ITALIANOS E BRASILEIROS, MURAIS PARA O RIO

06/jul

A Caixa Cultural, Centro, Rio de Janeiro, RJ, apresenta o projeto coletivo denominado “Mural Itália-Brasil”. Desde o dia 16 de maio, o artista brasileiro Ozi e a dupla italiana Orticanoodles (Wally e Alita) trabalharam juntos no Rio de Janeiro no projeto “Mural Itália-Brasil”, idealizado pelo curador Marco Antonio Teobaldo. Os artistas criaram murais no respirador da estação de metrô da Cinelândia e na comunidade do Vidigal, levando sua arte para os espaços ao ar livre, chamando a atenção também das pessoas que não costumam frequentar os ambientes de exposição de obras de arte.

 

O projeto “Mural Itália-Brasil” é uma ação conjunta entre oito artistas dos dois países, por ocasião das comemorações do “Momento Itália-Brasil”, para a promoção da arte urbana italo-brasileira, nas cidades de Brasília, Salvador e Rio de Janeiro. Um artista local e convidados italianos, criam murais utilizando as técnicas de grafitti, pôster arte, máscaras de estêncil e adesivos, técnicas que compõem o repertório da street art.

 

De acordo com o curador Marco Antonio Teobaldo, “…este projeto vai estimular a arte urbana, promovendo ações educativas para geração de novos talentos, e, propor aos artistas urbanos e à população em geral, uma consciência de preservação do patrimônio público de suas cidades”.

 

O projeto já foi realizado com grande repercussão em Brasília e Salvador, durante o mês de maio. No Rio de Janeiro, foi inaugurada a exposição com o registro dos trabalhos realizados nas três capitais, quando também foi lançado o catálogo do projeto.

 

Texto de Heloisa Buarque de Hollanda

Cruzamentos Possíveis

 

O Brasil, e não apenas São Paulo como se pensa, tem um claro sotaque italiano. Nada mais adequado do que celebrar essa linhagem precisamente num ano em que se comemora oficialmente a presença da cultura italiana no Brasil. O Momento Itália-Brasil foi a oportunidade que o curador Marco Antonio Teobaldo aproveitou para uma das experiências mais interessantes da arte pública atual. Uma exposição simultânea de artistas que trabalham intervenções em muros e fachadas usando técnicas de estêncil, colagem, graffiti, desenho e pintura.

No caso deste projeto Mural Itália-Brasil, a experiência foi expandida numa proposta de criação colaborativa entre artistas italianos e brasileiros. Foram escolhidas as cidades de Brasília, Salvador e Rio de Janeiro como os suportes ou loci das realizações.  E então, os artistas que poderiam continuar distantes pela geografia, língua e pela cultura, mas que conseguiram uma profunda identidade através da criação.

Os artistas tomaram conhecimento do trabalho de seus parceiros e a partir daí começaram uma comunicação virtual cuja probabilidade de acerto era pequena. Mesmo assim, valendo-se de atalhos como o Google Translator, e da identificação por meio de suas linguagens e técnicas artísticas, fluiu um entendimento riquíssimo. Do virtual para o presencial, surgiram alguns aspectos inesperados. Primeiro o trajeto inusitado da criação. Nas três cidades, foram escolhidos locais de alto impacto urbano para a produção dos murais: um espaço institucional, um espaço central de grande circulação e visibilidade e um espaço excluído das cidades, dentro das periferias e comunidades. Para cada local, um público, uma resposta. E para cada um, um novo contato, uma nova descoberta entre culturas.

O encontro profundo entre duas linguagens em busca de uma única obra gerou um resultado surpreendente. Em Brasília, os artistas foram Guga Baygon, cuja marca são figuras que lembram ETs, e o coletivo romano Eikonprojekt, cuja temática são santos católicos e super-heróis. Olhando os murais, feitos a seis mãos, o trabalho criado a partir de universos tão distintos resultou num hibridismo de imaginários cruzados e surrealista.

Em Salvador, os três murais realizados pelo Corexplosion e Lucamaleonte, cujo trabalho é de pintura a partir de desenhos de animais em P&B e ouro, espalharam cor e fantasia sobre a cidade. Animais selvagens em traço fino e estêncil não apenas conviviam, mas ainda pareciam ser interpelados pela cor intensa dos animais estilo toy arte do baiano Core.

