Longo Bahía na Argentina

08/ago

A artista brasileira Dora Longo Bahía está na Sala de Audiovisual do Parque de La Memória, pela Bienal Sur (Bienal Internacional de Arte Contemporáneo de América del Sur). Parque de la Memoria – Monumento a las Víctimas del Terrorismo de Estado, Av. Costanera Norte Rafael Obligado 6745, Adyacente a Ciudad Universitaria, Ciudad Autónoma de Buenos Aires, Argentina.

 

“Choque” leva o título da unidade antidistúrbios da polícia brasileira, também conhecida como “Tropa de Choque”, uma divisão treinada e equipada para reprimir multidões e protestos no espaço público. A videoinstalação de Dora Longo Bahía, de profunda potência visual, questiona criticamente os métodos que os poderes do Estado aplicam para suprimir as forças de resistência. Assim, longe de se estabelecer como símbolo de proteção, as forças policiais transmitem em “Choque”, uma filosofia do medo e, embora a obra ancore sua base conceitual na realidade histórico-política do Brasil contemporâneo, a narrativa visual implantada pela artista encontra ressonâncias semelhantes em várias cidades ao redor do planeta.

 

Sobre a artista

 

Dora Longo Bahía nasceu em São Paulo, 1961. Artista visual e doutora em Poéticas Visuais pela Universidade de São Paulo. Seus trabalhos são desenvolvidos em várias mídias, incluindo pintura, fotografia, vídeo, instalações sonoras e livros. Sua ligação com o punk rock dos anos 1980 levou-a a participar de diferentes bandas como Disk-Putas e Blah Blah Blah. Dora Longo Bahía se define como um produtor de imagens e suas obras tratam, sem buscas retóricas, da violência do mundo contemporâneo.

 

Até 13 de outubro.

 

Stockinger 100 anos 

05/ago

O Museu de Arte do Rio Grande do Sul, MARGS, Porto Alegre, RS, inaugura uma ampla e extensa exposição em homenagem ao centenário de nascimento de Francisco Stockinger (1919-2009). Ocupando as três galerias das Pinacotecas, o espaço mais nobre do museu, “Stockinger 100 anos” reúne mais de 100 obras, procedentes do acervo do MARGS e de coleções públicas e privadas.

 

A exposição percorre as diferentes fases do artista que, com seus “Guerreiros”, “Gabirus”, esculturas em pedra e figuras femininas, é reconhecido como um dos mais importantes representantes da escultura no Brasil, também aclamado ainda em vida como um dos mais consolidados referenciais da arte produzida no Rio Grande do Sul. A abertura da exposição se dá exatamente no dia de nascimento de Stockinger. Além do centenário de nascimento, o ano de 2019 também registra uma década de sua despedida. A curadoria de “Stockinger 100 anos” é de Francisco Dalcol, diretor-curador do MARGS, e Fernanda Medeiros, curadora-assistente.

 

 

STOCKINGER 100 ANOS

 

Sobre o artista

 

Nascido em Traun, na Áustria, em 1919, Francisco Alexandre Stockinger criou-se em São Paulo e iniciou-se na escultura no Rio de Janeiro, com Bruno Giorgi. Conviveu com personagens fundamentais na fixação da arte moderna no Brasil: além de Bruno Giorgi, Di Cavalcanti, Milton Dacosta, Maria Leontina, Marcelo Grassmann e Iberê Camargo. Transferiu-se para Porto Alegre nos anos 1950, onde seria um dos fundadores do Atelier Livre da Prefeitura Municipal de Porto Alegre e, por duas vezes, diretor do MARGS. Depois de ter construído obra importante em xilogravura, ganhou projeção nacional com seus guerreiros em ferro e madeira, que costumam ser associados com a resistência à ditadura militar. Xico foi antes aviador, meteorologista e diagramador. Também coleciona cactos (é responsável pela identificação de pelo menos duas novas espécies). Nas palavras do diretor-curador do MARGS, Francisco Dalcol, a exposição em homenagem a Stockinger é como que um dever do MARGS: “Por ser Stockinger um dos mais consolidados referenciais da arte produzida no Rio Grande do Sul, e também porque sua arte extrapolou as fronteiras. Além disso, teve um papel institucional decisivo no sistema da arte no Estado, o que faz dele um personagem fundamental na nossa cultura”. No texto curatorial da exposição, o diretor-curador escreve que, com esta exposição o MARGS afirma o compromisso com a nossa história artística: “E em seu dever de prestar esta importante homenagem, cuja solenidade se torna necessária para que a relevância de um grande artista seja recolocada e não se apague da memória coletiva. Ao assinalar e afirmar a importância de Stockinger, o esforço é tomar o seu centenário de nascimento, e os 10 anos de sua despedida, como um momento oportuno para se difundir o seu legado. O intento é proporcionar um reencontro e um renovado interesse com uma produção tão conhecida e aclamada, mas sobretudo oferecer uma experiência intensa e enriquecedora para um público mais amplo e não totalmente familiarizado com a importância de sua obra e vida, notadamente as novas gerações”.

