Intervenções em japonês

11/jul

Chama-se “Intervenções gráficas em japonês” a exposição individual de Téti Waldraff em cartaz até o dia 09 de agosto no Studio Clio, Cidade Baixa, Porto Alegre, RS. A mostra, com curadoria de Blanca Brittes e Paula Ramos, reúne trabalhos desenvolvidos nos últimos cinco anos, a partir de folhas de calendário com reproduções fotográficas de “ikebanas”, a arte japonesa de arranjos florais. A artista iniciou esta pesquisa em seu ateliê em Faria Lemos, pequena cidade localizada na Serra Gaúcha, no interior do estado do Rio Grande do Sul. Lá, movida pela energia e os ciclos da Natureza, começou a desenhar, pintar e intervir sobre as imagens, prolongando e alterando ramagens e flores, e os afetos, em um colorido vívido e singular. Téti Waldraff tem nos jardins um dos principais motes de sua poética. A artista é um dos jovens valores da geração de arte contemporânea revelados na década de 1980 em seu estado. Possui em seu currículo incontáveis participações em exposições coletivas de relevância no Brasil – como o Itaú Cultural, SP – , e individuais realizadas em museus e no exterior.

 

 

A palavra da artista

 

Porque faço intervenções gráficas em calendários?

 

Começa no tempo da Téti professora: pegava os calendários para marcar feriados, marcar datas de obrigações de entrega de documentos de trabalho, datas festivas. Mas, sobretudo, ao “abrir” um calendário enquanto professora, marcar os feriados, tanto para pensar em aliviar a tensão, como para poder fazer coisas necessárias para o trabalho com os alunos no tempo previsto… no calendário! Assim, vi, vivi, recolhi e continuo recolhendo calendários bonitos e estimulantes para marcar os dias e as coisas especiais!

 

Então, lá em 2012 ou 2013, em Faria Lemos, veio um amigo, o Márcio Chieramonte (um engenheiro eletrônico sensível!!!) com muitos e muitos calendários com imagens de Ikebana para mim: “Te trouxe… sei que és artista e vais saber fazer alguma coisa com eles.” Viva o Márcio! Então, olhei e deixei de “molho” lá no ateliê de Faria Lemos. Muitas ideias vindo e indo… Já era linda cada folhinha do calendário… Estava tudo pronto! Aí, um dia, lá em Faria Lemos, comecei a riscar, rabiscar, interagir, intervir nas folhinhas! Ora, ora… calendários Ikebana… folhinhas prontas. Elas me encantaram. Assim, botei, gravei, desenhei nelas os meus encantos! Foi uma delícia que levei a sério como trabalho, partindo da ideia de intervenção.

 

Ao começar cada trabalho, já estou embebida de cores, sabores, formas de flores arranjadas de um jeito singular! Um desafio que dá frio na barriga… Vou escolhendo as cores dialogantes, vou me estendendo no arranjo, até arranjar o arranjo do meu desejo! No meu trabalho, com meu trabalho, quero repartir alegria, quero repartir harmonia, indicar um lugar mais bonito pra olhar e se lambuzar de cor, linha e forma. Coisas bonitas pra olhar com “olhos de ver”, coisas pra nos puxar para o alto, coisas pra dar um salto, pra poder sempre ver, sempre admirar a vida no prumo da natureza, das flores com suas cores e formas! Fazer para poder sonhar no tumulto cotidiano, no avesso da pátria nossa, no avesso das coisas que são feitas sem nosso olhar, sem nossa participação! Quem dá atenção pra arte neste tumulto cotidiano? Quem consegue parar pra ver a singularidade e a exuberância de uma flor, de um vaso de flor, de um canteiro, de um jardim? Pois eu gostaria que todos pudessem se permitir olhar para o encanto das flores! Flores a todos, arranjadas de um modo singular! Sou assim, Téti flor e cor! Intervenções feitas nas flores arranjadas!

Fluctuations

A BOSSA Gallery – Fine Art Photography, Design District, Miami, FL, EUA, inaugura a partir deste sábado, dia 08, exposição “Fluctuations”, de Flavia Junqueira e George Goodridge, com curadoria de Liliana Beltran. A presença ambígua de conceitos opostos é frequente na obra dos dois artistas, como ordem e desordem, natureza e criação, restrição e excesso, mecânico e orgânico. Ambos dividem um interesse particular pelo espaço e abordam a ideia de que “arte é uma ilusão da espontaneidade”. Em “Fluctuations”, aproximam-se as contradições e dualismos refletidos em um sonho, um enigma, uma ideia de paisagem, um impulso, um sentimento a ser percebido.

 

Marcos Moraes, acerca do trabalho de Flavia Junqueira, diz que “…o processo de gesticular, deliberadamente, é usado na construção das imagens como um meio de esconder a relação habitual e corriqueira com o espaço e com objetos, propondo, pela repetição, acumulação ou até mesmo pelo excesso, cativar e envolver na atmosfera muitas vezes quente e convidativa da casa e, em particular, da festa: um momento de celebração, de alegria e felicidade. Esse sentimento generalizado, em relação ao espaço e ao momento específico – da festa – é reforçado pela presença de objetos que estão presentes na vida diária de cada um de nós, e isso abriga nossas memórias da infância quando nos referimos aos balões, brinquedos, objetos, decorações, vestimentas e especialmente o “clima festivo” que evocam”.

 

As esculturas de George Goodridge adquirem vida própria; elas mudam, se adaptando aos vários momentos de interação com o espaço. Não há barreiras para suas esculturas criativas e lúdicas. Em seus trabalhos “Cooperative Kinects” e “Character Studies”, o artista parte para uma simplificação formal. Marcada pela proliferação de círculos em que conjuntos de tonalidades, de maiores e menores dimensões, de movimentos combinando dentro e fora, se referem à forma primordial, o círculo, representação do nascimento, da união, da junção, da comunhão entre o macro e o micro. A impregnação deste elemento diz respeito ao caminho natural que corre em direção à forma genuína, que é, idealmente, a mais simples de todas, criada precisamente pelo equilíbrio, homogeneidade, regularidade e simetria. Em seguida, este equilíbrio, alcançado pela combinação de formas diferentes, começa a ser desafiado e transformado em sua psicodélica visão imagética.

