Centenário da Semana de 22

19/ago

 

 

Celebrar o centenário da Semana de Arte Moderna de 1922 e lançar luz aos traços, remanescências e conquistas que o movimento trouxe, no decorrer dos últimos 100 anos, às artes plásticas do Brasil e refletir, a partir da atualidade, sobre um processo de rever e reparar este contexto.  Este é o objetivo de “Brasilidade Pós-Modernismo”, mostra que será apresentada entre 01 de setembro e 22 de novembro no Centro Cultural Banco do Brasil do Rio de Janeiro, com patrocínio do Banco do Brasil e realização por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura, da Secretaria Especial da Cultura do Ministério do Turismo e Governo Federal.

 

Com curadoria de Tereza de Arruda, a mostra chama atenção para as diversas características da arte contemporânea brasileira da atualidade cuja existência se deve, em parte, ao legado da ousadia artística cultural proposta pelo Modernismo. Nuances que o público poderá conferir nas obras dos 51 artistas de diversas gerações que compõem o corpo da exposição, entre os quais Adriana Varejão, Anna Bella Geiger, Arnaldo Antunes, Cildo Meireles, Daniel Lie, Ernesto Neto, Ge Viana, Glauco Rodrigues, Jaider Esbell, Rosana Paulino e Tunga.

 

 

“Esta exposição não é idealizada com o olhar histórico, mas sim focada na atualidade com obras produzidas a partir de meados da década de 1960 até o dia de hoje, sendo algumas inéditas, ou seja, já com um distanciamento histórico dos primórdios da modernidade brasileira”, explica Tereza de Arruda. “Não é uma mostra elaborada como um ponto final, mas sim como um ponto de partida, assim como foi a Semana de Arte Moderna de 1922 para uma discussão inovadora a atender a demanda de nosso tempo conscientes do percurso futuro guiados por protagonistas criadores”, completa a curadora.

 

 

Organizada em seis núcleos temáticos:

 

 

Liberdade; Futuro; Identidade; Natureza; Estética e Poesia  a mostra apresenta pinturas, fotografias, desenhos, esculturas, instalações e novas mídias. Segundo Tereza de Arruda, por meio deste conjunto plural de obras, “a Brasilidade se mostra diversificada e miscigenada, regional e cosmopolita, popular e erudita, folclórica e urbana”.

 

 

Para aproximar ainda mais o público da Semana de 22, serão desenvolvidas, ao longo do período expositivo, uma série de atividades gratuitas no Espaço de Convivência do Programa CCBB Educativo – Arte e Educação conduzidas por educadores do centro de arte e tecnologia JA.CA. Também haverá um webappl com um conjunto compreensivo de conteúdos da mostra, garantindo a acessibilidade de todos.

 

 

LIBERDADE

 

 

Abrindo a exposição, o núcleo “Liberdade” reflete sobre as inquietações e questionamentos remanescentes do colonialismo brasileiro do período de 1530 a 1822, além de suas consequências e legado histórico. São fatores decisivos para a formação das características do contexto sociopolítico-cultural nacional, que se tornaram temas recorrentes em grande parcela da produção cultural brasileira.

 

 

Em 1922, os modernistas buscavam a ruptura dos padrões eurocentristas na cultura brasileira e hoje, os contemporâneos que integram esse núcleo – Adriana Varejão, Anna Bella Geiger, José Rufino, Rosana Paulino, Farnese de Andrade, Tunga, Ge Viana e José De Quadros – buscam a revisão da história como ponto de partida de um diálogo horizontal, enfatizando a diversidade, a visibilidade e inclusão.

 

 

FUTURO

 

 

O grupo da vanguarda modernista brasileiro buscava o novo, o inovador, desconhecido, de ordem construtiva e não destrutiva.  E um exemplo de futuro construtor é Brasília, a capital concebida com uma ideia utópica e considerada um dos maiores êxitos do Modernismo do Brasil. “Sua concepção, idealização e realização são uma das provas maiores da concretização de uma ideia futurista”, comenta Tereza de Arruda.

 

 

Com foco em Brasília como exemplo de utopia futurista, este núcleo reúne esboços e desenhos dos arquitetos Lina Bo Bardi, Lúcio Costa e Oscar Niemeyer, obra da artista Márcia Xavier, e registros captados pelo fotógrafo Joaquim Paiva e o cineasta Jorge Bodanzky.

 

 

IDENTIDADE

 

 

A busca por um perfil, uma identidade permeia a história da nação brasileira. E é partir desta busca que se forma o conjunto exibido no núcleo “Identidade”. As obras de Alex Flemming, Berna Reale, Camila Soato, Daniel Lie, Fábio Baroli, Flávio Cerqueira, Glauco Rodrigues e Maxwell Alexandre apresentam uma brasilidade com diversas facetas da população brasileira.

