O ruído das estrelas.

05/jun

A Nara Roesler São Paulo convida para a abertura da exposição “Ruído Estelar”, com 36 obras dos artistas Abraham Palatnik, Amelia Toledo, Artur Lescher, Brígida Baltar, Bruno Dunley, Cao Guimarães, Heinz Mack, Julio Le Parc, Laura Vinci, Mônica Ventura, Paulo Bruscky, Rodolpho Parigi, Tomás Saraceno e Tomie Ohtake. A abertura da exposição será no dia 7 de junho e ficará em cartaz até 16 de agosto.

Luis Pérez-Oramas, diretor artístico da galeria, e o Núcleo Curatorial Nara Roesler selecionaram 36 obras a partir da ideia do ruído das estrelas, identificado em 1932, e localizado em 1974, emitido a partir do centro da Via Láctea, na constelação de Sagitário. Em 1974, se descobriu que a origem do ruído estelar era um gigantesco buraco negro, mais massivo 4,3 milhões de vezes do que o Sol, e resultado de um colapso estelar. A exposição sugere ao público uma metáfora em que o mundo das formas artísticas possa ser compreendido como campos de ressonância, em um constante exercício de tornar atual a energia figural que as constitui e que nunca cessa de se transformar, de se transfigurar.

O ponto de partida foi a “música das estrelas”, ouvida, identificada e registrada pela primeira vez em 16 de setembro de 1932, às 19h10, nos campos de Nova Jersey por Karl Jansky (1905-1950), físico e engenheiro especializado em ondas de rádio. Empregado pelos Laboratórios Bell Telephone, ele tinha a tarefa de estudar as fontes de interferência “estática” nas comunicações radiotelefônicas transatlânticas. Para fazer isso, Karl Jansky construiu um dispositivo receptor de ondas de rádio, e ao longo de três anos conseguiu definir três tipos de recepções estáticas: tempestades próximas, tempestades distantes e o que chamou de “um chiado persistente, também de origem estática, cuja fonte é desconhecida”. Com sua antena giratória, no entanto, Karl Jansky pôde identificar a direção de onde os sinais estavam vindo. O estranho chiado ocorria exatamente a cada 23 horas e 56 minutos – quatro minutos a menos que um dia solar – correspondendo assim à duração de um dia sideral. A maior intensidade registrada em 16 de setembro de 1932 permitiu-lhe sugerir que a origem do ruído não vinha do sistema solar, mas do centro da Via Láctea, na constelação de Sagitário. Alguns dias depois, Karl Jansky afirmou que as ondas de rádio que ele havia captado realmente vinham do “centro de gravidade da galáxia”. Anos depois, em 1974, no Observatório Nacional de Radioastronomia, Bruce Balick e Robert Brown descobriram o objeto no centro da Via Láctea de onde se originava o chiado que Karl Jansky havia registrado: Sagitário A*, o imenso buraco negro, 4,3 milhões de vezes mais massivo do que o sol, e resultado de um colapso estelar.

A partir das obras de Laura Vinci, Abraham Palatnik, Tomás Saraceno, Tomie Ohtake, Bruno Dunley, Monica Ventura, Artur Lescher, Cao Guimarães, Paulo Bruscky, Rodolpho Parigi e Julio Le Parc, a exposição busca sugerir uma cena análoga em que as obras de arte seriam objetos que, como as antenas de Karl Jansky, capturam ressonâncias de fundo de seus próprios campos figurais. Ou por imitarem a aparência de dispositivos técnicos (Saraceno, Vinci, Ventura, Lescher); ou por apresentarem composições semelhantes à representação e ao registro de ressonâncias cósmicas (Le Parc, Dunley, Palatnik, Ohtake, Parigi); ou por incluírem, com tons irônicos, referências a rádios e antenas de rádio (Guimarães, Bruscky).

Fusões entre corpos humanos e vegetação.