 

 

 

Sobre os artistas

 

 

Flavia Junqueira

Doutoranda no curso de Pós Graduação do Instituo de Artes da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), Mestre em Poéticas Visuais pela Universidade de São Paulo (USP) e Bacharel em Artes Plásticas pela Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP), integrou o projeto do programa de residências da Izolyatsia’s Platform for Cultural Initiatives na cidade de Donestk na Ucrânia com curadoria de Boris Mikailov, participou da residência Cité Internationale Dês Arts em Paris através de bolsa contemplada pela FAAP, integrou em 2010 o Programa PIESP da Escola São Paulo e atuou como assistente de cenografia no Espaço Cenográfico de São Paulo de J.C.Serroni. Entre os principais projetos e exposições coletivas que participou destacam-se, Culture and Conflict: IZOLYATSIA in Exile. Palais de Tokyo, The World Bank Art Program, Kaunas Photo festival, Exposição Individual “Tomorrow i will be born again” na Cité Dês Arts, coletiva una mirada latino americana do projeto Photo España, Temporada de Projetos Paço das Artes, Prêmio Energias na Arte no Instituto Tomie Otahke, Programa Nova Fotografia- MIS, Concurso Itamaraty, Residência RedBull House of Art, Atêlie Aberto da Casa Tomada, entre outros. Algumas de suas obras integram o acervo de museus e espaços culturais como: MAM-SP, MIS-SP, MAB-FAAP, Museu do Itamaraty, Instituto Figueiredo Ferraz, RedBullStation entre outros.

 

George Goodridge

Graduado da Escola de Artes Visuais de Nova York, frequentou a Escola de Arte do Instituto de Chicago. Atuou como consultor técnico sênior no Instituto Escola de Arte e ensinou técnicas visuais na Escola de Artes Visuais em Nova York. Seu trabalho foi representado em inúmeras galerias, museus e coleções corporativas. Foi recentemente apresentado na Syndicated News Network, na revista LandEscape Art Review, WhiteHot Magazine of Contemporary Art, Art Vetting, The Examiner, em vários artigos do The Miami Herald, Art South Florida, Xs Magazine, New Times Magazine, Tropiculture Magazine e em várias transmissões para PBS. Suas pinturas tridimensionais são apoiadas pelos estudos prévios do artista em reconstrução geométrica, pintura tridimensional e instalações conceituais.

 

 

Sobre a BOSSA Gallery – Fine Art Photography

 

BOSSA é a primeira galeria de arte em Miami especializada em fotografia brasileira de alta qualidade. Localizada no Design District, BOSSA soma ao desenvolvimento artístico local sua produção contemporânea de novos nomes da fotografia, colaborando com a expansão de suas carreiras no mercado internacional. A galeria representa fotógrafos brasileiros reconhecidos, bem como os novos nomes, junto com artistas do mercado norte-americano, buscando criar um diálogo entre os dois mercados. A missão da BOSSA é de atuar como uma plataforma para promoção e divulgação da vibrante produção fotográfica contemporânea de artistas brasileiros, ampliando seu alcance internacional. Com um sólido programa conceitual desenvolvido em parceria com curadores convidados, a BOSSA apresenta seus artistas em exposições elaboradas, ao mesmo tempo em que uma série de palestras e conversas ministradas no espaço aproximam o público a um contato íntimo e direto com o trabalho do artista. Vernissages e eventos especiais, permitem aos colecionadores – novos e estabelecidos – uma visão mais intima tanto à carreira do artista como a trajetória da galeria.

 

 

Até 08 de setembro.

Coleção Fundação MAPFRE

Desde seus inícios, as coleções de desenhos da Fundação MAPFRE estiveram marcadas por grande interesse em revelar o nascimento da modernidade. A seleção que o Museu Lasar Segall, Vila Mariana, São Paulo, SP,  apresenta, abrange o período compreendido entre finais do século XIX e meados do XX, precisamente o momento em que o desenho ainda vive sua dupla condição. Se, por um lado, é um meio criativo para a execução final de outras obras, ao mesmo tempo mostra sua independência, como arte plena e suficiente em si mesma.

 

Assim sucedia já nos desenhos de Rodin e Klimt, que os próprios artistas incluíam em suas exposições, nas do primeiro Picasso e nas de Henri Matisse; na ironia de George Grosz, em que a mulher se converte em protagonista e nos fala dos diversos caminhos da crítica e da sátira no seio da pintura europeia. Mas também naqueles que, co0m um espírito plenamente vanguardista, nos introduzem nas tendências mais avançadas da arte contemporânea: o próprio Picasso, Juan Gris, Alexander Achipenko ou Moholy Nagy, presentes nesta exposição. Também o dadaísmo de Charchoune, Picabia ou Schwitters, que chega ao surrealismo através da obra de Joan Miró, Salvador Dalí ou Óscar Domínguez. Um surrealismo que, a partir do círculo parisiense de André Breton, permanece na cultura espanhola durante muitos anos, tal como vemos nas formas puras e primitivas de Julio González ou de Alberto (Sánchez), nas primeiras obras de Tàpies.

 

Na segunda metade do século XX, o limite entre os gêneros artísticos parece diluir-se em um universo criativo que mescla o desenho com a pintura, a escultura com a ação e a arquitetura. Um exemplo dessa atitude encontra-se no desenho de Eduardo Chillida incluído na exposição, que combina a qualidade do desenho propriamente dito com as qualidades escultóricas do ferro e da madeira. O caminho para a Coleção nos conduziu a uma perspectiva diferente: não o desenho tradicional, agora uma obra da qual o desenho participa.

