Revisitando vínculos históricos

17/abr

 

O Museu de Arte Sacra de São Paulo – MAS/SP, Luz, São Paulo, SP, instituição da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo, em parceria com a E-Manuscrito, lançou o livro “Por uma Descolonização da Imagem – o marfim africano na arte colonial do Oriente”, de autoria do Prof. Dr. Jorge Luzio. A publicação aborda a arte colonial através dos marfins, bem como os processos desta circulação nos contextos do Império português. O autor, por meio de sua pesquisa, permite ao leitor margear dois continentes, África e Ásia, além de conectá-los ao Atlântico, convidando-o a refletir sobre os vínculos históricos entre mundos aparentemente tão distantes, como a Índia e o Brasil, tendo o continente africano como ligação entre eles.

A obra inclui estudos conjuntos em história dos dois continentes africano e asiático, com inserções e paralelos com história ambiental e museologia. Os estudos permitem uma análise desde o comércio das presas de elefantes na economia colonial e a força desse comércio sobre a fauna africana, até as temáticas voltadas aos estudos de iconografias a partir do acervo da coleção de marfins do Museu de Arte Sacra de São Paulo. O terceiro bloco de textos apresenta um repertório iconográfico com parte das obras do acervo, a serem observadas a partir das referências artísticas de culturas da Índia pré-colonial. Isso auxilia o leitor a assimilar a complexidade do debate proposto sobre a arte colonial no Oriente português.

“Por uma Descolonização da Imagem – o marfim africano na arte colonial do Oriente” destaca a importância das novas abordagens da museologia com as questões decoloniais, construindo alternativas de metodologias e práticas pedagógicas com horizontalidade e engajamento. O pensamento decolonial se desprende de uma lógica de um único mundo possível e se abre para uma pluralidade de vozes e caminhos. “Descolonizar a Imagem não é algo fácil, tampouco simples, enquanto tarefa propositiva de novos diálogos que florescem da percepção e da observação visual no confronto com o que a Imagem poderá trazer: a ambivalência do deleite e da dor. No caso dos marfins, não há como deixar de se analisar os efeitos da mercantilização sobre os animais, seus ecossistemas e toda uma cadeia de destruição”, explica Jorge Luzio.

O evento de lançamento foi uma oportunidade para refletir sobre a complexidade das relações históricas e visuais entre diferentes continentes e culturas, além de ampliar o debate sobre o papel dos museus e da educação na construção de uma sociedade mais plural e inclusiva e também para visitar uma pequena exposição montada em vitrines selecionadas no MAS/SP com peças do acervo da instituição. O evento estará aberto ao público e terá a presença do autor.

“Descolonizar a Imagem é, portanto, também ser por ela visto, em jogos de espelho, pois como a vemos diz muito de nós mesmos; é enxergar, por fim, para além do que os olhos nos revelam, ou seja, como a História se desloca no tempo, e como carrega consigo as rupturas e as permanências, mesmo quando não a vemos num primeiro olhar”.  Jorge Luzio

 

Sinopse do livro

Este livro é uma coletânea de artigos e textos inéditos do autor, que tem como ponto de partida um estudo sobre a coleção de marfins do Museu de Arte Sacra de São Paulo. A obra discute temas relevantes para a pesquisa sobre marfins, como o mapeamento de acervos, o colecionismo e a investigação em inventários, centros de documentação e arquivos coloniais, em diálogo com a perspectiva decolonial. Além disso, busca estabelecer conexões entre a História da Arte e a Educação, estimulando a interação entre Escola, Museologia e núcleos de pesquisa. Aproximando-se de áreas como História da África, História da Ásia e História Ambiental, a obra propõe novas abordagens para os estudos sobre marfins, suscitando reflexões sobre o papel da arte na sociedade, a preservação do patrimônio e o ensino de História. Com uma linguagem clara e acessível, o autor propõe avanços significativos na área de estudos de marfins e na relação entre arte e educação. A publicação dá sua contribuição como elemento adicional como fonte à pesquisa em arte e história.

