Metamorfoses e Heterogonia

07/jul

Para ocupar o Projeto Parede do segundo semestre de 2015, o MAM-SP, Portão 3 do Parque

do Ibirapuera, convidou o artista Walmor Corrêa que apresenta a obra “Metamorfoses e

Heterogonia”, feita especialmente para o corredor de acesso entre o saguão de entrada e a

Grande Sala do museu.

 

A produção do artista destaca-se pela profunda pesquisa sobre temas históricos e científicos e

envolve o olhar do estrangeiro (através de cartas ou desenhos) sobre o novo mundo. Assim,

Walmor aproxima a relação entre arte e ciência e atribui verossimilhança às narrativas

fantásticas em solo brasileiro. Com diferentes técnicas e linguagens como desenhos, dioramas,

animais empalhados e emulações de enciclopédias, cartazes e documentos, Corrêa recria

histórias que vão dos mitos populares brasileiros (como Curupira e sereias) até os relatos dos

primeiros naturalistas viajantes dos trópicos.

 

Para o MAM, o projeto consiste numa interferência arquitetônica que dá acesso a um novo

setor fictício dentro do museu sob o termo Setor de Taxidermia. Na sequência, é encontrado

um grande diorama que representa o mapa do estado de São Paulo, com destaque para o

planalto, a serra e o litoral sul – locais por onde os jesuítas passaram, e que registra,

sobretudo, o caminho por onde o Padre José de Anchieta passou e, possivelmente, encontrou

os animais descritos e resignificados pelo artista.

 

O mapa conta com cerca de 15 animais empalhados dispostos sobre as possíveis áreas de

localização, confeccionados pelo artista por processo de metamorfose, unindo cabeças de

roedores a corpos de aves. É importante frisar que nenhum animal foi sacrificado para a obra.

Os corpos dos bichos estrangeiros foram comprados em lojas autorizadas para este fim.

 

“No mês de outubro, o MAM apresenta o 34º Panorama da Arte Brasileira que dá destaque a

artefatos arqueológicos pré-coloniais cujos significados são enigmáticos e referências

históricas. Para criar um diálogo maior entre as mostras, o MAM nos pediu a indicação de

artistas para ocuparem o corredor. Pensando nisso, é fortuito que tal projeto prepare uma

zona indistinta entre ciência e arte, pesquisa e narrativa, história e ficção, e o trabalho do

Walmor Corrêa oferece uma relação tênue com a exposição de outubro”, afirma Paulo

Miyada, um dos curadores ao lado de Aracy Amaral.

 

Metamorfoses e Heterogonia parte de um estudo de anotações sobre a fauna e flora

brasileiras encontradas em cartas escritas pelo padre José de Anchieta (1534-1597), que

identificavam espécies de pássaros inexistentes, cuja preciosa descrição refletia o pioneirismo

da observação de Anchieta, que era um exímio pesquisador. Ao invés de censurar os

equívocos, Walmor Corrêa propõe um desdobramento imersivo, dando a eles sustentação.

“Desta forma, crio seres empalhados e dioramas que atestam as descrições do século XVI, com

pássaros que se alimentam de orvalho e outros que são ratos com asas”, descreve o artista. A

obra constitui um recorte fictício de um museu de história natural e, ao mesmo tempo, dá

embasamento sobre a história real dos jesuítas no Brasil ao reproduzir o caminho percorrido

por Anchieta no estado de São Paulo.

 

 

Sobre o artista

 

Natural de Florianópolis, Walmor Corrêa cursou as faculdades de Arquitetura e de Publicidade

e Propaganda na UNISINOS (Universidade do Vale do Rio dos Sinos – São Leopoldo).

Atualmente, vive e trabalha em São Paulo. Participou da Bienal de São Paulo, em 2004; além

da Bienal do Mercosul e do Panorama de Arte Brasileira, do MAM, em 2005; foi recentemente

laureado com uma bolsa de pesquisa e produção pelo Smithsonian Institution nos Estados

Unidos; dentre outras exposições nacionais e internacionais.

 

 

De 07 de julho a 11 de setembro.

Guignard no MAM-SP

O MAM-SP, Portão 3, Parque do Ibirapuera, SP, apresenta a exposição “Guignard – A memória plástica do Brasil moderno”. A curadoria é do crítico de arte Paulo Sergio Duarte.

 

 
A palavra do curador

 
Guignard e o arquipélago moderno no Brasil

 
Um dos férteis caminhos para se pensar a formação da arte moderna no Brasil é uma metáfora geológica. Imaginemos um arquipélago em formação, com ilhas de diferentes altitudes, umas mais elevadas, outras menos. Estamos bem antes de um território contínuo, de um continente, como veremos se formar a partir dos anos 1950, com a assimilação das linguagens construtivas do segundo pós-guerra, no qual as linguagens das obras promovem um intenso diálogo entre si, independentemente das relações pessoais entre os artistas.

