Pinturas de Lucia Laguna 

11/mar

 

 

A Carpintaria, Jardim Botânico, Rio de Janeiro, RJ, anuncia a abertura da exposição “Se hace camino al andar”, exibição individual de pinturas de Lucia Laguna de 13 de Março a 16 de Maio.

Sobre a artista
 
“Lucia Laguna é uma das grandes revelações da pintura no Brasil neste início de do século XXI. Sua pintura não surge da retórica sobre a pintura, mas do processo empírico da pintura”.
Paulo Herkenhoff

Zerbini on line

“OVR” – a individual de Luiz Zerbini na Stephen Friedman Gallery pode ser visitada online. Folhas de palmeira e samambaias em espiral se espalham pela estrutura em grid presente em todas as pinturas da exposição. Essas formas se fundem com áreas de marcações abstratas, demonstrando como o artista se apropria de padrões encontrados na natureza e os incorpora em seu próprio vernáculo.
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Foto: Luiz Zerbini, “Happiness Beyond Paradise”, 2020

Escombros de casas do Pontal de Atafona

08/mar

 

 Simone Cadinelli Arte Contemporânea, Ipanema, Rio  de Janeiro, RJ, abre para o público no próximo dia 08 de março a exposição “Escombros, peles, resíduos”, com trabalhos inéditos da artista Jeane Terra, criados a partir de várias técnicas e processos singulares que ela vem desenvolvendo nos últimos anos – incluindo os meses do isolamento social – tendo como ponto de partida os escombros das casas do Pontal de Atafona, praia no norte fluminense que está sendo tragada pelo mar. A exposição ocupará toda a galeria, onde além das pinturas secas – ou “pele de tinta”, processo que criou e que agora está patenteado – e as “monotipiassecas”, estarão reunidas esculturas, fotografias, um bordado e duas instalações: uma escavação na parede e uma ocupação da vitrine voltada para a Rua Aníbal de Mendonça.

O público poderá ver, reunidos, em curadoria de Agnaldo Farias, os trabalhos poéticos desta artista singular, que discute a memória habitada em destroços de casas, e agora, de maneira mais ambiciosa, de quarteirões inteiros. Os trabalhos expostos são resultantes da imersão que a artista fez em janeiro de 2020 em Atafona.

Agnaldo Farias, curador da exposição e autor do texto crítico, destacou, em um bate-papo virtual com a artista em dezembro, que acompanha o trabalho de Jeane Terra “desde quando ela era ainda apenas uma promessa”. “O trabalho dela tem muita força, e é um privilégio fazer esta viagem por ele”, diz. Ele acha “impressionante o fato de ela se chamar Jeane Terra, e ter esta pesquisa muito particular”. “Não acredito em coincidências”, diz ele. “Esta ideia de resíduos, peles, escombros tem a ver com construções e com uma arquitetura que é reivindicada pela própria terra para a condição de ruína, para que esta construção volte à própria terra”, observa.

Agnaldo Farias afirma que “este é um momento lindo, em que não apenas a artista pode ver reunidos seus trabalhos, que ficavam espalhados no ateliê, como o público poderá tomar contato com toda a riqueza, a fertilidade e a amplitude de sua pesquisa, e isso é um privilégio muito grande”.

MONOTIPIAS EM PELE DE TINTA

 

Com o isolamento social imposto pela pandemia, Jeane Terra se concentrou em seu ateliê, onde pode se dedicar a várias experiências que vinha fazendo. Deste período surgiu uma nova técnica inventada por ela, que chama de “monotipias em pele de tinta”, ou “monotipia seca”, e oito desses trabalhos estarão também na exposição. Nesta série, a pele de tinta é usada inteira em grande formato, até 1,10m, como suporte para uma monotipia seca, em que a artista transfere uma imagem em um delicado e complexo processo, que resulta em uma “aparência de pergaminho, de documento antigo”. As imagens impressas são fotografias que a artista fez em Atafona.  “Quis tatuar, marcar, inscrever na pele, e no processo de transferência da imagem para a pele ela se fragmenta, se dilacera, como a memória. Parece que o tempo desgastou”, observa.

PANORÂMICA DA EXPOSIÇÃO

Mineira radicada no Rio, Jeane Terra transforma seu ateliê em laboratório. “Tudo é experimental. Sempre estou buscando algo novo. Gosto da dificuldade, de trabalhar o erro e o acerto, da surpresa que me aguarda diariamente no ateliê. São muitas frustrações, e a busca até descobrir o caminho certo é o que me faz me sentir viva como artista. O ateliê é um laboratório. Me sinto uma artista alquimista”, diz.

Ver reunido este conjunto de obras será uma excelente oportunidade de percorrer o universo desta artista inventiva, que se por um lado tem na memória – a sua, familiar, a de casas específicas, e agora bairros inteiros -, um agente propulsor, por outro é movida pela inquietação diária em estar sempre procurando processos, técnicas, materiais não existentes até então.

PELE DE TINTA, MONOTIPIA SECA, PONTO CRUZ

Três obras darão a dimensão para o público desses processos, pois trazem a mesma imagem, mostrada na fotografia “Miragem” (2020) feita pela artista – em impressão fine art em papel algodão, de 50 x 65cm -, a de um barranco cavado pelo mar, onde restos de casas se mantêm equilibradas no topo. Esta cena está em “Miragem Tecida” (2020), um bordado em ponto cruz sobre entretela, de 57 x 87cm,feito pela própria artista, e em “Pele Mirada” (2020), uma “pintura seca”, ou “pele de tinta”, técnica criada pela artista que chamou a atenção de críticos e curadores como Paulo Herkenhoff, que incorporou à coleção do Museu de Arte do Rio (MAR) a obra “O Salto” (2017), a primeira em que Jeane Terra usou este processo. Cada trabalho desses pode demorar até quatro meses para ser finalizado. Primeiro, a artista produz suas “peles de tinta” – uma combinação de pigmentos de tinta e aglutinantes, agora patenteada. Depois, ela recorta pequenos quadrados de 1x1cm, aplicando um a um na tela previamente quadriculada, com a paleta de cores já determinada pela artista. “É como um bastidor de ponto em cruz. Um pixel analógico”, observa. O ponto cruz surgiu da memória de sua avó fazendo bordados para o enxoval das mulheres da família, e Jeane aplica de várias maneiras em seu trabalho.