 

 

Artistas presentes na exposição Tesouros da coleção da Fundação MAPFRE – obras sobre papel:

 

Albert Gleizes | Alberto Sánchez | Alexander Archipenko | André Lhote | Antoni Tàpies | Auguste Rodin | Daniel Vázquez Díaz | Darío de Regoyos | Edgar Degas | Eduardo Chillida | Sir Edward Coley Burne-Jones | Egon Schiele | Fernand Khnopff | Francis Picabia | Francisco Bores | George Grosz | Gustav Klimt | Henri Matisse | Isidre Nonell | Joaquim Sunyer | Joaquín Torres García | Joan Miró | José Caballero | Juan Gris | Juan Ponç | Julio González | Kurt Schwitters | László Moholy-Nagy | Luis Fernández | Lyonel Feininger | Maruja Mallo | Óscar Domínguez | Pablo Picasso | Paul Klee | Rafael Barradas | Remedios Varo | Salvador Dalí | Serge Charchoune | Sonia Delaunay.

 

 

 Até 28 de agosto.

“Urbanizia”

10/jul

“Urbanizia” foi o termo criado por sete artistas visuais atuantes no cenário artístico contemporâneo carioca, a partir de leituras e debates. Focando na poética urbana dos sintomas do mundo contemporâneo, eles apresentam cerca de 40 trabalhos inéditos, ocupando as galerias do 2º andar do Centro Cultural da Justiça Federal, Centro, Rio de Janeiro, RJ, com abertura no dia 18 de julho. Sob a curadoria de Isabel Sanson Portella e Jozias Benedicto, os artistas Benjamin Rothstein, Danielle Cukierman, Flávio Santoro, Henrique Kalckmann, Luciana Gaspar, Milena Soares e Rosana Diuana (ex-alunas de pintura na Escola de Artes Visuais do Parque Lage). Está prevista uma visita guiada e lançamento do catálogo no dia 02 de setembro.

 

Para o enfrentamento da temática urbana, alguns deles optaram por extrapolar os limites da pintura, do suporte ou da escala, enquanto outros ousaram em outras mídias, e todos aqui mostram suas pinturas, instalações, vídeos e objetos – como o painel multifacetado que se tem ao percorrer as vitrines de um centro urbano. “A mostra “Urbanizia” traz um olhar contemporâneo sobre quem vive nas cidades e é afetado, envolvido e modificado pelas questões do cotidiano e do convívio social em suas mais diversas nuances e sutilezas. Em um mundo em rápida mutação, vivemos e captamos o tempo todo flagrantes da vida onde a velocidade e a fragmentação dos fenômenos, a “erraticidade”, o voyerismo, a solidão urbana, o frenesi do consumo nos afeta, envolve e modifica”, diz Isabel Sanson Portella, curadora.

 

A ideia dos artistas é envolver o espectador nesta teia e levá-lo a viver com eles a experiência urbana através da arte: “Desafiados a pensar em um projeto comum para esta exposição, os artistas levaram seu foco para a urbanidade contemporânea, chegando a criar neologismos como ‘Urbanizia’ – que ficou como o título da mostra – e “urbanêur”, que seriam os homens e mulheres imersos na vida das metrópoles. A partir deste núcleo comum os artistas expressaram, com suas poéticas, interpretações do tema urbano, visões particulares mas ao mesmo tempo partes do plano coletivo da exposição, falando desta realidade que nos marca profundamente, quando as promessas do iluminismo e do moderno se revelaram armadilhas”, afirma Jozias Benedicto, que também assina a curadoria da mostra.

 

 

OS ARTISTAS E SUAS PROPOSTAS

 

Em seu trabalho atual, Benjamin Rothstein procura, principalmente, falar do tempo, do nosso tempo e de um outro tempo, com novas roupagens, através de uma conjugação de imagens históricas ou não, mas colocadas para incomodar o observador. Em suas últimas criações, mais ligadas às cidades, o artista mostra um pouco das relações humanas sob a égide urbana atual e suas pressões.

 

Danielle Cukierman estuda os excessos do mundo, como tecnologia, consumo, lixo… Fósseis de um tempo de urgência. Seus trabalhos são compostos de diferentes planos e suportes, que originalmente envolvem, embalam ou carregam coisas, mas que agora estão esvaziados e obsoletos. Usa também materiais populares e de uso cotidiano. Danielle apresenta o objeto original transformado, dando a ele nova oportunidade de existir e/ou novo significado.

 

Flávio Santoro pretende demonstrar, através dessa exposição, as impressões emocionais e racionais, conscientes ou não, da condição de Ser Urbano. Utilizando colagens e pintura, o artista busca imprimir a urgência, a efemeridade, e por que não, a beleza da capacidade de mutação e adaptação do homem em seu desafio atual no mundo.

 

Nos trabalhos de Henrique Kalckmann a figura serve de suporte para uma proposta plástica, reflexo de sensações. A ideia para a produção dos trabalhos se inicia, preferencialmente, com fotos captadas nas ruas, em qualquer cidade que ele esteja. Na seleção da foto, o artista busca a escolha do que pode ser a síntese de uma cena que está acontecendo. A dimensão das telas é parte importante da composição e construção de um significado.

 

Luciana Gaspar tem obras que remetem a construção, estrutura e urbanidade – um universo onde as formas se relacionam. Trabalhando com uma geometria inquieta, construindo uma arquitetura aleatória de fragmentos, traz uma estruturação num clima essencialmente urbano, através de um jogo de encaixes numa abstração de formas partidas. São espaços labirínticos que querem envolver, mas que também permitem o escape. Nessa trama de formas, nesse labirinto de redes neurais, a artista explora relações da parte e do todo e de continuidade e descontinuidade.

 

Milena Soaraes parte de fotos da internet e fotos da performance “Puxar Pele”, da artista Juliana Ribeiro Wähner, inserindo fragmentos dessas imagens no contexto da sua pesquisa sobre relacionamentos na era das redes sociais, levantando algumas questões da contemporaneidade. A artista indica que no meio de tanta complexidade, os prazeres mais simples e primitivos acabam por se revelar uma forma de epifania. Suas pinturas trazem pouco espaço para o corpo humano (ou o que resta dele) se expressar, insinuando a existência de várias neuroses.

