“Catarsis”, da norueguesa Cathrine Crawfurd: 21 jan nos Correios Centro

15/jan

 

Artista norueguesa no Rio

“Catarsis”, exposição da artista norueguesa Cathrine Crawfurd, inaugura no dia 21 de janeiro, no Centro Cultural Correios, Centro, RJ, onde ocupará duas salas sob curadoria de Susi Sielski Cantarino. Compondo a primeira sala, 27 pinturas abstratas de grandes formatos, alguns dípticos, usando a técnica de acrílica sobre tela, a maioria concebida durante a Pandemia; na segunda sala, fotografias.

 A palavra da artista

A prática de transformar um trauma ou uma situação difícil em algo belo, que dê esperança e alívio é algo bastante recorrente em meus trabalhos. Durante o infeliz desafio que enfrentamos este ano, essas habilidades vieram à tona como uma grande necessidade. A solidão e o isolamento não eram mais uma escolha para criar, e sim uma obrigação.

A palavra da curadoria

Eu me apaixonei imediatamente pelo trabalho da Cathrine. É intuitivo, lírico e poético. Inspira paz. As obras possuem também uma força invisível, translúcida, que mediante diferentes tons de tintas diluídas, por vezes parecem nos conduzir para dentro de uma nuvem espessa, já noutras explodem magicamente, formando uma chuva de meteoros de cores complementares e análogas que conversam delicadamente entre si. Dá vontade de navegar e mergulhar no interior de cada pintura. Acabamos nos conhecendo através de uma amiga norueguesa em comum e tivemos uma afinidade incrível. Assim surgiu a amizade e o convite para a curadoria.

O processo de criação

O processo de criação da artista é diretamente influenciado pela sua história de vida, já que morou em diversos países pelo mundo. Cidades, culturas desconhecidas e línguas incompreensíveis aguçam os sentidos, segundo Cathrine, em busca de impressões reconhecíveis. Cada lugar – com suas luzes distintas, sua própria paleta de cores, sua estrutura arquitetônica específica e um código de identidade particular – faz parte deste processo. Uma outra curiosidade sobre seu trabalho é o formato mais utilizado pela artista, que acompanha o da escala humana, com base na sua própria altura.

Sobre a artista

Cathrine Crawfurd cursou a Escola de Arte em Oslo, Noruega, de 1989 a 1991, onde se formou. Depois disso, não parou mais, tendo concluído curso na Academia Nacional de Belas Artes, na Universidade de Bergen, também na Noruega, em 1997, além da Faculdade de Belas Artes, na Universidade de Barcelona, Espanha. Em 1996, participou de uma residência artística de três meses na Villa Moderne, em Paris. Entre as individuais já realizadas pelo mundo, estão: em1998 e em 2000, na Galleri Elenor, Oslo (Noruega); em 2007, no Town Hall of Silly, Silly (Bélgica); em 2009, na Galerie Stephanie, Bruxelas (Bélgica), em 2013 no Open Studio, Paris (França), em 2014, na Her Majesty Queen Sonja´s Church and Cultural Center, Paris (França); em 2014, na La Galerie du Cercle Suédois, Paris (França); em 2015, na Galleri Perrongen, Valdres Fine Art Society, Valdres (Noruega), e no Brasil, em 2019, na Maquês 456, no Rio de Janeiro. Ao longo de sua carreira artística, também integrou diversas coletivas, como Bergen Fine Art Society, Bergen, Noruega (1998); Exposição Anual, condado de Østlandet (Østlandsutstillingen), Fredrikstad, Noruega (1999);  Atelier Aberto, «OSLO OPEN», Oslo, Noruega (2002); Feira de Arte da Associação Norueguesa-Belga, Liège, Bélgica (2008); Exposição Anual, Prefeitura de Woluwe St-Pierre, Bruxelas, Bélgica (2008); Exposição Anual, Prefeitura de Woluwe St-Pierre, Bruxelas, Bélgica (2009);  Exposição Anual, Prefeitura de Woluwe St-Pierre, Bruxelas, Bélgica (2010); Volume et valeur, projeto interdisciplinar com a pianista Natalia Strelchenko, Paris, França (2014); Exposição Anual, Studio W, Fornebu Art Center, Oslo, Noruega (2015 e 2016); JACARANDÁ+, Marquês 456, Rio de Janeiro, Brasil (2018). Em 1999, recebe bolsa de viagem para Havana, Cuba e em 2015, bolsa anual de trabalho, em Oslo, Noruega. Lecionou em várias escolas de arte e arquitetura, Oslo, Noruega, entre 1999 e 2006, bem como na Ėcole du Chant d’Oiseau, Bruxelas, Bélgica, de 2006 a 2010. Em 2013, leciona artes no Lycée International, Saint-Germain-en-Laye, França, em 2014, no Estabelece Atelier, Oslo, Noruega, e, em 2016, dá aulas de arte em Bratislava, Slovakia, e em Roma, Itália. Já em 2017, passando a residir no Rio de Janeiro, se estabelece em atelier com um grupo de artistas, na Marquês 456 e, posteriormente, na Casa Arlette.