No Rio, última etapa do projeto, a surpresa se intensifica. A dupla escolhida foi o paulistano Ozi, precursor da street art no Brasil, e o coletivo de Milão Orticanoodles, retratistas com atuação em galerias e ruas. Mesmo antes do primeiro contato com o parceiro Ozi, o casal italiano elegeu Gilberto Gil como tema do mural gigante na Cinelândia, devido à sua atuação como artista, político e ambientalista. Nesta única vez, durante o projeto, em que os artistas produziram murais independentes, o que se vê é um diálogo sobre cidades e mitos. Ozi, na superfície da coluna que se ergue no meio da praça, faz surgir, num sofisticadíssimo trabalho em estêncil cor, um São Sebastião multicultural rodeado de arcos romanos e pela dramaturgia do mar carioca. No contraplano, Gilberto Gil reina absoluto num trabalho belíssimo feito de máscaras de acetado recortadas à mão.

Itália e Brasil em três experiências que deixarão sua marca nas cidades por onde passou.

 

 

Até 12 de agosto

21 PINTURAS DE GONÇALO IVO

05/jul

Anita Schwartz Galeria, Gávea, Rio de Janeiro, RJ, apresenta, a exposição “Lamento”, do artista plático Gonçalo Ivo e lançamento do livro “Oratório” (Contra Capa Editora, 2012), que traz a produção pictórica de Gonçalo Ivo desde 2009 e inclui as séries que o artista batizou de “Oratório”, “Acorde”, “Fuga” e “Lamento”. Gonçalo Ivo exibe 21 pinturas em óleo sobre tela, produzidas entre 2010 e 2011.

 

Os trabalhos expostos estarão no livro e o titulo da exposição surgiu como alusão a um tipo de música muito usado pelos compositores do barroco alemão, inglês e italiano.

 

A palavra do artista

 

“Mesmo compositores de blues e jazz bem como algumas toadas nordestinas fazem referência a este ‘estilo musical’. Segundo os dicionários, tem a ver com canto de dor, e é neste sentido e também como exaltação da criação e num mergulho cada vez mais radical em minha própria poética – fazer a cor e o que ela engendra enquanto forma – que vejo a necessidade de expressar o que em mim é singular”.

 

“É uma série inédita, indivisível, formando uma só obra. É um poliptico onde cada pintura tem sua autonomia, porém se vincula ora formalmente, ora sob o ponto de vista cromático com o todo bem como com a que lhe precede ou sucede”.

 

 

Até 07 de julho.

O MUNDO FANTÁSTICO DE MÁRIO GRUBER

04/jul

Mário Gruber

O Centro Cultural Correios, Centro, Rio de Janeiro, RJ, inaugura a exposição “O Mundo Fantástico de Mário Gruber”, artista falecido em dezembro de 2011 aos 84 anos. Com curadoria de Denise Mattar, a mostra apresenta um panorama completo da obra do artista, realizada ao longo de seis décadas de atividade artística.

 

Durante toda sua vida Gruber trilhou um caminho único. A reboque de todos os modernismos inspirou-se nos mestres do passado, criou sua própria e requintada técnica de pintura e debruçou-se sobre um realismo mágico inteiramente pessoal. Alcançou o sucesso e a fama, foi igualmente endeusado e repudiado, mas nunca pode ser acomodado em nenhum dos nichos criados pela crítica de arte: Gruber é Gruber.

 

Na década de 1940, o artista pintava e gravava retratos, paisagens e naturezas-mortas seguindo os caminhos da arte da época, mas já buscando sua própria forma de expressão. Na década de 1950, alguns temas e características particulares tornaram-se evidentes: a preocupação com a qualidade técnica, o uso dramático do claro-escuro e uma predileção pela figura humana, captada em sua condição de espanto e solidão. Obras, como “Meninos” e “Engraxate” prenunciam o aparecimento do “Muleque Cipó”, personagem arquétipico que Gruber irá retratar sob diferentes nomes ao longo de muitos anos, sempre evidenciando a condição do menino pobre, irreverente, triste, desprotegido e perigoso.

