Picasso na Caixa Cultural/Rio

09/set

O Instituto Tomie Ohtake, a CAIXA Cultural Rio de Janeiro, Arteris e IRB BRASIL RE, apresentam no Rio de Janeiro, Centro, RJ, nas Galerias 2 e 3, a exposição “Picasso: mão erudita, olho selvagem”, com 138 obras, entre pinturas, desenhos, gravuras, esculturas, cerâmicas e fotografias pertencentes ao MuséeNational Picasso-Paris. Organizada pelo Instituto Tomie Ohtake em conjunto com o Musée National Picasso-Paris. A exposição tem curadoria de Emilia Philippot, também curadora da instituição francesa.

 

As obras traçam um percurso cronológico e temático em torno de conjuntos que seguem as principais fases de Pablo Picasso, nascido em Málaga, Espanha, em 25 de outubro de 1881, e morto em Mougins, França, em 8 de abril de 1973. A exposição percorre sua trajetória desde os anos de formação, com o óleo sobre tela “L’Homme à lacasquette” (1895), até os últimos de produção, como na gravura em metal “Couple: femme et hommechien. Avecfemme à lafleur” (1972). O patrocínio é da Arteris e IRB BRASIL RE, com apoio da CAIXA, da Prosegur e da Repsol Sinopec Brasil, realizado através da Lei Federal de Incentivo à Cultura (Rouanet).

 

 

 

A exposição

 

 

A exposição com mais de 130 obras do gênio da arte do século XX esteve em cartaz no Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo, onde foi sucesso de público e crítica, possibilita uma rara imersão do público no universo do artista espanhol, que viveu grande parte de sua vida na França. Das 138 obras, 109 são de Picasso: 27 pinturas, 42 desenhos, 20 gravuras e 20 esculturas, incluindo 12 cerâmicas, em sua quase totalidade nunca vistas no Brasil. Também integram a mostra 22 fotografias feitas por AndresVillers (1930-2016) em parceria com Picasso, e três fotografias feitas por Pierre Manciet durante as filmagens de “La viecommencedemain” (1949), de Nicole Védrès, no ateliê do artista em Fournas, Vallauris, na França. O filme, de 89 minutos, também poderá ser visto pelo público, junto com dois outros: “Guernica” (1950), de Alain Resnais e Robert Hessens, com 13 minutos, que aborda a obra-prima de Picasso, entre pinturas, desenhos e esculturas feitas por ele entre 1902 e 1949; e “Le Mystère Picasso” (1956), de Henri-Georges Clouzot, com 78 minutos, que revela seu processo criativo.

 

A curadora EmiliaPhilippot destaca o fato de que as obras expostas revelam para o público a ligação íntima e pessoal que alimenta toda a produção de Picasso, presente nos retratos íntimos da mãe do artista ou de seu primeiro filho, Paul, na celebração apaixonada da sensualidade feminina de Marie-Thèrèse Walter, e nas denúncias intransigentes dos males causados pelos conflitos contemporâneos, da Guerra Civil Espanhola ou da Ocupação da França pelas tropas alemãs. “Escolhemos aproveitar o caráter específico da coleção para esboçar um retrato do artista que questiona sua relação com a criação, entre fabricação e concepção, implantação e pensamento, mão e olho”, afirma EmiliaPhilippot. Estão presentes nos trabalhos as experiências vividas por Picasso. “Os laços afetivos do amante, as dúvidas do homem, as alegrias do pai de família, os compromissos do cidadão: tudo se introduzia em sua arte”, completa.

 

Uma característica importante da exposição é que o acervo é composto por obras selecionadas e mantidas pelo artista ao longo de sua vida. São trabalhos que estiveram ao seu lado e pertencem ao MuséeNational Picasso-Paris, um dos mais importantes do mundo sobre o artista, formado por doações sucessivas dos herdeiros do pintor, em 1979 e 1990.

 

 

 

Percurso da exposição

 

 

As obras estão dispostas de acordo com um roteiro cronológico e temático, em dez seções: “O primeiro Picasso. Formação e influências (por volta de 1900)”; “Picasso exorcista. As senhoritas de Avignon (processo da geometrização das formas)”; “Picasso cubista. O violão (relação com a música)”; “Picasso clássico. A máscara da antiguidade (a maternidade, o teatro e a dança)”; “Picasso surrealista. As banhistas”; “Picasso engajado.Guernica (estudos da obra, fotos e foco na apresentação da tela em 1953 no Brasil/ 2ª Bienal de São Paulo)”; “Picasso na resistência. Interiores e vanitas (processo de trabalho durante a guerra, vida doméstica e vaidades)”; “Picasso múltiplo. A alegria da experimentação (da cerâmica ao fotograma)”; “Picasso trabalhando. O Mistério Picasso (a magia de seu processo criativo na pintura)”; e “O último Picasso: o triunfo do desejo (erotismo em todos seus estados)”.

 

 

 

Sobre EmiliaPhilippot

 

 

EmiliaPhilippot é diplomada pela Écoledu Louvre e especializada em conservação do patrimônio pelo Institutnational Du Patrimoine (Paris). Foi gerente de projeto na RéuniondesMuséesNationaux, Paris (2007 e 2009), onde organizou a exposição “Le grand monde d’Andy Warhol”, nas Galeriesnationalesdu Grand Palais (2009). Foi responsável pelas coleções de artes decorativas, artesanato e design industrial no Centre nationaldesArtsPlastiques (Paris), entre 2010 e 2012, coordenando a exposição “Liberty, EqualityandFraternity”, no WolfsonianMuseum (Miami), em 2011. Responsável pela segmento de artes gráficas e pinturas do MuséeNational Picasso-Paris desde 2012, Philippot preparou a reabertura do museu e organizou importantes mostras como “¡Picasso! L’expositionanniversaire no MuséeNational Picasso-Paris” (2015); “Picasso chez Delacroix no MuséeNationalEugéneDelacroix” (Paris 2015); “MiquelBarceló, Sol y Sombra”, no MuséeNational Picasso-Paris (2016), e está desenvolvendo a exposição “Histoires d’Olga – Filtres de l’Histoireauprès de Picasso”, no MuséeNational Picasso-Paris prevista para março de 2017.

 

 

 

Até 20 de novembro.