Desenvolvendo sua busca pela tridimensionalidade, Jeane quis transformar a pele de tinta em suporte, em tela, para outras intervenções. A artista então trilhou um longo caminho, que começou no final de 2019 e atravessou 2020, para alcançar a consistência necessária para criar peles em grande formato, e depois realizar monotipias neste material. Foi dificultoso encontrar as condições adequadas para realizar a transferência de imagem. Estarão na exposição sete dessas “monotipias secas”, entre elas “Receita” (2020), 56 x 85cm, que traz a imagem do programa de bastidor, em ponto cruz, usado pela artista em seus trabalhos. As monotipias se assemelham a pergaminhos antigos, que o tempo desgastou.

 

ESCOMBROS, MEMÓRIA ETERNIZADA

 

A memória das casas é outro assunto de interesse para Jeane Terra. Ao guardar pedaços de escombros da casa da família, que foi demolida em Belo Horizonte, “com aquela chuva de poeira de memória”, ela sem saber dava início a toda uma série de trabalhos, a partir da ideia de que as casas guardam memórias. Quando foi para Atafona, atraída pelo fato de o local estar há décadas sendo engolido pelo mar, ela ampliou a escala deste interesse: “Agora não se tratava de uma casa apenas, mas de todo um bairro desaparecido”, conta. Além das séries de pinturas, estarão na exposição uma série de objetos e duas instalações a partir desta necessidade da artista em eternizar a memória contida nos fragmentos das casas.

Na entrada da galeria Simone Cadinelli, Jeane Terra fará uma escavação na parede que percorrerá fragmentos de escombros que estarão instalados ali. A escavação que a artista irá folhear a ouro, obedecerá ao desenho do mapa do Pontal de Atafona, que não existe mais. No último dia da exposição, a artista fará uma “cerimônia de apagamento da escavação, encobrindo o trabalho, que dessa forma desaparecerá, mas ficará “incrustado na parede”, como uma memória.

No chão do espaço térreo estarão totens, colunas de paredes em que Jeane escavou e folheou a ouro mapas aéreos de catorze ruas encobertas pelo mar.  Na outra parede, uma fotografia feita pela artista em Atafona, e outra que revela “receita” do ponto cruz, o “bastidor digital” usado nos trabalhos da artista.

MONOTIPIAS EM ESCOMBROS SUBMERSOS

Jeane Terra observou que quando a maré baixava, e o mar recuava, era possível ver semienterrados muitos destroços do que haviam sido casas. Ela mediu o tempo da maré baixa, e fez monotipias em pedaços de escombros, usando silicone. A partir deste molde, a artista recriou os escombros submersos em concreto, “uma camada fina como uma pele”, com interferências em folha de ouro. “É uma máscara mortuária”, comenta. Esses trabalhos poderão ser vistos no segundo andar da galeria Simone Cadinelli, e Máscara Gold (2020) é um deles, medindo 50 x 27 x 3 cm. As monotipias em pele de tinta estarão também neste espaço, assim como “Fáscia 2” (2020), com 58 x 47cm, em que Jeane Terra bordou e desenhou sobre pele de tinta.

 

FENÔMENO EM ATAFONA

Em um processo iniciado ainda em fins dos anos 1960, com o assoreamento do rio Paraíba do Sul, e a consequente perda de pressão em sua foz, Atafona, distrito do município de São João da Barra, próximo de Campos, e a cerca de 300km do Rio de Janeiro, é originalmente uma aldeia de pescadores, foi um porto, se transformando depois em local de veraneio da região. São várias as causas estudadas para o fenômeno da invasão do mar.

Jeane Terra explica que o mar escava a areia, desestruturando as construções e árvores, que desabam. Ela registrou a queda de uma árvore, e recebeu de uma moradora fotografias de um hotel, de quatro andares, que ruiu. A população, ao perceber que suas casas serão atingidas em breve, retiram além de seus móveis, pias, portas, azulejos, o que podem, para transferir para outro local.

Agnaldo Farias comenta que Atafona significa “moinho de grãos”. “Não é coincidência, é destino a escolha desta cidade por Jeane. A cidade está sendo moída pelo mar. Ali deságua o Paraíba do Sul, que etimologicamente quer dizer ‘rio difícil’ em tupi. Este rio enfrentava o mar, era uma queda de braço, mas a ocupação predatória, nossa característica, foi assoreando o rio e ele foi perdendo sua força, e deixou de ser um rio difícil. O mar entra”. Ele também aponta um aspecto que observou sobre as obras da artista que serão expostas. É como se o trabalho bifurcasse: apontasse para o passado, que é o da avó fazendo o ponto cruz, e o aqui e o agora, e o ponto de confluência é este mundo que está se desfazendo”.