 

Nos anos 1960, aparece o tema dos “Fantasiados” que o artista pinta também por muito tempo, mergulhando, cada vez mais fundo, no onírico mundo das máscaras, compondo imagens eivadas de símbolos e sempre usadas como formas de entender o real. Nos anos de chumbo da ditadura, através dos “Anjos da Renascença Brasileira”, Gruber denuncia a censura que transformava a todos em marionetes, em anjos de asas que não voavam. A série “Profeta dos Anzóis”, iniciada nos anos 1980, estendeu-se até os anos 1990, levantando questões existenciais entre metáforas de chaves e anzóis. Em 2000, o artista, conhecido como exímio colorista, ousou realizar um conjunto de obras monocromáticas que encerra o grupo de pinturas.

 

A exposição apresenta também um extenso grupo de gravuras e matrizes nas quais fica evidente a maestria de Gruber no manejo da goiva e do buril, sua inventividade na experimentação e seu engajamento em questões humanitárias.

 

De 04 de julho a 12 de agosto.

ROITMAN: RESPIRAÇÃO/PIRAÇÃO

03/jul

O artista plástico Herton Roitman exibe sua mais recente série de trabalhos, pinturas e objetos, na exposição denominada “Respiração Piração”, Almacén galeria, CasaShopping, Bloco G, lojas F/M, Barra da Tijuca, Rio de Janeiro, RJ. Herton Roitman possui mais de trinta anos de carreira como artista plástico profissional, dedica-se também a experiências gráficas e conceituais. Natural do Rio Grande do Sul, residiu em Minas Gerais e na década de 60 fixou-se na capital paulista onde desenvolve sua carreira artística participando de mostras individuais e coletivas, em espaços privados e institucionais. Na exposição atual, o artista apresenta um dado interessante, faz uma espécie de balanço confessional da vida e da carreira. A coordenação é de Edson Thebaldi e o projeto gráfico do catálogo é assinado por Roger Christian.

 

A palavra do artista

 

Reaprendendo a Respirar

 

Decidi aprender algumas coisas novas, pois percebi muitas outras desnecessárias que tomavam conta da minha vida.

Coisas aparentemente pequenas, que começam a tomar vulto à medida que os dias passam e surgem novas preocupações e necessidades.

Resolví escrever com letra minúscula e usar só Maiúscula para iniciar um texto, um novo parágrafo, citar nomes de pessoas, cidades, do que realmente importa.

São muitos anos escrevendo com letras garrafais. Pra que?

Não há necessidade de escrever aos berros, sou pessoa que ama o silêncio, devo fazer jus a isso.

Foi sempre minha preocupação, dificilmente grito ou falo alto. em situações necessárias ou quando fico puto, bravo, me sinto invadido, agredido. Pessoas que falam muito alto me irritam. Quando os corações estão próximos não é preciso gritar, corações apaixonados sussuram, pessoas que se gostam falam normalmente.

Resolvi transformar minhas escritas em pequenos poemas, mesmo banais, acho que vale fazer da vida uma pequena antologia.

Prozarei se me convidarem, será um prazer.

Se vier acompanhada de um bom vinho e uma comidinha, ainda melhor.

Decidi não ver mais filmes violentos, só os bons. Elegi o Piano, o Violino e o Cello meus instrumentos de devoção, não renegarei os grandes concertos, nem a boa música popular. Também decidi não me meter mais em contendas que não sejam realmente muito importantes.

Resolvi vasculhar o sótão, recuperar coisas que amei e estavam esquecidas ou guardadas.

Quero re-ouvir, re-ler, re-ver, me reavaliar. Saber qual a minha real posição dentro do mundinho em que vivo.

Resolvi aprender a escrever novamente, coisas que há muito desacostumei de fazer. Quero escrever alguma coisa que eu possa deixar entre meus guardados. Vou escrever em pequenos cadernos, pequenas coisas, poesia, reflexões, pensamentos. Um pouco de tudo, até receitas, minhas invenções culinárias. Quero reaprender ou até aprender pra valer a Paciência, a Misericórdia e a Compreensão. Reavaliar as minhas  virtudes, se realmente as tenho, ou se estou precisando praticá-las.

Preciso aprender um pouco mais sobre Gentileza, amor e piedade. Ser mais Cordial, mais sincero.

