O momento de Miguel Afa no Paço Imperial.

16/jun

O artista Miguel Afa inaugura sua nova exposição individual, “O vento continua, todavia”, no Paço Imperial, Centro, Rio de Janeiro, RJ. A mostra apresenta um conjunto de obras produzidas entre 2023 e 2025, e marca um momento de síntese e afirmação da trajetória do artista, iniciada em 2001 por meio do graffiti nas ruas do Complexo do Alemão, onde nasceu e cresceu.

Formado pela Escola de Belas Artes da UFRJ, Miguel Afa transita da rua para as instituições com uma linguagem pictórica profundamente marcada por seu percurso pessoal. Sua produção propõe uma reconfiguração poética da imagem do corpo periférico, contrapondo os estigmas da marginalização com cenas que evocam afeto, cuidado e resistência. Trabalhando com uma paleta cromática enigmática, Migeul Afa cria cenas que não suavizam, mas intensificam a complexidade de suas narrativas. Em sua obra, a cor é discurso, e o gesto de esmaecer é, mais do que técnica, ato de lembrança e posicionamento. Suas pinturas revelam simultaneamente o visível e o invisibilizado, tensionando o olhar e o imaginário social.

O texto de apresentação da exposição é assinado por Jeovanna Vieira, que reflete sobre o título da mostra, inspirado em uma frase de Vincent van Gogh: “Os moinhos não existem mais; o vento continua, todavia.” Jeovanna Vieira escreve: “O título da exposição fragmenta frase de Van Gogh, que em carta para o irmão Theo provoca: “Os moinhos não existem mais; o vento continua, todavia.” Diante da obra-itinerário produzida por Miguel Afa, somos conduzidos pelo vento pressupondo a teimosia primordial, que justifica tudo ainda estar.”

“O vento continua, todavia” estará em cartaz no Paço Imperial até o dia 10 de agosto. Um dos centros culturais mais importantes do país, com forte carga simbólica na história do Brasil, o Paço – edifício histórico do século XVIII que tem acolhido algumas das exposições mais relevantes do cenário nacional – é palco de diálogos essenciais sobre arte, cultura e memória brasileira. Agora, recebe a mostra que reafirma Miguel Afa como uma voz potente e em ascensão na arte contemporânea do país.

Miguel Afa vive e trabalha no Rio de Janeiro. Começou sua trajetória por meio do graffiti em 2001, nas ruas e becos do Complexo do Alemão, e estudou na Escola de Belas Artes – UFRJ. Seu trabalho reflete sobre o corpo periférico, contrapondo suas adversidades e propondo uma nova leitura imagética que potencializa e valoriza o afeto. Suas obras alternam entre a sensibilidade poética e mensagens políticas diretas.

O olhar do artista transforma o que captura, dando-lhe uma aura própria por meio das cores que utiliza. Sua paleta amena não é mero recurso estético: é essencial à composição, ampliando a complexidade do que é representado. Longe de neutra, a cor é discurso e um posicionamento diante das cenas retratadas. Esmaecer não é apenas um gesto pictórico, mas um ato de lembrança e questionamento, revelando tanto o visível quanto o invisibilizado.

Em 2024, participou das coletivas “Dos Brasis”, no Sesc Quitandinha, Petrópolis (itinerância da mostra apresentada no Sesc Belenzinho, São Paulo) e “O que te faz olhar para o céu?”, no Centro Cultural Correios Rio de Janeiro. No mesmo ano, realizou a individual “ENTRA PRA DENTRO”, na galeria A Gentil Carioca. Em 2023, realizou a individual “Em Construção” e participou da coletiva “Da Avenida à Harmonia”, ambas no Instituto Inclusartiz no Rio de Janeiro. Suas obras fazem parte de coleções de destaque, como a Jorge M. Pérez Collection.

Visita guiada na exposição de Dani Cavalier.

13/jun

A Galatea Oscar Freire, São Paulo, SP, convida para a visita guiada da exposição “Dani Cavalier: pinturas sólidas” no dia 14 de junho, sábado, às 11 horas. Durante a visita, conduzida pela própria artista, o espectador terá a oportunidade de aprofundar nos trabalhos que integram a pesquisa de Dani Cavalier em torno do que ela chama de “pinturas sólidas”.