SOBRE A ARTISTA

 

Mineira (1975) radicada no Rio de Janeiro, Jeane Terra frequentou diversos cursos na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, no Rio de Janeiro, e cursou por dois anos o bacharelado em artes plásticas na Escola Guignard, em Belo Horizonte, entre outros cursos na área. Foi assistente da artista plástica Adriana Varejão por dez anos. Sua pesquisa está atrelada à memória e suas subjetividades, investigando fragmentos e nuances da transitoriedade das cidades, do apagamento urbano, do crescimento desenfreado das urbes e de sua ocupação. Muitas vezes autorreferente, seu trabalho gravita a usina ruidosa de onde vem a substância de sua memória. Trabalhando com diferentes suportes, se dedica especialmente à pintura, escultura, fotografia e videoarte. Com treze anos de trajetória, participou de mostras individuais e coletivas no Brasil e no exterior, das quais se destacam: “Como habitar o presente? Ato 1 – É tudo nevoeiro codificado” (julho e agosto de 2020) e “Como habitar o presente? Ato 3 – Antecipar o futuro” (outubro de 2020 a 16 de janeiro de 2021), Simone Cadinelli Arte Contemporânea, Rio de Janeiro; “O ovo e a Galinha”, Galeria Simone Cadinelli, Rio de Janeiro, “Exposição 360”, Museu da República, no Rio de Janeiro, “Brasil Arte Contemporânea”, Museu Ettore Fico, Turim, Itália, “Abre Alas ”, A Gentil Carioca, Rio de Janeiro(2019);  “Projeto Montra”, em Lisboa, em 2013; “Nova Escultura Brasileira- Herança e Diversidade”, na Caixa Cultural Rio de Janeiro,  em 2011; e, Biwako Biennale, Japão, em 2010; individual “Um olhar Invisível”, no Centro Cultural dos Correios, Rio de Janeiro, e a individual  “Inventário”, na Cidade das Artes, Rio de Janeiro, em 2018.

De 08 de março a 29 de maio.

Duas artistas no Projeto “Interações”

03/mar

 

A LONA, Galeria, Centro, São Paulo, SP, e Anexo, inicia o Projeto INTERAÇÕES que irá ocupar, alternadamente, seus dois espaços expositivos. Em uma sequência de mostras, os artistas representados pela LONA são agrupados de forma a transmitir mensagens tanto únicas como uníssonas em exposições coletivas. As mostras estarão disponíveis para visitas com agendamento e em formato virtual nas plataformas digitais da galeria.

INTERAÇÕES 1

As artistas Cristina Elias e Thais Stoklos exibem 21 trabalhos, entre pinturas, desenhos, instalações e vídeos no ANEXO LONA.

Cristina Elias traz “Releituras de Hokusai”, onde faz uma reescritura particular do traço do artista japonês por meio de técnicas diversas, que se interpenetram: desenho e tricô. Esse resultado pode ser visto em desenhos, pinturas e uma instalação. “O meu processo criativo prioriza a ação, aquilo que se está fazendo, ao objeto (estático) de arte. (….) Por isso, dada a relação intrínseca entre ação do corpo e objeto, chamo meus trabalhos de objetos-ação. Além disso, trabalho na intersecção entre as artes visuais e as artes do corpo (especificamente o Butô japonês) e, o que vou expor é o resultado de anos de treino psicofísico nessa zona de interação”, define Cristina Elias. “Partindo do movimento, seja especificamente das mãos ou do corpo de forma sistêmica, a artista dá continuidade à pesquisa iniciada há 10 anos com a abstração do texto em imagem e da aplicação de uma forma sinestésica de percepção à produção visual”, define Duilio Ferronato.

Em diálogo com as obras de Cristina tem-se o trabalho de Thais Stoklos, no momento representado pela série “Déficit” onde a artista apresenta trabalhos compostos por desenhos, instalação e vídeos, onde o gesto se torna visível através de apagamentos de uma ação insistente. “A palavra “déficit” significa: aquilo que está faltando para completar uma conta; o que falta para preencher certo valor ou quantidade; aquilo que está faltando para completar um todo. O “déficit” abala uma expectativa comum, surpreende o esperado, e indica uma nova atenção “, define a artista. Há interação, “porque os dois atos opostos são criadores. O impulso de criar já pressupõe a possibilidade de erro e este, então, já estimula uma insistência, um ajuste, uma renovação do olhar. Os trabalhos apresentados falam da informação dada através do rastro do gesto, onde a inclinação inata da combinação é a resistência das potências contrárias. O diálogo entres elas é o que faz se aprimorar”, explica Thais Stoklos.

Projeto INTERAÇÕES

Por falta de imunidade, foram excluídas as possibilidades de encontros. A simples perspectiva de interação sugere contaminação.” As relações dos últimos 2 anos entre os artistas da Lona Galeria têm se mostrado fecundas e incomuns. O grupo vem mantendo constante contato, trocando ideias e analisando ações mútuas. O contato artístico é tanto antropofágico como apropriador; basta um olhar e a transformação já principia. Artistas se contaminam de propósito com ideias, imagens e conversas. Não há lugar para barreiras. Os processos artísticos interessam tanto quanto o resultado e, as provocações constantes que surgem de todas as partes, sejam na área criativa ou comercial, nos mantém em alerta constante”, explica o coordenador Duilio Ferronato.

Com INTERAÇÕES, pretendem discutir os processos e alcançar uma nova etapa de amadurecimento artístico, institucional e comercial.

“Os 2 primeiros anos nos mostraram diversas possibilidades, que firmamos nossa convicção de que incentivar o processo artístico é o que nos deixa animados para os próximos lances.”

De 06 de março até 17 de abril.

Gonçalo Ivo em Curitiba

09/fev

 

 

 

Esta exposição inaugural do novo espaço da Simões de Assis em Curitiba, foi concebida por Gonçalo Ivo nos ateliês de Nova York e Bethany, sendo a quarta mostra individual que o artista realiza na galeria.

