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AGENDA CULTURAL

Evento no Parque Lage

28/out

A Escola de Artes Visuais do Parque Lage, Jardim Botâncio, Rio de Janeiro, RJ, inaugura no espaço das Cavalariças e Capela, no próximo dia 03 de novembro, a exposição “EAV 75.79 – um horizonte de eventos”, que reúne gravuras, objetos, fotografias, cartazes, filmes e documentos que abordam os anos 1975 a 1979, período inaugural da instituição, fundada e dirigida por Rubens Gerchman. A curadoria é de Helio Eichbauer, cenógrafo e colaborador essencial daquela gestão, criador das inovadoras oficinas do Corpo e Pluridimensional, e Marcelo Campos, professor da Escola e coordenador do Memória Lage. “Horizonte de eventos” é a expressão científica que significa a fronteira teórica ao redor de um buraco negro, e ao estar relacionada ao período de 1975-1979 da EAV, é o conceito norteador da exposição.

 

Marcelo Campos observa que passaram pelas dependências da EAV “artistas, críticos de arte, antropólogos, diretores de teatro, cenógrafos, poetas, músicos”. Aglutinados por Rubens Gerchman, colaboraram com a Escola Helio Eichbauer, Frederico Morais, Lygia Pape, Celeida Tostes, Gastão Manoel Henrique, Roberto Da Matta, Rosa Magalhães. “Além do cinema, a poesia tinha ampla difusão, nos eventos do Verão a 1000, coordenados por Chico Chaves”, lembra o curador. Em shows e noites festivas de lançamentos de “poema-processo” circulavam pelo pátio da piscina da EAV músicos e poetas como Chacal, Neide Sá, Falves Alves (Rio Grande do Norte), Almandrade (Bahia) e Paulo Brusky (Pernambuco), Luiz Melodia, Caetano Veloso e Jards Macalé.

 

“Horizonte de eventos” é a expressão científica que significa a fronteira teórica ao redor de um buraco negro, e ao estar relacionada ao período de 1975-1979 da EAV, é o conceito norteador da exposição. “Apresentamos uma possível iluminação sobre o sentido de arquivo, de memória. Ao mesmo tempo, todo o restante, o que compõe a escuridão, continua a existir como potência, mas não se deixa ver, por razões que a história brasileira ainda está a revelar”, diz Marcelo Campos

 

A diretora da EAV Parque Lage, Lisette Lagnado, observa que “em 1975, Gerchman assume a direção do então Instituto de Belas-Artes e logo chacoalha sua estrutura. Atualizar o ensino da arte no Brasil está na origem da EAV”. Para Marcio Botner, presidente da Oca Lage, organização social que administra a EAV e a Casa França-Brasil, “pensar a Escola de Artes Visuais do Parque Lage é pensar no Gerchman. Para ter arte tem que ter risco e liberdade. Ele abriu um espaço único de união das artes”.

 

 

Gravuras de 1976

 

A exposição ocupará as Cavalariças do Parque Lage e seu espaço contíguo, a Capela, com cenografia e móveis desenvolvidos por Helio Eichbauer, que criou dois biombos com quatro folhas cada, tendo como face quadros-negros sobre estruturas vazadas. Dispostos em ziguezague, eles exibirão reproduções de fotografias da época feitas por Celso Guimarães. O pensamento que norteava a prática exercida nas oficinas de Eichbauer emolduram os biombos, em frases-proposições como: Espaço topológico, Singularidade. Sincronicidade, A busca do espaço humano, Ritos de passagem, Encantaria.Pajelança, Sociologia da arte, Foto.síntese, Janelas dimensionais, Brasil.Idade, Espaço lúdico, Oficinas   Território tribal, Arte do fogo, Entropia e arte, Terra mater, Intuição e método.

 

Em uma das paredes estarão gravuras feitas em 1976, na EAV, pelos artistas Avatar Moraes (1933-2011), Dionísio Del Santo (1925-1999), Eduardo Sued (1925), Gastão Manoel Henrique (1933), Isabel Pons (1912-2002), Newton Cavalcanti (1930-2006), Roberto Magalhães (1940), Susan L’Engle (1944), e por Rubens Gerchman. Sobre um cubo, estará um trabalho recente e inédito do artista Thomas Jefferson (1978), estudante da EAV.

 

Três bancadas de madeira conterão originais de cartazes, publicações, documentos e fotografias da época pertencentes ao acervo da EAV, descobertas pelo projeto Memória Lage. Para dar ao público a noção do período, do contexto cultural e da abrangência de atividades realizadas pela instituição – que poderiam tanto ser discussões sobre feminismo, exibição de danças afro-brasileiras, sessões de cinema, ou incontáveis eventos de música e arte – esses documentos estão dispostos sob os temas Cultura popular, Cultura negra, Poesia, Cinema, Política cultural, Videoarte, Gravura, Escultura, Pintura, e Atmosfera. No centro do espaço, uma mesa giratória, como um moinho de quatro pás, conterá destaques dos registros dos eventos e atividades.