 

A ideia do arquipélago vem do caráter idiossincrático das linguagens exploradas, já modernas, que, entretanto, não conversam umas com as outras, cada uma buscando seu próprio caminho. Poderíamos pensar o início da formação desse arquipélago com algumas ilhas já decididamente modernas, por exemplo, Almeida Júnior (1851-1899), Castagneto (1851-1900), Eliseu Visconti (1866-1944), essas ilhas irão se multiplicar com Anita Malfatti (1889-1964), Tarsila do Amaral (1886-1973), Lasar Segall (1891-1957), Goeldi (1895-1961), Di Cavalcanti (1897-1976), Vicente do Rego Monteiro (1899-1970), Ismael Nery (1900-1934), Pancetti (1902-1958), Candido Portinari (1903-1962), Cícero Dias (1907-2003), entre tantos outros. Para o impulso multiplicador, teve papel importante, entre outros fatores, uma vontade de ser moderna, que aflige a cultura brasileira ao longo das primeiras décadas do século passado e se consubstancia na Semana de Arte Moderna de 1922, em São Paulo. Trata-se, agora, não só de experiências modernas isoladas – como os romances de Machado de Assis e Lima Barreto, ou a poesia dos simbolistas Cruz e Sousa e Alphonsus de Guimaraens –, mas também de uma atitude de combate sistemático, conduzida por artistas, escritores e intelectuais, contra os valores acadêmicos que ofereciam obstáculo à modernidade. Entre as ilhas modernas desse arquipélago, encontra-se uma de elevada altitude: a obra de Alberto da Veiga Guignard (Nova Friburgo, RJ, 1896 – Belo Horizonte, MG, 1962).

 

O lirismo de Guignard é único em nossa modernidade. As paisagens e festas que muitas vezes fazem flutuar – numa atmosfera azul acinzentado, às vezes muito escuro – edificações, casas, igrejas, junto a balões, parecem expor uma fenomenologia do aparecimento, tal como os desenhos e monotipias de Mira Schendel, e as pinturas de Rothko. É como se a arte flagrasse o momento em que as coisas surgem, antes mesmo de encontrarem seu lugar definitivo em um terreno. Os retratos de Guignard, juntamente com as paisagens, são outros capítulos privilegiados da obra do artista.

 

Seriam muitos os retratos em que poderíamos nos deter, mas os autorretratos, perseguidamente realizados ao longo de décadas, apontam para o lábio leporino que, segundo seus biógrafos, interferiu decisivamente em sua existência, particularmente, na vida amorosa. Mas, surpreendentemente, não se intrometeu na vida do educador. Guignard foi um grande formador de artistas, utilizando-se de gestos e da voz deformada pela deficiência; era capaz de ensinar e, de suas escolas, saíram grandes artistas, antes no Rio de Janeiro e, particularmente, na experiência desenvolvida em Belo Horizonte, a partir de 1944, convidado pelo prefeito Juscelino Kubitschek. Das lições de Guignard, é preciso lembrar aquelas do desenho, recordadas por um dos nossos maiores artistas, seu discípulo Amilcar de Castro, sobre o uso do lápis duro, o grafite seco que não permitia correções. Errou, tem que assumir. E, segundo Amilcar, do desenho ensinado por Guignard, deriva toda sua obra escultórica. Não é pouco.

 

Diz-se que sua obra é decorativa; Matisse também foi um grande revolucionário decorativo. Agradar aos olhos, hoje, pode ser um pecado, mas, quando uma grande obra se emancipa na modernidade, trazendo prazer à contemplação, e apresenta, com ela, momentos de reflexão junto com o prazer de olhar, é tudo de que precisamos. Aqui, ela está apresentada, com momentos de alguns de seus contemporâneos. Espera-se que o prazer de olhar seja acompanhado pelo gozo do pensar.

 

Paulo Sergio Duarte

 

 

A partir de 07 de julho.

Marcelo Greco, livro e mostra

02/jul

Marcelo Greco promove o lançamento do livro “Sombras Secas”, e inaugura exposição individual homônima no MIS – Museu da Imagem e do Som, Jardim Europa, São Paulo, SP, com curadoria de Diógenes Moura. Composta por 35 fotografias em preto e branco – um recorte do livro -, a exposição apresenta paisagens escuras e pouco definidas, no intuito de estabelecer uma experiência sensorial e emocional com a cidade onde o fotógrafo vive, apresentando sua visão avassaladora sobre as relações humanas.