 

Rosana Diuana parte de um processo investigativo sobre o universo intimo de cada individuo. A artista retrata o mundo do “ser” sexual ao invés do “dever ser”, separando-o do que cotidiano impõe por meio das limitações morais, religiosas e éticas. Através da pintura e de outros meios, a artista apresenta algumas experiências sensoriais e sexuais vividas de forma oculta por parte significativa da sociedade. Da deglutição do fruto proibido, da cegueira que se descortinou para um mundo repleto de estímulos, a essência da libido, a busca pelo prazer sexual fora do que é moralmente aceito é o foco de seu trabalho.

 

“Urbanizia”

 

Artistas visuais atuantes no cenário artístico contemporâneo apresentam obras inéditas a partir da temática urbana.

 

 

De 18 de julho a 03 de setembro

Burle Marx na Alemanha

06/jul

Roberto Burle Marx (1909-1994) foi um homem renascentista do século XX: arquiteto paisagista, pintor, escultor, set designer, ativista ambiental. Projetou, durante sua longa carreira, mais de 2.000 jardins ao redor do mundo e, em expedições, descobriu quase 50 novas espécies de plantas. Ao mesmo tempo, criou objetos independentes de extraordinária beleza. Em seu país natal, o Brasil, Burle Marx, juntamente com os arquitetos Lúcio Costa e Oscar Niemeyer, é reverenciado como pioneiro no Modernismo Brasileiro. Seus projetos para a capital Brasília e, acima de tudo, para o Rio de Janeiro, tiveram um impacto duradouro sobre essas cidades. Ainda hoje, sua arquitetura de paisagem revolucionária, orientada para a pintura abstrata, gozam de repercussão internacional, porém uma boa parcela de sua obra, no entanto, é praticamente desconhecida.

 

Após sua estréia no The Jewish Museum de Nova York em 2016, a mostra “Roberto Burle Marx: modernista brasileiro” está agora em exibição no Deutsche Bank KunstHalle, Berlin, Alemanha. A exposição ilustra a gama completa de sua produção artística, vista pela primeira vez na Alemanha, e apaga as fronteiras entre as diferentes mídias e disciplinas. Isso é documentado sobretudo pelas aquarelas e desenhos de Burle Marx para desenhos urbanos e paisagísticos que abrem a exposição, por exemplo, para o jardim do telhado projetado em 1938 para o Ministério da Educação e Construção da Saúde erigido por Niemeyer, Lucio Costa Costa e Le Corbusier; O Parque do Flamengo no Rio de Janeiro (1961) e o mundialmente famoso pavimento ondulado da Avenida Atlântica (1970) em Copacabana. Muitos desses projetos são semelhantes à arte abstrata e ressoam com as obras de arte contemporâneas apresentadas na exposição, como a pintura de 2003 da artista brasileira Beatriz Milhazes. Para ilustrar a influência artística de Burle Marx, seus trabalhos entram em diálogo com obras de artistas internacionais contemporâneos. Entre eles estão Juan Araujo, Paloma Bosquê, Dominique Gonzalez-Foerster, Veronika Kellndorfer, Luisa Lambri, Arto Lindsay e Nick Mauss.

 

Quando o jovem Burle Marx viajou para Berlim procedendo do Rio de Janeiro com sua família em 1928, a capital alemã era um laboratório de modernismo. Neste momento, há muito tempo já conhecia a cultura alemã. Seu pai, Wilhelm Marx, um judeu alemão, imigrou para o Brasil de Trier, na Alemanha, no final do século XIX. O amor pela ópera e arte alemãs estava profundamente enraizado na família próspera e educada. Outro foco da exposição, portanto, é a metrópole de arte e cultura de Berlim, que impressionou, influenciou e ocupou continuamente Burle Marx. Por exemplo, pouco antes de sua morte ele criou um projeto para a Rosa-Luxemburg-Platz que não foi realizado.

 

Na Berlim da República de Weimar, Burle Marx resolveu ser artista e arquiteto paisagista. Suas visitas à coleção de arte moderna no Kronprinzenpalais, onde viu obras de expressionistas alemães e Van Gogh, contribuíram para sua decisão. Mas ele fez outra descoberta: nas estufas do Jardim Botânico em Dahlem, reconheceu a beleza da flora brasileira: os filodendros, bromélias e nenúfares que foram ignorados nos jardins brasileiros, mas cultivados com carinho aqui. “Odeio a ideia de que um arquiteto paisagista só deveria conhecer as plantas”, disse o artista décadas depois. “Ele também tem que saber o que é Piero della Francesca, o que constitui um Miró, um Michelangelo, um Picasso, um Braque, um Léger”.

 

Como é aparente nos estudos de plantas de Burle Marx e desenhos iniciais, pinturas e projetos de jardins, seu caminho, tanto nas artes visuais quanto na arquitetura paisagística, o conduziram à abstração. Em seus projetos de jardins, ele transferiu imagens bidimensionais para três dimensões. Enquanto a arquitetura da paisagem brasileira convencional ainda estava orientada para o design do jardim Belle Époque europeu, e flores e plantas eram importadas do exterior, Burle Marx trabalhava exclusivamente com a flora doméstica. Ele estava principalmente interessado nas formas, texturas e cores das folhas, o artista optou muito claramente pela cor, massa e superfície, por fortes contrastes, formas sinuosas e quadradas, campos geométricos.

 

No decorrer da exposição, os aspectos arquitetônicos e artísticos de sua carreira, inextricavelmente entrelaçados, são documentados repetidamente. As formas abstratas em seus projetos para jardins privados e praças públicas se refletem nos princípios de design, na pintura, e na arte aplicada de Burle Marx. Além das pinturas abstratas, cerâmicas, jóias, conjuntos de palcos e figurino são apresentados. Mostram como ele casou seu amor com as tradições brasileiras e com o modernismo europeu. Isso é aparente nas versões abstratas dos azulejos que ele usou nas paredes e na construção de paredes.