Mundo físico

A Galeria Virgílio, Pinheiros, São Paulo, SP, exibe obras dos artistas Fernando Burjato, Gabriele Gomes e Cleverson Oliveira.  A carreira dos três artistas tem início nos anos 1990, quando eram alunos da Escola de Música e Belas Artes do Paraná, EMBAP, em Curitiba, PR. Logo que se formaram, cada um tomou um rumo diferente, fora da capital paranaense. Ainda assim, as obras dos três seguem paralelas, e nestes últimos vinte anos, têm mantido um rico diálogo, feito de aproximações e divergências, fato observado na mostra intitulada “Colapso”, realizada entre 2015 e 2016 no Museu Oscar Niemeyer, com a curadoria de Ana Rocha. “O mundo físico” é uma espécie de transbordamento da exposição curitibana, que teve mais de 11 mil visitantes; propõe um outro recorte do trabalho dos artistas, que se desenvolve em diversos materiais e linguagens: pintura, desenho, objeto, fotografia.

 

 

Sobre os artistas

 

Gabriele Gomes, Curitiba, PR, 1971, reside no Rio de Janeiro, produz instalações, fotografias, objetos e poemas, tendo como referência a tradição da pintura. Há em sua obra o desejo de fazer uma pintura que se estenda para fora do quadro, transformando em pintura aquilo que existe de mais trivial. Se Grabriele traz a pintura para o mundo físico, para os espaços entre as coisas, Cleverson Oliveira, Curitiba, PR, 1972, cria instalações gráficas, como desenhos de paisagem que podem ser vistos por dentro. Ou obras em grafite sobre papel em que o olhar do espectador oscila entre a nitidez da superfície e o caráter turvo de uma imagem que se reconhece. Fernando Burjato, Ponta Grossa, 1972, PR, desde 2000 trabalha principalmente como pintor. Seus quadros, entretanto, se alongam para fora dos limites da tela, a tinta escorre e seca, formando franjas, como uma pele que se escama e pende, como farrapos, contrastando com a luminosidade e a leveza das cores. É representado pela Galeria Virgílio desde 2009.

Texto de Daniela Vicentini

                              

O mundo físico, sabemos, não é estático. Nem uma rocha está mesmo parada. Ainda que tenhamos a sensação de que muita coisa não se mova, sequer este planeta em nossa percepção cotidiana. Assim, Gabriele Gomes, Fernando Burjato e Cleverson Oliveira ativam em objetos, pinturas e desenhos – que querem se afirmar como presenças físicas no mundo –, cada um a seu modo, percepções temporais distintas: coisas que trazem latente o vir a ser do processo de suas configurações.

 

Dos três, Gabriele é quem lança mão dos artefatos que estão ao alcance de todas as pessoas – um pirex, um paninho rosa de limpeza, garrafas de vidro vazias. Isso tem na casa de toda gente. Há também objetos afetivos do universo da artista – como livros e bibelôs – ou que parecem ter sido coletados em viagens e passeios – como pedras e conchas. E tudo remete ao ambiente das centenas de artigos que rodeiam a sua vida doméstica, mas poderia também ser a de outra pessoa. Então, um tanto de tinta, um volume de cor, se acomoda dentro ou sobre os objetos. E o processo corriqueiro do objeto comum para, adquire outra temporalidade: as garrafas não serão mais descartadas.

 

Tudo que nos rodeia se apresenta com um excesso de luz – cores fortes, letreiros, telas, as luzes estão bem acesas – e Gabriele as ilumina mais ainda: usa purpurina, espreme o tubo de tinta com cores industriais, elege cores saturadas. Embalagens e recipientes ganham outro tanto de cor chapada, sem escala de tonalidades. A tinta esparramada seca em sua liquidez, torna-se também coisa que se agarra a outra mas mantém uma aparência mole. Cristaliza-se no processo de estar conformando algo: borbulhando de dentro da garrafa, sobrepondo-se às superfícies.

 

Luz sobre luz, desfaz-se o contorno das coisas. Como que outra imagem de realidade se conforma, algo que traz um quê de uma atmosfera de sonho. A ação de Gabriele nos dá ferramentas para observar os objetos ao nosso redor como se pudéssemos olhá-los como que pela primeira vez. Raramente paramos para pensar em como as coisas vieram a ser o que são. Toda a complexidade do pensamento e fazer humanos que envolvem a existência de muitos itens. Eles estão aí, são úteis, descartáveis (ainda que não exista um fora) – tornam-se até mesmo invisíveis. Uma caneta esferográfica, um caderno quadriculado, como vieram a ser o que são? Gabriele os enlaça em pequenos arranjos jocosos – cor, forma, função. O pensamento e o olhar podem se deter, inclusive na individualidade de cada elemento.

 

Assim cria-se “Oba” na escala de uma mesa, tomando cerveja ou café, lembrando daquele passeio na praia com as conchinhas colhidas, depois deve-se limpar – nunca mais irei lidar com aquele paninho do mesmo jeito. É necessário reinventar – e por que não fazê-lo com instantes de um olhar generoso para o que está bem aqui? Conchinha sobre conchinha, o desejo é o de alcançar o céu, como a coluna sem fim de Brancusi. Ainda que no ato de erigir a tinta consiga apenas deitar-se.

 

Fernando Burjato tem na repetição de faixas um vocabulário desde muito tempo, já nas camisetas de seus autorretratos de quando começou enfurecidamente a desenhar, pintar e refazer. E repetidamente, todos os dias em seu ateliê, desde então, o fazer de Fernando se transforma por meio do excesso de sempre reconstruir. São muitos exemplares de um mesmo até que as transformações se insinuem – podem ser acidentes, desvios do fazer que são aceitos e tomam corpo. A arte é referência explícita: a grade moderna, a pintura como matéria, colagem, pinceladas, tinta escorrida, dripping, veladura, impasto, claro e escuro, qualidades de linhas e muito mais. Embebe-se de obras, experiência concreta da arte, essa é a realidade do artista. O sistema, portanto, não é algo para se adequar. É o ponto de partida para inventar excessos.

 

São pinturas a óleo em que aparecem faixas organizadas uma ao lado da outra, mais ou menos com a mesma largura e quantidade de tinta equivalente, cada cor num espaço definido. Diante de algumas, nos deparamos com o transbordamento da tinta para fora dos limites do quadro. Outras têm como suporte um paralelepípedo protuberante, com tinta escorrida nas laterais. Definem-se imediatamente dois lugares – um tanto do que é dentro está fora. Nas bordas, a tinta aparece efetivamente como coisa e o suporte inusitado é caixa: temos certeza de que se trata do mundo físico, com objetos tridimensionais que produzem sombras. Pode-se ver isso claramente no desenho em pastel que retrata as próprias pinturas – ou é estudo que as antecede?