Preciso demonstrar meu amor pelas pessoas, enquanto estou por aqui e elas também. Ver a vida com mais otimismo. Confiar mais em mim e nos outros. Preciso aprender que não estou só, que minha solidão é só aparência, que sempre tem alguém pensando ou torcendo por mim.

Quero dar mais oportunidade aos meus talentos, à capacidade de riar, aprender a me fazer reconhecer, valorizar mais a mim e aos outros. Desenhar é uma paixão, mas preciso me apaixonar ainda mais. Pintar é uma necessidade da alma e meu sustento. Preciso trabalhar mais, viajar mais, simplificar, respirar melhor e com atençao. Mais ação.

Essa nova exposição é um reflexo de tudo isso. É muito mais que uma simples exposição…tem um pouco do meu mundo particular. Aqui, hoje, eu me exponho mais que tudo.

 

De 03 a 22 de julho.

FRANKLIN CASSARO NA LAURA ALVIM

27/jun

Chama-se “Espacial”  e sob a curadoria de Fernando Cocchiarale, a individual que Franklin Cassaro realiza na Galeria Laura Alvim, Ipanema, Rio de Janeiro, RJ. A exposição (com dezenas de  esculturas de formatos díspares em papel alumínio de diversos tipos), é um resumo do processo criativo de Cassaro e a primeira em que mostra grupos tão distintos de trabalhos, datados de 2001 a 2012, desde os “Infláveis”, pelos quais o artista é mais conhecido, aos “Recicloides”, esculturas híbridas de bichos e robôs. Em comum, os trabalhos têm o papel alumínio como material, em suas diversas aparências. O artista não usa qualquer instrumento na feitura das esculturas, elas são criadas manualmente.

 

Os três “Infláveis” desta mostra são inéditos. O maior, de plástico laminado com alumínio semitransparente, ocupa toda a área de uma das salas da Galeria Laura Alvim, de 24 metros quadrados. Outro trabalho deste grupo é “Cardume venusiano”, sacos voadores soltos no espaço expositivo, submetidos a um vento estudado, formando um fluxo que circula pela sala. Os sacos são envelopes de CD, coloridos por fora e dourados ou prateados por dentro, que com o vento, produzem som. A terceira peça inédita é “Laika meu amor, uma gaiola com a reprodução inflável da cadela Laika, o primeiro ser vivo enviado ao espaço sideral pelos soviéticos no Sputnik -1, em 1957.

 

No “Gabinete de curiosidades alienígenas”, Cassaro monta ambiente com mobiliário e vitrines com dezenas de peças pequenas em  alumínio prateado comum – vermes, pássaros, crânios, pedras e fragmentos de animais.

 

O alumínio colorido aparece nos “Recicloides”, seres que são um misto de bicho e robô. O material é o usado em embalagem de bombons artesanais. Nesse grupo estão cinco fêmeas “fatais”, como adjetiva o artista – mulher mantis [louva-deus], medusa, mulher escorpião, lady joaninha, com grandes garras, e viúva negra – e perereca trepadeira, falsa coral verdadeira e velociraptor cor-de-rosa, entre outros. Os “Recicloides” são minuciosamente detalhados, tanto quanto joias, segundo o artista. Em “Desenhos mordidos”, a imagem é produzida pelas mordidas do artista sobre o papel, que resultam em formas semelhantes a esqueletos.

 

Além do material, papel alumínio de vários tipos, comum a todos os trabalhos, Cassaro faz um paralelo entre a evolução dos seres e a da sua produção. Ele acrescenta, testa, uns desaparecem, alguns são registros fósseis, que não voltam mais a ser feitos, e outros, evoluem.

 

Sobre o artista

 

Franklin Cassaro, Rio de Janeiro, 1962, formado em Administração de Empresas e Analista de Organização e Método, estudou escultura na Escola de Artes Visuais do Parque Lage. Possui trabalhos e nos acervos do MAM Rio, MAM SP, Museu Nacional de Belas Artes e Coleção Gilberto Chateaubriand, entre outros.

 

Suas primeiras exposições individuais foram, em 1988, na Galeria Macunaíma, Funarte, RJ, e no MAC, São Paulo. Desde então, Cassaro realizou exposições individuais em diversas capitais brasileiras e na Alemanha e Austrália. Participou de dezenas de exibições coletivas no Brasil e no exterior, incluindo a Bienal do Mercosul, Porto Alegre, 1999 e a Bienal de Havana, 2000.

