subjacentes e as tensões destas com formas que tenderíamos, apressadamente, a associar ao mundo “natural”.

O trabalho de Venosa guarda a liberdade conquistada pela escultura moderna e concretiza os ímpetos planares da abstração não geométrica. Nesse sentido realiza uma ponte entre as duas principais correntes do conjunto da Coleção Roberto Marinho.

Esta mostra, com a curadoria de Paulo Venancio Filho, optou por uma organização fluida e não cronológica sublinhando recorrências no seu percurso. Trata-se da primeira panorâmica de seu trabalho, um impulso que, certamente, estimulará muitas outras exposições desse notável artista.

Com “Angelo Venosa: Escultor” a Casa Roberto Marinho reafirma o seu propósito de colocar em diálogo a arte moderna e seus desdobramentos no espaço contemporâneo.

Lauro Cavalcanti

Diretor Executivo/Casa Roberto Marinho

O fluxo de narrativas de José Rufino

18/set

Governo do Estado do Rio de Janeiro, Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa e Oi, através da Lei Estadual de Incentivo à Cultura, apresentam – até 29 de outubro – a exposição inédita de José Rufino que ocupa três andares do Futuros – Arte e Tecnologia sendo esta a 24ª individual do artista apresentando instalação criada especialmente para a ocupação, e integrou a programação paralela da ArtRio 2023.

Durante mais de 20 anos, José Rufino conciliou a carreira de geólogo e paleontólogo com a de artista visual, iniciada em 1984 – à qual se dedica integralmente há quase três décadas. A influência do trabalho científico em sua produção artística se iniciou de forma esporádica e instintiva, mas ganhou importância crescente em sua pesquisa ao longo do tempo. O “Projeto Fossilium” se propõe a ser um divisor de águas na trajetória do artista ao radicalizar de forma definitiva a junção entre os dois saberes, enquanto lados indissociáveis de sua obra poético-científica. A curadoria é de Franklin Espath Pedroso.

“Sempre disse que a arte tinha surgido para completar aquilo que a ciência e a paleontologia não me permitem ficcionar, subverter o estado das coisas da natureza. O paleontólogo só pode medir, comparar, dar nome científico, enfim, não pode inventar. E por isso vinha a arte, para completar esse outro lado”, explica José Rufino. Ao longo dos anos, compreendeu a ciência também com gosto do pesquisador e com mais sensibilidade. E por outro lado, foi entendendo que a arte também precisava de métodos. “Hoje entendo a arte como ciência da arte. Ela passou a ser encarada como área de conhecimento pelo CNPq desde os anos 80, então não tenho mais pudor de chamar hoje de Ciência da Arte, assim como existem as Ciências Humanas, Exatas e Naturais”, completa.

“Ao propor esse projeto percebi que Rufino já tinha claramente esses dois lados manifestos, que havia espaço para um aprofundamento mais contundente dessa pesquisa que ele vinha desenvolvendo, mas ainda não tão evidenciada em sua obra. Acredito que ele agora teve a ousadia necessária para estabelecer essa comunhão”, analisa Franklin Pedroso, curador da mostra.

“O Projeto Fossilium promove um fluxo de narrativas nas quais se misturam temporalidades, realidade e ficção em um trânsito entre arte, ciência, história e natureza. Esta abordagem de Rufino está em total sintonia com a proposta do nosso espaço”, destaca o diretor artístico do Futuros – Arte e Tecnologia, Felipe de Assis.

A ocupação do Futuros – Arte e Tecnologia começa no térreo, onde vídeos de making of de José Rufino em seu ateliê na Paraíba e uma videoarte produzida pelo artista serão exibidos nos três monitores próximos à escada e no videowall, respectivamente. Nos três andares seguintes, Fossilium recria o percurso do cientista – desde a pesquisa de campo, a coleta de materiais, passando pela catalogação e identificação até a exibição -, desta vez, no entanto, munido da fantasia, da abertura para a ficção próprias do fazer artístico.