 

Sobre a exposição

 

“Stockinger 100 anos” reúne mais de 100 obras, entre esculturas, gravuras, documentos e outros itens. Na concepção curatorial, optou-se por uma exposição que não segue uma ordem cronológica estrita, preferindo estabelecer aproximações e possíveis relações entre diferentes fases e vertentes da extensa obra de Stockinger, produzida ao longo de seis décadas. Dessa estratégia de organização, resulta uma mostra estruturada em torno de núcleos temáticos, formais e conceituais. No texto curatorial, Francisco Dalcol escreve: “Reconhecendo se tratar de um artista já legitimado e amplamente abordado, a exposição se assume mais panorâmica do que retrospectiva, tendo sido organizada segundo estratégias que procuram oferecer compreensão e legibilidade frente a uma produção tão extensa quanto diversa em suas etapas. Reforçam a opção por esse viés os diversos textos de mediação apresentados no espaço expositivo, com os quais se procura situar e contextualizar a obra e a trajetória do artista”.

Na galeria central das Pinacotecas, estará reunido um grande conjunto da estirpe dos “Guerreiros”, na qual se incluem figuras como profetas, sentinelas, touros, cavalos e personagens femininas. O diretor-curador escreve: “No começo dos anos 1960, depois de um período dedicado às artes gráficas (desenho de imprensa e gravura), Stockinger retomou a prática e pesquisa em escultura. Começou a fundir em bronze no quintal da casa, de modo caseiro e mesmo rudimentar. Nesse processo artesanal e experimental, desenvolveu formas e texturas que o levariam a elaborar a estirpe em torno da figura mítica do guerreiro. Seguindo em suas experimentações, passou a trabalhar os “Guerreiros” com troncos de árvore e peças metálicas soldadas, desenvolvendo aí um inventivo processo construtivo – colagem e sobreposição, e não mais modelagem ou entalhe -, que configura a sua mais particular e notável contribuição para o campo da escultura”.

 

Já nas duas galerias laterais, estão contempladas as demais vertentes de sua produção. Em uma delas, estão reunidas dezenas de gravuras realizadas entre os anos 1950 e 1960, juntamente a uma seleção de itens que destaca a sua atuação na imprensa, em especial a gaúcha, onde trabalhou com diagramação, ilustração, caricatura e charge. Sobre a produção em gravura, Francisco Dalcol descreve: “Ainda no final da década de 1950, Stockinger passou a praticar gravura. Dessa experiência, ficou notabilizado por uma importante produção em xilo (gravura impressa a partir de matriz de madeira), manifestando já aí forte pendor tanto à consciência social como às vertentes expressionistas. Contudo, a produção em gravura de Stockinger não se valeu das intensidades da expressão para uma dramatização documental da vida. Por outra via, abordou o drama social coletivo pela chave do conflito existencial, a partir de personagens excluídos e marginalizados da sociedade, tanto urbana como rural, a exemplo de pobres, boêmios, prostitutas e abigeatários”.

 

Nesta mesma galeria, outra seção destaca o seu trabalho de escultura em pedra, sobretudo o mármore. Segundo Dalcol: “São esculturas serenas e silenciosas, que enfatizam o apelo à contemplação. Convidam ao deleite da beleza lírica e poética, mobilizando uma sensibilidade própria à forma e à matéria, e também ao que pode haver de prazer e sensual no resgate desses sentidos. Esculpindo em pedra, Stockinger não mais acrescenta nem molda, apenas subtrai o excesso. Há volume e cor, mas também ausência. A narrativa e o comentário da realidade social dão lugar à opção pelo silêncio, da arte como objeto em si. Aqui, o artista deixou-se guiar pela operação de reconhecer na forma bruta da matéria a sua vocação, encontrando assim a via de uma abstração informal”.

 

Por fim, na terceira galeria, estão reunidas peças diversas, como os seus conhecidos “Gabirus”, que retratam a miséria do povo do nordeste, e também sua “Magrinhas”, figuras femininas que se destacam pelo aspecto longilíneo. O diretor-curador comenta: “Nos anos 1990, Stockinger recobrou as cargas de um comentário social mais explícito em sua produção artística. Sensibilizado pelas notícias da fome e miséria que teimavam a chegar do nordeste brasileiro, concebeu as figuras dos “Gabirus”, os seus seres nanicos, expressivos do drama humano que persiste a recair sobre as populações menos favorecidas. Como modo de denúncia, Stockinger procurava intencionalmente chocar com suas impactantes peças fundidas em bronze, que também já apontavam, uma vez mais, para a aproximação com algo do grotesco presente em sua produção”.

 

Nesta última sala, também estão reunidas diversas esculturas que explicitam o aspecto ancestral e primitivo da produção de Stockinger, a exemplo de grandes mestres da arte moderna. O diretor-curador salienta: “Nessas esculturas, evidencia-se que a produção de Stockinger sempre apontou para o lastro da tradição artística ocidental. Mais precisamente, para a revalorização da escultura primitiva sugerida por grandes mestres europeus, filtrada por um viés humanista e por uma figuração livre. Entre essas referências figuram como incontornáveis escultores a exemplo de Alberto Giacometti, Aristide Maillol, Auguste Rodin, Constantin Brancusi, Henry Moore, Jean Arp e Marino Marini. Ao se valer a seu modo desse aspecto primitivo, arcaico e ancestral encontrado nos artistas modernos, tornado emblema de sua fidelidade e coerência artísticas, Stockinger alcançou uma obra que continua a significar por sua dimensão tão humanista quanto universal”.

 

 

Texto curatorial

 

Aclamado como um dos mais consolidados referenciais da arte do Rio Grande do Sul, Francisco Stockinger (1919-2009) é também reconhecido como um dos mais importantes representantes da escultura no Brasil. Hábil desenhista e artesão, esculpiu em gesso, madeira, metal e pedra, trabalhando também com desenvoltura em gravura, desenho, ilustração, charge e caricatura.