 

Desse contraste evidente outros tantos vão surgindo. Há um todo ritmado, uma coisa depois da outra, mas a predileção é por cores dissonantes e o tratamento de pintura de cada parte cria acontecimentos específicos – numa vemos uma sequência de cores em degradê, noutra não identificamos nenhuma pincelada ou há brilhos ou vestígios de rastos do pincel ou um aglomerado de tinta. Como se o espaço de dentro fosse feito por citações de procedimentos pictóricos. O todo se organiza tanto como colagem de formas geométricas, por assim dizer, quanto como colagem de maneiras, já tradicionais, de se ativar uma superfície de pintura. Evidencia-se a convivência de coisas muito diferentes num lugar que de início parece um todo organizado. E quando nos demoramos em algo, a pintura parece dizer: “Ei, veja isso aqui agora, poderia funcionar assim também, não é? Olhe para esse esfumaçado, veja esse volume, viu a cor aqui em cima?”, e assim por diante. Nem tudo é muito sério, as curvas e as dobras e rasgos parecem querer brincar, a caixa é um treco na parede. Sorrimos.

 

As luzes também estão bem acesas, algumas cores são estridentes até. A potência de produzir é circunscrita a uma força de vontade individual, o fazer construtivo convive com sua impossibilidade – as bordas realmente caem.

 

Cleverson Oliveira apresenta desenhos feitos com pó de grafite e caneta permanente sobre tela; portanto, em escalas de cinzas e preto e branco. Eles parecem querer configurar uma paisagem, mas ela não se mostra totalmente. É apenas aventada por manchas nas quais reconhecemos as sinuosidades do mundo vegetal. Há também o desenho de ícones que querem representar gotas de água em escala real – se olharmos de perto vemos uma forma ovalada preenchida na metade de cima de preto e na de baixo de branco. Com pequenas diferenças de tamanho, esses desenhos são repetidos em toda a superfície da tela. Desse modo, vemos o desenho de gotas e o de silhuetas de plantas. E essas duas coisas nos fazem ver uma terceira que na verdade não existe: uma placa de vidro. O jogo do desenho é transformar a superfície da tela em vidro. Vemos aquilo que não existe como coisa – mundo físico. Não há desenho do vidro e é isso o que vemos o tempo todo. Temos então uma paisagem intuída através de um vidro embaçado sobre o qual há gotas – vidro, gotas e manchas.

 

Cleverson realiza trabalhos em diversas mídias. Entre elas, a fotografia e o vídeo. Há certa narrativa, um aparente descompromisso, muito humor. Interessa atentar como o artista lida com a imagem nesses veículos de reprodução. Sabemos que ela é constituída por pequenos pontos. E ele toma partido por evidenciá-los; portanto, as figuras aparecem granuladas, com contornos incertos. As cenas se dão com imagens que estão sempre prestes a ser desconfiguradas. As superfícies da impressão e do vídeo são porosas, ele constrói por indefinições, utiliza silhuetas – como também nesses desenhos de paisagem.

 

Bem, estamos abrigados da chuva quando contemplamos essas imagens. Seria de dentro de uma casa? Ficaríamos assim tanto tempo observando as vidraças? A paisagem está bem perto. Em suas fabulações, o artista introduz a experiência da viagem como assunto poético. E esses desenhos me remetem ao tempo em que passamos a olhar a paisagem quando estamos num ônibus, num trem, carro de passeio, vendo a chuva e o mundo cambiante e embaçado, impossibilitados de fato de estar lá. Apesar de que a dimensão da tela pode contradizer essa imagem. Afinal, um desenho tem a liberdade de ser apenas aquilo que é, em preto e branco.

 

O mundo físico de Gabriele Gomes, Fernando Burjato e Cleverson Oliveira é feito por coisas moles, cortinas que caem e vapores. Objetos do mundo comum reconfigurados, pinturas de faixas e desenho de paisagem – não alardeiam novidades. A potência dos trabalhos é reavivar sempre a vontade de arte – o processo de vir a ser é assunto.

 

 

De 13 de setembro a 08 de outubro. 

 

Manoel Novello no IBEU

08/set

A Galeria de Arte IBEU, Copacabana, Rio e Janeiro, RJ, apresenta “Copacabana”, exposição individual de Manoel Novello, artista selecionado através do edital do Programa de Exposições Ibeu. A mostra tem curadoria de Cesar Kiraly e reúne seis pinturas de grandes dimensões, fotografias, desenhos e instalação, explicitando o diálogo que Manoel Novello estabelece com a cidade que vivencia e aprofundando as relações entre sua pintura, a arquitetura, o espaço urbano e a orla marítima.

 

As pinturas de Manoel Novello são criadas a partir de um processo de construção e reconstrução de diagonais, horizontais e verticais: sobrepondo linhas coloridas compostas como se fossem música, evidenciando planos e criando a noção de profundidade. Ao longo da elaboração de uma tela, linhas e cores são apagadas, substituídas por camadas que as cobrem, assim como ocorre com os prédios, ruas e praças de uma cidade ao longo dos anos. Há dezenas de pinturas sob a pintura de Novello, infinitas paisagens soterradas por novas cartografias, fluxos e volumetrias. Na Galeria IBEU, as seis pinturas se referem à situação urbana do bairro de Copacabana, especificamente, o que destaca as conexões entre as obras.

 

“A cidade é uma das vias buscadas por Novello. Nisso, torna explícito que seu abstrato é impuro, disperso na experiência. Ele é paisagem íntima perdida nas amplitudes das sensações que o distraimento nos permite. Por isso, a abstração do Novello remete tão fortemente à vida comum”, afirma o curador  Cesar Kiraly.

 

Esta é a segunda vez que o artista apresenta, além das pinturas, fotografias e desenhos. Esses trabalhos colaboram no entendimento da visualidade. “Copacabana” se completa com uma instalação feita em fios coloridos de algodão, remetendo a uma paisagem marítima, próxima à galeria, que já se perdeu no crescimento urbano.