 

Na Capela, espaço contíguo à Cavalariça, será exibido um vídeo com depoimentos recentes e inéditos de Helio Eichbauer, dos artistas Roberto Magalhães e Xico Chaves, do editor Mário Margutti e do fotógrafo Celso Guimarães, que colaboraram com a gestão de Rubens Gerchman. Com cerca de uma hora de duração, o vídeo foi produzido por duas equipes da EAV – projeto Memória Lage, com entrevistas feitas por Juliana Rego e Thábata Castro, tendo à frente Marcelo Campos e Sandra Caleffi; e integrantes do Núcleo de Arte e Tecnologia, responsáveis pela filmagem e edição, em coordenação de Tina Velho.  Em um primeiro momento as entrevistas foram pensadas como forma de suprir uma lacuna documental do Memória Lage, mas o resultado rico e surpreendente foi determinante para que fosse inserido na exposição.

 

 

Intuição e Método

 

As famosas e criativas práticas realizadas por Helio Eichbauer entre 1975 e 1979 estavam fortemente embasadas em pensadores como Gilles Deleuze (1925-1995), Michel Foucault (1926-1984) e Félix Guattari (1930-1992). Frases como “A arte não reproduz o visível. Torna visível”, de Paul Klee (1879-1940), “Educação não é privilégio”, de Anísio Teixeira (1900-1971), e “Toda percepção é também pensamento. Todo processo de raciocínio é também intituivo. Toda observação é também invenção”, de Rudolf Arnheim (1904- 2007), também são referências para Eichbauer. Dentre as publicações que acompanharam o artista-professor estão “Os estados múltiplos do ser” (1932), de René Guénon (1886- 1951); “Abstração e empatia” de Wilhelm Worringer (1881-1965), “Escultura negra” (1915), de Carl Einstein (1885-1940), e o “Guia prático”, de Heitor Villa-Lobos (1887-1959), que para ele traz “o mundo sonoro da infância”.

 

Lisette Lagnado, no texto que acompanha a exposição, cita a questão proposta por Gerchman em um poema escrito durante a estada do artista em Nova York, entre 1969 e 1971: “como conduzir um programa “não branco, não europeu, não colonial, não geográfico”, e onde fazer circular esta ideia de cultura”? Ela complementa: “Não há terreno mais fértil para tamanha ambição do que uma escola. Mais ainda, uma escola de arte”. A respeito do período inaugural da EAV Parque Lage, Marcio Botner exalta “as gerações de artistas que juntos aprenderam a misturar as artes e voar longe, do Parque Lage para o mundo”.

 

 

Até 11 de janeiro de 2015.

Novo Banco Photo 2014

24/out

Depois de Pedro Motta vencer no ano passado o NOVO BANCO PHOTO (ex- BESphoto),  na edição de 2014 novamente outro brasileiro, a artista Letícia Ramos, é a grande vencedora. Em sua 10ª edição, a exposição dos finalistas, no Instituto Tomie Ohtake, Pinheiros, São Paulo, SP, por meio de uma parceria entre o Novo Banco, o Museu Coleção Berardo e o Instituto Tomie Ohtake, após passar pelo museu português, será apresentada em São Paulo, de 24 de outubro de 2014 a 11 de janeiro de 2015.

 

A escolha de Délio Jasse (Angola), José Pedro Cortes (Portugal) e Letícia Ramos (Brasil) para concorrer ao prêmio foi feita pelo primeiro júri de seleção, que analisou, durante o período definido pelo regulamento, o panorama da produção fotográfica de artistas em Portugal, no Brasil e nos países africanos de língua oficial portuguesa. Compuseram esse júri: Jacopo Crivelli Visconti (Brasil), crítico e curador independente; João Fernandes (Portugal), subdirector do Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofia, em Madrid; e Bisi Silva (Nigéria), fundadora e diretora do Centre for Contemporary Art, em Lagos.

 

Despois desta etapa, os selecionados são convidados a produzir uma obra comissionada, cujo resultado é analisado por outro corpo de jurados para a decisão do vencedor. Esse segundo júri contou com Elvira Dyangani Ose, curadora de arte internacional da Tate Modern, de Londres, Luis Weinstein, fotógrafo e organizador do Festival Internacional de Fotografia de Valparaíso, no Chile, e María Inés Rodríguez, diretora do Musée d’Art Contemporain de Bordeaux, na França.

 

 

Sobre as obras produzidas pelos artistas para concorrer ao Novo Banco Photo

 

Em “Nós sempre teremos marte”, Letícia Ramos, 38 anos, que vive em São Paulo,  procurou fazer uma homenagem à imaginação científica romântica, “aos inventores descobridores de mundos distantes”. A artista foi buscar o título em um jornal que faz uma referência literal à frase “Nós sempre teremos Paris”, do filme “Casablanca”, e à chegada da nave Curiosity a Marte, no ano passado. Este conjunto de obras apresenta-se como uma narrativa de ficção-científica, um inventário de imagens que falam do cientista perdido no tempo e no espaço. A exposição é composta de fotografias produzidas a partir de processo de microfilmagem, assim como de um curta-metragem realizado a partir de miniaturas, mostrando a trajetória de um microsubmarino à deriva nas profundezes de um lago pré-histórico submerso no gelo Antártico.

