Olá, visitante

AGENDA CULTURAL

Duas vezes Nelson Felix

Nos últimos 20 anos, Nelson Felix vem realizando uma série de trabalhos a partir de coordenadas geográficas, que passaram a determinar os locais de suas exposições. Em decorrência disto, o artista está há quase nove anos sem expor na cidade de São Paulo. Seu retorno acontece agora em novembro, quando apresenta “Verso (meu ouro, deixo aqui)”, Instituto Tomie Ohtake e “Verso, na Galeria Millan. Juntas, compõem a segunda parte de um trabalho realizado em dois lugares distintos, que se rebatem e, assim, complementam-se. A primeira parte, “4 Cantos”, foi realizada em Portugal, em 2008, sob a tutela do Museu de Serralves e do Ministério do Turismo de Portugal.

 

O trabalho, em seu conjunto, aborda, primeiramente, um pensamento poético sobre o espaço, na sua estrutura mais simples – os cantos, o centro e o verso – e o que seriam estes locais na nossa atual percepção multifacetada do espaço. Em um segundo momento, explora a relação ambígua que existe na língua portuguesa nas palavras canto e verso, ora com sentido espacial, ora com sentido poético. O primeiro trabalho, “4 Cantos”, prima pela relação espacial; o segundo, “Verso”, pela poética.

 

Em “4 Cantos” o artista viajou, em um caminhão munck, aos quatros extremos de Portugal – Bragança, Viana do Castelo, Sagres e Faro – carregado com quatro blocos cúbicos de pedras. Em cada um destes cantos do país, o artista colocava as pedras no solo e desenhava até se sentir impregnado do espaço local. Na última cidade, Faro, já em espaço interno, o artista tombou as pedras de encontro aos quatro cantos do espaço expositivo e as fixou com oito ponteiras de bronze, nas quais estavam inscritos os oito versos do poema “Casa Térrea”, de Sophia de Mello Breyner.

 

Em “Verso”, como o título indica, Nelson Felix rebate o primeiro trabalho, formando um amálgama das duas obras e, em consequência, um trabalho único, em dois atos. O atual trabalho nasce da observação de que a cidade de São Paulo, o principal centro econômicocultural brasileiro, encontra-se equidistante e sobre uma linha imaginária que liga duas pequenas ilhas, uma no Oceano Pacífico e outra no Atlântico. O artista viaja às duas ilhas, estes dois versos criados pela estrutura poética do trabalho no globo terrestre. Nelas, olha na direção de São Paulo, onde irá expor, e finca no solo três peças de latão, que constituem as três partes da letra A. Uma homenagem ao poeta catalão Joan Brossa, através de um dos seus poemas, intitulado “Desmuntatg e”. Esta  homenagem se faz outra vez presente quando o artista torna a fincar esta letra na Galeria, em São Paulo. “Verso” remete à sensação poética de um local central, construído totalmente por centros, se assim podemos falar – uma cidade, que aglutina e centraliza, e duas pequenas ilhas, pontos em meio a oceanos.

 

No Instituto Tomie Ohtake, “Verso (meu ouro, deixo aqui)” traz seu processo de criação, com mais de cem desenhos que o artista realiza durante o desenvolvimento do trabalho, e uma instalação com mármore de carrara, ouro e projeção. Acompanha as exposições um vídeo, realizado em maio deste ano, de uma conversa do artista com o crítico Rodrigo Naves. Já na Galeria, “Verso” formaliza-se na apresentação de uma instalação com dois grandes anéis de mármore de carrara, objetos de latão, ouro, dois desenhos e duas fotografias.

 

 

Sobre o artista

 

Nelson Felix nasceu no Rio de Janeiro, 1952. Escultor, desenhista e professor. Iniciou seus estudos de pintura com Ivan Serpa, em 1971, e se formou em arquitetura, em 1977. Dedicou-se inicialmente ao desenho e, posteriormente, à escultura. Em 1989, recebeu bolsa do Ministério da Cultura da França, por exposição ocorrida na Galeria Charles Sablon, em Paris. Recebeu, em 1991, a bolsa Vitae de Artes Plásticas. A partir da década de 1990, realiza esculturas de mármore com base em órgãos ou aspectos do corpo humano. Em 1994, foi artista residente na Curtin University (Perth, Austrália) e no Karratha College (Karratha, Austrália). No mesmo período, idealizou as Mesas, esculturas em granito nas quais faz referências às interações entre a natureza e os objetos culturais. Ao retornar ao Brasil, realizou, em 1995, com Luiz Felipe Sá, o vídeo O Oco, sobre sua produção artística. Sua obra é analisada nas publicações Nelson Felix, com texto de Rodrigo Naves, Cosac & Naify, 1998; Nelson Felix, com textos de Glória Ferreira, Nelson Brissac e Sônia Salzstein, Casa da Palavra, 2001; Trilogias: Conversas entre Nelson Felix e Glória Ferreira, Pinakotheke, 2005; e Concerto para Encanto e Anel, com textos de Ronaldo Brito e Marisa Flórido Cesar, Editora Casa 11, 2011.

 

Instituto Tomie Ohtake, Pinheiros, São Paulo, SP

 

Até 09 de fevereiro de 2014.

 

 

 

Galeria Millan

 

Até 21 de dezembro de 2013.

Deixe uma resposta

O seu endereço de email não será publicado Campos obrigatórios são marcados *

Você pode usar estas tags e atributos de HTML: <a href="" title=""> <abbr title=""> <acronym title=""> <b> <blockquote cite=""> <cite> <code> <del datetime=""> <em> <i> <q cite=""> <s> <strike> <strong>

Sua mensagem foi enviada com sucesso!