 

 

 

Exibição temática no Inhotim

 

A titulação extensa “Quilombo: vida, problemas e aspirações do negro”, refere-se a exposição, em cartaz na Galeria Lago, Inhotim, MG. Dividida em cinco núcleos (Novo poder: reformulando uma vanguarda; Vidas públicas; Vida e aspirações do negro; Elas Falam; e Reescrita da história: construção e afirmação da identidade), que estabelecem um diálogo com temas como questões de representação e identidade da figura do negro na sociedade de época passada, e os relaciona à produção contemporânea de artistas brasileiras e brasileiros.

A mostra traz obras de cerca de 30 artistas e coletivos: Aline Motta, Ana Elisa Gonçalves, Antonio Obá, Arjan Martins, Desali, Elian Almeida, Erica Malunguinho, Eustáquio Neves, Gustavo Nazareno, Januário Gárcia, Juliana dos Santos, Kika Carvalho, Larissa de Souza, Lita Cerqueira, Moisés Patrício, Mulambö, Nacional Trovoa, No Martins, O Bastardo, Panmela Castro, Paulo Nazareth, Pedro Neves, Peter de Brito, Rafael Bqueer, Robinho Santana, Ros4 Luz, Rosana Paulino, Sidney Amaral, Silvana Mendes, Tiago Sant’Ana, Wallace Pato, Yhuri Cruz, Zéh Palito.

Até 16 de julho.

 

7 artistas no MON

 

Vale registrar que a exposição “Carne Viva – Ambiguidade da Forma”, realizada pelo Museu Oscar Niemeyer (MON), Curitiba, PR, reuniu o trabalho de sete artistas: Washington Silvera, Hugo Mendes, Eliane Prolik, Cleverson Salvaro, Cleverson Oliveira, Cíntia Ribas e Carina Weidle. Com curadoria de Bruno Marcelino e Jhon Voese, a mostra contou com 55 obras, além de textos poéticos de Arthur do Carmo, e poderá ser vista até 16 de abril na Sala 7.

“Temos aqui um feliz encontro de gerações de artistas paranaenses que têm forte ligação com o MON”, diz a diretora-presidente do Museu Oscar Niemeyer, Juliana Vosnika. “Cada um a seu modo, estes artistas transformam a matéria e produzem uma realidade diferente do que vemos no cotidiano. Usando os mais diversos materiais – desde os mais brutos como o concreto até os mais refinados como a laca polida, ou da cerâmica vitrificada até a imbuia esculpida -, fazem com que a forma, em seu sentido mais amplo, seja seu discurso”, comenta.

Segundo os curadores, a exposição oferece a oportunidade de revisitar a expressão “natureza da arte” e retomar sua pertinência. “Em vez de classificar os trabalhos mediante suas propriedades formais, ela descreve sensibilizações e reflexões possíveis, mas que escapam às determinações corriqueiras”, dizem. “Talvez seja esse o efeito da forma ambígua, cujo ânimo também percorre as palavras de Arthur do Carmo.”

Quatro gerações de artistas estão reunidas na mostra. A proposta é aproximar o público e demonstrar na prática a potência estética e política de cada discurso, que pode ser sutil ou mais explícita, mas está presente em cada obra. O visitante percebe que a maioria dos trabalhos é tridimensional, o que evidencia a intenção de permitir um diálogo da exposição com o espaço físico do museu. A mostra ocupou quatro ambientes, além da “antessala”, onde é apresentada uma instalação sonora assinada pelos artistas Eliane Prolik e Cleverson Salvaro.

 

Vânia Mignone no Instituto Tomie Ohatake

13/abr

 

 

Um grande mural dedicado à tragédia yanomami recebe o público que poderá visitar mais de cem obras nos múltiplos suportes constituintes da trajetória da artista. Na esteira dos projetos que o Instituto Tomie Ohtake, Pinheiros, São Paulo, SP, tem realizado nos últimos anos para abrir novas investigações acerca da representatividade e da importância de artistas mulheres, o espaço paulistano traz agora a exposição “De tudo se faz canção” que, com curadoria de Priscyla Gomes, observa em retrospectiva a trajetória de Vânia Mignone, permanecendo em cartaz até 04 de junho.