De 21 de janeiro a 21 de março.

Tudo o que você me der é seu: prosas de mulheres na arte popular

13/jan

 

Arte popular

A exposição “Tudo o que você me der é seu: prosas de mulheres na arte popular” encontra-se em exibição até 30 de janeiro na Central Galeria, Vila Buarque, São Paulo, SP. É arte de raiz popular de alta qualidade vista através dos trabalhos das artesãs Nilda Neves, Lira Marques, Rosana Pereira e Efigênia Rolim, “quatro artistas com produções permeadas por símbolos de identidade, consistência e particularidades”. Texto do curador Renan Quevedo

 

Tudo o que você me der é seu: prosas de mulheres na arte popular Antes de tudo que vem a seguir, houve silêncio.

 

É louvável notar que, nos últimos anos, as instituições de arte tenham revisto seus históricos e esforços a respeito da diversidade em seus acervos. A fim de reconhecer locais de fala e trazer novas vozes argumentos para uma discussão mais democrática e pagar a vergonhosa dívida secular com grupos invisibilizados, projetam exposições em que o norte é o equilíbrio. A mostra Tudo o que você me der é seu – prosas de mulheres na arte popular é uma delas; traz as obras de quatro mulheres de diferentes origens, gerações e repertórios.

 

 

Faço minhas as palavras de Paulo Rezutti: “Não! As mulheres não precisam de mais um homem para falar por elas. A mulher brasileira tem voz própria há anos”.  Aqui, oferecemos o espaço para essas artistas cujas obras falam por si mesmas. Com o Novos Para Nós, me proponho a contar as histórias que presencio e escuto sobre a obra e a vida, que nunca se desassociam, dos artistas populares (utilizarei este termo, embora com ressalvas). Ainda que 77% dos artesãos brasileiros sejam mulheres, a agenda artística e cultural se mantém distante dessa realidade. É um apagamento? Na exposição, buscamos contextualizar as histórias vividas, inventadas e testemunhadas por Nilda Neves, Lira Marques, Rosana Pereira e Efigênia Rolim, quatro artistas com produções permeadas por símbolos de identidade, consistência e particularidades.

Fazendo uso de barro, papel, plástico, tinta, tecido e metal, entre tantos outros materiais, as quatro artistas tecem narrativas. De acordo com Walter Benjamin (1892-1940), a prática da arte de narrar está ligada às mais antigas formas de trabalho manual. Ao passo que os homens saíam para caçar, as mulheres ficavam responsáveis pela produção de cestaria, bordado, tapeçaria e trançado, além da propagação para as próximas gerações, trocando experiências.

