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AGENDA CULTURAL

Mondrian/De Stjil no CCBB/Rio

19/out

“Mondrian e o Movimento De Stjil”, é o cartaz atual do CCBB, Centro, Rio de Janeiro, RJ, trata-se de uma mostra panorâmica que apresenta pinturas, desenhos de arquitetura, maquetes, mobiliário, documentários, publicações de época e fotografias do grupo de artistas que criaram o movimento da vanguarda moderna holandesa, De Stijl, iniciado como revista em 1917. O ícone do movimento é o pintor Piet Mondrian. Esses artistas elaboraram um tipo de “arte total”, usando cores primárias para criar obras sem restrições, claras e limpas, de acordo como que eles imaginavam que seria o futuro. A exposição mostra também o percurso de Mondrian da figuração à abstração. O acervo foi cedido pelo Museu Municipal de Haia.O movimento que foi uma reação às atrocidades da I Guerra Mundial, procurou formas de mudar o mundo através da arte. Designers, arquitetos e artistas plásticos uniram forças, em 1917, para lançar a revista De Stijl (O Estilo), uma publicação, em preto e branco, com apenas 1 000 exemplares. Trinta obras de Mondrian serão expostas na mostra, ao lado de trabalhos de setenta de seus contemporâneos, no maior acervo do gênero já exibido na América Latina. “Vieram trabalhos de fases pouco conhecidas, mas repletas de obras-primas. Mondrian sempre esteve em busca de uma linguagem que priorizasse o essencial e teve uma longa carreira, cheia de influências, antes de se encontrar no Stijl”, diz o curador Pieter Tjabbes.

 

 

Até 09 de janeiro de 2017.

 

Individual de Pedro Hurpia

Os fenômenos naturais, percebidos pelo homem quando emergem a superfície e elevam-se como aparência, ou ainda, quando o corpo é impactado diretamente por terremotos, deslizamentos de terras, ondas sonoras, margeiam a preocupação estética e as formas de apreensão na relação olhar/objeto na recente pesquisa do artista plástico brasiliense Pedro Hurpia. As obras, que se realizam em plataformas como fotografias, vídeos, desenhos, esculturas e instalações, compõem a primeira exibição individual do artista – no Jardim Paulista – na unidade de São Paulo da Galeria Marcelo Guarnieri.

 

A produção e o olhar de Pedro Hurpia remetem-nos aos artistas-pintores-viajantes, que durante as suas travessias em diferentes regiões e contextos, recolhem o material bruto usado em seus projetos. Para a mostra na Marcelo Guarnieri, por exemplo, o artista trabalha com desenhos de paisagens reais, registradas pela fotografia e paisagens construídas pelo real ou imaginário, realizados a partir dos padrões geológicos que constam nessas fotografias.

 

Com imagens fotográficas realizadas pelo próprio artista – salvo exceção das estereoscópicas dos vídeos e instalação – tratadas como referência inicial, parte-se para a composição, a recombinação e novos direcionamentos no desenho. O registro fotográfico procura captar aquilo que na formação geológica não se mostra de imediato, e que está oculto do campo de visão; neste sentido, o desenho é a revelação que faz justiça conferindo formas aos “ocultos” da própria natureza.

 

As noções de deslocamento e colapso, não aparecem somente na relação entre a fotografia e o fotografado – a natureza – mas ao próprio meio fotográfico. “A pesquisa surgiu quando adquiri um aparelho estereoscópico. As fotografias, utilizadas neste aparelho, são duplicadas e colocadas justapostas com uma leve diferença de deslocamento horizontal entre uma e outra. Com o aparelho colocado na posição correta do usuário, permite que se tenha uma ilusão tridimensional da imagem em questão”, conta o artista, que ficou interessado nas duas imagens idênticas e na possibilidade em se pensar uma “terceira imagem”, a partir deste método. Desde então, Hurpia passou a se interessar por essa investigação em seu processo criativo, com objetos e instalações que trouxessem esses duplos de uma maneira sutil, sem um aparato que causasse ilusões ópticas.

 

“obverso // reverso”, título da exposição, trata desse duplo da paisagem, que pode ser transfigurado na imagem impressa ou em “objetos-estruturas”. Em ambos os casos, a preocupação com o olhar, a dimensionalidade e a apreensão fenomênica do objeto: o frente e verso, direita e esquerda, obverso e reverso. Cada imagem e cada objeto se particularizam, também, por apresentarem um outro lado, que, para o artista, conjugam a possibilidade de abertura de realidades infinitas, além da superfície bidimensional e plana da imagem. No caso da formação geológica, lastro na natureza em que a inquietação do artista iniciou a sua “jornada”, segundo as palavras do próprio viajante Pedro Hurpia: “há um caminho e camadas para se chegar atrás de onde se encontrava anteriormente; longe do campo de visão, mas que pode ser projetada pela imaginação de experiências passadas”.