Batizado de Mente et Maleo – lema universal da Geologia que significa Mente e Martelo -, o espaço expositivo do primeiro andar, abrigará obras criadas a partir de objetos e impressões coletadas em expedições realizadas por José Rufino em regiões do Cariri, Sertão, Curimataú, Agreste, Seridó e litoral da Paraíba, estado natal do artista, formando uma espécie de reserva técnica,  como se um cientista tivesse acabado de chegar de suas expedições, desembalando os materiais de campo, para começar a classificá-los e apresentá-los ao público. Assim como o paleontólogo resgata histórias, fragmentadas em provas de vida condensadas pelo peso do tempo, José Rufino busca novas possibilidades de um resgate afetivo das memórias, estabelecendo narrativas que buscam unir passado e o presente, marca recorrente de sua trajetória artística.

O nome do segundo andar da mostra, De Natura Fossilium (Sobre a natureza dos fósseis, em latim), mote da exposição, repete o título de um dos livros do cientista alemão Georgius Agricola (1494-1555), considerado o “pai da mineralogia”: “Na época de Agricola, a palavra fóssil tinha um significado mais amplo e se referia a minerais, fósseis, tudo que era retirado do chão”, conta José Rufino. Nesse espaço, cria seu museu imaginário e expande a relação entre a arte e a ciência em peças onde os dois campos se fundem e confundem. Pedras, gesso, ferro, folhagens, areia, conchas, ossos, concreto e terra são alguns dos materiais que dão origem a fósseis quiméricos, mas cuja abstração não se desprende de todo a uma lógica científica, evidenciando a comunhão entre os dois saberes na obra do artista. Compõem ainda a mostra intervenções sobre fotografias e gravuras, algumas com mais de cem anos, que foram as primeiras representações de tempos passados, os paleoambientes.

José Rufino aproveita a ocasião para levantar uma questão que acredita ser fundamental – em nenhuma das obras são utilizados fósseis reais, fato que será sinalizado na exposição. Por seu valor histórico-científico, a legislação brasileira não permite o uso nem a posse particular desses materiais: “Acho pertinente e apropriado em uma mostra que fala sobre o assunto salientar esse fato para o público e alertar inclusive para o tráfico internacional de fósseis e a falta de cuidado com o patrimônio geológico-paleontológico”, destaca.

A última parte da mostra – cujo nome também se apropria do nome de um livro de Agricola, De re mettalica (Da questão dos metais) – ocupa o terceiro andar da instituição, onde José Rufino cria uma instalação site specific sobre a mineração. A obra versa sobre a relação do ser humano com a natureza, os bens minerais como fonte de lucro, o ciclo de decomposição das rochas e a evolução da vida. Blocos de basalto, tecidos com fotografias e desenhos, almofadas pneumáticas e pontas de perfuração usadas na mineração são algumas das peças que são ressignificadas pelo artista em um cenário cujo tom catastrófico convida o público a refletir sobre a urgência do assunto.

Depois de enfrentar, no início da carreira, certa resistência em relação à coexistência entre as duas atividades, José Rufino acredita ter hoje seus dois “eus” um pouco melhor compreendidos: “Havia uma espécie de limbo onde por vezes eu me sentia, como se cada lado me diminuísse em relação ao outro, como se fosse uma coexistência proibida, campos incompatíveis e inconciliáveis”, acredita. Hoje, se entende cada vez mais à vontade como produto desses dois saberes. “Essa mostra é como uma retomada de terreno, de pensamento. Por isso a considero a mais importante de todo o meu percurso artístico. É uma espécie de transe entre as epistemologias da geologia, paleontologia e arte. É um desafio enorme, como se eu estivesse tentando, de fato, propor uma área de atuação conjunta”.