 

O projeto “Sombras Secas” propõe uma imersão na geografia interna da vida, oferece cenas de um centro urbano dissecado entre dor e prazer. As imagens de Marcelo Greco estabelecem uma forma de diálogo com o inconsciente, nos levando a um imaginário mais próximo dos sonhos, como em uma a cidade fantasiosa criada pelo espectador. O fotógrafo paulistano não pretende retratar a urbe em si, mas utiliza as imagens como agentes de provocação. “Aqui é assim: ou você entende que a cidade tem alma ou ela te engolirá nos próximos 30 segundos.”, comenta sobre a capital paulistana, onde reside. Neste contexto, o trabalho nos sugere uma reflexão sobre as relações com a metrópole, com a existência em uma sociedade ao mesmo tempo caótica e em busca de uma quase impossível harmonia. Nas fotografias, Marcelo Greco utiliza elementos visuais como reflexos, desfoque, enquadramentos assimétricos, grafismos, o que resulta em uma abordagem pessoal e única sobre o tema.

 

Uma criação artística é fruto sempre das interlocuções do criador com o universo que o cerca. De acordo com Diógenes Moura, “Sombras Secas” trata do desaparecimento do homem no ambiente construído a sua volta. “(…): às vezes a partir de uma abstração, outras vezes São Paulo sendo desvendada aos poucos, como o anúncio de uma matéria que urge em se impor e, ao mesmo tempo, desaparecer.”. O livro ganhou a chancela da Schoeler Editions.

 

Lançamento e abertura: 02 de julho, quinta-feira, às 19h.

 

 

Exposição: de 02 de julho a 23 de agosto.

German Lorca na Millan

01/jul

Como aproximar-se da obra de German Lorca, que aos 93 anos e com mais de 70 anos de

atividade, ainda nos surpreende? A exposição “Travessias” na Galeria Millan, Vila Madalena,

São Paulo, SP, em parceria com a FASS galeria, tenta abordar essa e outras questões. São 22

fotografias do artista, produzidas entre 1948 e 2014. “Travessias” apresenta a obra de German

Lorca não apenas como parte da história da fotografia moderna brasileira, mas como o

desenvolvimento de uma linguagem visual coerente e original que se inicia no final dos anos

de 1940 e chega até a segunda década do século XXI.

 

 

Até 25 de Julho.

Três pontos de vista

Apresentando diferentes e complementares linguagens fotográficas, em três pontos de vista igualmente distintos, a exposição “A3″,  Galeria Crivo, Altos de Pinheiros, São Paulo, SP, traz obras dos artistas Choque, Julieta Bacchin e Vivi Bacco.

 

Para o curador responsável, Hélio Moreira Filho, a mostra foi pensada para promover uma discussão acerca do corpo como agente interventor na contemporaneidade. “A escolha dos três artistas passa pela relação de corpo e espaço. Choque traz a questão da intervenção no ambiente urbano, Julieta Bacchin provoca a discussão da poética com a performance, enquanto Vivi Bacco nos revela suas apropriações de ocasiões e lugares vivenciados por ela”, adianta o curador.

 

 

Sobre os artistas

 

Choque é Bacharel em Fotografia pelo Senac-SP. Ganhou evidência internacional com a série Pixação SP (2006-2010), exposta em 13 países, com destaque para a 29ª Bienal Internacional de Artes de São Paulo, o Festival Internacional de Literatura e Cinema Étonnants Voyageurs e o festival Les Recontres d’Arles Photographie, os dois últimos na França. Choque assinou também os stills do aclamado documentário “Pixo”. Ao surgir na década de 80, o fenômeno da arte urbana paulistana veio a se tornar uma das mais polêmicas e agressivas do país, em que Choque atua tanto como testemunha legítima quanto intérprete iconoclasta. Na Galeria Crivo, Choque apresenta um recorte sobre esta série, além de duas obras inéditas que retratam a apropriação do espaço urbano como forma de expressão. As fotos ganham impactantes ampliações de 115cm x 77cm (em sua maioria). Segundo o fotógrafo, seus registros ajudam a desvendar esse codificado universo. “Há muita discussão sobre esse tema. Na mostra, e em todo o meu trabalho, as pessoas podem perceber o quanto tudo isso é onipresente no nosso cotidiano”.