 

Burle Marx não era apenas um inovador, mas também um conservador e colecionador. Em sua propriedade de 365.000 m², uma antiga plantação de café perto do Rio de Janeiro, cultivou uma das maiores coleções mundiais de plantas tropicais. O Burle Marx Landscape Studio foi fundado por Roberto Burle Marx em 1955. Depois da morte do artista, Haruyoshi Ono – seu parceiro de negócios e parceiro criativo por mais de 30 anos – continuou seu legado por mais de 20 anos liderando o Estúdio, tornando-se responsável pelo desenvolvimento criativo de novos Projetos de escritórios e jardins. Esta exposição foi possível por causa de seu excelente trabalho e apoio. Mostramos aqui sua última entrevista para um programa brasileiro de arquitetura bem conhecida, chamado “Casa Brasileira”. Ono faleceu em janeiro de 2017. Perpetuou o legado artístico da paisagem de Roberto Burle Marx, tendo sido responsável pelo Landscape Studio e sua coleção por mais de 20 anos após a morte de Roberto Burle Marx.

Por Oskar Metsavaht

04/jul

O Museu da Imagem e do Som, Jardim Europa, São Paulo, SP recebe a instalação multimídia “Soundtrack por Oskar Metsavaht. Em um singular projeto, o artista plástico Oskar Metsavaht assumiu o olhar do personagem Cris, vivido por Selton Mello, e traz para a realidade o projeto final de Cris que teria ficado no universo cinematográfico. A mostra faz um percurso estreito e cada imagem é exibida junto a um headphone, onde é possível ouvir exatamente o que o personagem do longa, um artista e fotógrafo, ouvia no momento de seus próprios retratos.

 

“Nesta mostra, o artista Oskar Metsavaht nos dá a sua experiência de despersonalização. Cris é ele. Ele é Cris. Esta exposição é exatamente a que o personagem Cris teria feito no filme”, explica Marc Pottier, curador da mostra. “Soundtrack é uma instalação, um caminho labiríntico íntimo, pontilhado com uma série de autorretratos em pequenos formatos e fones de ouvido que convidam o público a mergulhar no mundo de Cris”, completa.

 

Na trama, Cris (Selton Mello) mergulha num projeto de autorretratos e captação de sons numa fictícia estação polar de pesquisas. O lugar inóspito e o estado emocional do personagem transbordam para as imagens conforme Cris ouve as músicas que selecionou para cada shooting. O trailer do filme está exibido em looping na montagem e a estreia nos cinemas, marcada para 06 de julho.

 

 

Sobre o artista

 

Oskar Metsavaht é uma personalidade essencialmente criativa. Natural de Caxias do Sul, RS, filho de pai médico e mãe professora de Filosofia e História da arte, ao longo da vida tratou de mesclar um pouco das duas heranças. Médico de formação, sempre manteve o hábito da fotografia. O lado estilista e diretor de arte nasceu quando fundou a Osklen e a colocou no mapa das maiores marcas de moda do país e de reconhecimento internacional.

 

Designer autodidata, Oskar Metsavaht usa a fotografia para registrar tudo aquilo que o inspira para seus projetos. O exercício com as imagens impulsionou o progresso do seu trabalho artístico individual e aflorou uma profissionalização que não tardou.

 

Oskar realizou sua primeira exposição individual, intitulada “Ipanema”, durante a Miami Art Basel, apresentado por Sue Hostetler e Vik Muniz em 2011. De lá pra cá, diversas exposições coletivas e individuais encorpam sua biografia artística que passam por instituições e eventos como a exposição coletiva “Madeby…Feito por Brasileiros”, no Cidade Matarazzo em São Paulo; na “Ocupação Mauá”, durante a ArtRio; no Arte Clube Jacarandá na Miami Art Basel; com individual no Museu Histórico da Cidade do Rio de Janeiro; dentre outras. Duas de suas obras, uma pintura e uma videoinstalação, foram selecionadas para fazer parte das coleções do MAR (Museu de Arte do Rio) e do Museu Histórico da Cidade.

 

Exposição / Cinema

 

De 21 de junho a 16 de julho.

Relações de afeto

30/jun


Será inaugurada no dia 08 de Julho, sábado, às 18 horas, a exposição “AFÉTO”, de Roger Cipó, curadoria de Marco Antonio Teobaldo, na Galeria Pretos Novos de Arte Contemporânea, Rua Pedro Ernesto, 32, Gamboa, Rio de Janeiro, RJ. Em sua primeira exposição individual, o fotógrafo volta toda a sua atenção para as relações de afeto constituídas dentro dos terreiros de Candomblé, a partir de sua experiência como iniciado na religião.

 

Depois de percorrer dezenas de terreiros no estado de São Paulo, Cipó foca sua pesquisa no Asè Iya G’unté, localizado em Juquitiba, onde percorreu pelas rotinas mais comuns de seus adeptos, até às mais complexas. As imagens reveladas apresentam a interação dos fiéis entre si, como uma família ao redor de suas obrigações, e, durante as cerimônias, quando os orixás manifestam seu afeto por meio de seus sacerdotes.

 

De acordo com o artista, mais que um registro documental sobre um aspecto específico do Candomblé, o trabalho reitera a importância das relações interpessoais como forma de resistência da cultura afro-brasileira. O resultado da mostra se amplifica quando exibida sobre o sítio arqueológico do Cemitério dos Pretos Novos, dentro da programação do festival de fotografia FotoRio.

 

A Galeria Pretos Novos de Arte Contemporânea tem acolhido dentro de sua programação, diversas temáticas de exposições de artes visuais, realizadas por artistas do Rio de Janeiro e de outras localidades. A partir de pesquisa realizada pelo curador do espaço, Marco Antonio Teobaldo, os artistas convidados apresentam livremente suas propostas, tendo como ponto de partida as suas percepções acerca do ambiente expositivo e a importante história que ele abriga. Esta experiência tem superado expectativas e trazido excelentes resultados, que se refletem na crescente visitação que o espaço vem recebendo, desde a sua inauguração e o Prêmio Ações Locais, concedido pela prefeitura.

 

A coordenação geral é de Merced Guimarães dos Anjos. A exposição é uma produção da Quimera Empreendimentos Culturais, impressão do Estúdio Print em paraceria com a FotoRio. Uma realização do IPN.

 

 

De 11 de julho a 02 de setembro.