Por meio da justaposição de blocos de cor formados por retalhos de Lycra reaproveitados da indústria da moda, as “pinturas sólidas” de Dani Cavalier investigam as fronteiras entre pintura, escultura e instalação. Embora remetam à pintura tradicional – com o uso de chassi, composição e suporte -, essas obras rompem com a lógica pictórica ao substituir a tinta por tecidos entrelaçados. Ao incorporar técnicas têxteis associadas a saberes populares, muitas vezes transmitidos por mulheres fora do circuito das Belas Artes, a artista aproxima arte e artesanato, questionando hierarquias e expandindo os limites da prática artística.

Artistas na 36ª Bienal de São Paulo.

Lidia Lisbôa, Marlene Almeida, Maxwell Alexandre, Rebeca Carapiá e Heitor dos Prazeres estão entre os artistas na 36ª Bienal de São Paulo, que inaugura no dia 06 de setembro no Pavilhão Ciccillo Matarazzo, São Paulo, SP, e permanecerá em cartaz até 11 de janeiro de 2026.

Intitulada “Nem todo viandante anda estradas – Da humanidade como prática”, a Bienal tem curadoria geral de Bonaventure Soh Bejeng Ndikung, com cocuradoria de Alya Sebti, Anna Roberta Goetz e Thiago de Paula Souza, além de Keyna Eleison como cocuradora at large.

Inspirada pelo poema “Da calma e do silêncio”, da poeta Conceição Evaristo, a Bienal tem como um dos principais alicerces a escuta ativa da humanidade enquanto prática em constante deslocamento, encontro e negociação. Na exposição, serão apresentados projetos inéditos, concebidos a partir do convite da curadoria a Lidia Lisbôa, Maxwell Alexandre, Marlene Almeida e Rebeca Carapiá.

Sobre os artistas.

Lidia Lisbôa

A prática de Lidia Lisbôa se desenvolve em suportes distintos, sobretudo a escultura, o crochê, em performances e em desenhos. Sua pesquisa tem a tessitura de biografias como eixo fundamental, percorrendo os pólos da paisagem, do corpo e da memória ao utilizar matérias nas quais se imprimem o gesto e a mão da artista. Resultado de uma prática artística constante que se mistura à vida, na obra de Lidia Lisbôa, a costura e a criação de narrativas se colocam como exercício de construção subjetiva e, portanto, de cura e ressignificação.

Marlene Almeida

Marlene Almeida é pesquisadora, escultora e pintora, cuja prática fundamentalmente interdisciplinar combina conhecimentos literários, científicos e artísticos na investigação de um objeto comum à sua produção desde a década de 1970: a terra. Em expedições realizadas especialmente ao Nordeste brasileiro, Marlene Almeida cataloga e armazena amostras de terras coloridas. Essas expedições são guiadas por um projeto audaz: o Museu das Terras Brasileiras, que visa a identificação e estudo das cores encontradas em diferentes formações geológicas de todo território nacional. Em sua trajetória, ela também se nutriu de extensa atuação na militância ecológica e política.

 Maxwell Alexandre

Pautada pelo conceito de autorretrato, a prática de Maxwell Alexandre extrapola as categorias e suportes tradicionais do fazer artístico. Por meio de uma lógica de citação, apropriação e associação de imagens e símbolos, bem como pelo uso de materiais de valor simbólico e biográfico, Maxwell Alexandre constroi uma mitologia imagética que engloba religiosidade e militarismo. Da mesma maneira, sua obra confronta o estatuto institucional da arte contemporânea e os limites do campo da experiência estética.

Rebeca Carapiá

Ao utilizar o ferro e o cobre como seus principais materiais, o trabalho de Rebeca Carapiá se desdobra em esculturas, instalações, desenhos e gravuras, nos quais torção, união e aproximação entre essas matérias constituem uma caligrafia abstrata. Tomando a palavra como ponto de partida, as obras de Rebeca Carapiá insuflam, dobram e seccionam a linguagem em um exercício de deslocá-la de uma posição linear e monolítica. Assim, seus trabalhos se configuram como uma língua particular, que resulta do liame entre corpo, terreno, memória e os saberes oriundos das vivências da artista, bem como daqueles imbuídos na materialidade das peças.