 

 

“Falamos aqui do “Brasil profundo”, enfatizado já em obras literárias emblemáticas e pré-modernistas como o livro “Os sertões”, de Euclides da Cunha (1866-1909), publicada em 1902. Já neste período, o Brasil estava dividido em duas partes que prevalecem até hoje: o eixo Rio-São Paulo, das elites consequência de uma economia promissora proveniente do desenvolvimento financeiro e intelectual, e consequentemente berço da Semana de Arte Moderna realizada 20 anos após esta publicação, e o sertão, desconhecido, acometido pela precariedade e desprezo de seu potencial”, reflete Tereza de Arruda.

 

 

NATUREZA

 

 

O território brasileiro é demarcado por sua vastidão, pluraridade de biomas e importância de caráter global. Neste núcleo, as obras dos artistas Armarinhos Teixeira, Caetano Dias, Gisele Camargo, Luzia Simons, Marlene Almeida, Paulo Nazareth, Rosilene Luduvico e Rodrigo Braga norteiam questões de enaltação, sustentabilidade e alerta quanto à natureza e o relacionamento do ser humano como corpo imerso no legado da “Terra brasilis”.

 

 

ESTÉTICA

 

 

Reunindo trabalhos de Barrão, Beatriz Milhazes, Cildo Meireles, Daiara Tukano, Delson Uchôa, Emmanuel Nassar, Ernesto Neto, Francisco de Almeida, Jaider Esbell, Judith Lauand, Luiz Hermano, Mira Schendel e Nelson Leirner, este núcleo surge a partir da reflexão sobre movimentos como o antropofágico, ação fundamental para o entendimento da essência da Brasilidade e um marco na história da arte do Brasil. Foi através dele que a identidade cultural nacional brasileira foi revista e passou a ser reconhecida.

 

 

E, segundo explica a curadora, isso se deu em 1928 com a publicação do “Manifesto Antropófago” publicado por Oswald de Andrade na Revista de Antropogafia de São Paulo. No texto, o poeta fazia uma associação direta à palavra “antropofagia”, em referência aos rituais de canibalismo nos quais se pregava a crença de que após engolir a carne de uma pessoa seriam concedidos ao canibal todo o poder, conhecimentos e habilidades da pessoa devorada. “A ideia de Oswald de Andrade foi a de se alimentar de técnicas e influências de outros países – neste caso, principalmente a Europa colonizadora – e, a partir daí, fomentar o desenvolvimento de uma nova estética artística brasileira. Na atualidade, como aqui vemos, não está à sombra de uma herança e manifestações europeias, mas sim autônoma e autêntica miscigenada com elementos que compõem a Brasilidade dominada por cores, ritmos, formas e assimilação do díspar universo de linguagens e meios que a norteiam”, comenta Tereza de Arruda.

 

 

POESIA

 

 

A Semana de Arte Moderna e o movimento modernista em si pleitearam a independência linguística do português do Brasil do de Portugal. Os modernistas acreditavam que o português brasileiro haveria de ser cultuado e propagado como idioma nacional.

 

Neste núcleo, são exibidas obras de poesia concreta, poesia visual e apoderamento da arte escrita – a escrita como arte independente, a escrita como elemento visual autônomo, a escrita como abstração sonora – dos artistas André Azevedo, Arnaldo Antunes, Augusto de Campos, Floriano Romano, Júlio Plaza, Lenora de Barros, Rejane Cantoni e Shirley Paes Leme.

 

 

Lista completa de artistas

 

Adriana Varejão, Alex Flemming, André Azevedo, Anna Bella Geiger, Armarinhos Teixeira, Arnaldo Antunes, Augusto de Campos/Júlio Plaza, Barrão, Berna Reale, Beatriz Milhazes, Camila Soato, Caetano Dias, Cildo Meireles, Daiara Tukano, Daniel Lie, Delson Uchôa, Ernesto Neto, Emmanuel Nassar, Fábio Baroli, Farnese de Andrade, Flávio Cerqueira, Floriano Romano, Francisco de Almeida, Ge Viana, Glauco Rodrigues, Gisele Camargo, Jaider Esbell, Joaquim Paiva, Jorge Bodansky, José De Quadros, José Rufino, Judith Lauand, Júlio Plaza, Lenora de Barros, Lina Bo Bardi, Lúcio Costa, Luiz Hermano, Luzia Simons, Márcia Xavier, Marlene Almeida, Maxwell Alexandre, Mira Schendel, Nelson Leirner, Oscar Niemeyer, Paulo Nazareth, Rejane Cantoni, Rodrigo Braga, Rosana Paulino, Rosilene Luduvico, Shirley Paes Leme e Tunga.