 

Nos anos 1950, trilhando o caminho inverso ao tradicional – do centro para a província -, mudou-se do Rio de Janeiro para Porto Alegre, cidade onde passaria a vida, tornando-se uma personalidade fundamental do cenário cultural com sua forte e atuante presença. Além de artista, teve um papel decisivo como agente do sistema da arte no Estado, participando de sua constituição ao se engajar em causas coletivas à frente de instituições culturais como o MARGS, o Atelier Livre e a Associação Chico Lisboa.

 

Ao lado de Iberê Camargo e Vasco Prado, Stockinger formou o tripé de maior projeção da arte moderna gaúcha, compondo uma espécie de santíssima trindade das artes visuais do Estado. Comungavam de certa visão na abordagem artística moderna, especialmente no tratamento dado à condição humana, seja em sua dimensão social ou existencial.

 

Com séries escultóricas como a dos seus afamados “Guerreiros”, iniciada nos anos 1960, Stockinger foi figura decisiva na fixação de valores modernos na cultura artística do Rio Grande do Sul, consolidando uma vertente de matriz expressionista. Também estabeleceu um fecundo diálogo entre a tradição da arte ocidental e os temas regionais, emprestando à sua obra um sentido coletivo e ao mesmo tempo universal.

 

Com esta exposição que celebra o centenário de nascimento de Stockinger, o MARGS afirma o compromisso com a nossa história artística, em seu dever de prestar esta importante homenagem, cuja solenidade se torna necessária para que a relevância de um grande artista seja recolocada e não se apague da memória coletiva.

 

Ao apresentar a quase totalidade das obras de Stockinger pertencentes ao acervo do MARGS, onde está suficientemente bem representado, esta exposição ainda reúne um significativo número de peças de acervos públicos e coleções particulares, que gentilmente aceitaram o convite de tomar parte na comemoração, apoiando este projeto com realização própria do museu.

 

Resulta disso uma exposição ampla, que traz a público obras bastante relevantes, mas não isenta de alguma lacuna pontual. Seja como for, o conjunto aqui apresentado é altamente expressivo e representativo da produção do artista. Stockinger obteve consagração ainda em vida, tendo sido frequentemente reconhecido ao longo de sua trajetória, como atesta a extensa fortuna crítica, teórica e histórica encontrada nos inúmeros textos, catálogos, livros e exposições a ele dedicados.

 

Reconhecendo se tratar de um artista já legitimado e amplamente abordado, esta exposição se assume mais panorâmica do que retrospectiva, tendo sido organizada segundo estratégias que procuram oferecer compreensão e legibilidade frente a uma produção tão extensa quanto diversa em suas etapas. Reforçam a opção por esse viés os diversos textos de mediação apresentados no espaço expositivo, com os quais se procura situar e contextualizar a obra e a trajetória do artista.

 

Ao assinalar e afirmar a importância de Stockinger, o esforço é tomar o seu centenário de nascimento, e os 10 anos de sua despedida, como um momento oportuno para se difundir o seu legado. O intento é proporcionar um reencontro e um renovado interesse com uma produção tão conhecida e aclamada, mas sobretudo oferecer uma experiência intensa e enriquecedora para um público mais amplo e não totalmente familiarizado com a importância de sua obra e vida, notadamente as novas gerações.

 

Francisco Dalcol

Diretor-curador do MARGS/Doutor em Teoria, Crítica e História da Arte

Até 24 de novembro.

 

 

 

 

Bate-papo na FIC

31/jul

No próximo sábado, 03 de agosto, a Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, RS, promove um bate-papo com o artista Daniel Senise e a curadora Daniela Labra sobre a exposição “Antes da Palavra”, que inaugura no mesmo dia. O encontro ocorre às 16, no átrio da Fundação Iberê. Serão oferecidas 50 vagas, por ordem de chegada e a entrada é gratuita.

 

A exposição “Antes da Palavra” apresenta 23 trabalhos de Daniel Senise, entre pinturas e objetos, articulados em torno da instalação monumental “1.587”, construída por duas grandes telas suspensas no átrio, postadas frente a frente. A ausência na presença é um paradoxo explorado nas obras do artista, assim como a reflexão sobre o tempo, a vaidade, a futilidades e a opulência.

 

Em diálogo com a exposição, Daniela Labra convidou seis artistas que pensam o som não em sua estrutura melódica, mas em proposições que indicam ausência, fisicalidade, espacialidade, interrupção, silêncio, tempos alongados e outros motes integrados às ideias primordiais presentes em “Antes da Palavra”. São eles: Marcelo Armani, Ricardo Carioba, Raquel Stolf, Pontogor, Tom Nóbrega e Felipe Vaz.

 

 

 

Livro “Escultura, objeto, 3D”

29/jul

O MAM Rio lançou o livro “Escultura, objeto, 3D” (Editora Barléu, 14x21cm, 104 páginas, 1.500 exemplares), um ensaio inédito de Reynaldo Roels (1951-2009), organizado pela pesquisadora Rosana de Freitas. Intelectual refinado, Reynaldo Roels Jr. foi figura marcante e querida no universo da arte carioca, onde exerceu vários cargos, entre eles o de curador do MAM, de 2007 até a sua morte repentina em 2009, e diretor da Escola de Artes Visuais (EAV) do Parque Lage, entre 2002 e 2006.

