Ilustrações

27/set

A Pinacoteca Aldo Locatelli, localizado na Praça Montevidéu, Centro Histórico, Porto Alegre, RS, inaugurou a mostra “A Escrita se Fez Imagem”, com ilustrações de Nelson Boeira Fäederich para as obras “Contos Gauchescos” e “Lendas do Sul”, de João Simões Lopes Neto. A exposição faz parte da programação que assinala os 100 anos de morte do escritor pelotense e tem patrocínio da Celulose Riograndense. Na ocasião, foi apresentada a performance “A Casa de Mbororé”, com o ator Hélio Oliveira.

 

Encontram-se expostas cerca de 50 obras de Fäedrich realizadas em têmpera, nanquim e scratchboard (em que se raspa a tinta nanquim preta de uma prancha para revelar as linhas do desenho ) pertencentes ao acervo da Fundacred (empresa que incorporou a Pinacoteca APLUB). A curadoria é de Paula Ramos, autora de “A Modernidade Impressa – Artistas Ilustradores da Livraria do Globo – Porto Alegre”, livro que também recupera e analisa a poética do artista plástico que nasceu em 1912, em Porto Alegre, onde morreu em 1994, tendo atuado também como publicitário, pintor e escultor.

 

O artista, quando trabalhou na Editora Globo, criou capas e ilustrações para livros de vários escritores gaúchos, como Érico Veríssimo e o homenageado Simões Lopes Neto. Os originais de suas ilustrações para “Os Contos de Andersen” estão no acervo do Museu Hans Christian Andersen, na Dinamarca.

 

 
Até 18 de novembro.

Sinais na Arte, MAM-SP

22/set

O MAM, Parque do Ibirapuera, São Paulo, SP, participa – de 27 a 30 de setembro – da VI Semana Cultural Sinais na Arte, com atividades focadas nas culturas surdas como oficinas, visitas guiadas e uma sessão de cinema com cinco curtas-metragens nacionais produzidos em Libras, seguido de um bate-papo em português em Libras sobre o cenário do público surdo em São Paulo.

 

Pioneiro no processo de acessibilidade do público surdo aos museus e instituições culturais, o Museu de Arte Moderna de São Paulo promove a VI Semana Cultural Sinais na Arte, com programação gratuita de atividades artísticas realizadas na língua brasileira de sinais (Libras). A ação demonstra como a Libras integra a cena de São Paulo por meio de uma programação que conta com oficinas, visitas mediadas e, pela primeira vez, apresenta a mostra SURDOCINE – O som e o Sentido, que exibe curtas-metragens nacionais produzidos em Libras.

 

O ciclo de filmes propõe um intercâmbio de percepções entre surdos e ouvintes com a apresentação de cinco curtas-metragens, legendados em português, que abordam diversas vivências da cultura surda. Realizado pela primeira vez no Festival Curta Brasília do ano passado, a mostra apresenta as produções O resto é silêncio (RJ), de 2015; Sophia (PB), de 2013; Os estranhos entre amigos (RS), de 2015; Atrás do mundo (SP), de 2009; A onda traz, o vento leva (PE), de 2010. Após a sessão de cinema que totaliza 70 minutos, acontece um debate (em libras e em português) com os participantes, mediado pelo educador Leonardo Castilho.

 

Segundo a coordenadora do Educativo e de Acessibilidade do MAM, Daina Leyton, a sexta edição do evento visa a comemorar as melhorias das condições de vida e de acesso à cultura do público surdo. “Vários avanços nas últimas décadas levaram à melhoria das condições de acesso da comunidade surda à vida social e diversos espaços públicos e privados contam com surdos trabalhando e profissionais com conhecimento de libras para receber bem o público surdo, como é o caso do MAM, ” completa.

 

Todas as atividades têm vagas limitadas. Para participar é necessário fazer inscrição prévia pelo telefone (11) 5085-1313 ou pelo e-mail: educativo@mam.org.br.

 

27/9 – Terça-feira

10h30- Experimentações com tintas naturais com Mirela Estelles. Descrição: Neste encontro os participantes são convidados a experimentar diversos gestos, movimentos e sensações a partir da vivência com tintas atóxicas feitas artesanalmente.

Local: Ateliê do MAM

 

28/9 – Quarta-feira

10h30- Oficina de performance com Leonardo Castilho. Descrição: No encontro, os participantes experimentam o corpo como linguagem poética e expressiva.

Local: Ateliê do MAM

 

14h- Mostra audiovisual em Libras Surdocine – O som e o sentido, seguido de debate com mediação do educador Leonardo Castilho

Local: Auditório do MAM

 

29/9 – Quinta-feira

10h30- Oficina Brincadeiras Poéticas em Português e Libras com os educadores Leonardo Castilho e Mirela Estelles. Descrição: Os participantes exploram diversos recursos poéticos por meio de poesias, músicas e brincadeiras.

