Duas vezes Tunga em São Paulo

15/dez

 

 

Tunga no Itaú Cultural e Instituto Tomie Ohtahe.

 

A exposição “Tunga: conjunções magnéticas” reúne aproximadamente 300 obras do artista. “Tunga: conjunções magnéticas” celebra a produção artística de Antônio José de Barros Carvalho e Mello Mourão (1952-2016), o Tunga, dono de um universo imaginativo único e de uma produção refinada, é figura emblemática das artes visuais do país.

 

A exposição tem curadoria de Paulo Venancio Filho e correalização do Instituto Tunga, propõe uma retrospectiva que apresenta a extensão da obra do artista em consonância com sua prática e poética plástica.

 

Esculturas | Arte de não saber e ética do heterogêneo: os palíndromos de Tunga

 

Formado em Arquitetura e Urbanismo na década de 1970, Tunga dialogou com grandes nomes das artes contemporâneas, como Waltercio Caldas, Cildo Meireles, Sergio Camargo e Lygia Clark.

 

Desenhos, esculturas, objetos, instalações, vídeos e performances. A diversidade de suportes revela os seus múltiplos interesses, que percorriam diferentes áreas do conhecimento, como Literatura, Matemática, Arte e Filosofia. A pluralidade também se fez presente no uso de materiais. De maneira notável, Tunga explorou ímãs, vidro, feltro, borracha, dentes e ossos. Sua obra ganhou simbologia e presença, aproximando-o da produção artística em evidência no panorama internacional.

 

A partir da década de 1980, participou da Bienal de Veneza, teve quatro passagens pela Bienal internacional de São Paulo e esteve em mostras no Museu de Arte Moderna (MoMA), em Nova York, e na Whitechapel Gallery, em Londres. No Instituto Inhotim, em Minas Gerais, dois espaços destacam a obra do artista, a Galeria True Rouge (2002) e a Galeria Psicoativa (2012). Tunga foi o primeiro artista contemporâneo e o primeiro brasileiro a expor no Museu do Louvre, em Paris, em 2005.

 

Parte dessa extensa produção está em “Tunga: conjunções magnéticas”, que reúne aproximadamente 300 obras. Além do Itaú Cultural (IC), Avenida Paulista, Paraíso, São Paulo, SP, a mostra estende-se para o espaço do Instituto Tomie Ohtake, Pinheiros, São Paulo, SP, que recebe a escultura Gravitação magnética (1987) – cujos esboços ocupam o espaço de ambos os espaços culturais – e o filme-instalação Ão (1981). Para complementar a exposição e convidar a um mergulho mais aprofundado na história de Tunga, durante a mostra serão publicados no YouTube do Itaú Cultural vídeos que reúnem depoimentos de Paulo Venancio Filho (curador da exposição), Fernando Santana (assistente de Tunga), Paulo Sérgio Duarte (curador e crítico de arte), Waltercio Caldas (artista), Gonçalo Mello Mourão (irmão de Tunga) e Lia Rodrigues (bailarina e coreógrafa) que tratam de temas como quem foi Tunga, a energia da conjunção, suas inspirações, seu processo criativo e a variedade de suportes e materiais em seu trabalho.
Até domingo 10 de abril de 2022.

 

 

 

 

Com Millan & Raquel Arnaud

06/out

 

 

A Galeria Millan e a Galeria Raquel Arnaud, São Paulo, SP, apresentam a exposição coletiva “Vício impune: o artista colecionador”, com curadoria de Gabriel Pérez-Barreiro. A mostra reunirá, nos espaços das duas galerias, uma seleção de nove artistas representados, ao redor do diálogo entre seus trabalhos e coleções. Dentre os artistas colecionadores, estão: Artur Barrio (Porto, Portugal, 1945), Iole de Freitas (Belo Horizonte, MG, 1945), Paulo Pasta (Ariranha, SP, 1959), Sérgio Camargo (Rio de Janeiro, RJ, 1930 – 1990), Tatiana Blass (São Paulo, SP, 1979), Thiago Martins de Melo (São Luís, MA, 1981), Tunga (Palmares, PE, 1952 – Rio de Janeiro, RJ, 2016), Waltercio Caldas (Rio de Janeiro, RJ, 1946) e Willys de Castro (Uberlândia, MG, 1926 – São Paulo, SP, 1988).