Com um amplo panorama, a exposição, com mais de uma centena de obras, resgata os percursos da artista nos mais diversos formatos: desenhos, colagens, ilustrações para obras literárias, capas de discos, gravuras e pinturas. O conjunto reunido chama atenção pela vivacidade das cores, pela expressividade de figuras em grande dimensão, além da diversidade de suportes e técnicas que aparecerem conjugados, mostrando um vasto universo de experimentação, em que referências da propaganda, do design, do cinema, das histórias em quadrinhos e da música convivem com trabalhos em escalas distintas. Segundo Priscyla Gomes, “As narrativas exploradas por Vânia destacam-se pelo modo como ela articula desde questões prosaicas até aspectos latentes da cultura e da política brasileiras”.

A mostra empresta seu título de um verso da música Clube da Esquina nº 2, de Milton Nascimento, Lô e Márcio Borges, composta para o álbum homônimo de 1972. A partir das conversas entre a curadora e a artista, a proposta foi resgatar a importância da MPB no processo criativo de Vânia. A artista paulista faz recorrente alusão ao seu anseio de fazer de sua pintura canção, contagiando aquele que a observa. “Vânia construiu para si uma estrada, incorporando a música popular brasileira ao seu processo criativo cotidiano de ateliê”, destaca a curadora do Instituto Tomie Ohtake.

Priscyla Gomes enfatiza a síntese sinérgica que constitui o repertório da artista, marcado por letreiros de outdoors e pela xilogravura. “Seu vasto léxico remete-se ainda à qualidade de incorporar elementos fundamentais dessas referências, dentre eles, a coesa relação entre imagem e palavra”.

O mural em grande escala e cores vibrantes dedicado ao recente episódio da tragédia humanitária yanomami, prossegue a curadora, não nos deixa esquecer que fazer canção é também refletir sobre o silêncio e suas consequências, sobre como narrar o desmedido e o intragável. “Em meio a tantos gases lacrimogênios, os trabalhos de distintas épocas dessa retrospectiva nos convidam a fabularmos, criando nossa própria canção, uma viagem de ventania pelas estradas por Vânia trilhadas até aqui”, completa.

 

Sobre a artista

Vânia Mignone, 1967, Campinas. Vive e trabalha em Campinas. É Bacharel em Publicidade e Propaganda pela PUC-Campinas e Bacharel em Educação Artística pela UNICAMP. Entre suas exposições individuais destacam-se: Ecos, Museu de Artes Visuais da UNICAMP, Campinas (2019); Eu poderia ficar quieta mas não vou, SESC, Presidente Prudente (2017); Casa Daros, Rio de Janeiro; Cenários, Museu de Arte Contemporânea da USP, São Paulo (2014). Participou de diversas exposições coletivas como: Por um sopro de fúria e esperança, Mube, São Paulo (2021); Crônicas Cariocas para Adiar o Fim do Mundo, Museu de Arte do Rio, Rio de Janeiro (2021); Língua Solta, Museu da Língua Portuguesa, São Paulo (2021); 1981/2021: Arte Contemporânea Brasileira na Coleção Andrea e José Olympio Pereira, Centro Cultural Banco do Brasil, Rio de Janeiro (2021); Mulheres na Coleção do MAR, Museu de Arte do Rio, Rio de Janeiro; Mínimo, Múltiplo, Comum, Pinacoteca, São Paulo; 33ª Bienal de São Paulo – Afinidades Afetivas, Fundação Bienal, São Paulo (2018).

 

 

Charles Lessa no Instituto Ling

 

O Instituto Ling recebe o artista visual cearense Charles Lessa para realizar uma intervenção artística em uma das paredes do centro cultural. De 10 a 14 de abril o público poderá acompanhar gratuitamente a criação da nova obra, observando as escolhas, os gestos e os movimentos do artista. Após a finalização, o trabalho ficará exposto para visitação até o dia 03 de junho, com entrada franca.