 

De 28 de junho a 12 de agosto.

FOTOS SURREAIS DE FLORIANO MARTINS

26/jun

O Espaço Cultural Citi, Avenida Paulista, São Paulo, SP, inaugurou a exposição “Na mão de Adão cabem todos os sonhos”, considerável acervo de fotografias surreais do poeta Floriano Martins. A curadoria é do renomado crítico de arte Jacob Klintowitz que destacou seleto grupo de imagens para exibição. Segundo Jacob Klintowitz, “…esta mostra teve um dado interessante, pois eu lidei com o excesso: selecionei 30 fotos entre centenas. A fonte, neste caso, parecia inesgotável Também neste caso foi um ato de contenção, pois cada foto permitiria um texto a parte.”.

 

Texto de apresentação

 

Na mão de Adão cabem todos os sonhos.

por Jacob Klintowitz

 

Quem poderá saber que novas galáxias Floriano Martins ainda inventará para apaziguar a sua curiosidade febril e aumentar a nossa surpresa e o nosso prazer?

Floriano Martins não é exatamente um fotógrafo, mas um inventor de imagens fotográficas. A máquina, o computador e o laboratório, são seus instrumentos, da mesma maneira que o pincel e o pigmento são instrumentos do pintor. Ele constrói minuciosos cenários, planeja todos os detalhes das cenas ao ar livre e, simultaneamente, se deixa conduzir pelo improviso, pelo que a paisagem, os modelos humanos e a sua imaginação, sugerem. É deste cadinho, que ferve substâncias variadas, que emergem estas encantadoras cenas. Ao mesmo tempo em que parecem infinitas em suas possibilidades de automodificação, estas fotografias tem uma inquietante estabilidade. Estas estranhas cenas e a sua inesperada beleza, vieram para ficar. A misteriosa mão estendida, recoberta de barro, constituída de barro, mão cerâmica, tem um aspecto ancestral, como se viesse de tempos imemoriais. E é a marca desta série. Mesmo que cada foto seja independente em si mesmo, ainda assim a força da imagem da mão – intuímos que seja capaz de inventar e moldar – simboliza a capacidade de gerar e tornar os sonhos em ficções poéticas e objetivas.

Mão feita de barro, como o mítico primeiro homem da nossa espécie, o homem feito de barro e animado pelo sopro. O pó da nossa matéria e a alma instalada pelo sopro divino. O barro queimado tornado homem cerâmico pelo vento ardente, o Pai Adão. É neste mito, e à semelhança do mito, onde navega a anima de Floriano. Ele mistura, combina, desconjunta, embaralha, estabelece relações entre imagens diversas e inventa novas visualidades.

E nem poderia ser diferente com a produção destas imagens. Floriano Martins é um criador incansável e múltiplo. Ele editou por 10 anos a revista digital “Agulha Revista de Cultura”, das mais lidas da língua portuguesa. E a “Agulha hispânica”, na qual estabeleceu um diálogo intenso entre as culturas dos vários países de língua espanhola. E é um profundo historiador do surrealismo na América Latina.  E é um poeta editado em vários países. E um crítico de cultura, tradutor e letrista.

Quem é Floriano Martins? Trata-se de um Mestre do Inusitado.

 

Até 17 de agosto.

SAMICO NA GALERIA ESTAÇÃO

22/jun

SAMICO inaugura exposição individual na Galeria Estação, Pinheiros, São paulo, SP. O artista apresenta 16 de suas raras xilogravuras, realizadas de 1992 a 2011, e duas matrizes entintadas para que o público aprecie seu apurado processo de trabalho. Criador de uma obra singular, Gilvan Samico no entalhe da madeira faz multiplicar reinados humanos e animais, oníricas composições que, desdobradas em séries de xilogravuras, solidifcaram sua imagem como um dos grandes mestres da arte brasileira.