 

Nilda Neves (1961) é natural do sertão de Botuporã (BA). Bisneta de tupis-guaranis, estudou contabilidade e foi professora de matemática e comerciante, entre outras profissões. Em São Paulo, virou dona de bar. Os calotes a forçaram a ser manicure, o que só fazia a clientela gritar de dor. Nilda conta, gargalhando, que foi colocada para cortar cabelo – “e eu nunca tinha cortado nem cabelo de rato” . Como pagamento de uma dívida, ganhou três DVDs: dois não funcionaram e o terceiro mostrava um religioso lendo um livro. A situação, que a deixou revoltada, também trouxe ideias: “Vou escrever o meu livro”. Uma sequência de páginas com histórias, crônicas e pensamentos sobre a vida tomou forma. Com a falta de dinheiro, Nilda se viu forçada a fazer o desenho para a capa. As pessoas gostaram do que viram dentro e fora do livro e a incentivaram no novo ramo.

 

Nilda, então, começou a pintar telas com temáticas referentes à vida no sertão, retratando tempos e costumes: cangaceiros, retirantes, atividades manuais, animais, paisagens, comidas, profissões, vínculos afetivos, conflitos e folclore. Lançou mão de pinceladas arrastadas e secas, que preenchem a tela e dão origem a texturas e padrões. O bom humor, uma das características mais marcantes no trabalho de Nilda, divide espaço com lamentos, introspecções, solitudes e vazios. “Me chamavam de artista plástica, mas eu dizia que não era porque achava que esse termo era pra quem fazia arte com plástico”, conta rindo. “O que as pessoas acham feio, eu acho bem bonito.”  

Lira Marques (1945), nascida em Araçuaí (Vale do Jequitinhonha, MG), tem um diálogo com a natureza em diversas formas. Sabe e entende que veio da terra e que para ela voltará. Sua mãe fazia bonecas de pano e presépios de barro para presentear os vizinhos, e assim foi despertada a curiosidade de Lira: ainda criança, começou a fazer pequenas esculturas com cera de abelha, posteriormente se dedicando à cerâmica. Os desenhos em papel e pedra – que hoje são seu carro-chefe – só surgiram em 1994, após fortes dores nos braços. Hoje, Lira coleciona diferentes tons de pigmentos minerais que encontra pela região e aplica em seu trabalho, além de investigar e acumular um conhecimento inesgotável sobre a cultura popular, o comportamento, a música, os habitantes e sobretudo a vida dos que lá persistem.

 

 

A série aqui exposta foi batizada por Lira de “Meus bichos do sertão”. São representações feitas em barro com traços da economia e da estética rupestres: figuras bípedes e quadrúpedes que se assemelham a aves, répteis e anfíbios e, frequentemente, são híbridos entre real e imaginário. Os animais são definidos por seus bicos, penas, chifres e rabos; ora sozinhos, ora acompanhados por seus ovos, índices da flora e minerais. Em determinados momentos, Lira agrupa elementos em formas ovaladas que sugerem exposição em pedras e pastos, reclusão em cavernas e buracos; ou, ainda, os escava como uma arqueóloga da própria vida e história. A aridez estética é marcada pelo relevo da matéria-prima e reforçada pelos ângulos agudos das extremidades dos bichos. Podem ser “mansos, mas também ariscos” – está pronta para soltá-los em troca de proteção e adiamento dos apocalipses.

 

 

Também do Vale do Jequitinhonha, Rosana Pereira (1988) nasceu em Caraí (MG) com uma bolinha de barro nas mãos. Filha, neta, bisneta, tataraneta de ceramistas – e aqui nos perdemos na incerteza de sua árvore genealógica, mas seguros da atividade quase tricentenária na região – desde pequena foi iniciada na modelagem do barro. A produção de Rosana é diretamente ligada à produção de seu avô, Ulisses Pereira Chaves (1922-2006), celebrado como um dos maiores escultores brasileiros por Burle Marx e Lélia Coelho Frota.