 

Julieta Bacchin apresenta um recorte de seis imagens da série “Photo Poema”, autorretratos fotográficos desenvolvidos a partir da obra literária de Hilda Hilst. Durante uma residência na Casa do Sol (antiga morada da escritora), a artista criou, por meio de fotoperformances, imagens em que a natureza e a figura feminina são protagonistas, remetendo também à pintura pré-rafaelita. Neste trabalho, a artista investiga a possibilidade de transição do universo poético abstrato para a linguagem fotográfica a partir de símbolos e metáforas que cercam a ideia do Corpo na literatura de Hilda. “Uso meu próprio corpo como veículo para a construção das imagens, que são performances capturadas na fotografia. No caso da série Photo Poema, tive controle total da produção. E, além do corpo, existe também meu próprio olhar na composição e edição das imagens”. Referenciando a obra da autora paulista, principalmente sua poesia, Julieta criou uma série de imagens que fazem uma releitura do universo poético de Hilda Hilst, no qual a perda, o desejo e a morte são eixos que atravessam essas seis fotos, uma escrita visual. Todo o material exposto na Galeria Crivo foi produzido entre 2012 e 2014.

 

Vivi Bacco mostra a série inédita “Bento Box”, produzida durante sua recente estada de um mês no Japão. A diversidade das imagens da artista visual paulistana faz alusão às caixas compartimentadas com refeições e diferentes alimentos, parte do cotidiano dos orientais. “Porém, não se trata de um registro de viagem”, salienta Vivi, que é Bacharel em Fotografia pelo Senac, com habilitação em Arte e Cultura. “As fotos prescindem da relação tempo/espaço. São recortes, excertos do meu olhar sobre o que vivenciei nesse período”, diz. Emergem, na estética da fotógrafa, de forma espontânea e aparentemente informal, elementos da natureza, em leituras ora sensuais, ora brutas. Trabalhando com os formatos digital e analógico, ela pesquisou e utilizou papeis japoneses na impressão, como o artesanal Washi. A maior parte do trabalho foi finalizada num dos principais ateliês de impressão de Tóquio.

 

 

De 02 a 30 de julho.

​Arquivo urbano

24/jun

A Luste Cultural exibe, no Senac Lapa Faustolo, São Paulo, SP, a mostra Arquivo Urbano: 100 Anos de Fotografia e Moda no Brasil, da editora de moda, artista plástica e designer de joias Jussara Romão, que também assina a curadoria e a expografia. Composta por 120 fotografias e vídeos, a exposição apresenta um panorama dos hábitos e costumes dos brasileiros nos últimos 100 anos, com ênfase na moda feminina cotidiana. Na data da abertura da exposição, a autora ainda participa de uma conversa aberta com o diretor de arte Guilherme Rex e com o jornalista Mário Mendes.

 

 

 

Durante amplo período de pesquisa iconográfica, feita por Goya Cruz, foram resgatadas fotografias – oriundas de álbuns de família, instituições, museus e acervos particulares – que traçam uma análise social e histórica da sociedade brasileira, ao longo dos últimos 100 anos. Além de fotógrafos anônimos, que registraram o dia a dia de suas famílias, a pesquisa inclui imagens de nomes consagrados, como Augusto Malta, Jean Manzon e Marcio Scavone. Com este material e, partindo do pressuposto de que “Tudo o que acontece na sociedade se reflete na forma de vestir”, surgiu o projeto Arquivo Urbano, composto por um livro (lançado em 2013, pela Luste Editores), e pela presente exposição. O livro – que foi finalista do Prêmio Jabuti 2014 na categoria Artes e Fotografia -, traz as imagens, acompanhadas por um texto de autoria de Mario Mendes, e relatam comportamentos difundidos por fontes como cinema, rádio, jornais, revistas e televisão, desvendando o país antes e depois do advento da indústria da moda.

 

 

Ocorridas do início do século XX para o XXI, grandes transformações na sociedade geraram diversas mudanças nos hábitos e costumes da população. “A moda, o lazer, a alimentação: tudo mudou de forma extraordinária”, comenta Jussara Romão.

 

 

A exposição Arquivo Urbano: 100 Anos de Fotografia e Moda no Brasil apresenta uma história do país. Não a história oficial de políticos e homens importantes, mas a vida cotidiana dos brasileiros e sua evolução – um tema de interesse para os mais diversos públicos. A mostra representa, desta forma, um importante registro não apenas para historiadores e estudantes, mas também para o público em geral, uma vez que traz imagens curiosas, que contam a trajetória do Brasil de modo pouco usual.

 

 

 

De 30 de junho a 24 de julho.

Pink lemonade de Cezar Sperinde

17/jun

A Galeria Sancovsky, Pinheiros, São Paulo, SP, inaugura a mostra “pink lemonade”, de Cezar Sperinde com curadoria de Bruno Mendonça. Nesta que é sua primeira exibição individual no Brasil, o artista brasileiro-israelense radicado em Tel Aviv apresenta trabalhos desenvolvidos recentemente em São Paulo, junto a trabalhos anteriores. A exposição “pink lemonade” traz obras em diferentes mídias como instalação, video, fotografia, serigrafia e escultura.