A atividade faz parte do projeto LING apresenta, que este ano conta com a curadoria de Bitu Cassundé, pesquisador e atual Gerente de Patrimônio e Memória do Centro Cultural do Cariri (Crato/CE). Após a finalização do trabalho, Lessa comentará a experiência e o resultado em bate-papo com o público e o curador no sábado, 15 de abril, às 11h, em frente à obra. Faça sua inscrição sem custo.

 

 Beiradas – a margem como centro

A ideia, ou imagem, do que entendemos sobre o Nordeste brasileiro se configura, em muito, pelo olhar do outro, pelo engessamento clichê, preconceituoso, racista, que alimenta narrativas ultrapassadas e solidifica um imaginário colonizado. Mas são muitos os “Nordestes” que se reinventam e se firmam como possibilidades de reconstrução, afinação e reorganização dessas centralidades. Pensar o centro hoje é, principalmente, subverter a ordem e observá-lo a partir das beiradas. Dentro de um mesmo território ecoam diferentes posições, contraposições e reposicionamentos; o corpo, como um agente importante dessas transformações, reorganiza diferentes paisagens por meio dos deslocamentos, das diásporas internas e do desejo. A dialética entre o Corpo e o Território também é atravessada por questões políticas, sociais e culturais, que, a partir do lugar da subjetivação, reorganizam, fabulam e ficcionalizam outras composições desse mesmo território. As beiras, as margens, as bordas, as extremidades se reconfiguram como importantes centros, que elaboram novas perspectivas sobre o Nordeste brasileiro – outras paisagens, outras maneiras de observar um mesmo ponto, de acessar as memórias, a ancestralidade e os mestres e mestras da cultura popular. Estão também na linguagem e na oralidade importantes mecanismos de ativação desses distintos territórios. A curadoria desta edição evidencia um recorte de artistas que possuem a margem como centro, seja numa perspectiva geográfica ou poética.

Bitu Cassundé

 

Sobre o curador

Bitu Cassundé nasceu em Várzea Alegre, CE, 1974. É Gerente de Patrimônio e Memória do Centro Cultural do Cariri (Crato, CE), foi curador do Museu de Arte Contemporânea do Ceará de 2013 a 2020 e coordenou o Laboratório de Artes Visuais do Porto Iracema da Artes de 2013 a 2018. Também integrou a equipe curatorial do projeto À Nordeste, no SESC 24 de Maio, em São Paulo (2019), juntamente com Clarissa Diniz e Marcelo Campos; participou da equipe curatorial do Programa Rumos Artes Visuais do Itaú Cultural de São Paulo (2008 a 2010); e dirigiu o Museu Murillo La Greca, em Recife (2009 a 2011). Em 2015, participou da 5ª edição do Prêmio CNI SESI SENAI Marcantonio Vilaça, da equipe curatorial do 19º Festival Videobrasil e do Projeto Arte Pará. Com Clarissa Diniz, formou a coleção contemporânea do Centro Cultural Banco do Nordeste, vinculado ao projeto Metrô de Superfície. Em 2022, foi curador da exposição Antonio Bandeira: Amar se Aprende Amando, na Pinacoteca do Estado do Ceará. Suas últimas pesquisas se dedicam a investigar as relações de trânsito entre as regiões Norte e Nordeste do Brasil, com ênfase nos ciclos econômicos, nos fluxos migratórios e nas conexões entre vida, desejo e arte. Questões relacionadas à subjetividade, confissão, intimidade e biografia também integram suas pesquisas. Atualmente, desenvolve pesquisa de doutorado em Artes na UFPA e vive entre Crato e Belém.

 

Sobre o artista

Charles Lessa nasceu em Crato, CE, 1993. É artista visual licenciado pela Universidade Regional do Cariri – URCA, desenvolve trabalhos em pintura, com desdobramentos na arte urbana, e escultura. Cria ficções com a pintura figurativa, na qual investiga a estética popular em diálogo com a arte contemporânea. Participou de exposições individuais e coletivas, como Que na próxima existência se houver eu nasça girafa, no CCBNB, em Cariri (2019), e Viagem à aurora de um novo mundo, na galeria b_arco, em São Paulo (2020), e no 72º Salão de Abril, em Fortaleza (2021). Também participou de edições do Concreto – Festival Internacional de Arte Urbana e foi artista pesquisador no Laboratório de Artes Visuais do Porto Iracema das Artes em 2021. Foi indicado ao Prêmio Pipa 2022. Vive e trabalha em Crato, no Cariri (Ceará).

