Simples e Sofisticado

21/set

Exposição do artista Paulo Roberto Leal é o atual cartaz da Galeria de Arte Ipanema, Rio de Janeiro, RJ, e obedece curadooria de Paulo Venancio Filho. Para o curador, a exposição “Simples/Sofisticado”, é uma reapresentação importante da obra de Paulo Roberto Leal, uma oportunidade ímpar de rever parte do seu legado, que dá prosseguimento à abstração geométrica pós neoconcretismo de uma maneira muito pessoal e, como o próprio artista costumava dizer, bastante lúdica. Tendo realizado algumas importantes exposições do artista, a Galeria de Arte Ipanema – inaugurada em 1971 com uma exposição de Paulo Roberto Leal – desta vez reúne mais de 20 trabalhos. Uma das precursoras do Modernismo e uma das mais longevas do Brasil, a galeria presta homenagem a Paulo Roberto Leal reunindo parte da coleção do acervo, entre pinturas e objetos, em um recorte que vai dos anos 1970 aos 80. Sua experiência anterior como artista gráfico deu intimidade para solucionar a ocupação de espaços especialmente bidimensionais, introduzindo uma certa liberdade cromática que imprime o clima do Rio de Janeiro dos anos 1970, mais extrovertido, diferente do neoconcretismo dos anos 1950.

À frente da galeria, Luiz Sève e sua filha Luciana Sève, falam sobre a relevância deste evento na sua cronologia: “Para nós, da Galeria de Arte Ipanema, esta exposição do Paulo Roberto Leal é motivo de grande orgulho e entusiasmo. Depois de 35 anos da última mostra conosco, Paulo continua sendo, através do seu trabalho, o mesmo jovem com quem convivemos: alegre e contagiante através de suas maravilhosas telas e esculturas. Temos muita satisfação em poder oferecer ao público o acesso às suas obras espetaculares”, afirmam.

A palavra do curador

A obra de Paulo Roberto Leal pode ser compreendida como uma inventiva continuidade pessoal aos processos abstrato geométricos neoconcretos, em especial, as suas escolhas e soluções cromáticas e ao tratamento que deu ao plano pictórico.  A novidade que introduz ao que seria possível de chamar de “pós-neoconcretismo” é a franca liberdade que concede às cores e ao material, em especial do papel. Sua atividade anterior como artista gráfico deu a ele uma intimidade e sensibilidade única com o papel – o elemento polivalente de sua obra. Para ele a materialidade própria do papel é simultaneamente suporte planar e fator “objetal”, pois podemos designar como objetos as tão conhecidas caixas de acrílico do artista nas quais o papel assume uma tridimensionalidade inusitada. Aí se percebe a inteligência do artista gráfico em articular e organizar o espaço pictórico – ou tridimensional -, tudo, imagina-se, deriva dessa convivência íntima com o planaridade. Nas cores que utiliza percebe-se uma determinada característica intimista e extrovertida, um possível paradoxo que articula a intimidade do exercício lúdico e extroversão cromática. O mesmo ocorre em certas reverberações cinéticas, como o movimento instável e gracioso do papel dentro das caixas e outros ritmos que permanecem ao longo da obra. O elemento constante, fundamental e que conduze toda obra é a presença da linha; não só sua presença como elemento divisório do espaço que tem inédita continuidade na costura que une as diversas partes da tela – costura que em alguns trabalhos é o único elemento que se apresenta na tela; só ela e mais nada.  Estas singelas inovações dão a dimensão do processo que se desenvolve até mesmo na presença efetiva da linha como elemento físico. Ela que também é a linha que costura, indica pluralidade de funções que executa – a linha costura e a costura é uma linha, mostrando a igualdade de uma e outra. Poderia se dizer que a linha que é um dos fundamentos do “pensamento gráfico ampliado” desenvolvido em diversas fases da obra do artista. Mesmo nas caixas, a vista privilegiada é aquela que oferece ao olhar as linhas sinuosas e ondulantes do papel recortado tocando a face do acrílico – esta a face “cinética” do trabalho que o artista encontrou na maleabilidade do papel, a espécie de “corpo” sensual que o papel forma dentro da caixa. O lirismo que percorre a escolha das cores – cores levemente pop -, especialmente os vermelhos e laranjas, extravasa uma cálida temperatura visual. Esta que deriva certamente do ambiente e da época – década de 1970 – da cidade do Rio de Janeiro. De uma simplicidade sofisticada – uma equação que é difícil solucionar -, despretensiosa e assertiva, implicada em seus delicados problemas, estendendo a abstração geométrica para uma absorção da experiência gráfica, de cuidadosa execução e disposição dos elementos geométricos, Paulo Roberto atraiu uma atenção que o levou a 36ª Bienal de Veneza e ampliou o interesse nacional e internacional por sua obra, que ainda persiste. A diversidade dos procedimentos que utilizou: costura, uso de linhas de seda, papel, acrílico, estabeleceram sua posição única naqueles anos de intensa experimentação das práticas artísticas onde começavam a prevalecer instalações, objetos e performances, colocando-o numa posição lateral, e não só ele. Nesse contexto sua obra não se alterou, permaneceu constante, reafirmando a cada momento a integridade da sua poética artística. E ainda hoje seu trabalho continua a sugerir uma singular intimidade ao estabelecer uma escala de pequena dimensão que circunscreve o espaço de uma convivência próxima, sugestiva ao jogo, ao interesse e prazer lúdico. Assim muitas de suas telas sugerem a disposição e a montagem das figuras geométricas, estabelecendo entre elas um convívio que manifesta a sensação do acerto buscado e encontrado: medida que o artista, desde sua experiência gráfica, tinha dentro de si. Uma obra, que vista depois de décadas, ainda exala um frescor intocado, rejuvenescido pelo tempo. (Paulo Venancio Filho).

