Gabriela Machado em Ribeirão Preto

25/mar

A Galeria Marcelo Guarnieri, Ribeirão Preto, São Paulo, SP, apresenta a exposição “Um olhar viajante” da artista Gabriela Machado. Em sua primeira individual na galeria, Gabriela Machado exibe uma seleção recente de desenhos, pinturas e esculturas. Os desenhos e pinturas se apresentam quase sempre em grandes formatos, ocupando o espaço com cores cítricas. A tinta aguada cria uma fluidez aos trabalhos, que tem origem através de uma poética que se cria pelo pensar e fazer concomitantes, fazendo dela não um reflexo da natureza, mas sim uma reflexão do que nela está embutido. Já as esculturas aparecem como um desdobramento deste pensamento poético, elas saem das pinturas e retornam a elas, com o desafio de fazer uma construção através de um material que não é fluido, que necessita de força bruta, que não surge do imediatismo, onde é necessária a percepção da necessidade do tempo, passando pela percepção de como estar no mundo, de como se inserir no espaço.

 

 

 

Sobre a artista

 

Gabriela Machado nasceu em 1960 em Santa Catarina, atualmente vive e trabalha no Rio de Janeiro. Dentre as diversas exposições em que participou, destacam-se as recentes: “Cadência”, Paço Imperial, Rio de Janeiro – Brasil, 2012; “Os jardins de Lisboa em Gabriela Machado”, Carpe Diem Arte e Pesquisa, Lisboa – Portugal, 2011; “Doida disciplina”, Caixa Cultural Rio de Janeiro e São Paulo – Brasil, 2009.

 

Gabriela Machado – Um “Olhar Viajante”, Criando Sempre

 

 

Texto de Jorge Emanuel Espinho

 

Tantas e tantas vezes verificamos – num qualquer percurso artístico de que somos testemunhas -, a coerência e o recorte formal característicos desse criador funcionarem como pragmáticas e invioláveis prisões, que por fim encerram e limitam a própria liberdade criativa do artista. Sua pretensa liberdade fica assim reduzida e rebaixada apenas a uma teórica possibilidade nunca exercida. Se naturalmente esperamos e aplaudimos uma prática livre e inclusiva como parte fundamental da ação do artista, é com frustração e pesar que vemos se vulgarizar um encerramento da sua criatividade bem dentro da própria obra, assim feita percurso a respeitar e prosseguir, assim feita limitação e fronteira, encerramento e repetição. Muitas e demasiadas vezes, o próprio caminhar do artista se faz numa paisagem imutável e esterilizada, em derrapagem de infinito desdobramento dos seus temas e pressupostos, métodos e meios; sem que assim se veja avanço ou diferença, inovação ou aventura…

 

Questões como as lógicas do mercado ou o reconhecimento são muitas vezes apontadas como responsáveis por essa repetitiva continuidade. Aqui preferimos enaltecer e sublinhar a coragem voluntariosa face ao risco da mudança – que presenciamos fortemente nesta exposição -, e a lúcida autocrítica, como alvos a perseguir e alcançar. Uma positiva ambição criativa da artista promove, nesta mostra, novos experimentos, fazeres e avanços.  Será essa, julgamos, a mais elevada razão e motivação do ser criativo.

 

O trabalho de Gabriela Machado vem do desenho e da pintura – e de uma pintura em que o traço é desenhado, livre, expressivo e grosso, tantas vezes fluido e aquoso -, na manifestação solta de uma energia vital que parece querer ser, desde sempre, o grande sujeito escondido, o grande alvo principal, do trabalho da artista. Reconhecida pelas suas grandes pinturas de flores que sempre recusaram ser apenas isso – e que antes se reconfiguram num aquático escorrimento sensual de côr e de encontro, como exemplos momentâneos e poéticos da força delicada e firme que as habita, suspensas em branco vazio -, a artista apresenta nesta mostra individual o lugar múltiplo em que agora se encontra. Ou melhor, que para si criou e permitiu, generosa e disponível, experimentando e abrindo para si própria – e para nós com ela -, o seu mais novo, desse seu agora.

