Pinturas de Elian Almeida

08/set

 

 

 

A Galeria Nara Roesler, Ipanema, Rio de Janeiro, exibe “Antes – agora – o que há de vir”*, primeira exposição individual do artista carioca Elian Almeida. Com curadoria de Luis Pérez-Oramas, a mostra traz ao público os mais recentes desdobramentos de sua já icônica série “Vogue”. A exposição fica em cartaz até o dia 23 de outubro.

 

 

Segundo o curador Luis Pérez-Oramas: “A obra de Elian Almeida – principalmente a série Vogue, que constitui o corpo principal desta exposição – enfatiza, através de retratos singulares, o retorno do que foi ocultado, e não apenas esquecido: a pintura que acende o apagado, retratação do que foi velado.” Nos trabalhos inéditos da série “Vogue” presentes em “Antes – agora – o que há de vir”, Almeida se apropria dos signos da visibilidade instituídos pela famosa revista de moda para compor suas pinturas. O artista atua simultaneamente no sentido de uma reparação e da resistência da memória de indivíduos que se viram apagados pelas narrativas históricas.

 

 

Nesta exposição, Almeida apresenta dezesseis retratos de mulheres negras, entre elas encontram-se personalidades como Conceição Evaristo, que empresta os versos de um de seus poemas para o título da exposição, assim como intelectuais como Lélia Gonzalez. O artista não se baseia apenas em figuras contemporâneas, mas se lança no passado, trazendo à tona as imagens de Esperança Garcia (século XVIII) e Luísa Mahin (século XIX). É inegável que a atuação dessas mulheres na cultura é fundamental, tanto que Almeida também nos apresenta as efígies de Mercedes Baptista, a primeira bailarina negra do Theatro Municipal, além da atriz Ruth de Souza, e de Tia Maria do Jongo, entre outras “donas”, “mães” e “tias” que contribuíram para o surgimento do samba e a continuidade de diversas expressões culturais diaspóricas no Rio de Janeiro.

 

 

Para elaborar os cenários, vestimentas e adereços que compõem suas pinturas, Almeida mergulha na história das figuras retratadas, revisando arquivos e documentos, em uma prática que ele qualifica como uma verdadeira arqueologia da memória. Contudo, a ausência de face nos aponta tanto para o apagamento desses indivíduos pela narrativa oficial, ao mesmo tempo em que representam um corpo coletivo, uma miríade de rostos possíveis, de todos que sofreram e ainda sofrem os efeitos do racismo estrutural. Para Pérez-Oramas: “São, pois, os retratos que Elian Almeida nos apresenta, a rigor, imagens fúnebres, necroretratos, emergentes: nos olham, sem olhos, a partir do seu esconderijo, e de lá retornam à certeza melancólica de que o que não nos esquece não pode, por sua vez, voltar plenamente, na plenitude da presença da qual foi amputado.”

 

 

Pinturas da série “Vogue” fazem parte da “Enciclopédia negra”, empreendimento editorial da historiografia afro-brasileira encabeçado por Lilia M. Schwarcz, Flávio Gomes e Jaime Lauriano, que se coaduna com os esforços do artista de recuperação dessas figuras históricas. Para a publicação, 36 artistas foram convidados a elaborar retratos das personalidades apresentadas. Esses trabalhos, incluindo os de Elian Almeida, encontram-se em exibição em mostra homônima na Pinacoteca de São Paulo.

 

 

Sobre o artista

 

 

Nascido no Rio de Janeiro e criado na Baixada Fluminense, com passagem pelos cursos de Artes Visuais na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), e de Cinema e Audiovisual na Université Sorbonne Nouvelle – Paris 3, Almeida baseia sua prática na pintura, realizando também experimentações nos âmbitos da fotografia, do vídeo e da instalação. Com uma abordagem decolonial, seu trabalho se debruça sobre a experiência e performatividade do corpo negro na sociedade brasileira contemporânea. Para isso, ele recupera elementos do passado, imagens, narrativas e personagens – oficiais e extraoficiais -, de modo a contribuir para o fortalecimento e divulgação da historiografia afro-brasileira.

 

 

*o título da exposição foi extraído do poema “Eu-mulher” de Conceição Evaristo.

 

 

Programação ArtRio 2021 | Preview

 

 

8 de setembro | quarta-feira

 

 

13h – Abertura do Preview

 

 

17h – Anna Bella Geiger faz escultura ao vivo
VARANDA ARTRIO | Estande do Canal Curta!

 

 

18h – Sunset Beck’s  – Pôr do sol com a melhor vista do Rio
VARANDA ARTRIO | Mezanino Beck’s

 

 

20h – Beck’s apresenta MIRA videoarte – Abertura da programação:

 

 

VARANDA ARTRIO | Exibição no telão

Delirar o Racial (Davi Pontes & Wallace Ferreira)

Swinguerra (Bárbara Wagner & Benjamin de Burca)

Curadoria Victor Gorgulho

 

 

21h – Encerramento do Preview

 

 

Conheça as obras selecionadas pelo curador Victor Gorgulho para a abertura da MIRA:

 

 

Davi Pontes & Wallace Ferreira
Delirar o racial, 2021, 32’

 

 

Delirar o racial é uma imagem para pensar espacialidade sem as ficções formais (espaço e tempo). A partir da equação: racial ↔ ️não-local, os artistas Davi Pontes e Wallace Ferreira coreografam um experimento artístico que pensa a diferença sem separabilidade e que oferece uma equação para anular o espaçotempo como descritores de tudo que existe neste mundo.

 

No universo apresentado pelo princípio da não-localidade, o deslocamento e a relação não descrevem o que acontece, porque todas as partículas estão implicadas, isto é, todas as partículas existem umas com as outras, sem espaçotempo. A não-localidade expõe uma realidade mais complexa na qual tudo possui uma existência atual (espaçotempo) e virtual (não-local). Uma das características do pensamento pós-iluminista se encontra na
capacidade de determinação que podemos notar observando duas estruturas lógicas: condicional e silogismo. A escolha do ↔ (bicondicional) para expor essa imagem aponta sua capacidade de retirar a determinação de ambos os lados.

 

 

Em busca de uma coreografia que não solicite os pilares ontoepistemológicos, os artistas se aproximam do pensamento da artista e filósofa Denise Ferreira da Silva para pensar um filme sem o fantasma da linearidade. O efeito é uma obra experimental, no qual utilizam os mesmos procedimentos que elaboram suas coreografias, uma série de ações que lidam com a incerteza, a desordem e o provisório para pensar uma ética fora do tempo para vidas negras.

 

 

Ficha técnica:

 

 

Direção: Davi Pontes e Wallace Ferreira
Câmera e edição: Matheus Freitas
Trilha Musical e Sound

 

Design: PODESERDESLIGADO
Voz: Davi Pontes
3D: Gabriel Junqueira
Som: Nuno Q Ramalho
Produção de set: Idra Maria Mamba Negra
Apoio de set: Gabe Arnaudin
Direção de Arte e luz: Iagor Peres
Styling: Iah Bahia

 

 

Bárbara Wagner e Benjamin de Burca

 

 

Swinguerra, 2019, 23”

 

Em Swinguerra, a dupla Bárbara Wagner e Benjamin de Busca apresenta o resultado de sua pesquisa iniciada em 2015, em torno da swingueira pernambucana. Fenômeno cultural periférico, a swingueira pode ser definida como uma singular deglutição de elementos e signos oriundos do brega pernambucano, do axé baiano, do funk carioca e mesmo do pop norte-americano. Para o filme, Wagner e de Burca escolheram trabalhar em parceria com três companhias de dança – Cia. Extremo, La Máfia e O Passinho dos Maloka. Em comum, as três compartilham seu método de trabalho: ensaiam seus números rigorosamente, ao longo do ano, para apresentá-los em competições locais e intermunicipais, nos arredores de Recife.