 

 

Desenvolvida ao longo dos últimos anos, a pesquisa de Pérez-Barreiro sobre o colecionismo encontra no contexto desta mostra um campo de análise, em que o espectador é convidado a compreender as nuances de diferentes relações entre artistas colecionadores e suas coleções. Em seus mais diversos modelos, as práticas de coletar e colecionar mostram-se singulares em cada um dos nove casos apresentados e essenciais para a compreensão de cada produção artística em sua complexidade. Segundo o curador, “as coleções dos artistas podem nos dizer não apenas sobre sua própria prática: o que eles vêem no trabalho de outros que os impacta, mas também estão frequentemente na vanguarda de reconhecer e valorizar fenômenos antes subestimados”. Foi com esse propósito que as galerias decidiram realizar a exposição.

 

 

Esculturas e relevos de Sérgio Camargo são expostas ao lado de parte de sua vasta coleção de pinturas de Hélio Melo (Vila Antinari, AC, 1926 – Goiânia, GO, 2001), seringueiro, artista e compositor autodidata. O contraste entre as pinturas fantásticas de Melo e a estética construtiva de Camargo traz à tona uma nova abordagem sobre este artista já consolidado na história da arte brasileira, assim como revela a permeabilidade entre movimentos e tendências.

 

 

Duas esculturas (ambas Objetos ativos) de Willys de Castro – cuja frase publicada em artigo empresta título à exposição – são exibidas ao lado de uma coleção de arte indígena, uma dentre tantas que o artista preservou e estudou. Com trabalhos de arte plumária e cestarias amazônicas, o conjunto montado nos anos 1970 e 1980 revela um outro lado de seu fascínio pelas formas e padrões geométricos, desdobrados em diversos níveis da percepção ao longo de sua produção.

 

 

Em diversos contextos, as coleções evidenciam interesses e obsessões singulares, como é o caso de Waltercio Caldas e sua afeição pelo formato do livro e seus desdobramentos em uma coleção de livros de artistas, trabalhos que discutem possibilidades a partir desta formação primária. Em paralelo, o interesse de Artur Barrio pelo mergulho foi a razão que impulsionou sua coleção de 3 mil grãos de areia, iniciada em 1983, em que cada grão é o registro de um mergulho realizado. A busca pelo registro de cada situação vivida é não somente essencial, para Barrio, mas também para o desenvolvimento de sua produção artística – daí figuram suas séries “Situações e Registros”. Cada grão de areia que compõe esta coleção demonstra, entretanto, que a busca pelo registro da experiência extrapola, em Barrio, o trabalho de arte e está presente em outras esferas de sua vida.

 

 

Conjuntos criados por artistas colecionadores podem, em muitos casos, representar rastros afetivos de suas relações pessoais. A coleção de Tatiana Blass, composta por trabalhos de seu tio-avô, Rico Blass (Breslau, Alemanha, 1908 – ?), desafia-nos a questionar em que medida essas relações se estabelecem como intercâmbios diretos ou indiretos. O mesmo ocorre à vista do trabalho inédito e instalativo de Thiago Martins de Melo e de sua coleção de desenhos de amigos também artistas. Os conjuntos de Martins de Melo e Blass fazem saltar aos olhos a potência afetiva do ato de guardar e os desdobramentos subjetivos deste ato em suas escolhas formais.

 

 

As pinturas de Paulo Pasta estão em diálogo com uma coleção de alguns de seus mestres: Mira Schendel (Zurique, Suíça, 1919 – São Paulo, SP, 1988), Alfredo Volpi (Lucca, Itália, 1896 – São Paulo, SP, 1988) e Amilcar de Castro (Paraisópolis, MG,1920 – Belo Horizonte, MG, 2002), em uma troca potente entre grandes nomes da arte brasileira. De maneira semelhante, opera a relação entre Iole de Freitas e sua guarda de desenhos e decalques inéditos de Tarsila do Amaral, em que se delineiam os caminhos metodológicos das célebres pinturas da segunda artista. Processo e método estabelecem-se aqui em seus rastros, passíveis de serem compartilhados entre práticas de diferentes gerações.

 

 

A coleção de um artista é capaz de revelar traços de reflexões latentes que conduziram a suas práticas e a poéticas. Nesse sentido, as obras de Tunga apresentam-se neste eixo de interlocução com sua coleção de trabalhos dadaístas e surrealistas franceses – entre eles, quatro gravuras de Marcel Duchamp (Blainville-Crevon, França, 1887 – Neuilly-sur-Seine, França, 1968). Dentre os trabalhos de Tunga, além de seus desenhos, está também a instalação “Evolution” (2007), realizada a partir do emprego da mesma linguagem da instalação/performance “Laminated Souls”, exibida entre 2007 e 2008 no MoMA P.S. 1, em Nova York.