 

 

Sobre a curadora

 

 

Tereza de Arruda é mestre em História da Arte, formada pela Universidade Livre de Berlim. Vive desde 1989 entre São Paulo e Berlim. Em 2021 bolsista da Fundação Anna Polke em Colônia para pesquisa da obra de Sigmar Polke. Como curadora, colabora internacionalmente com diversas instituições e museus na realização de mostras coletivas ou monográficas, entre outras, em 2021, Art Sense Over Walls Away, Fundação Reinbeckhallen Berlin; Sergei Tchoban Futuristic Utopia or Reality, Kunsthalle Rostock; em 2019/2021, Chiharu Shiota linhas da vida, CCBB RJ-DF-SP; Chiharu Shiota linhas internas, Japan House; em 2018/2019, 50 anos de realismo – do fotorrealismo à realidade virtual, CCBB RJ-DF-SP; em 2018, Ilya e Emilia Kabakov Two Times, Kunsthalle Rostock; em 2017, Chiharu Shiota Under The Skin, Kunsthalle Rostock; Sigmar Polke Die Editionen, me collectors Room Berlin; Contraponto Acervo Sergio Carvalho, Museu da República DF; em 2015, InterAktion-Brasilien, Castelo Sacrow/Potsdam; Bill Viola na Bienal de Curitiba; Chiharu Shiota em busca do destino, SESC Pinheiros; em 2014, A arte que permanece, Acervo Chagas Freitas, Museu dos Correios DF-RJ; China Arte Brasil, OCA; em 2011, Sigmar Polke realismo capitalista e outras histórias ilustradas, MASP; India lado a lado, CCBB RJ-DF-SP e SESC; em 2010, Se não neste tempo, pintura contemporânea alemã 1989-2010, MASP. Desde 2016 é curadora associada da Kunsthalle Rostock. Curadora convidada e conselheira da Bienal de Havana desde 1997 e cocuradora da Bienal Internacional de Curitiba desde 2009.

 

 

VISITAÇÃO

 

 

O CCBB-Rio de Janeiro funciona de quarta a segunda (fecha terça), das 9h às 19h aos domingos, segundas e quartas e das 9h às 20h às quintas, sextas e sábados. A entrada do público é permitida apenas com agendamento online (eventim.com.br), o que possibilita manter um controle rígido da quantidade de pessoas no prédio. Ainda conta com fluxo único de circulação, medição de temperatura, uso obrigatório de máscara, disponibilização de álcool gel e sinalizadores no piso para o distanciamento.

 

 

 

Ozi, 35 anos de Street Art

17/ago

 

 

 

Artista pioneiro do graffiti, Ozi expõe obras que remontam a história da Street Art no Brasil. O Ministério do Turismo, Secretaria Especial da Cultura, Governo do Estado de São Paulo, Prefeitura de São Paulo e Museu da Cidade de São Paulo, por meio da Secretaria de Cultura e Economia Criativa, apresentam “Ozi Stencil – 35 anos de Street Art”, sob a curadoria de Marco Antonio Teobaldo. Com mais de 100 trabalhos nos mais variados suportes – tapumes, telas, madeiras, metais, objetos de uso doméstico, latas de spray e outros itens – utilizados por Ozi em sua trajetória de décadas – pinturas, esculturas, readymades – a mostra preenche todos os espaços do casarão da Chácara Lane, à Rua da Consolação, 1024.

 

 

“A ocupação de cada andar do museu terá uma obra em grande formato, com o propósito de trazer o mesmo impacto que os trabalhos do artista causam nas ruas da cidade”, diz o curador.

 

 

A parceria de doze anos entre artista e curador torna possível apresentar um importante recorte de inventário de parte valiosa da história da Street Art brasileira, com documentos, registros fotográficos, documentários, estudos e obras de Ozi, que datam desde a década de 1980 até o período atual, com trabalhos mais recentes e inéditos.

 

 

“Esta exposição proporciona uma viagem nas mais de três décadas de trabalho do artista, na qual é possível perceber as variadas formas de aplicação do estêncil, sem deixar de se conectar diretamente com a sua atuação nas ruas”, explica Teobaldo.

 

 

Além desses trabalhos, com “Alices”, “Shirleys” e “Monalisas”, será exibido um conjunto de matrizes de estêncil dos itens mais emblemáticos da carreira do artista, criados entre 1984 e 2015. Estarão expostas matrizes originais dos trabalhos da série “Museu de Rua”, com referências a artistas como Anita Malfatti, Van Gogh, Di Cavalcanti, Roy Lichtenstein e Picasso. A biografia do artista é apresentada em dois vídeos que reúnem depoimentos do artista e de parceiros de trabalho. Do acervo de documentação pessoal, são exibidas imagens históricas dos primeiros grupos de grafiteiros e suas intervenções em São Paulo.