 

 

Suas pesquisas desdobram-se em filmes e fotografias que investigam fenômenos que vão do brega-funk a indústria musical do gospel na Zona da Mata de Pernambuco. São curta-metragens híbridos, cuja peculiaridade de linguagem é tamanha que facilmente escapam às definições usuais de gênero. Trabalhando em regime colaborativo com seus retratados – e junto deles tomando as decisões que definem os rumos e o próprio resultado final da obra – Wagner e de Burca instauram um terceiro lugar entre o ficcional e o documental, convidando o espectador a se colocar diante de corpos e subjetividades usualmente marginalizadas ou arquetipadas pelos discursos hegemônicos.

 

 

Ficha Técnica
Direção: Bárbara Wagner, Benjamin de Burca
Roteiro: Bárbara Wagner, Benjamin de Burca
Produção: Dora Amorim, Julia Machado, Thaís Vidal
Fotografia: Pedro Sotero
Montagem: Eduardo Serrano
Arte e Figurino: André Antonio, Rita Azevedo
Som: Lucas Caminha, Catherine Pimentel, Nicolau Domingues, Caio Domingues
Trilha Sonora Original: Carlos Sá
Elenco Principal: Eduarda Lemos, Clara Santos, Diego Matarazzo, Edlys Rodrigues,
Henrique Sena (MC Fininho), Clara Damasceno, Kinha do Tamburete
Empresa Produtora: Ponte Produtoras

 

 

Sobre a curadoria do MIRA:

 

 

MIRA 2021

 

 

Curadoria Victor Gorgulho

 

 

A quinta edição do MIRA, programa de vídeo-arte da ArtRio, reforça sua missão dos últimos anos: exibir, durante o período de realização da feira, trabalhos audiovisuais de jovens e consagrados artistas de diferentes gerações.

 

 

Se entre as décadas de 1960 e 1980, os novos suportes de gravação em vídeo operaram uma verdadeira revolução no campo da arte, hoje a produção de imagens se dá em um mundo saturado por elas, rodeado por estímulos de toda sorte disparados por telas de tamanhos e resoluções cada vez mais vertiginosos.

 

 

Atrelada às nossas vidas cotidianas, no entanto, a produção de imagens instaura-se hoje em um campo mais horizontal e democrático, permitindo, no campo da arte, a emergência de narrativas e sujeitos antes condicionados à meios de produção pouco acessíveis e custosos.

 

 

A seleção de vídeos e filmes do MIRA 2021 busca dar conta de produções de ontem e de hoje, instaurando territórios híbridos: entre o cinema e as artes visuais, entre a narrativa e o filme-performance. Em um mundo povoado por imagens, são obras que investigam as infindas possibilidades do audiovisual como meio. Como radares atentos, perscrutam os sinais difusos do presente para instaurar outras possibilidades de futuro – e inaugurar novos amanhãs.

 

 

 

 

 

 

Paulo Pasta: LUZ

03/set

 

 

O Museu de Arte Sacra de São Paulo – MAS / SP, instituição da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo, abre “Paulo Pasta: Luz”, exposição do artista plástico Paulo Pasta, sob curadoria de Simon Watson. A mostra apresenta 19 telas dos últimos 10 anos, com dimensões que oscilam entre mural e laptop. “Pasta cria pinturas que são meditações físicas sobre a metafísica e mais palavras e emoções quando sabemos o que estamos mostrando …”, define o curador.

 

 

“Paulo Pasta: Luz” é a vigésima mostra individual institucional do artista e a primeira após a “Projeto e Destino”, no Instituto Tomie Ohtake de 2018, com curadoria de Paulo Miyada. Desde a sua primeira individual em 1983, Paulo Pasta faz exposições continuamente e suas obras são aceitas e abraçadas por instituições públicas e coleções privadas. Ao longo dos anos, sua prática de pintura evoluiu para uma meditação silenciosa sobre cor, espaço e luz. Poucas opções de cor – de três a seis matizes por tela, todos com valores tonais semelhantes – seus campos de composição sugerem um enquadramento com pilares arquitetônicos, entablamentos e vigas. Os contrastes sutis entre cores semelhantes fazem com que vibrem e se movam sutilmente para a frente e para trás no espaço. Eles sugerem elegantemente a captura de luz e alude às formas como a luz muda suas características ao longo do dia.

 

O aspecto formal das telas de Paulo Pasta sugere um diálogo permanente com Giorgio Morandi e Alfredo Volpi, bem como com Old Masters onde, de uma forma semelhante, possuem uma consciência populista. Eles nos levam para a rua. Eles nos convidam a conhecer o mundo ao nosso redor, de paredes e fachadas pintadas em cores vivas que podem ser encontradas no dia a dia e em todos os locais no Brasil. Exuberantes em cores e serenas em estrutura, as pinturas de Paulo Pasta são profundamente meditativas e afirmativas da vida.

 

 

Destacada por uma instalação mínima e iluminação dramática, a exposição “Paulo Pasta: Luz” é composta por quatro grandes pinturas em escala muralista (duas verticais e duas horizontais), cada uma ladeada por pinturas de tamanho médio que dialogam com suas cores e composições. A segunda, no espaço do claustro, são instalações do próprio estúdio do artista, onde em uma parede corrida você encontra um salão de meditação que interage de forma alegre a íntima.

 

“As pinturas de Paulo Pasta são uma manifestação física da presença da luz, como em um reflexo durante um passeio matinal. São também etéreas, sugerindo a imaterialidade da luz. Luz do espírito e da imaginação, luz que irradia e eleva.”

 

 

Simon Watson

 

 

Projeto LUZ Contemporânea

 

 

LUZ Contemporânea é um programa de exposições de arte contemporânea que se desdobra em eventos e ações culturais diversas, públicas e privadas. Desenvolvido pelo curador Simon Watson, o projeto, atualmente, encontra-se baseado no Museu de Arte Sacra de São Paulo. Nesse espaço, LUZ Contemporânea apresenta exposições temáticas de artistas convidados, de modo a estabelecer diálogos conceituais e materiais com obras do acervo histórico da instituição. Embora fortemente focada no cenário artístico brasileiro atual, LUZ Contemporânea está comprometida com uma variedade de práticas, cultivando parcerias com artistas performáticos e organizações que produzem eventos de arte.

 

 

O primeiro ano de programação de LUZ Contemporânea, no Museu de Arte Sacra, foi concebido como uma trilogia que visa responder à pandemia. O ciclo teve início com João Trevisan: Corpo e Alma, sendo seguida por Esperança, coletiva com 12 artistas, e culmina com Paulo Pasta: Luz. A trilogia vai do escuro ao claro, dos noturnos de João Trevisan à meditação de Paulo Pasta sobre a luz.