 

 

Até 30 de outubro.

 

Visita técnica de José Resende

18/jun

 

 

O artista José Resende esteve em Porto Alegre, RS, no dia 17, para uma visita técnica de sua nova exposição em preparação na Fundação Iberê Camargo, prevista para novembro. Para esta mostra, serão selecionadas obras especialmente para dialogar com o centro cultural e instaladas nas partes interna e externa do prédio.

 

 

Resende aproveitou para vistoriar seu monumento “Olhos Atentos”, na orla do rio Guaíba, próximo à Usina do Gasômetro, fechado para visitação desde 2018. Acompanhado do diretor-superintendente da Fundação, Emilio Kalil, e da coordenadora de Artes Plásticas da Secretaria da Cultura de Porto Alegre, Adriana Boff, foi discutida a reabertura junto com a exposição.

 

Segundo projeto da Prefeitura de Porto Alegre, já aprovado pelo artista, a alternativa viável será a instalação de um regulador de público no eixo da escultura, limitado a 20 visitantes por vez.

 

 

Olhos atentos: um presente para a cidade

 

 

José Resende, junto com Carmela Gross, Mauro Fuke e Waltércio Caldas, foi um dos artistas convidados pela 5ª Bienal do Mercosul para produzir obras permanentes para Porto Alegre. Segundo o curador-geral Paulo Sérgio Duarte, na época, as intervenções foram pensadas como obras de arte para serem usadas pelo público; para que passeiem sobre elas, olhem a paisagem a partir delas, ou simplesmente descansem sobre elas.

 

 

“Olhos Atentos” é composta por duas vigas de aço, que se estendem acima do rio Guaíba, formando uma passarela. Para Resende, cuja característica marcante é a relevância dos materiais empregados e suas relações com o espaço, em lugar de apenas utilizá-los como suporte para formas convencionais, a obra nasceu com o propósito de fazer “Porto Alegre enxergar-se com novos olhos”.

Panorama da arte contemporânea brasileira

15/abr

 

O Centro Cultural Banco do Brasil Rio de Janeiro apresenta, a partir do dia 14 de abril de 2021, a exposição inédita “1981/2021: Arte Contemporânea Brasileira na coleção Andrea e José Olympio Pereira”, com 119 obras de 68 artistas, pertencentes à magnífica coleção do casal carioca, radicado em São Paulo há mais de 30 anos. Nos últimos anos, Andrea e José Olympio constam na lista publicada anualmente pela prestigiosa revista ARTnews como um dos 200 maiores colecionadores de arte do mundo. O CCBB RJ está adaptado às novas medidas de segurança sanitária: entrada apenas com agendamento on-line (eventim.com.br), controle da quantidade de pessoas no prédio, fluxo único de circulação, medição de temperatura, uso obrigatório de máscara, disponibilização de álcool gel e sinalizadores no piso para o distanciamento.

O conceito desta mostra chama a atenção para a importância do colecionismo no Brasil. “Arte é o alimento da alma, ela amplia o mundo, te leva para lugares, te leva a sonhar. O colecionismo é fundamental, além de sustentar a produção artística, é também uma forma de cuidar das obras, uma grande responsabilidade”, diz o casal, que começou a coleção na década de 1980 de forma despretensiosa, estudando e visitando exposições e leilões de arte. Hoje, possuem cerca de 2.500 obras. “Temos na coleção somente trabalhos com os quais estabelecemos alguma relação. Pode ser uma obra que nos toca ou nos perturba, mas que mexe de alguma forma conosco. Poder expor a coleção é um privilégio para nós. É uma oportunidade de dividir a coleção com o grande público, de rever algumas obras e de vê-las em diálogo com outras, ganhando um novo significado”. O curador Raphael Fonseca foi convidado a pensar uma narrativa para a exposição a partir da coleção. A mostra ocupará as oito salas do primeiro andar do CCBB RJ a partir de núcleos temáticos, com obras de importantes artistas, de diferentes gerações, cobrindo um arco de 40 anos de arte contemporânea brasileira. A exposição conta com obras em diferentes linguagens, como pintura, instalação, escultura, vídeo e fotografia. “A ideia é que o público veja cada sala como uma exposição diferente e que tenha uma experiência distinta em cada uma delas. Os contrastes e a diversidade da arte brasileira serão visíveis a partir da experiência do espectador”, afirma Raphael Fonseca.