 

 

Influenciada esteticamente por Ulisses, Rosana adquire temática própria e flexiona a rigidez das figuras do avô com movimentos e interações entre os corpos. De poucas palavras e grande timidez, encontrou na escultura a melhor forma para se comunicar. Suas obras mostram figuras antropozoomórficas, com corpos humanos e rostos de animais. A figura feminina, em sua grande maioria, traja um vestido de noiva, e, a masculina, terno completo para o casamento. Subvertendo a rígida tradição local, há uma inesperada relação entre os personagens: os femininos têm o poder e o controle da cena. São eles quem rastejam, caem, fraquejam, obedecem, são carregados e fragilizados. Rosana, a mais jovem presente na exposição, resume a série com: “Faço isso porque a mulher também é importante”, levantando uma bandeira não de superioridade, mas de igualdade entre os gêneros. 

 

 

Efigênia Rolim (1931), natural de Abre Campo (MG), iniciou sua produção artística em Curitiba (PR). Conhecida como “Rainha do Papel de Bala” há mais de 30 anos, um fato mudou toda a sua história: andava pela rua quando viu um objeto brilhante no chão. Surpresa, se abaixou para pegá-lo; era “apenas” um papel de bala. Pensou nas relações que estabelecemos com pessoas e concluiu que, enquanto o papel tivesse uma função embrulhando o doce, despertaria interesse por parte de alguém. Chamou-o, então, de “mísero caído”. Começou a recolher todos os que via pela frente, pensando: “Se conseguir um por dia, no final do ano tenho 365” – enquanto as pessoas só a chamavam de louca. “Ninguém achou que eu fosse vingar.” 

 

 

Os papéis invadiram suas vestimentas e, juntamente com outros materiais considerados “lixo”, são matérias-primas das esculturas, compondo também apresentações e poemas. “As pessoas ficam impressionadas com o trabalho que tenho para fazer minhas peças, mas não há nada que eu goste mais do que isso. É preciso de imaginação e querer fazer.” Marcados pelo processo de acúmulo, destruição, construção, ressignificação e bricolagem, seus trabalhos apresentam narrativas oniscientes inspiradas em contos de fada. Seus personagens e histórias transitam entre o real e o extraordinário, frequentemente manipulados com o recurso pedagógico da repetição. Apresentamos a inédita série “Natureza racional”, justificada pela artista com: “Cansei de falar com os homens, agora vou falar com os animais”. Autointitulada Guardiã do Mundo, com a voz no presente e seu eco no futuro, Efigênia nos provoca a respeito da sustentabilidade e das próximas etapas da humanidade ao interferir no tamanho real dos homens e bichos, propondo novas dimensões e relações entre eles. 

 

 

Nilda e Lira se voltam para o meio de criação rural como base para a formação de seus discursos, enquanto Rosana e Efigênia projetam narrativas com preocupações a princípio urbanas, embora certamente de interesses universais. O equilíbrio também ocorre por meio das intersecções, similaridades e dissonâncias de suas falas: feminino, cotidiano, deslocamento, força, tempo, igualdade, resiliência, ancestralidade e consciência ambiental, entre tantos outros temas. A distância acadêmica revela uma crescente pesquisa de matérias e experimentações técnicas em busca de um apuro narrativo e estético.

 

 

As histórias contadas através dos trabalhos presentes na mostra foram construídas com base na observação do cotidiano vivido ou percebido, dos costumes e da sensibilidade. São narrativas que moram nas quatro artistas e as mantêm vivas. Já os objetos perdem o valor contemplativo e podem assumir caráter de devoção, evocando suas crenças, sonhos, pensamentos e questionamentos. Recusando serem caladas, as ideias que propagam se baseiam na perpetuação, preservação e libertação de suas raízes, do cotidiano e do futuro que agoniza e sufoca.