Esta programação é uma realização do Instituto Ling e Ministério da Cultura / Governo Federal, com patrocínio da Crown Embalagens.

 

 

Revisão histórica do Brasil

 

O Centro Cultural Sesc Quitandinha, em Petrópolis, será inaugurado com uma exposição que repensa a história do Brasil a partir de obras de doze artistas negros, e uma programação de música, cinema, atividades para as crianças, oficinas e um seminário.

Os curadores Marcelo Campos e Filipe Graciano reuniram aproximadamente 40 obras, que ocuparão um espaço monumental de 3.350 metros quadrados, dos artistas Aline Motta, Arjan Martins, Ayrson Heráclito, Azizi Cipriano, Cipriano, Juliana dos Santos, Lidia Lisbôa, Moisés Patrício, Nádia Taquary, Rosana Paulino, Thiago Costa e Tiago Sant’ana, das quais seis comissionadas especialmente para a exposição. A mostra busca ainda refletir sobre a cidade de Petrópolis, conhecida como “imperial”, e que tem uma forte memória negra.

O Café Concerto do Centro Cultural Sesc Quitandinha, amplo teatro com capacidade para 270 pessoas, vai sediar a programação de música e de cinema. Os curadores são todos negros. A curadoria de música é do cantor, compositor, violonista e poeta baiano Tiganá Santana. A mostra de cinema terá como curador Clementino Junior, cineasta dedicado à difusão da obra audiovisual racializada. O grupo Pretinhas Leitoras, formado pelas gêmeas Helena e Eduarda Ferreira, nascidas em 2008 no Morro da Providência, no Rio de Janeiro, estará à frente das atividades infantis, que serão feitas na Biblioteca do Centro Cultural. Para ampliar a percepção do público das obras expostas, haverá oito oficinas e laboratórios, nos salões da exposição e nas Varandas. Flávio Gomes, pesquisador do pensamento social e da história do racismo, da escravidão e da história atlântica, será o curador das ações da linguagem escrita, literária e oral paralelas à exposição. Estão também sendo programadas performances com grupos artísticos da região.

No dia 15 de abril, às 19h, haverá um show de Juçara Marçal.

 

Revisões históricas no Brasil

O curador Marcelo Campos diz que passou a observar “o modo como os artistas negros lidam com o período das navegações”. “Este trauma, esta tragédia de nossa sociedade, exibidos nas documentações de maneira normalizada, com ilustrações de grilhões, correntes. Junto com os artistas, pensamos em como lidar com isso”, diz. “De que modo a arte lida com o imaginário do trauma da escravidão, da diáspora”. Ele menciona as pesquisas feitas pelo sociólogo inglês Paul Gilroy, estudioso da diáspora negra, e autor do livro “Atlântico negro” (1993), tema presente nos trabalhos, e lembra que a artista Rosana Paulino, em conjunto de trabalhos de 2016, chamou de “Atlântico vermelho”, em alusão a Gilroy, evocando a violência da escravidão e seus desdobramentos até os dias de hoje. Marcelo Campos conta que em aulas, bibliografias e várias ações, há “importantes revisões históricas no Brasil, com a inclusão de autoras e autores negros”. Enquanto nos anos 1990 os afro-americanos já “iam direto na ferida”, observa, no Brasil as iniciativas eram isoladas. As políticas públicas dos últimos 20 anos, entretanto, com as cotas para estudantes negros, “em que a UERJ foi pioneira”, e a penetração das universidades no interior do país, como Cariri e Recôncavo Baiano, propiciaram a que os negros passassem a ter acesso às diversas áreas de conhecimento. “Esta pressão obrigou a academia e os espaços de arte a se modificarem”. Dos doze artistas convidados, seis foram comissionados para criarem trabalhos especialmente para a exposição: Azizi Cypriano, Juliana dos Santos, Moisés Patrício, Pedro Cipriano, Thiago Costa e Tiago Sant’ana. O título “Um oceano para lavar as mãos” é retirado de um verso da música “Meia-noite”, composta por Chico Buarque e Edu Lobo para a peça “O Corsário do Rei” (1985), de Augusto Boal. “Este verso sempre me chamou a atenção na música. A ideia de limpar – que pode ter sentido de cura, de purificação, presente em obras como as de Ayrson Heráclito – ou de não se fazer nada a respeito”.