 

Poderíamos, na nossa imparável ânsia de nomear, chamar a esse lugar de Cruzamento, pois nele muito se encontra e cruza, e dele muito em futuro já se descobre. Ou Farol, suspeitando e vislumbrando também já outras paisagens, ainda mais longe, a iluminar criando. Ou talvez Sentido, já que o suave tacto da mão que mexe o barro, traz outro sentir/saber nesse fazer, que é um olhar novo a experimentar: avançando, tacteando, sempre em improviso. Sublinhe-se desde já, que quer seja nas pequenas esculturas ou nas maiores – mais recentes, das quais encontramos um exemplar produzido na própria galeria para esta mostra -, a artista manipula diretamente agora, sem tela mediando, a tal força vital que bailava ébria em suas pinturas. Com simultânea intimidade curiosa e descoberta, familiaridade e novo encontro, aprofundamento e maior leveza.

 

Parece acontecer aqui, e no percurso já longo da artista, uma gradual aproximação ao âmago do acontecimento, seu centro físico, sua origem. Pois se o seu trabalho revelava o resultado pictórico de eventos e manifestações registrados no seu olhar o mundo; agora surge um fazer mais delicado e artesanal, noutro sensível; resultado do encontro com esse mesmo centro. Este centro é, ou torna-se aqui, e claramente reunidos: dispersão e fonte, intenção e forma, corpo e função, lazer e essência. Apetece dizer que, ao contrário de se deixar levar por percursos e passeios lógicos e inócuos pela própria obra, a artista recua em profundidade, avançando: aproximando-se e dando o íntimo corpo que é seu, a esse manancial etéreo de cuja natureza nos foi, ao longo dos anos, sussurrando e discorrendo.

 

Podemos afirmar que se aqui arriscamos essa difusa fonte enquanto origem de sua obra, com maior firmeza dizemos que para onde esta vai e seguirá será mistério a ser desvendado com incerteza e parcimonia. E talvez seja esta a grande qualidade processual a que assistimos nesta mostra: o raro momento de intersecção e cruzamento entre um passado de leitura do real, e o futuro da sua nova escrita que aqui a artista esboça.

 

Onde antes se descrevia inventando, agora se cria a construir; onde se cantavam qualidades agora se afirma a realidade, sempre em seu forte potencial infinito. Por fim, o eterno bailado hipnótico da cor e forma, deu lugar ao sumário espesso do que tudo cria: barro, mão, órgão.

 

Para nós que agora olhamos, mais de longe a querer ver, esta é a fundamental lição de (des)educar o olhar. Talvez para um dia, depois, melhor o (re)criar. Nas palavras de Gabriela Machado, é esse “Olhar Viajante” que aqui se nos apresenta. Orgânico, mais solto, mais fundo e transformado, agora talvez, em Criando Sempre.

 

 

Até 18 de abril.

Ivan Cardoso, Cocchiarale e Agra na Paralelo

A Galeria Paralelo, Pinheiros, São Paulo, SP, promove no dia 1º de abril de 2014, terça-feira, às 18h a conversa aberta “Monstrutivismo: O Vampiro é Nosso”, com o curador Fernando Cocchiarale e o pesquisador Lúcio Agra, sobre a obra do artista Ivan Cardoso, que também estará presente no bate-papo.

 

O encontro versa sobre o trabalho de Ivan, o qual foi tema de exposição individual em 2013, na própria Galeria Paralelo, uma mostra produzida não só pela invenção poética e por novas imagens, pinturas e objetos do artista, como também pelo registro icônico de personalidades do universo cultural brasileiro, capturados por sua câmera. Nas palavras de Fernando Cocchiarale: “(…) tanto o cinema de Ivan Cardoso quanto suas outras obras têm por referências ícones da brasilidade. Mas, diferentemente do foco agro-rural que havia marcado essa questão até o pós-guerra, as referências apropriadas pelo artista são inversamente urbanas. Na verdade ele sequer trata de temas estritamente brasileiros já que múmias, vampiras, etc. são parte de um imaginário local que filtrou Hollywood e chegou às chanchadas da Atlântida.”