03/jun

 

A exposição “Nós Combinamos de Não Morrer”, estreia no Museu Histórico da Cidade do Rio de Janeiro, Parque da Cidade, Gávea. Trata-se de mostra individual do artista plástico carioca Fessal. Com obras entre desenhos, pinturas, vídeos e instalações, a mostra propõe uma reflexão profunda sobre a relação do ser humano com o mundo natural e o espaço que habita. Entre todos os organismos vivos deste planeta, existe um acordo invisível – um combinado que ultrapassa crenças, culturas e fronteiras geográficas. A vida, sabe-se lá com quem ou o quê, está sempre se reconstruindo, seguindo adiante. E esse combinado fundamental é simples e poderoso: não morrer. A exposição apresenta fusões delicadas entre corpos humanos e vegetação, explorando o diálogo entre a individualidade e o todo natural de maneira sutil e instigante. Longe de oferecer respostas prontas, as obras convidam o público a uma experiência reflexiva, despertando questionamentos sobre comportamento, consumo e a conexão com o meio ambiente. A curadoria é de Ananda Banhatto.

Além da mostra principal, o projeto inclui um audiovisual exclusivo que contextualiza a produção artística e uma extensa programação paralela durante os três meses de exibição. Oficinas, rodas de conversa, intervenções artísticas e ações educativas irão envolver a comunidade local, os visitantes do museu e os frequentadores do Parque da Cidade, fortalecendo o diálogo entre arte, meio ambiente, política e cultura comunitária.

“Nós Combinamos de Não Morrer” reforça o compromisso com a arte contemporânea e a promoção da consciência socioambiental, ampliando o acesso do público a discussões relevantes para a cidade do Rio de Janeiro.

Até 15 de setembro.

Lançamento de catálogo e visita guiada.

A Pinakotheke Cultural, Botafogo, Rio de Janeiro, RJ, e o Instituto Pintora Djanira convidam para o lançamento do catálogo “Djanira – 110 anos” e visita guiada à exposição com os curadores Max Perlingeiro e Fernanda Lopes no dia 24 de junho de 2025, às 19h. O livro bilíngue (port/ingl), com 128 páginas e formato de 21cm x 27cm, traz textos de Max Perlingeiro, Fernanda Lopes – curadores da exposição – e Eduardo Taulois, diretor-geral do Instituto Pintora Djanira, além de uma cronologia da artista e imagens das obras presentes na exposição.

A exposição “Djanira – 110 anos”, com 50 trabalhos da grande pintora que retratou o Brasil e seu povo, ficará em cartaz até 19 de julho.

Max Perlingeiro afirma sobre Djanira: “Sua vida era pintar”. “No decorrer de sua vida, participou ativamente do meio cultural e social no Rio de Janeiro. Seu reconhecimento e sua contribuição para a arte moderna brasileira se traduzem nas inúmeras exposições internacionais recentes”.  Max Perlingeiro destaca ainda que atualmente, realiza uma parceria com o Instituto Pintora Djanira, que tem como missão “…preservar, pesquisar e disseminar a obra e a memória desta importante artista brasileira, assim como o contexto histórico-cultural do modernismo brasileiro, no qual a sua produção se insere”.

Os símbolos mágicos de Antonio Maia.

02/jun

A Galatea, Jardins, São Paulo, SP, anuncia “Antonio Maia: símbolos mágicos”, individual de Antonio Maia (Carmópolis, SE, 1928 – Rio de Janeiro, RJ, 2008) com pinturas nas quais o artista reinterpreta os Arcanos Maiores do tarô. A abertura acontecerá no dia 10 de junho, das 18h às 21h, na unidade da galeria na Rua Padre João Manuel.

Na ocasião da abertura, entre 18h e 19h, o curador e crítico de arte Lucas Dilacerda, que assina o texto crítico que acompanha a exposição, conduz uma “visita mediada pelo tarô”, uma atividade de leitura coletiva, propondo um mergulho sensível e interpretativo nas obras.