 

“O ensaio inédito deixado por Reynaldo Roels Jr. discorre sobre as mídias tridimensionais, desde os relevos narrativos do renascimento italiano até as ‘esculturas’ mais recentes, que programaticamente rejeitam tal rótulo. O silêncio historiográfico ao qual a escultura foi submetida, em favor de uma História da Arte eminentemente pictórica, é aqui, a um só tempo, analisado e rompido”, comenta Rosana de Freitas. O texto foi escrito por Reynaldo Roels Jr. inicialmente em 1992 para um curso no Solar do Barão, em Curitiba, depois atualizado por ele em 2003 para um curso que ministrou no Parque Lage.

 

A trajetória profissional de Reynaldo Roels Jr. se entrecruza com diversos momentos da história recente do MAM Rio, de onde foi curador de 2007 até a sua morte súbita em 2009, e coordenador do Núcleo de Pesquisa do Museu de 1991 a 1992. Foi ainda curador da Coleção Gilberto Chateaubriand de 1997 a 2000, e diretor da Escola de Artes Visuais (EAV) do Parque Lage entre 2002 e 2006, e crítico de arte do “Jornal do Brasil”, de 1985 a 1990.

 

Opiniões

 

“Reynaldo Roels Jr. exercia a curadoria como um permanente exercício de zelo e de amor à arte. Catalogou, desenvolveu o banco de dados e foi curador da Coleção Gilberto Chateaubriand por três anos.” Carlos Alberto Chateaubriand

 

“Dono de vasta cultura, Reynaldo foi um intelectual completo. Transitava com desenvoltura entre a música, a literatura e as artes plásticas, cuja prática dominava, o que veio enriquecer seu trabalho crítico.” Helio Portocarrero

 

“Professor e crítico de arte admirável, suas aulas e seus artigos levaram informação e inspiração a gerações de artistas, estudantes e amantes das artes.” Nelson Eizirik

 

Sobre a oganizadora

Rosana Pereira de Freitas. Historiadora da Arte, professora da Escola de Belas Artes da UFRJ, atuando junto ao bacharelado em História da Arte e ao PPGAV/Progarama de Pós-graduação em Artes Visuais.

 

 

Instalação de Daniel Senise

25/jul

A Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, RS, inaugura no dia0 3 de agosto a exposição “Antes da Palavra”, exibição individual de Daniel Senise. A abertura ocorre às 14h e pode ser visitada até 29 de setembro, no Átrio e 2º e 3º andares.

 

Com curadoria de Daniela Labra, a mostra apresenta 23 trabalhos de Senise, entre pinturas e objetos, articulados em torno da instalação monumental “1.587”, constituída por duas grandes telas suspensas no Átrio, postadas frente a frente, cujas lonas são lençóis usados em um motel carioca e no INCA – Instituto Nacional do Câncer, no Rio de Janeiro. “As marcas e manchas visíveis nas superfícies das peças são prova de um tempo transcorrido que é protagonista. Nesse lugar, essa representação – como numa natureza-morta, é substituída pela temporalidade de fato, palpável, a qual exacerba um segundo paradoxo, o da representação/real, contido na obra de arte contemporânea”, explica a curadora.

 

O título da obra decorre do cálculo de pessoas que passaram por esses lençóis ao longo de seis meses. Senise pouco interferiu na maculada imensidão branca, de onde saltam imagens mentais de estórias pessoais desconhecidas. Os números das presenças/ausências, registros, lembranças, momentos de muito amor, mas também de muita dor, impregnados nos tecidos foram alcançados com a ajuda de um matemático e nomeiam cada face da instalação: “Branco 237″ refere-se à movimentação no hospital, enquanto “Branco 1.350″, no motel.

 

Somadas, essas cifram atingem 1.587 dramas e êxtases de desconhecidos amalgamados nesta obra de aspecto solene e vertiginoso. Em Porto Alegre, por questões de adequação ao espaço, esta é uma versão reduzida do trabalho original, intitulado “2.892”, criado no final da década de 1990 e exibido apenas em 2011, na Casa França-Brasil, Rio.

 

Em diálogo com a exposição, Daniela Labra convidou seis artistas que pensam o som não em sua estrutura melódica, mas em proposições que indicam ausência, fisicalidade, espacialidade, interrupção, silêncio, tempos alongados e outros motes integrados às ideias primordiais presentes em “Antes da Palavra”. São eles: Marcelo Armani, Ricardo Carioba, Raquel Stolf, Pontogor, Tom Nóbrega e Felipe Vaz.

 

Outra novidade da mostra é a joia feita com exclusividade por Daniel Senise para a Fundação Iberê Camargo, à venda na loja do espaço cultural. “A peça corresponde ao inverso dos nichos das placas de concreto aparente presentes na fachada da Fundação. O objeto foi moldado em um nicho próximo à entrada da arquitetura de Álvaro Siza e se encaixará perfeitamente, funcionando como uma “chave de acesso” ao prédio”, diz o artista.

 

Amador Perez, DVWC

23/jul

A exposição “Amador Perez DVWC Fotos e Variações”, com curadoria de Marcia Mello, apresenta no Paço Imperial, Centro, Rio de Janeiro, de 02 de agosto a 27 de outubro, uma série de fotografias, produção inédita que marca em 2019 a trajetória de 45 anos do celebrado artista carioca. A mostra soma um total de 155 obras, com duas séries realizadas entre 2016 e 2019 – fotografias originais e variações gráficas destas imagens – e uma seleção retrospectiva de obras relacionadas ao campo da fotografia.