 

 
De 29 de outubro a 26 de novembro, na unidade São Paulo da Galeria Marcelo Guarnieri.

 

Na Athena Contemporânea

18/out

A galeria Athena Contemporânea apresenta, a exposição “Saudade e o que é possível fazer com as mãos”, com obras inéditas da artista mineira Raquel Versieux. Com curadoria de Raphael Fonseca, será apresentada uma grande instalação, composta por cerca de 200 objetos de cerâmica, que ocupará o chão da galeria, além de fotografias, esculturas e vídeos. Raquel Versieux nasceu em Belo Horizonte, em 1984, e possui obras na coleção do Museu de Arte do Rio (MAR), já tendo participado de importantes mostras como “Rumos”, do Itau Cultural, além de exposições no Paço Imperial, na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, no Centro Cultural Banco do Nordeste, entre outras importantes instituições.

 

As obras que serão apresentadas na galeria Athena Contemporânea foram produzidas este ano, a partir de sua recente experiência na cidade de Juazeiro do Norte, no Ceará, onde é professora de Artes Visuais na Universidade Regional do Cariri, e de uma residência artística na Cidade do México. “Essas experiências fizeram com que a artista travasse contato com novas concepções em torno da relação entre imagem, natureza e cultura”, afirma o curador Raphael Fonseca.

 

No chão da galeria, estará a grande instalação “Quenga coco loco”, composta por cerca de duzentos objetos cerâmicos, feitos a partir da modelagem do barro em contato com cascas de coco-da-baía e de carnaúba, chamadas de “quenga”. A artista coloca o barro dentro dessas cascas e as deixa dentro de seu carro. “Com isso, elas ficam impregnadas desta viagem, vão pegando uma impressão do tempo e destes deslocamentos”, explica Raquel Versieux. O barro depois é queimado em um forno a lenha, “que tem a ver com o contexto local”, e dá origem aos objetos que formam a instalação. Um vídeo desse processo em que os cocos acompanham a artista em seus trajetos de carro também estará na exposição. A escolha do coco é proposital, a artista o utiliza como um “signo de representação da paisagem local”. “É como os coqueiros e as palmeiras, que desde o século XIX são usadas em pinturas e desenhos para representar o Brasil”, ressalta a artista.

 

A exposição terá, também, cinco versões da obra “Coração seguro”, escultura feita em metal com 1,20m de altura. No topo dela há uma pedra vermelha bem característica da região do Cariri, uma rocha sedimentar do tipo “Arenito da Formação Exu”, que tem 96 milhões de anos. Essa pedra é usada no calçamento da cidade, no revestimento de muros, e também está presente na fundação das casas. “A coloração avermelhada me faz lembrar um coração. Criei a escultura de forma que a pedra ficasse na altura do meu coração”, diz a artista. Essas esculturas estarão expostas na mostra e também haverá uma fotografia delas feita por Raquel Versieux, com a chapada do Araripe ao fundo.

 

Na exposição estarão, ainda, oito fotografias, que retratam a paisagem e o uso da terra. A artista destaca que os trabalhos têm uma relação entre si, não só por tratarem da saudade, mas também pela relação entre imagem, natureza e cultura. “A saudade a que me refiro não é só minha, mas também uma saudade do material com o qual trabalho. Penso na saudade que uma pedra é capaz de sentir ao ser quebrada, por exemplo, é uma saudade pré-histórica”, conta a artista. “A forma como observo e reconheço a terra e as práticas que nela acontecem, somada ao estado solitário em um novo contexto geográfico onde predomina a caatinga brasileira, me levaram à reflexão em torno dos sentidos de distância e saudade”, diz.

 

 

Residência artística no México

 

Raquel Versieux está há oito meses morando no Ceará. Durante este período, esteve também em residência artística por duas semanas no México, que foram importantes para ela concretizar tudo o que estava vendo e vivendo no nordeste do Brasil. A escultura “Coração Seguro”, por exemplo, surgiu no México e foi finalizada no Ceará. “Vi um operário construindo uma espécie de cone na Cidade do México, que seria preenchido de concreto e que serviria de base para um poste de luz. Ou seja, depois ele retornaria a terra. Me apropriei da forma, que me fez chegar nesta estrutura. Nela, vejo a relação entre um coqueiro e um poste de luz”, afirma.