 

 

 Sobre o artista

 

Manoel Novello participou da Bienal de Curitiba de 2011 e Arte Pará 2010, e essa será sua 4ª exposição individual. Recentemente produziu um site specific para o Jardim do Museu da República, dentro do programa “Ocupa Coreto”, Galeria do Lago, com curadoria de Isabel Portella. É representado no Rio de Janeiro pelo Escritório de Arte Gaby Indio da Costa.

 

 

De 14 de setembro a 21 de outubro.

O Útero do Mundo

05/set

O MAM, Parque do Ibirapuera, SP, retrata corpos indomáveis e histéricos na exposição “O útero do mundo”. A curadora Veronica Stigger selecionou cerca de 280 obras de 120 artistas contemporâneos em que o corpo aparece como lugar de expressão de um impulso desvairado e que se apresenta transformado, fragmentado, deformado, sem contorno ou definição. São pinturas, desenhos, fotografias, esculturas, gravuras, vídeos e performances do acervo do museu.

 

As obras, pertencentes ao acervo do MAM, mostram a indomabilidade e as metamorfoses do corpo. Com curadoria da escritora e crítica de arte Veronica Stigger, as produções selecionadas – num universo de mais de cinco mil trabalhos da coleção do museu – revelam um corpo que não respeita a anatomia e liberto de amarras biológicas e sociais. Baseada na proposição dos surrealistas de compreender a histeria como uma forma de expressão artística, a apurada seleção da curadora faz um elogio à loucura, ilustrando esse “corpo indomável” que, embora reprimido pela humanidade, manifesta-se no descontrole, na histeria e na impulsividade.

 

Para organizar a mostra, a curadora recorreu a três conceitos extraídos da obra da escritora Clarice Lispector que servem como fios condutores que separam os trabalhos nos núcleos “Grito ancestral”, “Montagem humana” e “Vida primária”. Segundo VeronicaStigger, a autora naturalizada brasileira retomou com brilho o elogio ao impulso histérico. “Clarice organizou um pensamento simultâneo da forma artística e do corpo humano como lugares de êxtase e de saída das ideias convencionais, tanto da arte quanto da própria humanidade”, afirma. São exibidas, conjuntamente, obras de artistas celebrados como Lívio Abramo, Farnese de Andrade, Claudia Andujar, Flávio de Carvalho, Sandra Cinto, Antonio Dias, Hudinilson Jr., Almir Mavignier, Cildo Meireles, Vik Muniz, Mira Schendel, Tunga, Adriana Varejão e muitos outros, além de duas performances de autoria de Laura Lima.

 

 

Grito Ancestral

 

Abrindo a mostra, “Grito ancestral” contém obras que representam uma série de gritos. “É como se esse som, anterior à fala e à linguagem articulada, atravessasse os tempos e rompesse com as próprias imagens”, explica a curadora. “O grito se contrapõe à ponderação e pode ser visto como indício de loucura. Gritar é, em certa medida, libertar-se das frágeis barreiras que delimitam aquilo a que convencionamos chamar de “cultura” em oposição à “natureza” e ao que há de selvagem e indomável em nós”, afirma. Nessa área estão expostos três autorretratos da série “Demônios”, espelhos e máscaras celestiais, de Arthur Omar, artista com trabalhos que demonstram estados alterados de percepção e de exaltação. Também fazem parte a fotografia “O último grito”, de Klaus Mitteldorf; a colagem “Medusa marinara”, de Vik Muniz; fotos de performances de Rodrigo Braga; a gravura “Mulher”, de Lívio Abramo; além de imagens em preto e branco de Otto Stupakoff. Com a série “Aaaa…”, a artista Mira Schendel apresenta uma escrita que não constitui palavras ou frases e em que se percebe a desarticulação da linguagem e uma volta ao estado mais bruto e inaugural.

 

 

Montagem humana

 

Neste nicho são apresentados corpos fragmentados, transformados, deformados e indefinidos, o que prova a indomabilidade do mesmo. Na exposição é percebido como o traço se convulsiona nas obras intituladas “Mulheres”, de Flávio de Carvalho, nos desenhos de Ivald Granato e nas produções de Tunga, Samson Flexor e Giselda Leirner. Nas fotografias, é a falta de foco que borra o contorno da figura nas imagens de Eduardo Ruegg, EdouardFraipont e Edgard de Souza. Com o uso da radiologia, é possível verificar o interior do corpo humano nas obras de Almir Mavignier e Daniel Senise. Destacam-se ainda as fotografias feitas por Márcia Xavier, um desenho de Cildo Meireles e as produções que misturam imagens, couro e madeira de Keila Alaver que representam, literalmente, corpos transformados e fragmentados.

 

 

Vida Primária

 

Este nicho dá vez às formas de vida mais elementares, como fungos, flores e folhagens. “Este tipo de vida desestabiliza a percepção que temos da própria vida porque, de certa maneira, deteriora as coisas do mundo “civilizado”, explana VeronicaStigger. Isso é ilustrado na série “Imagens infectas”, de Dora Longo Bahia, em que um álbum de família é alterado pela ação de fungos. Em “Vivos e isolados”, Mônica Rubinho usa papéis propositalmente fungados em placas de vidro para promover a geração desta espécie. No vídeo “Danäe nos jardins de Górgona” ou “Saudades da Pangeia”, Thiago Rocha Pitta propõe uma leitura mitológica da vida primária. Ainda são exibidas partes do corpo como o coração feito de bronze, de autoria de José Leonilson, e a foto “Umbigo da minha mãe”, de Vilma Slomp. A vagina, porta de entrada e de saída do útero, é mostrada em diversos trabalhos como nas gravuras de Rosana Monnerat e de Alex Flemming, nas fotografias da série “Vulvas”, de Paula Trope e no desenho “Miss Brasil 1965”, de Farnese de Andrade.