Local: Ateliê do MAM

 

14h30- Jogo de poesias com o Corposinalizante. Descrição: Os participantes exploram diferentes formas de expressar e criar poesias.

Local: Ateliê do MAM

 

30/9 – Sexta-feira

10h- Visita mediada em Libras nas exposições O útero do mundo e Volpi – pequenos formatos com o educador Leonardo Castilho.

Local: espaço expositivo

Os Muitos e o Um

21/set

O título “Os muitos e o um” pauta o fundamento desta primeira exposição organizada a partir de uma das maiores e mais importantes coleções de arte no Brasil: “Andrea e José Olympio Pereira”. Na condução da curadoria, o consagrado crítico norte-americano Robert Storr, com o apoio de Paulo Miyada, curador do Instituto Tomie Ohtake, optou por privilegiar obras individualmente vigorosas, com potência própria, independentemente de possíveis diálogos que possam estabelecer com os demais trabalhos e produções reunidos.

 

“Cada uma destas decisões foi tomada após exame das qualidades especiais e pontos fortes de uma obra exclusiva, mesmo quando se considera seu lugar em um contexto mais amplo composto por outras obras do mesmo artista, conjuntos de obras de outros artistas de orientação semelhante e a obra completa de artistas de estilos e convicções evidentemente diferentes e possivelmente contrários”, afirma Storr.
 

Para a exposição, que ocupa todos os espaços expositivos do Instituto Tomie Ohtake, o curador selecionou cerca de trezentas peças – pintura, desenho, escultura, instalação e vídeo – de mais de cem artistas brasileiros, entre as mais de duas mil obras nacionais e internacionais pertencentes ao acervo particular. Segundo ele, trata-se de um conjunto que, além de sua monumentalidade, dispõe de trabalhos icônicos da produção de muitos artistas. A mostra, portanto, proporciona um olhar afinado sobre o panorama artístico contemporâneo brasileiro e seu momento anterior, ao focalizar a produção dos anos 1950 até hoje. “Estamos vivendo uma era pluralista e também um momento de excepcional diversidade e hibridez […] Em lugar algum este pluralismo é mais rico, heterogêneo e fecundo do que nas Américas; em nenhum lugar das Américas há maior efervescência artística de todos os tipos do que no Brasil”.
 

No elenco, integram um núcleo histórico nomes como Alfredo Volpi, Ivan Serpa, Lygia Clark, Lygia Pape, Mira Schendel, Willys de Castro, Helio Oiticica, Amilcar de Castro e Geraldo de Barros. Já no eixo central da exposição, que engloba os anos 1970 a 1990, há artistas que se destacam pela importância que desempenham na coleção, seja pelo volume de trabalhos, seja pelo papel que assumem na narrativa da arte contemporânea ou ainda pela variedade de suportes e linguagens que exploram, como Waltercio Caldas, Iran Espírito Santo, Anna Maria Maiolino, Paulo Bruscky, Miguel Rio Branco, Adriana Varejão, Tunga, Carmela Gross, Claudia Andujar, Luiz Braga, Leonilson, Jac Leirner, José Resende, Daniel Senise, Sandra Cinto, Ernesto Neto, Paulo Monteiro, Marcos Chaves, Rivane Neuenschwander, Rosangela Rennó, entre outros. Por fim, completa a mostra uma seleção de artistas que despontaram mais recentemente, indicando os desdobramentos e caminhos possíveis da arte contemporânea, como Erika Verzutti, Marina Rheingantz, Daniel Steegman, André Komatsu, Eduardo Berliner, Tatiana Blass e Bruno Dunley.

 

 

 

Sobre o curador

 

 

Robert Storr, artista, crítico e curador, foi o primeiro americano a ser nomeado diretor de artes visuais da Bienal de Veneza (2004 e 2007).  Foi curador do departamento de pintura e escultura do Museu de Arte Moderna – MoMA, em Nova Iorque (1990 e 2002), onde organizou exposições temáticas como Dislocations and Modern Art Despite Modernism, e individuais de importantes artistas, como Elizabeth Muray, Gerhard Richter, Max Beckmann, Tony Smith e Robert Ryman. Foi professor de História da Arte Moderna no Institute at Fine Arts, na New York University. Atualmente é professor de pintura na Yale University.

 

 

 

Até 23 de outubro.