 

 

Sobre a artista

 

Raquel Versieux nasceu em Belo Horizonte, em 1984. Dentre suas principais exposições individuais estão a mostra “Antes da última queima”, na Galeria de Arte IBEU, em 2015; “When the houses live”, na Six Galerija, na Croácia, e “A feira da incoerência”, na galeria Athena Contemporânea, ambas em 2013. Dentre suas principais exposições coletivas estão “Pavilhão Casa França-Brasil” (2016); “Aparição” (2015), na Caixa Cultural Rio de Janeiro; “Encruzilhada” (2015) e V Mostra/ Programa Aprofundamento, ambas na EAV Parque Lage; “Em desencanto” (2014), no Museu Mineiro, em Belo Horizonte; “Encontros Carbônicos” (2014), no Largo das Artes; “Imaginário (2013), no Museu de Arte do Rio; “Fronteiras (2013), no Espaço Cultural Sérgio Porto, no Rio de Janeiro; “Convite à viagem: Rumos Artes Visuais 2011 – 2013”, no Paço Imperial, Rio de Janeiro; “Entrecruzamentos” (2013), na Galeria Athena Contemporânea; “Á deriva: Rumos Artes Visuais 2011 -2013”, no Museu de Arte de Joinville, “Deslocamento F(R)Icção” (2012), no Galpão Capanema – Funarte, no Rio de Janeiro; “Perpendicular Fortaleza” (2012), no Centro Cultural Banco do Nordeste, em Fortaleza; “Convite À Viagem: Rumos Artes Visuais 2011-2013”, no Itaú Cultural, em São Paulo; “Mostra Energias na Arte Edp” (2010), no Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo; “Hélio Oiticica: Museu É o Mundo”, no Itaú Cultural, em São Paulo, entre outros.

 

De 20 de outubro a 19 de novembro.

Grafite no MAM Rio

O MAM Rio, Parque do Flamengo, Rio de Janeiro, RJ, inaugurou em seu foyer, a exposição “Dentro | Fora: Arte e Grafite no MAM Rio”, com curadoria de Fernando Cocchiarale e Fernanda Lopes, que escolheram obras dos artistas A. R. Penck e Gustavo Speridião, pertencentes ao acervo do Museu, e que estabelecem um forte diálogo entre arte e grafite. A mostra reverbera a quarta edição do Festival de Arte Urbana Arte Core, que ocupou sábado e domingo os jardins do Museu com grafite, música, pistas de skate e oficinas para crianças. No âmbito da exposição, serão realizadas, das 15h às 16h30, conversas sobre a cultura de rua, com nomes da cena urbana carioca, que darão diferentes abordagens e pontos de vista sobre o tema.

“O que está dentro fica. O que está fora se expande”

 

 

Em uma manhã de julho de 1979, a cidade de São Paulo acordou com algumas de suas galerias de arte com as portas de entrada lacradas com um X feito de fita crepe e uma folha de papel mimeografada com a frase: “O que está dentro fica, o que está fora se expande”. Mesmo sem nenhuma referência de autoria, a intervenção logo teria seus autores descobertos em uma matéria de jornal. O grupo 3Nós3, formado por Hudinilson Jr., Mário Ramiro e Rafael França, realizou intervenções na cidade de São Paulo no fim da década de 1970 e início dos anos 1980. Em meio aos “anos de chumbo”, quando a ditadura militar ainda dominava o país, artistas jovens, rebeldes e desafiadores atuavam na rua, com performances e intervenções pipocando em galerias, museus e no espaço urbano.

 

X-Galeria foi uma delas e, assim como outras iniciativas como essa, fazia alusão não só às censuras do regime de ditadura militar, mas também questionava os espaços convencionais do sistema de arte (galerias e museus) e os limites impostos por ele (não só aos artistas, mas também ao público): o que era uma obra de arte, como ela deveria ser produzida e apresentada, e também como deveria ser vista. Era um tempo em que os limites, em todas as áreas, estavam sendo colocados em xeque, e a rua parecia ser o lugar onde a liberdade desejada se manifestaria de maneira mais clara.

 

“Dentro | Fora: arte e grafite no MAM Rio” é uma exposição que acontece junto com a quarta edição do Festival de Arte Urbana Arte Core – projeto voltado para a cultura urbana, que ocupa os jardins do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro nos dias 15 e 16 de outubro com grafite, música, pistas de skate e oficinas para crianças. No foyer do museu estão trabalhos de sua coleção onde arte e grafite estabelecem forte diálogo. Os artistas escolhidos foram o alemão A. R. Penck (1939) e o carioca Gustavo Speridião (1978). Nascidos em diferentes países e pertencentes a diferentes gerações, Penck e Speridião alimentam em suas obras influências outras que não apenas as da história da arte. Ao fazerem referência à arte das culturas tradicionais e à arte popular (no sentido mais amplo que esse termo possa ter), reforçam o interesse e o diálogo da arte com a cultura urbana, onde as duas pontas se influenciam e se reinventam. De dentro para fora e de fora para dentro.

 

 

Fernando Cocchiarale e Fernanda Lopes

curadores

 

 

Até 06 de novembro.