 

Sobre o artista

 

 

Gonçalo Ivo nasceu no Rio de Janeiro em 1958. Reside e trabalha entre Paris, Madri, Nova York e seu ateliê no sítio São João, localizado nas montanhas de Teresópolis, RJ. Conviveu desde a infância com poetas, artistas plásticos, críticos literários e músicos. Acompanhou seus pais, a professora Maria Leda e o poeta Lêdo Ivo, em várias visitas aos ateliês de Lygia Clark, Ione Saldanha, Maria Leontina, Abelardo Zaluar e Iberê Camargo, de quem recebeu as primeiras lições de desenho e pintura. No círculo familiar conviveu com os escritores Gilberto Freyre, Marques Rebelo, Álvaro Lins e principalmente o poeta e embaixador João Cabral de Melo Neto, que se hospedava no sítio da família quando vinha de férias ao Brasil, tendo sido seu primeiro colecionador. Toda essa experiência humanística proporcionada por seus pais repercutiu de maneira profunda na personalidade deste artista inquieto e de manifestação precoce. Arquiteto e urbanista formado pela Universidade Federal Fluminense, Gonçalo Ivo estudou em 1976 com Aluísio Carvão e Sérgio Campos Melo no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, onde posteriormente lecionou de 1983 a 1986. Em 1984 participou da antológica exposição “Como vai você, Geração 80?”, na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, no Rio de Janeiro, sendo o primeiro artista de sua geração a expor individualmente no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro em 1994. Sua obra foi exposta em museus brasileiros e internacionais, entre eles, Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba, Museu de Arte Moderna e Museu Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro, e na Pinacoteca do Estado de São Paulo, Jan van der Togt, na Holanda, Museum of Geometric and MADI Art, em Dallas, Grand Palais, em Paris, e ainda em prestigiadas galerias nacionais e internacionais, entre elas, Galeria Materna Y Herencia, em Madri, Venice Design, em Veneza, Galerie Flak e Galerie Boulakia em Paris, Dan Galeria, em São Paulo, Anita Schwartz Galeria, no Rio de Janeiro e Simões de Assis, em Curitiba e São Paulo. Sobre sua obra foram publicados livros com textos de relevantes críticos como Roberto Pontual, Frederico Morais, Fernando Cocchiarale e Felipe Scovino no Brasil, Lionello Puppi na Itália, Martín López-Vega na Espanha, Gilbert Lascault, Lydia Harambourg e Marcelin Pleynet na França, e Steven Alexander nos Estados Unidos. Em 2019, a convite da instituição norte-americana Residency Unlimited, voltada à arte contemporânea, passou temporada em Nova York. Em 2020, a convite da Albers Foundation – Josef and Anni Albers, Bethany, Connecticut, EUA – fez residência artística, onde ocupou ao longo de vários meses o Clark Studio. Esta exposição que inaugura o novo espaço da Simões de Assis em Curitiba, em fevereiro de 2021, foi concebida nos ateliês de Nova York e Bethany, sendo a quarta mostra individual que o artista realiza na galeria. Sua obra figura em galerias, coleções particulares e públicas no Brasil e no exterior, entre elas, Union de Banques Suisses; Deutsche Bank; Banco J P Morgan; Bank Boston; Museum of Geometric and MADI Art, Dallas, Texas, EUA; Museum of Latin American Art, Long Beach, California, EUA; Museu de Arte Contemporânea de São Paulo; Museu de Arte Contemporânea de Niterói; Coleção João Sattamini, Niterói; Coleção Marcantonio Vilaça; MAR – Museu de Arte do Rio de Janeiro; Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro; Universidade do Ceará, Fundação Edson Queiroz, Fortaleza; Pinacoteca do Estado de São Paulo; Instituto Itaú Cultural, São Paulo; Instituto Moreira Salles, São Paulo; Museu Oscar Niemeyer, Curitiba.

 

 

Até 02 de Setembro.

 

Na Saphira & Ventura, Miami

08/fev

Betina Abramovitz, 27 anos, artista visual carioca radicada em São Paulo, apresentará quatro aquarelas no espaço da Saphira & Ventura Gallery na prestigiosa Palm Beach Show, Flórida, de 11 a 16 de fevereiro, feira que reúne arte, antiguidades, joalheria e design, e é considerada a mais luxuosa e sofisticada mostra dessa espécie nos EUA, voltada para negociantes internacionais de arte, colecionadores particulares, curadores de museus e investidores. Alcinda Saphira, sócia e curadora da Saphira & Ventura Gallery, destaca que a galeria “volta a participar de uma feira física, com um estande especial dedicado a apresentar sua coleção de obras de arte moderna e contemporânea, e lança Betina Abramovitz, a mais jovem do grupo desses artistas já estabelecidos”. Alcinda Saphira observa ainda que a pintora passou por um processo seletivo curatorial e foi aprovada unanimemente pelo conselho da galeria. “Sua desenvoltura é ímpar e espontânea, e ela trabalha a difícil técnica da aquarela com sensibilidade, e mescla a poesia de suas cores, ora vibrantes e ora suaves, revelando habilidade e elegância.  Acreditamos em seu sucesso em Palm Beach, e em breve em nosso espaço em Nova York”. O evento será no Palm Beach County Convention Center, Flórida.

Sobre a artista

Mesmo antes de se graduar em Design de Produto pela PUC Rio, em 2019, Betina Abramovitz já usava lápis e papel para desenhar retratos em preto e branco. Seu fascínio estava em capturar a expressão do rosto, o olhar. Depois decidiu sair de sua zona de conforto e passou a experimentar a técnica de aquarela, explorando as cores, inicialmente com paisagens, como árvores e ruas desertas. Em seus estudos e projetos na faculdade, Betina sempre buscava novas maneiras de integrar pintura e ilustração em seus trabalhos, até que finalmente entendeu que sua pulsão de vida estava nas artes visuais. “Me apaixonei pela forma delicada com que a água e a tinta se movem durante o processo de pintura, e de como posso usar as cores para transmitir calor, frio e emoção”.

Ainda que seu trabalho final de graduação tenha sido o projeto do aparelho “AMIE”, desenvolvido para proporcionar conforto aos que sofrem de ansiedade crônica, e apresentado com grande sucesso no Global Grad Show, em Dubai, Betina Abramovitz não tinha mais dúvida: seu caminho estava nas artes visuais. Desde muito jovem, a arte sempre esteve presente em sua vida, e no período escolar ela buscou todas as disciplinas eletivas onde pudesse experimentar diferentes técnicas: fotografia, cerâmica, bordado, entre outros. Em 2013, cursou design gráfico por um semestre na Parsons the New School for Design, em Nova York, e passou a trabalhar com isso até cursar a PUC.