Fragmentos sacros

14/set

A exposição “Fragmentos: coleções de Rafael Schunk e Museu de Arte Sacra” reúne na sede do MAS/SP, Luz, São Paulo, SP, fragmentos oriundos de demolições de catedrais, igrejas e capelas brasileiras. São objetos valiosos, pedaços de desmanche das construções, pinturas, obras de arte e santos feitos por mestres santeiros reconhecidos. A curadoria é de Percival Tirapeli.

 

No início do século modernista, os registros demonstram que a demolição das igrejas coloniais no centro antigo de São Paulo era quase uma rotina, assim como no interior e em estados como Bahia e Rio de Janeiro. Foram demolidas a Sé, igrejas do Pátio do Colégio, São Pedro dos Clérigos, Misericórdia, além dos conventos Carmelita, Beneditino de Santa Teresa e dos Remédios.

 

Constituída a partir do final dos anos 1990, a Coleção de Arte Sacra de Rafael Schunk enfatiza produções artísticas do período bandeirista a partir do século XVII, desde o surgimento da arte barroca brasileira até suas ramificações na cultura caipira, com permanência de arcaísmos até a modernidade. São, na maioria, fragmentos oriundos de catedrais do interior de São Paulo, como da antiga catedral de Taubaté, de Pindamonhangaba, da Basílica Velha de Aparecida, de Queluz e de Bananal. Um dos destaques é o conjunto de 60 azulejos da Osirarte, oficina que desenvolveu trabalhos para inúmeros edifícios públicos, a exemplo do MEC-Rio e representou a tradição da azulejaria brasileira desenvolvida no período moderno. Os azulejos das coleções do MAS/SP e de Schunk, apresentam esta importante técnica, tão apreciada pelos portugueses.

 

Outro destaque são as esculturas em terracota de pequenas dimensões de frei Agostinho de Jesus (1600/ 1661) e os denominados santos paulistinhas. O acervo de Rafael Schunk conserva obras de grandes artistas nacionais do período colonial e imperial, tais como frei Agostinho de Jesus, Mestre de Itu, Mestre do Cabelinho em Xadrez, Mestre Valentim da Fonseca e Silva, José Joaquim da Veiga Valle, Pituba, Luzia e santeiros populares do Vale do Paraíba. Soma-se a esta rica diversidade um conjunto de tocheiros, mísulas, oratórios e palmas de altar originários do Vale do Paraíba e Tietê. As obras, de culto coletivo e doméstico, representam a diversidade da arte sacra produzida em terras de bandeirantes, índios e jesuítas. Algumas pinturas de tradição cusquenha enfatizam a ligação e intercâmbio de São Paulo com os castelhanos da América Espanhola.

 

“A presença e reconhecimento de um fragmento advém da nossa maneira cultural de reverenciar o passado e nele encontrar um elo perdido dentro da História, e também nos ajuda a compreender a importância de ruínas”, explica o curador da mostra, Percival Tirapeli.

 

Em 1943, uma obra prima do Mestre Valentim, a igreja de São Francisco dos Clérigos, no Rio de Janeiro, foi destruída para a abertura da avenida Presidente Vargas. As partes oriundas daquele desmanche são pontos de partidas para a reflexão sobre os fragmentos presentes tanto em coleções particulares como nos acervos de museus. Na coleção de Rafael Schunk estão a cabeceira de cama e dois anjos. No MAS/SP, ficaram os dois anjos voantes, a Verônica e o entalhe do rosto de Cristo.

 

“O diálogo entre os fragmentos de ambas as coleções proporciona um olhar mais agudo sobre as partes de ornamentos que, desmembrados de sua totalidade, geram novas investigações sobre a técnica, o estilo, o douramento, constituindo assim um documento que é parte integrante de nosso patrimônio sacro”, diz o curador Percival Tirapeli.

 

 

De 18 de setembro a 20 de novembro.

Vanguarda brasileira, anos 1960

13/set

A Pinacoteca de São Paulo, museu da Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo, recebeu a exposição “Arte no Brasil: Uma história na Pinacoteca de São Paulo. Vanguarda brasileira dos anos 1960 – Coleção Roger Wright”, um recorte de 80 obras realizadas entre as décadas de 1960 e 1970 no Brasil pelos artistas mais representativos da nova figuração, do teor político e da explosão colorida do pop, como Wesley Duke Lee, Claudio Tozzi, Antonio Dias, Cildo Meireles, Nelson Leirner, Raymundo Colares, Rubens Gerchman, Carlos Zilio, entre outros.

 

A mostra de longa duração celebra o comodato de 178 obras estabelecido em março de 2015 entre a Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo, a Pinacoteca e a Associação Cultural Goivos, responsável pela Coleção Roger Wright. Além disso, também dá continuidade à narrativa iniciada com a exposição “Arte no Brasil”, em cartaz no segundo andar e que apresenta os desdobramentos da história da arte no Brasil do período colonial aos primeiros anos do modernismo em 1920.