 

Coletiva na SIM galeria

17/out

A Sim galeria, Curitiba, Paraná, apresenta a exposição coletiva “Toda janela é um projétil,é um projeto,é uma paisagem” com obras assinadas por Alfredo Volpi, Ana Elisa Egreja, Andre Komatsu, Antonio Bandeira, Antonio Malta Campos, Awst & Walther, Caio Reisewitz, Cícero Dias, Djanira, Edgard de Souza, Guignard, José Pancetti, Julia Kater, Juliana Stein, Luisa Brandelli, Marcelo Moscheta, Manuela Eichner, Mayana Redin, Miguel Bakun, Patricia Leite, Paulo Monteiro e Pedro França. A curadoria é de Paulo Miyada.

 

 

A palavra da curadoria

 

Toda janela é um projétil, é um projeto, é uma paisagem

 

Na história da humanidade, nem toda morada tem janelas e nem toda paisagem se percebe desde ambientes interiores. Mas, toda vez que há janelas, é possível percebê-las como metáfora e metonímia de modelos de privacidade, abordagens do espaço público e concepções da paisagem. Quem abre janelas edita, idealiza e constrói seu território.

 

Na história da arte, nem toda imagem é representação e nem toda representação emula a espacialidade de uma janela. Mas, toda vez que se representa uma paisagem,existe a oportunidade de exemplificar, demonstrar, analisar, criticar e/ou refletir os modos de percepção e concepção do território atuantes em dada época e lugar.

 

Embora lide com escalas espaciais e temporais que podem extrapolar as dimensões das vidas dos indivíduos, a própria concepção da paisagem é uma ação humana,que se faz junto do ambiente natural, mas nunca coincide com ele. Ver o mundo,enquadrá-lo e representá-lo é um ato de linguagem e, por consequência, de desígnio,desejo, expectativa e apreensão.

 

Assim, a história das paisagens de um território não é apenas uma oportunidade para refletir sobre continuidades e rupturas entre estilos, subjetividades e técnicas de dada cultura, mas também um lugar privilegiado de reflexão sobre projetos de humanidade, sociedade e presença em dado ambiente habitado.

 

Toda janela é um projétil, é um projeto, é uma paisagem é um ensaio expositivo com alguns dos mais relevantes paisagistas modernos brasileiros (junto a seus ideais de tempo, espaço e vida) e diversos artistas contemporâneos que se dedicam contínua ou pontualmente a reencontrar imaginários possíveis para a existência em seus territórios.

 

Há um tanto de isomorfismo, outro tanto de coincidência, mas o que realmente motiva este ensaio é fazer aflorar hipóteses de geografia humana cantadas pelos artistas em suas paisagens.

 

O embaralhamento entre tempos e regiões pode servir para deixar latentes ressonâncias entre sentidos poéticos ou processuais, em detrimento de reiterações classificatórias ou cronológicas. Objetos e objetivos transbordam categorizações,enquanto cada artista histórico atrai uma vizinhança peculiar.

 

Cícero Dias evoca uma visada alegórica da paisagem brasileira e, assim, dialoga com Manuela Eichner, Luisa Brandelli, Ana Elisa Egreja, Patricia Leite e Mayana Redin, em um conjunto que traz ainda a ressonância do imaginário vernacular em Djanira.Em seguida, José Pancetti agrega abordagens da paisagem em que são soberanas a duração, a intensidade e a extensão praieiras, acompanhado por Caio Reisewitz,Juliana Stein e a dupla Awst& Walther – além um desdobramento da obra de Redine pontuações de Alfredo Volpi e Miguel Bakun.

 

Já Alberto da Veiga Guignard condensa a paisagem como essencial substância mnemônica que se pode empilhar, acumular ou atravessar. Nisso está acompanhado por Edgard de Souza e Julia Kater. Bakun também pontua a sala e em seguida desfila modos de apreender empiricamente seu entorno, como quem faz da arte ferramenta de teste, assim como Marcelo Moscheta e Pedro França.

 

Adiante, Antonio Bandeira enfrenta a paisagem urbana como tensionamento expressivo da grelha ortogonal, ao lado de André Komatsu e de outro conjunto de obras de França. Finalmente, Volpi aborda também o espaço urbano, mas como ritmo prosaico de cores e formas pictóricas. A malevolência sagaz de seus gestos é aqui aproximada de obras de Antônio Malta Campos e Paulo Monteiro.Frente a esse panorama, algo que talvez impacte os mais inquietos com o estado do mundo em geral e especialmente de nosso país e de suas políticas será o caráter minoritário dos projetos ambientais encapsulados por essas poéticas, o modo como todas elas contrastam radicalmente com o que o Brasil tem anunciado como signo do desenvolvimento e do progresso. Seriam então os artistas sempre românticos em sua concepção da paisagem? Ou será que somos nós demasiado cegos para a correspondência entre o que vemos pela janela e o que vivemos em nossos corpos.