 

 

Se “por muito tempo na história, ‘anônimo’ era uma mulher”, como escancara Virginia Woolf (1882-1941), queremos que as prosas das mulheres sejam notadas, que suas vozes sejam ouvidas e que possamos nos inspirar com suas histórias. É preciso visitá-las e revisitá-las para que grupos periféricos ganhem um novo e merecido espaço na noção de arte brasileira, em nossas agendas e em nossa sociedade, abandonando as margens. “Tudo o que você me der é seu” é uma generosa troca, e somos nós que ficamos com o presente.

Salão Online de Artes Visuais do Ibeu

11/jan

 

Pela primeira vez desde que foi concebido, há quase 50 anos, o Salão de Artes Visuais Galeria Ibeu será realizado em formato digital. Após seleção aberta em novembro de 2020, a 1ª edição do “Salão Online de Artes Visuais Galeria Ibeu” reabre o calendário de exposições em janeiro. Tendo como objetivo divulgar a produção de artistas brasileiros realizada em 2020, em meio às medidas de prevenção ao contágio pelo Coronavírus, o Salão acontece até o dia 5 de fevereiro através das plataformas Instagram (@galeriaibeu) e Blog da Galeria Ibeu (ibeugaleria.blogspot.com).

Naturais do Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília, Bahia, Pernambuco, Rio Grande do Sul, Goiás e Espírito Santo, foram ao todo 32 artistas selecionados: Alexandra Ungern, Aline Moreno, Ana Klaus, Antônio Freire, Bruno Alves, Bruno Lyra, Camille Fernandes, Claudia Lyrio, Edson Macalini, Fabi Cunha, Fava da Silva, Fernando Brum, Fernando Correia, Júnior Franco, Larissa Camnev, Laura Villarosa, Leo Stuckert, Liliana Sanches, Lucas Ribeiro, Luísa Prestes, Maria Eugênia Baptista, Mariane Germano, Mateus Morbeck, Myriam Glatt, Nina Maia, Patricia Pontes, Paulo Juno, Raul Leal, Rodrigo Westin, Sandra Gonçalves, Thomaz Meanda, Vicente Brasileiro. Entre as mídias utilizadas encontram-se pinturas, esculturas, instalações, desenhos, colagens, vídeos e fotografias.

Mulheres: Argentina & Brasil

 

Cerca de 80 obras de 15 artistas mulheres da Argentina e do Brasil, reunidas pela curadora Maria Arlete Mendes Gonçalves, ocuparão todo o prédio do Centro Cultural Oi Futuro no Flamengo, Rio de Janeiro, RJ, na exposição Una(S)+, de 13 de janeiro a 28 de março. A mostra ocupará do térreo à cobertura, passando pelas galerias, escadas, elevador e pátio externo, e inaugura a programação do Oi Futuro em 2021, seguindo todos os protocolos de segurança sanitária. Produzidas em dois momentos – antes e durante a pandemia – as obras afirmam a potência feminina na arte.

Prevista inicialmente para maio de 2020, e adiada duas vezes por conta do coronavírus, a exposição “ganhou um caráter mais amplo, ao incorporar o estado quarentena da arte”. A curadora decidiu incorporar à mostra também as obras criadas pelas artistas durante o confinamento em suas casas, já que elas produziram continuadamente, mesmo sem a estrutura de seus ateliês. “Elas ampliaram seus campos de trabalho e ousaram lançar mão de novas linguagens, materiais, tecnologias e redes para romper o isolamento e avançar por territórios tão pessoais quanto universais: a casa, o corpo e o profundo feminino”, explica Maria Arlete Gonçalves. “São obras de artistas de gerações distintas e diferentes vozes, a romperem as fronteiras geográficas, físicas, temporais e afetivas para somar potências em uma grande e inédita ocupação feminina latino-americana”, assinala a curadora.

A exposição nasceu da instalação “Fiz das Tripas, Corazón”, da artista portenha/carioca Ileana Hochmann, que ao expor em Buenos Aires em 2019 convidou artistas da Argentina e do Brasil, com a ajuda de Maria Arlete Gonçalves, para dialogarem com seu trabalho. Agora, esta exposição chega ao Rio de Janeiro ampliada, com mais artistas e desdobrada com trabalhos surgidos na pandemia.