Heitor dos Prazeres

Heitor dos Prazeres (1898-1966) foi um artista plástico, figurinista, compositor e sambista, reconhecido como figura fundamental do contexto cultural carioca no início do século XX e para o Modernismo brasileiro. Heitor dos Prazeres foi um autodidata, e sua inserção no ambiente artístico carioca foi a princípio pela via da música. Na segunda metade dos anos 1930, passou a se dedicar também à pintura, tratando de temas relacionados às tradições e à cultura popular brasileira e cenas do cotidiano das populações negras da cidade. O samba, o carnaval, as paisagens urbanas e as brincadeiras infantis foram seus temas mais frequentes.

Acompanhamento curatorial.

12/jun

A Galeria TATO, Barra Funda, São Paulo, SP, convida para a abertura da exposição “Crise fractal”, mostra que integra o Ciclo Expositivo do Programa Casa Tato – edição 12. Resultado de um processo de acompanhamento curatorial e trocas ao longo de sete meses, “Crise fractal” reúne obras que refletem distintos percursos poéticos e formas de abordagem das urgências do presente, com atenção à potência das construções coletivas. Com curadoria de Lucas Dilacerda e assistência de Maria Eduarda Mota, a exposição apresenta trabalhos desenvolvidos por dez artistas participantes da 12ª edição do programa.

E pelas próprias palavras do curador: “Crise fractal celebra o coletivo como potência estética e política. A exposição nos lembra que nenhuma criação ocorre de forma isolada, que todo gesto artístico carrega as marcas de seus encontros, das suas escutas, das redes que o constituem. Em tempos de crise, imaginar saídas possíveis exige coragem, mas também con-vivências: é preciso criar juntos, resistir juntos, sonhar juntos, pois a beleza está no coletivo”.

Casa Tato 13 | Inscrições abertas

Com a exposição Crise fractal, a 12ª edição da Casa Tato se encerra reunindo os desdobramentos poéticos desenvolvidos ao longo do programa. Agora, a Galeria TATO segue com as inscrições para a 13ª edição do projeto. Voltado a artistas em processo de inserção no circuito, o programa propõe um percurso de acompanhamento crítico e imersão no sistema da arte.

A potência emocional de Stella Margarita

10/jun

A trajetória de Stella Margarita pelo circuito artístico do Rio de Janeiro foi breve, mas profundamente marcante. Um recorte significativo de sua produção poderá ser contemplado na exposição “Stella Margarita: Fugas que se movem”, no Instituto Cervantes do Rio de Janeiro, Botafogo, no dia 17 de junho. A expressão “fugas que se movem” é da própria Stella Margarita. A partir dela, foi construído este retrato curatorial, um convite à imersão na força psicológica e humana de sua pintura.

Tendo como ponto em comum a investigação da dimensão humana e do movimento físico e emocional, foram selecionadas algumas de suas principais séries, entre elas Abraços, Álbum de Família e Fotogramas. A proposta desta individual é oferecer ao público uma imersão nessas fugas: uma visão de mundo singular, ancorada na dimensão humana mais do que na estética pura. Embora sua técnica fosse apurada, o verdadeiro motor de sua criação sempre foi o sentimento. Stella Margarita buscava traduzir emoções em imagem – por isso, dedicou-se intensamente a retratar olhares, gestos, abraços. Fundos marcantes, muitas vezes abstratos, revelam atmosferas emocionais. Os personagens parecem levitar, cair, escapar, mas como se trata de fugas que se movem, há sempre a possibilidade do reencontro, da volta.

Atualmente, sua obra pode ser vista na novela Vale Tudo (TV Globo), nas telas assinadas pela personagem Heleninha, interpretada por Paolla Oliveira.