A trajetória de Paulo Roberto Leal

Um dos ícones da expressão artística nos anos 1970, Paulo Roberto Leal (1946-1991) foi funcionário do Banco Central em 1967, tendo realizado os primeiros trabalhos de programação visual em 1969, produzindo catálogos de exposições de artes plásticas no Rio de Janeiro. Nesse mesmo ano, entra em contato com o neoconcretista Osmar Dillon e, na década 70, inicia experimentação com materiais ligados a seu trabalho no banco, como bobinas de papel. Ministra curso sobre criatividade com papel no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro – MAM/RJ e recebe prêmio na 11ª Bienal Internacional de São Paulo, em 1971. No ano seguinte, integra, com Franz Weissmann e Humberto Espíndola, a representação brasileira na 36ª Bienal de Veneza. Por ocasião da mostra O Gesto Criador, Olívio Tavares de Araújo realiza filme sobre sua obra em 1977. Trabalha como curador do Museu de Valores do Banco Central até 1980. Em 1984, em parceria com Marcus de Lontra Costa e Sandra Magger, faz a curadoria da mostra “Como Vai Você, Geração 80?”, na Escola de Artes Visuais do Parque Lage – EAV/Parque Lage, no Rio de Janeiro. É projetado em 1995 o Centro de Referência Iconográfica e Textual PRL no MAM/RJ, com a documentação deixada pelo artista sob a guarda de Armando Mattos. Em 2000, ocorre a exposição Projeto Concreto/PRL, no Centro Cultural da Light, no Rio de Janeiro, e, em 2007, 102 obras de sua autoria são reunidas na mostra Da Matéria Nasce a Forma, no Museu de Arte Contemporânea – MAC-Niterói. Dentre suas participações em exposições internacionais, merecem destaque “Unexpectedly” (Cloud Seven/Bruxelas), a coletiva “Afinidades Eletivas” (Galeria Esther Schipper/Berlim), com curadoria de Olivier Renaud-Clement, que em 2018 agrupou obras de Fernanda Gomes, Jac Leirner, Marcius Galan, Mira Schendel.

Sobre a Galeria de Arte Ipanema

A história da arte moderna e contemporânea brasileira se funde com a da Galeria de Arte Ipanema, que é reconhecida pelas importantes mostras de renomados artistas já realizadas ao longo dos seus 57 anos. Desde que surgiu, vem consolidando uma identidade própria e ocupa assim um espaço fundamental para o despontar artístico no Brasil. Considerada uma das mais relevantes e antigas galerias do país, reúne um acervo de peso e representatividade com obras de artistas internacionalmente reconhecidos, como Volpi, Cruz-Díez, Milton Dacosta, Lygia Clark, Sérgio Camargo, Di Cavalcanti, Portinari, Ivan Serpa, Guignard, Cícero Dias, Iberê Camargo, Antônio Bandeira, Pancetti, Tomie Ohtake entre outros. Tendo começado sua história no Copacabana Palace e ocupado endereço na Rua Farme de Amoedo, hoje está instalada no andar térreo de um belo prédio na Rua Aníbal de Mendonça, na quadra da praia, com projeto arquitetônico do escritório de Miguel Pinto Guimarães.

Oiticica e artistas modernos e contemporâneos.