 

“Com esse conjunto, o museu oferece aos visitantes a possibilidade de ver e compreender processos recentes que contribuíram para a formação da visualidade brasileira. Sem contar, que a Pinacoteca se consolida como um museu nacional da história da arte no Brasil, constituído por núcleos articulados em uma narrativa extensa e representativa”, explica José Augusto Ribeiro, curador da exposição.

 

A exposição tem patrocínio, via leis de incentivo, de Pirelli, Klabin e CreditSuisse. Sua realização foi possível também graças ao apoio direto de amigos pessoais do colecionador Roger Wright, como Paulo S.C. Galvão Filho e José Olympio da Veiga Pereira.

 

 

 

Comodato

 

A Coleção representa a produção brasileira dos anos 1960 e possui importantes instalações produzidas a partir de 2000. Foi montada por Roger Wright e seus dois filhos desde 1996 e, após o acidente que vitimou a família em 2011, Christopher e Ellen Mouravieff-Apostol, irmão e mãe de Roger Wright, decidiram manter as obras em solo brasileiro. Para isso, consultaram vários museus nacionais, buscando encontrar algum que apresentasse condições seguras e plenas de pesquisa, comunicação, salvaguarda e projeção pública.”Estou muito feliz com a perspectiva de ver em breve a coleção aberta ao público na Pinacoteca. Acima de tudo, tenho certeza que tanto o Roger como os filhos estariam orgulhosos com esse novo rumo na história da coleção que eles montaram com tanta dedicação”, disse Christopher.

 

A Pinacoteca tem experiência em acomodar obras de grande relevância por meio de comodatos, como a Coleção Brasiliana – Fundação Estudar, que após o período de empréstimo foram doadas ao museu e hoje compõem o seu acervo, e o comodato assinado em 2004 com a Fundação Nemirovsky com trabalhos importantes do período modernista.

 

 

Até 26 de agosto de 2019.

O Útero do Mundo

05/set

O MAM, Parque do Ibirapuera, SP, retrata corpos indomáveis e histéricos na exposição “O útero do mundo”. A curadora Veronica Stigger selecionou cerca de 280 obras de 120 artistas contemporâneos em que o corpo aparece como lugar de expressão de um impulso desvairado e que se apresenta transformado, fragmentado, deformado, sem contorno ou definição. São pinturas, desenhos, fotografias, esculturas, gravuras, vídeos e performances do acervo do museu.

 

As obras, pertencentes ao acervo do MAM, mostram a indomabilidade e as metamorfoses do corpo. Com curadoria da escritora e crítica de arte Veronica Stigger, as produções selecionadas – num universo de mais de cinco mil trabalhos da coleção do museu – revelam um corpo que não respeita a anatomia e liberto de amarras biológicas e sociais. Baseada na proposição dos surrealistas de compreender a histeria como uma forma de expressão artística, a apurada seleção da curadora faz um elogio à loucura, ilustrando esse “corpo indomável” que, embora reprimido pela humanidade, manifesta-se no descontrole, na histeria e na impulsividade.

 

Para organizar a mostra, a curadora recorreu a três conceitos extraídos da obra da escritora Clarice Lispector que servem como fios condutores que separam os trabalhos nos núcleos “Grito ancestral”, “Montagem humana” e “Vida primária”. Segundo VeronicaStigger, a autora naturalizada brasileira retomou com brilho o elogio ao impulso histérico. “Clarice organizou um pensamento simultâneo da forma artística e do corpo humano como lugares de êxtase e de saída das ideias convencionais, tanto da arte quanto da própria humanidade”, afirma. São exibidas, conjuntamente, obras de artistas celebrados como Lívio Abramo, Farnese de Andrade, Claudia Andujar, Flávio de Carvalho, Sandra Cinto, Antonio Dias, Hudinilson Jr., Almir Mavignier, Cildo Meireles, Vik Muniz, Mira Schendel, Tunga, Adriana Varejão e muitos outros, além de duas performances de autoria de Laura Lima.