 

Em meio à intensa repressão instaurada pela Ditadura Militar, Cardoso inventou um cinema que, ao conceber a máscara do chamado terrir e a estética udigrudi, confrontava diretamente tal repressão e seus desdobramentos. Coordenação: Andrea Rehder e Flávia Marujo.

Mais pinturas: Fernando Burjato

A Galeria Virgílio, Pinheiros, São Paulo, SP, apresenta a exposição “Mais pinturas”,individual de Fernando Burjato. O artista paranaense de quarenta e um anos, em sua terceira individual na Galeria Virgílio, apresenta catorze obras recentes, onde são radicalizadas algumas características que já eram visíveis em sua produção anterior: áreas de cores intensas, dégradés, camadas de tinta a óleo que se acumulam em volumes. E a um tempo a afirmação da pintura e um olhar irônico sobre sua tradição e suas convenções.

 

A cor, sempre um elemento fundamental, se faz visível através de camadas espessas de tinta, que literalmente se estendem para além do espaço dos quadros, ou que se dobram sobre eles, como franjas. Segundo Bruno Oliveira, que assina o texto de apresentação, nessas pinturas “não há qualquer ímpeto de escapar da materialidade, nem do objeto (…) a tinta é um pedaço de pele disposta sobre um corpo. Esse corpo é o quadro, coberto por um manto de tinta e cor. Essa derme-pintura não é pele lisa, perfeita, jovem. Ela é casca grossa, uma pele velha, cheia de imperfeições e cicatrizes, maquiada exageradamente, como se o desejo fosse esconder as marcas do tempo, os defeitos da história.”

 

Em muitas obras recentes, em pequenas dimensões, as telas têm espessuras variáveis, não raramente muito maiores que o habitual, na forma de paralelepípedos. O que se pode chamar de pintura não se atém à superfície frontal, mas se estende às laterais. A pintura é uma superfície, e ao mesmo tempo um objeto. Uma janela (para a cor) e um bloco.

 

 

Sobre o artista

 

Fernando Burjato é formado pela escola de Música e Belas Artes do Paraná desde 1994 e mestre em artes pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, UNES), desde 2011. Realizou exposições individuais, entre outros lugares, na Galeria Virgílio, na Galeria Casa da Imagem, Curitiba, Centro Cultural São Paulo, Centro Universitário Maria Antonia e participou da 6º Bienal de Curitiba. Possui obras nos acervos do Museu de Arte Contemporânea do Paraná, MAC/PR e do Museu Municipal de Arte de Curitiba, MuMA. É autor do livro de contos “Cabeça, corpo caveira e alma”, Bom Texto, 2000, e em parceria com Daniela Vicentini, publicou “Arte Brasileira nos Acervos de Curitiba”, Segesta, 2010. Vive e trabalha em São Paulo.

 

 

De 16 de março a 19 de abril.

Personagem de Pierre Lapalu

A Galeria Paralelo, Pinheiros, São Paulo, SP,  exibe “Joaquim Nunes de Souza – O Etnógrafo Naïf”, exposição do artista plástico curitibano Pierre Lapalu, que também assina a curadoria da mostra. Trata-se de uma instalação narrativa, com 36 desenhos, sobre a vida e obra de um artista fictício criado por Pierre, chamado Joaquim Nunes de Souza, o qual teria produzido uma série de desenhos retratando pessoas no espaço urbano.