Franklin Pedroso endossa o pensamento do artista e completa: “Ao percorrer a exposição, o visitante é instigado a questionar nossa história, a ciência e, sobretudo, o papel da arte. José Rufino assume o desafio de um grande artista, cujo trabalho transcende as fronteiras da arte e da ciência, deixando um legado de questionamentos sobre a preservação do patrimônio natural e reflexões sobre nosso passado, presente e futuro”.

Sobre o artista

José Rufino (José Augusto Costa de Almeida) nasceu em 1965, em João Pessoa, Paraíba, onde vive e trabalha. Artista e professor de Artes Visuais da Universidade Federal da Paraíba. Ao longo dos 35 anos de trajetória, participou de mais de 300 exposições no Brasil e exterior, entre individuais e coletivas. Desenvolveu sua jornada artística passando da poesia para a poesia-visual e, em seguida, para a arte-postal e desenhos, ainda nos anos 1980.  O universo do declínio das plantações de cana-de-açúcar no Brasil conduziu seu trabalho inicial em desenhos e instalações com mobiliário e documentos de família e institucionais. Nos anos 90, deu início a uma longa série de instalações, Respiratio, Lacrymatio, Plasmatio, Faustus, Ulysses, Divortium Aquarum, dentre outras, sempre vinculadas a questões sociais e políticas. Realizou grandes individuais, em espaços como Museu de Arte Contemporânea de Niterói; Museu Oscar Niemeyer, Curitiba; Centro Cultural Banco do Brasil, Rio de Janeiro; Casa França Brasil, Rio de Janeiro; Museu Andy Warhol, Pittsburgh, USA; e Palácio das Artes, Porto, Portugal.  Participou de Bienais como a 25ª Bienal Internacional de São Paulo, e das Bienais de Havana, Venezuela, Mercosul, Curitiba e Bienal de Cerveira, em Portugal. Integrou em 2019, a Bienal Internacional de Gaia, também em Portugal. Em 2016 ganhou o prêmio Mário Pedrosa – Artista Contemporâneo, da Associação Brasileira de Críticos de Arte. Tem realizado incursões nas linguagens cinematográfica e literária, sendo autor do livro Afagos, editado pela Cosac e Naif, e do livro Desviver, ainda inédito, mas que ganhou o prêmio Bolsa de Criação Literária da Funarte. Produziu os livros de artista “Olholho” e “Mosto”, ambos com tiragem assinada de 100 exemplares. Diálogos dicotômicos entre memória e esquecimento, opulência e decadência ou público e privado contaminam sua produção por completo.

Sobre o curador

Franklin Espath Pedroso é arquiteto formado pela Universidade Santa Úrsula no Rio de Janeiro (1987), cursou o Mestrado em História e Crítica da Arte na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Especializou-se também em Art Administration pela New York University. Além de atuar como curador independente, ocupa-se da coordenação de montagens e produção de exposições. Foi professor adjunto no curso de Arquitetura das Faculdades Integradas Silva e Souza de 1988 a 1992. Foi curador-adjunto da IV Bienal do Mercosul. Foi curador-geral adjunto da Mostra do Redescobrimento em São Paulo e curador dos módulos Moderno e Contemporâneo. É membro do Conselho Curatorial do Instituto de Arte Contemporânea em São Paulo. Realizou também curadoria de mostras no Museo de Arte Moderno de Buenos Aires, CAPC de Bordeaux, National Museum of Women in the Arts em Washington, bem como coordenou diversas mostras como Body and Soul no Guggenheim Museum de Nova York, Museo de Bellas Artes em Santiago, Fundación PROA, Centro de Arte Recoleta e Museo de Bellas Artes, ambos em Buenos Aires. Realizou a curadoria da retrospectiva do artista Luis Felipe Noé para o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, a exposição da artista Silvia Rivas no Museo de Arte Latino Americano Eduardo Costantini em Buenos Aires e organizou o livro sobre o Palácio Pereda, também em Buenos Aires. Foi curador assistente da coleção do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, tendo experiência também no Museum of Modern Art de Nova York trabalhando na produção, organização e montagem de exposições. Realizou design e execução de montagem de outras exposições, além de ter coordenado a montagem das Salas Especiais da 23ª Bienal Internacional de São Paulo. Sua experiência internacional se estende à produção de exposições de arte em importantes instituições de Nova York, Washington, Chicago, Paris, Bordeaux, Glasgow, Colônia, Sevilla, Lisboa, Copenhagen, entre outras.