 

Já o português José Pedro Cortes, 38 anos, nascido no Porto, apresentou “Um Eclipse Distante”, conjunto de imagens em que o autor renova a exploração da relação fotógrafo-modelo. Pos sua vez, o angolano Délio Jasse, nascido em Luanda há 34 anos, criou a série “Ausência permanente”, na qual desenvolve uma reflexão acerca dos vestígios do passado – fotografias antigas sobre a época colonial em Angola – e da sua influência no presente.

 

 

 

Sobre Letícia Ramos

 

Nasceu em Santo Antônio da Patrulha,  RS, 1976. Vive e trabalha em São Paulo. Cursou arquitetura e urbanismo na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, e cinema na Fundação Armando Álvares Penteado. O seu foco de investigação artística é a criação de aparatos fotográficos próprios para a captação e reconstrução do movimento e a sua apresentação em vídeo, instalação e fotografia. Os seus trabalhos, com forte caráter processual, geralmente inserem-se no âmbito de projetos de investigação mais ampla. Em séries como ERBF, Escafandro, Bitácora e Vostok, desenvolve complexos romances geográficos que se desdobram e se formalizam em diferentes mídias. A artista recebeu prêmios e bolsas importantes entre os quais,  o Prémio Funarte Marc Ferrez de Fotografia (2010), para o desenvolvimento do projeto Bitácora (2011-2012), com a publicação do livro de artista Cuaderno de Bitácora e a participação na residência expedicionária «The Arctic Circle» (2011). O trabalho fotográfico realizado durante a expedição foi distinguido com o Prêmio Brasil Fotografia – Pesquisas Contemporâneas (2012). Em 2013, participou no programa «Encontros na Ilha» da 9.ª Bienal do Mercosul. Neste mesmo ano, em residência no espaço PIVÔ (São Paulo), desenvolveu o projeto Vostok, constituído por um filme de 35 mm, um livro, um website e um disco LP. No mesmo ano, seu projeto Microfilme foi contemplado com a Bolsa de Fotografia 2013, do Instituto Moreira Salles e da Revista Zum. Atualmente, em São Paulo, também está em cartaz com a exposição Sabotagem, em parceria com Marcia Xavier, na Casa da Imagem.

 

 

Até 11 de janeiro de 2015.

Galeria Bergamin exibe Casa Sete

23/out

O curador Tiago Mesquita selecionou 20 obras produzidas entre os anos 1990 e 2000, do grupo de artistas que, no início dos anos 1980, se reunia, com finalidades estéticas comuns, em uma casa de número 7 numa pequena vila na cidade de São Paulo.

 

A Galeria Bergamin, Jardins, São Paulo, SP, abre no dia 25 de outubro (sábado), para convidados, a partir das 11 horas, e no dia 27 de outubro (segunda-feira), para o público, a mostra “Casa Sete”, composta por uma seleção de 20 obras de Rodrigo Andrade, Carlito Carvalhosa, Fábio Miguez, Paulo Monteiro e Nuno Ramos, artistas de inegável importância na cena atual das artes visuais, que, por um curto período, de 1982 a 1985, trabalharam juntos em um ateliê na casa número sete de uma vila na cidade de São Paulo. Lá, além de compartilharem o espaço, dividiram algumas inquietações estéticas.

 

Quase 30 anos após o fim desse estúdio coletivo, o curador Tiago Mesquita buscou trabalhos que revelam as semelhanças e a diversidade no trabalho dos cinco artistas. “A ideia é mostrar obras que definiram a trajetória individual de cada membro do grupo e estabelecer as linhas de diálogo que permaneceram”, explica o curador. “Os trabalhos tomaram caminhos muito distintos, porém a indefinição, a recusa em tornar objetos e espaços evidentes na descrição visual parece persistir no trabalho de cada um desses artistas”, escreve Tiago Mesquita em seu texto crítico.

 

No período em que se reuniam no ateliê, tinham como marca trabalhos de grandes dimensões, cujos materiais largamente utilizados eram a tinta industrial e o papel kraft, por seu baixo custo. Foram eles, segundo o crítico Lorenzo Mammi, que experimentaram o neoexpressionismo no Brasil, corrente que já se apresentava na Europa.

 

Entre eles, Rodrigo Andrade é hoje o mais ligado às questões propriamente pictóricas, que, por vezes, o reaproximam do neoexpressionismo. Nuno Ramos ramifica seu trabalho entre pintura, escultura e literatura. Paulo Monteiro transitou entre a pintura e a escultura, utilizando para esse suporte trabalhos em ferro e chumbo fundidos. Fábio Miguez e Carlito Carvalhosa, já nos anos 80, trabalham com a encáustica. Carvalhosa passa depois a trabalhar com cera em suas telas, e mais adiante utiliza a escultura e a performance, enquanto Miguez explora a tridimensionalidade em relevos e a indefinição do espaço com o uso do branco.