Sem seguir uma ordem cronológica, a exposição traz desde trabalhos produzidos em 1981, como a escultura “Aquário completamente cheio”, de Waltercio Caldas, e a fotografia “Maloca”, de Claudia Andujar, até a pintura “De onde surgem os sonhos” (2021), de Jaider Esbell, mais recente aquisição da coleção. Obras raras, como pinturas de Mira Schendel (1919 -1988), produzidas em 1985, também integram a mostra, que apresenta, ainda, obras pouco vistas publicamente, dos artistas Jorge Guinle, Laura Lima, Marcos Chaves e da dupla Bárbara Wagner e Benjamin de Burca.

PERCURSO DA EXPOSIÇÃO

A exposição será dividida em oito salas, intituladas a partir do nome de obras presentes em cada um dos espaços. “Os trabalhos que dão título às salas norteiam o tema e os demais, criam um diálogo ao redor, sendo alguns mais literais e outros nem tanto”, diz o curador Raphael Fonseca.

Na primeira sala, intitulada “A Coleção”, estará uma única obra: a instalação homônima do artista paulistano Pazé. Feita em adesivo vinilico, ela cobrirá todas as paredes do espaço com a imagem de uma coleção de pinturas, onde, nos diversos quadros, há personagens que olham para os visitantes. A instalação, de 2009, é apresentada de forma inédita na exposição, com novos elementos. “É um trabalho que pensa a coleção, assim como a exposição”, afirma o curador.

A segunda sala, “Coluna de Cinzas”, parte da escultura de Nuno Ramos, de 2010, em madeira e cinzas, medindo 1,87m de altura, para falar sobre o tempo, sobre a morte e sobre a brevidade da vida. Desta forma, no cofre estará o vídeo “O peixe” (2016), de Jonathas de Andrade, sobre uma vila de pescadores onde há o ritual de abraçar os peixes após a pesca, como um rito de passagem. Nesta mesma sala estarão as obras “Isto é uma droga” (1971/2004), de Paulo Bruscky, uma assemblage de caixas de remédio; “Stereodeath” (2002), de Marcos Chaves, composta por fotografia e relógio, e o vídeo “Nanofania” (2003), de Cao Guimarães, em Super 8, onde, cadenciados por uma pianola de brinquedo, pequenos fenômenos acontecem, como a explosão de bolhas de sabão e o salto de moscas.

A terceira sala da exposição é a maior de todas, com 42 obras, e chama-se “Costela de Adão”, inspirada na pintura de Marina Rheingantz, de 2013. “É um núcleo basicamente sobre paisagem, tema que tem bastante destaque na coleção”, afirma o curador Raphael Fonseca. Nesta sala, estão obras de Amelia Toledo, Ana Prata, Brigida Baltar, Claudia Andujar, Daniel Acosta, Daniel Steegmann Mangrané, Efrain de Almeida, Fabio Morais, Jaider Esbell, Janaina Tschape, Jorge Guinle, Leonilson, Lucas Arruda, Lucia Laguna, Marina Rheingantz, Mauro Restife, Paulo Nazareth, Paulo Pasta, Paulo Nimer Pjota, Rodrigo Andrade, Rosana Ricalde, Sandra Cinto, Vania Mignone e Waltercio Caldas.

“War” é a quarta sala, cujo nome vem da obra do artista Rodrigo Matheus, que faz uma alusão ao clássico jogo de estratégia. Esse núcleo traz obras com o tema da violência e conflito, como as pinturas em óleo sobre tela “Azulejaria com incisura vertical” (1999), de Adriana Varejão, e “Caveira” (2007), de Antonio Malta Campos, além da fotografia “Sem título (for sale)”, de 2011, de Paulo Nazareth, do neón “Sex,War & Dance” (2006), de Carmela Gross, da obra “Batalha naval” (2004), também de Rodrigo Matheus, e o “Painel de ferramentas grandes” (2013), de Afonso Tostes.