 

A palavra do artista

 

A partir da minha admiração e constante observação das obras de Dürer, Vermeer, Watteau e Courbet, fotografei com o celular meus dedos brincando com uma reprodução impressa de Gilles, célebre pintura de Watteau, uma instigante representação do personagem Pierrô, e assim originou-se a série “DVWC Fotos e Variações”.

 

Atualmente utilizo a fotografia como mais um meio e extensão do meu trabalho, e em DVWC Fotos e Variações, dou continuidade às questões, materialidade e imaterialidade, singularidade e multiplicidade, que investigo há décadas, estabelecendo relações entre as imagens das obras originais e suas reproduções. Nos anos 1970, baseado em imagens fotográficas publicadas na imprensa, trabalhei com os recursos do desenho a grafite e da xerografia, e a partir dos anos 1980 comecei a experimentar com reproduções de obras de arte que encontrava em livros e cartões postais, e utilizando técnicas manuais e digitais em uma fusão de linguagens, estabeleço um jogo triádico interativo entre as imagens criadas pelos autores das obras originais, as imagens elaboradas por mim, e as imagens geradas pela fantasia do espectador. Nunca limitei meu trabalho a um tipo de técnica apenas e pretendo que a diversidade de meios que uso exprima a coerência das minhas ideias, que os transcendem, e atendam às possibilidades de uma poética.

 

A palavra da curadora

 

DVWC Fotos e Variações, trabalho mais recente de Amador Perez, põe em evidência sua ligação com as reproduções de obras de arte – seu principal campo de pesquisa -, e com as novas tecnologias, frequentemente incorporadas a um arsenal de interesses e habilidades. As fotografias, realizadas com aparelho celular, registram a mão do artista em contato com imagens impressas de obras de Albrecht Dürer, Johannes Vermeer, Jean-Antoine Watteau e Gustave Courbet. Sua retórica poética incorpora, assim, o gesto, traduzido em imagens surpreendentemente impalpáveis e concebe fabulações que oscilam entre o velar e o revelar. No jogo de epidermes, o artista propõe uma fusão de tempos e espaços, num silencioso fluxo amoroso que deflagra suas fantasias, desejos e obsessões. A tensão entre as superfícies – do papel e da pele – acaba por cerzir mundos, aproximando representação e realidade no registro em preto e branco de imagens que se apresentam, ora em versão positiva, ora negativa. A cada narrativa criada no sequenciamento de dezesseis diminutas imagens – e suas variações com intervenções do desenho e cores do processo CMYK versus RGB – ouvimos o sussurrar inaudível de afetos e nos deparamos com sentimentos insuspeitados revelados por algo que não está na aparência das coisas.

 

Sobre o artista

 

Amador Perez nasceu em 1952 no Rio de Janeiro onde reside e mantém ateliê. Iniciou sua carreira como artista visual em 1974 participando da exposição Jovem Arte Contemporânea no Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo. Graduou-se em 1976 em Projeto Gráfico na Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Em 1977 realizou sua primeira exposição individual, Vaslav Nijinski a convite do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. A partir de 1981 começou a expor no circuito de galerias de arte do eixo Rio/São Paulo e a participar, como artista representado, em feiras internacionais de arte contemporânea no Brasil, Alemanha e Japão. O desenvolvimento de sua trajetória inclui participação na XXI Bienal Internacional de São Paulo (1991), assim como a realização de diversas exposições individuais convidado por importantes instituições, tais como, Centro Cultural Banco do Brasil (Rio de Janeiro, 1992), Instituto Moreira Salles (Poços de Caldas, 1993 e 1997, e São Paulo, 1998), Scuola Internazionale di Grafica (Veneza, 1996), Museu Nacional de Belas Artes (Rio de Janeiro, 1998), e Paço Imperial (Rio de Janeiro, 2005). Ao longo de sua carreira tem participado de exposições coletivas no Brasil, Argentina, Colômbia, México, França, Inglaterra e China, e em 2012 integrou “Da Margem ao Limiar: Arte e Design Brasileiros no Século XXI”, na Somerset House, em Londres. Em 2014 comemorou 40 anos de atividades realizando as exposições “Quantos Quadros”, no Centro Cultural Cândido Mendes-Ipanema, e Memorabilia – Amador Perez – 40 Anos, no Centro Cultural Correios Rio de Janeiro. Acervos de renomadas instituições culturais brasileiras e estrangeiras possuem suas obras, tais como, Museu Nacional de Belas Artes, Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Museu de Arte do Rio, Pinacoteca do Estado de São Paulo, Museu de Arte Moderna de São Paulo, Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, e Coleção de Arte Latino-Americana da Universidade de Essex (Inglaterra); e também importantes coleções particulares, tais como, Gilberto Chateaubriand e Luis Antonio de Almeida Braga (Rio de Janeiro), Bruno Musatti, Guita e José Mindlin, e Kim Esteves (São Paulo), Harlan Blake (Nova Iorque), e Richard Hedreen (Seattle). Sua trajetória é citada em bibliografias especializadas, tais como, História da Arte Geral no Brasil (Walter Zanini, São Paulo, Instituto Moreira Salles, 1984) e Cronologia das Artes Plásticas no Rio de Janeiro – 1816/1994 (Frederico Morais, Rio de Janeiro, Top Books Editora, 1994). Em 1983 publicou o livro de desenhos Nijinski: imagens (Amador Perez, Rio de Janeiro, edição do autor), em 1999, o livro Coleção do Artista – Amador Perez (Editora Fraiha, Rio de Janeiro), um resumo de sua obra, e em 2014, os “livros de artista”, Vaslav Nijinski: SOU e Nijinski: Imagens (Amador Perez, Edição Holos Arte, Rio de Janeiro). Atuou como professor universitário desde 1981, principalmente na ESDI-UERJ – Escola Superior de Desenho Industrial da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, desde 1984, e desde 1991 no Departamento de Artes e Design da PUC-Rio – Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.