 

 

Sobre o artista  

 

 

Paulo Pasta nasceu em Ariranha/SP, 1959.  Doutor em artes visuais pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo – ECA / USP (SP). Recebeu a Bolsa Emile Eddé de Artes Plásticas do MAC/USP (SP) em 1988. Dentre as exposições realizadas, destaque para individual na no Centro Cultural Maria Antonia, em 2011, para o Panorama dos Panoramas, no Museu de Arte Moderna de São Paulo, em 2008, e para individual na Pinacoteca do Estado de São Paulo, em 2006. Como professor, lecionou pintura na Faculdade Santa Marcelina – FASM, entre 1987 e 1999, e desenho na Universidade Presbiteriana Mackenzie, entre 1995 e 2002. É professor da USP desde 2011 e, da FAAP, desde 1998. Realizou exposições individuais em diversos espaços, como Instituto Tomie Ohtake e Galeria Millan, São Paulo, SP (2018); Galeria Carbono, São Paulo, SP, e Paulo Darzé, Salvador, BA (2017); Embaixada do Brasil, Roma, Itália (2016); Galeria Millan e Museu Afro Brasil, São Paulo, SP (2015); SESC Belenzinho, São Paulo, SP (2014); Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, RS (2013); Centro Cultural Maria Antonia, São Paulo, SP (2011); Centro Cultural Banco do Brasil, Rio de Janeiro, RJ (2008); e Pinacoteca do Estado de São Paulo, SP (2006), entre outros. Também participou de importantes exposições coletivas, entre elas: MAC-USP no Século XXI – A Era dos Artistas, Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, SP (2017); Clube de Gravura – 30 Anos, Museu de Arte Moderna de São Paulo, SP, e Os Muitos e o Um, Instituto Tomie Ohtake, São Paulo, SP (2016); 30 x Bienal, Pavilhão da Bienal, São Paulo, SP (2013); Europalia, International Art Festival, Bruxelas, Bélgica (2011); Matisse Hoje, Pinacoteca do Estado de São Paulo, SP (2009); Panorama dos Panoramas, MAM-SP, SP (2008); MAM(na)Oca, Oca, São Paulo, SP (2006); Arte por Toda Parte, 3ª Bienal do Mercosul, Porto Alegre, RS (2001); Brasil + 500 – Mostra do Redescobrimento, Pavilhão da Bienal, São Paulo, SP (2000); e III Bienal de Cuenca, Equador (1991), entre outras. Suas obras integram diversas coleções, entre as quais: Pinacoteca do Estado de São Paulo, SP; Museu de Arte Moderna de São Paulo, SP; Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, RJ; Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, SP; Museu de Belas-Artes do Rio de Janeiro, RJ; Colección Patricia Phelps de Cisneros, Nova York, EUA; e Kunsthalle, Berlim, Alemanha.

 

 

Sobre o curador

 

 

Simon Watson, nascido no Canadá e criado entre Inglaterra e Estados Unidos, Simon Watson é curador independente e especialista em eventos culturais baseado em Nova York e São Paulo. Um veterano com trinta e cinco anos de experiencia na cena cultural de três continentes, Watson concebeu e assinou a curadoria de mais de 250 exposições de arte para galerias e museus, e coordenou programas de consultoria em colecionismo de arte para inúmeros clientes institucionais e particulares. Nas últimas três décadas, Watson trabalhou com artistas emergentes e os pouco reconhecidos, trazendo-os para a atenção de novos públicos. Sua área de especialização curatorial é identificar artistas visuais com potencial excepcional, muitos dos quais agora são reconhecidos internacionalmente na categoria blue-chip e são representados por algumas das galerias mais famosas e respeitadas do mundo.

 

 

Sobre o museu

 

 

 

O Museu de Arte Sacra de São Paulo, instituição da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo, é uma das mais importantes do gênero no país. É fruto de um convênio celebrado entre o Governo do Estado e a Mitra Arquidiocesana de São Paulo, em 28 de outubro de 1969, e sua instalação data de 29 de junho de 1970. Desde então, o Museu de Arte Sacra de São Paulo passou a ocupar ala do Mosteiro de Nossa Senhora da Imaculada Conceição da Luz, na avenida Tiradentes, centro da capital paulista. A edificação é um dos mais importantes monumentos da arquitetura colonial paulista, construído em taipa de pilão, raro exemplar remanescente na cidade, última chácara conventual da cidade. Foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, em 1943, e pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico e Arquitetônico do Estado de São Paulo, em 1979. Tem grande parte de seu acervo também tombado pelo IPHAN, desde 1969, cujo inestimável patrimônio compreende relíquias das histórias do Brasil e mundial. O Museu de Arte Sacra de São Paulo detém uma vasta coleção de obras criadas entre os séculos 16 e 20, contando com exemplares raros e significativos. São mais de 10 mil itens no acervo. Possui obras de nomes reconhecidos, como Frei Agostinho da Piedade, Frei Agostinho de Jesus, Antônio Francisco de Lisboa, o “Aleijadinho” e Benedito Calixto de Jesus, entre tantos, anônimos ou não. Destacam-se também as coleções de presépios, prataria e ourivesaria, lampadários, mobiliário, retábulos, altares, vestimentas, livros litúrgicos e numismática.

 

 

Até 08 de Novembro.

 

Um jardim imaginário

 

O Museu de Arte do Rio Grande do Sul, MARGS, instituição vinculada à Secretaria de Estado da Cultura do RS, Sedac, exibe a partir do dia 04 de setembro, a exposição inédita “Yeddo Titze – Meu jardim imaginário”.

A mostra tem por objetivo prestar uma homenagem ao professor e artista gaúcho falecido em 2016, aos 81 anos. Com curadoria de Paulo Gomes e Carolina Grippa, “Yeddo Titze – Meu jardim imaginário” tem lugar na Galeria Iberê Camargo e na sala Oscar Boeira, no segundo andar do Museu, e seguirá em exibição até 28 de novembro.

Apresentando mais de 40 obras desde a década de 1950 até 2010, “Meu jardim imaginário” contempla a trajetória de Yeddo Titze (1935-2016) desde o início da sua formação até seus últimos anos de produção. Com ênfase na temática de jardins, flores e paisagens, destaca uma série de tapeçarias e pinturas, produzidas em diversas técnicas.

A exposição traz a público obras dos acervos do MARGS, da Pinacoteca Aldo Locatelli da Prefeitura de Porto Alegre e da Pinacoteca Barão de Santo Ângelo da UFRGS, que são agora pela primeira vez reunidas e exibidas. Trata-se de um conjunto de peças adquiridas recentemente pelos acervos, por meio de doação da família do artista, ao qual se somam obras já anteriormente pertencentes às coleções das instituições.

No texto curatorial, os curadores Paulo Gomes e Carolina Grippa escrevem:

“Yeddo Titze é um nome que, quando citado, lembra antes a sua atuação como professor na UFSM e na UFRGS. Em Santa Maria, instalou o primeiro curso de tapeçaria em uma universidade federal, divulgando o suporte têxtil em toda sua potencialidade artística; e, em Porto Alegre, dedicou-se ao ensino da pintura. Mas e o artista? (…) A maioria dos trabalhos, agora expostos, nunca foi vista pelo público, sendo este um gesto de reconhecimento da importância do artista para a arte sul-rio-grandense e um convite à aproximação entre os seus públicos e a sua poética.”

“Yeddo Titze – Meu jardim imaginário” integra o programa expositivo do MARGS intitulado “Histórias ausentes”, voltado a projetos de resgate, memória e revisão histórica. Com o programa, procura-se conferir visibilidade e legibilidade a manifestações e narrativas artísticas, destacando trajetórias, atuações e produções artísticas, em especial aquelas inviabilizadas no sistema da arte e/ou pelos discursos dominantes da historiografia oficial. Assim, a presente exposição dá prosseguimento ao programa “Histórias ausentes”, que estreou com a mostra “Otacílio Camilo – Estética da rebeldia”.

Nas palavras do diretor-curador do MARGS, Francisco Dalcol: 

“Esta exposição presta uma homenagem ao mestre e artista Yeddo Titze, tendo por objetivo oferecer um justo e necessário resgate em sua memória. Assim, com essa união de esforços entre as instituições, a intenção é também valorizarmos as políticas de aquisição de nossos acervos públicos, celebrando esta importante doação da família em seu conjunto e conferindo a devida e necessária solenidade ao gesto.”

Desde sua reabertura, em 11.05.2021, o MARGS mantém uma série de medidas sanitárias e de regras de acesso para garantir uma visita segura e que ofereça uma experiência que possa ser aproveitada da melhor maneira: controle de fluxo de entrada e quantidade de público, uso obrigatório de máscara, medição de temperatura e respeito à distância de 2m.