Agora, ela está integralmente dedicada às artes visuais, e já tem agendadas exposições, a primeira no segundo semestre, na sede da Saphira & Ventura Gallery em Nova York

Serpa no CCBB SP

02/fev

 

 

 O Centro Cultural Banco do Brasil, Centro Histórico, São Paulo, SP, inaugura a exposição “Ivan Serpa: a expressão do concreto”, uma ampla retrospectiva de um dos mais importantes mestres da História da Arte Brasileira. A mostra apresenta 200 trabalhos, de diversas fases do artista que morreu precocemente em1973, mas deixou obras que abrangem uma grande diversidade de linguagens, utilizando várias técnicas, tornando-se uma referência para novos caminhos na arte visual nacional.

 

 

“Ivan Serpa: a expressão do concreto” percorre a rica trajetória do artista, expoente do modernismo brasileiro através de obras de grande relevância selecionadas em diversos acervos públicos e privados.

 

 

Com curadoria de Marcus de Lontra Costa e Hélio Márcio Dias Ferreira, a mostra apresenta obras de todas as fases do artista: Concretismo / colagem sob pressão e calor / mulher e bicho / anóbios (abstração informal) / Negra (crepuscular) / Op – erótica / Anti-letra / Amazônica / Mangueira e geomântica.

 

 

A pluralidade criativa e suas expressões ratificam o importante papel de Ivan Serpa na arte moderna brasileira, na criação e liderança do Grupo Frente (Lygia Clark, Lygia Pape, Franz Weismann, Hélio Oiticica, Abraham Palatnik e Aluísio Carvão), e através de seu projeto de difundir e motivar as novas gerações para a arte, com suas aulas para crianças e adultos no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro.  A virtuosidade de Serpa e seu amplo domínio da técnica e de seus meios expressivos foram reconhecidos na primeira Bienal de São Paulo, em 1951, quando foi considerado o Melhor Pintor Jovem de um dos principais eventos do circuito artístico internacional.

 

 

 

“Ivan Serpa: a expressão do concreto” resume a essência da obra desse artista que, apesar de ser mais conhecido pelo Concretismo, também se aventurou pela liberdade do Expressionismo, sem nunca perder contato com a ordem e a estrutura. Trata-se de uma exposição única, de um artista complexo, definitiva para reascender a memória sobre esse operário da arte brasileira.

 

A palavra de Hélio Márcio Dias Ferreira, pesquisador e especialista na obra de Ivan  Serpa.

 

“Agradecemos a Ivan Serpa pelo seu legado, que deixou um rastro de liberdade na arte brasileira, da modernidade aos nossos dias. Lembremos que, na sua relativamente curta trajetória, ansioso por viver e trabalhar, desde pequeno viveu sob a ameaça da morte, mas encontrou tempo para ensinar aos outros o poder da arte”.

 

 

 

A palavra de Marcus de Lontra Costa

 

“Trajetórias corajosas, como as de Ivan Serpa, acentuam a importância da ação artística como instrumento de definição das identidades culturais comuns, mas, também, como agente de questionamento e subversão. No mundo contemporâneo é preciso sempre estar atento e forte, e se alimentar de saberes oriundos do passado recente, para que possamos enfrentar os dilemas e desafios do presente e do futuro. Por isso o desafio maior da arte contemporânea é o enfrentamento, e exemplos como o de Ivan Serpa, nos dão a régua e o compasso e nos ensinam a superar e vencer os dragões da maldade”.

“Ivan Serpa surpreende até hoje por sua extrema sensibilidade, pelo seu permanente compromisso com a liberdade que alimenta a verdadeira criação artística. Enquanto críticos e teóricos cobravam do artista uma coerência estética, veiculando-a a uma determinada escola artística, Serpa respondia com a ousadia e o desprendimento característico dos verdadeiros criadores. Entre tantos ensinamentos, a lição que Serpa nos lega é essa ânsia, esse compromisso permanente com a liberdade e a ousadia que transforma a aventura humana em algo sublime e transformador. Por isso, hoje e sempre, é preciso manter contato com a produção desse artista exemplar que transforma formas e cores num caleidoscópio mágico, múltiplo e íntegro em sua linguagem expressiva”.

 

A mostra que passou pelo Rio de Janeiro e Belo Horizonte chega ao CCBB São Paulo com uma montagem exclusiva pensada para ocupar toda a Instituição que a ambientará até 12 de abril.  Depois de São Paulo, a exposição segue para o Centro Cultural do Banco do Brasil Brasília.

 

Sempre é de novo a primeira vez

29/jan

 

Foi prorrogada até 26 de fevereiro a exposição “Sempre é de novo a primeira vez”, na Danielian Galeria, Gávea, Rio de Janeiro, RJ. O título da mostra é retirado de um verso da música “Anna Bella” (2006), de Antonio Cícero e Marina Lima. Marcus Lontra Costa, diretor artístico do espaço de arte no bairro da Gávea, e curador da exposição, considera Anna Bella Geiger “a mais importante artista brasileira viva”.

Junto com o curador-adjunto Rafael Peixoto, Lontra selecionou trabalhos de onze artistas, “de diferentes linguagens, campos poéticos, gerações e regiões do país”: Anna Bella Geiger, Carlos Vergara, Nelly Gutmacher e Manfredo de Souzanetto – “que já fazem parte da história da arte brasileira”, salientam – Marçal Athayde, Josafá Neves, Geraldo Marcolini, Christus Nóbrega e Fernando Lindote, representados pela galeria, e de Jorge Guinle e Glauco Rodrigues, de quem a Danelian é responsável por seus legados artísticos. Os curadores destacam que a exposição estabelece “diálogos e conversas curatoriais entre muitas áreas da produção artística atual brasileira”.