 

 

Grito Ancestral

 

Abrindo a mostra, “Grito ancestral” contém obras que representam uma série de gritos. “É como se esse som, anterior à fala e à linguagem articulada, atravessasse os tempos e rompesse com as próprias imagens”, explica a curadora. “O grito se contrapõe à ponderação e pode ser visto como indício de loucura. Gritar é, em certa medida, libertar-se das frágeis barreiras que delimitam aquilo a que convencionamos chamar de “cultura” em oposição à “natureza” e ao que há de selvagem e indomável em nós”, afirma. Nessa área estão expostos três autorretratos da série “Demônios”, espelhos e máscaras celestiais, de Arthur Omar, artista com trabalhos que demonstram estados alterados de percepção e de exaltação. Também fazem parte a fotografia “O último grito”, de Klaus Mitteldorf; a colagem “Medusa marinara”, de Vik Muniz; fotos de performances de Rodrigo Braga; a gravura “Mulher”, de Lívio Abramo; além de imagens em preto e branco de Otto Stupakoff. Com a série “Aaaa…”, a artista Mira Schendel apresenta uma escrita que não constitui palavras ou frases e em que se percebe a desarticulação da linguagem e uma volta ao estado mais bruto e inaugural.

 

 

Montagem humana

 

Neste nicho são apresentados corpos fragmentados, transformados, deformados e indefinidos, o que prova a indomabilidade do mesmo. Na exposição é percebido como o traço se convulsiona nas obras intituladas “Mulheres”, de Flávio de Carvalho, nos desenhos de Ivald Granato e nas produções de Tunga, Samson Flexor e Giselda Leirner. Nas fotografias, é a falta de foco que borra o contorno da figura nas imagens de Eduardo Ruegg, EdouardFraipont e Edgard de Souza. Com o uso da radiologia, é possível verificar o interior do corpo humano nas obras de Almir Mavignier e Daniel Senise. Destacam-se ainda as fotografias feitas por Márcia Xavier, um desenho de Cildo Meireles e as produções que misturam imagens, couro e madeira de Keila Alaver que representam, literalmente, corpos transformados e fragmentados.

 

 

Vida Primária

 

Este nicho dá vez às formas de vida mais elementares, como fungos, flores e folhagens. “Este tipo de vida desestabiliza a percepção que temos da própria vida porque, de certa maneira, deteriora as coisas do mundo “civilizado”, explana VeronicaStigger. Isso é ilustrado na série “Imagens infectas”, de Dora Longo Bahia, em que um álbum de família é alterado pela ação de fungos. Em “Vivos e isolados”, Mônica Rubinho usa papéis propositalmente fungados em placas de vidro para promover a geração desta espécie. No vídeo “Danäe nos jardins de Górgona” ou “Saudades da Pangeia”, Thiago Rocha Pitta propõe uma leitura mitológica da vida primária. Ainda são exibidas partes do corpo como o coração feito de bronze, de autoria de José Leonilson, e a foto “Umbigo da minha mãe”, de Vilma Slomp. A vagina, porta de entrada e de saída do útero, é mostrada em diversos trabalhos como nas gravuras de Rosana Monnerat e de Alex Flemming, nas fotografias da série “Vulvas”, de Paula Trope e no desenho “Miss Brasil 1965”, de Farnese de Andrade.

 

 

 

Sobre a curadora

 

Veronica Stigger é escritora, crítica de arte e professora universitária. Possui doutorado em Teoria e Crítica de Arte pela USP e pós-doutorados pela Universitàdegli Studi di Roma “La Sapienza”, pelo MAC-USP e pelo Instituto de Estudos da Linguagem da UNICAMP. É professora das pós-graduações em Fotografia e em História da Arte na FAAP, além de coordenadora do curso de Criação Literária da Academia Internacional de Cinema (AIC). Foi curadora de Maria Martins: metamorfoses no MAM São Paulo (2013) e ganhou o Grande Prêmio da Crítica da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) e o Prêmio Maria Eugênia Franco, concedido pela Associação Brasileira de Críticos de Arte (ABCA) de melhor curadoria. Com Eduardo Sterzi, curou “Variações do corpo selvagem: Eduardo Viveiros de Castro”, fotógrafo, no SESC Ipiranga. Entre as publicações, estão Os anões (SP: Cosac Naify, 2010), Delírio de Damasco (SC: Cultura e Barbárie, 2012) e Opisanieświata (SP: Cosac Naify, 2013).

 

 

De 05 de setembro a 18 de dezembro.

A mão do povo

01/set

Masp recria histórica mostra de arte popular montada por Lina Bo Bardi

 

Um São Jorge encara o público na entrada. Atrás e ao lado dele no primeiro andar do Masp estão tablados cheios de carrancas, ex-votos, tachos de alambique, colheres de pau, joias de escravas. No fundo, um Cristo agoniza na cruz que pende do teto. É o fim apoteótico da mostra ressuscitada agora num remake de exatidão obsessiva, milimétrica.

 

Quase meio século depois da primeira montagem de “A Mão do Povo Brasileiro”, pesquisadores examinaram fotografias de época e listas de empréstimos para recriar com total fidelidade uma das mostras mais ambiciosas e controversas da história do museu.