“O movimento é um elemento central na linguagem de Stella. Ele se revela na pincelada livre e marcante, nos flagrantes de cenas cotidianas, e nas apropriações que fez do cinema e da performance, incorporando essas expressões a sua própria. Mas trata-se sempre de um movimento em fuga – fugas que se movem, fugas que retornam. É nessa constante busca e deslocamento que sua obra pulsa com uma densidade psicológica única. Muitas vezes perturbadora. Um convite à fuga, e ao retorno”.

Stella Margarita iniciou sua formação artística tardiamente, na Escola de Artes Visuais do Parque Lage. Produziu intensamente por cerca de uma década, combinando urgência criativa e consistência técnica. Reinventou-se diversas vezes; adotou novos nomes, novos projetos e abraçou uma nova missão artística. Ganhou prêmios, como o do IBEU, participou de uma residência em Leipzig, e integrou diversas exposições. Sua ascensão, no entanto, foi abruptamente interrompida em 2020 por um diagnóstico de ELA bulbar, uma forma agressiva e rara da doença. Frente à progressiva limitação motora, Stella Margarita impôs a si mesma uma nova resistência: espalhou em seu ateliê a frase “fuerza carajo” como um grito de vida. E seguiu criando. Em 2021, montou um estúdio improvisado em Genebra, onde considerava iniciar um tratamento experimental. Contudo, optou por voltar ao Rio de Janeiro, e transformou sua casa em espaço de produção. Mesmo com a redução da motricidade e do tamanho dos quadros, a potência emocional se manteve intacta. Talvez como um gesto de ironia poética, suas últimas telas retratam cenas leves da vida familiar, cores quentes, ambientes externos, cotidianos ternos. Uma fuga, ou talvez uma síntese. Stella partiu precocemente em 2022, aos 66 anos de idade, deixando um legado artístico admirável.

Até 19 de julho.

Luiz Zerbini como ativista ambiental.

09/jun

LUIZ ZERBINI/Os Comedores de Terra – (The Earth Eaters) – ART BASEL UNLIMITED – Stand U48

Entre os dias 16 e 22 de junho.

Os Comedores de Terra (2025), de Luiz Zerbini, é uma instalação de 360 ​​graus que reúne uma pintura de cinco metros e esculturas de cores vibrantes, emulando pedras preciosas e minérios. Juntos, eles criam um espaço imersivo no qual uma narrativa apocalíptica se desenrola, condensando imagens de destruição com texturas e efeitos visuais hipnotizantes. Luiz Zerbini constrói sua composição a partir de documentos sobre garimpos ilegais de ouro na Amazônia, transformando-os em uma visão assombrosa de uma paisagem que carrega as cicatrizes de atividades extrativistas, como a exploração madeireira e a agricultura de corte e queima. Em um poço, encontra-se uma massa de gasolina escorrendo, com as cores do arco-íris, formando uma película cintilante sobre a superfície de um corpo d’água, enquanto colunas de fogo se erguem entre as árvores derrubadas. O primeiro plano é marcado por folhagens e flores exuberantes, em forte contraste com as cenas fantasmagóricas de devastação que ocupam o fundo.

Elementos escultóricos e um escopo espacial tridimensional acompanham a obra do artista há muito tempo, dando forma a um ecossistema vivo, em Árvores, na Fundação Cartier (2019), ou replicando a vegetação, como na expografia de sua ampla pesquisa no MASP, em São Paulo (2022). O título da instalação faz alusão ao nome indígena Yanomami para os garimpeiros e madeireiros, que extraem as substâncias e energias vitais da Terra de suas entranhas. A peça condensa os componentes essenciais de um conflito centenário e consolida a posição de Luiz Zerbini como ativista ambiental. Ela denuncia a violência contra as populações nativas, seus territórios e os ecossistemas brasileiros. Nesta investigação política e ecológica, o artista reflete sobre como as economias industriais ameaçam a sobrevivência dos povos indígenas e seus modos de existência.

Esta pintura reflete o espetáculo do colapso – como o fim do mundo pode parecer visualmente deslumbrante. Ela se desenrola como um épico, destinado a ser visto e admirado, mesmo que a maioria das pessoas permaneça incapaz ou relutante em responder à sua narrativa. Parecemos cair em uma espécie de transe diante da beleza da nossa própria ruína.