5 artisti brasiliani geometrici

28/jun

A Um Galeria, da marchand Cassia Bomeny, Ipanema, Rio de Janeiro, RJ, inaugurou a exposição “5 artisti brasiliani geometrici”, com cerca de 20 obras recentes e inéditas, dentre esculturas e pinturas, dos artistas Luiz Dolino, Manfredo de Souzanetto, Maria-Carmen Perlingeiro, Rodrigo de Castro e Suzana Queiroga. Com curadoria de Luiz Dolino, a mostra traz uma seleção de obras de artistas ligados à linguagem geométrica e seguirá ampliada para Roma, Lisboa, Basel e Bolonha.
“O eixo central do argumento se sustenta na vontade de exibir cinco artistas que se aproximam e se tornam íntimos, sem prejuízo da singularidade de suas escolhas diante do ilimitado da expressão. A Geometria – geom, tudo aquilo que em Matemática se ocupa do estudo do espaço e das figuras que podem ocupa-lo – é, na largada, o polo que nos une. O rigor formal permeia o sonho, constrói e desconstrói. Há uma arquitetura que se impõe, que edifica; mas há também uma ordem que deforma, implode, desmonta”, afirma o curador Luiz Dolino.
Rodrigo de Castro e Luiz Dolino apresentarão pinturas inéditas. Esses dois artistas “…perseguem mais de perto a rota euclidiana – exploramos figuras que não possuem volume”, explica o artista e curador Luiz Dolino, que ressalta uma diferença: “Rodrigo ousa dizer que está sempre em busca da cor que melhor se ajuste ao seu propósito. Do meu lado, sou mais direto, cético. Preciso tão somente de quatro cores”, diz.
Manfredo de Souzanetto apresentará obras “…onde a fragmentação do suporte, os pigmentos naturais de terras brasileiras e a construção da forma determinam o dinamismo da obra no espaço”, conta o artista. Para o curador, vem da obra de Manfredo “…o privilégio atribuído à presença do objeto que, antes de tudo, nos surpreende. Mais ainda talvez, nos assusta e perturba com sua arritmia. Extasiamo-nos diante da permanente proposta que visa a recomposição de um imponderável puzzle. Leva e traz. Diz e contradiz. Dialeticamente se impõe: cheios e vazios. O impasse enganoso conduz o nosso olhar para periferia irregular. A percepção sofre reveses. A catedral se estrutura e abriga uma arquitetura arquetípica”.
Maria-Carmen Perlingeiro apresentará uma série de esculturas composta por pedras Mica, colocadas em painéis de acrílico, que parecem flutuar no espaço.  “Prismas, cones, segredos, luz e pedra, ouro, são palavras de ordem na compulsão criativa dessa artista que, por meio de delicada magia, impõe expansões da própria forma”, afirma o curador.
Suzana Queiroga também apresentará esculturas. “A experiência proposta ao espectador modifica a sua percepção e promove a expansão dos sentidos, do espaço e do tempo”, diz o curador.
Itinerância Internacional 
A partir do dia 02 de novembro no Palazzo Pamphilj, em Roma, em parceria com a produtora italiana ATRIVM. A itinerância da mostra seguirá no próximo ano para a Fundação Medeiros e Almeida, em Lisboa, Portugal, para a Brasilea Stiftung, em Basel, na Suiça, e para Bolonha, na Itália.
Sobre os artistas
Luiz Dolino nasceu em Macaé, RJ, 1945. Vive e trabalha no Rio de Janeiro. Dentre suas exposições mais recentes estão a mostra no Espaço Cultural da UFF (2016); no Centro Cultural de Montes Claros (2015); na Galeria Marcantonio Vilaça, em Bruxelas, no ARTMARK, em Viena e na Casa-museu Medeiros e Almeida, em Lisboa (2014). Destacam-se, ainda, as mostras na Jordania Cultural Center (2013); no CCBB Rio e Brasília (2012); no Museum of Young Art, em Viena, no SEGIB, em Madri, no Palácio Maldonado, em Salamanca, no Museu Nacional da Costa Rica e no CCBB Rio, ambas em 2008. Em 2007, expôs na Caixa Cultural de Curitiba e no CCBB Rio, entre muitas outras.
Manfredo de Souzanetto nasceu em Jacinto, MG, 1947. Vive e trabalha no Rio de Janeiro. Estudou arquitetura no Brasil e artes plásticas no Brasil na França. Dentre suas exposições individuais destacam-se a retrospectiva no Paço Imperial (2016), as mostras na Stiftung  Brasilea (2013), na Suíça, no Museu Nacional de Belas Artes (2010), no Centro de Arte l’Espal em Le Mans, na França, Kulturtorget em Stavanger, na Noruega (2007), a panorâmica de sua obra no Centro Cultural Correios, na Caixa Cultural em Brasília e no Palácio das Artes, em Belo Horizonte (2006), a mostra no Instituto Moreira Salles (2005/2006), no Musée National de la Porcelaine Adrien-Dubouché (2000), no Centro de Arte Moderna da Fundação Gulbenkian (1994), no MAM Rio (1982), entre outras.
Maria-Carmen Perlingeiro nasceu no Rio de Janeiro, 1952. Vive e trabalha em Genebra. É escultora e seu material de predileção ė o alabastro. Dentre suas exposições individuais destacam-se “Sculpture et rayonnnement”, na Simon Studer Art, em Genebra (2016), as realizadas em Basel (2015), no MAM Rio (2012), na Pinacoteca Cívica de Volterra (2008), na Itália, no Espace Topographie de l’art, em Paris (2007), na França, no Museu da Chácara do Céu (2007), no Paço Imperial (2006) e no CCBB (1999), ambas no Rio de Janeiro, entre outras.
Rodrigo de Castro nasceu em Belo Horizonte, MG, 1953. Vive e trabalha em São Paulo. Filho do escultor Amilcar de Castro, iniciou sua carreira na década de 1980. Premiado no 11º Salão Nacional de Artes Plásticas, Funarte, no Rio de Janeiro e agraciado com o Prêmio Principal, no 13º Salão de Arte de Ribeirão Preto, Rodrigo de Castro participou de diversas mostras individuais e coletivas, no Brasil e no exterior, entre elas, uma exposição no MAM Rio, na década de 1990. Sua mais recente exposição foi na Um Galeria, em maio deste ano.
Suzana Queiroga nasceu no Rio de Janeiro, 1961. Vive e trabalha no Rio de Janeiro. Estudou na Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro e no MAM Rio. Em 2002, concluiu o Mestrado em Linguagens Visuais pelo Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais, na UFRJ. Atualmente, expõe no Museu Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro, e é uma das finalistas do Prêmio Marcantonio Vilaça. Recebeu o Prêmio Aquisição na XVIII Bienal da Cerveira, Portugal (2015), o 5º Prêmio Marco Antônio Villaça (2012) e o 1º Prêmio Projéteis de Arte Contemporânea da Funarte (2005). Participou da exposição Como Vai Você, Geração 80?, na Escola de Artes Visuais do Parque Lage (1984).
Sobre a galeria
Fundada pela colecionadora Cassia Bomeny, a Um Galeria foi inaugurada em dezembro de 2015, com o objetivo de apresentar arte contemporânea, expondo artistas brasileiros e internacionais. Trabalha em parceria com curadores convidados, procurando elaborar um programa de exposições diversificado. Tendo como característica principal oferecer obras únicas, associadas a obras múltiplas, sobretudo quando reforçarem seu sentido e sua compreensão. Explorando vários suportes – gravura, objetos tridimensionais, escultura, fotografia e videoarte. Com esse princípio, a Um Galeria estimula a expansão do colecionismo, com base em condições de aquisição, bastante favoráveis ao público. Viabilizando o acesso às obras de artistas consagrados, aproximando-se e alcançando um novo público de colecionadores em potencial. A galeria também abre suas portas para parcerias internacionais, com o desejo de expandir seu público, atingindo um novo apreciador de arte contemporânea, estimulando o intercâmbio artístico do Brasil com o mundo.
Até 09 de agosto.