 

De natureza introvertida e origem humilde, Joaquim não tem formação acadêmica e nem aplica rigor científico em seus desenhos de observação, seu único meio de interação com a sociedade. Seu trabalho apresenta recortes de cenas do dia a dia – relances do cotidiano que permanecem em nosso imaginário -, revela protagonistas de pequenos detalhes da vida. Joaquim age como um “etnógrafo naïf”, fazendo um levantamento do tipo físico e do comportamento desses habitantes da cidade de Curitiba, em uma tentativa intensa de perceber a realidade social e entender a configuração local, da qual se sente excluído.

 

Apesar da linearidade em relação à cronologia da história de Joaquim, mostrada na exposição com disposição clara de início e fim, os desenhos foram feitos aleatoriamente, sendo que todas as pessoas retratadas, os locais dos textos e dos retratos, de fato existem (ou existiram). Sobre seu processo criativo, Pierre comenta: “A escolha do desenho, basicamente nanquim sobre papel, dá-se pela facilidade que um artista teria de desenhar na rua, já que todos os desenhos seriam supostamente produzidos durante observações de populares em praças, terminais de ônibus e demais locais de convivência comum, mas que passam despercebidos pelos que ali transitam”.

 

Tomando a urbanidade como tema e o uso da ficção como mediação com o público, Pierre Lapalu nega a premissa do artista como um executor do próprio estilo, emprestando seus traços e jeito de desenhar a Joaquim. “(…) entendi que deveria procurar desenvolver a metamorfose que o traço e o estilo de um artista teria durante toda sua vida, pois o estilo muda conforme sua percepção vai se descolando da realidade, o que é observável pelo traço”. Coordenação: Andrea Rehder e Flávia Marujo.

 

 

De 29 de março a 03 de maio.

Marine Hugonnier na Fortes Vilaça

19/mar

Com a exposição “A Abelha, o Papagaio e a Onça”, a artista francesa Marine Hugonnier,  realiza sua segunda individual na Galeria Fortes Vilaça, Vila Madalena, São Paulo, SP. A mostra apresenta um filme, fotografias e esculturas que partem de pesquisa da artista sobre maneiras de abordar, compreender, e conviver com a natureza e os sistemas de representação que nossa sociedade criou. No filme “Apicula Enigma”, Marine Hugonnier desconstrói a linguagem corrente do “documentário de vida selvagem” ao usar recursos técnicos do cinema para se aproximar da verdade fatual de uma colmeia. Partindo de pesquisa sobre mitologias ocidentais associadas às abelhas, incluindo os livros “A Vida das Abelhas”, de 1910, de autoria de Maurice Maeterlink, “Dos Animais e dos Homens” de J.V Uexkull e também de filmes que vão de Eadweard Muybridge e Etienne-Jules Marey às histórias infantis de Walt Disney, a artista procurou filmar o espaço entre as abelhas e a equipe de filmagem, o estar na presença das abelhas, ao invés de humanizar a sociedade apícula usando-a como uma parábola para nossa sociedade. O filme é uma maneira de procurar a exata distância em que o mundo animal ainda mantém o seu mistério.

 

Nesta mostra, Marine Hugonnier considera a figura do papagaio como a de um animal aculturado, já que tem a habilidade de falar. A ideia de poder incluir um animal no contexto público por sua capacidade de comunicação foi a base para a performance que aconteceu na abertura da exposição, onde um papagaio interagiu com os visitantes. É também base para seu próximo filme, “The Parrot Case”, – O caso do Papagaio-, adaptação da história real sobre um papagaio que presenciou um assassinato e depois foi usado como testemunha chave no julgamento. Três objetos são ressignificados por um carimbo com as palavras “Union Pour La Cinegenie” – União pela Cinegenia. Esta união é um grupo informal criado por Marine Hugonnier e Manon De Boer, com o propósito de definir a palavra inventada “cinegenia”.  As obras que levam o carimbo são uma gravura do século XVIII, “An Assembly of Animals’ -Uma Assembleia de Animais -, um livro-colagem e um anúncio antigo do carro Jaguar que assim formam um tipo de coleção de exemplos que podem definir esta qualidade especial ou que simplesmente devem ser consideradas por suas qualidades cinemáticas.