 

Sobre a curadoria

 

Marcia Mello é bacharel em Letras pela UFRJ, pesquisadora, curadora e conservadora de fotografia. Participou da implantação do Departamento de Fotografia do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, onde foi curadora entre 1988 e 1997. Prestou serviços para instituições públicas e privadas como o Centro de Conservação e Preservação Fotográfica da FUNARTE e o Arquivo Nacional. Sua formação se completou em estágio no Atelier de Conservation et Restauration de Photographie de la Ville de Paris. Participou dos projetos de conservação dos acervos fotográficos da família do fotógrafo Marc Ferrez, do artista plástico Rubens Gerchman e do crítico de arte Mário Pedrosa. Entre 2006 e 2015 foi diretora-curadora da Galeria Tempo (RJ). Nesse período, além de organizar inúmeras exposições, participou como expositora das feiras SP/ARTE e ART/RIO. No Centro Cultural da Justiça Federal curou a mostra “Tempos de Chumbo, Tempo de Bossa – os anos 60 pelas lentes de Evandro Teixeira” (2014) e na Galeria do Espaço SESC, “Deveria ser cego o homem invisível?”, fotografias de Renan Cepeda (2015). Entre suas atividades mais recentes, destacam-se a co-curadoria das exposições “Kurt Klagsbrunn, um fotógrafo humanista no Rio (1940-1960)”, “Rossini Perez, entre o morro da Saúde e a África” e “Ângulos da notícia, 90 anos de fotojornalismo em O Globo” no Museu de Arte do Rio, todas em 2015. Foi curadora da exposição “Artesania fotográfica – a construção e a desconstrução da imagem” no Espaço Cultural BNDES (RJ, 2017), além de “Hiléia” de Antonio Saggese, “Retraço | Vestígios” de Walter Carvalho e “Fluxos” de Luiz Baltar no Paço Imperial em 2018/19. Como pesquisadora, participou das exposições e livros: “Alair Gomes – A new sentimental journey”, (Cosac Naify, 2009), e “Caixa-preta – fotografias de Celso Brandão” (Estúdio Madalena, 2016), ambas com curadoria de Miguel Rio Branco e exibidas na Maison Européenne de la Photographie em Paris. Realizou a pesquisa e a edição de imagens do livro “Milan Alram” (Edições de Janeiro e Bazar do Tempo, 2015) de Joaquim Marçal. Autora dos livros “Só existe um Rio” (Andrea Jakobsson Estúdio, 2008) e “Refúgio do olhar, a fotografia de Kurt Klagsbrunn no Brasil dos anos 1940”, (Casa da Palavra, 2013) em parceria com Mauricio Lissovsky. Tem participado regularmente como leitora de portfólio nos diversos festivais de fotografia realizados no Brasil e organizado debates em torno da fotografia.

 

Até 27 de outubro.

 

 

Para Reynaldo Roels Jr.

15/jul

No mês que marca dez anos da morte do crítico de arte, coordenador do Núcleo de Pesquisa do MAM de 1991 a 1992 – e curador do Museu de 2007 até a sua morte súbita em 2009 -, Reynaldo Roels Jr, ganha mostra e livro em sua homenagem. O Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Parque do Flamengo, Rio de Janeiro, RJ, inaugura no próximo dia 6 de julho de 2019 uma exposição em homenagem a Reynaldo Roels Jr. (1951-2009), com curadoria de Fernando Cocchiarale, que reúne obras de 15 artistas que Reynaldo admirava e com os quais mantinha contato permanente, como José Bechara, Iole de Freitas, Ivens Machado, Anna Maria Maiolino, Vicente de Mello, Ione Saldanha, Manfredo de Souzanetto, Franz Weissmann e Victor Arruda.

 

As obras reunidas pertencem à Coleção Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro – em doação de Eduardo de Barros Roels e Ana Beatriz de Barros Roels, Ferreira Gullar e Projeto Colecionadores MAM 3 – à Coleção Hélio Portocarrero, e à Coleção Gilberto Chateaubriand / MAM Rio.

 

A trajetória profissional de Reynaldo Roels Jr. se entrecruza com diversos momentos da história recente do MAM Rio, de onde foi curador de 2007 até a sua morte súbita em 2009, e coordenador do Núcleo de Pesquisa do Museu de 1991 a 1992. Foi ainda curador da Coleção Gilberto Chateaubriand de 1997 a 2000, e diretor da Escola de Artes Visuais (EAV) do Parque Lage entre 2002 e 2006, e crítico de arte do “Jornal do Brasil”, de 1985 a 1990.

 

Artistas na exposição

 

Anna Maria Maiolino, Cláudio Fonseca, Franz Weissmann, Iole de Freitas, Ione Saldanha, Ivens Machado, João Magalhães, João Carlos Goldberg, Jorge Duarte, José Bechara, Manfredo de Souzanetto, Ronaldo do Rego Macedo, Victor Arruda, Vicente de Mello, Walter Goldfarb.

 

Até 25 de agosto.