As artistas que integram a exposição são, da Argentina: Fabiana Larrea (Puerto Tirol, Chaco), Ileana Hochmann (Buenos Aires), Marisol San Jorge (Córdoba), Milagro Torreblanca (Santiago do Chile, radicada em Buenos Aires), Patricia Ackerman (Buenos Aires), Silvia Hilário (Buenos Aires); do Brasil: Ana Carolina Albernaz (Rio de Janeiro), Bete Bullara (São Paulo, radicada no Rio), Bia Junqueira (Rio de Janeiro), Carmen Luz (Rio de Janeiro), Denise Cathilina (Rio de Janeiro), Evany Cardoso (vive no Rio de Janeiro), Nina Alexandrisky (Rio de Janeiro), Regina de Paula (Curitiba; radicada no Rio de Janeiro) e Tina Velho (Rio de Janeiro).

Exibição em dupla 

07/jan

 

 

Em “Buscadores: a vitalidade da arte”, os artistas Bruno Schmidt e Roberto Barciela, em cartaz até 31 de janeiro na Casa de Cultura Laura Alvim, Ipanema, Rio de Janeiro, RJ, exibem suas últimas experiências artísticas. Distintos formalmente entre si, Bruno Schmidt comparece com série de obras viscerais criadas em composições vigorosas  sendo a maioria em grandes dimensões enquanto Barciela exibe-se de modo distinto e inteiramente oposto com pinturas e objetos geométricos; um trabalho cerebral, calculado em perfeito contraponto e contrastes de cores.  A mostra também pode ser visitada pelo Youtube, através do link https://youtu.be/AiIwXWqy__8. O vídeo tem uma duração de cerca de 10 minutos. A curadoria traz a assinatura de Paloma Carvalho.

 

 

Para a curadoria Bruno Schmidt “explora elementos prosaicos, papéis e emborrachados: signos, materiais descartados que vão deixando por terra seus significados e usos originais para serem percebidos como elementos plásticos, como material de trabalho” enquanto em sua visão, Roberto Barciela “desafia materiais industriais e aquela geometria. Formas animam-se, reagem a seus cortes. Dinâmicas, expressivas, adquirem a personalidade exuberante das cores acrílicas – lisas, brilhantes, intensas, mas contudo sem excesso de gestos.”

 

Tarsila do Amaral A Caipirinha, 1923

08/dez

 

.

Galeria BASE com obras acromáticas

03/dez

 

A Galeria BASE, Jardim Paulista, São Paulo, SP, cumprindo todos os protocolos determinados pelas autoridades, encerra sua agenda de exposições de 2020 com a mostra coletiva “O que é raiz e não vértice”, expondo – até 23 de janeiro de 2021 –  aproximadamente 40 obras, entre pinturas e esculturas de Anna Maria Maiolino, Bruno Rios, Frans Krajcberg, José Rufino, Lucas Lander, Luiz Martins, Manoel Veiga, Marco Ribeiro, Mira Schendel e Véio. A curadoria é assinada por Paulo Azeco e a coordenação artística fica a cargo de Daniel Maranhão.

A exposição apresenta uma ampla representatividade de artistas de várias gerações e regiões do país com um ponto comum, alguns representados pela galeria, peças de acervo e outros convidados a participar de mostra que conclui o trabalho de um ano cheio de desafios. “A proposta da galeria é de trazer uma mostra onde a linguagem acromática cria um diálogo entre artistas de diferentes formações e épocas”, define Daniel Maranhão.

 

Optando pela ousadia de romper paradigmas, a Galeria BASE escolhe comemorar com ausência de cores e mostrar as possibilidades de representações artísticas em preto e branco, pois comunga com o conceito mencionado pelo artista Pierre Soulages de que quanto mais limitados os meios de expressão de que o artista dispõe, melhores são os resultados que ele pode alcançar.