 

Quando levou esses objetos de arte popular à exposição inaugural do Masp na avenida Paulista, Lina Bo Bardi já tinha alguma noção do potencial explosivo de seu gesto.

 

Ela chegou a montar uma mostra parecida em Roma, quatro anos antes, mas o evento foi interditado por ordem de agentes da ditadura, que discordavam dessa visão do Brasil quando tentavam emplacar a ideia de um país moderno, uma futura potência. No dia da abertura, que não ocorreu, o jornal “L’Espresso” concluía que “a arte dos pobres apavora os generais”.

 

Em 1969, Bo Bardi desafiou mais uma vez os militares. Mais do que uma exposição, a mostra que abriu o museu foi uma espécie de manifesto cenográfico, em que sua idealizadora tentava mostrar objetos ditos do povo na mesma caixa resplandecente de vidro e concreto que abrigava quadros renascentistas e impressionistas.

 

“É importante entender esse momento”, diz Adriano Pedrosa, diretor artístico do Masp. “Era o centro financeiro do Brasil, onde estavam obras-primas da arte europeia, e essa produção popular estava ali em contraste, em fricção radical com aquilo. Tem um dado subversivo que permanece, porque isso ainda é marginalizado, menosprezado. A gente vê certo preconceito com esse material.”

 

No caso, um preconceito que vem se dissolvendo, dada a multiplicação de mostras do tipo em museus e galerias, que vêm bancando uma revisão da ideia de arte popular. Isso passa também pela implosão de rótulos como “naïf” ou “outsider”, termos até há pouco comuns para indicar obras de nomes de fora do circuito tradicional das artes visuais.

 

Mesmo às vezes beirando o fetiche pelas ideias de Bo Bardi, o Masp parece se esforçar para liderar esse movimento, querendo superar, nas palavras de Pedrosa, a “distinção entre arte e artefato”. Tanto que o museu planeja uma integração desses acervos, infiltrando carrancas e outros objetos do tipo entre os cavaletes de vidro do segundo andar, reservado à arte dos grandes mestres aceitos pela história.

 

Nesse sentido, o remake de “A Mão do Povo Brasileiro” é o primeiro passo na retomada da relação entre o alto e o baixo clero da coleção, mas também joga luz sobre o pensamento de Bo Bardi. “Nos esboços, a Lina anotava coisas como ‘refletor de teatro’, ‘luz dramática'”, observa Tomás Toledo, um dos organizadores da mostra. “Ela tinha uma preocupação cenográfica.”

 

Isso se revela tanto na simetria dos tablados que sustentam os objetos quanto na ordem das peças, que lembra uma procissão religiosa. Flanar pelos corredores do primeiro andar do museu dá a sensação de ser um voyeur num desfile de formas incongruentes, de roupas de vaqueiro a peças de cerâmica, arte plumária, brinquedos, placas de feira e moendas de pedra.

 

No fundo, Bo Bardi quis arrebatar mais pelo acúmulo e pelo espanto dos volumes do que pelas peças individuais. Existe ali, como lembra Pedrosa, um horror ao vazio.

 

E à distância. Tanto que a arquiteta preferiu santos de procissão a figuras de altar, mais íntimas da multidão, e as luzes da galeria foram rebaixadas a uma tonalidade mais quente. O que ressurge no Masp é a exaltação dessa mão calejada e inquieta do povo. (Texto de Silas Martí).

 

 

 

De 1º de setembro a 29 de janeiro de 2017.

Portugal contemporâneo

O Museu Afro Brasil, instituição da Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo, situado no Portão 10, Parque do Ibirapuera, São Paulo, SP, inaugura a exposição temporária “Portugal Portugueses – Arte Contemporânea”. Considerada a maior exposição de arte portuguesa contemporânea já realizada no país, a mostra integra uma trilogia sobre a mais nova produção artística da África, de Portugal e do Brasil com patrocínio das empresas EDP Brasil, com apoio do Instituto EDP, Banco Itaú e Rainer Blickle, Leonardo Kossoy e Orandi Momesso.

 

“Portugal Portugueses” é a segunda exposição dentro da proposta da trilogia desenvolvida pelo curador da mostra, Emanoel Araujo, responsável por homenagear as principais raízes da cultura brasileira (africana, portuguesa e indígena) à luz de uma leitura contemporânea nas artes visuais. Esta grande mostra sucede “AfricaAfricans”, recentemente eleita pela Associação Brasileira de Críticos de Arte como a melhor exposição do ano de 2015.