 

Dia 18 de julho de 2019, das 15h às 18h: conversa aberta/lançamento do livro “Escultura – 3-D”

 

 

MAM RIO/Instalação de Sonia Andrade

11/jul

O Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Parque do Flamengo, Rio de Janeiro, RJ, inaugurou no segundo andar, Espaço 2.3, a exposição “… às contas”, uma instalação inédita criada especificamente para o espaço do Museu pela artista Sonia Andrade, com curadoria de Fernando Cocchiarale e Fernanda Lopes. A artista dispõe em nove colunas – cada uma com cerca de quatro metros de altura – contas de serviços básicos pagas e acumuladas entre 1968 e 2018, como luz, gás, telefone, televisão, internet e celular.

 

Distribuídas por tipo de serviço e em ordem cronológica, as contas estão unidas por elos metálicos e presas a correntes usadas habitualmente para amarrar e trancar bicicletas. “Ao usar este material, a artista deliberadamente introduziu uma carga semântica que faz alusão à impossibilidade de se viver livre dessas contas, da perda da mobilidade, da escravidão submetida por esses encargos”, destaca Fernando Cocchiarale. O curador acrescenta que a artista não pretendeu uma aproximação estatística ou de gráficos econômicos. “É uma materialização poética do que a pessoa paga para viver”, diz. O conjunto de contas, formado inicialmente por contas de luz, água, gás e esgoto, com o passar dos anos, ganhou a companhia das contas de televisão a cabo, de internet, de telefone fixo e de celular.

 

Os dois curadores apontam, no texto que acompanha a exposição, que parte da produção da artista nos últimos 50 anos teve o “corpo colocado como centro da ação”. “Em seus primeiros vídeos, na década de 1970, o corpo era testado em seus limites e condicionamentos, seja deformado por um fio de náilon, tendo os cabelos tosados, a mão presa a uma tábua por pregos e fios ou ainda parcialmente aprisionado em gaiolas”, lembram. Neste trabalho mostrado agora no MAM, “o corpo não é mais tratado de maneira icônica, mas por meio dos índices que efetivamente permitiram a sobrevivência real da artista. É o corpo como termômetro, unidade de medida e arena”, afirmam Fernando Cocchiarale e Fernanda Lopes.

 

Sonia Andrade realizou sua primeira individual, em 1976, na Área Experimental do MAM Rio. No Museu, realizou outras mostras individuais, sendo a última em 1999: “Goe, and catche a falling starre – Sonia Andrade”. As demais foram “Situações Negativas”, em 1984 e “A Caça – Sonia Andrade”, em 1978.

 

Sobre a artista

 

“Nasci no Rio de Janeiro em 1935. A minha relação com as artes plásticas começou quando eu já estava perto de fazer 40 anos. De início, estudei com a artista Maria Tereza Vieira entre 1972 e 1973; durante 1974 frequentei as aulas da Anna Bella Geiger, e nesse mesmo ano, 1974, eu e Fernando Cocchiarale decidimos organizar um grupo do qual fizeram parte os artistas Ana Vitoria Mussi, Anna Bella Geiger, Leticia Parente, Miriam Danowski, Ivens Machado, Paulo Herckenhof, Fernando e eu. O grupo funcionou com reuniões semanais até 1976, quando foi dissolvido. A partir de 1978 passei a morar, também, em Paris, onde entre 1978 e 1982 estudei caligrafia chinesa com o mestre Ung No Lee. Em 1982, mudança para Zurique, onde morei até 1998, quando voltei definitivamente para o Rio de Janeiro. Em Zurique estudei a caligrafia chinesa com a mestre Suishu Tomoko Arii no Ostasiatische Seminar da Universitat de Zurich. Durante todos os anos em que morei no exterior o meu tempo foi dividido igualmente entre a Europa e o Brasil”.

 

Até 22 de setembro.

 

 

Mundo vivo em Paris

09/jul

Reunindo uma comunidade de artistas, botânicos e filósofos, a Fondation Cartier pour l’art contemporain, Paris, França, ecoa a mais recente pesquisa científica que lança nova luz sobre as árvores. Organizada em torno de grandes conjuntos de obras, a exposição “Trees” dá voz à numerosas pessoas e artistas (entre os quais, alguns artistas brasileiros) que, através de sua jornada estética ou científica, desenvolveram um forte e íntimo vínculo com as árvores, revelando assim a beleza e a riqueza biológica desses grandes protagonistas do mundo vivo, ameaçado hoje com o desmatamento em larga escala. A curadoria é de Bruce Albert, Hervé Chandès e Isabelle Gaudefroy.

Artistas participantes e colaboradores da exposição: Efacio Álvarez, Herman Álvarez, Fernando Allen, Fredi Casco, Claudia Andujar, Eurides Asque Gómez, Thijs Biersteker, José Cabral, Johanna Calle, Jorge Carema, Alex Cerveny, Raymond Depardon, Claudine Nougaret, Diller Scofidio + Renfro, Mark Hansen, Laura Kurgan, Ben Rubin, Robert Gerard Pietrusko, Ehuana Yaira, Paz Encina, Charles Gaines, Francis Hallé, Fabrice Hyber, Joseca, Clemente Juliuz, Kalepi, Salim Karami, Mahmoud Khan, Angélica Klassen, Esteban Klassen, George Leary Love, Cesare Leonardi, Franca Stagi, Stefano Mancuso, Sebastián Mejía, Ógwa, Marcos Ortiz, Tony Oursler, Giuseppe Penone, Santídio Pereira, Nilson Pimenta, Osvaldo Pitoe, Miguel Rio Branco, Afonso Tostes, Agnès Varda, Adriana Varejão, Cássio Vasconcellos, Luiz Zerbini (foto).