15/set

 

Em 1986, foi realizada a primeira exposição póstuma de Hélio Oiticica (1937 – 1980), organizada pelo Projeto HO, na época coordenado por Lygia Pape, Luciano Figueiredo e Wally Salomão. Para essa mostra, que se chamava “O q faço é música” e foi realizada na Galeria de Arte São Paulo, o projeto produziu edições únicas das icônicas obras “Relevo Espacial, 1959/1986” e “Parangolé P4 Capa 1, 1964/1986”,  para arrecadar fundos para a organização, catalogação e conservação das obras e documentos deixados pelo artista. Desde então, essas obras permaneceram em uma coleção particular, e agora voltam a público, depois de 37 anos, sendo o ponto de partida para a exposição “O que há de música em você”, na Galeria Athena, Rio de Janeiro, RJ, com curadoria de Fernanda Lopes.

 

Icônicas para o desenvolvimento do pensamento de Oiticica, as duas obras são de grande importância – o “Parangolé”, inclusive, foi vestido por Caetano Veloso na época de sua criação. Partindo delas, e da célebre frase de Hélio Oiticica: “O q faço é música”, a exposição apresenta um diálogo com fotografias, vídeos, objetos e performances de outros 20 artistas, entre modernos e contemporâneos, como Alair Gomes, Alexander Calder, Aluísio Carvão, Andro de Silva, Atelier Sanitário, Ayla Tavares, Celeida Tostes, Ernesto Neto, Felipe Abdala, Felippe Moraes, Flavio de Carvalho, Frederico Filippi, Gustavo Prado, Hélio Oiticica, Hugo Houayek, Leda Catunda, Manuel Messias, Marcelo Cidade, Rafael Alonso, Raquel Versieux, Sonia Andrade, Tunga e Vanderlei Lopes. Na fachada da galeria estará a grande obra “Chuá!!!”, de Hugo Houayek, feita em lona azul.

 

Os diálogos, em diversas formas, seja por um aspecto mais literal da ideia de música, de movimento, seja pela questão da cor e por discussões levantadas por Hélio Oiticica naquele momento que continuam atuais. “A ideia geral é tentar pensar, como pano de fundo, como o Hélio traz questões da passagem para o contemporâneo que continuam sendo debatidas e que estão vivas até hoje de diferentes maneiras”, afirma a curadora Fernanda Lopes.

 

A relação de Hélio Oiticica com o samba e com a Estação Primeira de Mangueira é bastante conhecida, mas a curadora também quer ampliar essa questão. “Quando Hélio fala de música, ele não está se referindo só ao samba, mas também ao rock, que é o que ele vai encontrar quando chega em Nova York. Para ele, são ideias de música libertárias, pois dança-se sozinho, sem coreografia, são apostas no improviso, no delírio. Acho que a partir disso é possível fazer um paralelo com a discussão de arte, repensando seu lugar, seus limites, suas definições e repensando também a própria ideia e o papel da arte”, afirma a curadora.

 

Obras em exposição 

 

Diversas relações são criadas na exposição. Obras que fazem referência mais direta ao samba, como a pintura “Duas Mulatas” (1966), de Flávio de Carvalho, e a obra de Manuel Messias, encontram-se na mostra. “São referências mais literais, de artistas que tinham no samba um lugar de ação, não uma ilustração”, conta a curadora. Ampliando a questão musical, chega-se ao movimento, à movimentação dos corpos, que está sempre associado à música. Na exposição, essas relações são criadas, por exemplo, com os trabalhos de Aloísio Carvão e Celeida Tostes. Composto por uma caixa branca contendo círculos não uniformes, separados por tons diferentes, que vão do amarelo ao vermelho, a obra “Aquário II” (1967), de Aloísio Carvão, dialoga com o trabalho de Oiticica não só por ter a cor como guia, mas também pela ideia de movimento. “Esta obra, de certa forma, também tem algo rítmico ou uma possibilidade de reconhecer isso nessas peças, uma vez que depende do vento ou de outra situação que aconteça no espaço para que as peças se movimentem”, diz Fernanda Lopes. Desta mesma forma, o trabalho de Celeida Tostes, composto por cerca de 60 peças em cerâmica, com formatos circulares vazados no meio, com variações de cores em tons terrosos, sugere um ritmo pela organização modular. Ainda na ideia de movimento, está o trabalho “Escultura mole”, dos anos 1970, de Alexandre Calder, feito em tecelagem, com uma espécie de rede, que, além de resgatar a história, por ser um elemento característico do Brasil e América Latina, remete à ideia de movimento. Na exposição, as questões sobre música estão ampliadas, e a curadora quis trazer outros aspectos, como a dimensão social do samba. “Não é só um estilo musical, existe um confronto de alguma maneira, não é só entretenimento, mas também um lugar de disputa”, afirma. Dentro deste pensamento, está na exposição um tacape (arma indígena), de Tunga. Além disso, alguns trabalhos apostam ou se valem de um desconforto, que esteve presente na figura de Hélio Oiticica. Por exemplo, quando ocorreu a exposição na White Chapel, em Londres, em 1969, muita gente adorou o fato de ele ter colocado areia de praia no chão, mas outras pessoas se incomodaram de terem que tirar o sapato, assim como houve críticas na imprensa. Remetendo a isso, estão os trabalho de Andro de Silva, com palhaços chorando, uma grande pintura de Rafael Alonso, medindo 1,30X1,70, que traz uma imagem incômoda para a vista, e três vídeos de “Sem título”, de Sonia Andrade, que causam apreensão – em um deles ela está com a mão aberta em uma superfície com um prego entre cada dedo, tentando não errar a direção do martelo; em outro, ela depila os pelos de partes do corpo, como os da sobrancelha, e no terceiro, aperta um fio em parte do rosto.