 

Petrópolis: Uma cartografia negra

Marcelo Campos destaca que a exposição busca também “repensar a cidade de Petrópolis”. Conhecida como cidade imperial, Petrópolis tem uma cartografia de presenças negras, tendo abrigado quilombos em várias regiões do município: Quilombo da Tapera, no Vale das Videiras – com uma comunidade quilombola reconhecida pela Fundação Palmares em 2011 – Quilombo Manoel Congo, Quilombo Maria Comprida, Quilombo da Vargem Grande, e, de acordo com pesquisadores, também no local onde em 1884 foi construído o Palácio de Cristal, no Centro.

Filipe Graciano, arquiteto e urbanista, idealizador do Museu de Memória Negra de Petrópolis, e coordenador de Promoção da Igualdade Racial do Município, conta que a expografia vai salientar a ideia de encontros contida nos múltiplos significados que a palavra oceano traz. “Independentemente de nossa história de apagamento, nosso país se revigora com a presença negra. Além do trauma e da tragédia impostos aos negros, o oceano traz uma perspectiva de encontro, de afeto, cura, cuidado e resiliência”, explica. “As obras dos artistas refletem este encontro de várias culturas, a diversidade cultural da África, na criação dessa memória que atravessa a vida como ela é”. Para ele, a exposição “revisita este apagamento, esses riscados que repensam e refazem essa memória, essa presença”. “A monumentalidade do espaço do Centro Cultural Sesc Quitandinha vai ao encontro da monumentalidade da existência negra no Brasil”, observa. Graciano assinala a importância do olhar curatorial negro, com artistas negros, para contar “outra história, que não a única no Brasil”. “A potencialidade das mãos, de lavar a história”. “A exposição é quase um ato de reparação histórica”, afirma, observando que o trabalho educativo dará uma contribuição para “repensar a memória da cidade”.

 

A obra de Athos Bulcão no Farol Santander

11/abr

Considerado como um artista completo, o Farol Santander exibe pela primeira vez em Porto Alegre, RS, obras de Athos Bulcão. Seus trabalhos percorrem áreas múltiplas como o desenho, pintura, painéis, design de superfície, murais, vestimentas e paramentos litúrgicos. Sua grande marca é a integração da arte na Arquitetura, como os muros escultóricos do Congresso Nacional e também do Hospital Sarah Kubitschek.

A exposição Athos Bulcão traz um recorte de sua extensa obra. Mais de 160 obras podem ser visitadas no mezanino do prédio e também na área externa, resultando uma ampla imersão e rica experiência para o público. O conjunto destaca pinturas, projetos e desenhos, peças gráficas, painéis de azulejos, fotomontagens, máscaras e objetos do período de 1940 a 2000. Três jogos de diferentes padrões de azulejos, estão em uma das salas do mezanino, e permitem que o público tenha a experiência de criar sua própria obra de arte. Na área externa, dois cubos com fachadas de azulejos de diferentes cidades do Brasil e do exterior, convidam o público para conhecer o trabalho de Athos no interior do Farol Santander indo ao encontro que dizia o próprio artista, “a arte existe para impactar, para provocar as pessoas”. O legado doado pelo artista está preservado na Fundação Athos Bulcão, em Brasília. Este acervo inclui as criações de ateliê – desenho, pintura, gravura, fotomontagem, objetos, o trabalho gráfico em jornais, revistas, livros e capas de discos. Athos Bulcão se destacou em seu diálogo direto com a Arquitetura, porém, sua obra vai muito além.