 

 

A Street Art no Brasil surgiu em meados dos anos de 1970, em São Paulo, durante o período da ditadura militar, com Alex Vallauri, que reuniu outros artistas como Carlos Matuck, Waldemar Zaidler e Hudinilson Jr., e posteriormente John Howard, Júlio Barreto, Ozi, Maurício Villaça e o Coletivo Tupy não Dá. Esse grupo trouxe a arte para as ruas e escreveram parte importante da história da cena urbana brasileira, dentre eles Ozi.

 

 

 “Inserido naquela atmosfera libertária e precursora, Ozi viu a oportunidade de criar livremente, lançando mão de recursos da sua formação publicitária para produzir um repertório fascinante, privilegiando a cultura Pop que desde então, não tem aliviado ninguém em suas críticas inteligentes e repletas de bom humor”, explica o curador.

 

 

Em 1984, Mauricio Villaça abriu as portas de sua casa, transformando-a na galeria Art Brut, que se constituiu em um espaço da cena underground da época e acolheu artistas visuais e performáticos, poetas e toda sorte de visitantes atraídos por aquela nova forma de pensamento artístico. Foi a partir do encontro destes artistas, que se iniciou uma série de intervenções e ações públicas na capital paulistana, que fariam história na constituição do graffiti brasileiro.

 

 

“Com essa mostra, será possível passar um olhar tanto na produção de estúdio, como em minha atuação pelos quatro cantos da cidade, como artista de arte urbana” define Ozi.

 

 

Sobre o artista

 

 

 Ozi, Ozéas Duarte nasceu em 1958, São Paulo, SP. Paulistano, faz parte da primeira geração do graffiti brasileiro, quando na década de 1980 iniciou suas primeiras intervenções urbanas, junto com Alex Vallauri e Maurício Villaça. Desde então, vem desenvolvendo sua pesquisa sobre a técnica de estêncil, criando suas obras a partir de uma estética Pop. Durante sua trajetória profissional, participou de diversas exposições coletivas e individuais no Brasil e exterior. Seus trabalhos figuram em publicações nacionais e estrangeiras. O artista nunca parou de estudar e hoje é pós-graduado em História da Arte pela FAAP. A ligação de Ozi com Vallauri se transformou recentemente em uma homenagem, com o projeto MAR – Museu de Arte de Rua, da Secretaria Municipal de Cultura, com a pintura de mais de 30 metros de altura em uma empena de um prédio, na altura da Praça Princesa Isabel, com um dos personagens mais icônicos de Alex Vallauri, a “Rainha do Frango Assado”.

 

 

Sobre o curador

 

 

Marco Antonio Teobaldo nasceu em 1958, Curitiba, PR. Jornalista, curador e pesquisador. Mestre em Curadoria e Novas Tecnologias pela Universidad Ramón Llull, de Barcelona, Espanha. Desde 2007, vem trabalhando como pesquisador e curador de Artes Visuais, com especial atenção à Street Art. Junto com o artista visual Eduardo Denne, idealizou o Parede – Festival Internacional de Pôster Arte, em 2008 e 2010, no Rio de Janeiro, que reuniu em sua última edição 175 artistas de diferentes partes do mundo. Atualmente, Marco Antonio Teobaldo dirige a Galeria Pretos Novos de Arte Contemporânea (Região Portuária do Rio de Janeiro), situada em um dos mais importantes sítios arqueológicos da Rota dos Escravos (Unesco), onde realiza propostas curatoriais com artistas brasileiros, reunindo mídias tradicionais (pintura, desenho e escultura), fotografia, novas tecnologias (vídeo, arte sonora e arte digital), arte urbana e performance. É também curador residente do Museu Memorial Iyá Davina, na Baixada Fluminense, com exposição permanente sobre a história e memória do candomblé no Rio de Janeiro, por meio de uma rara coleção de objetos sagrados e documentos que datam desde o final do Século XIX, até a década de 1980.

 

 

O MCSP/Chácara Lane

 

 

O Museu da Cidade de São Paulo é um complexo cultural museológico, composto por uma rede de treze edificações históricas, construídas entre os séculos XII e XX, distribuídas nas várias regiões do território. Propõe por meio de seus acervos e exposições, se consolidar como um espaço de reflexão que tem como objeto permanente de estudo a cidade de São Paulo, no qual o indivíduo possa conhecer sobre a diversidade e especificidade da maior cidade do hemisfério sul.  A Chácara Lane é uma das edificações históricas e é remanescente de uma antiga chácara paulistana construída no final do século XIX e uma importante referência histórica para a memória dos assentamentos urbanos na cidade. Naquele final de século os moradores mais abastados possuíam, além da sua moradia no núcleo urbano central, chácaras localizadas em áreas próximas do centro da cidade ou nos seus arrabaldes para o lazer familiar. Desde 2012, abriga o programa curatorial Gabinete do Desenho, que busca apresentar o esboço como raciocínio criativo.