 

 

 

Sobre a curadora

 

Veronica Stigger é escritora, crítica de arte e professora universitária. Possui doutorado em Teoria e Crítica de Arte pela USP e pós-doutorados pela Universitàdegli Studi di Roma “La Sapienza”, pelo MAC-USP e pelo Instituto de Estudos da Linguagem da UNICAMP. É professora das pós-graduações em Fotografia e em História da Arte na FAAP, além de coordenadora do curso de Criação Literária da Academia Internacional de Cinema (AIC). Foi curadora de Maria Martins: metamorfoses no MAM São Paulo (2013) e ganhou o Grande Prêmio da Crítica da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) e o Prêmio Maria Eugênia Franco, concedido pela Associação Brasileira de Críticos de Arte (ABCA) de melhor curadoria. Com Eduardo Sterzi, curou “Variações do corpo selvagem: Eduardo Viveiros de Castro”, fotógrafo, no SESC Ipiranga. Entre as publicações, estão Os anões (SP: Cosac Naify, 2010), Delírio de Damasco (SC: Cultura e Barbárie, 2012) e Opisanieświata (SP: Cosac Naify, 2013).

 

 

De 05 de setembro a 18 de dezembro.

Calder e a Arte Brasielira

Em “Calder e a Arte Brasileira”, o Instituto Itaú Cultural, Cerqueira César, São Paulo, SP,lança luz sobre a influência no Brasil da obra do artista norte-americano, pioneiro da arte cinética, e traz à tona a importância de seu papel na formação do neoconcretismo no país.A leveza, movimento e colorido da obra de Alexander Calder em materiais como o metal, o ferro e o arame inundam os três andares do espaço expositivo do Itaú Cultural. Com curadoria de Luiz Camillo Osorio, e em parceria com a Expomus e a Calder Foundation, conduzida por Alexander S. C. Rower, neto do artista, em Nova York, a mostra apresenta 60 peças – 32 do próprio artista, entre móbiles, guaches, maquetes, desenhos, óleos sobre tela e dois audiovisuais. Outras 28 são produções de 14 brasileiros, que revelam a proximidade de seu trabalho ao do artista.

 

Nos anos 40 e 50, experimentalistas como Abraham Palatnik, Lygia Clark, Hélio Oiticica, Willys de Castro, Judith Lauand, Lygia Pape, Waltercio Caldas, Antonio Manuel e Luiz Sacilotto também embarcaram no caminho da arte cinética influenciando gerações até hoje. A influência se detecta em Ernesto Neto, Franklin Cassaro, Carlos Belvilacqua, Cao Guimarães e RivaneNeuenschwander, igualmente presentes na exposição.

 

Segundo Luiz Camillo Osorio, a poética de Calder, cujo rigor construtivo ganha tonalidade lírica, é uma referência para os artistas brasileiros, com quem teve relação estreita, porém ainda pouco afirmada. Existem obras suas em coleções brasileiras desde os anos de 1940, por meio das quais pode se seguir o rastro de sua influência na vanguarda do país. O movimento presente nos móbiles do norte-americano, por exemplo, está também na série de “Bichos”, de Lygia Clark, nos relevos espaciais dos “Parangolés” de Oiticica e nos “Cinecromáticos” de Palatnik.Alexander S.C. Rower relata: “A visita do meu avó ao Brasil teve um impacto duradouro, tanto emocional como intelectual. Ele ficou fascinado pela exuberância e energia da cultura brasileira – ele amou especialmente o samba. No sentido inverso, seus móbiles cativaram os artistas brasileiros e a classe artística. A exposição no Itaú Cultural apesenta esse fascinante diálogo – afirmando mais uma vez a afinidade de Calder com o espírito brasileiro”.

 

O artista norte-americano realizou a sua primeira exposição no Brasil no final da década de 1940. Passados 13 anos, participou da segunda Bienal de São Paulo deixando influências diretas no imaginário poético no país. Sua relação com os arquitetos modernos foi próxima. Também com o crítico de arte Mario Pedrosa, que teve posição determinante para que se realizasse uma retrospectiva de Calder no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, em 1959. “A sua obra inscreveu-se na formação construtiva brasileira, misturando o lúdico e o geométrico e isso merece melhor avaliação histórica”, observa o curador. “É esta relação que pretendemos trabalhar nesta exposição.”

 

A mostra “Calder e a Arte Brasileira”, de acordo com Luiz Camillo Osorio, busca evidenciar essa relação e a sua disseminação no imaginário artístico brasileiro, além de mostrar importantes trabalhos da trajetória do norte-americano. “Apresentamos obras de alguns de nossos artistas que foram, direta ou indiretamente, marcados por ele”, diz o curador.A relação geracional com a tradição concreta e neoconcreta, a vontade comum de concentração e expansão da forma abstrata -no plano pictórico e fora dele -, são conferidas no piso -2.De Calder encontram-se ali, entre outras obras, guaches sobre papel, “Sem título”, de 1946, “Composição”, do mesmo ano e doada pelo artista ao MASP, em 1948. Elas figuram no mesmo espaço que Abraham Palatnik com “Aparelho cinecromático”, 1969/86, “Objeto Cinético”, 1986, e mais um de mesmo nome, de 1990/1991. Lygia Clark, entre outros brasileiros, está presente neste andar com o guache, nanquim e grafite sobre papel “Composição”, 1952. De Hélio Oiticica tem “Mestaesquema”, um de 1957, outro de 1958. Só para citar mais alguns, este andar comporta “Ascenção”, de 1959, de Willys de Castro e, ainda, “Concreto 28”, obra de Judith Lauand, de 1956.

 

No piso -1, a linha curatorial sugere o desdobramento subliminar da influência de Calder na arte contemporânea brasileira. “O ponto que cabe ressaltar aqui é a presença do corpo na ativação da forma, a incorporação do movimento e da geometria atravessados por um contexto social e cultural específico, onde passado e futuro se entrecruzam”, observa o curador. De Calder, estão ali, por exemplo, a maquete “Brasília” (c.a.1959), “Móbile amarelo”, preto, vermelho, branco, de 1946. Dos brasileiros, encontram-se dos “Bichos” de Lygia Clark, dos “Bilaterais” e “Parangolés”, de Hélio Oiticica, às esculturas de Waltercio Caldas, de 1997 e 2002, “NaveMeditaFeNuJardim”, 2015, de Ernesto Neto e “Catamarã Aéreo”, 1997, de Carlos Bevilacqua.Por fim, no primeiro andar, os móbiles desenham-se no espaço, desmaterializam-se, resistem à gravidade. Citando algumas das obras de Calder que ali convivem, estão “Vermelho, Branco, Preto” e “Bronze”, 1934, nunca antes exibida no Brasil, “Digitais Escarlate”, 1945 – obra de extrema importância que não é exposta há mais de 60 anos, nunca esteve no Brasil e sempre foi mantida com a família do artista -, “Bosquet é o Melhor dos Melhores”, 1946, “Trinta e dois discos”, 1951, exibida na Bienal de São Paulo, em 1953-1954. Elas dialogam com produções como “O ar mais próximo”, 1991, de Waltercio Caldas, “Três Cassarinhos Vermelhos na Gaiola”, 2010, de Franklin Cassaro, ou “Sopro”, 2000, de Cao Guimarães e RivaneNeuenschwander.