 

Sobre o Projeto HO

 

Em 1981, os irmãos de Hélio Oiticica, Cesar e Claudio, diante da urgência do desafio de guardar, preservar, estudar e difundir a sua obra, formularam o Projeto Hélio Oiticica, uma associação sem fins lucrativos com esses objetivos. Contando com a construção inicial de companheiros e amigos de Hélio Oiticica, com os quais formou-se um conselho e uma coordenação, e com fundos provenientes da venda de obras de terceiros pertencentes ao acervo da família, instalou-se o Projeto HO. Os membros do Projeto, apesar de trabalhando sem remuneração, e durante suas horas de lazer, conseguiram uma série crescente de realizações entre as quais merecem destaque a publicação do livro de textos: ‘Aspiro ao grande labirinto’ e as exposições retrospectivas realizadas em Rotterdam, Paris, Barcelona, Lisboa e Minneapolis com a edição de respectivos catálogos. Além disso, houve a participação em 16 exposições no Brasil, sendo 10 coletivas e seis individuais e 12 exposições no exterior, sendo 11 coletivas e uma individual. Em 1996, foi inaugurado o Centro de Arte Hélio Oiticica com a grande retrospectiva que havia percorrido a Europa e os Estados Unidos, posteriormente, o acervo participou de 39 exposições no Brasil, 11 individuais e 28 coletivas, e de 51 exposições no exterior, sendo 9 individuais e 42 coletivas.

 

Sala Casa

 

No mesmo foi inaugurada a exposição “Jonas Arrabal – Ensaio sobre uma duna”, com trabalhos inéditos em diversas mídias, reunidos em conjunto, como uma grande instalação pensada especialmente para ocupar a Sala Casa da Galeria Athena. Bronze, sal, chumbo, betume e resíduos orgânicos são alguns exemplos de materiais utilizados pelo artista nos últimos anos, traduzidos aqui entre objetos e desenhos. Em sua pesquisa poética há um interesse particular sobre o tempo e a memória, numa aproximação com a ecologia, meio ambiente e a história, propondo uma reflexão sobre a transformação constante das coisas, dos lugares e como isso nos afeta e nos permite novas percepções. “Em seus trabalhos há uma operação que transita entre a invisibilidade e a visibilidade, transições e apagamentos concretos (conscientes ou não) numa aproximação com elementos da natureza, opondo materiais industriais com orgânicos, propondo novas mutações”, diz a curadora Fernanda Lopes.

 

Até 10 de novembro.

 

 

Exposição prorrogada

29/jun

A exposição “Haverá consequências” foi prorrogada até 22 de julho devido ao grande fluxo de visitantes e contatos para agendamentos. Uma boa oportunidade e para visitar a Fundação Vera Chaves Barcellos, Viamão, RS. Trata-se da primeira mostra com curadoria da professora e pesquisadora Bruna Fetter à frente da Direção Cultural da FVCB, função assumida em abril de 2022.

Realizada integralmente a partir do Acervo da instituição, “Haverá consequências” representa um exercício de encontros e aproximações que se materializam por meio de rastros e vestígios da memória, reverberando no presente e nos desdobramentos futuros. As obras presentes na mostra – seja em termos temáticos, materiais ou mesmo formais – são compreendidas simultaneamente como imagem-índice-percurso, o que possibilita diferentes leituras, relações e caminhos. Fazem parte da seleção apresentada trabalhos em fotografia, vídeo, gravura, pintura, objeto, arte postal, serigrafia e livro de artista.