A Danielian Galeria segue todo o protocolo de proteção contra o covid.

Intervenções, mostra nos Correios

27/jan

 

“Intervenções”, exposição do artista Roberto Gallo, apresenta uma instalação artesanal que reproduz o fundo do mar e um ateliê com técnicas construtivas, além de aquarelas, pinturas e desenhos, sob curadoria de Edson Cardoso. A mostra ocupa três salas e no Centro Cultural Correios, Centro, Rio de Janeiro, RJ, com dois artistas convidados: Eurico Poggi e Francisco Schönmann Gallo. Fazendo uma alusão à paisagem como início e fim, meta do seu propósito artístico, Roberto Gallo apresenta um olhar sobre as paisagens urbanas e marinhas.

 “A exposição “Intervenções” nos introduz em um mergulho profundo na arte, uma imersão espetacular que leva a experimentar o interior da vida marítima através de um cenário cuidadosamente concebido pelo artista plástico Roberto Gallo. Além dessa experiência mágica e única, podemos apreciar suas pinturas numa abordagem de termos urbanos (composição de prédios criados a partir do imaginário que beiram a abstração), obras de um lirismo apaixonante. Há também as telas marinhas de tons suaves e delicados”, avalia o curador, Edson Cardoso.

 

A palavra do artista

 

“Vivo em observação constante, contemplando o espaço ao meu redor. O que move meu impulso criativo é um sentimento puramente emotivo e intuitivo, surge da necessidade de expressar meu amor pela vida e pela natureza, seja ela Humana ou Divina. Na minha série de pinturas em aquarela e acrílico, a atenção está voltada para a relação entre os elementos ar, terra, fogo e água, o movimento das marés, a incidência da luz, a profundidade da atmosfera, a linha do horizonte”.

 

Atrações inéditas 

 

Na primeira sala foi montada uma cenografia imersiva, onde o visitante é convidado a “submergir” em uma experiência inclusiva através de uma instalação que reproduz o fundo do mar, num espaço sensorial. Uma escultura de isopor, resina, argamassa e pintura especial simula uma caverna subaquática, com colunas e janelas que exibem cenas do fundo do mar, seguindo uma sequência lógica com sonorização, em vídeos repetidos em looping a cada 5 min. A ideia principal é levar o espectador a uma experiência de mergulho em uma paisagem submersa. O recurso que usaremos será a construção de uma espécie de câmara feita com materiais cenográficos, utilizando técnicas e conceitos desenvolvidos em nossa área de atuação profissional que é a construção de aquários de grande dimensão. Pretendo despertar o interesse do visitante e fazer com que se sinta parte do espaço através de uma experiência sensorial, não apenas de imagens e texturas mas também de sons”, revela Gallo.

A segunda sala reproduz um ateliê, como uma espécie de espaço íntimo do artista, com desenhos, imagens de cenografias, rochas artificiais, ensaios de esculturas subaquáticas e objetos em construção, revelando algumas técnicas construtivas. Já a terceira, ocupada com os trabalhos dos três artistas, tem também vídeos exibidos em monitores.

 

A palavra do curador sobre dois artistas convidados 

 

Francisco Schönmann Gallo conduz a uma remota demonstração de inquietude percebida nos traços de seus trabalhos. Obras mediúnicas, com seres enigmáticos que aguçam a imaginação de forma pragmática. Mostrando um jeito único de se expressar, suas obras perpassam o ocultismo, com uma inclinação para definir o que não pode ser definido.

Já nos trabalhos de Eurico Poggi é possível detectar uma verdadeira aglutinação criativa de formas e movimentos. Uma arte extremamente pictórica, cuja grandeza e força são facilmente identificadas pelo olhar. Afora qualquer polêmica teórica, a mostra define com grande desenvoltura o resultado desse diálogo enriquecedor, produzindo um resultado que surpreende pelo encontro dos artistas convidados com as obras de Roberto Gallo e seus cenários imersivos.

 

Sobre o artista

 

 

Natural de Campinas, SP, Roberto Gallo expressa sua arte por meio da pintura, paisagismo, escultura e cenografia. Trabalhou com paisagismo e arquitetura e, desde 1981, vem participando de mostras individuais e coletivas no Brasil e América Latina. Manteve ateliê de arte no Rio de Janeiro por 10 anos, onde trabalhou como professor de desenho e pintura. Neste período, formulou e executou experiências com cenografia, painéis em grande dimensão, pinturas, esculturas, e cenários para teatro, exposições, mostras científicas, museus e zoológicos. Especializou-se na criação de habitats para aquários de visitação pública a partir de 1995, unindo técnicas de modelagem sobre argamassa, fibras de vidro e resina. Desde então, vem realizando aquários no Brasil e no mundo, entre eles o Aquário de Ubatuba, Oceanic Atrativos Turísticos, Aquário do Balneário Camboriú e Aquário Marinho do Rio de janeiro. Atualmente executa o Aquário do Pantanal em Campo Grande, MS.

 

 

De 28 de janeiro a 21 de março.

 

Glauco Rodrigues na Bergamin & Gomide

25/jan

 

 

A Bergamin & Gomide, Jardins, São Paulo, SP, tem o prazer de apresentar sua primeira exposição do ano Acontece que somos canibais individual do artista Glauco Rodrigues (1929-2004). Entre os dias 06 de fevereiro a 13 de março de 2021, a exposição apresenta cerca de 30 obras que compreendem o período de 1969 a 2002, e conta ainda com texto crítico da historiadora e antropóloga Lilia Moritz Schwarcz.