 

 

De 25 de outubro a 13 de dezembro.

No Santander Cultural

Todas as coisas, surgidas do opaco, exposição de Ismael Monticelli é o cartaz da Galeria superior do Santander Cultural, Centro, Porto Alegre, RS.

 

Ismael Monticelli encerra a programação do “Projeto RS Contemporâneo” em 2014. Com curadoria de Luisa Duarte, a exposição reúne sete obras como fotografias e cartazes. Ismael usa como fio condutor objetos do nosso cotidiano e cria novas leituras sobre eles.

 

 

Até 23 de novembro.

Joana Cesar na Athena

Joana Cesar abre mostra na Galeria Athena Contemporânea, Shopping Cassino Atlântico, Copacabana, Rio de Janeiro, RJ. A artista tornou-se conhecida pelas inscrições ilegíveis, ou seja, seu alfabeto particular de símbolos, e agora apresenta nova série de (dez trabalhos) inéditos na exposição “Nome”, cuja curadoria traz a assinatura de Ivair Reinaldim.

 

Trazendo novidades em seu processo de criação, Joana conta que os suportes se parecem cada vez mais com caixas do que com quadros. As laterais estão ficando mais altas e essa mudança acontece por conta da relação de Joana com a construção do próprio trabalho, cada vez mais afastado da pintura e caminhando na direção da escultura em seu processo de colagem e pintura sobre madeira. Outro momento é que a artista não usa mais pincéis e trabalha apenas com as mãos, panos, algumas trinchas, rodos e lixas. “Sigo em busca de trazer à tona uma memória – que não vem; mas parece querer chegar”, diz ela.

 

Joana Cesar já conquistou colecionadores, participa de feiras como a Art Rio, SP Arte, Art Miami e será lembrada por ter produzido seu dialeto na perimetral do Rio, antes de ter sido historicamente derrubada. A mostra reúne um conjunto de trabalhos recentes e inéditos, concebidos a partir de sobreposições de camadas de papeis retirados de outdoors e muros da cidade, assim como de imagens pessoais ou ligadas ao universo íntimo da artista. No espaço da tela, memórias reais e inventadas, claras e imprecisas, atravessam-se, aproximam e se afastam, através da ação intermitente de Joana.

 

Ao nos depararmos com esses objetos, podemos concluir: aquilo que é visível aos olhos encontra-se apenas na superfície da tela. Para o curador da exposição, Ivair Reinaldim, o  gesto da artista é o de uma arqueóloga à avessas, que, ao invés de cavar, provoca o soterramento dessas imagens, histórias e memórias. No entanto, ao promover o apagamento literal das camadas subjacentes de cada trabalho, a artista metaforicamente as escava em busca dos significados mais profundos contidos nesses elementos e em seu processo.

 

O ato de nomear está relacionado ao processo de construção de sentido. Pensar em um nome não é apenas definir como designar algo, mas dar significado a certos significantes – imagens, traços, lapsos, memórias –, a partir da importância que estes passam adquirir no momento em que aparecem e desaparecem. O processo de produção dos trabalhos de Joana Cesar guarda uma relação simbólica com a gestação, com a formação de algo que procura vir ao mundo à procura de um nome.

 

 

Como tudo começou:

 

Um trecho da mureta da via expressa que liga a Zona Sul à Barra da Tijuca apareceu coberto de inscrições ilegíveis numa manhã do ano passado. Era uma sequência de símbolos, pintados em tinta branca, que ocupava toda a altura do muro. Estendia-se por mais de 100 metros e tinha quase 400 sinais compridos e estreitos. Vários deles eram repetidos, o que sugeria tratar-se de um alfabeto. As letras tinham ângulos retos e poucas curvas. Algumas lembravam a escrita latina – era possível identificar um I, um X, um Y espelhado, um U de ponta-cabeça. Não havia espaço que delimitasse as palavras. Se aquilo fosse mesmo uma mensagem, era incompreensível. Inscrições semelhantes haviam sido deixadas em muros e viadutos da Gávea, da Lagoa, do Leblon e bairros adjacentes. Há mensagens escritas no alfabeto enigmático num acesso ao túnel Rebouças, no muro de uma escola e na frente do Jardim Botânico. Entre grafites e pichações, os escritos de Joana costumam ficar na parte de cima de muros altos e outros lugares improváveis.

 

No início eram inscrições pequenas.  À medida em que Joana ganhava confiança, aumentou a frequência das saídas para escrever os relatos cifrados. Ela produz suas próprias tintas. Mistura pigmento em pó, cola e água na proporção adequada à superfície que escolhe. Sai para pintar de carro ou bicicleta, e leva galões, rolos e cabos extensores de tamanhos variados. Hoje, prefere ficar nas proximidades da sua casa, na Gávea, “porque sou mulher e pinto sozinha”, afirma. A artista começou a escrever quando era adolescente, por conta da dificuldade de se expressar. “Foi nessa época que inventei o código. Ele servia apenas para eu poder manter um diário sem o risco de o meu irmão mais velho ler, onde eu relatava meus sonhos e minhas paixões”, diz Joana.