 

Paulo Miyada

 

 

 

De 21 de outubro a 17 de dezembro.

Valdir Cruz, fotos no MON

 

O Museu Oscar Niemeyer, MON, Curitiba, PR, apresenta a mostra “Valdir Cruz: IMAGO – o olhar do sabiá”. Vivendo em Nova Iorque desde 1978, o artista expõe agora em Curitiba o resultado de um trabalho desenvolvido ao longo de mais de 30 anos no Estado do Paraná. A exposição, produzida pelo MON, ocupa a sala 7. Com curadoria de Rubens Fernandes Junior, a exposição apresenta 80 imagens, divididas em três temas: Catedral Basílica de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais (1991 a 1993), com 30 obras; O caminho das águas (1994 a 2005), com 14 fotografias, e o ensaio Guarapuava (1982 até 2011), composto por 36 fotos da cidade, sobre este último, o fotógrafo comenta: “Foi um projeto de vida. Trinta anos de fotografia, que resultou em um total de mais de 5 mil negativos”.

 

A exposição apresenta o trabalho de um dos mais respeitados fotógrafos em âmbito internacional. “Para o Museu Oscar Niemeyer, realizar esta mostra de Valdir Cruz, reconhecido pelo altíssimo nível do acabamento do seu trabalho que faz com que o preto e o branco possam revelar um espectro de cores tão ou mais completo que qualquer imagem colorida, demonstra o empenho com que trabalhamos para trazer ao público o que de mais importante acontece na esfera das artes visuais no mundo, ainda com orgulho por se tratar de um artista paranaense”, ressalta a diretora-presidente do MON Juliana Vosnika.

 

“Os três ensaios aqui reunidos pela primeira vez denotam não apenas a importância da produção fotográfica de Valdir Cruz, mas, principalmente, resgatam sua presença no cenário das artes visuais do Estado do Paraná, depois de 25 anos sem expor em Curitiba. Cada uma das fotografias aqui exibidas tem uma história particular. São evocativas e de uma beleza sublime. Seu olhar não apenas investiga e documenta, mas se evidencia sua emoção naquele espaço territorial que abrigou as primeiras investigações e experimentações com a fotografia”, pontua o curador.

 

O projeto da Catedral Basílica Nossa Senhora da Luz dos Pinhais foi feito todo em fotografia de grande formato, ou seja, chapas em negativo de 18 x 24 cm. “A ideia era trabalhar a luz de um ano sobre a catedral. Era o pensamento de que o desenho arquitetônico da catedral em um determinado momento do ano iria me oferecer luz natural internamente onde fosse necessário, e assim aconteceu”, diz o fotógrafo.

 

Também o equipamento utilizado para fotografar e a técnica de impressão das cópias celebram a fotografia. O centenário da catedral ocorreu em 1993. A coleção foi exposta em Nova Iorque – CathedralSt John ofDivine (1994) – na Capela de StBonifacio, no Museu de Arte de São Paulo – MASP (1996), e em Curitiba pela primeira vez, nesta mostra no Museu Oscar Niemeyer.

 

“O que caracteriza os ensaios de Valdir Cruz é seu trabalho bastante singular nos dias de hoje, registrado em chapas de grande formato e seus sofisticados processos de impressão – gelatina de prata, platina e paládio, impressão digital com tinta mineral de longa permanência. Além disso, o desenvolvimento desses ensaios exigiu, à exceção do ensaio da Catedral, grandes deslocamentos e um tempo muito diferente da vida acelerada do nosso cotidiano”, ressalta o curador Rubens Fernandes Junior.

 

O caminho das águas se concretizou após uma extensa pesquisa sobre as quedas d’água no Paraná entre os anos de 1994 – 2005. Também em formato grande chapas, em negativo, no tamanho de 10 x 12 cm.

 

O curador complementa: ”Valdir Cruz sempre se manteve ligado às suas raízes: o ensaio sobre a Catedral é um importante documento sobre a edificação, o desenho das luzes no seu interior e, acima de tudo, um testemunho de fé; o ensaio sobre as Águas mostra a exuberância das quedas d’águas e das cachoeiras, bem como a diversidade da paisagem do interior do Paraná; e o ensaio Guarapuava é um verdadeiro testemunho visual, autobiográfico e com alguma nostalgia do filho pródigo”.

 

Um dos procedimentos adotados pelo artista, de acordo ainda com o curador, que revela um diferencial, é o acompanhamento de todas as etapas da realização da imagem, controles técnicos necessários para garantir a qualidade capaz de surpreender mesmo os olhares mais desatentos. Depois de revelado o negativo é escaneado em alta resolução para depois ser impresso, ampliado e digitalizado, com vários pigmentos (cinzas e pretos) que criam uma atmosfera diferenciada.