 

A terceira parte da exposição está baseada na pesquisa e conceitos delineados por Eduardo Viveiros de Castro: a perspectiva ameríndia em que existe somente uma humanidade da qual os animais também fazem parte.  A noção ameríndia expande assim a ideia de subjetividade para uma não diferenciação entre humanos e animais. Dentro desta diferente concepção ontológica, a realidade e o ponto de vista de um animal, como a onça, pode ser apreendida e compartilhada. Ter uma outra perspectiva da mesma realidade é um dos intuitos dos rituais xamânicos praticados pelos povos habitantes da região amazônica. Neste contexto, a artista apresenta a série de esculturas abstratas “Anima”, que são objetos móveis. O título faz referência as palavras alma ou espírito ou psyche. Estas obras estão posicionadas em bases espelhadas nas quais o reflexo agrupa o espectador, seu entorno e a escultura em si, criando um único corpo.  Em “Anima(L)”, a escultura abstrata é acompanhada pela a fotografia de um animal criando assim uma nova relação. Ao lado desta,  a artista intervêm com folhas de ouro em uma escultura “ready made” que representa um xamã virando uma onça. Dois grandes luminogramas compõem a exposição, os trabalhos que são feito de papel fotossensível exposto à um lugar e período determinado, resultando em imagens quase monocromáticas, sendo a simples emanação do calor e elementos presentes no ambiente. Esta exposição considera diferentes tipos de concepções ontológicas sobre humanos e animais e assim questiona dicotomias tradicionais modernas; a divisão entre Natureza e Cultura, Sujeito e Objeto e os modos de produção e troca que estes sistemas de pensamento implicam.

 

 

Sobre a artista

 

Marine Hugonnier nasceu em Paris, França, em 1969 e vive e trabalha em Londres. Entre suas recentes exposições individuais podemos destacar: Chateau D’Angers, França (2014); Sainsbury Centre for Visual Arts, Norwich, UK (2013); FRAC Champagne-Ardenne, Reims, França (2009); Malmö Konsthall, Suécia (2009); Kunstverein Braunschweig, Alemanha (2009); Musée D’Art Moderne et Contemporain MAMCO, Geneva, Suiça (2008); S.M.A.K. Stedelijk Museum voor Actuele Kunst, Gent, Bélgica (2007); Philadelphia Museum of Art, Philadelphia, EUA (2007). Sua obra está presente em importantes coleções como: Thyssen-Bornemisza Contemporary Art Foundation, Viena; National Gallery of Art, Washington DC; Musée d’art Moderne de la Ville de Paris; MOMA, New York;  MACBA, Barcelona; Jumex Collection, Cidade do México; Reina Sofia, Madrid; Centro de Arte Contemporânea Inhotim, Brumadinho, MG; entre outros.

 

 

De 22 de março a 03 de maio.

Flávio de Carvalho na OCA

18/mar

O lado polêmico de Flávio de Carvalho (1899-1973) é bem conhecido – ficou famosa a fotografia do artista andando pelo centro de saia e blusa bufante, com expressões de espanto à sua volta. Mas a exposição em cartaz na Oca, Parque do Ibirapuera / portão 3, Parque Ibirapuera, São Paulo, SP, a nova sede do Museu da Cidade, quer ampliar o olhar do visitante. Organizada a partir de buscas em acervos paulistanos, a montagem exige um pouco de paciência para ler os textos exibidos. Ainda assim, vale a pena. Em um dos artigos escritos para a revista Vanitas, na década de 30, Carvalho ironizava os atores de Hollywood e afirmava que um dia eles seriam mais idolatrados que figuras religiosas – nada mais atual. Dos camarins do Teatro Municipal vieram figurinos criados pelo artista para o balé “A Cangaceira”, encenado em 1954, no qual os bailarinos ficavam rodopiando o tempo todo. No centro da mostra está a reprodução sonora da Experiência nº 2, episódio em que Carvalho, de chapéu, caminhou na direção oposta a uma procissão. Ele causou tanta ira que foi obrigado a se refugiar em uma delegacia para não ser linchado. Há ainda projetos arquitetônicos – nunca executados – e ilustrações.