TEXTO CURATORIAL

Yeddo Titze – Meu jardim imaginário

“Quando acordo pela manhã, abro minha janela e através de uma leve cortina vejo o meu jardim imaginário. Ele está bem próximo de mim, oferecendo-me suas folhas e flores, que pelo visto tentam dialogar comigo, transmitindo-me uma mensagem”. Yeddo Titze, março 2004

Yeddo Titze (1935 – 2016) é um nome que, quando citado, lembra antes a sua atuação como professor na UFSM e na UFRGS. Em Santa Maria, instalou o primeiro curso de tapeçaria em uma universidade federal, divulgando o suporte têxtil em toda sua potencialidade artística; e, em Porto Alegre, dedicou-se ao ensino da pintura. Mas e o artista? Essa exposição, inserida no programa “Histórias ausentes” do MARGS, tem como objetivo destacar o Yeddo artista, mostrando um recorte de sua produção, desde a década de 1950, enquanto aluno no Instituto de Artes, até o ano de 2010, próximo ao seu falecimento. A mostra é uma ação conjunta de três instituições públicas de Porto Alegre, o Museu de Arte do Rio Grande do Sul Ado Malagoli, a Pinacoteca Barão de Santo Ângelo (Instituto de Artes, UFRGS) e a Pinacoteca Aldo Locatelli (Prefeitura de Porto Alegre), que já possuíam obras do artista, mas que receberam recentemente importantes doações de trabalhos e documentos.

As flores, as paisagens e as cores são elementos distintivos na produção de Yeddo Titze, que perpassam as diversas técnicas e os gêneros que ele praticou. A maioria dos trabalhos, agora expostos, nunca foi vista pelo público, sendo este um gesto de reconhecimento da importância do artista para a arte sul-rio-grandense e um convite à aproximação entre os seus públicos e a sua poética.

Paulo Gomes e Carolina Grippa 

Sobre o artista

Yeddo Nogueira Titze nasceu em 10 de janeiro de 1935, em Santana do Livramento, RS, filho de Roberto Titze e de Desideria Nogueira Titze. Em 1955, matriculou-se no Curso de Artes Plásticas no Instituto de Belas Artes de Porto Alegre, sendo diplomado em 1960. Entre 1960 e 1962, foi bolsista do governo francês em Paris, estudando pintura no ateliê de André Lhote e na École Nationale Superieure des Arts Decóratifs, onde foi aluno de Marcel Gromaire. Após essa temporada em Paris, mudou-se para Florença, onde estudou na Academia de Belas Artes. Ao retornar ao Brasil, recebeu o Prêmio de Pintura no 9º Salão de Artes Plásticas do Instituto de Belas Artes (1962) e, em seguida, foi contratado como professor para a Faculdade de Belas Artes, na recém-criada Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Um dos primeiros professores do curso, Yeddo foi o responsável por implementar a disciplina de Arte Decorativa, baseando-se nas experiências adquiridas no Instituto de Belas Artes e na École de Paris. Retornou à França entre 1968 e 1969, para estudar tapeçaria em Aubusson. Após o período lecionando em Santa Maria, transferiu-se para o Rio de Janeiro e, depois, para Brasília. Nesta cidade, entre 1976 a 1979, foi o responsável pelo Setor de Artes Plásticas na Funarte e também coordenador da Galeria Oswaldo Goeldi. Após essa temporada, retornou ao Rio Grande do Sul, atuando como professor na UFSM e, após, no Instituto de Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), onde permaneceu até a sua aposentadoria, em 1993.  Em 2011, recebeu foi homenageado com Destaque Especial do Prêmio Açorianos, da Prefeitura de Porto Alegre, e no mesmo ano teve sua obra reconhecida e homenageada em uma mostra na Sala Angelita Stefani na Universidade Franciscana (UNIFRA), em Santa Maria. Faleceu em Porto Alegre, em 2016.

Homenagem ao mestre e artista

Considerado um importante representante da geração moderna das artes visuais do Rio Grande do Sul no século 20, Yeddo Titze morreu em 2016, aos 81 anos, após ser vítima da fatalidade de um atropelamento em Porto Alegre. Notabilizou-se sobretudo como professor, tendo uma trajetória que o consagrou em nossa história da arte como um dos pioneiros da tapeçaria, uma referência da arte têxtil, tendo por isto obtido reconhecimento nacional e mesmo internacional. Mas Yeddo foi mais do que tapeceiro. Dedicou boa parte de sua produção à pintura, sendo apontado como um dos primeiros a explorar ou flertar com a abstração no Rio Grande do Sul ao lado de artistas como Rubens Cabral, Nelson Wiegert e Carlos Petrucci. Era um passo ousado, uma vez que a pintura abstrata foi repelida pelo então cenário conservador do Estado, que via nela a invasão de uma tendência internacional descomprometida politicamente e capaz de corromper os valores da arte figurativa vigente e de viés regionalista. “Yeddo Titze – Meu jardim imaginário” presta uma homenagem ao mestre e artista, tendo por objetivo oferecer um justo e necessário resgate em sua memória. A exposição traz a público obras dos acervos do MARGS, da Pinacoteca Aldo Locatelli da Prefeitura de Porto Alegre e da Pinacoteca Barão de Santo Ângelo da UFRGS, que são agora pela primeira vez reunidas e exibidas. Trata-se de um conjunto de peças adquiridas recentemente pelos acervos, por meio de doação da família do artista, ao qual se somam obras já anteriormente pertencentes às coleções das instituições. Assim, com essa união de esforços, a intenção é também valorizarmos as políticas de aquisição de nossos acervos públicos, celebrando esta importante doação em seu conjunto e conferindo a devida e necessária solenidade ao gesto. “Yeddo Titze – Meu jardim imaginário” integra o programa expositivo do MARGS intitulado “Histórias ausentes”, voltado a projetos de resgate, memória e revisão histórica. Com o programa, procura-se conferir visibilidade e legibilidade a manifestações e narrativas artísticas, destacando trajetórias, atuações e produções artísticas, em especial aquelas inviabilizadas no sistema da arte e/ou pelos discursos dominantes da historiografia oficial. Assim, a presente exposição dá prosseguimento ao programa “Histórias ausentes”, que estreou com a mostra “Otacílio Camilo – Estética da rebeldia” (2019).

Francisco Dalcol – Diretor-curador do MARGS

Sobre os curadores

Paulo Gomes 

Professor Associado no Bacharelado em História da Arte na UFRGS e no Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da mesma instituição. Historiador, curador e crítico de arte. Atua como membro do Comitê de Acervo da Pinacoteca Aldo Locatelli (PMPA) e do Museu de Arte do Rio Grande do Sul (MARGS) e coordena a Pinacoteca Barão de Santo Ângelo (Instituto de Artes/UFRGS). É membro das seguintes instituições: AICA – Associação Internacional de Críticos de Arte, ABCA – Associação Brasileira de Críticos de Arte, CBHA – Comitê Brasileiro de História da Arte e da ANPAP – Associação Nacional de Pesquisadores em Artes Plásticas. Dentre suas publicações, destacam-se: “MARGS 50 anos” (2005), “Artes plásticas no Rio Grande do Sul: uma panorâmica” (2007), “Pedro Weingärtner: obra gráfica” (2008), “100 anos de artes plásticas no Instituto de Artes da UFRGS” (2012), “Pinacoteca Barão de Santo Ângelo: catálogo geral 1910-2014” (2015), “Zoravia Bettiol: o lírico e o onírico” (2016), com Paula Ramos.