 

 

Cezar Sperinde parte do campo da cultura para abordar questões como identidade e gênero, além de temáticas sócio-políticas e econômicas, mas de forma bastante singular, usando de deboche – uma das principais características de sua produção. Faz parte da mostra o vídeo “Pindorama dancing palm trees” de 2014, trabalho em que o artista instalou nove palmeiras infláveis tipo “bonecão do posto” com nove metros de altura cada uma, entre as colunas de uma construção neoclássica em Londres, onde fica situada a biblioteca da University College London – UCL.

 

 

Bastante interessado por arquitetura, Cezar cria também trabalhos que dialogam de forma direta com o espaço arquitetônico, como um rodapé de mangueira de lâmpadas de Led que será instalado ao redor da galeria.

 

 

 

Sobre o artista

 

 

Cezar Sperinde nasceu em Porto Alegre, RS, em 1981. Vive e trabalha entre Tel Aviv, Londres e São Paulo. Em 2005, emigrou para Tel Aviv, Israel, onde obteve o Bacharelado em Artes Visuais com ênfase em Fotografia pela Bezalel Academy of Arts and Design. Em 2011, na graduação, foi laureado com o prêmio Laureen and Mitchell Presser Award for Excellence in Photography. Em 2012 imigrou novamente, desta vez para a Inglaterra, onde concluiu com mérito o Mestrado em Artes Visuais na renomada Slade School of Fine Arts, UCL, em Londres. Foi premiado ao concluir o mestrado com o Laureen and Mitchell Presser, Arts Directed Grant, New York. Participou de mostras coletivas em espaços institucionais e galerias em Buenos Aires, Tel Aviv, Jerusalém, Oxford, Londres e Istambul. Participou recentemente do projeto Décima residência artística no Red Bull Station, em São Paulo. Possui trabalhos na Coleção Gilberto Chateaubriand, MAM-Rio, RJ.

 

 

 

Até 18 de julho.

Sérvulo Esmeraldo/ Traço volume espaço

O artista plástico Sérvulo Esmeraldo retorna a São Paulo para ocupar o térreo da galeria Raquel Arnaud, Vila Madalena, com obras executadas em 2015, ano seguinte à exposição de parte de seu arquivo pessoal apresentada no IAC-Instituto de Arte Contemporânea, responsável por este acervo que registra, sobretudo, processos de criação. Um dos artistas brasileiros de maior destaque pelo caráter inovador de sua obra, Esmeraldo, 86 anos, continua o inventor de sempre: firme, atento, certeiro. A presente exposição é a evidência do frescor e da vitalidade de uma produção que, embora madura, continua pulsante. Completa a exposição uma série de 10 desenhos realizados em 2015 especialmente para a presente mostra. Caligráficos, eles são o traço que trata do volume e do espaço.

 

 

Na abertura da exposição foi lançado o livro “Sérvulo Esmeraldo – A Linha e a Luz”, com organização de Dora Freitas e Sílvia Furtado, publicado pela Lumiar Comunicação. A obra reúne anotações e escritos de várias décadas do artista em torno de seu trabalho, além de estudos e obras.

 

 

Com 27 trabalhos – 10 esculturas, 07 relevos e 10 desenhos -, sendo 22 inéditos, “Traço Volume Espaço” traz uma síntese da produção do artista partindo de 1978 até 2015. A escolha dos trabalhos pontua de certo modo o seu retorno ao Brasil, no final dos anos 1970, após os 22 anos em que viveu na França. É nesta fase que o artista redescobre a volúpia do clima tropical brasileiro, e se deixa seduzir pela luz natural de Fortaleza, cidade em que vive e trabalha desde então.

 

 

Um dos destaques da mostra é a escultura de grande formato “Discos”, projetada em 1978, que será exposta a céu aberto, no jardim da galeria. Evocando a excelência e o alto rigor construtivo do artista, a obra é composta por dois discos acoplados, em aço pintado em preto e branco, recortando com precisão círculos e semicírculos que impressionam pela coerência geométrica e leveza. Outras duas esculturas de composições móveis, em médio formato – Sem Título (1997-2015), com três discos, e Sem Título (1981-2015), composta por dois prismas – trabalham a ocupação do espaço, interesse constante em sua obra. Completam o núcleo escultórico cinco peças em formatos piramidais e prismáticos, projetadas em 1981 e agora realizadas, que evidenciam a ousadia tropical de Sérvulo, que as pintou em cores vibrantes e luminosas.