 

Acontece que somos canibais por Lilia Moritz Schwarcz

 

Chega em ótima hora a exposição Acontece que somos canibais que traz as obras da fase pop do artista Glauco Rodrigues. Num momento em que grassa o obscurantismo; em que temos sido lesados por uma crise que é política, econômica, moral, cultural e da saúde; em que vamos sendo invadidos por uma patriotada fácil e que sequestrou os nossos símbolos nacionais; em que tomamos um golpe a cada dia, nada como o humor satírico e crítico do artista gaúcho que, com suas cores fortes, seus desenhos em série, seu fundo branco infinito fez política a partir da arte. Política com muita arte.

Glauco Rodrigues (1929-2004) nunca coube numa caixinha ou numa definição fácil. Nascido em Bagé, no Rio Grande do Sul, ele começou na profissão como autodidata. Logo recebeu sua primeira bolsa de estudos ofertada pela própria prefeitura da sua cidade e passou três meses na Escola Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro (ENBA), que aglutinava velhos, mas também, novos talentos. De volta, funda em 1951 o Clube da Gravura de Bagé junto com os colegas Glênio Bianchetti e Danúbio Gonçalves. O grupo, que tinha em comum claras simpatias pelo socialismo, passou a se dedicar à figuração, retratando paisagens da região, num ambiente basicamente rural.

A convivência com os amigos pintores fez com que Glauco resolvesse se dedicar às artes visuais, profissionalmente. Muda-se então para a capital de seu Estado e participa do Clube de Gravura de Porto Alegre, fundado por Vasco Prado e Carlos Scliar.

Em 1958, parte para o Rio de Janeiro em busca de uma carreira mais sólida. Nesse contexto, associa-se à Senhor, uma publicação onde o amigo Carlos Scliar já colaborava, além de nomes conhecidos no meio carioca, como Clarice Lispector e João Guimarães Rosa, e os então novatos Paulo Francis e Jaguar.  De curta duração, apenas cinco anos – de 1959 e 1964 -, a Revista fez história, por conta de sua importância para as letras nacionais e as artes gráficas; área em que Glauco Rodrigues rapidamente se destacou.

Nessa época, e para sobreviver na cidade grande, Glauco se dedicou também a fazer retratos da elite local e daquela que circulava pela animada capital do país. Eram retratos pouco comportados, que incluíam cenas inusitadas e personagens inesperados; tudo numa mesma tela. O artista participou em 1960 do IX Salão Nacional de Arte Moderna, quando obteve um prêmio que lhe facultou viajar ao exterior. Já na Europa, tomou parte da Bienal de Paris e, por conta de um convite da embaixada brasileira, morou em Roma entre os anos de 1962 e 1965, quando teve oportunidade de participar da XXXII Bienal de Veneza. Voltou-se então para o abstracionismo; gênero muito estimado naquele contexto.

Ao retornar ao Brasil, toma parte da exposição Opinião 66, realizada no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, junto com artistas como Anna Maria Maiolino, Hélio Oiticica, Ivan Serpa e Lygia Clark. Por outro lado, se ressente com o novo ambiente político do país, marcado pelo Golpe de 1964. Definitivamente, o Brasil que deixara não era mais aquele para o qual reencontrava.

Decide, então, que era chegada a hora de contar a sua história visual do Brasil. Datam dessa época, telas do artista com clara influência da arte pop, que anunciava uma estética em série e avessa ao que considerava ser o “hermetismo da arte moderna”. O uso de cores fluorescentes, brilhantes e vibrantes – feitas com tinta acrílica, poliéster e látex -, empregadas até então quase que exclusivamente na publicidade, nas capas de revistas, nos cartazes de rua e nos objetos de consumo, também caracterizava o gênero.

Glauco, que convivera com esse movimento quando no exterior, aderiu a ele traduzindo-o para o contexto brasileiro. O gênero também combinava com os sentimentos do artista na época de seu retorno ao Brasil. O diagnóstico previa uma grave crise da arte, e a maneira de apresentá-la era produzindo obras críticas à massificação da cultura popular capitalista, tão marcada pelo consumo.

O pintor passa a rever, de maneira iconoclasta, obras brasileiras clássicas, temas ligados à identidade nacional – os indígenas, a natureza tropical, o futebol, o carnaval -, bem como assuntos vinculados à história nacional.

Como morava perto da praia, Glauco começou a retratar cenas cotidianas de  banhistas, acrescidas da combinação de uma série de elementos simbólicos e inusitados – garotas de biquíni ao lado de militares; atores conhecidos, usando diminutas sungas, contracenando com pessoas anônimas e vestidas de maneira mais convencional; o Pão de Açúcar ladeado por frutas tropicais; a imensa escultura do Cristo Redentor convivendo com frases pop do tipo: “o que contamina o homem não é o que entra na boca, mas o que sai da boca”.

O pop, que bebia da experiência gráfica e reprodutível, entra de frente na obra de Glauco Rodrigues, que passa a criar telas muito coloridas, lembrando as tonalidades chapadas da produção industrial. Ao mesmo tempo, o artista quebra a harmonia introduzindo figuras em situações variadas, mas que parecem soltas no espaço, uma vez que dispostas diante de grandes planos de fundo imaculadamente brancos, e que assim passam a impressão de serem infinitos.

São dessa época as obras por ele definidas como Brasilianistas e Antropofágicas. O artista gaúcho relê a antropofagia de Tarsila do Amaral e do movimento modernista paulistano para também devorar assuntos canônicos da história e das artes no Brasil.   Séries como Terra Brasilis (1970), Carta de Pero Vaz de Caminha (1971), No país do Carnaval (1982), Sete vícios capitais (1985), fazem parte da guinada pop do artista.  Atento à eficácia simbólica, Glauco finalizou muitas telas sobre o Pão de Açúcar e centenas sobre São Sebastião, com o santo sendo personificado no corpo de artistas nacionais, e sempre cobertos de flechas.

Ao lado do processo antropofágico – e que o leva a traduzir e deglutir o Brasil a partir de pinturas que carregam, ao mesmo tempo, humor e crítica social -, Glauco impregna em suas obras uma clara carnavalização da cultura brasileira. O indígena, as frutas, o futebol, as passistas de escolas de samba… todos recebem cores tropicais e muitas vezes aparecem acompanhados de frases críticas; tudo num clima e num ritmo de carnaval.