Entre as exposições individuais recentes do artista estão Afinidades III – Cochichos, MON – Museu Oscar Niemeyer, Curitiba, Brasil (2024); Paisagens Ruminadas, CCBB – Centro Cultural Banco do Brasil, Brasília, Brasil (2024); CCBB – Centro Cultural Banco do Brasil, Rio de Janeiro, Brasil (2024); A mesma história nunca é a mesma, MASP – Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand, São Paulo, Brasil (2022); e Razão Intuitiva, South London Gallery, Londres, Reino Unido (2018). O artista também participou das exposições coletivas Lugar de estar – o legado de Burle Marx, MAM – Museu de Arte Moderna, Rio de Janeiro, Brasil (2024); Siamo Foresta, Triennale Milano, Milão, Itália (2023), Nous les Arbres, Central Elétrica de Arte, Xangai, China (2021); Árvores, Fundação Cartier, Paris, França (2019). As coleções públicas incluem Fondazione Sandretto re Rebaundengo per l’Arte, Torino, Itália; Fundação Cartier pour l’art contemporain, Paris, França; Instituto Inhotim, Brumadinho, Brasil; Instituto Itaú Cultural, São Paulo, Brasil; MAM – Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil; MAM – Museu de Arte Moderna de São Paulo, São Paulo, Brasil, MASP – Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand, São Paulo, Brasil e Pinacoteca do Estado de São Paulo, São Paulo, Brasil.

A dança como símbolo multifacetado.

06/jun

Para a Art Basel 2025, A Gentil Carioca propõe um olhar sensível sobre a dança, entendida não apenas como expressão artística, mas como elemento central nas vivências coletivas, nos rituais sociais e nas formas de resistência ao longo dos séculos. A dança surge aqui como símbolo multifacetado: linguagem do corpo, ferramenta de transmissão de saberes, modo de narrar histórias e preservar tradições. As obras selecionadas dialogam com essas múltiplas dimensões, ressaltando a importância da dança na construção de identidades culturais, na delicadeza das relações humanas e na constante busca por pertencimento. Participam desta edição: Agrade Camíz, Ana Silva, Arjan Martins, Denilson Baniwa, João Modé, Kelton Campos Fausto, Laura Lima, Misheck Masamvu, Miguel Afa, Novíssimo Edgar, O Bastardo, OPAVIVARÁ!, Pascale Marthine Tayou, Renata Lucas, Rodrigo Torres, Rose Afefé, Sallisa Rosa, Vinicius Gerheim, Vivian Caccuri, Mariana Rocha, Rafael Baron.

Apresentamos também um Kabinett que propõe um diálogo inédito entre as obras de João Modé, Ivan Serpa e Max Bill. Pioneiro do concretismo, Max Bill teve influência decisiva na arte latino-americana e, em 1951, recebeu o prêmio de escultura na primeira Bienal Internacional de São Paulo, impactando gerações de jovens artistas. Em ressonância com esse legado, João Modé desenvolve desde 2013 a série “Construtivo (Paninho)”, na qual utiliza costura e bordado para homenagear a tradição geométrico-abstrata da arte brasileira, criando formas “construtivo-afetivas”. No espaço, obras inéditas de João Modé dialogam com peças emblemáticas de Ivan Serpa e Max Bill.

Uma intervenção artística de Paty Wolff.

O Instituto Ling, Três Figueiras, Porto Alegre, RS, recebe a artista Paty Wolff para realizar uma intervenção artística inédita em uma das paredes da instituição. De 09 a 13 de junho, o público poderá acompanhar gratuitamente a criação da nova obra, feita ao vivo durante o horário de funcionamento do centro cultural. Será possível observar o processo criativo, técnicas e movimentos durante a produção. Após a finalização, o trabalho ficará exposto para visitação até o dia 09 de agosto, com entrada franca.

A atividade faz parte do projeto LING apresenta: Quando as fronteiras se dissolvem, com curadoria de Paulo Henrique Silva, que tem o objetivo de aproximar o Rio Grande do Sul da cultura do Centro-Oeste, trazendo artistas visuais da região para desenvolverem obras inéditas no centro cultural. Após a finalização do mural, a artista comentará a experiência e o resultado em bate-papo com o público e o curador no dia 14 de junho, sábado, às 11h, em frente à obra. Faça sua inscrição sem custo.