Até 10 de novembro.

Louise Bourgeois na FIC

14/mai

Em itinerância promovida pelo Itaú Cultural, a Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, RS, recebe paa exibição a partir do 18 de maio, “Spider”, escultura de Louise Bourgeois.  Depois de permanecer pouco mais de duas décadas em regime de comodato ao lado do Museu de Arte Moderna, São Paulo, SP, em dezembro do ano passado a obra – pertencente à Coleção Itaú Cultural – começou uma série de itinerâncias pelo país. Primeiro foi levada a Minas Gerais, para ser exibida na Galeria Mata do Inhotim. Agora a escultura chega a Porto Alegre com uma novidade: a gravura da artista “Spider and Snake”. Na Fundação Iberê Camargo, a escultura permanecerá em exibição por mais de dois meses. Na sequência, viaja para Curitiba e Rio de Janeiro.

 

“Spider”, obra realizada pela escultora francesa Louise Bourgeois (1911-2010) em 1996, foi vista no Brasil pela primeira vez na 23ª Bienal Internacional de São Paulo e adquirida para a Coleção Itaú Cultural. Em 1997, o instituto a cedeu em regime de comodato ao Museu de Arte Moderna – MAM/SP, no Parque Ibirapuera. Ela permaneceu ali até 2017, em um espaço de vidro de onde podia ser observada da marquise do parque. Na ocasião, a escultura foi enviada para a Fundação Easton, em Nova York, para averiguação e restauro, de modo a garantir a sua longevidade e possibilitar a sua exibição em espaços expositivos diversos. Em dezembro passado, “Spider” botou o pé na estrada.

 

“Assim como fazemos com grande parte da Coleção Itaú Cultural, tomamos a decisão de circular uma das suas mais importantes obras internacionais e ampliar o acesso do público a esta grandiosa escultura”, diz o diretor do Itaú Cultural, Eduardo Saron.

 

“Spider reafirma a nossa parceria com a Coleção Itaú Cultural e o nosso compromisso de trazer a Porto Alegre o que há de mais instigante e inquieto na arte moderna no Brasil e no mundo”, arremata o superintendente da FIC, Emilio Kalil.

A parceria entre as duas instituições, vem de longa data e foi retomada em maio de 2018 com a exposição “Moderna para Sempre – Fotografia Modernista Brasileira na Coleção Itaú Cultural”, um recorte de 144 obras fotográficas de importantes artistas do movimento modernista brasileiro, dos quais 60 nunca haviam estado antes em Porto Alegre. Agora, a fundação recebe do instituto a mostra da famosa aranha gigante de Bourgeois, que chega pela primeira vez ao Rio Grande do Sul.

 

 

A mostra

 

Esta “Spider” é a primeira das seis que a artista produziu em bronze a partir de meados da década de 1990 e que estão espalhadas pelo mundo. A escultura será exibida até o dia 28 de julho. Com ela, chega também a gravura “Spider and Snake” – a 15ª das 50 realizadas por Louise em 2003, com uma dimensão de 48,2 x 44,1 cm e pertencente ao acervo do Itaú. As viagens da “Spider” pelo Brasil são acompanhadas de um texto do crítico de arte Paulo Herkenhoff e de um vídeo de pouco mais de cinco minutos realizado pela equipe do Itaú Cultural, com relato da também crítica Verônica Stigger. Este material foi produzido especialmente para estas itinerâncias.

 

Entre imagens da escultura, Verônica Stigger discorre sobre a vida da artista que se entrelaça com esta sua criação. Ela reproduz de Paulo Herkenhoff que as aranhas de Louise Bourgeois representam a mãe da artista, sintetizada em dois adjetivos aparentemente paradoxais: frágil e forte. Diz Verônica Stigger: “A fragilidade e a força se conjugam nesta versão de Spider. À primeira vista, é uma peça imponente, até um tanto monstruosa: ela é toda em bronze, com três metros e meio de altura, oito longas patas e um núcleo central duro, todo torcido em espirais, que faz as vezes de cabeça e ventre – um grande ventre capaz de armazenar os ovos.” E conclui: “Em uma olhada mais atenta, percebe-se como, apesar da força e da rigidez do bronze, ela também é frágil, delicada: suas patas são longas e muito finas, dando a impressão de serem insuficientes para sustentar o pesado corpo da aranha.”

 

Feita em bronze, a escultura pesa mais de 700 quilos, 68kg, cada uma das oito patas; 113kg o corpo e 57kg a cabeça. O seu traslado, exige grande cuidado e dedicação. Com a inexistência do esboço e projeto original da escultura, a equipe do Itaú Cultural criou um aparato para garantir a sua estrutura na desmontagem e remontagem. A produção do instituto desenhou uma plataforma que é colocada debaixo dela para sustenta-la. As partes, cujas pontas são de agulha, são retiradas uma a uma enquanto uma espécie de berço se eleva da plataforma para segurar o corpo do pesado aracnídeo. Na remontagem, o caminho é o inverso.

 

 

Itinerância

 

O plano de viagem de “Spider” tem duração garantida por todo o ano de 2019, durante o qual ainda poderá ser vista no Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba, e no Museu de Arte do Rio, MAR-RJ. A previsão é de que a escultura prossiga em sua viagem pelo país no ano seguinte.