 

Com sua obra produzida em sua casa ateliê em Olinda, o integrante do Movimento Armorial, idealizado por Ariano Suassuna, destaca-se ainda no panorama da gravura por ser um dos raros artistas que desenha, grava e imprimi manualmente seu trabalho. “Sonho, delírio e poesia”, como definiu Ferreira Gullar a obra do gravador, são construídos com tamanho rigor técnico que cada cor para ser impressa em apenas um exemplar leva não menos de duas horas. Personagens bíblicos ou provenientes de lendas e narrativas regionais, assim como animais fantásticos e míticos, marcam a produção do artista na qual a erudição provém da cultura popular.

 

Para Weydson Barros Leal, que escreve o texto do catálogo da exposição, as imagens criadas por Samico, minuciosamente gravadas, …”são registros de um mundo particular que ao mesmo tempo é íntimo e universal, e por isso também humano” e mais adiante, completa: “Esse humanismo refletido em símbolos e figuras, será mais claro ou menos distante para aqueles que o reconhecerem com o pensamento sensível, muito antes do mero arcabouço erudito (…) erudição depositada em cada traço do desenho, escondida sob a tinta preta ou nas cores que se abrem como frases sublinhadas para clarear um sentido”.

 

O artista

 

Gilvan Samico, nasceu em 1928, Recife, PE, fundou em 1952 juntamente com outros artistas, o Ateliê Coletivo da Sociedade de Arte Moderna do Recife – SAMR, idealizado por Abelardo da Hora. Em 1957 estuda xilogravura com Lívio Abramo na Escola de Artesanato do Museu de Arte Moderna de São Paulo – MAM/SP, e, no ano seguinte com Oswaldo Goeldi, na Escola Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro.

 

Em 1965, fixa residência em Olinda. Leciona xilogravura na Universidade Federal da Paraíba – UFPA. Em 1968, com o prêmio viagem ao exterior obtido no 17º Salão Nacional de Arte Moderna, permanece por dois anos na Europa. Em 1971, é convidado por Ariano Suassuna a integrar o Movimento Armorial, voltado à cultura popular nordestina e à literatura de cordel.

 

 

De 26 de junho a 31 de agosto.

PAULO VIVACQUA EM BH

21/jun

A Galeria Murilo Castro, Savassi, Belo Horizonte, MG, apresenta a exposição “kms5n6j6jw6EHkuhuf7ytgEQg4jk46a45h”, individual de Paulo Vivacqua. A mostra reúne esculturas e objetos nos quais os materiais físicos, como o vidro, plástico, metal e granito, cujas formas plásticas e visuais se fundem com o áudio, ou simplesmente com a ideia de um determinado som.

 

Nessas obras – que incluem sete esculturas sonoras, sendo duas de parede – o artista utiliza elementos relacionados funcionalmente com a produção do som, como alto falantes, fios e materiais acústicos, mas totalmente “desfuncionalizados”. Nesta nova perspectiva, os objetos servem apenas como um dispositivo mental para a imaginação de um som, ou ainda, da pura expectativa de qualquer coisa que venha a soar, ou mesmo falar.

 

Como bem explica Felipe Scovino em sua crítica sobre a exposição no texto do catálogo,”A economia da inutilidade”, “… um dos desafios do trabalho de Vivacqua começa na busca por articular dois domínios distintos, o sonoro e o visual. Nessa sinestesia, imagens e situações são formadas revelando paisagens sonoras. Um estranho zumbido, veloz, volátil e circular atravessa o espaço da galeria, mesmo que ele opere no plano da virtualidade”.

 

A mostra foi criada a partir do momento em que Vivacqua percebeu como alguns elementos eram constantes em sua obra. “Certos objetos estavam presentes em praticamente todos os meus trabalhos: alto falantes, fios e materiais diversos como vidro, mármore, metal, etc. Resolvi, então, exercer um trabalho de análise e re-combinação de seus elementos, deslocando-os de sua função inicial, inclusive do próprio som, que está apenas sugerido”, explica o artista.

 

Vivacqua acrescenta ainda que o próprio nome da exposição é um exemplo desse deslocamento, diz ele: “O título apresenta-se como um desafio de linguagem, pois posiciona-se em um campo híbrido na tensão que estabelece entre palavra, som e objeto”.

 

Pela segunda vez na capital mineira – em 2008 o artista também expôs na Galeria Murilo Castro – Paulo Vivacqua espera que a exposição tenha uma boa recepção pelo público. “A meu ver, uma exposição de arte contemporânea é sempre uma situação inusitada. Para mim o trabalho acontece a partir do momento em que captura o interesse de cada um, seja por um pensamento ou um som, uma imagem. E sempre gostei da introspecção no modo de sentir e perceber o mundo, e acho que isso tem algo a ver com Belo Horizonte. Será?”, finaliza.