Tunga Interview  

Interview ímpar de Tunga pela psicanalista Ruth Chindler

Data: Sábado, 08 de julho, ás 19hs.

Local: Biblioteca Mario de Andrade, Rua da Consolação, 94, Centro, São Paulo, SP.

“TUNGA o espaço é do artista”

 

Direção: Ruth Chindler

Filmagem: Mario Caillaux

Edição: Mario Caillaux e Ruth Chindler

 

O grande artista Tunga, falecido em 2016, nos entrega as chaves preciosas para o entendimento da sua obra e nos deixa ver o lado mais luminoso

da sua personalidade nesta abrangente conversa com a psicanalista Ruth Chindler.

Filmada no “espaço psicoativo” do artista, ao pé da Pedra da Gávea, no Rio de Janeiro, em dezembro de 2014, a entrevista foi editada com trechos

das suas performances e imagens da sua obra e da sua vida.

 

 

A palavra de Cordelia de Mello Mourão

 

“Estarei lá em São Paulo, ao amável convite de Charles Cosac, editor de tantos livros incríveis, em particular Barrocos de Lírios e a “Caixa Tunga”, que cuidou de maneira adorável do nosso herói durante o ano trágico da sua partida, tendo com ele também belíssimas conversas.

Será uma alegria acompanhar a grande amiga dos artistas Ruth Chindler, que foi em todas as documentas e “venues”, aquela que Tunga chamava para mostrar a ultima obra e/ou confiar suas ânsias, a fada ruiva que oferece ao mundo uma tarde com Tunga, em tão boa companhia que ele nos diz coisas que ele mesmo fica emocionado de ter dito”.

 

Esperando lhes ver dia 8, mando um grande abraço!

Cordelia

No Instituto Tomie Ohtake

21/jun

A mostra inédita, organizada e realizada pelo Instituto Tomie Ohtake, Pinheiros, São Paulo, SP, sob a curadoria de Paulo Herkenhoff, coloca em destaque a produção e a trajetória de diversas mulheres que desafiaram convenções e limites de suas épocas, nos séculos XIX e XX no Brasil, seja no campo estético ou social. “Invenções da Mulher Moderna, Para Além de Anita e Tarsila” é o resultado de uma extensa pesquisa que o curador Paulo Herkenhoff desenvolve há décadas, alimentada pela contínua reflexão sobre a obra de diversas mulheres artistas brasileiras. Esta mostra, portanto, desdobra o já conhecido comprometimento de Herkenhoff com o registro histórico da produção feminina e com a reflexão teórica sobre suas invenções.

 

Para a exposição, com cerca de 300 obras, além de fotos e documentos, o curador toma como referência dois pilares do modernismo no Brasil, Anita Malfatti e Tarsila do Amaral, e apresenta novos apontamentos sobre suas obras e histórias. Em torno dessas referências, a maior parte das obras e das narrativas presentes na exposição vai mais longe, e apresenta mulheres que são em sua maioria desconhecidas do grande público.

 

Entre mostra e catálogo, o curador não pretende organizar um dicionário/glossário de nomes e imagens, muito menos construir uma grande narrativa completa e acabada, mas situar de maneira historiográfica e crítica diversas personagens que complementam e transformam a história da cultura e da arte no país.

 

Assim, ao invés de uma narrativa linear, a mostra elege diversos núcleos, que se distribuem como uma rede ou uma constelação. Núcleos heterogêneos são estabelecidos e dão visibilidade a questões e temas relevantes, que abrangem tanto dados históricos e factuais quanto tentam evidenciar a subjetividade das artistas escolhidas. As invenções, como sugere o título, dizem respeito às criações dessas mulheres e também à construção da imagem da mulher que foi sendo aberta e lapidada ao longo dos séculos XIX e XX. Além de seu pioneirismo, essas personagens têm em comum o enfrentamento de tensões e conflitos de diversas ordens.

 

Em “Mulheres de Vassouras” – trocadilho entre as mulheres e a cidade carioca que foi polo do café do século XIX e de revoltas de escravos – estão: retratada em pintura anônima, Eufrásia Teixeira Leite (1850 – 1930), intelectual que se relacionava com Joaquim Nabuco e se notabilizou por libertar seus escravos e por seus atos de filantropia; registros da prisão, oriundos do Arquivo Nacional, de Mariana Crioula, negra, casada com o quilombola Manoel Congo e que, ao seu lado, participou da maior fuga de escravos ocorrida em 1838; e obra de Abigail de Andrade (1864 – 1890, França) que, segundo o curador, foi uma das primeiras a executar no Brasil as chamadas pinturas de gênero, pautadas nas cenas cotidiana de interiores doméstico.