Quando as fronteiras se dissolvem.

Quando a linha do horizonte se desloca e as fronteiras deixam de pertencer aos mapas oficiais, emerge um campo múltiplo de vozes, imagens e gestos. Não há centro imóvel nem periferia silenciosa; existe, sim, um circuito de narrativas poéticas em constante movimento, uma paisagem de caminhos que se cruzam e ressoam. Ao valorizar a heterogeneidade, o projeto Ling Apresenta faz florescer uma cartografia viva, na qual cada região do país se liberta da rigidez hierárquica e cria pontos de contato entre si. Dessa forma, não se legitima um único lugar de fala, mas uma polifonia que insiste em modos alternativos de perceber e habitar o mundo. A arte contemporânea brasileira, por si só, desfaz ideias de um plano cartográfico hegemônico ao redefinir as relações entre regional e nacional, local e global, periferia e centro. Artistas que vivem e trabalham em Mato Grosso, Distrito Federal e Goiás, mesmo diante de delimitações políticas, econômicas e geográficas, persistem em estabelecer diálogos com as grandes metrópoles. Assim, projetam suas carreiras em âmbito nacional e internacional, comprovando que a distância não impede a potência criativa. A seleção de artistas apresentada propõe um olhar para um território que, embora geograficamente seja o centro do país, permanece à margem de políticas expressivas de fomento à arte contemporânea. Quando comparado à Região Sudeste, o Planalto Central converte-se em uma espécie de limbo. No entanto, compreender a produção artística do Centro-Oeste como um dos eixos da arte brasileira exige reconhecer que transformações sociais, políticas e econômicas superaram o antigo paradigma de periferia em estado de inferioridade. O imaginário do exótico, outrora associado às criações fora do eixo Rio-São Paulo, agora atrai atenção para a arte produzida no Planalto Central. Os artistas escolhidos para esta edição do projeto Ling Apresenta colaboram para construir uma história da arte horizontal, em que periferias e centros aparecem no mesmo mapa, reforçando a pluralidade de vozes que compõem o cenário nacional.

Paulo Henrique Silva/Curador

Sobre a artista.

Paty Wolff é artista visual, escritora e mestre em Geografia. Com uma produção multifacetada, trabalha relações étnico raciais, memória, identidade, ancestralidade e diáspora em uma perspectiva contra colonial. Transita por diversas linguagens artísticas como pintura, desenho, ilustração, escultura, cerâmica e escrita da palavra. Participa de exposições coletivas desde 2016, com destaque para Encruzilhadas da Arte Afro-Brasileira, no Centro Cultural Banco do Brasil (SP, BH, RJ e BA) e Funk: um grito de ousadia e liberdade, no Museu de Arte do Rio (2023). Em 2022, foi indicada ao Prêmio Jabuti com o livro Como pássaros no céu de Aruanda (Editora Entrelinhas), também é autora de Azul Haiti e Thehcitura. Paty Wolff é uma das artistas indicadas ao Prêmio PIPA de 2025. Vive e trabalha em Cuiabá/ MT.

Sobre o curador.

Paulo Henrique Silva nasceu em Anápolis, Goiás. Foi aluno e professor na Escola de Artes Oswaldo Verano, mantida pela Prefeitura de Anápolis, e graduou-se em Artes Visuais pela Universidade Federal de Goiás (UFG). Desde 2004, dedica-se à curadoria, com foco no estudo e na pesquisa da arte contemporânea produzida na Região Centro-Oeste do Brasil. Foi curador em mais de onze edições do Salão Anapolino de Arte e tem contribuído significativamente para a ampliação do acervo do MAPA e o fortalecimento da arte contemporânea no interior do Brasil. De 2020 a 2024, foi responsável pela Coordenação do Fundo Municipal de Cultura e Editais, Curadoria e Gestão do MAPA e da Galeria de Artes Antônio Sibasolly, em Anápolis.