 

Fonte: Resenha Laura Ming – Veja SP.

 

Até 27 de julho.

Livro artístico

14/mar

Ricardo Sardenberg responde pela curadoria da mostra “A tara por livros ou A tara de papel”. Essa mostra temática é o próximo cartaz da Galeria Bergamin, Jardins, São Paulo, SP, reunindo seleto grupo de nomes e livros de Nuno Ramos, com “Caldas Aulete (Para Nelson 3)”; Beatriz Milhazes, com “Meu Bem”; Artur Barrio, com “Cadernolivro”; Mira Schendel, com “Sem título”; José Bento, com “Baquelite”; Ed Ruscha, com “Me and The”; Rivane Neuenscwander, com “Paisagens Dobradas”; Marcius Gallan, “Livro/objeto Presente”; Leonilson, com “Certas Sutilezas Humanas” e Julio Plaza, com “Objetos Poema”.

 

 

A palavra do curador

 

A exposição A tara por livros ou a tara de papel não toma como ponto de partida a investigação do livro-objeto, algo que já pôde ser visto em tantas exposições recentes. Mas, espero, ela se apropria da ideia do livro-corpo. Embora não seja uma investigação puramente plástica ou estética, ainda assim, espero que a exposição cobre do visitante a experiência sensual e estética, um pouco hedonista com os objetos de desejo.  O livro aqui se confunde com a possessão, o erotismo, a compulsão pelo belo e também como nota de carinho, pois o livro se dá pra quem se quer bem. Nesse sentido, o livro artístico aqui é visto como um fetiche. A exposição celebra o objeto livro pela sua força de sedução.

 

O livro não é apenas objeto ou caixa, invólucro de histórias e sonhos. O livro é uma ideia que se apodera da nossa mente e que, por diversas vezes, a sua perda – um livro que foi emprestado e nunca mais voltou – pode ser tão dolorosa quanto a perda da pessoa amada. Como escreveu Flaubert em defesa do seu livro Madame Bovary: no nosso livro, a palavra perfeita é somente nossa e só existe no nosso léxico.

 

Pouco é mais perturbador que a vista de uma fogueira de livros.”  – Ricardo Sardenberg.

 

 

De 18 de março a 17 de abril.

Monica Piloni na FASS

A FASS, Vila Madalena, São Paulo, SP, reconhecida por trabalhar com fotos históricas, amplia suas atividades e cria plataforma voltada a artistas contemporâneos que usam a fotografia como suporte. A galeria inaugura o novo núcleo com “No meu quarto”, a primeira exposição individual de Monica Piloni na cidade. A curadoria é do expert Diógenes Moura.

 

“No meu quarto” reúne dez fotografias e um vídeo, regidos pela experimentação da artista na linguagem fotográfica, dando continuidade à sua reflexão no campo da escultura.  O conjunto de sua obra ressalta a obsessão pelo corpo, seu próprio corpo, reproduzido em escala natural e de forma hiper-realista. A artista esculpe pernas, braços e reproduz a cabeça e o rosto numa expressão de melancolia com olhos que parecem olhar através dos observadores.

 

“Perturbadores personagens surgem em corpos retalhados e reconfigurados insolitamente, que parecem buscar a integridade que lhes faz falta, a integridade que nos faz falta”, pondera Pablo di Giulio, fotógrafo e diretor da galeria. Segundo ele, ainda, essa é uma das inúmeras questões que sua obra traz à tona – sexualidade, representação e aparência vistas através da desconstrução do corpo no espaço.