 

 

Ao contrário das esculturas, os relevos expostos são obras do artista maduro. O mais antigo, o “Cilindros Parabólicos” (projetada em 2001), da série “Teoremas”, foi realizado especialmente para a presente exposição. As obras dessa famosa série de Sérvulo são mais do que simples evocações poéticas de demonstrações matemáticas. “São apropriações de diagramas de teoremas matemáticos da antiguidade e da modernidade que, despojados de suas referências algébricas, tornam-se imagens sensíveis de ideias abstratas”, aponta o crítico Fernando Cocchiarale. Os demais relevos, em aço, têm contorno e estrutura na linha e podem ser compreendidos como desenhos no espaço. Dois deles são grandes volumes transparentes.

 

 

 

Sobre o artista

 

 

Sérvulo Esmeraldo, nasceu em Crato, CE, vive e trabalha em Fortaleza. Escultor, gravador e desenhista, iniciou-se profissionalmente no final da década de 1940, frequentando o ateliê livre da Sociedade Cearense de Artes Plásticas (SCAP), em Fortaleza. Transferiu-se para São Paulo em 1951. O trabalho temporário na Empresa Brasileira de Engenharia (EBE) nutriu seu interesse pela matemática e repercutiu em seu futuro: em 1957, trabalhando como xilógrafo e ilustrador do Correio Paulistano, expôs individualmente no Museu de Arte Moderna de São Paulo uma coleção de gravuras de natureza geométrica construtiva. O refinamento do seu trabalho foi decisivo para a obtenção da bolsa de estudos do governo francês que o levou, no mesmo ano, para uma longa estada na França. Em Paris, frequentou o ateliê de litogravura da École Nationale des Beaux-Arts e estudou com Johnny Friedlaender. Na década de 1960 dedicou-se à projetos movidos a motores, ímãs e eletroímãs. Utilizando-se apenas da magia da eletricidade estática chegou à série de “Excitables”, trabalho que o particularizou na arte cinética internacional. Em 1977 iniciou o retorno à terra natal, trabalhando em projetos de arte pública que incluíam esculturas monumentais na paisagem urbana de Fortaleza, cidade para onde se mudou em 1980 e que hoje abriga cerca de quarenta obras de sua autoria. Foi o idealizador e curador da Exposição Internacional de Esculturas Efêmeras (Fortaleza, 1986 e 1991). Com diversas exposições realizadas e participação em importantes salões, bienais e outras mostras coletivas na Europa e nas Américas (Realité Nouvelle, Salon de Mai, Bienale de Paris, Trienal de Milão, Bienal Internacional de São Paulo, entre outras), sua obra está representada nos principais museus do país e em coleções públicas e privadas do Brasil e exterior. Em 2011, a Pinacoteca do Estado de São Paulo organizou importante retrospectiva da obra do artista.

 

 

 

Até 01 de agosto.

​Individual de Luiz Martins

A Galeria Paralelo, Pinheiros, exibe “Como é a pintura, a poesia é”, exposição do artista visual Luiz Martins, com curadoria de Roberto Bertani. Como um recorte da produção do artista, a mostra é composta por 5 desenhos, 3 esculturas e 6 objetos em técnica mista, os quais evidenciam sua pesquisa sobre a comunicação humana e as representações da linguagem escrita através de signos e símbolos, usados desde os nossos ancestrais até os dias de hoje. Nesta nova exibição individual, o espectador poderá observar a composição material e plástica das obras de Luiz Martins, bem como os elementos simbólicos que compõem a sua produção.

 

O trabalho de Luiz Martins se manifesta na apropriação de matérias orgânicas, aproximando-as de suportes impressos. Sua pesquisa morfológica abrange das pinturas rupestres aos alfabetos ideogramáticos, observando também os ícones indígenas e símbolos que variam entre figuras do cotidiano e entidades e forças místicas. Conforme observa Paulo Miyada: “(…) ele (o artista) converge esses símbolos para um mesmo lugar, mantendo-os carregados de um mistério original no qual partes de narrativas se insinuam como rudimentos da comunicação, da história, da arte e da religião.”. Neste contexto, Luiz Martins utiliza a escrita como insumo e, por meio da impressão gráfica, garante um novo relevo em sua obra, transformando, assim, os elementos naturais em arte, carregada de poesia. Em busca da ressignificação da linguagem escrita, o artista utiliza, em alguns trabalhos, páginas do dicionário e da Bíblia como suportes – estabelecendo a conotação das fontes de informações “profanas” e sagradas -, nos quais manuseia a forma da figura ali criada, como se apagasse a linguagem e a substituísse por arte. A coordenação é de Andrea Rehder e Flávia Marujo.