Nas palavras da curadora, Bruna Fetter: “Ao partir da noção de rastro e vestígio, Haverá consequências busca tecer fios que atravessam nossas compreensões de passado-presente-futuro, causa e consequência. Na mostra encontraremos imagens e objetos que são resíduos de pensamentos e ações ocorridas no passado, mas que pela sua condição de obra de arte tornam-se testemunhos perenes a nos acessar em diferentes contextos e tempos. Reunindo um grupo de obras da coleção da FVCB, a exposição resulta de uma imersão minha neste Acervo, e também de um trabalho muito próximo a todas as equipes da instituição, inaugurando meu trabalho como diretora cultural da Fundação.”

A mostra, reúne mais de 60 obras de 57 artistas do Brasil e do exterior.

Artistas participantes

Begoña Egurbide | Bill Viola | Brígida Baltar | Cao Guimarães | Carla Borba | Carlos Krauz | Christian Cravo | Cinthia Marcelle | Claudia Hamerski | Claudio Goulart | Clovis Dariano | Darío Villalba | Dennis Oppenheim | Dirnei Prates | Elaine Tedesco | Elcio Rossini | Eliane Prolik | Ethiene Nachtigall | Fabiano Rodrigues | Fernanda Gomes | Frantz | Geraldo de Barros | Guilherme Dable | Heloisa Schneiders da Silva | Hudinilson Jr. | Ío (Laura Cattani e Munir Klamt) | Jaume Plensa | Joan Fontcuberta | João Castilho | Lluís Capçada | Luanda | Lucia Koch | Mara Alvares | Marco Antonio Filho | Margarita Andreu | Mariana Silva da Silva | Mario Ramiro | Marlies Ritter | Michael Chapman | Nelson Wiegert | Nick Rands | Patricio Farías | Paulo Nazareth | Perejaume | Regina Vater | Rosângela Rennó | Roselane Pessoa | Sarah Bliss | Sascha Weidner | Sol Casal | Susy Gómez | Telmo Lanes | Tuane Eggers | Vera Chaves Barcellos | Wanda Pimentel | Yuri Firmeza

Visitação

De segunda a sexta-feira e aos sábados, mediante agendamento prévio, até 22/07/23

Contatos: educativo.fvcb@gmail.com | (51) 98229 3031

Local: Sala dos Pomares da Fundação Vera Chaves Barcellos – Av. Senador Salgado Filho, 8450, parada 54, Viamão/RS (ponto de referência: ao lado do pórtico do Condomínio Buena Vista) – Entrada franca.

Exposição de Mira Schendel

20/jun

A Galatea, Jardins, São Paulo, SP, apresentará a exposição “Mira Schendel:Toquinhos”, que será inaugurada no dia 28 de junho, às 18h. A mostra, em cartaz até 19 de agosto, conta com texto da curadora e crítica de arte Lisette Lagnado e reúne, pela primeira vez, um conjunto tão abrangente de obras – cerca de 60 – que compõem a série “Toquinhos”, produzida por Mira Schendel (1919-1988) principalmente entre 1972 e 1974. São trabalhos que se inscrevem no contexto das múltiplas experimentações com o papel de arroz japonês realizadas por Mira, após ter sido presentada pelo amigo Mario Schenberg, crítico de arte e importante físico brasileiro, com uma enorme quantidade desse material. A série “Monotipias”, produzida principalmente entre 1964 e 1967 e composta por cerca de dois mil desenhos, abre toda uma sequência de criações com o papel japonês que se desdobra, ainda, em trabalhos como as “Droguinhas” e os “Trenzinhos”, produzidos na segunda metade da década de 1960, e os “Objetos Gráficos”, realizados sobretudo entre 1967 e 1973.

Os “Toquinhos” aqui apresentados, vale ressaltar, diferem dos “Toquinhos” que consistem em pequenos retângulos de acrílico colados sobre placas transparentes também de acrílico, produzidos mais ou menos na mesma época (primeira metade da década de 1970). Entre as séries homônimas, os decalques de letraset são o elemento comum. A artista passa a utilizá-los sobretudo a partir da série “Objetos Gráficos”, cujas obras são compostas por folhas de papel de arroz repletas de rabiscos, traçados, rasuras, tipos datilografados e letraset inseridas entre duas placas de acrílico suspensas por fios de nylon e dispersas no espaço, longe das paredes, jogando com a luz, o dentro e o fora, a frente e o verso. Progressivamente, o desenho, a escrita cursiva e a rasura passam por um processo de síntese no trabalho de Mira, chegando ao que o ensaísta alemão Max Bense chama de “reduções gráficas”.