 

Em “No Meu Quarto”, as fotografias trazem cenas quase performáticas, nas quais Piloni recria braços, pernas e cabeça no ambiente onde mora e com os elementos próprios desse universo. “Seu corpo desestruturado parece querer ocupar os espaços do cotidiano numa prática narcisista e exibicionista – na cama, no sofá, diante do espelho – na intimidade quase doentia de quem esta no seu pequeno mundo, no seu quarto que é também a sua mente, sua cabeça, a nossa”, destaca o diretor.

 

No dia 1o de abril, às 19h, a FASS promove um coquetel e conversa intimista com a artista, em seu espaço na Vila Madalena. Já, também na galeria, dias 8, 9,15 e 16 de abril, sempre às 19h30, um ciclo de quatro encontros abertos  ao público reunirá artistas e curadores para refletir sobre a questão do corpo como ponto de partida para a criação artística. Entre os participantes estão os curadores Diógenes Moura, Cláudia Fazzolari, Paulo Miyada e Thais Rivitti, além dos artistas Monica Piloni, Márcia Beatriz, Flávia Junqueira e Nino Cais. Informações e inscrições pelo site info@galeriafass.com.br (vagas limitadas).

 

As obras de Monica Piloni fazem parte de importantes coleções como de Bernardo Paz, no espaço cultural Inhotim, no Instituto Figueiredo Ferraz de Ribeirão Preto, e de outras particulares, como Blanca Soto em Madrid, Leon Tovar, em Nova York, Cleusa Garfinkel e Waldick Jatobá no Brasil

 

 

De 20 de março a 19 de abril.

Papa: livro e exposição

10/mar

O Museu de Arte Sacra de São Paulo – MAS/SP, Luz, São Paulo, SP, exibe “O Papa Sorriu”, exposição com curadoria de Rafael Alberto Alves. A mostra conta com caricaturas feitas por 38 cartunistas brasileiros e estrangeiros, e tem como intenção homenagear o Papa Francisco, o qual completa um ano de papado, mostrando simplicidade e bom humor no trato com todas as pessoas, fato evidenciado na ocasião de sua visita ao Brasil para a Jornada Mundial da Juventude, em 2013.

 

Impressionados com os sorrisos e abraços distribuídos pelo Papa, especialmente com os jovens, um grupo de cartunistas reuniu diversas obras que retratam o Pontífice e toda sua simpatia para com o povo. O resultado foi a publicação do livro intitulado “O Papa Sorriu”, entregue pessoalmente ao Papa Francisco pelo Arcebispo metropolitano de São Paulo, Dom Odilo Scherer, no início de 2014. Agora, alguns desses trabalhos ocupam as paredes do MAS/SP em exposição inédita: “Para nós, demonstra que fazemos sim arte. É a primeira vez que caricaturas entram em um museu de arte sacra. Parabéns a todos que acreditaram em mais essa empreitada de nossas flash expo”, comenta José Alberto Lovetro, presidente da Associação dos Cartunistas do Brasil.

 

Com traços característicos acentuados, os artistas criam desenhos que provocam todos os tipos de reação nos espectadores, desde a surpresa até a ternura. Nas palavras de José Carlos Marçal de Barros, Diretor Executivo do MAS/SP: “Nas crônicas políticas e sociais, a caricatura constitui uma das mais aguçadas formas de expressão. Nada parece escapar aos olhos do caricaturista, cujo poder de síntese revela um invejável conhecimento sobre a realidade e sobre o ser humano.” Participam os cartunistas Alan Souto Maior, Alex Souza, Ariel Silva, Baptistão, Benjamim Cafalli, Bira Dantas, Bruno Honda Leite, Carlos Amorim, Claudio Duarte, Ed Carlos Joaquim, Eder Santos, Elihu Duayer, Fredson Silva, Gilmar Fraga, Gustavo Paffaro, J. Bosco, Jorge Barreto, José Alberto Lovetro, Junior Lopes, Luiz Carlos Altoé, Luiz Carlos Fernandes, Mello Cartunista, Mônica Fuchshuber, Nei Lima, Omar Figueroa Turcio, Paolino Lombardi, Quinho, Renato Stegun, Ricardo Soares, Rice Araujo, Rodrigo Brum, Sergio Mas, Sergio Raul Morettini, Seri Ribeiro Lemos, Vicente Bernabeu, Wal Alves, William Martins Ribeiro e William Medeiros.