Galerias

As galerias do centro cultural já foram ocupadas por expoentes internacionais de diversas vertentes, como Andy Warhol, Nam June Paik, Tony Oursler, Jean-Luc Godard, Pierre et Gilles, David Lachapelle, Chantal Akerman; e brasileiros como Luiz Zerbini, Rosângela Rennó, Daniel Senise, Lenora de Barros, Iran do Espírito Santo, Arthur Omar, Marcos Chaves e outros. Nas artes cênicas, o espaço foi palco de espetáculos inéditos e premiados de Felipe Hirsh, Gerald Thomas, Enrique Diaz, Antonio Abujamra, Denise Stoklos, Victor Garcia Peralta, Aderbal Freire, João Fonseca e outros. Com quase duas décadas de trajetória, Futuros – Arte e Tecnologia também sediou diversos eventos de destaque na cena cultural carioca, incluindo Festival do Rio, Panorama de Dança, FIL, Multiplicidade, Novas Frequências e Tempo_Festival, sendo os três últimos especialmente concebidos para a instituição.

Aquila com curadoria de Vanda Klabin

15/set

 

A exposição “Luiz Aquila: Rodopios da Pintura” apresenta trabalhos inéditos concluídos recentemente, confirmando porque Aquila “é considerado um dos expoentes referenciais para a estruturação do cenário artístico brasileiro e um dos pintores mais ativos de sua geração”, segundo as palavras da própria curadora da exposição, Vanda Klabin, com quem o artista mantém amizade desde 1979.

Com cerca de 15 telas selecionadas, esta exibição individual integra o calendário de eventos realizados em comemoração aos 80 anos do artista em 2023: começou no início do ano, na Casa de Petrópolis (onde ele manteve o ateliê até agosto), e se estendeu com a grande coletiva “Em Torno dos 80″, em sua homenagem, inaugurada na Cidade das Artes com o lançamento do livro e uma agenda repleta de atividades que incluem roda de conversa e oficinas socioeducativas. A abertura acontece no dia 20 de setembro, na Galeria Patrícia Costa, com uma “Visita Sonora” conduzida pela filha do artista, Nina Miranda, artista multifacetada que será acompanhada pela flautista e percussionista Dominique Rabello. Na ocasião também será lançado o vídeo “Luiz Aquila_sua Arte e seu Ateliê”, de Pedro Paulo Mendes e Silva, em grande parte gravado no ateliê.

 

“As obras sob o título “Rodopio’”, dado por Vanda Klabin, foram produzidas durante o período em que eu estive num ateliê especial, instalado temporariamente na casa da minha família aqui em Petrópolis, onde moro. Quando a Vanda sugeriu este nome achei perfeito porque foi nessa intensidade que eu pintei – o conjunto de obras tem um caráter meio rodopiante, meio voador, de brinquedo de roda. A cor é muito presente e foi um trabalho que executei com imenso prazer. A pintura geralmente me dá prazer, mas desta vez me deu um extraordinário prazer: eu abri o ateliê com essa série e fechei o ateliê com essa série. Agora, já me encontro em um novo espaço”, diz Aquila.