 

 

Produção Executiva: NU Projetos de Arte – Nathalia Ungarelli

Coordenação de produção: Heloisa Leite

Governo Federal, Prefeitura de São Paulo, Secretaria Municipal de Cultura – ProAC Expresso/Lei Aldir Blanc

 

 

De 21 de Agosto até 19 de Setembro.

 

Carlos Mélo na Galeria Kogan Amaro

16/ago

 

 

O artista multimídia Carlos Mélo reflete sobre o Nordeste em exposição inédita na Galeria Kogan Amaro. Obras em diferentes suportes utilizam-se de jogos de imagens e palavras para desmontar o estereótipo da região brasileira. As flexões semânticas são características marcantes no trabalho processual de Carlos Mélo. É a partir delas que o artista articula e ativa determinados assuntos, como a questão do lugar, especificamente o Agreste e o Nordeste, locais investigados pelo artista na exposição “Transes, rituais e substâncias”, cartaz da Galeria Kogan Amaro, Jardim Paulistano, São Paulo, SP.

 

 

Pinturas, fotografias, esculturas, desenhos e painel de neon são alguns dos suportes do conjunto de 16 obras inéditas exibidas na mostra. Em comum, elas buscam desfazer a ideia de nordeste, construindo um novo campo simbólico. “Todo meu trabalho artístico em torno das questões do nordeste tem como objetivo desmontar o estereótipo do Nordeste como o lugar com determinada comida, um sotaque determinado e com o chão rachado. A minha perspectiva é de uma região contemporânea, industrial e tecnológica, aonde as questões se dão a partir de uma realidade que não depende necessariamente da localização geográfica, mas sim de um campo simbólico.”, explica o artista.

 

 

Três esculturas têxtis da série “Overlock”, apontam para a forte produção da indústria de jeans no Agreste do Pernambuco. As obras são produzidas com diversos tecidos produzidos artesanalmente por uma cooperativa de costureiras que utilizam resíduos de fabricas de confecções. As esculturas criam uma forte referência às golas do maracatu, a mantos cerimoniais, e trazem uma reflexão em torno da modelagem e customização (paetês e spikes) das confecções de jeans na indústria no interior do estado.

 

 

Durante o período em que se aprofundava sobre a indústria têxtil, Carlos constatou o número crescente de motos com a finalidade de transporte de mercadoria, tanto no agreste, como no interior do Brasil, além do grande número de motoboys na cidade devido à pandemia. O resultado é a escultura com capacetes “Cascos”, produzidas com resíduos de capacetes em desuso pelos motoboys de Itu onde o artista residiu e coletou em cooperação com a Associação de Motoboys da cidade.

 

A série “Abismos” apresenta três autorretratos que carregam referências ao Nordeste. Em um deles, a figura com cabeça de carranca, cria uma forte relação com as mitologias do Rio São Francisco e seus projetos de transposição representado com a cabeça de uma carranca, em outro desenho o homem parece flutuar coberto de ossos bovinos carregando entres as mãos um ramalhete de flores, e a terceira imagem traz um corpo barroco onde é possível notar um conjunto de ossos, capacete e flores sobre parte do corpo vestido com uma calça jeans.

 

 

Uma série de fotografias e um backlight, advindos de uma performance de longa duração compõem a série “Sapukaia” (ave que grita ou galinha, no vocabulário tupi). Nela, o artista aparece vestido com um paletó em meio a uma paisagem com galinhas vivas sobre o seu corpo. “Os meus trabalhos artísticos ocorrem a partir do ritual e do transe. Eles surgem a partir da ativação deste lugar, deste território. No caso, este trabalho ativa novos campos simbolistas em meio ao impacto cultural e ambiental causado pela presença das indústrias na região.”, pontua Carlos Mélo.

 

 

Texto curatorial

 

 

Carlos Melo é uma invenção de si mesmo. Artista, humanista, escritor e poeta. Pernambucano, estudioso, de fala branda. Carlos é uma fera! Conquistou prêmios, bolsas e reconhecimentos públicos. Seu trabalho fala com as vísceras. Essa exposição revela uma parte da sua obra. Desenhos, pinturas, fotografias, esculturas, vídeos e performance. Tudo para nos fazer sentir o gosto da sua terra. Carlos incorpora mitos e tradições religiosas em sua poética visual. Retomando ritos e costumes dos povos originários. Carlos é um pesquisador e desbravador da nossa língua. Expandindo significados e interpretações. Carlos Melo é um artista completo. Dos pés a cabeça. Seu legado é uma esfinge. Tenho muito orgulho e admiração pelo seu trabalho e pela nossa amizade.