 

Uma seleção de mais de 40 artistas, de profundos vínculos com o país lusitano, apresentará trabalhos que contemplam recortes artísticos diversos. Um grande destaque é a participação de artistas modernistas consideradas pelo curador a base da contemporaneidade portuguesa, mulheres que tornaram proeminentes a arte lusitana no circuito internacional através de obras surrealistas, geométricas e que se conectam com Brasil e a África.

 

 

Artistas participantes

 

“Portugal Portugueses” contará com obras de grandes nomes como: Albuquerque Mendes, Ana Vieira, Antonio Manuel, Artur Barrio, Ascânio MMM, Cristina Ataíde, Didier Faustino, Fernando Lemos, Francisco Vidal, Gonçalo Pena, Helena de Almeida, Joana Vasconcelos, João Fonte Santa, João Pedro Vale e Nuno Alexandre, Joaquim Rodrigo, Joaquim Tenreiro, José de Guimarães, José Loureiro, José Pedro Croft, Jorge Molder, Julião Sarmento, Lourdes Castro, Manuel Correia, Maria Helena Vieira da Silva, Michael de Brito, Miguel Palma, Nuno Ramalho, Nuno Sousa Vieira, Orlando Azevedo, Paula Rego, Paulo Lisboa, Pedro Barateiro, Pedro Cabrita Reis, Pedro Valdez, Rui Calçada Bastos, Sofia Leitão, Teresa Braula, Tiago Alexandre, Vasco Araújo, Vasco Futscher e Yonamine.

 

 

A palavra do curador

 

“Por muitas razões a arte portuguesa tem um leque enorme de situações que nos comovem, talvez porque nela existam resquícios da África, do Brasil e dela mesma, naturalmente. Esta exposição celebra uma união inevitável de encontros e desencontros do que foi e do que é a nossa formação como povo, descoberto, colonizado e independente, por um português e um brasileiro, Pedro IV, rei de Portugal, que se tornou Dom Pedro I – Imperador do Brasil, e como esta independência que tão cedo foi, não nos afastou, mas consolidou as raízes profundas dessa invenção. Portugal é muito mais que um país, é uma aventura, como nos outros tempos memoráveis, senhor das conquistas e das descobertas, do Brasil e da África, pelo mundo afora. Portugal foi um terrível escravocrata, e se valeu da escravidão negra para desenvolver suas descobertas na América e na própria África, também foi um colonizador que se miscigenou e espalhou artes e ofícios.”, comenta Emanoel Araujo, fundador e Diretor Executivo Curatorial do Museu Afro Brasil.

 

“… A arte é uma antena para captar e expressar sentimentos aleatórios e arcaizantes. É através dela, e de seus laços no inconsciente coletivo, que manifestações representam os lados triangulares da invenção. E, é nessa invenção que “Portugal Portugueses” se arma para mostrar uma faceta desta arte portuguesa contemporânea, revelando a modernidade e a sua atualidade. Claro que, em se tratando de expressões artísticas, nem sempre as escolhas são totalmente abrangentes. São muitos os artistas seminais de uma grande história da arte portuguesa moderna e contemporânea. Evidentemente, esta exposição não tem um caráter didático e nem esgota o assunto diante da complexidade de tantos autores.”.

 

 

Sobre a exposição

 

O modernismo das artistas Maria Helena Vieira da Silva, Ana Vieira, Helena de Almeida, Paula Rego e Lourdes Castro, formam um núcleo poderoso de mulheres criadoras, que incorporam com suas obras e linguagens, uma valiosa contribuição à arte contemporânea portuguesa. É, a partir delas, que “Portugal Portugueses” se desenha, abrindo espaço, através de diferentes linguagens e estratégias como a geometria, instalações, esculturas, fotografias, desenhos e grandes painéis, reunindo consagrados nomes aos novos talentos que despontam. Dentre eles, podemos citar a instalação de João Pedro Vale e Nuno Alexandre. Feito de collants, tecido, ferro, arame, corda e espuma, “Feijoeiro” é uma instalação de grandes dimensões. Semelhante ao tradicional conto infantil, este enorme pé de feijão chama a atenção de adultos e crianças com suas cores fortes e vibrantes, um convite à interação.

 

Dentre os vários trabalhos selecionados, há aqueles com dedicada atenção aos diálogos entre o Brasil e o continente africano. É o caso do artista português, Vasco Araújo, conhecido no cenário artístico paulistano, seus trabalhos articulam questões políticas às heranças de um passado colonial. “O Inferno não são os outros” é uma obra que provoca a reflexão sobre os limites de nossas decisões e ações, colocando em cheque as barreiras entre aquilo que parece ser da ordem do privado, mas que está repleto de consequências na dimensão política do mundo, principalmente no mundo ocidental.