 

“As obras recentes de Aquila adquiriram uma nova propriedade expansiva, algo pulsátil que aponta para um emaranhado de cores em movimentos circulares, articulações infinitas que reverberam em toda a superfície da tela e parecem liberar ‘um tempo saturado de agora”, na afirmativa de Walter Benjamin. Nessa exposição, Luiz Aquila não interrompe o seu fluxo irresistível e suas obras irradiam a sua enorme energia plástica, a sua adesão incondicional e dedicação total e extrema à pintura”,  avalia a curadora e historiadora Vanda Klabin.

“A cada série de trabalhos produzidos, traz um novo léxico, a cada obra, novos caminhos, mas sempre uma consistência progressiva e uma adequação dos procedimentos pictóricos”.

 

Sobre a “Visita Sonora”

Nina Miranda é uma cantora multiartista, que se movimenta entre os fluxos de arte visual e música, trabalhando principalmente entre a Inglaterra, onde mora atualmente, o Brasil e Portugal. Desde criança é fascinada pelas camadas, em como tudo se mistura e se integra, especialmente as ligações entre pintura e música.

“Gostava de assistir meu pai pintar ao som de Jazz, seu pincel parecia dançar na tela, criando paisagens alternativas com travessas e saltos”. Anos depois, Nina fez dois filmes para captar essa magia do pai em ação e sempre gostei de imaginar como seria uma vernissage musicada, como também um show pintado”, relembra.

Agora, em celebração aos 80 anos do artista, volta ao Rio com uma visita sonora na Galeria Patrícia Costa, onde retoma a fértil conversa com a flautista e percussionista Dominique Rabello a partir dos quadros de Luiz Aquila. Com apresentação de músicas inéditas quase abstratas, citações de músicas mais clássicas e também canções autorais de Nina, o público é convidado a brincar junto, já que a arte é algo muito sério, mas também pode ser muito prazerosa.

Até 21 de outubro.

 

Oiticica e artistas modernos e contemporâneos.

 

Em 1986, foi realizada a primeira exposição póstuma de Hélio Oiticica (1937 – 1980), organizada pelo Projeto HO, na época coordenado por Lygia Pape, Luciano Figueiredo e Wally Salomão. Para essa mostra, que se chamava “O q faço é música” e foi realizada na Galeria de Arte São Paulo, o projeto produziu edições únicas das icônicas obras “Relevo Espacial, 1959/1986” e “Parangolé P4 Capa 1, 1964/1986”,  para arrecadar fundos para a organização, catalogação e conservação das obras e documentos deixados pelo artista. Desde então, essas obras permaneceram em uma coleção particular, e agora voltam a público, depois de 37 anos, sendo o ponto de partida para a exposição “O que há de música em você”, na Galeria Athena, Rio de Janeiro, RJ, com curadoria de Fernanda Lopes.

 

Icônicas para o desenvolvimento do pensamento de Oiticica, as duas obras são de grande importância – o “Parangolé”, inclusive, foi vestido por Caetano Veloso na época de sua criação. Partindo delas, e da célebre frase de Hélio Oiticica: “O q faço é música”, a exposição apresenta um diálogo com fotografias, vídeos, objetos e performances de outros 20 artistas, entre modernos e contemporâneos, como Alair Gomes, Alexander Calder, Aluísio Carvão, Andro de Silva, Atelier Sanitário, Ayla Tavares, Celeida Tostes, Ernesto Neto, Felipe Abdala, Felippe Moraes, Flavio de Carvalho, Frederico Filippi, Gustavo Prado, Hélio Oiticica, Hugo Houayek, Leda Catunda, Manuel Messias, Marcelo Cidade, Rafael Alonso, Raquel Versieux, Sonia Andrade, Tunga e Vanderlei Lopes. Na fachada da galeria estará a grande obra “Chuá!!!”, de Hugo Houayek, feita em lona azul.

 

Os diálogos, em diversas formas, seja por um aspecto mais literal da ideia de música, de movimento, seja pela questão da cor e por discussões levantadas por Hélio Oiticica naquele momento que continuam atuais. “A ideia geral é tentar pensar, como pano de fundo, como o Hélio traz questões da passagem para o contemporâneo que continuam sendo debatidas e que estão vivas até hoje de diferentes maneiras”, afirma a curadora Fernanda Lopes.