Seu processo criativo começava com a reprodução de cartões postais, de imagens retiradas de revistas ou dos jornais, e de suas próprias fotografias. Era a partir desses registros que o artista recriava ambientes, abusando do verde e amarelo e por vezes introduzindo a própria bandeira nacional. A dissonância e o deslocamento entre as figuras e as circunstâncias apresentadas, o clima de festa, a brincadeira, são elementos que deixam evidente a veia satírica do pintor que, em tempos de ditadura, se negava a compactuar com os mitos e estereótipos criados e difundidos pelos militares.

Na exposição Acontece que somos canibais, a fase pop de Glauco Rodrigues está muito bem representada. Frutas tropicais, o Cristo Redentor, o Carnaval, as mulheres de biquíni, os indígenas kaxinawá, dividem espaços com cenas retiradas da história do Brasil. Esse é o caso das releituras, na chave do tropicalismo crítico, da tela de Almeida Júnior – O derrubador brasileiro (1875) -, e da obra A primeira missa no Brasil, de Vitor Meireles (1861). Muito conhecidas, utilizadas quase que como carteiras de identidade, essas duas pinturas devolvem, na chave do patriotismo, faces e expectativas de um país que se quer ver como desbravador e que gosta de se representar na base da (falsa) tolerância e de um suposto (e ilusório) pacifismo.

Já na perspectiva de Glauco Rodrigues, porém, o realismo vira sátira e burla, por meio da alusão e da correspondência. Nada é exatamente o que ali se apresenta. Nessa nova “Missa” (que não é mais a “Primeira”) desfilam em ritmo de samba, indígenas, religiosos e militares, aliás, já presentes na cena criada por Meireles. Mas no quadro de Glauco eles dividem espaço com pessoas anônimas e curiosas, crianças, casais e personalidades políticas. Aqui, sim, vemos uma verdadeira “Geleia geral”, parodiando a música lançada por Gilberto Gil e Torquato Neto em 1968, numa espécie de homenagem ao Tropicalismo.

Já o Derrubador de Glauco Rodrigues aparece com uma postura corporal idêntica à cena original, produzida por Almeida Junior, mas ao invés de se recostar numa rocha, apoia-se num duplo mapa do Brasil, verde e azul, aliás a cor do machado que ele carrega ostensivamente em sua mão esquerda. O contorno físico do território do Brasil, associado às cores da bandeira, como que invertem a situação, e o que era elevação vira agora crítica: piada pronta.

Indígenas, uma mãe e seu filho, surgem por vezes vestidos como catequizados – a despeito de manterem alguns sinais identitários, como pinturas corporais e um colar típico -, por vezes com suas indumentárias e instrumentos tradicionais apenas traídos pela blague das cores verde e amarela, por um colar de metal ou um relógio no braço esquerdo do rapaz. Como se vê, estão todos juntos e separados; convertidos e famintos, como diz a sentença que completa a cena.

Bananas, cajus, milhos, raízes, são descritos à moda dos naturalistas oitocentistas, mas denunciados, mais uma vez, pela abundância exagerada do verde e amarelo, por sob o mesmo fundo branco.

Mulheres negras vestidas à moda ou com roupas carnavalescas -frequentemente apresentadas em verde e amarelo – levam à mão uma menina indígena, com seu colar de nação ostensivamente maior do que seu corpo diminuto.

Enfim lá estão eles, os brasileiros, híbridos como queria o “mito da democracia racial” – que nessa época era muito explorado pela Ditadura Militar -, mas, ao mesmo tempo, por demais hierarquizados. Mistura também funciona aqui na base do “todos juntos e separados”.

Até mesmo a tipologia gráfica toma um formato e importância fundamentais quando inseridos nas telas de Glauco Rodrigues. De um lado, ela lembra os escritos que acompanhavam as aquarelas dos viajantes do século XIX, que, não contentes de esboçar pitorescamente a colônia dos portugueses, não raro, incluíam textos e assim procuravam dirimir qualquer dúvida de interpretação. No caso das telas de Glauco, porém, a tipografia assume papel crítico, ao mesmo tempo que vira elemento estético. Em geral desenhadas em azul, muitas vezes em verde e amarelo ou com uma palheta própria, elas se configuram como elementos de caráter tipográfico prontamente transformados em letras cursivas, porque feitas pela mão do artista que introduz a irregularidade intencional do gesto humano. Até nesse aspecto há, portanto, duplicidade e ambiguidade; no mesmo lugar onde se lê com presumida naturalidade, reside o lugar da inversão sagaz elaborada pelo artista.

A obra de Glauco Rodrigues ficou durante longo tempo basicamente esquecida, talvez por não corresponder ou se encaixar de maneira óbvia aos cânones modernistas da época. Entretanto, nos dias hoje, nesses tempos tão distópicos em que vivemos, quando a realidade parece exagerada e surreal (mas infelizmente não é), quando a política vira espetáculo fácil de autoritarismo, onde o verde e amarelo foram sequestrados de uma parte importante da população, a ironia sutil de Glauco talvez esteja finalmente em casa e diga respeito aos tempos do agora. Esse tempo em compasso de espera e que se apresenta na forma de um presente sem futuro.

Os kaxinawá de Glauco Rodrigues somos nós!  O verde e amarelo somos nós! Tudo em sua obra é arte antropofágica, no sentido dado pelos povos ameríndios que fazem da comida um ritual de troca e deglutição, sem geografia certa ou tempo delimitado.

Tudo deve ser digerido e vomitado, numa celebração da cultura brasileira que devora aos “outros”, mas também a si própria e a “nós” mesmos. Isso porque, “acontece que somos canibais” – verdes e amarelos, e tropicais.