 

Sobre o artista

 

Nascido em Vitória, ES, Paulo Vivacqua vive e trabalha no Rio de Janeiro. Reconhecido no meio artístico devido a sua pesquisa em arte sonora, suas produções quase sempre permeiam este cruzamento de linguagens, sonora e plástica. Entre elas, Paisagens Subterrâneas, 2000, Mobile, 2000 e as instalações Sound Field, 2002, Residuu, 2005 e Sentinelas, 2008. Além das exposições, Paulo Vivacqua participou de várias bienais, como a 2ª Bienal de Arte Contemporânea de Praga e a 5ª Bienal do Mercosul, Porto Alegre, RS, ambas em 2005. Em 2011, esteve novamente na 8a Bienal do Mercosul e, em 2012, irá participar da 30ª Bienal Internacional de São Paulo, entre os 21 artistas brasileiros convidados. A bienal acontece de 07 de setembro a 09 de dezembro, com o tema “A iminência das poéticas”.

 

De 21 de junho a 23 de julho.

ESMERALDO – SIMPLES COMO O TRIÂNGULO

20/jun

Com umas das trajetórias mais originais da arte brasileira, o artista plástico Sérvulo Esmeraldo, após a retrospectiva na Pinacoteca do Estado de São Paulo em 2011, apresenta um recorte de sua produção na mostra “Simples como o triângulo”, na Galeria Raquel Arnaud, Vila Madalena, São Paulo, SP. Com cerca de 70 trabalhos, entre esculturas, pinturas, relevos e objetos, a seleção traça um panorama que reúne obras históricas até atuais e inéditas.

 

Com exceção das gravuras realizadas no início de sua carreira, onde já se percebia o interesse do artista pela abstração geométrica, as demais fases encontram-se representadas nessa exposição. Destaque para a célebre série “Excitáveis”, realizada na década de 60, durante o período em que o artista viveu na França. Este trabalho, um experimento com a eletricidade estática que leva em conta a interação entre o corpo e o objeto, destacou-o no movimento de arte cinética internacional.

 

Escultor de excelência com alto rigor construtivo, Sérvulo apresenta também a série “Sólidos Geométricos”, que impressiona pela coerência e leveza, apesar da existência de um movimento potencial que quase se impõe à imobilidade do objeto. Fiel estudioso das leis da física, Esmeraldo apresenta ainda os seus “Teoremas”, que são mais do que simples evocações poéticas de demonstrações matemáticas. “São apropriações de diagramas de teoremas matemáticos da antiguidade e da modernidade que, despojados de suas referencias algébricas, tornam-se imagens sensíveis de ideias abstratas”, como aponta o crítico de arte Fernando Cocchiarale.

 

Sobre o artista

 

Escultor, gravador, ilustrador e pintor. Crato, CE, 1929. A partir de 1947, frequenta a Sociedade Cearense de Artes Plásticas – SCAP onde manteve contato com os artistas Antonio Bandeira e Aldemir Martins. Em 1951 segue para São Paulo, trabalha na montagem da 1ª Bienal Internacional e no Correio Paulistano, como ilustrador e gravador.

 

Sua primeira individual na capital paulista aconteceu em 1957, no MAM/SP. Após a mostra, viaja para a Europa com bolsa do governo francês, onde estuda técnicas da gravura em metal e litografia. Nos anos 60, ainda na França, integra o movimento de arte cinética, quando realiza a série dos “Excitáveis”. Retorna ao Brasil em 1978, trabalhando em projetos de arte pública, principalmente esculturas de grande porte que ornamentam a paisagem urbana de Fortaleza, cidade onde vive e trabalha desde 1980.