 

Neto de Calder e condutor da mostra, Alexander S.C. Rower reforça a identidade brasileira do avô relatando que sua visita ao Brasil teve um impacto tanto emocional como intelectual. “Ele ficou fascinado pela exuberância e energia da cultura brasileira”, conta.

 

 

Até 23 de outubro.

Ponto Transição

31/ago

O Centro de Artes Visuais da Funarte / MinC realiza, a exposição “Ponto Transição”, que reúne trabalhos de 30 artistas e coletivos contemporâneos de diversas linguagens e tendências, articulados em um circuito de espaços no interior da Fundição Progresso. As obras foram selecionadas pelos curadores artísticos Luiza Interlenghi, Sonia SalcedodelCastillo e Xico Chaves, do Centro de Artes Visuais da Funarte/MinC, a partir do grande universo de artistas que participaram nos últimos doze anos de editais da instituição, em um amplo processo de mapeamento da produção de artes visuais que envolveu críticos de todo o país. “Ponto Transição” integra a programação cultural dos Jogos Paralímpicos no Rio de Janeiro, e os trabalhos expostos compreendem intervenções urbanas, poemas visuais, fotografia, audiovisuais, videoinstalações, esculturas, objetos, trabalhos de coletivos artísticos e outras formas de múltipla expressão.  Haverá ainda uma intensa programação de performances e conversas abertas ao público, com artistas e pensadores.

 

Muitas obras foram feitas especialmente para esta exposição, como é o caso dos artistas Alex Hamburger, Alexandre Dacosta, Ana Muglia, Franklin Cassaro, Helena Trindade, Hugo Houayek, João Modé, Raul Mourão, Ricardo Basbaum, com João Camillo Penna, Thomas Jeferson, Coletivo Vade Retro Abacaxi, Valéria Costa Pinto, Victor Arruda e Wlademir Dias-Pino, com Regina Pouchain. Outros artistas irão recriar trabalhos emblemáticos, como Ana Vitória Mussi, Armando Queiroz, Chang Chi Chai, Eduardo Coimbra, Elisa de Magalhães, Irmãos Guimarães, Marcio Zardo, Marcos Bonisson, Marcos Chaves, Martha Niklaus, Ricardo Aleixo, Ronald Duarte, Suzana Queiroga, Tchellod`Barros e Tina Velho. A Galeria Transparente, projeto com curadoria de Frederico Dalton, terá um território na exposição para uma programação própria de performances, com os artistas Nivaldo Carneiro, TetsuoTakita, Rodrigo Munhoz, Pedro Paulo Domingues, Helena Wassersten, Crioulos de Criação, Coletivo S.T.A.R., Clarisse Tarran& Edu Mariz, Monica Barki, Lilian Amaral e André Sheik.

 

Para Xico Chaves, diretor do Centro de Artes Visuais da Funarte, “…a exposição traduz um momento de transição das artes visuais, que o Brasil representa bem”. “Estamos em uma transição mundial, global. As artes visuais estão acolhendo experimentações que não podem ser realizadas no campo de outras linguagens. Nas artes visuais essas manifestações encontram uma liberdade e um espaço de concepção e amplitude irreversíveis”, afirma. “Neste momento de transição, você vai encontrar uma diversidade múltipla, e não uma sequência de performances similares”. Ele destaca que a Funarte “tem como função estimular o que não está no mercado”. “Institucionalmente tem que atender a esses processos de experimentação”.

 

“Ponto Transição” também coloca em evidência o trabalho curatorial. Xico Chaves acentua que “esta é uma oportunidade de trazer a curadoria de volta à instituição, que conta com profissionais altamente qualificados”. “A Funarte criou um campo de expansão permanente, aceleradíssimo, em que foi tudo incorporado: poesia visual, performances, intervenções urbanas, coletivos, uma nova abordagem sobre o objeto, novas tecnologias, obras que não se classificam de uma forma só, sem excluir as expressões artísticas convencionais.

 

 

 

Arte em campo instável

 

Luiza Interlenghi situa a exposição em um recorte da arte em campo instável, área que pesquisa há quatro anos. “Buscamos mostrar as poéticas de artistas que se posicionam em uma transição, entre espaços tradicionais da arte e os não artísticos, galerias e ruas, subvertendo a relação do trabalho com as instituições”, explica. “Outra discussão que está presente em trabalhos de vários artistas é a liquidez de fluxo, de sociedade de transição, de uma cultura movente, que demanda sempre um posicionamento individual a cada momento”. Ela ressalta que esta é uma discussão já travada nas ciências sociais por ZygmuntBauman e Anthony Giddens, mas “que permite um olhar para esta produção contemporânea que lida com este fato de uma maneira poética, lúdica, às vezes crítica”. “A curadoria acolheu a transição, os processos, as linguagens dos artistas, e dialogou com o espaço da Fundição. Vai haver um espaço de reflexão, de conversa, de estar, uma sala multiuso, com vídeos, publicações de arte, disponíveis para o público”, destaca.

 

 

Poesia expandida

 

Sonia Salcedo acentua que as obras da exposição lidam com essa questão da arte fora do cubo hermético, branco. “Buscamos reunir elementos das artes visuais que tratassem desse aspecto, esta confluência dessas linguagens mais transitórias, que deu origem a esta proposta de ‘Ponto Transição’, ao invés de objetos de arte convencionais”. Ela acentua que a expografia não será apenas uma arquitetura expositiva, e sim “uma extensão, no espaço, do conceito curatorial”. “A exposição lida com essas camadas de um processo de hibridização da arte, no qual as categorias, os modos antes evocados para uma classificação, essas barreiras são destituídas, desmoronam, e nos estilhaços há uma migração de linguagem, meios, suportes, em que se encontra um terreno muito profícuo da poesia expandida, que é pra onde converge meu entendimento do fazer curatorial”, explica. Ela acrescenta que a curadoria buscou “familiarizar o espaço com a poética que cada artista está desenvolvendo”. “Não existe um roteiro, uma circulação linear”, diz.