A curadoria da exposição Athos Bulcão é de Marília Panitz e André Severo e a produção é de Daiana Castilho Dias, presidenta do IPAC- Instituto de Pesquisa e Promoção da Arte e Cultura.

 

Sobre o artista

Nascido no bairro carioca do Catete em 1918, Athos Bulcão seguiu o roteiro obrigatório daquela época para jovens ricos ou de classe média, estudar Medicina, Engenharia ou Direito. No seu caso, ficou com a primeira opção, mas abandonou o curso em 1939 para se dedicar à arte. Em 1948 recebeu uma bolsa de estudos do Governo Francês e foi estudar em Paris. Retornou ao Brasil em 1949, e em 1952 foi admitido no serviço de documentação do Ministério da Educação e Cultura, e mais tarde passou a colaborar em projetos do arquiteto Oscar Niemeyer, com quem fez parceria nas obras de construção de Brasília e também com o premiado arquiteto João Filgueiras Lima. Em 2018, uma grande exposição em Brasília foi organizada para marcar os 100 anos do artista, que teve a capital da República como o principal cenário de suas obras monumentais. O artista faleceu aos 90 anos, vítima do Mal de Parkinson, em Brasília, DF, em 2008.

Mourão na Casa França-Brasil

 

Com curadoria de Marcus de Lontra Costa e Rafael Peixoto, a exibição individual “Lugar Geométrico”, de Raul Mourão, abriu a programação 2023 da Casa França-Brasil, Centro, Rio de Janeiro, RJ, reunindo trabalhos em diferentes escalas que exploram as relações com a arquitetura histórica do prédio a partir das dicotomias entre dentro e fora, cheio e vazio, público e íntimo, instável e estável.

Na mostra, Raul Mourão recria o ambiente de seu ateliê, com quatro esculturas cinéticas grandes, de até 5 metros de altura, além de desenhos e aproximadamente 40 maquetes de suas esculturas, entre 20 e 30 cm cada uma. O título da exposição, “Lugar Geométrico”, inspira-se em um conceito da geometria analítica para propor reflexões sobre as questões de pertencimento que atravessam a arte contemporânea, tomando as formas e linhas como ponto de partida. Para isso, a exposição traz trabalhos que exploram o movimento pendular em esculturas de ferro da série “Rebel”, com destaque para duas obras em grande escala criadas pelo artista em 2020 que ocupam o grande átrio central da Casa França-Brasil. Além disso, um dos salões laterais, apresenta maquetes e estudos de trabalhos já realizados e de séries ainda em desenvolvimento, transmitindo a sensação de uma visita ao ateliê e propondo ao público uma experimentação íntima do processo de criação do artista. “Na sala menor a curadoria optou por apresentar uma espécie de visita ao ateliê. Decidimos então reunir num mesmo espaço desenhos de diferentes técnicas e formatos, fotografias, pinturas, um vídeo e um conjunto de 36 maquetes que nunca havia sido  mostrado anteriormente. Essa montagem meio caótica, onde vários meios (por vezes antagônicos) convivem, remete ao ambiente e às experiências que vão acontecendo e se sobrepondo cotidianamente no ateliê”, diz o artista. “Em meio ao turbilhão de imagens e ideias da contemporaneidade Raul Mourão cria, constrói e ressignifica a essência construtiva na arte. Liberta de seus compromissos utópicos, a geometria se afirma como síntese de um discurso poético que acentua a atemporalidade da criação artística. Nesse encontro entre a objetividade do cálculo e a surpresa das poéticas dos movimentos pendulares, a produção de Raul Mourão dialoga de maneira impactante com a arquitetura da Casa França-Brasil e acentua a potência criativa do artista”, complementa Marcus de Lontra Costa, que divide a curadoria com Rafael Fortes Peixoto.