 

Para pensar as “Mulheres do Século XIX”, Paulo Herkenhoff se vale da ideia do “muxarabi”. O elemento da arquitetura que lembra uma grade de madeira, de origem árabe, permite entrada da luz, se pode ver de dentro para fora, mas não de fora para dentro. Essa posição representa o lugar protegido e reservado que era designado à mulher e foi, gradualmente, superado conforme mulheres decidiam abandonar tal “mediação” ao pintar e registrar a cidade, encarando e sendo encaradas de volta. No século XIX houve cerca de 50 mulheres conhecidas como pintoras e a exposição reunirá cerca de 15 delas.

 

Já o núcleo “Modernas antes do Modernismo” elenca nomes de artistas que marcaram a época e o local em que viveram, por estarem desvinculadas dos princípios da arte acadêmica, porém não integrando o modernismo organizado como vanguarda no país no começo do século XX. É o caso da espanhola, que chegou ao Brasil nos anos de 1890, Maria Pardos em Juiz de Fora, Minas Gerais, uma pintora da intimidade e do mundo privado e que ganhou diversos prêmios em salões. Outra artista pertencente a este grupo é Nair de Teffé (1886 – 1981, RJ) que, segundo o curador, foi a primeira caricaturista mulher de quem se tem notícia em escala mundial.

 

O segmento dedicado à “Fotografia” evoca a atuação da mulher no século XIX, como a chegada, em 1842, de cinco daguerreotipistas no Rio de Janeiro, dentre eles, uma mulher. A mostra traz a figura que modificou os parâmetros da fotografia no século XIX, Fanny Volk, alemã radicada em Curitiba no ano de 1881. Com interesse voltado ao social, uma de suas pesquisas constava de fotografar o trabalho masculino ao ar livre. Já entre as presenças no início do século XX o curador ressalta as fotografias de Hermínia Nogueira Borges (1894, RJ – 1989, RJ), fundadora do Foto Clube Brasileiro, no Rio de Janeiro, e as cerca de 10 mulheres que dirigiram estúdios, a primeira em 1908, no Estado de São Paulo, e em 1910, na capital. As lentes estrangeiras que chegam ao Brasil no século XIX também são investigadas pelo curador que, no caso, envolve mulheres e homens com olhares não modernista, pois se afastavam de questões nacionalistas e preocupavam-se com a subjetividade e os registros sociais.

 

Um dos pilares da mostra, Anita Malfatti (1889 – 1964, SP), além de pinturas, comparece acompanhada de uma análise crítica do texto “Paranoia ou mistificação?” (1917), de Monteiro Lobato. Para dissecar o texto de Lobato, que ficou célebre pelo impacto que teve na percepção da trajetória da artista, Paulo Herkenhoff   baseia-se no código civil da época. Lobato era Procurador do Estado e os termos de seu artigo refletiam o pensamento retrógrado que tratava a mulher como cidadão minoritário, parcialmente incapaz de tomar decisões. Já sobre Tarsila do Amaral (1886 – 1973, SP), além de uma série de pinturas, a exposição apresenta desenho/estudo do Abaporu (obra de 1928).

 

Em “Escultoras” há obras a partir da primeira metade do século XX, concebidas por artistas como: Nicolina Vaz de Assis (1874, SP- 1941, RJ), que na cidade de São Paulo tem uma de suas mais conhecidas esculturas, a Fonte Monumental na Praça Julio de Mesquita (1927), participa com algumas de suas peças em bronze e um retrato seu pintado por Eliseu Visconti; Zelia Salgado (1904, SP – 2009, RJ), que foi professora da Lygia Pape, ganhará destaque a partir de alguns momentos de sua obra, como o que faz referência à “Unidade tripartida”, de Max Bill; e Adriana Janacopoulos (1897, RJ), reconhecida por conceber monumentos, cabeças e bustos, tem um de seus trabalhos representado.

 

Maria Martins (1894, MG – 1973, RJ) é um núcleo em si. A curadoria evidencia a ousadia de sua produção ao abordar diretamente o desejo como centro poético de sua obra e a cópula como tema direto de algumas. A abordagem do trabalho enfatiza o contraste dessa atitude com o pudor vigente no Brasil naquele período.

 

Já para Lygia Clark (1920, MG – 1988, RJ), a mostra constrói um percurso pelas noções poéticas fundamentais de sua obra, com leitura e análise de conceitos como o de “espaço modulado”, enquanto Lygia Pape (1927 – 2004, RJ) é apresentada por meio de alguns de seus vídeos, como “Eat me” (1975) e “Divisor” (1967). Tomie Ohtake (1913, Kioto, Japão – 2015, SP) é aproximada da pintura de Alina Okinaka (1920, Hokkaido Japão – 1991, SP), formando o núcleo “Mulheres Japonesas”, que traz questões sobre o silêncio, a fala e a escrita, análogas à obra de Mira Schendel que acrescenta, ao silêncio e à fonética, o indivisível.

 

Por fim, produções pouco conhecidas pelo grande público, por partirem de personagens que não vêm do eixo Rio-São Paulo compõem “As Amazonas”, com Julieta de França (1872 – 1951, PA) e Antonieta Santos Feio (1897 – 1980, PA), ambas de Belém e com estudos em arte na França e Itália.  Julieta de França aproximou-se do Art Nouveau e expôs junto de Rodin, na França. Foi uma das primeiras mulheres a enfrentar o regime acadêmico e disputar os espaços com os homens artistas, sendo duramente criticada por isso. Antonieta Santos Feio usou seu olhar atento para representar figuras e personagens locais e seus costumes. Em um primeiro momento suas obras dedicam-se à figura da mulher engajada no trabalho e na religião e depois passa a mostrar a extração da borracha, universo majoritariamente masculino.

 

 

Até 20 de agosto.