 

Quando começou a produzir seus códigos através da arte, no ateliê, que dividia com sua mãe, também artista plástica, ficou com vontade de ir para a rua e mostrar seus textos. Mas não venceu a timidez: preferiu se expor de modo incompreensível, recorrendo ao alfabeto secreto que concebera na puberdade.

 

 

De 06 de novembro a 13 de dezembro.

30 anos da Fondation Cartier – Paris

Hoje é dia inteiro de vernissage da exposição que festeja os 30 anos da Fondation Cartier pour l’Art Contemporain! O prédio de vidro de Jean Novel, tão criticado na época por não ter paredes (!) é revisitado e habitado pela instalação de Diller Scofidio e sua “Balada para uma caixa de vidro”, o argentino Guillermo Kuita monta um espaço incrivel chamado de ” Les habitants” à partir de uma desenho de David Lynch, um filme de Artadvazd Pelechian, uma tela de Francis Bacon, outra de Tarsila do Amaral e sons de Patti Smith.

 

Fonte: Rosangela Meletti (Paris)

Duas mostras de Guillermo Kuitca

22/out

Depois de quinze anos sem expor no Brasil, um dos maiores pintores argentinos, Guillermo Kuitca, retorna em peso ao país em 2014. Após uma mostra coletiva na Casa Daros, em maio, e da exposição retrospectiva em cartaz na Pinacoteca do Estado de São Paulo, duas galerias paulistanas se unem em um esforço de representação do artista no circuito brasileiro.  Fruto dessa inédita parceria, a Galeria Fortes Vilaça e a Mendes Wood DM – ambas de São Paulo, SP –  apresentam duas mostras paralelas, “Diários” e “Doble Eclipse”, respectivamente nos seus espaços-sede.

 

 

Na Mendes Wood

 

Na galeria Mendes Wood DM, Jardins, o artista apresenta uma série de pinturas sobre madeira em pequena escala e uma grande pintura sobre tela. São trabalhos que reafirmam o vocabulário pictórico do artista,  seu apreço por padrões geométricos,  referências cartográficas, paisagens soturnas e espaços arquitetônicos. A obra que dá nome à mostra retrata uma cena em que um sol diminuto repousa bem próximo do horizonte, encoberto por dois astros. Iluminada por sua luz fraca, um acúmulo de camas e cadeiras – elementos psicoativos recorrentes na obra do artista − ganha proporções arquitetônicas ao remeter a uma paisagem urbana. A obra do artista também pode  ser vista na exibição panorâmica “Filosofia para Princesas”,  em cartaz na Pinacoteca do Estado de São Paulo até 02 de novembro

 

 

Na Fortes Vilaça

 

A Galeria Fortes Vilaça, Vila Madalena, por sua vez, apresenta uma instalação composta por 18 pinturas circulares da longeva série “Diários”, iniciada em 1994. Diferentes grupos desse corpo de trabalho já foram expostos − entre os quais destaca-se a instalação na Bienal de Veneza de 2007 −, mas o conjunto aqui apresentado compreende trabalhos produzidos entre 2005 e 2012. O artista estica uma tela inacabada sobre o tampo de uma mesa no atelier e a mantém ali durante meses enquanto prossegue suas atividades rotineiras. Sobre essa tela, Kuitca faz anotações, desenha a esmo enquanto fala ao telefone, pinta estudos e rascunhos. Intencionalidade e acaso se fundem e são absorvidos por cada um desses diários, de forma que expandem-se para além da pintura e incorporam desenho, escrita e assemblagem. São testemunhos do cotidiano do artista e, pendurados lado a lado, formam uma narrativa plástica de sua intimidade.

 

 

Sobre o artista

 

Guillermo Kuitca nasceu em 1961 em Buenos Aires, Argentina, onde vive e trabalha. Sendo um dos mais destacados pintores latino-americanos, entre as exposições individuais que realizou, destaca-se a mostra Guillermo Kuitca. Everything. Paintings and Works on Paper, 1980 – 2008, organizada em 2009 pelo Miami Art Museum, que itinerou para mais três instituições norte-americanas em 2010 (Albright-Knox Art Gallery, Buffalo; Walker Art Center, Minneapolis; Hirshhorn Museum and Sculpture Garden, Washington DC). O artista participou ainda de três Bienais de São Paulo (1985, 1989 e 1998), representou a Argentina na Bienal de Veneza de 2007 e participou da Documenta de Kassel, em 1992.

 

No dia 30 de outubro, a Galeria Fortes Vilaça e a Mendes Wood DM abrirão as duas mostras paralelas de Guillermo Kuitca. A abertura começará às 19h na Galeria Fortes Vilaça e às 21h os visitantes seguirão para a Mendes Wood DM, até às 23h.

 

 

Guillermo Kuitca –  “Diários”  na Galeria Fortes Vilaça

De 30 de outubro a 06 de dezembro.