Celebrando a visão de Luisa Strina.

05/jun

A exposição coletiva “CRIVO”, marca a perspectiva de Luisa Strina. Está em cartaz na Casa Bradesco, Bela Vista, Cidade Matarazzo, São Paulo, SP. A mostra reúne obras de mais de 30 artistas fundamentais da cena contemporânea que definem a trajetória da galerista Luisa Strina ao longo de suas cinco décadas de atuação.

Com curadoria de Marcello Dantas e Kiki Mazzucchelli, “CRIVO” traça um panorama da arte conceitual desde os anos 1970 até a atualidade, reunindo obras de artistas brasileiros e estrangeiros cujas trajetórias foram acompanhadas ou impulsionadas por Luisa Strina.

Luisa Strina: Pioneirismo e Legado

Reconhecida como uma das figuras centrais da arte contemporânea no país, Luisa Strina construiu, ao longo de sua trajetória, a galeria mais longeva de São Paulo e uma das mais influentes do Brasil. Sua atuação foi decisiva para internacionalizar a arte brasileira: em 1992, Strina tornou-se a primeira galerista latino-americana a participar da prestigiada feira Art Basel na Suíça – por alguns anos, a única brasileira no evento – abrindo caminho para que artistas e galerias do Brasil ganhassem projeção no circuito global. Não por acaso, sua galeria logo se tornou referência no cenário cultural: ao longo dos anos, Luisa Strina figurou diversas vezes na lista Power 100 da revista ArtReview, que elenca as 100 pessoas mais influentes do mundo da arte, e em 2014 foi fotografada por Annie Leibovitz para uma matéria da Vanity Fair sobre as 14 galeristas mais importantes do mundo.

Além de promover a presença brasileira no exterior, Luisa Strina notabilizou-se por descobrir e impulsionar talentos emergentes que se firmaram no circuito artístico. Foi ela, por exemplo, quem apostou no jovem artista Leonilson no início dos anos 1980 – adquirindo de imediato todos os seus trabalhos ao conhecê-lo, em uma decisão que a própria galerista recorda como “a mais rápida” de sua carreira – e lançou nomes como Antonio Dias, Cildo Meireles e Tunga quando estes ainda despontavam na cena nacional. Graças a esse apoio e à visibilidade proporcionada por sua galeria, muitos artistas brasileiros alcançaram reconhecimento bem além das fronteiras do país. Não surpreende, portanto, que Luisa Strina seja frequentemente reverenciada como a “grande dama” das artes visuais no Brasil – uma pioneira cujo rigor estético e paixão pela arte deixaram um legado duradouro. “CRIVO: A Perspectiva de Luisa Strina” celebra justamente esse legado, oferecendo ao público e à imprensa especializada uma oportunidade única de revisitar a contribuição inestimável da galerista para a arte contemporânea em um espaço de 5 mil m² onde a escala de museu permite uma nova dimensão para essa arte.

Entre os nomes da exposição destacam-se pioneiros e consagrados da arte contemporânea, como Cildo Meireles, Tunga, Anna Maria Maiolino e Antonio Dias, ao lado de referências internacionais a exemplo de Alfredo Jaar, Robert Rauschenberg e Doris Salcedo. A mostra inclui também representantes de gerações mais recentes, caso de Cinthia Marcelle, Renata Lucas, Marcius Galan, Alexandre da Cunha, Pedro Reyes, Clarissa Tossin, Leonor Antunes, Eduardo Basualdo, Bruno Baptistelli, Caetano de Almeida, Laura Lima, Jarbas Lopes e Marepe, entre outros – artistas cuja produção dialoga com a perspectiva conceitual moldada pelo “crivo” de Luisa Strina ao longo de décadas.

Até 03 de agosto.

Panorama de uma trajetória.

O Paço Imperial, Centro, Rio de Janeiro, RJ, inaugura, no dia 14 de junho, a grande exposição “Alto Barroco”, com um panorama dos quatorze anos de trajetória do artista André Griffo. Com curadoria de Juliana Gontijo, serão apresentadas mais de 50 obras, entre pinturas e instalações, sendo muitas inéditas, que ocuparão o pátio principal, três salões do primeiro pavimento e dois salões do segundo pavimento do Paço Imperial. Esta é a primeira exposição individual do artista em uma instituição no Rio de Janeiro.