 

O êxito de Beatriz Milhazes

06/abr

 

A National Gallery, o sétimo museu do mundo a receber mais visitantes, adquiriu “Romântico americano” (1998), de Beatriz Milhazes, que vai integrar a partir de agora o acervo da instituição. Outras instituições como Museum of Modern Art (MoMA), Centre Pompidou, Solomon R. Guggenheim Museum e Museo Reina Sofia também têm obras de Beatriz Milhazes em suas coleções. Beatriz Milhazes fez este trabalho usando uma técnica de “monotransferência”, um processo de colagem envolvendo elementos pintados presos à tela. O título da obra faz alusão ao período romântico nas artes do início do século XIX, quando o Brasil era colônia de Portugal, ao mesmo tempo em que afirma a presença do Sul Global no uso da palavra “América.” Em “Romantico americano”, Beatriz Milhazes pintou e aplicou formas geométricas multicoloridas, arabescos pulsantes com flores drapeadas e contornos sugestivos de rendas coloniais sobre fundo coral. As flores evocam o Jardim Botânico do Rio de Janeiro próximo ao ateliê da artista, assim como antigas ideias de feminilidade e associações com o corpo feminino. As obras de Beatriz Milhazes, uma das mais celebradas artistas contemporâneas do Brasil, revelam seu profundo envolvimento com a complexa história colonial de seu país natal, caracterizada pelo encontro das culturas indígena, africana e europeia. Seu trabalho também traz formas visuais relacionadas às artes vernáculas do Brasil, como cerâmica e têxteis, em diálogo com aqueles que extraem da tradição da abstração modernista. Sua assinatura são círculos de cores vivas e formas curvilíneas que se sobrepõem e se cruzam com formas orgânicas e motivos florais.

 

Sobre a artista

A carreira de Beatriz Milhazes começou em 1980, quando ingressou na Escola de Artes Visuais do Parque Lage (EAV), no Rio de Janeiro, estudando com o artista escocês Charles Watson. Em 1984 participou da exposição “Como vai você, Geração 80?”. Ao longo de sua carreira, Beatriz Milhazes recebeu encomendas para uma série de obras arquitetônicas de grande porte: uma série de formas de vinil para o exterior da loja de departamentos Selfridges em Manchester, Reino Unido (“Gávea”, 2004); 19 composições para os arcos da estação Gloucester Road do metrô de Londres (“Peace and Love”, 2005); quatro imagens murais para o projeto Murals of La Jolla (“Gamboa Seasons”, 2021, baseado em quatro pinturas acrílicas sobre tela de 2010); e, mais recentemente, um mural de mosaico cerâmico e um mural pintado no New York-Presbyterian Hospital (“Tuiuti e Paquetá”, 2018).

 

 

Grafismo corporal com Kawakani Mehinako

 

Pinturas de Grafismo, símbolo dos artefatos e artesanias que partem da cosmovisão dos povos originários do XINGÚ. Nessa intervenção, as famílias serão convidadas a terem contato com os grafismos, símbolo de proteção e força para os povos da floresta. As pinturas serão feitas com jenipapo para os adultos e com tintas coloridas, atóxicas e laváveis para as crianças. Durante a oficina, Kawakani Mehinako compartilhará saberes sobre usos, costumes e significados dos grafismos pintados no corpo. A atividade conta com produção da artista têxtil Clarissa Neder.

 

Sobre o artista

Kawakani Mehinako veio da Terra Indígena do Alto Xingu estudar em São Paulo, em 2019. Em sua estada em São Paulo vem compartilhando um pouco de sua cultura e de seus saberes. Ministra oficinas e cursos em diversos espaços culturais como o Museu indígena, Instituto Moreira Sales onde trabalha atualmente no projeto Leituras da Exposição Xingu Contatos.

 

Data: 08 de abril, 2023

Horário: 15h

Atividade presencial, para crianças a partir de 3 anos, acompanhadas de suas(eus) responsáveis. Inscrições com 30 minutos de antecedência com o MAM Educativo na recepção do museu. Para intérprete de Libras ou audiodescrição, solicitar pelo e-mail educativo@mam.org.br com até 48h de antecedência. Essa atividade faz parte do programa Família mam.