Carolina Bouvie Grippa

Mestra em História, Teoria e Crítica de Arte (UFRGS), bacharela em História da Arte (UFRGS) e em Moda (Universidade Feevale). Desde 2017, pesquisa sobre tapeçaria brasileira, com foco na produção do Rio Grande do Sul. Desenvolve trabalhos em curadoria, como as mostras que realizou juntamente com Caroline Hädrich: “Influências da arte pop em acervos de Poa”, no MARGS (2018), pela qual receberam o Prêmio Açorianos 2019 na categoria “Difusão de acervos”; e “Os quatro – Grupo de Bagé”, na Fundação Iberê Camargo (2019). Também atua na produção cultural, sendo produtora da 12° e 13° Bienal do Mercosul.

Aquarelas de Nemer

02/set

 

 

Depois de passar pelo Instituto Tomie Ohtake, São Paulo, a exposição “Nemer – aquarelas recentes”, do mineiro José Alberto Nemer, chega no dia 18 de setembro à Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, RS. A mostra é a continuação de uma série que vem sendo apresentada desde os anos 1990 e reúne 20 obras produzidas sobre papel francês. São quadrados, retângulos, grelhas, hachuras, círculos, trapézios, elipses, cruzes e arcos que povoam peças de diferentes formatos, começando nos 100 x 100 cm, até o inusual, pelas grandes dimensões, formato de 150 x 200 cm.

 

 

“Trabalho com a geometria, com o gestual, com as manchas, com as formas mais rigorosas. Às vezes eu começo construindo uma geometria, que na metade acaba se desconstruindo; é quando você reconhece que a aquarela é indomável, escorre até onde ela quer escorrer e o pigmento se concentra onde sequer imaginávamos. Todos os deslizes, todos os ‘erros’ são incorporados e fazem parte do processo não só da aquarela, mas da arte como um todo”, diz Nemer, pertencente à geração dos chamados Desenhistas Mineiros, que se afirmou no cenário da arte brasileira, a partir da década de 1970.

 

Para o curador Agnaldo Farias, os trabalhos de Nemer propiciam um intermitente confronto entre uma orientação construtiva e um impulso orgânico. Diluídos na água, seus pigmentos correm pela folha, adivinhando suas minúsculas fissuras e revelando o acidentado da topografia do papel. A dimensão construtiva de suas obras se expressa, continua Farias, no recurso a figuras geométricas variadas, veloz e cuidadosamente executadas com lápis de grafite duro, com o apoio de régua, compasso.

 

Também chama a atenção em suas aquarelas o preto, uma cor pouco usada na técnica e terminantemente proibida na época em que estudou na Escola de Belas Artes: “Durante o curso, senti uma atração muito grande pela aquarela como técnica. Cada vez que eu começava pintar, os professores vinham e diziam: ‘a aquarela tem que ser mais transparente, e você está pesando muito. Isso aí está mais para guache do que para aquarela’. Outras vezes colocava um preto, e eles voltavam e falavam: ‘atenção, nunca se usa o preto na aquarela’. Foi aí que guardei a aquarela e me dediquei ao desenho. Os anos passaram, em um processo terapêutico, resolvi fazer algumas reflexões desenhadas e com aquarela. E, sintomaticamente, comecei pelo preto e nunca mais parei”, conta.

 

 

Aliás, foi por meio da psicanálise que a aquarela entrou na vida do artista. “Perguntei à analista se podia fazer um relatório usando aquarelas, e a técnica se adequou à minha introspecção e silêncio, ao meu temperamento. Domou a vontade de controle sobre tudo”, conta. A partir daí veio a primeira série, intitulada “Ilusões Cotidianas”, exposta, nos anos 1980, em São Paulo e na Bienal de Cuba.

 

 

Espaço em movimento

 

 

Em uma das itinerâncias de “Nemer – aquarelas recentes”, um visitante escreveu ao artista sobre o que encontrou na mostra e que, agora, os gaúchos verão na Fundação Iberê Camargo: “Aquarelas que fluem, flutuam e ocupam o espaço em movimento, como nuvens de cor preenchendo o olhar. Com sutil delicadeza, convidam para um momento de serenidade e paz”.

 

 

“A aquarela ensina o imponderável. Ao trabalhar numa superfície com água e pigmento, você tem um controle muito relativo, e essa impossibilidade de querer controlar tudo trouxe ensinamentos para a vida. Na Fundação Iberê, o visitante vai encontrar o silêncio, a possibilidade de silêncio interior, do que aprendi com a técnica e que vem muito ao encontro do meu processo de produção”, afirma Nemer.

 

 

Ateliê de Gravura

 

 

Para marcar sua passagem pela Fundação Iberê Camargo, José Alberto Nemer participará do projeto “Artista Convidado”, do Ateliê de Gravura. Ele já está em conversação com Eduardo Haesbaert, responsável pelo Ateliê, sobre sua nova criação.

 

 

Sobre o artista

 

 

José Alberto Nemer é doutor em Artes Plásticas pela Université de Paris VIII. Lecionou em universidades brasileiras e estrangeiras, como a UFMG (1974 a 1998) e a Sorbonne (1974 a 1979). Pertencente à geração dos chamados desenhistas mineiros, que se afirmou no cenário da arte brasileira a partir da década de 1970, Nemer participa de salões e bienais no Brasil e no exterior. Sua obra obteve, entre outros, o Prêmio Museu de Arte Contemporânea da USP (1969), Prêmios Museu de Arte de Belo Horizonte (1970 e 1982), Prêmios Museu de Arte Contemporânea do Paraná na Mostra do Desenho Brasileiro (1974 e 1982), Grande Prêmio de Viagem à Europa no Salão Global (1973), Prêmio Museu de Arte Moderna de São Paulo no Panorama da Arte Brasileira (1980). Incluído pela crítica e por júri popular entre os dez melhores artistas de Minas Gerais na década de 1980, Nemer foi o artista homenageado, com Sala Especial, no Salão Nacional de Arte Edição Centenário, realizado no Museu de Arte da Pampulha, em Belo Horizonte (1997/1998). Entre suas exposições, destacam-se a do Centro Cultural Banco do Brasil/CCBB Rio (2000), a dos espaços culturais do Instituto Moreira Salles, em circuito itinerante pelo País (2003 a 2005), e a da Galeria Anna Maria Niemeyer, no Rio (2009). Num ensaio sobre a obra do artista, intitulado Razão e Sensibilidade (2005), Olívio Tavares de Araújo diz: “Só um virtuose da aquarela – a mais exigente de todas as técnicas, a mais inflexível, na qual é impossível enganar –  conseguiria dar este enorme salto de escala sem atraiçoar-lhe em absolutamente nada a essência. Ao que eu saiba, ninguém nunca, em qualquer tempo, fez aquarelas das dimensões dessas, de Nemer. Mas, a despeito do tamanho, elas permanecem, definitivamente, aquarelas. Conservam sua natureza de música de câmara, e não sinfônica, delicada, econômica, sempre transparentemente instrumentadas. Parece-me terem fluído com a naturalidade, quase, de uma fonte”.

 

O Sertão Virou Mar

01/set

 

 

 

Azol, artista potiguar com formação em Cinema e Artes Gráficas, apresenta exposição multimídia com curadoria de Marcus de Lontra Costa. Artista multimídia que sempre empregou a variedade de plataformas a favor da criatividade, Azol recorre a linguagens distintas para revelar um sertão mágico na exposição “O Sertão Virou Mar”. Através de fotomontagens, pinturas e uma videoinstalação, ele vislumbra este mundo utópico, a partir do dia 09 de setembro, no Centro Cultural Correios, RJ.