 

A relação de Hélio Oiticica com o samba e com a Estação Primeira de Mangueira é bastante conhecida, mas a curadora também quer ampliar essa questão. “Quando Hélio fala de música, ele não está se referindo só ao samba, mas também ao rock, que é o que ele vai encontrar quando chega em Nova York. Para ele, são ideias de música libertárias, pois dança-se sozinho, sem coreografia, são apostas no improviso, no delírio. Acho que a partir disso é possível fazer um paralelo com a discussão de arte, repensando seu lugar, seus limites, suas definições e repensando também a própria ideia e o papel da arte”, afirma a curadora.

 

Obras em exposição 

 

Diversas relações são criadas na exposição. Obras que fazem referência mais direta ao samba, como a pintura “Duas Mulatas” (1966), de Flávio de Carvalho, e a obra de Manuel Messias, encontram-se na mostra. “São referências mais literais, de artistas que tinham no samba um lugar de ação, não uma ilustração”, conta a curadora. Ampliando a questão musical, chega-se ao movimento, à movimentação dos corpos, que está sempre associado à música. Na exposição, essas relações são criadas, por exemplo, com os trabalhos de Aloísio Carvão e Celeida Tostes. Composto por uma caixa branca contendo círculos não uniformes, separados por tons diferentes, que vão do amarelo ao vermelho, a obra “Aquário II” (1967), de Aloísio Carvão, dialoga com o trabalho de Oiticica não só por ter a cor como guia, mas também pela ideia de movimento. “Esta obra, de certa forma, também tem algo rítmico ou uma possibilidade de reconhecer isso nessas peças, uma vez que depende do vento ou de outra situação que aconteça no espaço para que as peças se movimentem”, diz Fernanda Lopes. Desta mesma forma, o trabalho de Celeida Tostes, composto por cerca de 60 peças em cerâmica, com formatos circulares vazados no meio, com variações de cores em tons terrosos, sugere um ritmo pela organização modular. Ainda na ideia de movimento, está o trabalho “Escultura mole”, dos anos 1970, de Alexandre Calder, feito em tecelagem, com uma espécie de rede, que, além de resgatar a história, por ser um elemento característico do Brasil e América Latina, remete à ideia de movimento. Na exposição, as questões sobre música estão ampliadas, e a curadora quis trazer outros aspectos, como a dimensão social do samba. “Não é só um estilo musical, existe um confronto de alguma maneira, não é só entretenimento, mas também um lugar de disputa”, afirma. Dentro deste pensamento, está na exposição um tacape (arma indígena), de Tunga. Além disso, alguns trabalhos apostam ou se valem de um desconforto, que esteve presente na figura de Hélio Oiticica. Por exemplo, quando ocorreu a exposição na White Chapel, em Londres, em 1969, muita gente adorou o fato de ele ter colocado areia de praia no chão, mas outras pessoas se incomodaram de terem que tirar o sapato, assim como houve críticas na imprensa. Remetendo a isso, estão os trabalho de Andro de Silva, com palhaços chorando, uma grande pintura de Rafael Alonso, medindo 1,30X1,70, que traz uma imagem incômoda para a vista, e três vídeos de “Sem título”, de Sonia Andrade, que causam apreensão – em um deles ela está com a mão aberta em uma superfície com um prego entre cada dedo, tentando não errar a direção do martelo; em outro, ela depila os pelos de partes do corpo, como os da sobrancelha, e no terceiro, aperta um fio em parte do rosto.