 

“O trabalho de Valdir Cruz é singular, pois não só encanta como surpreende pela maestria artística conseguida a partir de temas muitas vezes simples, mas que o artista retrata com sensibilidade única e indescritível. Para o Governo do Estado do Paraná e o Museu Oscar Niemeyer, trazer essa exposição de Valdir Cruz, elaborada ao longo de 30 anos de sua carreira, é, além de uma honra, uma oportunidade ímpar, um verdadeiro brinde à nossa população, que terá a chance de travar esse contato tão direto com o trabalho do artista”, comenta o secretário de Estado da Cultura, João Luiz Fiani.

 

 

Sobre o artista

 

Valdir Cruz nasceu em Guarapuava, no sul do Paraná, em 1954. Embora esteja vivendo nos Estados Unidos há mais de 30 anos, o principal foco de seu trabalho em fotografia é o povo e a paisagem do Brasil. De 1995 a 2000, concentrou-se em Faces da Floresta, projeto que documentou a vida dos povos indígenas do norte da Amazônia brasileira e que lhe valeu, em 1996, uma bolsa da Fundação Guggenheim. Seu trabalho está presente nas coleções permanentes do Museu de Arte de São Paulo (Masp), Museum of Modern Art (MoMA), de Nova Iorque, Museum of Fine Arts, de Houston, e do Smithsonian Institute, em Washington, D.C., entre outras. Valdir Cruz divide seu tempo entre seus estúdios em Nova Iorque e São Paulo.Publicou os seguintes livros: Guarapuava (São Paulo, Terra Virgem Edições, 2013), patrocínio Banco Mizuho do Brasil S.A. e Caminhos do Paraná S.A.; Bonito: Confins do Novo Mundo (Rio de Janeiro, Capivara Editora, 2010), patrocínio BNP Pariba; Raízes: Árvores na paisagem do Estado de São Paulo (São Paulo, Imprensa Oficial, 2010); O caminho das águas (São Paulo. Cosac Naify, 2007), patrocínio Fundação Stickel; Carnaval, Salvador, Bahia 1995-2005 (Nova Iorque, Throckmorton Fine Art, 2005); Faces da Floresta: Os Yanomami (São Paulo, Cosac Naify, 2004); Faces of the rainforest: The Yanomami (Nova Iorque, power House, 2002), apoio Fundação Guggenheim; Faces of the rainforest (Nova Iorque, Throckmorton Fine Art, 1997); Catedral Basílica de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais (Nova Iorque, Brave Wolf Publishing, 1996), apoio Associação Cultural Avelino A. Vieira – Bamerindus.

 

 

Até dia 04 de dezembro.

Krajcberg, artista convidado

14/out

O Musée de L´Homme, Paris, França, convidou o artista brasileiro Frans Krajcberg para, em parceria artística com o Espace Krajcberg e a Prefeitura de Paris,participar da exposição “Trib/usdu Monde -Empreintes : L´Humanité a Rendez-vous au Musée de L´Homme”. Sua obra é um manifesto para o ser humano, para salvar o planeta quando monitoram a menor sombra, luz, o menor pedaço de raiz, ou pigmento terrestre.

 

 

Retrato de um artista ativista

 

Frans Krajcberg é artista brasileiro nascido em Kozienice, Polônia, em 12 de abril de 1921. Durante a Segunda Guerra Mundial, sua família morreu vítima do Holocausto. Ele tinha 18 anos de idade, quando o exército alemão invadiu seu país. Em 1945, deixou Varsóvia e se mudou para Stuttgart, onde estudou Belas Artes. Depois de uma breve visita a Paris, onde conheceu Léger e Chagall, emigrou para o Brasil em 1948. Após uma incorporação gradual aos círculos artísticos, ele se isola para trabalhar na natureza brasileira da qual vai fazer sua inspiração e causa. Em 1957, ganha o prêmio de melhor pintor brasileiro e recebe, um ano depois, a nacionalidade brasileira. A Floresta Amazônica é fundamental para seu trabalho e sua luta. A floresta torna-se seu campo de batalha. O gesto artístico de Krajcberg combina palavras e ações de um modo que a arte acaba por defender o planeta. Em 1978, ele vai até o Rio Negro, na companhia de Sepp Baendereck e do crítico de arte Pierre Restany. Esta jornada leva-os à consciência e eles escrevem o “Manifesto do Naturalismo do Rio Negro.”

 

Observando, 35 anos mais tarde, que o apelo foi ouvido pouco, Frans Krajcberg publicou em 2013, com Claude Mollard um “Novo Manifesto naturalismo integral”, uma chamada para todas as partes interessadas no mundo da arte para despertar as consciências, iniciar um movimento artístico em defesa do meio ambiente e ajudar os americanos nativos preservar suas terras e cultura.