 

 

Morando há quase 30 anos em São Paulo, Azol nasceu no Rio Grande do Norte e tem o sertão no DNA, enraizado nos seus antepassados – pais, avós, bisavós -, todos oriundos de lá. É tema recorrente dos seus trabalhos: já inspirou muitas telas e rendeu um acervo com mais de 6.000 fotografias, registradas em duas longas incursões pela rota do cangaço, quando realizou laboratórios e pesquisas. Há alguns anos, fez uma curadoria que resultou numa seleção de 60 fotos, matriz para suas primeiras fotomontagens unindo fotografia e pintura, instigado pelo historiador Marcus de Lontra Costa, curador de “O Sertão Virou Mar”. O intuito, introduzir elementos dramáticos à narrativa, gerando imagens que remetem ao realismo poético.

 

 

“Procuro ajudar o observador a embarcar numa jornada para o sublime. O mar é uma metáfora utópica para a criação de um sertão que é o contraponto da sua realidade. As fotografias produzidas apresentam fragmentos do real que se impregnam de múltiplos significados e sentimentos, se tornam plurais, transformadas pela provocação que se faz à imaginação. Caatinga, seca, a rudeza e a aspereza dos ambientes registrados são transformados em novas realidades, aquelas que, em nosso inconsciente, as chuvas poderiam revelar: abundância, esperança, fertilidade. O mar é água, é a força transformadora do sertão; nos convoca à construção de uma possível existência”, avalia Azol.

 

 

Nessa série de fotomontagens, a sobreposição das duas linguagens foi combinada com a utilização de multicamadas de filtros.

 

 

“A técnica usada é basicamente colagem digital. Transferi as fotos e as pinturas e fui manipulando as imagens. O processo é demorado… Foram meses de tentativas e erros, até chegar a um resultado satisfatório”, esclarece o artista.

 

 

O horizonte que se estende na fronteira entre a ficção e a realidade, explora situações que provocam a distorção dos cenários, gerando uma representação excêntrica que amplia as percepções. As diferentes leis que regem esse mundo novo são aceitas pelos olhos da realidade óbvia do homem, convidando o observador a explorar suas próprias fantasias e sonhos.

 

 

Texto do curador Marcus de Lontra Costa

 

 

PELOS SERTÕES

 

 

Há um sertão que se apresenta pela paisagem árida, sofrida, repleto de carências e onde a vida e a morte se sucedem em meio ao vazio e ao silêncio.

Há um sertão que se revela através da mitologia e da crença, que transforma casebres em catedrais, melancolias em beleza rara e perturbadora.

Há um sertão que habita a alma de todos nós, que recupera memórias, que descobre verdades e mentiras jamais vividas nesse território da fantasia.

Há um sertão que resgata vários outros, que amplia a lembrança, alarga o olhar, aquece o coração como uma cantiga antiga, relicário de lembranças.

 

 

Azol passeia por suas terras, percorre suas paisagens e através de fotografias, pinturas e até mesmo objetos, constrói um mundo que surge do talento e da sensibilidade do indivíduo da arte para espraiar encantos, mistérios, descobertas que fazem da vida humana uma aventura pelos vários cenários do mundo.

 

 

Tudo aqui inspira cuidados, olhares delicados, e um curioso equilíbrio de ser parte integrante dessa paisagem e, ao mesmo tempo, dela manter certo distanciamento para identificar e valorizar elementos que provoquem no espectador o desejo de decifrar e conhecer com mais profundidade o que as imagens oferecem ao olhar.

 

 

Potiguar, o artista reside há bastante tempo na cidade de São Paulo. Esse ser urbano, em plena paisagem rodeada de prédios e de concreto armado, convive com o outro (e o mesmo) garoto sertanejo, que entende a distância, a profundidade, os volumes e as cores de uma realidade que estrutura o afeto, o sentimento e a inteligência do artista. Azol atua como regente de saberes variados, temperando conceitos e imagens que retratam e recriam a imensidão das várias realidades sertanejas.

 

Esse é o sertão transfigurado; essa é a revelação da misteriosa riqueza dessa paisagem repleta de surpresas e mistérios. Essa é a reunião de um conjunto de obras elegantes e precisas com as quais o artista constrói uma exposição sensível que amplia o olhar regional para se afirmar numa linguagem sofisticada a revelar todos os sertões que permanecem em nossa mente e em nosso coração.

 

 

Sobre o artista

 

 

Artista visual formado em Cinema e Artes Gráficas nos Estados Unidos, Azol dirigiu curtas-metragens e produziu conteúdos para as TVs Manchete, Bandeirantes e Globo. Trabalhou com publicidade e participou de projetos de criação para a internet e vídeos institucionais para empresas. Desde 2010, trabalha em seu ateliê em São Paulo, onde realiza pesquisas artísticas em diferentes plataformas (pintura, escultura, colagem, mural, vídeo-arte e fotografia). Realizou exposições individuais e coletivas no Brasil e no exterior (França, EUA e Nações Unidas), participou de feiras de arte no Carroussel Du Louvre, em Paris, e da Art Expo, em NY. O artista já integrou grupos de estudos de pintura, roteiro, oficinas de poesia e escrita criativa, outra paixão sua. Possui obras nos acervos da Pinacoteca do Rio Grande do Norte, da Funcarte (prefeitura de Natal) e no Sistema Fiern (Federação da Indústria e Comercio do RN). Em 2020, foi diplomado pela Fundação da Cidade de São Paulo (Academia de Ciências, Letras e Artes).

 

 

Até 24 de Outubro.

 

 

 

PV Dias e a “Desarmonia”

 

 

Simone Cadinelli Arte Contemporânea, Ipanema, Rio de Janeiro, RJ, abre para o público no próximo dia 04 de setembro a exposição “Desarmonia”, com trabalhos recentes e inéditos do artista PV Dias, Belém, 1994, em que faz uma crônica visual do movimento popular tecnobrega, com suas festas futuristas, e gigantescas aparelhagens cinéticas. O curador Aldones Nino destaca que “esta é a primeira exposição individual de PV Dias e está marcada pela presença pictórica”. Conhecido pelas intervenções digitais em fotografias de paisagens urbanas, como as cinco obras da série “Obras Cariocas”, que integraram a exposição “Casa Carioca” (MAR, setembro de 2020 a agosto de 2021), PV Dias mostrará pela primeira vez suas pinturas digitais, pinturas sobre papel e sobre tela, e animações. Estarão também na exposição intervenções sobre registros históricos do fotógrafo português Felipe Augusto Fidanza (c. 1847 – 1903), uma referência entre os que atuaram no Norte do Brasil no século 19 e no início do século 20.

 

 

Na vitrine da galeria haverá uma instalação, acompanhada de uma trilha tecnobrega feita especialmente para o local pelo cantor, performer e produtor musical Will Love, que em 2019 participou do Rock in Rio.

 

 

No térreo da galeria estarão reunidas as pinturas da pesquisa recente de PV Dias sobre a visualidade do movimento tecnobrega, com suas “festas de aparelhagens”, surgidas na década de 1980, mas que ganharam a forma atual há pouco mais de vinte anos. Também estará no térreo da galeria o tríptico “Rasurando Fidanza” (2021), com intervenções em três registros históricos de Felipe Augusto Fidanza, suas famosas “cartas de visitas”, em que o fotógrafo registrava pessoas em cuidadosa composição de cenários variados.

 

 

No segundo andar da galeria estarão nove pinturas da série – ou sequência, como prefere nomear o artista – “Festa Silenciosa”, em que registrou o cotidiano de sua família, na casa de sua mãe em Marechal Hermes, onde reside desde o início da pandemia. Três animações digitais também vão estar no segundo andar: uma projeção, outra colocada em um display, e outra impressa, que é ativada ao se passar por cima um celular, com um filtro do Instagram criado pelo artista.