Seguindo, chega-se à quinta sala, intitulada “Saramandaia”, que é uma escultura em bronze policromado da artista Erika Verzutti, de 2006. “Neste núcleo, é pensando o corpo estranho nas artes visuais, ou seja, o monstro, a mistura entre humano e animal, com um caráter mais surrealista, que podemos encontrar nos desenhos do Cabelo e nas obras da Laura Lima e do Véio”, explica o curador. Nesta sala, estarão 34 obras dos artistas Adriano Costa, Alex Cerveny, Anna Israel, Bruno Novelli, Cabelo, Eduardo Berliner, Erika Verzutti, Gilvan Samico, Ivens Machado, José Bezerra, Laura Lima, Odires Mlázsho, Paulo Monteiro, Tunga, Véio (Cícero Alves dos Santos) e Walmor Corrêa.

Trabalhos que pensam a relação entre documento e ficção, verdade e mentira, estão na sexta sala, “Como se fosse verdade”, cujo nome veio da instalação da dupla Bárbara Wagner e Benjamim de Burca, de 2017, onde retratos de pessoas que passavam por um terminal de ônibus foram transformados em capas de CDs, partindo de um questionário onde esses personagens definiram os cenários, os temas e as expressões que melhor os representariam. Além da instalação, nesta sala também estão obras de Fábio Morais, Iran do Espírito Santo, Laura Lima, Leda Catunda, Leonilson, Maureen Bisilliat, além do trabalho “Carmen Miranda – uma ópera da imagem” (2010), do artista paranaense radicado na Suécia e no Rio de Janeiro, Laércio Redondo, que aborda os problemas da representação do corpo performático de Carmen Miranda, através da obra composta por ripas de madeira, com objetos diversos, e alto-falantes, que transmitem um texto sobre a cantora.

A série de fotos “Blue Tango” (1984/2003), de Miguel Rio Branco, que retrata crianças jogando capoeira, dá nome à sétima sala, cujo tema é o movimento, a dança, “tanto em obras que trazem o corpo quanto na abstração”, ressalta o curador. Neste núcleo também estão obras de Carla Chaim, Emmanuel Nassar, Enrica Bernadelli, Ernesto Neto, Iole de Freitas, Jarbas Lopes, Luciano Figueiredo, Luiz Braga, Dias & Riedweg, Miguel Rio Branco, Mira Schendel e Rodrigo Matheus.

Na oitava e última sala estará a obra “Menos-valia” (2005-2007), da artista Rosângela Rennó, composta por objetos adquiridos na feira Troca-troca, na Praça XV, no Rio de Janeiro. Os objetos foram seccionados de acordo com os respectivos níveis de depreciação no ato da negociação. Desta forma, os objetos mais negociados aparecem multiplicados na obra. “É um trabalho que também pensa o colecionismo, mas de forma oposta da obra de Pazé, que está na primeira sala. Se ali o olhar dele se voltou para o fantasma da tradição da pintura ocidental, o de Rennó se volta para aquilo que é visto como algo a ser reciclado e, talvez, nunca reutilizado. São formas diferentes de se pensar criticamente uma coleção”, diz o curador Raphael Fonseca. A exposição será acompanhada de um catálogo, que será lançado ao longo da mostra.

SOBRE A COLEÇÃO

Com cerca de 2.500 obras, com foco na produção brasileira a partir dos anos 1940 até o momento atual, a coleção Andrea e José Olympio Pereira é uma das mais destacadas do mundo. A visão cultural que o casal tem de sua coleção vai muito além de ceder obras para mostras individuais e coletivas em museus no Brasil e no exterior. Em 2018, com o intuito de não só acondicionar e guardar parte das obras, mas de dar acesso a pessoas, artistas e estudantes de arte, eles alugaram um antigo armazém de café do século XIX e o converteram em um espaço expositivo – o Galpão da Lapa. A proposta é convidar, a cada dois anos, um curador para montar uma exposição a partir das obras da coleção. O casal não costuma adquirir uma só obra de cada artista. “Quando nos interessamos por um artista, gostamos de ter profundidade. Conseguimos entendê-lo melhor desta forma, pois um único trabalho não mostra tudo. É como um livro, no qual não é possível entender a história só com uma página”. José Olympio Pereira contribui para vários museus no Brasil e no exterior, participando dos conselhos dessas instituições. No Brasil, é presidente da Fundação Bienal de São Paulo e participa do conselho do Museu de Arte de Sâo Paulo Assis Chateaubriand (MASP). Em Nova York, participa do The International Council of The Museum of Modern Art (MoMA); em Londres, do International Council da Tate Modern e, em Paris, do Conselho da Fundação Cartier para a Arte Contemporânea (Fondation Cartier pour l’Art Contemporain). José Olympio também faz parte do Conselho da ONG SOS Mata Atlântica. Andrea participa do conselho do Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM-SP) e é presidente da ONG Americas Amigas, que luta contra o câncer de mama.