Nos “Toquinhos”, tais reduções são notáveis. A artista cria camadas colando sobre o papel japonês recortes geométricos (tingidos ou não) do mesmo papel, normalmente acompanhados de sinais de pontuação e letras. Ao ser questionada, em 1975, pela jornalista Norma Couri: “Por que letras?”, Mira responde: “São o pré-texto ou o pretexto do pós-texto”. Comentando tal diálogo, o teórico Geraldo Souza Dias afirma, em sua monografia sobre a artista intitulada “Mira Schendel: do espiritual à corporeidade” (2009): “A completa redução da forma a círculos e retas, desenvolvida nos tipos sem serifa da fonte Futura, a preferida da artista, permite considerar a relevância ótica das letras enquanto elementos de um conjunto. Nos trabalhos de Mira, o significado original dos sinais caligráficos – letras e números – transforma-se pela ação da letra autocolante, assumindo um caráter novo, puramente plástico.”

Primeiro ano da Galatea

12/jun

 

 

A Galatea, Jardins, São Paulo, SP, completou no dia 10 seu primeiro ano! Estamos muito felizes com tudo o que construímos e compartilhamos nos doze meses que se passaram.

Seguimos levando à frente nossa proposta de trabalhar tanto com novos talentos da arte contemporânea quanto com artistas consagrados do cenário artístico nacional, além de promover o reposicionamento de artistas históricos eclipsados pela histografia da arte e pelo mercado. Buscamos, assim, fomentar e agregar culturas, temporalidades, estilos e gêneros distintos, em uma rica fricção entre o antigo e o novo, o canônico e o não-canônico, o erudito e o informal.

Artistas representados

Hoje, contamos com um conjunto diverso de artistas representados, provenientes de diversas regiões do país, inscritos em diferentes gerações e que transitam por linguagens variadas, desde a pintura até a instalação. Por ordem de anúncio, são: Allan Weber (Rio de Janeiro, RJ, 1992), José Adário (Salvador, BA, 1947), Marilia Kranz (Rio de Janeiro, RJ, 1937-2017), Aislan Pankararu (Petrolândia, PE, 1990), Daniel Lannes (Niterói, RJ, 1981), Carolina Cordeiro (Belo Horizonte, MG, 1983) e Miguel dos Santos (Caruaru, PE, 1944).

Feiras

Participamos, desde o início, de importantes feiras nacionais e internacionais com projetos que, vistos em conjunto, traduzem bem a nossa proposta. Foram eles: o estande Tramas brasileiras na SP-Arte Rotas Brasileiras, em agosto de 2022; Chico da Silva: mitologias brasileiras na Independent 20th Century, em Nova York, em setembro de 2022; Allan Weber: Traficando arte na ArtRio, em setembro de 2022; o estande na SP-Arte, em abril de 2023; o estande com o projeto solo da artista Beatrice Arraes na ArPa, em São Paulo, em junho de 2023.

Exposições

Seguimos levando à frente nossa proposta de trabalhar tanto com novos talentos da arte contemporânea quanto com artistas consagrados do cenário artístico nacional, além de promover o reposicionamento de artistas históricos eclipsados pela histografia da arte e pelo mercado. Buscamos, assim, fomentar e agregar culturas, temporalidades, estilos e gêneros distintos, em uma rica fricção entre o antigo e o novo, o canônico e o não-canônico, o erudito e o informal.

A próxima exposição, com abertura no dia 28 de junho, apresentará uma seleção abrangente da série Toquinhos, produzida por Mira Schendel principalmente entre 1972 e 1974. Continuaremos a todo vapor e muito animados com todas as novidades que em breve serão compartilhadas!

Agradecemos imensamente a todos que colaboraram conosco e acompanharam a nossa trajetória.

Artur Lescher no Instituto Artium

01/jun

O Instituto Artium de Cultura apresenta a exposição individual de Artur Lescher (São Paulo, Brasil, 1962), um dos artistas de maior destaque no cenário da arte contemporânea brasileira. Composta por cinco obras de grandes formatos, a mostra traz dois trabalhos concebidos especialmente para a exposição, inéditos ao público. A exposição fica aberta até o dia 23 de julho e a entrada é franca.

Conhecido por suas impecáveis esculturas pendulares, este recorte da produção do artista foi concebido em diálogo com a arquitetura do Palacete Stahl – construído em 1920 para abrigar o consulado da Coroa Sueca, mais tarde utilizado pelo Império do Japão, e agora sede do Instituto Artium, uma entidade cultural sem fins lucrativos.

Nesta mostra Artur Lescher busca colocar em diálogo a função original do edifício com a sua função contemporânea, que é a de espaço cultural, voltado para projetos de artes visuais. Para isso, apresenta trabalhos que dialogam diretamente com o entorno em que estão inseridos. Com esta relação entre os trabalhos e o espaço construído há mais de cem anos, o artista nos questiona: o que pode aparecer desse atrito e confronto de ideias e ficções extemporâneas?