 

 

Atendendo ao novo Decreto Municipal nº 49.335, de 26 de agosto de 2021, os visitantes devem comprovar a vacinação contra a covid-19 para terem acesso e permanecerem na galeria. Para visitar a exposição é necessário o agendamento prévio através dos canais de comunicação: contato@simonecadinelli.com //  +55 21 3496-6821 | +55 21 99842-1323 (WhatsApp)

 

 

Elisa Bracher na Galeria Estação

 

 

Com uma instalação, desenhos, monotipias, pinturas em papel, gravuras e esculturas, a individual “Terra de Ninguém”, de Elisa Bracher, na Galeria Estação, Pinheiros, em São Paulo, propõe, a partir da sua poética contemporânea, figurações e objetos de vestígios de artefatos, matérias-primas e técnicas manuais tradicionais

 

 

Pelo gesto do fazer, presente de modos diversos na produção e no percurso artístico de Elisa Bracher, “Terra de ninguém”, individual da artista na Galeria Estação, em SP, expõe a partir da sua poética contemporânea, figurações e objetos de vestígios de artefatos, matérias-primas e técnicas manuais tradicionais. A exposição, que estreou em 28 de agosto, permanecerá em cartaz até 02 de outubro, apresenta 35 obras dispostas em três espaços da Galeria, entre elas, desenhos, monotipias, pinturas em papel, gravuras, esculturas e uma instalação.

 

 

Na entrada da Galeria Estação, uma enorme escultura em madeira angelim curvada na parede e pousada no chão, inclina-se em direção ao espectador. Na realidade, esse trabalho parte da forma das gamelas, esses antigos utensílios nos quais se guardavam alimentos e refeições, e no espaço expositivo desequilibra o nosso olhar e perde a sua funcionalidade originária.

 

A segunda escultura, um cubo aberto feito em pau a pique – técnica usada para a construção de antigas casas populares do interior -, é cortada, agora não mais, como era tradicionalmente, por uma árvore, mas por uma canha. A terceira é uma escultura em madeira e cerâmica materializada em três blocos de madeira empilhados, nos quais as casinhas típicas do interior, feitas de pau a pique, encontram-se encaixadas, deixando aparentes somente as suas fachadas. A quarta retoma a plástica das casinhas encaixadas nas estruturas, mas, desta vez, com os blocos pregados na parede e posicionados um ao lado do outro. A quinta escultura traz uma base de terra redonda em declive, com uma estrutura de madeira apoiada na parte superior.

 

 

A instalação expõe os vestígios de madeiras, mármores e cerâmicas, materiais que aparecem apoiados uns nos outros, como se tentassem delimitar um espaço entre o interno e o externo da obra. Como pontua Elisa Bracher: “Esta exposição apresenta trabalhos iniciados há mais de dez anos. Desenhos e gravuras mostram montanhas e paisagens que se desfazem e se reconstroem com o passar do tempo. As esculturas só aconteceram no momento em que encontraram lugar para estar. No momento em que acertamos fazer a exposição na Galeria Estação, os trabalhos vieram a existir. Em mim já habitavam, mas faltava o sítio que os acolhesse. A instalação “Restos em novo corpo é a transição”.

 

 

As cinco esculturas e a instalação que serão mostradas ao público, e que trazem elementos da tradição da cultura material brasileira, dialogam com os desenhos. Em seu processo, Bracher parte do material, é ele que sugere a forma e a construção da imagem. De maneira diversa das linhas das gravuras, construídas com a precisão de ferramentas em metal sobre papel de arroz, nos desenhos as colinas traçadas em linhas finas e frágeis sugerem um desprendimento, um afastamento do solo. “Elas pairam sobre uma superfície manchada com um colorido de oxidação ou sangue coagulado. São visões de longe, muito longe, de lugares que estão por lá, mas que ninguém enxerga de perto”, afirma Tiago Mesquita em texto curatorial.

 

 

Por sua vez, o trabalho com as monotipias presentes na exposição parte de um diálogo com o maestro e pianista Rodrigo Felicíssimo. Bracher exercita nessa linguagem visual a marcação espacial formada por linhas desprendidas acima das curvas e formas das montanhas. Trata-se de uma paisagem plástica que dialoga com a pesquisa do pianista.

 

 

A pesquisa de Rodrigo Felicíssimo se debruça sobre um dos métodos de criação do maestro Heitor Villa-Lobos. Para a composição da Sinfonia nº 6, intitulada “Sobre a linha das montanhas”, Villa-Lobos compôs o desenho da partitura musical a partir da observação das curvaturas das linhas que os topos das montanhas traçam no horizonte. Tanto na sinfonia como na pesquisa de Bracher, a forma manifesta no espaço não se desvincula da abstração da sonoridade; em Felicíssimo, a paisagem sonora amplia os sentidos pela percepção da paisagem plástica.

 

 

Houve participação especial da cantora Mônica Salmaso, acompanhada em um pocket show do maestro e pianista Rodrigo Felicíssimo no vernissage de abertura da exposição “Terra de ninguém”. A individual de Elisa Bracher na Galeria Estação relaciona o trabalho em monotipia da artista com a pesquisa musical de Felicíssimo.

 

 

Nas monotipias, Bracher exercita a noção de paisagem visual, com a marcação espacial formada por linhas desprendidas acima das curvas e formas das montanhas. Por sua vez, a pesquisa de Felicíssimo sobre paisagem sonora parte de um dos métodos de criação do maestro Heitor Villa-Lobos; para a composição da Sinfonia nº 6, intitulada “Sobre a linha das montanhas”, Villa-Lobos concebeu o desenho da partitura musical a partir da observação das curvaturas das linhas que os topos das montanhas traçam no horizonte.

 

 

Até 02 de Outubro.

 

 

 

Célia Euvaldo na Roberto Alban Galeria

25/ago

 

 

 

A Roberto Alban Galeria, Salvador, tem o prazer de anunciar a primeira exposição da artista Célia Euvaldo na galeria, também sua primeira mostra individual na Bahia. A artista, amplamente conhecida por suas pinturas em preto e branco, realizadas ao longo de mais de três décadas, apresenta um conjunto inédito de trabalhos em que explora a presença da cor, dando continuidade à sua pesquisa iniciada em 2016. A galeria estará aberta para visitação de 04 de setembro até o dia 16 de outubro. A mostra também poderá ser vista de modo virtual pelo site da galeria (www.robertoalbangaleria.com.br).

 

 

A partir de meados dos anos 1980, Célia Euvaldo investiga, majoritariamente no campo da pintura, as relações entre gesto e matéria. Suas telas de grande formato exploram as múltiplas possibilidades da relação entre o branco e o preto, em uma fatura marcada pela riqueza de texturas, nuances e gestualidade.

 

 

A dimensão física do corpo da artista na realização de seus trabalhos é um dos aspectos fundamentais como chave de leitura para a compreensão de sua produção artística. Suas telas são fortemente marcadas pela relação entre seu corpo e a escala do quadro, revelando – em camadas insuspeitadas e mesmo surpreendentes – a presença do gesto como força motriz e fundamental em sua criação.

 

 

“Um aspecto do meu trabalho é a presença do gesto. Mas não me refiro ao gesto expressivo, impulsivo, de descarga emocional. É o gesto em si, ou melhor dizendo, o esforço, a energia do gesto. Para isso, as dimensões grandes são essenciais. Isso vem desde meus trabalhos mais antigos, de 30 anos atrás”, afirma a artista.

 

 

Desde 2016, Célia Euvaldo tem se dedicado a uma investigação inédita em sua vasta produção pictórica, realizando um corpo de trabalho com a presença de cores abertas, como o vermelho, o laranja e o lilás. Os trabalhos reunidos para sua primeira exposição na Roberto Alban Galeria apontam, justamente, para este momento de ruptura e renovação de sua obra.