 

 

A palavra do curador

 

 

“É, portanto, na eloquência e na pesquisa permanente deste artista singular que esta curadoria procura entreter os visitantes com obras contundentes, a fim de provocar a reflexão entre o discurso óbvio e o filosófico reflexivo.”.

De 17 de junho a 31 de julho.

 

Manfredo na Galeria Bergamin

09/jun

A exposição “Manfredo de Souzanetto “Paisagem ainda que”, entra em cartaz na Galeria Bergamin, Jardins, São Paulo, SP. Manfredo de Souzanetto é um dos nomes de ponta da arte contemporânea brasileira com vivência curricular profissional internacional.

 

 

Paisagem ainda que

Manfredo de Souzanetto – COR LOCAL

 

 

A presente mostra de Manfredo de Souzanetto na Galeria Bergamin, São Paulo, reúne uma seleção de quarenta anos da carreira do artista mineiro radicado no Rio. Fotos, pinturas e esculturas participam de uma trajetória iniciada em Belo Horizonte e amadurecida em Paris na década de 1970 que ainda hoje segue seus passos cadenciados e seguros. Nela se percebem dois traços característicos, frequentemente entrelaçados: a reflexão sobre a paisagem e a investigação de possibilidades em aberto para a pintura na contemporaneidade.
Desde o início a paisagem se colocara como um dado decisivo para o artista: a série de “postais” e um adesivo criado por ele chamavam a atenção para o desaparecimento por completo de montanhas por conta da mineração. Não deixava de haver um traço crítico e nostálgico perante essa transformação brutal da natureza, mas junto a ela vinha também a divagação simultânea sobre a estranha situação inerente à imagem fotográfica (ser o registro de uma memória e da perda de algo; aquela paisagem só sobrevive enquanto vestígio na imagem), uma reflexão sobre o trabalho artístico (bem como da atitude do espectador) de que criar um espaço é projetar literalmente a imaginação sobre o vazio. E, no que concerne a um problema “interno” da arte, tratava-se de estabelecer uma relação efetiva (e afetiva) com um determinado espaço cuja poesia não dependesse do recurso a mera representação lírica – isto é, a interpretação inspirada de uma cena, como, a título de comparação, fora a base de trabalho do romantismo um século e meio antes – e sim de uma encarnação física, uma (literalmente) corporificação de um motivo permeado de interesses tão distintos quanto uma luz especial ou um sentimento memorialista-nostálgico. Afinal, a arte moderna ensinou-nos que tudo isso era cabível na paisagem. O que ocupou as gerações posteriores era saber como reinventar essa relação. No caso de Manfredo, o que principia com os postais, cujas fotos são “retocadas” com a linha daquele espaço tornado invisível com sua desaparição, é de, partindo de um objeto essencialmente criado como souvenir, colocar-nos à prova de lembrarmos algo que talvez não tenhamos conhecido ou percebido, mas de cuja existência, não obstante, jamais duvidamos. A pressuposta impessoalidade de um objeto como o cartão-postal apenas reforça o descompasso visual de querer ver algo não mais disponível e malgrado seu fim, continuar crendo em sua existência. Mas, no fundo, não teria sido sobre isso que a paisagem sempre falou, desde quando promovida de um gênero secundário para a linha de frente da pintura moderna? Ao fim – e notaremos isso nas pinturas posteriores de Manfredo, o que se coloca é um convite ao espectador para reposicionar e alargar seu olhar. Isso mostra-se claramente quando nessas pinturas, o espectador não vê, mas entrevê e quase toca uma paisagem ali depositada.
Para Manfredo, a pintura (linguagem a que o artista também se dedica há décadas) se concentra na disponibilidade de exploração intercambiável e ilimitada de seus termos, mesmo que admitida uma quantidade limitada de variáveis. Das três gerações de artistas com as quais ele convive (daquela dos anos 1970 até as mais jovens, passando pelos anos 1980), talvez seja um daqueles que mais valorizou uma artesania em seus trabalhos. A plasticidade ganha um sentido alargado quando consideramos que a gestação da forma começa no esboço dos chassis. A pintura vai além da divagação a respeito de como ela corre ou se deposita sobre a superfície (ainda que isto seja algo que lhe interessa, ao nos determos na consistência argilosa de alguns planos), mas da superfície propriamente dita como problema de base e de conclusão da pintura, dado ela constituir as coordenadas a partir das quais, não importa qual noção de composição, dever-se-á por conta dela – e não de convenções assentadas passivamente – encontrar suas soluções. Isto porque mesmo quando o suporte é o retângulo mais comum, ativa-se sua opacidade inescapável enquanto geratriz do espaço. Se a sua silhueta admite qualquer desvio de seu formato usual, intensifica-se a constatação de que a pintura começa a partir deste dado material, ao qual conjugam-se outros, como a espessura sensual e corpórea do pigmento.