Natural da zona rural de Carmópolis, no interior sergipano, Antonio Maia cresceu em um contexto de forte religiosidade popular, que marcaria profundamente sua trajetória pessoal e artística. Desde o início de sua carreira, demonstrou interesse pelos elementos simbólicos da cultura nordestina, em especial os ex-votos. Entre 1986 e 1992, Antonio Maia dedicou-se à criação de sua série sobre o tarô, um dos núcleos menos conhecidos de sua produção.

O interesse pelo tema ganhou corpo após um curso com o tarólogo Namur Gopalla, quando o artista percebeu que, intuitivamente, já utilizava de muitos dos arquétipos presentes nos 22 Arcanos Maiores. Inspirado pela leitura clássica do tarô como uma jornada espiritual, ele passou a criar obras densas em simbologia, repletas de signos astrológicos, referências à cabala, alquimia e outros elementos do universo esotérico.

“Buscamos o tarot quando estamos passando por algum momento de crise, dúvida ou incerteza. Nessa conjuntura atual de tantas crises – climática, social, econômica e afetiva – principalmente após uma pandemia que deixou sequelas invisíveis que nem conseguimos nomear ainda, a ciência moderna ocidental tem se mostrado insuficiente. Diante dessa falta de respostas, muitas vezes buscamos alternativas nos saberes ancestrais, esotéricos, místicos e mágicos. O tarot nos força a olhar para certas esferas da nossa vida que estão sendo ignoradas, ele nos convoca à vida”, comenta Lucas Dilacerda.

Até 02 de agosto.

Território simbólico e político da memória.

30/mai

A mostra “Ventar o tempo” em cartaz – até 05 de julho – na Galeria Anita Schwartz, Gávea, Rio de Janeiro, RJ, reúne 12 pinturas inéditas do artista Bruno Lyfe, produzidas em 2025, nas quais o artista tensiona a memória como território simbólico e político, subvertendo referências da história para reescrever narrativas silenciadas.

“Esse projeto busca o encontro com a autoimagem e a reescrita de nossas histórias, abrangendo um legado imagético que desejamos conjurar”, resume Bruno Lyfe. A dinâmica da memória, a pintura equestre e a azulejaria barroca portuguesa são os três eixos da atual pesquisa do artista, que pautam o conjunto de pinturas selecionado para a exposição. As obras exploram um repertório iconográfico com narrativas de vida e corpos sub-representados no decorrer de uma história da arte eurocentrada e embranquecida.

“Bruno Lyfe destacou-se entre os mais de 700 artistas brasileiros e estrangeiros inscritos na edição 2024 do GAS, projeto realizado pela galeria com a intenção de promover novas vozes da arte contemporânea. Seu trabalho conquistou reconhecimento internacional, com aquisição pelo Pérez Art Museum Miami, e representa com força poética e rigor formal as narrativas periféricas brasileiras. É um artista que projeta o futuro”, afirma Anita Schwartz.

O Panorama do Ateliê por Luiz Aquila.

Quem já teve o privilégio de estar com o artista Luiz Aquila em seu ateliê sabe o quão prazeroso é vivenciar o seu processo criativo, sempre brindado com muitas histórias de vida. Em “Panorama do Ateliê”, grande individual que será inaugurada no dia 14 de junho, no Paço Imperial, Centro, Rio de Janeiro, RJ, o curador Lauro Cavalcanti propõe um prolongamento deste espaço, proporcionando um pouco dessa experiência.

Com projeto expográfico de Ana Luisa Dias Leite, a mostra ocupa três salas do edifício histórico, tendo um espaço destinado a desenhos menores que estarão dispostos em mesas com vidro, bem como um álbum de serigrafias.

A produção tem estado acelerada como nunca. Em julho deste ano, haverá outra individual do artista, intitulada “A Escolha do Artista”. Será na Galeria Patrícia Costa, que o representa há mais de 20 anos e estará em cartaz simultaneamente.