 

“Eu procuro formas ao meu grito contra a destruição da natureza, meu trabalho é um manifesto! “diz, Krajcberg.

 

 

Um fim de semana especial Frans Krajcberg

 

Será realizado nos dias 22 e 23 de outubro, com uma mesa redonda e visitas acompanhadas. Os convidados são: Sylvie Depondt e Claude Mollard (comissários), Eric Darmon (produtor e diretor), Serge Bahuchet (diretor do departamento Homens, naturezas, as sociedades – Museu Nacional de História Natural).

 

Domingo 23 de outubro no Auditório Jean Rouch.

 

 

A exposição ficará em cartaz até 02 de janeiro de 2017.

Alberto Martí em Salvador

13/out

“Os Adeuses” é a mostra fotográfica que o Instituto Cervantes, Ladeira da Barra, Salvador, BA, apresenta a partir do dia 17 de outubro em sua galeria de arte. A exposição reúne 51 imagens em preto e branco do premiado fotógrafo espanhol Alberto Martí, que documentou a grande epopéia da emigração de habitantes da Galícia, norte da Espanha, para a América, no final da década de 1950. Um dos pontos de chegada foi o Brasil, com maior concentração no território baiano.

 

 

Na abertura da mostra, no dia 17, às 19h30, haverá uma apresentação de música tradicional galega. A exposição é um dos atos comemorativos à passagem da Semana da Espanha em Salvador, cuja programação incluirá eventos sociais e institucionais, além de desfile militar e uma homenagem ao espanhol Fadrique de Toledo, capitão das tropas que expulsaram os holandeses de Salvador no século XVII. Haverá ainda a chegada ao porto da capital baiana do barco-escola espanhol Juan Sebastian Elcano.

 

 

Sobre o artista

 

Alberto Martí Villardefrancos nasceu em A Coruña, na Galícia, em 1922. Começou a trabalhar aos 12 anos de idade numa tradicional e legendária loja de fotografia galega chamada “Foto Blanco”. Mais tarde, se tornaria um dos fotógrafos mais importantes do centenário periódico “La Voz de Galícia”, onde trabalhou por décadas.  Com mais de 70 anos dedicados à fotografia, Martí recebeu numerosos prêmios nacionais e internacionais, em cidades como Madri, Barcelona e Buenos Aires. A premiação mais importante foi ganha em Madri, em 1960 – o Prêmio Nacional de Fotografia.

 

Com uma visão jornalística e grande senso estético, Alberto Martí foi testemunha de tudo o que ocorreu na cidade de A Coruña durante as últimas sete décadas. Documentou especialmente o embarque dos galegos entre os anos 1957 e 1963 desde os portos da Coruña e Vigo.  São imagens protagonizadas por gente anônima que tinha na fuga da Espanha uma forma de buscar melhores condições de vida na América.

 

 

Navio seqüestrado

 

Com curadoria de José Caruncho, a exposição está estruturada em três áreas: A Ida, A volta e O Navio “Santa Maria” (barco que fazia a rota Caracas-Lisboa-Vigo e foi sequestrado em 1961 com 586 passageiros, pelo Diretório Ibérico de Liberação com o objetivo de atrair a atenção mundial sobre a situação que estavam vivendo Portugal e Espanha com as ditaduras de Salazar e Franco). Segundo Pilar Cagiao Vila, membro do Conselho da Cultura Galega, as fotografias de Alberto Martí rodeavam as partidas dos emigrantes, “desde a chegada ao porto, ao terminal de passageiros, até a espera da partida e a acomodação a bordo, passando pelo mundo dos trâmites, dos papeis e dos funcionários”.

 

 

Até 17 de dezembro.

Galeria Millan exibe Tunga

Tunga, um dos mais potentes criadores da arte contemporânea brasileira, morreu precocemente em junho passado, aos 64 anos, deixando pronta aquela que seria a sua próxima exposição. A Galeria Millan, Pinheiros, São Paulo, SP,  dá continuidade aos planos do artista e inaugura, no dia 15 de outubro, em seus dois endereços, a mostra “Pálpebras”, reunindo um conjunto de trabalhos inéditos ou pouco vistos no Brasil.

 

Na sede da Millan poderão ser vistos os “Phanógrafos”, peças derivadas do série “Cooking Crystals” (2010). Pouco exibidas desde então, são caixas que servem como recipiente, ou suporte, para assemblages de diferentes objetos e materiais, como garrafas, cálices, âmbar, pedras ou elementos escatológicos. Objetos que, segundo Tunga escreveu, têm “algo de talismã, se configurando como uma lamparina”.

 

O segundo andar da galeria abrigará também projeções e desenhos, revelando, por exemplo, as conexões entre produções bidimensionais e tridimensionais, e enfatizando a importância da linha no trabalho do artista.