 

 

De 14 de março a 30 de abril.

Obra de Aguilar em livro

O Museu da Casa Brasileira, Jardim Paulistano, São Paulo, SP, recebe dia 13 de março, para o lançamento do livro “José Roberto Aguilar: 50 Anos de Arte”, do pintor, escultor, escritor, curador, músico e performer. Com textos de Solange Lisboa, introdução de Nelson Aguilar e design de Fernanda Sarmento, é uma retrospectiva da carreira do artista, com cerca de 250 pinturas e 250 fotografias documentais que representam suas principais obras, inserindo-as em seu contexto original e traçando, assim, um panorama da cena cultural brasileira desde a década de 1960 até os dias atuais.

 

Composto por dois volumes, o livro apresenta trabalhos reunidos entre 1960 e 1989, no primeiro tomo, e de 1990 a 2010 no segundo, sendo os capítulos organizados por décadas, apresentando as pinturas de cada período, bem como páginas contextuais com fotos históricas, críticas, documentos e itens relativos a outras áreas além do campo das artes plásticas. Em geral, a publicação revela a facilidade que Aguilar possui de passear por diferentes suportes com total desenvoltura. Nesses 50 anos, o multiartista transitou entre a pintura – além de vídeoarte, vídeoinstalações e performances – e a liderança da “Banda Performática”, que mistura pintura, música, teatro e circo. A admiração pela literatura e pela mitologia torna tais assuntos sempre presentes em sua produção, ao se apropriar da escrita e dos signos, fazendo-os e “transcriando-os” como elementos integrantes em suas telas.

 

Com ritmo dinâmico de leitura, o livro acrescenta informações que podem ser consideradas genuínos recortes da cultura brasileira das últimas cinco décadas, no intuito de construir um relato histórico da relevante obra de Aguilar, bem como da cultura de vanguarda no Brasil.

 

 

Sobre o artista

 

Nascido em São Paulo em 1941, começou a participar da vida cultural brasileira em 1958, através do movimento “Kaos”, manifestação vanguardista de Jorge Mautner que incluía sessões de poesia, literatura e performance. Realizou sua primeira exposição em 1961. Em 1963, foi selecionado para a Bienal Internacional de São Paulo. Participou, em 1965, da mostra Opinião-65, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Recebe o Prêmio Itamaraty na Bienal de São Paulo, em 1967, onde volta a expor em 1969. Na década de 60, centraliza sua ação em seu atelier. Na virada dos anos70, se viu obrigado a viver no exterior, morando em Londres, onde realizou exposição em Birmingham. Retorna ao Brasil em 1973, e faz exposições no Rio e em São Paulo. Vive em Nova York entre 1974 e 1975, onde começa a realizar um trabalho pioneiro de vídeoarte. Participou de vídeoperformances no Beaubourg, em Paris, e no Festival de Vídeoarte de Tóquio, em 1978. Participa novamente da Bienal de São Paulo em 1979. Na década de 80, desenvolve grande atividade como pintor, realizando diversas exposições, inclusive na Alemanha e nos Estados Unidos. Paralelamente, reforça sua imagem de artista multimídia através de inúmeras performances, da criação e apresentações da Banda Performática, da realização de montagens e espetáculos em praças públicas. Compõe músicas, grava discos, escreve e edita livros. Desenvolve suas ligações com a religiosidade e a capacidade humana de transcendência. Nos anos 90, deu continuidade às suas múltiplas atividades e realizou duas mega exposições com quadros de grandes dimensões, no MASP e no MAM/SP (1991 e 1996), além de exposições no exterior. Tornou-se diretor da Casa das Rosas, São Paulo, SP, entre 1996-2002. Trabalhou como representante do Ministério da Cultura em São Paulo até 2007.