 

Guillermo Kuitca – “Doble Eclipse” na Galeria Mendes Wood DM

De 30 de  outubro a 22 de novembro.

Na Silvia Cintra + Box 4

Em sua terceira individual na galeria Silvia Cintra + Box 4, Gávea, Rio de Janeiro, RJ, Rodrigo Matheus  apresenta uma série inédita de esculturas, instalações e colagens produzidas durante temporada na cidade após período de quase quatro anos no exterior. Os trabalhos são construídos a partir de postais  enviados do Rio de Janeiro para a Europa ao longo do século XX. São cartões encontrados pelo artista em feiras de segunda mão europeias, trazidos de volta ao destino de origem e, aqui, combinados a postais enviados da Europa e encontrados na capital carioca em pleno século XXI. Rodrigo Matheus titulou essa nova exibição individual como “Do Rio e para é to Rio and from”.

 

A micronarrativa é pano de fundo de esculturas e instalações que repetem no interior da galeria, de 31 de outubro a 06 de dezembro, aquilo que se observa como recorrente na cidade: a relação entre a vegetação e a arquitetura. O vocabulário modernista das construções dos anos de ouro e as grades de ferro anexadas a seus prédios posteriormente. O comércio vigoroso da região do Saara que corresponde à agenda da cidade – Carnaval, Natal, Ano Novo. O macaco que sobrevive entre aquilo que foi civilizado e o que nunca será. O jogo de permissão e interdição mediado pela praia.

 

O conjunto de obras que a exposição abriga se vale do próprio repertório visual da cidade para o desenvolvimento de esculturas que se apropriam tanto daquilo que é planejado quanto aquilo que é espontâneo e improvisado na malha urbana. “Os materiais utilizados nestes trabalhos saem deste contexto. Grades de metal de padrões variados, plantas artificiais, areia e telas de proteção para reforma de prédios, vitrines do Saara e materiais de construção questionam  a imagem glamourizada dos cartões postais face aos problemas reais que a cidade enfrenta”, comenta o artista.

 

Ainda nas palavras de Rodrigo Matheus, “Do Rio e para é to Rio and from” discute a ambiguidade do processo de modernização brasileiro a partir do imaginário que o Rio de Janeiro projeta. “Porta de entrada do país e monumento natural, antiga capital do Império Português, antiga capital do Brasil, destino turístico e hoje alvo de um retrofit urbanístico que busca fundar no seu centro histórico uma ilha globalizada cercada de uma paisagem tropical avessa a domesticações”.

 

 

Sobre o artista

 

Rodrigo Matheus nasceu em 1974, em São Paulo, e vive e trabalha entre Londres e sua cidade natal. Graduou-se em Multimídia e Intermídia na Escola de Comunicações e Artes da USP (ECA-USP) e é mestre em escultura pelo Royal College of Art, na capital inglesa. Seus trabalhos articulam diversas mídias — vídeos, instalações e esculturas — em obras que discutem a natureza da representação na arte e sua relação com o design industrial. Apresentam situações que questionam as estruturas de poder por trás de identidades visuais que regram nossa subjetividade em nome do progresso civilizatório. Ao aproximar elementos industriais e naturais em um só corpo, o artista lança com suas obras um olhar crítico sobre as noções coletivas de representação da natureza forjadas dentro de um ambiente público e urbano. Modifica e propõe novas combinações para o mecanismo da vida cotidiana. Constrói a partir de objetos em circulação no mundo novas possibilidades de sentido fora daquelas programadas pela sua função. É representado por galerias em Londres, Rio de Janeiro, São Paulo e Los Angeles e suas obras estão presentes em diversas coleções públicas e particulares, como Instituto Inhotim, MAM – Museu de Arte Moderna de São Paulo, Pinacoteca do Estado de São Paulo, Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro e instituto Itaú Cultural.

 

Dentre as exposições individuais, destacam-se Coqueiro Chorão, Ibid Projects (Londres, 2014), Colisão de Sonhos Reais em Universos Paralelos, Fundação Manuel Antonio da Mota (Porto, 2013) e Handle with Care, Galpão Fortes Vilaça (São Paulo, 2010). Já entre as coletivas, chamam atenção as participações de Rodrigo em Champs Elyseés, no Palais de Tokyo (Paris, 2013), Imagine Brazil, Astrup Fearnley Museet (Oslo, 2013) e Itinerários – Itinerâncias, 32ª Panorama do Museu de Arte Moderna de São Paulo (2011), The Spiral and the Square, Bonniers Kontshall, Stockholm, (Suécia, 2011).

 

 

A partir de 30 de outubro.

A arte incomum de André Venzon

Artista visual e multimídia, Integrante da nova geração da arte contemporânea no Rio Grande do Sul, André Venzon realiza a exposição intitulada “Pois eu estou em sua memória”, individual na Galeria Península, Centro, Porto Alegre, RS. A mostra recebeu apresentação do crítico paulista Gilberto Habib Oliveira.