SOBRE O CURADOR

Raphael Fonseca é pesquisador da interseção entre curadoria, história da arte, crítica e educação. Doutor em Crítica e História da Arte pela UERJ. Mestre em História da Arte pela UNICAMP. Graduado e licenciado em História da Arte pela UERJ. Trabalhou como curador do MAC Niterói entre 2017 e 2020. Entre suas exposições, destaque para “Vaivém” (CCBB SP, DF, RJ e MG, 2019-2020); “Lost and found” (ICA Singapore, 2019); “Riposatevi – Lucio Costa” (MAC Niterói, 2018); “A vida renasce, sempre – Sonia Gomes” (MAC Niterói, 2018); “Dorminhocos – Pierre Verger” (Caixa Cultural Rio de Janeiro, 2018); “Regina Vater – Oxalá que dê bom tempo” (MAC Niterói, 2017); “Bestiário” (Centro Cultural São Paulo, 2017); “Dura lex sed lex” (Centro Cultural Parque de España, Rosario, Argentina, 2017); “Mais do que araras” (SESC Palladium, Belo Horizonte, 2017), “Quando o tempo aperta” (Palácio das Artes – Belo Horizonte e Museu Histórico Nacional – Rio de Janeiro, 2016); “Reply all” (Grosvenor Gallery, Manchester, Inglaterra, 2016); “Deslize” (Museu de Arte do Rio, 2014), “Água mole, pedra dura” (1a Bienal do Barro, Caruaru, 2014) e “City as a process” (Ural Federal University, II Ural Industrial Biennial, Ekaterinburgo, Rússia, 2012). Recebeu o Prêmio Marcantonio Vilaça de curadoria (2015) e o prêmio de curadoria do Centro Cultural São Paulo (2017). Curador residente do Institute Contemporary Arts Singapore (2019) e da Manchester School of Art (2016). Integrante do comitê curatorial de seleção da Bienal Videobrasil (2019). Jurado do Prêmio Pipa (Brasil, 2019) e do Prêmio Mariano Aguilera (Quito, Equador, 2017). Participante do comitê de indicação do Prêmio Prima (2018 e 2020). Autor convidado para o catálogo da 32ª Bienal de São Paulo (2016).

 

 

Até 26 de Julho.

Arte e som nas coleções MAM Rio

13/dez

O Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Parque do Flamengo, Rio de Janeiro, RJ, apresenta de 1º de dezembro de 2019 a 1º de março de 2020 a exposição “Canção Enigmática: relações entre arte e som nas coleções MAM Rio”. Com curadoria de Chico Dub, a exposição se insere no programa Curador Convidado, criado em 2018 pelo Museu, e se relaciona com a 9ª edição do Festival Novas Frequências.

 

A exposição reúne obras de Hélio Oiticica, Carlos Vergara, Waltercio Caldas, Daniela Dalcorso, Claudio Tozzi, Carlos Scliar, José Damasceno, Chelpa Ferro, Cildo Meireles, Cinthia Marcelle, Manata Laudares, MarciusGalan, Paulo Nenflidio, Paulo Vivacqua, entre outros. São pinturas, fotografias, desenhos, vídeo, objetos sonoros, instrumentos musicais, partituras gráficas, esculturas, instalações e discos de artista presentes na coleção do Museu. Estão programadas ações performáticas para janeiro de 2020.

 

O título da exposição é retirado do nome da obra de José Damasceno (Rio de Janeiro, 1968), feita em 1997. Ao lado de cada obra haverá um QR Code, que permitirá ao público acessar pelo seu celular mais informações sobre o artista no site do MAM Rio.

 

“Canção Enigmática” irá ocupar dois espaços no terceiro andar do Museu, destinado a mostras do acervo, e tem uma complementação com mais duas obras no Foyer dos artistas suíços Martina Lussie e Luigi Archetti, pertencentes aos próprios artistas.