A artesania, portanto, não se manifesta na busca de um gestual marcado e único, mas nessa relação “orgânica” entre os materiais, deles obtendo resultados particulares, graças também a sua potencialização (isto é, eles não são nem dóceis nem inertes, podendo assumir diferentes aspectos). Seja ao decantar seus próprios pigmentos na produção das tintas (pigmentos estes, importante lembrar, extraídos das terras mineiras) ou ao desenhar os chassis das telas, Manfredo alarga e repensa o processo da pintura para além do preenchimento da superfície com pinceladas, entendendo-a como algo cuja espacialidade – tanto virtual da forma pintada quanto literal do objeto (o suporte) – começa a ser gestada na confecção mesma dos materiais. Isto fica claro nas obras surgidas a partir dos anos 1980, em que, por conta dessas diversas silhuetas dos chassis, a pintura ganha uma progressiva volumetria escultórica, na qual a composição do espaço interno da tela e seu formato tendem a coincidir, fazendo com que uma não seja apenas o “preenchimento” da outra. Complementa-lhe um sentido quase “arquitetural” da cor, que em sua delimitada gama, explicita a extensão do suporte, proporcionando-lhe um peculiar ajuste junto a parede, pois se a pintura tende com sua distensão homogênea a ajustar seu plano à continuidade da parede, ao mesmo tempo salta para além dela, dadas as reentrâncias e silhueta prismática da tela. Atentando para este fator mais cuidadosamente, vemos que ele parte de um prolongado debate da cultura moderna acerca da monumentalidade, por conta do dilema ocorrido entre o desejo de uma pintura com escalas ambiciosas e a preservação da regularidade, continuidade e ajuste da volumetria homogênea da parede e do prisma arquitetônico. Os planos largos de Manfredo apontam, por um lado, para este ajuste ponderado entre a pintura, sua superfície e a continuidade justa do lugar onde se escora (ou seja, a preservação do ritmo e simplicidade da parede); porém explora a dualidade dessa pintura não sublimar, mas, ao contrário, enfatizar sua histórica (e tensa) atitude de ecoar e duplicar o paralelismo dos planos pictóricos e o da parede. Quando, porém, o plano pictórico é vazado ou eviscerado por uma aresta protuberante ou um corte revelador do anverso da tela, a pintura é solicitada a reconhecer os complexos pactos entre ela e o muro, quebrando qualquer pretensão de naturalidade supostamente atribuída à parede. Nisto, pois, se revela a faceta escultórica desses quadros.
Na esteira destes pequenos achados aparecem os elos entre aqueles dois traços marcantes de sua produção acima indicados. Já em suas primeiras investidas na pintura, Manfredo recorria àquele caráter inerente à dinâmica da imagem. Conforme afirmado aqui, o fator emblemático da imagem é ela ser um resíduo de algo não mais visível. Do mesmo modo, nesses trabalhos iniciais o artista construía uma “pintura incidental”; as sutis e indeléveis camadas de cor diante de nós são, na verdade, a tinta vazada do verso da tela, ou seja, a pintura resulta de sua saturação. Por outro lado, a cor compacta dos trabalhos seguintes – a persistir ainda hoje – retoma a ligação com a paisagem. O pigmento decantado guarda consigo uma condição instigante: se ele fala de uma coisa que talvez não exista mais (uma montanha, para usar um exemplo forçado, mas não casual), é porque esta mesma coisa se metamorfoseou pelo corpo-cinzas do pigmento em uma outra entidade, isto é, o corpo do pigmento não deixa de ser uma cinza da paisagem também. É e não é a carne de uma paisagem perdida. A paisagem está (se não é) no pigmento, na cor. Há, por exemplo, a famosa história de Chopin que levou consigo uma caixinha de prata com terra da Polônia. Era bom ter sempre por perto algo especial, literalmente um pedaço de memória. Manfredo, nesse aspecto, não age diferente: a paisagem não precisa ser figurada porque ela – e todos os sentimentos que a envolvem – estão ali germinados no pigmento. Trata-se, porém, de mais do que uma pintura de paisagem; é uma pintura com a paisagem, uma pintura da paisagem, visto que ela é feita mais do que a partir da terra, do sentimento da terra.

 

 

Texto crítico: Guilherme Bueno

 

 

De 09 de junho a 10 de julho.