Os destaques da montagem são as obras pendulares no salão principal, onde foi criada uma grande instalação de obras inéditas que conversam com trabalhos anteriores. Completando a ocupação do palacete, a obra “Elipse Piracaia” (2016), uma escultura de 3,50 metros, será instalada na área externa do Instituto Artium.

Há mais de 30 anos o paulistano Artur Lescher apresenta um sólido trabalho, resultado de uma pesquisa em torno da articulação entre matéria, forma e pensamento. São trabalhos que excedem o caráter de escultura e cruzam as linguagens da instalação e do objeto, a fim de modificar a compreensão destas e do espaço no qual se inserem. Ao mesmo tempo que sua prática está atrelada a processos industriais, sua produção não tem como único fim a forma.

Fortemente ligada aos processos industriais e alcançando extremo refinamento e rigor na mecânica das formas, a produção de Lescher vai além de uma investigação puramente formal. Autointitulado um construtor, ele é reconhecido pelo emprego de materiais como madeira e metais, tais como ferro, alumínio e cobre, que são trabalhados utilizando métodos semi-industriais, desenvolvidos a partir de uma gramática de formas para analisar as conexões entre a matéria, a obra e o espaço que ela habita.

Exposição de Cerâmicas de Rodrigo Torres

A Simões de Assis apresenta até 29 de julho, “A Trilha do Esquecido”, primeira individual do artista Rodrigo Torres na sede de Balneário Camboriú, SC. O projeto dessa mostra foi criado a partir do interesse de Rodrigo  Torres por resquícios de construções, elementos humanos e da natureza encontrados em uma trilha na floresta da Tijuca, no Rio de Janeiro, onde ele vive e trabalha.

Embora tenha navegado por técnicas diversas, como pintura e colagens, hoje o artista se dedica principalmente à cerâmica. Vasos, jarras, frutas e legumes tornam-se objetos ornamentados e sofisticados subvertendo dessa maneira o gênero da natureza morta. A série de trabalhos apresentada em “A Trilha do Esquecido”, deriva de um longo caminho de experimentos do artista com o material, testando seus limites e esgarçando suas possibilidades físicas.

Mestre Didi no Inhotim

26/mai

A exposição temporária “Mestre Didi – os iniciados no mistério não morrem” chega à Galeria Praça a partir do dia 27 de maio, com curadoria de Igor Simões, curador convidado, e da equipe curatorial do Inhotim, MG. A exibição de cerca de 30 obras da coleção do Instituto Inhotim de Deoscóredes Maximiliano do Santos (1917-2013), o Mestre Didi, faz parte do Programa Abdias Nascimento e o Museu de Arte Negra e apresenta ao público o universo múltiplo onde as atividades de artista, intelectual e liderança religiosa no Candomblé se encontram.

As esculturas expostas utilizam fibras de dendezeiro, búzios, contas, sementes, tiras de couro e outros símbolos que remetem às tradições iorubá. Além de artista, Mestre Didi foi sacerdote supremo do culto aos ancestrais Egungun e fundou, nos anos 1980, a Sociedade Religiosa e Cultural Ilê Asipá, em Salvador, BA. A mostra busca compreender as diversas vivências de sua trajetória, da intelectualidade ao sagrado, sempre em diálogo com as experiências afro-diaspóricas.

Integram ainda a exposição trabalhos de Rubem Valentim, Ayrson Heráclito e comissionamentos do Ilê Asipá. As inaugurações na Galeria Praça de 2023 são patrocinadas pela Shell, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura.