A Escrita da Pintura

por Lauro Cavalcanti)

Esta exposição de Luiz Aquila, “Panorama do Ateliê”, apresenta pinturas, desenhos e gravuras, em sua maioria inéditas, realizadas nos últimos dez anos deste século XXI. O ateliê é o seu local de ação e a pintura o campo a ser explorado. O desenho, na sua definição, assemelha-se ao dedilhar de um músico deixando sons aleatórios prontos a lhe mostrar caminhos de harmonia e composições que irão quase sempre desaguar em telas. Numa direção inversa, gravuras em grande formato exploram temas com origem pictórica, além de possuírem os atrativos especiais naquilo intrínseco à sua artesania.

Em “Quase Tudo”, sua retrospectiva no mesmo Paço Imperial em 2012, vi-me tentado a escolher o subtítulo “Never Ending Tour” emulando o nome encabeçando todas as apresentações de Bob Dylan. Nelas, além de músicas novas, há sempre o exercício de dar constantemente versões novas a clássicos muitas vezes apenas reconhecíveis por algumas palavras de suas letras.  O conceito de um som único e totalizante, em permanente movimento, é um dos modos pelos quais o bardo de Minnesota expressa a “Zeitgeist” da virada dos séculos XX e XXI.

Voltando ao Luiz Aquila, parece-me que um procedimento similar lhe norteou nos múltiplos ateliês ao longo de sua trajetória. Todas as suas telas são nomeadas principiando pelo termo “A pintura”. A partir daí alternam-se referências a pequenos fatos do cotidiano, citações a pessoas de seu círculo, uma notícia do dia, fatos aleatórios… Os nomes, propositalmente, raramente descrevem a obra em si reafirmando a sua irredutibilidade. Um dos títulos desses novos trabalhos chamara-me atenção: “A Pintura e o seu Picadeiro continuam”. Um jeito de afirmar a continuidade ao lado de uma certa imprevisibilidade de suas ações: um território que pode ser de lutas, divertimento, ironias, heróis, “clowns” e surpresas. É possível traçar tipologias e agrupamentos no seu trabalho recente. Nalgumas uma cor explode e domina o campo, sobrepondo-se, ou melhor, definindo embates das pinceladas, todavia, ainda visíveis. De certo modo é o minimalismo possível para uma abstração gestual na qual um tom tudo passa a dominar. Podemos pensar numa família composta pelas telas “A pintura e a pergunta da pintura”, com paleta privilegiando o sombrio, “Novo Desenho antigo” e “Pintura para Manitas del Plata” ambas dominadas por tons vibrantes de rosa, magenta e amarelo. “A Pintura e as velhas paredes” apresenta uma rara referência direta à arquitetura tema dominante de sua formação, não fosse ele filho de Alcides da Rocha Miranda, um dos mais sensíveis arquitetos da era de ouro do movimento carioca de construções.  Formas egressas diretamente do vocabulário modernista, tratadas com alegria desconstrutiva, apresentam o trio “A pintura e seu idílio”, “A Pintura e suas Bacantes” e “A Pintura para meninos e meninas”. A eletricidade disruptiva rompe a organização estrutural em “A Pintura sob a Lava” tal uma avalanche inevitável que a existência por vezes nos prega. “A Pintura, o azul e linhas submersas” traz a novidade de linhas horizontais delimitando áreas de cor e uma diagonal que procura, em vão, entrar na conversa.  Pode-se perceber um artista revisitando lógicas antes exploradas assim como criando pujantes desafios. Em resposta à “Pintura admirada por seu autor” impõe-se o rico fruir dos visitantes ao desvendar o panorama de seu ateliê que poderia ser expresso por “As pinturas e seus encantos nos espectadores”.

Rio, junho de 2025.

Em cartaz até 10 de agosto.

A experiência estética e política de Miguel Afa.

A Gentil Carioca, Higienópolis, apresenta até 23 de agosto “Um céu para caber”, primeira exposição individual de Miguel Afa em São Paulo. Com texto de apresentação da curadora e pesquisadora Lorraine Mendes, a mostra reúne um conjunto inédito de pinturas que exploram os limites e as expansões do afeto como experiência estética e política. O céu, aqui, surge como metáfora de amplitude e possibilidade: lugar de acolhimento, respiro e entrega.