 

 

De 1º a 18 de setembro.

Na Galeria Oscar Cruz

25/ago

O artista recifense Bruno Vilela inaugura exposição “Textos bárbaros”, exibição individual na Galeria Oscar Cruz, Vila Nova Conceição, São Paulo, SP.

 

 

Textos Bárbaros

 

O grafite nasce da necessidade ancestral do homem de marcar sua passagem pela terra. Das cavernas de Lascaux aos muros das nossas cidades as motivações continuam as mesmas: a demarcação de um território e a vontade do homem de mostrar sua passagem por essa vida. Uma transgressão, “é um terrorismo visual”, segundo a filósofa Márcia Tiburi. A primeira vista parecem apenas rabiscos para olhos destreinados mas, toda a manifestação artística feita com a palavra recebe o nome de literatura, então temos nos muros a literatura bárbara. Bárbaro significa pessoa não-civilizada. Para os gregos quem não era grego era um bárbaro. Quem picha deixa claro que não faz parte daquela estética grega de beleza da fachada branca. É um estrangeiro em sua própria cidade. Com outros códigos, dialetos e grafia.

 

O grafite em sua gênese ocupou esse espaço transgressor de denuncia política. Hoje é aceito e “domesticado” pela sociedade. A arte que surgiu no Brasil nos meados dos anos 60 para denunciar a ditadura militar é a mesma feita hoje para afastar os pichadores que fazem uso da tinta para gritar sua voz nos muros da sociedade, livros em branco prontos para serem escritos.

 

Minha experiência de desenho e pintura migrou para fábulas urbanas, mitos ordinários das coisas comuns das ruas. Trago a expressão de anônimos pichadores, design de objetos públicos e sinalização de rua, para minha própria linguagem nos materiais clássicos das artes plásticas como o papel, pastel e a pintura a óleo. Eu que já fui grafiteiro nos anos 90 e designer nos anos 2000, resgato essa memória subvertendo esses meios para o campo das artes dentro de uma galeria. Minha intenção é mostrar que essa expressão considerada vandalismo, feia e suja, pode ser bela e poética; e que a beleza está no olhar de quem tem a capacidade de ver vidas, mistérios e histórias nos muros. “Muro branco é cidade sem voz” diz uma pichação que define esse pensamento.

 

Andy Warhol disse nos anos 80 que: “A coisa mais bonita em Tóquio é o McDonald’s. A coisa mais bonita em Florença é o McDonald’s. Pequim e Moscou ainda não tem nada que seja bonito”. Na minha opinião o que define civilização, no sentido de metrópole desenvolvida, visualmente falando, são as pichações dos muros. Uma cidade de muros brancos não tem nada que seja bonito. Não tem voz. E foi viajando por essas grandes capitais que criei esse vocabulário para minhas obras. Madrid, Paris, Buenos Aires, São Paulo, Lisboa e principalmente Londres de onde nasceu todo um caderno com estudos para essa exposição.

 

Muitos pichadores se referem a prática como o esporte da periferia. São os escaladores, montanhistas da cidade que arriscam a vida para deixar sua “bandeira” demarcando um território no cume dos prédios. Verdadeiros heróis que arriscam suas vidas para não passar nesse mundo como um muro em branco.A pichação, orgânica e analógica, amolece a arquitetura mecânica e digital da cidade. Gera contraste se fundindo a paisagem urbana e transforma tudo em dança.

 

 

De 13 de setembro a 30 de outubro.

Willys de Castro em Londres

17/ago

Depois de Claudio Tozzi e Alfredo Volpi, o neoconcretista Willys de Castro será o próximo artista brasileiro a ganhar uma retrospectiva na galeria Cecilia BrunsonProjects, em Londres, que vem turbinando a representação de nomes da arte do país a partir de sua base na capital britânica.

 

Marcada para outubro, a primeira mostra do artista no Reino Unido será um desdobramento de sua recente exposição no Instituto de Arte Contemporânea, em São Paulo, que destacou sua série mais célebre, os “Objetos Ativos”.

Fonte: Texto de Silas Martí para a Folha de São Paulo.

Individual de Maria Tomaselli

16/ago

A pintora e gravadora Maria Tomaselli exibe desenhos em pastel e acrílica sobre papel no StudioClio, Cidade Baixa, Porto Alegre, RS. A mostra, integra o “Projeto Quadro Branco”, uma parceria entre o Café Studio Clio, Cerveja Coruja e Museu do Trabalho.

 

 

Sobre a artista

 

Maria Tomaselli(Cirne Lima), nasceu em Innsbruck, Áustria. Veio para Brasil em 1965,morando e trabalhando entre Porto Alegre, São Paulo, Rio de Janeiro, Recife e Olinda. Estudou pintura com Iberê Camargo, gravura em metal com Eduardo Sued, Anna Letycia e Mario Doglio; iniciou escultura com XicoStockinger. Expôs individualmente inúmeras vezes em galerias de renome do Brasil e Europa. Participou das Bienais de São Francisco, Cuba, Maldonado, Áustria, São Paulo, San Juan e Mercosul, em Porto Alegre. Recebeu 19 prêmios e cinco destaques em salões do Brasil e exterior. Atualmente reside em Porto Alegre, onde freqüenta as oficinas de gravuras do Museu do Trabalho.

 

 

De 22 de agosto a 21 de outubro.

Alex Flemming – RetroPerspectiva

O corpo, a obsessão do pintor Alex Flemming, ganha exposição no Museu de Arte Contemporânea, MAC-USP, Parque do Ibirapuera, São Paulo, SP. (*) A curadoria é de Mayra Laudanna.

 

Na mostra estão reunidas 120 obras entre pinturas, gravuras e objetos que exploram as manifestações físicas no campo da sexualidade, da política e da religião.

 

 

O corpo em suas diferentes manifestações – política, sexual, afetiva, religiosa – ocupa toda a “retroperspectiva” que o pintor paulistano Alex Flemming, 62, abriu no segundo andar do Museu de Arte Contemporânea (MAC). O neologismo é justificável, explica o artista, que mora há mais de 20 anos em Berlim: retrospectiva não se aplica a uma mostra distante do formato consagrado pela visão positivista do modernismo – que acreditou numa evolução linear da arte. A exposição se projeta para o futuro. Literalmente. A última série exibida na mostra é também o ponto final do pintor e dos espectadores: ela reúne seis dezenas de laptops pintados com nomes de amigos, como se fossem lápides de um cemitério, nossa última morada.