 

 

Marcos Amaro – julho de 2021

 

 

Sobre o artista

 

Riacho das Almas, Pernambuco – Brasil, 1969.
Carlos Mélo é um artista plástico brasileiro, nascido em Permanbuco, uma região formada por uma cultura complexa vista por várias nações africanas, algumas tribos indígenas e europeias de origem Moura. Seus trabalhos passam por vídeo, fotografia, desenhos, instalação, escultura e performance, em uma investigação do lugar que o corpo ocupa no mundo. Através de anagramas e ações de performance, o artista aborda imagens e palavras praticando o contorcionismo semântico. Busca convergir o corpo em situações de interação com o ambiente e imagens conceituais que sugerem que seja definido de forma relacional, operando simultaneamente um resgate de aspectos da formação cultural brasileira. Para Suely Rolnik, “a obra de Carlos demarca um território, ou melhor, o estabelece. Como nos animais, isso é feito por meio de dispositivos sempre ritualizados, que são, sobretudo, ritmos. No entanto, diferentemente dos animais. Aqui, o ritual e seu ritmo mudam constantemente; são inventados a cada vez, dependendo do ambiente em que são feitos e do campo problemático que procuram enfrentar, para isso o artista se instala na imanência do mundo, aos pés do real vivo, apenas apreensível pelo carinho.”

 

 

Idealizou e realizou a 1ª Bienal do Barro do Brasil, Caruaru (2014). Participou de exposições coletivas como a 3ª Bienal da Bahia, Salvador (2014); No Krannert Art Museum, Universidade de Illinois, Champaign, EUA. (2013); No Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães, Recife (2010 e 1999); No Itaú Cultural, São Paulo (2008, 2005, 2002 e 1999); Entre outras. Exposições individuais foram realizadas na Galeria 3 + 1, Lisboa, Portugal (2010); No Paço das Artes, São Paulo (2004); E na Fundação Joaquim Nabuco (Recife, Brasil, 2000). Foi vencedor do Prêmio CNI SESI Marcantonio Vilaça de Artes Plásticas (2006). Vive e trabalha em Recife.

 

 

Na Casa Flávio de Carvalho

13/ago

 

A mostra “Maria Lira Marques: Obras recentes”, com texto crítico do curador Rodrigo Moura, apresenta pinturas em que a artista utiliza o barro como matéria prima, criando um imaginário próprio da fauna e flora sertaneja; o resultado são obras que se destacam pela textura orgânica, cuja paleta de cores remete às técnicas desenvolvidas ao longo de gerações no Vale do Jequitinhonha, local onde nasceu e vive até hoje. A exposição acontece de 21 de agosto a 23 de outubro, na Casa Flávio de Carvalho, Alameda Ministro Rocha Azevedo, 1052, Jardins, São Paulo, SP.

 

Os “Portais do Ser” de Rosa de Jesus

 

 

Aos 92 anos, a poética visual de Rosa de Jesus, mostra-se pela maneira como a artista lida com as cores para instaurar percepções cromáticas e existenciais. Em “Portais do Ser”, individual que apresenta, a partir do dia 26 de agosto, no Centro Cultural Correios RJ, as tonalidades e as formas apontam para um mundo com um equilíbrio próprio. A curadoria é de Elizabete Motta.

 

 

Cerca de 35 obras de médios e grandes formatos, utilizando técnica mista, foram reunidas em três séries, acentuando a importância de cada imagem individualmente e o diálogo entre elas. A série “Portais”, com a predominância do branco, passa a sensação constante da possibilidade real da arte conduzir através de novos mundos. A tinta parece abrir caminhos para outra dimensão. Em “Blue”, naturalmente, é o azul que predomina, mas ele não se apresenta plácido. Surge com toda força e energia de maneira dinâmica, em explosões de cor e movimento, algumas vezes mesclado com outras como o vermelho que surge com intensidade plena na série “Red”.

 

 

“Minha percepção ultrapassa o cotidiano e ganha uma dimensão existencial. Aquilo que parece arder é a nossa própria jornada vivencial. Cada um está marcado pela sua própria dificuldade de existir. Assim, vou erguendo minha ‘escrita plástica’, analisa a artista.

 

 

A palavra da curadora

 

 

“A artista oferece, tanto nas formas diluídas, quanto na intensidade das cores, uma expressão visual própria. Cada obra traz um repertório que inclui as experiências anteriores e a busca interna por novas respostas. Isso inclui o desenvolvimento da própria técnica e a construção de visões internamente coerentes. O que elas possuem em comum é a expressividade na forma de lidar com a existência”.