 

Sobre o Projeto HO

 

Em 1981, os irmãos de Hélio Oiticica, Cesar e Claudio, diante da urgência do desafio de guardar, preservar, estudar e difundir a sua obra, formularam o Projeto Hélio Oiticica, uma associação sem fins lucrativos com esses objetivos. Contando com a construção inicial de companheiros e amigos de Hélio Oiticica, com os quais formou-se um conselho e uma coordenação, e com fundos provenientes da venda de obras de terceiros pertencentes ao acervo da família, instalou-se o Projeto HO. Os membros do Projeto, apesar de trabalhando sem remuneração, e durante suas horas de lazer, conseguiram uma série crescente de realizações entre as quais merecem destaque a publicação do livro de textos: ‘Aspiro ao grande labirinto’ e as exposições retrospectivas realizadas em Rotterdam, Paris, Barcelona, Lisboa e Minneapolis com a edição de respectivos catálogos. Além disso, houve a participação em 16 exposições no Brasil, sendo 10 coletivas e seis individuais e 12 exposições no exterior, sendo 11 coletivas e uma individual. Em 1996, foi inaugurado o Centro de Arte Hélio Oiticica com a grande retrospectiva que havia percorrido a Europa e os Estados Unidos, posteriormente, o acervo participou de 39 exposições no Brasil, 11 individuais e 28 coletivas, e de 51 exposições no exterior, sendo 9 individuais e 42 coletivas.

 

Sala Casa

 

No mesmo foi inaugurada a exposição “Jonas Arrabal – Ensaio sobre uma duna”, com trabalhos inéditos em diversas mídias, reunidos em conjunto, como uma grande instalação pensada especialmente para ocupar a Sala Casa da Galeria Athena. Bronze, sal, chumbo, betume e resíduos orgânicos são alguns exemplos de materiais utilizados pelo artista nos últimos anos, traduzidos aqui entre objetos e desenhos. Em sua pesquisa poética há um interesse particular sobre o tempo e a memória, numa aproximação com a ecologia, meio ambiente e a história, propondo uma reflexão sobre a transformação constante das coisas, dos lugares e como isso nos afeta e nos permite novas percepções. “Em seus trabalhos há uma operação que transita entre a invisibilidade e a visibilidade, transições e apagamentos concretos (conscientes ou não) numa aproximação com elementos da natureza, opondo materiais industriais com orgânicos, propondo novas mutações”, diz a curadora Fernanda Lopes.

 

Até 10 de novembro.

 

 

Exibição de obras de Jorge Guinle

12/set

 

 

A Danielian Galeria, Gávea, Rio de Janeiro. RJ, senta apresenta a partir do dia 14 de setembro, às 18h, a exposição “Jorge Guinle – Uma pincrlada certa vale mais do que uma boa ideia, com mais de 85 obras, entre pinturas em óleo sobre tela e desenhos,  desenhos, do pintor Jorge Guinle (1947-1987), considerado um dos principais artistas brasileiros do século 20, com relevância internacional no âmbito da abstração, e uma referência para a chamada Geração 80. As obras são oriundas de diversas coleções particulares.  A exposição tem curadoria de Marcus Lontra Costa e Rafael Peixoto.

 

A exposição inaugura um pavilhão expositivo construído terreno da Danielian Galeria. que acrescenta 600 metros quadrados ao 900 metros quadrados da casa principal da instituição. Para a exposição foram selecionados também cerca de 40 desenhos em diferentes técnicas criados entre os anos 1960 e 1980.

 

Representante da obra do artista, a Danielian Galeria é responsável, há cerca de três anos, por cuidar do acervo pessoal de Jorge Guinle, composto por mais de sete mil desenhos, ainda pouco conhecidos, além de outros objetos do artista, que pertenciam ao fotógrafo Marco Rodrigues, seu companheiro. A união entre Marco Rodrigues e Jorge Guinle é símbolo da conquista dos direitos LGBTQIA+ no Brasil, por ter sido a primeira união homoafetiva reconhecida pela justiça brasileira brindo jurisprudência para o assunto.

Em exposição até 04 de novembro.