 

Não se trata de um exercício mórbido, mas do reconhecimento que também a obsessão que Flemming tem pelo corpo que um dia vai acabar. Em pó. Enquanto isso, ele celebra a beleza desse corpo – seja masculino ou feminino. Flemming expõe sua escancarada sensualidade em 120 obras (pinturas, objetos, gravuras).

 

Autor da intervenção visual na estação Sumaré do metrô, realizada em 1998 com retratos de anônimos estampados em placas de vidro, Flemming já explora a temática do corpo há quase 40 anos. Uma das séries mais antigas da exposição, que tem como curadora a professora e ensaísta Mayra Laudanna, trata do corpo político em plena ditadura. O título Natureza Morta (1978) alude à tortura de presos políticos durante o regime militar, no ano em que a Justiça responsabilizou a União pela morte do jornalista Vladimir Herzog (1937-1975) nas dependências do DOI-Codi.

 

Como tudo na obra de Alex Flemming é autobiográfico, também nessa série ele se coloca no lugar dos torturados. Em outras, ele pinta suas roupas (íntimas, inclusive), a valise que o pai comandante usava em suas viagens, sapatos velhos e até um divã (todos os seus móveis em Berlim também são pintados). Ou usa seu retrato no lugar do rosto do Cristo ou de Verônica, a santa do sudário, sem que isso lhe pareça uma atitude blasfema. Crente a seu modo, ele diz detestar a religião institucionalizada, fazendo uso sincrético de ícones católicos e da umbanda em pinturas de uma série que coloca lado a lado Santa Cecília, Iemanjá, São Jorge e uma sereia.

 

Ainda nessa série de corpos míticos, ele insere um Adonis sem roupa no interior de um ostensório, objeto usado para expor e transportar a hóstia consagrada em cultos da Igreja Católica. Não por provocação, como fazia seu amigo León Ferrari, garante o pintor. “Se o homem foi feito à imagem e semelhança de Deus, por que não comemorar essa beleza?”, pergunta Flemming com inocência pagã.

 

Essa criatura, como o homem vitruviano de Da Vinci, é um ser de corpo perfeito, celebrando a descoberta das proporções matemáticas do ser humano pelo pintor renascentista. Esse homem, símbolo da simetria que rege o universo, é construído e desconstruído por Flemming em séries como BodyBuilders (2001/2) em que corpos modelados nas academias servem de suporte de mapas territoriais de zonas de conflito, apontando para o paradoxo do mundo contemporâneo, que constrói um corpo e destrói o espírito.

 

O pintor argumenta que essa relação o distancia das fotografias de corpos nus masculinos por outro obcecado pelo físico, o norte-americano Robert Mapplethorpe (1946-1989). “A nudez de Mapplethorpe é clínica”, diz. “A grandeza dele está na temática”. Flemming, que morou em Nova York com uma bolsa da Fullbright, em 1981, já explorava o tema dos conflitos sociais e as paixões, mas o fazia desconstruindo o corpo. Exemplo disso é uma série iniciada em 1984, ao voltar dos EUA, que explora, por meio da alegoria, as deformações do corpo.

 

Alguns exemplares da série estão expostos na mostra do MAC. Um deles junta a parte superior da Vênus de Botticelli com os membros inferiores de Adão e Eva da Expulsão do Paraíso de Cranach, forjando uma criatura monstruosa de quatro pernas, como nas xilogravuras do naturalista italiano UlisseAldrovandi (1522-1605). Aldrovandi, que inventou seres híbridos, metade humanos e metade bestas, não é, contudo, sua única referência. Flemming também leva a Olympia pintada por Manet para um leito de hospital, mas ela, nua, não emana erotismo, e sim o fim de um ciclo (artístico, inclusive), respirando com a ajuda de aparelhos.

 

Para Flemming, vida e morte são indissociáveis. Isso explica a presença de sua Olympia entubada na última sala da exposição, que abriga a série Caos, projeto agora retomado – como em outros casos, em se tratando de uma obra circular, que sempre volta ao tema do corpo.

(*) Texto de Antonio Gonçalves Filho para O Estado de São Paulo.

 

 

 

 

A palavra de Katia Canton, Vice-Diretora do MAC-USP

 

É com enorme prazer que o Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo apresenta a retrospectiva de Alex Flemming. Comemorando 60 anos de vida, 40 anos de produção e uma carreira de reconhecimento internacional, o artista compartilha com o público um repertório vasto, potente e original de trabalhos realizados em várias fases de seu intenso trajeto profissional.

 

Autor de uma das obras públicas mais emblemáticas da cidade de São Paulo, a estação de metrô Sumaré, contendo imagens de retratos anônimos acompanhados de poemas brasileiros, que vão desde Anchieta até Haroldo de Campos, formando um imenso painel de celebração de uma identidade híbrida, impressa em vidro. Alex Flemming é um artista múltiplo. Maneja pintura, fotografia, gravura como brilhantes exercícios de liberdade e paixão.

 

No entanto, é predominantemente como pintor que ele se vê. Pintor, ainda que sua pintura se expanda para além das telas. No histórico vasto de suas criações, sua paleta é vibrante, às vezes ofuscante até. Parece gritar cores. As tintas são aplicadas às telas, mas também a objetos, tape tes, aviões, animais empalhados, móveis, roupas, cartelas de remédios, réguas e cartões plásticos. Se é que podemos definir Alex Flemming como um pintor, há que se dizer que se trata de um pintor que entinta as superfícies das menos convencionalmente adequadas para as normas tradicionais impostas na história das belas artes. E consistentemente sobre elas faz uso de toda a liberdade conquistada, podendo aplicar sobre as pinturas letras, objetos, mapas, utensílios domésticos e até ossos. Em cada obra sua, tudo se compõe num estranho e, ao mesmo tempo, sedutor alfabeto imagético absolutamente singular.

 

A intensidade desse alfabeto corresponde às buscas complexas do próprio artista. Seus temas se relacionam à vida, ao corpo, à sexualidade, à morte e à espiritualidade. Sua obra procura a alma, enfim.

 

 

Até 11 de dezembro.