 

 

Sobre a artista

 

 

Rosa de Jesus nasceu em Portugal, na cidade do Porto, no ano de 1929, formou-se em design de moda, e imigrou com a família para o Brasil em 1957, fixando residência no estado do Rio de Janeiro. Em 1981, mudou-se para a cidade de Niterói. Na juventude, dedicou-se ao desenho de moda, até que sua inquietude e sensibilidade levaram-na aos caminhos da pintura como forma de expressar seus sentimentos. Tece estruturas sobre as quais se expande a imaginação. Ponto de encontro e tensão são ambos compatíveis com a atitude solitária e reflexiva da artista.

 

 

Até 09 de Outubro.

 

Coletiva de Arte naïf

11/ago

 

A Galeria BASE, São Paulo, SP, abre a exposição “Eles já estavam aqui”, com curadoria de Paulo Azeco e coordenação artística de Daniel Maranhão, exibindo, aproximadamente, 50 obras. Os trabalhos apresentados possuem um pluralismo de cores e formas, composições e olhares de artistas nativos dos mais distintos cenários brasileiros. “Sem nos atermos às discussões de nomenclaturas da Arte “dita” popular, como ingênua, espontânea, naïf ou não erudita, nos apraz apresentar um conjunto potente, extenso e, sobretudo, plural”, explica Daniel Maranhão.

 

 

Os artistas selecionados

 

 

“são indivíduos cuja criatividade espelha um viver assumido, onde a imaginação reintegra e reinventa os objetos do existir. (…..) O fazer artístico, como processo vital ligado a condição humana, encontra nos artistas dessa exposição seus canais amplificadores, onde a partir da sabedoria e das experiências herdadas, transcendem o ato do simples fazer alcançando o “Sonho”, como na frase de Ferreira Gullar (‘a arte existe porque a realidade não basta… O que eu quero é sonho’)”, define o curador.

 

Foram reunidas obras importantes, entre pinturas e esculturas, de nomes como Agnaldo dos Santos, Artur Pereira, Conceição dos Bruges, Chico da Silva, GTO, José Antônio da Silva, José Bezerra, Lorenzato, Maria Auxiliadora, Mestre Guarany, Mestre Nuca, Mirian, Nino, Nhô Caboclo, Poteiro, Ranchinho, Véio, acrescido de Rubem Valentim, que representam o que há de maior destaque.

 

 

Como um presente adicional ao público, a mostra apresenta um recorte de uma valiosa coleção particular, resultante de décadas de aquisições feitas sob o olhar apurado de seu proprietário, cujo projeto é criar um museu para receber o conjunto completo. Possivelmente, essa será uma das últimas oportunidades de se admirar essas obras antes que elas sejam alocadas no novo espaço.

 

 

Em relação aos artistas da mostra

 

 

“São subversores inconscientes de um padrão tanto de processo quanto de criação e por isso sua potência merece ser vista e pensada como força motriz essencial para a formação de uma identidade cultural verdadeiramente Brasileira”, conclui Paulo Azeco.

 

A Galeria BASE cumpre todos os protocolos sanitários determinados pelas autoridades competentes referentes a COVID 19.

 

 

Até 18 de Setembro.

 

 

A Gentil Carioca em São Paulo

09/ago

 

No ano em que completa 18 anos, A Gentil Carioca expande suas atividades para São Paulo e inaugurou seu novo espaço expositivo numa charmosa vila localizada na Travessa Dona Paula, 108, Higienópolis.

 

 

A galeria chega na capital paulista com a coletiva Bum bum Paticundum Prugurundum, com Aleta Valente, Ana Linnemann, Arjan Martins, Cabelo, Ernesto Neto, Jarbas Lopes, João Modé, José Bento, Laura Lima, Marcela Cantuária, Maria Laet, Maria Nepomuceno, Maxwell Alexandre, OPAVIVARÁ!, Renata Lucas, Rodrigo Torres e Vivian Caccuri.

 

 

Bum bum Paticumbum Prugurundum é no corpo/espírito, no balanço, no equilíbrio. As obras dispostas no espaço de exposição entram numa rítmica temperança, distraem-se no espaço, sem um logos analítico, levadas na subjetividade do som do tambor que o título traz. Bum bum, a subjetividade dos sons, pa ti cum, o ritmo no entendimento do corpo/coração que bate tum tum, cum bum… gera temperança, ou excitação, acalma, serena, levanta, trabalha a alma, cura, repensa prugurundum.

 

“Bum bum Paticumbum Prugurundum

O nosso samba minha gente é isso aí, é isso aí” – Bum Bum Paticundum Prugurundum – Beto Sem Braço e Aluízio Machado

A exposição acontece no espaço físico da galeria com visitação de 10 de agosto a 09 de outubro.

 

Agende sua visita pelo email sampa@agentilcarioca.com.br
De terça à sexta, das 10h às 19h e sábado das 10h às 18h.