 

A série “Pau Brasil”, de autoria de Albuquerque Mendes, também compõe a mostra fazendo uma ponte entre Portugal e uma antiga colônia – o Brasil. Nela, o pintor expõe a diversidade de estilos humanos, explorando a miscigenação tanto em nosso país quanto em Portugal. Seus quadros retratam homens e mulheres negros, brancos e indígenas sempre em poses semelhantes, explorando tanto a diversidade étnica quanto propondo as semelhanças entre as pessoas.

 

A exposição traz também jovens artistas como Sofia Leitão e Teresa Braula. Leitão inicia seus primeiros trabalhos em 2003 e desde então mantém um delicado olhar sobre a cultura de seu país por meio de soluções visuais exuberantes. Suas grandes instalações já se destacaram quando foram expostas em cidades portuguesas como Porto e Lisboa. Para a mostra no Museu Afro Brasil, teremos a oportunidade de apreciar “Matéria do Esquecimento”. Já Teresa Braula, expoente artista no circuito europeu, apresenta suas investigações sobre o espaço e o lugar da memória.

 

Dentre os reconhecidos nomes da arte contemporânea portuguesa, o fotógrafo Jorge Molder apresenta a série “Dois Deles”, onde investigações sobre a auto representação se mesclam a própria presença do artista em meio a uma longa sequência de práticas reflexivas, sugerindo um complexo repertório visual.

 

Parcerias com galerias, colecionadores e os próprios artistas portugueses estão sendo importantes para a realização deste projeto, como é o caso da Galeria Filomena Soares, que possibilita conhecer importantes obras. Como a série de grandes painéis fotográficos “Explorers” do artista Didier Faustino e “Lookingback” da artista Helena Almeida, além da intrigante obra em vidro acrílico da artista Lourdes Castro e produções de Joaquim Rodrigo, Paula Rego e os desenhos em grafite de Pedro Barateiro.

 

 

 Homenagens

 

Simultaneamente a “Portugal Portugueses”, acontecerão no museu três homenagens póstumas a importantes personalidades portuguesas: Beatriz Costa, grande atriz de cinema e teatro, sua trajetória teve importante participação no teatro brasileiro; Rafael Bordalo Pinheiro, ceramista e caricaturista que criou importantes revistas no Brasil do século XIX, e também pelos 170 anos de seu nascimento; e Amadeo de Souza Cardoso, um pintor revolucionário, o Museu Afro Brasil apresenta uma reprodução dos desenhos do álbum XX Dessins, editados recentemente na exposição retrospectiva dedicada ao artista, realizada no Grand Palais de Paris.

 

Uma sala especial homenageará a artista portuguesa Maria Helena Vieira da Silva, que viveu no Brasil no período entre 1940 e 1947, convivendo com outros artistas europeus residentes no país, além de intelectuais e pintores brasileiros.

 

 

Encontro com os artistas

 

No dia seguinte à abertura da mostra, a instituição realiza um encontro com alguns dos artistas convidados, para um debate com o público sobre suas produções e questões tratadas pela exposição.

 

 

 

Até 08 de janeiro de 2017.

Abaporu, até o dia 30

26/ago

 

A célebre obra de Tarsila do Amaral, “Abaporu”, está na exposição “A cor do Brasil”, no MAR – Museu de Arte do Rio de Janeiro, Centro, Rio de Janeiro, RJ, que apresenta percursos, inflexões e transformações da cor na história da arte brasileira. A cor é apresentada como projeto nos pintores viajantes dos séculos XVIII-XIX, nas investigações acadêmicas, nas experimentações modernas, nos projetos construtivos, nas radicalizações da forma dos anos 1960/70, nas explosões de cor dos anos 1980 e da atualidade. A curadoria traz a as assinaturas de Paulo Herkenhoff e Marcelo Campos.

Debate no MAM-SP

25/ago

MAM-SP, Parque do Ibirapuera, Av. Pedro Álvares Cabral, s/nº – Portão 3,promove um debate sobre o colecionismo privado e a visibilidade pública. Como as coleções privadas podem se abrir ao público com a colaboração de instituições museológicas? Esse é o mote principal da mesa redonda “Colecionismo Privado e Visibilidade Pública”, que o Museu de Arte Moderna de São Paulo realiza na segunda-feira, 29 de agosto, a partir das 19h30. Para participar da discussão, o MAM convidou o galerista Eduardo Brandão e os colecionadores José Olympio da Veiga Pereira e Andrea Pereira, com mediação do curador Felipe Chaimovich. O debate deve girar em torno da questão da valorização de um patrimônio privado quando passa a ser exibido ao público pelos museus, dando oportunidade de acesso a esses patrimônios, quando assim expostos.