Miguel Afa nasceu em 1987, no Rio de Janeiro, RJ. Iniciou sua trajetória artística em 2001, por meio do graffiti, nas ruas do Complexo do Alemão, onde nasceu e cresceu. Mais tarde, formou-se pela Escola de Belas Artes da UFRJ. Sua obra propõe uma reconfiguração poética da imagem do corpo periférico, contrapondo os estigmas da marginalização com cenas que evocam afeto, cuidado e resistência. Através de uma paleta cromática enigmática – que não ameniza, mas adensa a narrativa – Migeul Afa constrói cenas que, ao mesmo tempo, revelam o visível e o invisibilizado. Em sua pintura, cor é discurso: esmaecer não é apenas gesto técnico, mas ato de lembrança e posicionamento.

Em “Um céu para caber”, cada pintura é entregue como quem oferece uma dedicatória – à pintura, à vida, e às histórias que nela fazem figura. “Miguel Afa nos apresenta um conjunto de obras que versam sobre os limites daquilo que podemos chamar de amor. Se todos e cada um temos direito ao afeto, ao contato e às nuances de sentimentos que desabrocham ao se relacionar, o céu representa algo infinito, ilimitado, fecundo de possibilidades”, explica a curadora Lorraine Mendes.

A exposição continua no andar superior da galeria com uma seleção de obras inéditas que abordam temas ligados à intimidade e ao erotismo a partir de uma perspectiva sensível e crítica. Em função do conteúdo, essa parte da mostra terá classificação indicativa de 18 anos, respeitando as orientações para visitação de públicos diversos.

O Inventário Parcial de Luiz Dolino.

29/mai

No dia 14 de junho, o Museu de Arte Contemporânea de Niterói, RJ, inaugura a importante mostra do artista Luiz Dolino, “Inventário Parcial”, que contemplará telas de grandes dimensões produzidas recentemente, entre 2020 e 2025, exibidas em conjunto com algumas obras concluídas há 45 anos. Curado por Monica Xexéo, o evento tem sabor de dupla comemoração para o artista: além de estar completando 80 anos de vida, com esta exposição Luiz Dolino retorna à cidade onde foi criado, com a qual mantém forte vínculo. Na ocasião da abertura será lançado o livro de mesmo título, contendo ilustrações e textos de críticos arte, artistas e amigos pessoais, como Carlos Drummond de Andrade, Nélida Piñon, Frederico Moraes e Leonel Kaz.

Com mais de cinco décadas de carreira no Brasil e tendo percorrido países como Espanha, Portugal, Grécia, Áustria, Perú, Uruguai e Argentina, Luiz Dolino tem o trabalho reconhecido pela abstração geométrica. Marcadas pelo uso de cores e justaposições criativas, suas telas se destacam pela combinação que ele, como artista com formação também em ciências exatas, faz com singular precisão. Na casa-ateliê em Petrópolis, no meio da natureza exuberante, a produção segue em ritmo enérgico, como o espectador poderá testemunhar na mostra que ficará em cartaz até o dia 24 de agosto.

 O espectro luminoso da pintura de Luiz Dolino

por Monica F. Braunschweiger Xexéo.

A abordagem da exposição Inventário Parcial, título homônimo ao livro organizado Luiz Geraldo Dolino do Nascimento, no Museu de Arte Contemporânea de Niterói – MAC, por ocasião das celebrações do seu octogésimo aniversário, reflete o espectro de interesse do pintor que viveu e trabalhou por longo período no exterior, convivendo com renomados intelectuais contemporâneos, com os quais privou uma afetuosa amizade.  Com sólida e erudita formação, Dolino, residiu, no México e Bolívia, e, posteriormente, na Argentina, Uruguai, França e Portugal e essas experiências foram marcantes na sua formação e na descoberta da pintura como vocação. Idealizada para os espaços do MAC-Niterói, prestigiosa instituição cultural, projetada pelo arquiteto modernista Oscar Niemeyer (1907-2012), para abrigar, preservar e divulgar as transformações visuais na arte brasileira ao longo dos últimos anos, na então capital fluminense, a exposição Inventário Parcial, dialoga com o museu e sua singular coleção, aproximando relações geográficas e simbólicas.