 

O curador Paulo Azeco seleciona as obras onde sua importância e valor estético transcendem da utilização de cor: “desde as hoje aclamadas monotipias de Mira Schendel, o lirismo do trabalho de Anna Maria Maiolino até o poder expressivo das esculturas de Véio, a força se mostra por outros meios”, define.

 

Contrapontos e complementos contam histórias visuais em “O que é raiz e não vértice”. Frans Krajcberg, fez com que sua habilidade criativa e preocupação com sustentabilidade do planeta, em um momento em que o assunto não era destaque, gerasse obras de formas robustas e sofisticadas que independem de assinatura. São um manifesto por si. O trabalho de José Rufino utiliza elementos carregados de memória, oriundos sobretudo de seu legado familiar, como documentos, cartas entre outros itens de memorabilia.

 

Lucas Lander investiga o uso do carvão em construções ora figurativas, ora abstratas que extrapolam vigor; Marco Ribeiro apresenta obras inspiradas na arquitetura brutalista em nanquim enquanto Bruno Rios tem em sua pesquisa o uso constante do preto e não a considera uma cor que remete à tristeza, como muitos. Sua escolha é pela sofisticação do monocromatismo. Luiz Martins exibe trabalhos onde as formas remetem a seus antepassados indígenas, baseadas em representações rupestres plenas de pigmentos pretos, com uma profundidade que remete a cicatrizes ancestrais. Já as obras de Manoel Veiga exibem resultados abstratos, onde a partir da manipulação da imagem, enfatiza o confronto entre o claro e o escuro.

 

O que é raiz e não vértice” trata de como brasileiros contemporâneos fogem de duas características marcantes da arte Brasileira: o uso de cor e da geometria. Essa é uma pesquisa sobre os que vão contra essa corrente, investigando o avesso, sendo brasileiro sem cair nas obviedades do imaginário nacional.

 

Na trajetória da galeria, o monocromático sempre foi destaque em suas exposições. É uma de suas características que agora ampliamos e explicitamos. O mote principal da curadoria é um reflexo dos tempos sombrios que vivemos; o país entristeceu e esse fato justifica falar dessa arte que não é apenas sobre celebração e mais a respeito de reflexão”.

Paulo Azeco

 

 

 

 

Antonio Dias no MAM SP

 

 

Ao falecer, em agosto de 2018, Antonio Dias havia reunido uma coleção das próprias obras que recobria toda sua trajetória artística. O conjunto compunha-se tanto de peças de que ele nunca havia se separado, como de outras recompradas de terceiros para quem tinham sido vendidas. Tratava-se, pois, de uma representação de si mesmo intencionalmente construída, mantida e guardada.

 

A atitude de colecionar-se manifesta um aspecto essencial do artista: Antonio Dias cultivou uma ética do trabalho que permite compreender seu percurso a partir de posicionamentos claramente formulados por ele. Assim, a escolha dos componentes desta coleção testemunha atenção para com princípios que acompanharam o artista ao longo de sua vida e que deviam ser mantidos próximos a si.

 

Reunimos aqui parte dessa coleção única. Além de contar com peças emblemáticas, como Nota sobre a morte acidental e Anywhere Is My Land, o conjunto vai desde as primeiras obras abstratas do início dos anos 1960 até a última tela pintada por Antonio Dias. A mostra divide-se cronologicamente. Inicia-se com as obras mais recentes, onde o uso de pigmentos minerais condutores de eletricidade importava ao artista pela presença do material carregado de carga física. A segunda seção reúne obras com o uso de palavras, frequentemente em inglês, em composições áridas em preto, branco e cinza, que parecem colocar em questão seu próprio sentido como arte, pois negam qualquer prazer ao público. O terceiro conjunto é composto por peças dos anos 1960, cujas figuras fragmentadas remetem à violência do Brasil ditatorial, ao sexo e a vísceras extirpadas. Ao longo do percurso, há também obras singulares, como as abstrações do jovem artista feitas logo após seu estudo inicial com o gravurista Oswaldo Goeldi, os filmes realizados em Nova York entre 1971 e 1972, e as diversas representações do corpo. Pontuando todo o percurso, diferentes autorretratos registram o amadurecimento do autor.