 

No Anexo Millan, novo espaço inaugurado em 2015, será exposta a série “Morfológicas”, esculturas orgânicas que remetem ao corpo, sensuais, por vezes surreais e muitas vezes eróticas – lembrando vulvas, glandes, línguas, bocas, dedos e seios – que se originaram de outros conjuntos de trabalhos (como a série “FromlaVoieHumide”, de 2014) mas nunca foram mostradas independentemente no Brasil, mesmo que respeitando sua posição um tanto indefinida entre estudo de forma (como indica o próprio título) e obra acabada.

 

Um desses projetos começou a ser confeccionado em grandes dimensões para a Feira Internacional de Arte Contemporânea (FIAC), em Paris. A peça, intitulada “A Seus Pés”, tem sete metros e – como é usual em seu trabalho – é composta por diferentes partes. O elemento central é uma forma roliça e longa, com unhas em cada extremidade, como se fossem dedos que apontam para lados distintos. A peça não chegou a ser fundida em versão final e o que o público verá é a prova de artista que há algum tempo habita o ateliê de Tunga.

 

“Pálpebras” não é uma tentativa de síntese ou de olhar retrospectivo, mesmo porque, no caso de Tunga, a noção de retrospectiva não faz sentido. Afinal, seu trabalho parece marcado por um retorno cíclico a um manancial de elementos, físicos e psíquicos, que ressurgem de tempos em tempos, transfigurados em diferentes leituras. É como se testemunhássemos, interagíssemos com fragmentos de alguma história ou ação passada, seja pelo caráter instável de seus arranjos, que permitem infinitas possibilidades de reagrupamento, seja pelas várias camadas de leitura que se sobrepõem, criando um hipnótico enigma.

 

Esses mesmos ecos temporais se fazem sentir nas obras mais recentes. Mesmo que em vários momentos assumam um caráter mais escultórico, os aspectos centrais de seus mais de 40 anos de intensa produção – período no qual Tunga flertou com o surrealismo, se avizinhou da arte conceitual e muitas vezes pareceu agir mais como um xamã ou um cientista – estão novamente presentes.

 

 

De 18 de outubro a 12 de novembro.

Oiticica em Pittsburgh

11/out

Hélio Oiticica em exposição espetacular, colorida e abrangente no Carnegie Museum of Art. Arrebatadora e com uma abordagem e pesquisa profunda, a retrospectiva apresenta uma variedade impressionante de pinturas, esculturas e obras interativas de Oiticica.

 

Os visitantes da exposição do artista brasileiro Helio Oiticica no Carnegie Museum, Pittsburgh, podem esperar por caminhar entre areia, seixos, estruturas coloridas e cumprimentar um simpático papagaio da Amazônia. Tudo isso faz parte da experiência de “Tropicália” (1966-67), uma instalação multissensorial gigante no coração da mostra “Hélio Oiticia: To Organize Delirium”.

 

Se “Tropicália” é uma espécie de viagem no trabalho imersivo de Oiticica, “Eden” (1969) é o destino. Esta enorme instalação inclui espaços e estruturas para o relaxamento, leitura, conversas e música. Suas superfícies proporcionam experiências táteis para os pés descalços. Ocupando o majestoso Hall of Sculpture do CMOA, é raramente exposto devido ao seu tamanho e complexidade. A exposição é a mais completa retrospectiva do artista e a primeira a explorar profundamente seus anos em Nova York (1971-78). Ambiciosa em escala, apresenta uma variedade impressionante de pinturas, esculturas interativas, obras audiovisuais e ambientes que ocupam todo o espaço do museu.

 

Um dos artistas mais influentes do século 20, Oiticica primeiro pintou composições criadas por formas geométricas que pareciam dançar para fora da tela. Logo, mudou para a criação de trabalhos experimentais imersivos, em explosões de cores três dimensões. Para o artista, estas obras só estavam concluídas quando os visitantes interagiam com elas. Ao longo das décadas de 1960 e 1970, Oiticica se voltou cada vez mais para uma arte cuja intenção é levar o espectador a manipula-la, vesti-la, habita-la, incluindo os Parangolés – obras imersivas que frequentemente contem mensagens poéticas ou politicas visíveis apenas quando em interação, e os Penetráveis, estruturas coloridas inspiradas nos barracos das favelas cariocas. Enquanto viveu em Nova York, Oiticica estendeu seu trabalho ao cinema e à poesia concreta.

 

“Helio Oiticica: To Organize Delirium”, visualmente arrebatadora, convida a uma reconsideração do trabalho de um artista que, embora reconhecido internacionalmente, ainda é raramente encontrado. Depois de permanecer no CMOA, a exposição segue para o Art Institute de Chicago e para o Whitney Museum em Nova York.

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