Disciplinado, desenvolve na intimidade de seu ateliê, em Petrópolis, cidade serrana do Estado do Rio de Janeiro, seus trabalhos a partir de cuidadosa pesquisa de materiais e técnicas, na busca de assinatura própria. Diariamente, circula entre telas, cavaletes, pincéis, desenhos, mapotecas, traineis e livros, criando vigorosas e luminosas obras, com paleta cromática definida e elementos geométricos harmoniosos. Dolino recorda: “O caminho percorrido na busca de uma gramática pessoal levou-me ao encontro dos elementos de clara inspiração geométrica que são visíveis na decoração de objetos de uso cotidiano e ritualístico, assim como também no próprio corpo de nossos ancestrais indígenas, que cultivaram o gosto pelas formas simplificadas e estabeleceram uma linguagem capaz de expressar o seu universo simbólico por meio de um sofisticado código de formas geométricas”.

Ao percorrer a exposição descobrimos os contornos da prática do seu pensamento e processo de criação. São pinturas, gravuras e esculturas, construídas nas últimas cinco décadas, com movimentos definidos, emoção e rigor. De formatos e tamanhos diversos suas obras são refinadas. Quadrados e retângulos dialogam em poética sintonia, criando objetos que pulsam e atraem o nosso olhar, abrindo horizontes e janelas desdobráveis que nos estimulam a reflexão. Estudado por importantes historiadores da arte, críticos de arte e museólogos, Dolino fez da pintura o seu território, a sua poesia, a sua existência.

Até 24 de agosto.

O pop brasileiro.

A década de 1960, marcada por tensões políticas, transformações sociais e a chegada de novas linguagens artísticas ao Brasil, é o pano de fundo da nova exposição da Pinacoteca, “Pop Brasil: Vanguarda e Nova figuração, 1960-70″. Com 250 obras de mais de cem artistas do período na Pina Contemporânea, Luz, São Paulo, SP, é a maior mostra do museu no ano.

As obras, muitas exibidas em conjunto pela primeira vez, são principalmente do acervo da Pinacoteca e da Coleção Roger Wright – que estão em comodato com a instituição há anos. Fazem parte artistas como Hélio Oiticica, Pietrina Checcacci, Nelson Leirner e Cláudio Tozzi.

Quem entra na sala expositiva encontra o conjunto original de bandeiras serigrafadas do “Happening das Bandeiras” (evento artístico realizado em 1968 no Rio), revelam Pollyana Quintella e Yuri Quevedo, curadores.

Depois segue-se uma sala com obras que homenageiam ícones populares da época, como o cantor Roberto Carlos e astronautas, elevados ao status de celebridades com a corrida espacial. Em outro espaço, peças fazem críticas à ditadura militar (1964-1985). Ao lado, trabalhos sobre as mudanças de comportamento da sociedade ganham destaque. O trajeto expositivo termina em uma retrospectiva sobre a transformação da arte dos anos 1950.

Adoração/Na instalação criada em 1966, Nelson Leirner exibe uma espécie de palco que revela uma imagem do cantor Roberto Carlos, acessada por meio de uma catraca. Mesclando símbolos católicos com a imagem do artista em neon, reflete sobre a lógica da indústria cultural.

O Bandido da Luz Vermelha/O quadro de Cláudio Tozzi faz referência ao caso de João Acácio Pereira da Costa, criminoso que ganhou o apelido Bandido da Luz Vermelha e ficou conhecido por assaltos e homicídios em São Paulo. Nele, o artista remete à linguagem das histórias em quadrinhos com a pintura de uma mulher que se pergunta se o homem entrará em sua casa durante a madrugada.

Envolvimento/A série de Wanda Pimentel, feita em 1968, retrata um corpo feminino em um ambiente doméstico anárquico, retratado com linhas e enquadramento e precisos. A obra levanta questões sobre papéis de gênero.