 

A obra, apesar de múltipla, apresenta um aspecto comum: é impossível a experiência de uma compreensão total de cada peça; ao contrário, o público é confrontado com uma construção incapaz de apresentar-se íntegra. Com o método que gera objetos para os quais sempre falta o sentido total, emerge a dimensão ética da obra de Antonio Dias: a incompletude da existência humana. A constância dos temas existenciais garante um sentido testemunhal à obra de Antonio Dias. Portanto, a coleção que ele formou de si mesmo é uma síntese única, tanto pelo percurso que organiza ao longo das várias fases, como pela declaração dos valores éticos norteadores de sua arte.

 

A oportunidade de exibir parte da coleção nesta mostra, ainda durante período de luto pelo artista, só foi possível graças à generosidade da família; a ela é dedicada a exposição.

Felipe Chaimovich
curador

A exposição integra a 34ª Bienal de São Paulo.

 

Até 21 de março de 2021.

 

ARTISTAS DO BEM

 

 

Concebido logo no início do isolamento social, quando os seus idealizadores, Carlos Bertão e Alê Teixeira, contraíram o Coronavírus, o projeto DE CASA COM ARTE foi segmentado em duas fases, tendo como objetivo inicial a realização de quinze leilões beneficentes de obras doadas por 39 artistas visuais. Na primeira, contou com a participação de 21 profissionais, com vendas realizadas pela plataforma Arte na Fonte, através de sete leilões digitais, com três obras cada.  Com o valor arrecadado nessa fase, doado à Central Única das Favelas – CUFA, através do projeto Mães da Favela, foram adquiridas cestas básicas, beneficiando 350 famílias residentes em diversas comunidades carentes do Rio de Janeiro. Já na segunda etapa, mais 24 obras foram doadas e leiloadas pela mesma plataforma, tendo o valor arrecadado sido dividido em partes iguais entre a CUFA e o Retiro dos Artistas.

 

 

Em reconhecimento à generosidade dos artistas doadores, Carlos e Alê decidiram produzir uma exposição no Centro Cultural Correios, com a participação de 29 dos 39 doadores, com cerca de 85 obras em diferentes mídias (instalações, colagens, pinturas, desenhos). A curadoria ficou a cargo de Carlos Bertão, enquanto Alê Teixeira assinou o design e iluminação expositivos.

 

 

“A exposição aberta no Rio é apresentada como um reconhecimento e agradecimento à paixão e à compaixão de todos os 39 artistas que doaram suas obras para os dois leilões e que se destacaram por sua generosidade e empatia”, explica Alê Teixeira.

 

 

 “Encerramos a primeira etapa já pensando em uma segunda, em 2021, caso o Coronavírus siga afetando a vida dos mais necessitados”, diz Carlos Bertão, que revela ter conseguido um total de R$ 90 mil em arrecadação.

 

 

Artistas participantes:

 

 

Bel Magalhães, Bere Bastos, Beto Fame, Bruno Big, Cacá Barcellos, Claudia Teruz, Eduardo Scatena, Elimar Matos, Esther Ohana, Fabiano Fernandes, Gustavo Matos, Iza Valente, Jeremias Ferraz, Liliane Braga, Lucio Volpini, Marcella Madeira, Marcello Rocha, Maria Eugênia Baptista, Mulambo, Myriam Glatt, Patricia Secco, Pietrina Checcacci, Pina Bastos, Roberta Cani, Roberto Romero, Rodrigo Villas, Rogerio Silva, Selma Jacob, Solange Escosteguy.

 

Até 10 de janeiro de 2021