“A ideia é mostrar um panorama do que o artista vem fazendo, mas não apresentar de modo cronológico, principalmente porque muitas de suas séries, além de atravessarem vários anos, também terminam tendo algum tipo de comunicação, de relação entre elas”, conta a curadora Juliana Gontijo, que acompanha há mais de 10 anos o trabalho do artista.

Formado em Arquitetura e Urbanismo, André Griffo iniciou sua produção no campo das artes visuais criando composições em que máquinas e estruturas mecânicas dividiam espaço com fragmentos de corpos – sobretudo de bois e porcos – em cenas densas, impregnadas de signos de violência e morte. A partir de 2014, o artista desloca seu foco para uma investigação pictórica em que a arquitetura, representada com precisão técnica, assume papel central, com pouca ou nenhuma presença humana. Nas obras mais recentes, revisita obras fundamentais da história da arte, apropriando-se de seus repertórios visuais para tencionar episódios históricos em que religião, poder e violência se entrelaçam.

A pintura de André Griffo articula crítica e reverência, numa linguagem barroca que reivindica o excesso como estratégia discursiva. Através de suas pinturas, o artista faz uma contundente crítica social, abordando questões de poder, religião, questões raciais, política, etc. “O tema central do meu trabalho é a religião e como ela vem sendo usada como uma ferramenta de controle desde o Brasil colonial até a união das milícias com algumas igrejas evangélicas para dominar áreas na cidade”, conta o artista. “O trabalho do Griffo traz camadas bastante complexas, nas quais emergem relações entre religião, poder e patriarcado, além da questão da colonialidade. O interessante é como tudo isso se cruza com a história da arte, questionando qual é o papel da produção artística – e da própria arte – nesse contexto”, ressalta a curadora.

Para criar as obras, André Griffo faz um profundo trabalho de pesquisa, indo aos locais retratados, vendo pessoalmente as pinturas que usa como referência, estudando os personagens. Sobre o título da exposição, “Alto Barroco”, a curadora explica: “Vem de uma constatação do excesso, do lugar e função do ornamento, pensando o Barroco na contemporaneidade. O barroco é o excesso, a saturação, mas também a confusão dos limites; é simultaneamente a dominação e a resistência. A gente joga com essa ambiguidade”.

Sobre o artista.

André Griffo nasceu em Barra Mansa, 1979. Vive e trabalha no Rio de Janeiro. Entre suas principais exposições individuais destacam-se: Exploded View (Galeria Nara Roesler, Nova York, 2023); Voarei com as asas que os urubus me deram (Galeria Nara Roesler, São Paulo, 2022); Objetos sobre arquitetura gasta (Centro Cultural São Paulo, 2017); Intervenções pendentes em estruturas mistas (Palácio das Artes, Belo Horizonte, 2015). Também apresentou obras em coletivas como: – From the Ashes, London, UK, 2024; Contratempo, Museu Eva Klabin, Rio de Janeiro, Brasil, 2024. Parada 7 Arte em Resistência (Centro Cultural da Justiça Federal RJ, 2022); Casa Carioca (Museu de Arte do Rio, Rio de Janeiro, 2020/21); Sobre os ombros de gigantes, Galeria Nara Roesler, NY, EUA, 2021; 21ª Bienal de Arte Contemporânea Sesc_Videobrasil (Sesc 24 de Maio, São Paulo, 2019); Ao amor do público (Museu de Arte do Rio, Rio de Janeiro, 2015); Aparições (Caixa Cultural, Rio de Janeiro, 2015); e Instabilidade estável (Paço das Artes, São Paulo, 2014). possui obras em importantes coleções públicas e privadas, tais como: Denver Art Museum; Kistefos Museum (Noruega); Museu de Arte do Rio (Rio de Janeiro); Museu da Fotografia (Fortaleza, CE); Instituto Itaú Cultural (São Paulo) e Instituto PIPA (Rio de Janeiro).

Até 10 de agosto.