Matéria e Forma/Também de Nelson Leirner, mostra a transformação da matéria-prima em produto de consumo por meio de uma instalação com um tronco de árvore, do qual sai uma cadeira pronta.

Parangolés/Um dos trabalhos mais radicais de Hélio Oiticica, são vestimentas feitas com tecidos e plásticos que têm a intenção de integrar o espectador à obra de arte, que pode experimentar suas réplicas. O artista é conhecido por questionar o uso de suportes tradicionais na produção artística.

O Povo Brasileiro/O conjunto de cinco bandeiras da artista Pietrina Checcacci faz parte do movimento “Happening das Bandeiras” e tem desenhos que tematizam questões ligadas à formação de uma família tradicional, aos problemas da classe média e à performance da política.

O Presente/Em 1967, a artista Cybèle Varela fez caricaturas que ironizam a figura dos generais da ditadura militar, como forma de resistência ao govern

Fonte: Isabela Bernardes/Guia Folhas.

A brasilidade de Djanira.

28/mai

A Pinakotheke Cultural, no Rio de Janeiro, e o Instituto Pintora Djanira apresentam a partir de 02 de junho a exposição “Djanira – 110 anos”, com 50 trabalhos da grande pintora que retratou o Brasil e seu povo. A mostra tem  curadoria de Max Perlingeiro e Fernanda Lopes. No dia 10 de junho, às 19h, haverá o lançamento do catálogo e visita guiada à exposição com os curadores.

A artista que expressou em sua pintura o profundo amor pelo povo brasileiro e sua terra é celebrada nesta mostra, que percorre seus trinta e sete anos de trajetória com 50 obras – grande parte delas nunca mostradas ao público – em núcleos temáticos que marcaram sua produção: retratos, religiosidade, ritos, mitos e sonhos, paisagem, trabalho e cotidiano, registros do Brasil e os desenhos, inéditos,”Aventuras de Procopinho”, que fez em 1948 para ilustrar o livro da peça infantil escrita por Lúcia Benedetti, a ser encenada pelo ator Procópio Ferreira. Além das pinturas de Djanira, o público verá documentos, fotografias, recortes de jornais sobre a artista, e ouvirá áudios, distribuídos pelas salas de exposição, com trechos do depoimento que Djanira deu para o Museu da Imagem e do Som, em 1967. Acompanha a exposição um livro bilíngue (port/ingl), com 128 páginas, com textos de Max Perlingeiro, Fernanda Lopes e Eduardo Taulois, diretor-geral do Instituto Pintora Djanira, além de uma cronologia da artista e imagens das obras presentes na exposição.

O curador Max Perlingeiro afirma sobre Djanira: “Sua vida era pintar”. “No decorrer de sua vida, participou ativamente do meio cultural e social no Rio de Janeiro. Seu reconhecimento e sua contribuição para a arte moderna brasileira se traduzem nas inúmeras exposições internacionais recentes”. Max Perlingeiro destaca ainda que “a Pinakotheke, ao longo dos seus 45 anos, tem apoiado as iniciativas de preservação da memória e do legado de artistas. Nossa primeira ação foi com o Projeto Portinari, em 1979. Atualmente, realiza uma parceria com o Instituto Pintora Djanira”, que tem como missão “preservar, pesquisar e disseminar a obra e a memória desta importante artista brasileira, assim como o contexto histórico-cultural do modernismo brasileiro, no qual a sua produção se insere”.

Fernanda Lopes assinala que a exposição é “uma celebração histórica da vida e da produção da artista, além do seu olhar afetuoso e interessado para o Brasil e da sua fundamental contribuição para a nossa história da arte”. “Ver sua obra agora é também constatar a atualidade das suas imagens e da sua maneira de enxergar o mundo à sua volta, além de uma importante contribuição para o pensamento sobre o Brasil e a arte brasileira de hoje. “Falo o brasileiro simples, uma linguagem que muita gente só entende quando é falada com sotaque de academia”, resumiu certa vez a artista”.

Até 19 de julho.