 

Sérvulo Esmeraldo participou de diversas exposições, entre elas: 6º Salão Paulista de Arte Moderna (1957), 5ª, 6ª, 7ª e 19ª edições da Bienal Internacional de São Paulo (1959, 1961, 1963, 1987), 14ª Trienal de Milão, 1967 – Itália, Exposição Internacional de Gravura 1970 – Cracóvia – Polônia, Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP, 1974, São Paulo – SP, Um Século de Escultura no Brasil, no Masp, 1982 – São Paulo – SP, Brasil + 500 Anos: Mostra do Redescobrimento, na Fundação Bienal, 2000 – São Paulo – SP, além da grande retrospectiva realizada pela Pinacoteca de São Paulo, em 2011. Sua obra está representada nos principais museus do País e em outras coleções públicas e privadas do Brasil e exterior.

 

De 21 de junho a 18 de agosto.

CORES, PALAVRAS E CRUZES

19/jun

A Galeria Nara Roesler, Jardim Europa, São Paulo, SP, apresenta, “Cores, Palavras e Cruzes”, exposição individual de pinturas e desenhos recentes de Karin Lambrecht. A artista realiza sua terceira mostra individual na galeria e apresenta cerca de 30 obras, entre desenhos e pinturas, produzidas entre 2009 e 2012. “O conjunto de telas que Karin Lambrecht ora apresenta resulta de intenso trabalho com cores, dissonantes, às vezes, como em um acorde musical, impregnando sua pintura de colorações que lhe são próprias”, explica Gloria Ferreira, curadora da exposição.

 

Karin Lambrecht, participou da icônica exposição “Como vai você, geração 80″, em 1984, trouxe novos rumos para a arte contemporânea nacional, repensando a tela e a forma de pintar. Suas obras habitam um espaço entre pintura e escultura, dialogando com a arte povera, corrente artística que se desenvolveu durante as décadas de 60 e 70, na Itália. Durante toda sua carreira, o tempo é entendido como condição vital da arte, questão que chega ao ápice em 2008, na instalação “9 de agosto de 1949, dia e noite, Camus em Porto Alegre”, referencia ao filósofo existencialista. Seu trabalho, que faz parte de coleções importantes como a da Pinacoteca do Estado de SP, Instituto Itaú Cultural e merecu sala especial na 25ª Bienal Internacional de São Paulo, em 2002.

 

As obras apresentadas revelam preocupações estéticas e éticas voltadas para um possível poder curativo das cores. A ideia de cura está no centro do objeto Cruz elementar, em papel e madeira, de forma meio triangular, com textos manuscritos ou marcados por carimbos e cruzes. A esse trabalho, unem-se desenhos nos quais Karin Lambrecht molda papeis, dobraduras e recortes de modo artesanal, utilizando ainda pigmentos e materiais como gaze e isopor.

 

Abstratas, com formas geométricas e pinceladas expressionistas e largas, as telas são de diversos tamanhos Nas quatro grandes, feitas ao longo de vários meses, os pincéis parecem querer voar pela necessidade de expansão e transmitem sensação de liberdade. Nas pequenas, de processo mais rápido, mais sob seu controle, somam-se tinta, pastéis secos e carvão, com mudanças de tonalidades de uma para outra. Há algumas, de dimensões intermediárias, cujo tratamento pictórico remete igualmente à cor como matéria espiritualizada com suas polaridades e interações, garantindo a alta voltagem de sua pintura.

 

As tintas, confeccionadas pela própria artista, trazem pigmentos de várias origens que interagem com o cádmio verde, misturado, que vem juntar-se ao ultra marinho rosa; o azul-paris mais o cobalto-turquesa, mais cádmio vermelho; ou ainda o lápis-lazúli e cores terrosas. A artista também mudou palavras que aparecem em algumas obras. Palavras que às vezes se dissolvem sob as várias camadas de tinta ou se transmutam, como em “teia” para “veia”, tendo, contudo, sempre o T, evocando ainda uma vez a cruz, a morte, a cura, a doença.

 

A série “11 Legendas para Bergman”, por sua vez, apropria-se de frases do depoimento intimista do cineasta, aos 88 anos, sobre sua vida, infância, casamentos, filmes e sobre Fårö, em “A Ilha de Bergman”. Sobre papel de seda, as legendas, compostas com letras recortadas, têm os Ts em papel de prata, o que, em alusão à cruz, remete ao mesmo pensamento melancólico: “Não houve um dia em minha vida em que não tivesse pensado na morte”, diz o diretor sueco, cuja história guarda traços da própria história familiar de Karin.

 

Até 21 de julho.