 

 

Reverenciando Nise da Silveira

27/jul

 

A médica Nise da Silveira revolucionou – no Brasil – o tratamento de pessoas com transtornos psiquiátricos. E o CCBB RJ apresenta uma mostra com o trabalho desenvolvido pela psiquiatra que uniu ciência e arte.

 

 

A exposição “Nise da Silveira – A Revolução Pelo Afeto” encontra-se em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil Rio de Janeiro, Centro, até 16 de agosto. É uma chance de conhecer com mais profundidade a atuação inédita da doutora Nise da Silveira.

 

A mostra ocupa três salas, reunindo cerca de 90 obras de clientes do Museu de Imagens do Inconsciente, ao lado de peças criadas por importantes nomes da arte nacional que dialogam com o universo da doutora Nise da Silveira. São trabalhos de Lygia Clark, Zé Carlos Garcia e Alice Brill, além de vídeos de Leon Hirzsman, Tiago Sant’Ana, entre outros.

 

 

Conceitos Fundamentais da Pintura.

22/jul

 

 

É curso Prático-Teórico para abordar conceitos e questões fundamentais do processo e da História da Pintura desde o Renascimento, passando pela Modernidade chegando ao Contemporâneo.

 

 

As aulas começam em Agosto!

Para maiores informações e

inscrições: https://bit.ly/hugocurso

 

 

Estou divulgando meu novo curso on-line:

 

caso tenha alguma dúvida entre em contato,

 

Hugo Houayek

 

 

A arte entre o sagrado e o profano

19/jul

 

 

A Galeria Evandro Carneiro Arte, Gávea, Rio de Janeiro, RJ, realiza a exposição “A arte entre o sagrado e o profano”, de 24 de julho a 31 de agosto. A curadoria é de Evandro Carneiro.

 

 

 Ao todo serão exibidas em torno de 140 obras, dentre pinturas e esculturas. Os artistas são diversos, da arte sacra à africana e chinesa, passando pela Escola de Potosi. Serão apresentados trabalhos de Helios Seelinger, Oscar Pereira da Silva, Emeric Marcier, Pedro Américo, Sigaud, Mario Cravo, Manuel Messias, Ceschiatti, Agostinelli, Brennand, Djanira, Rubem Valentim, Mestre Didi, PPL e os contemporâneos Mario Mendonça e Deborah Costa.

 

 

A mostra será aberta ao público SEM VERNISSAGE devido à pandemia, durante o horário de visitação da galeria, de segunda a sábado, das 10h às 19h. Durante o período das novas medidas restritivas na cidade sancionadas pela Prefeitura do Rio, a mostra será exibida ao público de forma on-line a partir de uma exposição virtual no website www.evandrocarneiroarte.com.br e nas redes sociais da galeria. A exposição será aberta ao público durante o horário de visitação da galeria, de segunda a sábado, das 10h às 19h.

 

 

O Shopping Gávea Trade Center, quando aberto, está funcionando com obrigatoriedade do uso de máscaras e fornece álcool em gel e medição de temperatura para quem entra. Não há necessidade de agendar a visita, pois o espaço é grande e sem aglomerações.

 

 

 A arte entre o sagrado e o profano

 

 

Entorno de fé, promessas, ritos e festas, mitos e lendas, medos, superstições e crenças, a arte sempre expressou a cultura humana, na linguagem própria de cada tempo e de cada espaço. Cabem neste cenário, tanto os aspectos sagrados quanto os profanos da vida. Mas o que os diferencia e aproxima? Para Mircea Eliade, “O sagrado manifesta-se sempre como uma realidade inteiramente diferente das realidades ‘naturais’. (…) Ora, a primeira definição que se pode dar ao sagrado é que ele se opõe ao profano.”  (“O Sagrado e o Profano”, Martins Fontes, 2020, p. 16-17)

 

 

Porém, para muitas culturas a natureza é sacralizada. Mitologias e cosmogonias diversas através da história da humanidade demonstram uma relação tão paradoxal quanto fundamental entre o sobrenatural e a natureza, deuses e homens, seres mágicos e hábitos profanos, bestiários e a floreta, bruxas e dragões, corpos e espíritos, Deus e o Diabo.

 

 

Longe de se desejar separar o supra-natural da natureza, ou dicotomizar o bem e o mal, mantemos aqui, por meio da ideia do paradoxo e da livre expressão, sempre possível através da arte, uma concepção de mundo em que cabem o bordel e o altar, o templo e o tempo, o pecado e a devoção mais pura, os ícones mais elevados das imagens sacras, mas também as fantasmagorias do maravilhoso pagão, em símbolos e alegorias expressas nas pinturas e nas esculturas que ora apresentamos.

 

 

Laura Olivieri Carneiro