 

 

POIS ELE MERECE ESTAR EM NOSSA MEMÓRIA

Texto de Gilberto Habib Oliveira

 

Tão oportuna quanto arriscada, já se faz necessária uma leitura retrospectiva da obra e da trajetória do artista gaúcho André Venzon. A oportunidade é dada pelos ciclos que se completam, ressaltando a visão teleológica dos significados que de pouco em pouco construíram o corpus de sua obra, somados a alguns de seus feitos institucionais, dentre os quais, à frente da Associação Chico Lisboa ou, mais recentemente, do MAC-RS. O risco, em se tratando da arte, é encerrarmos tal percurso em adjetivos que se acercam sem tentar definir. Lançando-nos, pois, a tentativa de esclarecer, sem aprisionar, uma obra por natureza aberta e um percurso por trilhar.

 

André sempre surpreendeu com seu senso de coletividade, envolvendo-se em movimentos, projetos, editais, simpósios ou organizando mostras coletivas pelo Brasil afora. Voltado em seus trabalhos aos  conceitos de identidade e lugar na construção poética, sempre teve coragem e consciência de não relegar o entorno e o social à mera indiferença. Fosse por meio das diversas figuras de alteridade criadas em seu universo estético, nos elementos constituintes da arquitetura e da paisagem presentes desde o início em sua produção; fosse na mobilização de outros artistas, colecionadores, críticos ou dirigentes culturais nas muitas frentes institucionais em que buscou estar inserido. Expressões talvez de uma única realidade construtora de sua identidade como cidadão e como artista, que perpassa a responsabilidade de engajar, envolver, conscientizar ou, no mínimo, provocar espectadores e produtores de um único grande circuito. “Em sua silenciosa luta ética, este jovem artista extravasa a busca de identidade para muito além de si mesmo e projeta-a à arte. Mesmo que esta, hoje, já distante dos seus contornos formais e conceituais, esteja voltada à miragem de referências e ao provisório da verdade, André a resgata como busca máxima de autenticidade e criticidade” profetizava Monica Zielinsky, em seu texto sobre o ainda jovem artista, em 2006.

 

Venzon é, neste sentido, cumpridor de uma vocação profunda de artista. Como poucos que se conhece. Tudo nele é mobilização, da matéria prima ao tema, do significado ao suporte, tudo é pretexto para pensar e compor o papel afirmativo e interrogativo no infinito campo de interações entre artista e espectador. Como destacou a historiadora Paula Ramos, ele “…tem buscado estabelecer pontes formais e conceituais entre o lugar e o sujeito, entre aquele que vivencia e aquilo que o envolve, alinhavando múltiplas temporalidades”.

 

Não haveria, assim, neste infinito de possibilidades, necessidade mais natural do que tentar encontrar, passados os anos, um denominador comum para o que lhe é próprio. E eis que encontra na cor fúcsia dos tapumes ― por vezes aliada à sua textura ou a materialidade mesma da madeira ― um signo forte para si. Não importa não se tratar do primeiro artista a utilizá-la, mas basta ter acertado na escolha, fazendo dela um signo potente e singular de si mesmo.

 

Síntese fascinante, excêntrica e exótica. Social e atemporal, a cor de tapume na poética de André Venzon perpassa uma década sendo incorporada aos seus feitos até converte-se, definitivamente, na pele do artista. Dos vários signos que com ela pode compor em séries de trabalhos como “Qual é o seu lugar?”, “Boates”, “Vitrines”, “Cidade sem face”, “Luxúria”, entre a consciência do lugar, do corpo, da memória e da arte, essa cor já lhe serviu a vários discursos. Vindo agora a completar-se na exposição “Pois eu estou em sua memória”, ela penetra definitivamente nosso imaginário, se derramando como figura espectral, brilhante e fugidia tal como indexada no cartaz da mostra.

 

Hoje “sua”, a cor de André é ainda mais eloqüente, convertida em unidade identitária, mas também suporte de uma alteridade contemporânea, extemporânea, mítica, à serviço das muitas “capas”, peles ou máscaras a que os tapumes se convertem. Incapazes de disfarçar as mazelas, de encobrir os defeitos, de sustentar o (falso) glamour da cidade que, em nome do progresso, mais se arruína ao definir tão somente não-lugares. Destas vãs tentativas, os tapumes, com sua cor marcante, logram apenas ressaltar sua própria identidade e presença. “Matam” a paisagem real para ressuscitarem como memória artística, impondo o protagonismo desta sobre a outra.

 

Novas possibilidades de um imaginário urbano, a tomar a frente dos “flaneurs” e “futuristas”, o fúcsia dos tapumes se somam aos reflexos caóticos de prédios envidraçados e vitrines, sublimando em silêncio o vazio das cidades. Seriam talvez, versões luxuriosas do famigerado cinza das “selvas de pedra”? Ou novas expressões da teatralidade do mundo, ao fazerem-se de moldura ou cortina do palco em que encena-se a vida cotidiana? Eis que André se reveste dessa pele como a alma ancestral das cidades do futuro, a renovar-lhe possíveis novas metáforas. Dando novo corpo, alma e cor a um sempre crescente coletivo de muitos.  Formando um corpus significante, em tempos de uma experiência de arte e de cidade carente de significados.