Sobre o artista

Deoscóredes Maximiliano dos Santos (Salvador, Bahia, 1917-2013), mais conhecido como Mestre Didi, foi um sacerdote-artista, filho de Arsênio dos Santos, um grande alfaiate baiano, e de Maria Bibiana do Espírito Santo, conhecida como Mãe Senhora por seu papel de Ialorixá no terreiro Ilê Axé Opô Afonjá, em Salvador. Didi começou ainda na infância a executar objetos rituais associados ao Candomblé, mantendo essa prática ao longo de toda sua vida. Ao mesmo tempo, iniciou-se na religião aos oito anos de idade, aprofundando-se no culto aos Egunguns (ou Ancestrais), parte essencial da cultura nagô de origem iorubana. Em suas peças, fibras do dendezeiro, contas, búzios, tiras de couro, emblemas dos orixás Nanã, Obaluayê, e Oxumarê, reapresentados no campo semântico da arte e, como tal, esgarçando práticas que nem sempre cabem na palavra. Entre a década de 40 e 90, Mestre Didi se posiciona como um intelectual afro-atlântico, e em sua produção estarão presentes traduções do Iorubá para o português, autos coreográficos, contos e escritos que o posicionam como figura incontornável na guarda e na difusão dos saberes da diáspora africana, não apenas no Brasil, como entre as Américas e Europa. Em 1966, viajou para a África Ocidental para realizar pesquisas comparativas entre Brasil e África, contratado pela Unesco. Em 1980, fundou e presidiu a Sociedade Cultural e Religiosa Ilê Asipá do culto aos ancestrais Egun, em Salvador. Foi coordenador do Conselho Religioso do Instituto Nacional da Tradição e Cultura Afro-Brasileira, representando no país a Conferência Internacional da Tradição dos Orixás e Cultura. Mestre Didi realizou importantes mostras individuais e coletivas em instituições como Pinacoteca do Estado de São Paulo, Museu Afro Brasil Emanoel Araújo, Museu de Arte Moderna de São Paulo, Museu Oscar Niemeyer, Museu de Arte Moderna da Bahia, Museu Histórico Nacional e Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, além de participar na Bienal da Bahia e na 23ª Bienal de São Paulo. No exterior, expôs em Valência, Milão, Frankfurt, Londres, Paris, Acra, Dacar, Miami, Nova York e Washington. Seus trabalhos figuram em coleções de destaque, incluindo Museu de Arte Moderna da Bahia, Museu de Arte Moderna de São Paulo, e Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand.

Diferentes Gerações de Artistas

23/mai

A proposta da exposição “Artista de artista”, que ocupa até 24 de junho a Sala 2 da Galeria Luisa Strina, Cerqueira César, São Paulo, SP, foi convidar os artistas representados pela galeria residentes no Brasil a indicar outros artistas para participar de uma exposição coletiva. A sugestão foi que indicassem artistas históricos ou contemporâneos, preferivelmente brasileiros, que ainda não tenham alcançado a devida visibilidade dentro do circuito de museus e galerias.

Esse projeto parte do pressuposto de que as relações e conexões estabelecidas entre artistas é essencialmente movida por interesses muito distintos daqueles dos curadores, galeristas, art advisors, diretores de museu e jornalistas. Delegar a escolha das obras participantes aos artistas – e, nesse caso, um conjunto de 24 trabalhos selecionados por 16 artistas – implica, naturalmente, em uma exposição polifônica. E, no entanto, cada um dos trabalhos selecionados revela algo sobre os artistas que fizeram as indicações: às vezes ficam evidentes afinidades estéticas, metodológicas, temáticas; às vezes revelam direções de pesquisas semelhantes; ou simplesmente uma admiração por algo completamente diferente do trabalho do artista-curador. 

A grande maioria optou por colocar em evidência a prática de artistas mais jovens, muitos deles ainda sem representação em galerias comerciais. Em alguns casos, são relações de afinidade que se desenvolveram ao longo dos anos, muitas vezes envolvendo uma interlocução regular e o acompanhamento da trajetória desses jovens artistas. Em outros, os artistas representados conheceram as obras através de exposições realizadas em outros locais. Há, ainda, exemplos de artistas selecionados já estabelecidos no mercado e que estão presentes com uma produção distinta daquela que lhes deu reconhecimento; bem como artistas que, por diversas razões, nunca tiveram uma inserção significativa no circuito da arte.

Artista de artista é, sobretudo, uma oportunidade para enxergar uma parcela ínfima da produção de diferentes gerações de artistas sob a perspectiva de alguns dos artistas que trabalham conosco. Nesse sentido, forma um pequeno porém potente panorama de algumas ideias e práticas que apontam tanto para o passado quanto para o futuro, mantendo-se vivas através das relações dos artistas com artistas.

Afonso Pimenta – selecionado por Bruno Baptistelli, Ana Raylander – selecionada por Cinthia Marcelle, Fred Lemos Auad – selecionado por Tonico Lemos Auad, Gabriela Mureb – selecionada por Laura Lima, Gaya Rachel – selecionada por Anna Maria Maiolino, Júlia Gallo – selecionada por Thiago Honório, Mariela Scafati – selecionada por Pablo Accinelli, Marina Hachem – selecionada por Marina Saleme, Marlon de Paula – selecionado por Pedro Motta, Priscila Rooxo – selecionada por Panmela Castro, Renato Maretti – selecionado por Caetano de Almeida, Rose Afefé – selecionada por Marcius Galan,  Sofia Caesar – selecionada por Fernanda Gomes, Tantão – selecionado por Jarbas Lopes, Tiago Tebet – selecionado por Alexandre da Cunha, Yan Braz – selecionado por Marepe.