 

 

São pinturas que instauram, portanto, uma harmoniosa convivência entre o usual p&b e uma nova paleta de cores – telas que conjugam o preto em suas habituais texturas espessas, a partir de um uso robusto da tinta a óleo, a seções coloridas realizadas com a tinta mais diluída, em tons mais discretos de cinza ou em tonalidades fortes de cores laranja, azul e variações.

 

 

“Em todos os quadros eu deixo uma parte da tela sem pintar. Faço isso porque vejo essas duas matérias como “coisas”, “corpos”, algo quase escultórico. Se eu cobrisse toda a tela, essas “coisas” virariam áreas, e não quero isso. Quero esse peso e materialidade de coisa”, acrescenta a artista.

 

 

O texto do historiador e crítico de arte Ronaldo Brito reflete também sobre esta nova fase da pesquisa de Célia Euvaldo:

 

 

“A meu ver, as cores vibrantes surgem como fatores a mais de irritação e questionamento em uma pintura que opera numa área exígua e tira sua força ao vencer, repetidamente, a ameaçadora entropia. A questão substantiva passa a ser a seguinte: como agem esses contrastes cromáticos, às vezes gritantes, em um espaço pictórico que até então se resumia às invasões maciças do preto sobre o branco, a renegociar os limites entre a forma e o informe? Assim como ocorre com o preto marfim, também as cores abertas não destilam uma química de pintura, empenhadas em revelar a identidade única deste violeta, desse laranja ou daquele azul. Elas irrompem no quadro, resolutas, instintivamente misturadas e diluídas”.

 

 

Sobre a artista

 

 

Pintora e desenhista, Célia Euvaldo nasceu em 1955, em São Paulo, onde atualmente vive e trabalha. Realizou suas primeiras exposições coletivas no circuito nacional em 1987, no Museu Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro, e em 1988, no Projeto Macunaíma, Funarte, também na mesma cidade. Obteve o 1º prêmio – Viagem ao Exterior – no 11º Salão Nacional de Artes Plásticas em 1989. Nos anos 90, realizou individuais na Paulo Figueiredo Galeria de Arte, em São Paulo, em 1991 e 93; no Paço Imperial, no Rio de Janeiro, em 1995 e em 1999; dentre outras. Suas últimas individuais foram na Galeria Simões de Assis, em Curitiba, em 2020, e na Galeria Raquel Arnaud, em São Paulo, em 2018. Suas obras estão em diferentes coleções públicas como no Museu de Arte do Rio de Janeiro (MAR), Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM-SP), Coleção de Arte da Cidade de São Paulo, Fundação Cultural de Curitiba e Museu do Estado do Pará. Célia Euvaldo marca um importante período da arte contemporânea brasileira, participando de mostras como a 7ª Bienal Internacional de Pintura de Cuenca, no Equador, em 2001 e da 5ª Bienal do Mercosul, em Porto Alegre, em 2005, e realiza individuais em instituições como a Pinacoteca do Estado de São Paulo, intitulada “Brancos”, em 2006, Instituto Tomie Ohtake em 2013, entre outros. No âmbito internacional, a artista participou da mostra coletiva “Cut, Folded, Pressed & Other Actions” na David Zwirner Gallery, em Nova York, em 2016.

 

Janelas para dentro

23/ago

 

 

A Galeria Leme e a Central Galeria, São Paulo, SP, têm o prazer de apresentar “Janelas para dentro”, mostra com curadoria de Guilherme Wisnik que ocupa uma casa residencial em São Paulo, Bosque do Morumbi, com obras de mais de vinte artistas contemporâneos. Partindo dos paradoxos presentes no próprio local – um projeto de Paulo Mendes da Rocha de 1970 que visava incorporar a paisagem urbana no espaço doméstico -, os trabalhos guardam forte relação com a arquitetura, atravessando polaridades como o monumental e o cotidiano, o público e o privado.

 

Artistas: Ana Elisa Egreja, Bruno Cançado, C. L. Salvaro, Candida Höfer, Carmela Gross, Clarissa Tossin, Cristiano Mascaro, Damián Ortega, David Batchelor, Débora Bolsoni, Dora Smék, Fernanda Fragateiro, Frank Thiel, Frederico Filippi, Gretta Sarfaty, José Carlos Martinat, Lais Myrrha, Luciano Figueiredo, Mano Penalva, Marcelo Cidade, Marcius Galan, Mauro Piva, Michael Wesely, Raphael Escobar, Ridyas, Rodrigo Sassi, Sandra Gamarra, Sergio Augusto Porto, Vivian Caccuri

 

 

Janelas para dentro Guilherme Wisnik

 

 

Uma mostra de arte na Casa Millan, projetada por Paulo Mendes da Rocha em 1970. Não se trata, simplesmente, da ocupação de um espaço doméstico como se fosse um museu ou uma galeria. Mas, sim, de um conjunto de intervenções artísticas – algumas já existentes, outras do tipo site specific – em um dos espaços mais radicais já produzidos pela arquitetura brasileira e mundial. Concebido no auge da repressão ditatorial no país, esse projeto incorpora um grau de experimentalismo inédito, reinventando os modos de se morar em família. Para tanto, usa asfalto no piso da sala de estar, abre as janelas dos quartos para dentro da casa – num espaço de pé-direito duplo onde ficava a cozinha – e opta por não vedar os sons e odores dos cômodos, já que muitas das paredes não chegam ao teto. Caracterizando as casas de Mendes da Rocha daquele período, o professor Flávio Motta descreve o espaço criado como “projeto social”, cujo despojamento supõe um “relacionamento do viver meio favela racionalizada”, onde “cada um aceita o convívio com os demais, sem muradas sólidas, mas dentro de novas e procuradas condições de respeito humano”1. Era um momento muito intenso da história política e social do Brasil, logo após o AI-5, quando Hélio Oiticica começava a viver em seus penetráveis na Whitechapel Gallery, em Londres, fazendo do espaço público a sua casa. Já em São Paulo, Mendes da Rocha buscava o inverso: urbanizar a vida doméstica, isto é, tensionar o máximo possível a intimidade, extirpando as marcas idiossincráticas pessoais ligadas à ideia romântica e burguesa de lar. Seu desejo, portanto, era problematizar o espaço privado e seus segredos em prol de uma ideia cívica de vida inteiramente pública: a casa como um fórum da vida coletiva da cidade, onde a liberdade de cada um é pautada pela liberdade do outro, pois são as regras da ordem coletiva que devem controlar o arbítrio da vontade individual. Uma casa inteiramente exteriorizada, ainda que espacialmente introvertida. Toda de concreto aparente, com luzes que entram zenitalmente por claraboias, a casa tem uma austeridade que é também lúdica, com uma piscina na fachada frontal e uma bela escada engastada na empena de concreto, cujo patamar se transforma em trampolim para a piscina. A escada nos leva à laje de cobertura, com um jardim de plantas aquáticas, que permite desfrutar da bela visão do arvoredo do Bosque do Morumbi. Organizada pelas galerias Leme e Central, com um conjunto de mais de vinte artistas contemporâneos representados por galerias diversas, esta mostra busca dialogar criativamente com os ambientes da casa, que já é, em si, uma obra de arte. Diálogos que funcionam tanto por afinidade como por subversão, estabelecidos aqui por artistas que operam com a temática da cidade e incorporam em seus trabalhos os problemas e os elementos da esfera urbana, criando curtos-circuitos e atravessamentos entre polaridades como o urbano e o doméstico, o cotidiano e o monumental, o formal e o informal, a elite e a periferia.

 

 

1 MOTTA, Flávio. Paulo Mendes da Rocha. Acrópole. n. 343. São Paulo, setembro de 1967.

 

 

Até 10 de Outubro.