 

 

Sobre o artista

 

André Venzon, nasceu em Porto Alegre, 1976. Diplomado em Desenho pelo IA/UFRGS. Dedica-se ao estudo dos conceitos de lugar na construção poética dos seus trabalhos. Diante de sua forma de olhar e perceber a arte como atributo social, participou do FUMPROARTE (PMPA), foi presidente da Associação Riograndense de Artes Plásticas Francisco Lisboa (2006-2010) e vice-presidente do Conselho Estadual de Cultura, membro do Colegiado Nacional de Artes Visuais e, atualmente, é diretor do Museu de Arte Contemporânea do Rio Grande do Sul – MAC/RS – e curador do Projeto RS Contemporâneo do Santander Cultural. Realizou diversas exposições, entre as quais se destacam: 18º Salão de Arte Jovem de Santos; 3º Salão de Arte de Porto Alegre; 3º Salão Nacional de Arte de Goiás; 4ª Bienal de Arte e Cultura da UNE em São Paulo; BOATES no Centro Cultural dos Correios no Rio de Janeiro e no MARGS; 10ª Bienal de Santos; 13° Salão da Bahia, do Museu de Arte Moderna na Bahia. Foi curador da I Bienal B, artista-âncora do Essa Poa é Boa e oficineiro da Rede Nacional de Artes Visuais da Funarte em Parintins, Manaus e Rio de Janeiro.

 

 

Até 06 de novembro.

Véio: livro e exposição

Para a Galeria Estação, Pinheiros, São Paulo, SP, nada poderia ser mais representativo do que comemorar os seus 10 anos com uma exposição e um  livro de  Cícero Alves dos Santos, o Véio. Afinal, desde a sua inauguração, a galeria trabalha no sentido de diluir a fronteira que separava artistas de raiz popular do cenário da arte contemporânea brasileira. Véio é resultado significativo desse empenho.

 

Hoje críticos como Rodrigo Naves — que assina os textos da mostra e do livro editado pela WMF Martins Fontes -, Lorenzo Mammì, Paulo Sérgio Duarte, entre outros, se interessam cada vez mais por esta produção, assim como o circuito internacional. Véio acaba de voltar de Paris, depois de participar da exposição comemorativa dos 30 anos da  Fundação Cartier, ao lado de  outros brasileiros, como Adriana Varejão e Beatriz Milhazes. O artista sergipano não foi o único da Galeria Estação a ser selecionado, lá estavam também Zé Bezerra e Nino, trio que já havia participado de outra mostra no espaço francês em 2012.

 

Com cerca de 45 trabalhos, a exposição de Cícero Alves do Santos: Véio reúne obras recentes, realizadas entre 2013 e 2014, em grandes e pequenas dimensões. Nas peças maiores, troncos, galhos e raízes têm uma presença decisiva e Véio intervém apenas pontualmente, esculpindo ou pintando, para tornar mais explícitas as figuras e formas que vislumbra naqueles elementos naturais que ele chama de “madeiras abertas”.

 

Conforme aponta Naves, com o aspecto vegetal do material realçado, o uso da cor intensa surpreende ao revelar uma feição artificial e pop, mas acaba reforçando os fenômenos naturais do tronco, da raiz ou do galho. “Como as cores não têm grande importância na definição formal das obras, elas ajudam sobretudo a realçar a irregularidade dos volumes que recobrem, sem ocultar sua origem orgânica e vegetal.”

 

Já as formas pequenas, destaca Naves, por meio de entalhes realizados a canivete em pequenos ou pequeníssimos pedaços de madeira, as chamadas “madeiras fechadas”, o artista faz a figura tomar totalmente a madeira pelas formas em que se transformam, mal deixando entrever o lenho de origem. “Na obra de Cícero – sertanejo que conseguiu comprar uma pequena reserva florestal por preocupações exclusivamente preservacionistas –, as consequências nefastas da dominação sobre a natureza se fazem notar na própria escala dos objetos: quanto maior a intervenção humana, menor a força e potência dos seres que resultam dela; ainda que esse aspecto acentue sua grandeza estética”, escreve o crítico.

 

Assim como muitos de seus conterrâneos, o escultor recebeu seu nome em homenagem a Padre Cícero. Já o apelido surgiu porque ele gostava muito de escutar as conversas das pessoas mais velhas. Autodidata, Véio admirava a cultura popular desde criança, quando começou a executar suas primeiras peças em cera de abelha. A relação intensa com seu meio fez o artista criar, ao lado de seu ateliê, localizado no interior sergipano, um “Museu do Sertão”. Muitos dos objetos recolhidos no museu testemunham o embate do homem do campo com a natureza. São chapéus de couro, utensílios domésticos, maquinas rústicas, roupas e acessórios que fazem parte da vida do sertanejo.

 

 

Até 20 de dezembro.

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