 

A exposição procura inserir o MAM Rio na chamada “virada sônica”(“sonicturn”), termo cunhado para designar a mudança gradual de foco do visual para o auditivo, que vem ocorrendo nas práticas artísticas e nos estudos acadêmicos nos últimos anos, graças a implementos tecnológicos. “E também pela busca em estabelecer novos parâmetros artísticos, o som passou a ser reconhecido e exibido como uma forma de arte em si mesmo”, explica o curador Chico Dub. “Ainda que não seja uma mostra exclusiva de arte sonora – prática surgida na obscura zona entre música composta, instalação, performance e arte conceitual, e que tem o áudio como componente principal ou que silenciosamente reflete sobre o som -, abraça todo o acervo dessa disciplina artística no museu, reunindo trabalhos de Chelpa Ferro, Cildo Meireles, Cinthia Marcelle, Manata Laudares, Marcius Galan, Paulo Nenflidio, Paulo Vivacqua e Siri”.

 

Chico Dub diz que “as obras reunidas mostram basicamente cenas musicais tiradas do cotidiano, como nas pinturas modernistas de Di Cavalcanti e Djanira, manifestações folclóricas nas quais a música possui caráter essencial, como nas fotografias de Bárbara Wagner inspiradas no maracatu, rituais religiosos afro-brasileiros tal qual em Pierre Verger e no candomblé, e associações diretas com gêneros musicais, como nos retratos de Daniela Dacorso em bailes funk, na influência do samba nos “Parangolés” de Hélio Oiticica e nas fotografias de Carlos Vergara no desfile do Cacique de Ramos, ou em ícones do porte de Tom Jobim (Cabelo e Márcia X) e Beethoven (Waltercio Caldas). Trabalhos realizados durante a ditadura militar no Brasil, como os de Cláudio Tozzi e Waltercio Caldas, gritam contra a situação opressiva que se instalava naquele momento no país e, infelizmente, soam mais atuais do que nunca”. Ele complementa dizendo que “há ainda um destaque especial para as chamadas partituras gráficas, trabalhos com origem no contexto da música e apreciados por artistas visuais em função de sua característica libertária que vai além da notação musical convencional. Paulo Garcez, Carlos Scliar, Chiara Banfi e, de certa forma, José Damasceno possuem trabalhos nesse contexto”.

 

Está programado para os domingos de janeiro de 2020 uma série de ações performáticas que buscam se relacionar com procedimentos da música experimental, da arte sonora e de outras linguagens, como as artes visuais, a dança e performance. Essa programação complementar reafirma a ideia da ocupação do espaço público como ato estético e político, questão presente nos encontros realizados por Frederico Morais no início dos anos 1970, quando a área externa do MAM e o Aterro do Flamengo foram incorporados como extensão natural do Museu.

 

“É notório pensar hoje em dia que 4’33” não é simplesmente uma ‘peça silenciosa’, mas, sim, uma obra cujo objetivo é a escuta do mundo. Em outras palavras, o trabalho mais famoso de John Cage, ao emoldurar sons ambientes e não intencionais, nos revela através de uma escuta profunda que a música está em todos os lugares; que todos os sons são música”, observa Chico Dub.

 

“Partindo de Cage, os sons que ecoam pelo MAM são música. Uma canção enigmática formada por todos os sons ao redor combinados, dentre outros, com batidas do coração, berimbaus high tech, gadgets eletrônicos, sons artificiais, bandas fora de ritmo, orquestras tocando músicas diferentes ao mesmo tempo, o som da chuva e uma ordem em italiano para se fazer um café”.

 

Até 1º de março de 2020.

 

Cildo Meireles na Mul.ti.plo

18/nov

Sem expor no Rio de Janeiro há cerca de uma década e em uma galeria carioca há mais de trinta anos, Cildo Meireles inaugura mostra na Mul.ti.plo Espaço Arte, no Leblon. A exposição “Múltiplos Singulares” abre dia 19 de novembro, às 19h, permanecendo em cartaz até 19 de janeiro de 2020.

 

Com curadoria de Paulo Venancio, o artista exibe objetos e gravuras de diferentes formatos e materiais, produzidos ao longo de cinco décadas. Algumas peças são inéditas e serão apresentadas ao público pela primeira vez. De importância fundamental na internacionalização da arte brasileira, Cildo é um dos mais conceituados artista brasileiro na cena contemporânea mundial, com obras no acervo da Tate Modern (Londres, Inglaterra), Centro Georges Pompidou (Paris, França), MoMA (Nova York, EUA), Museu Reina Sofía (Madri e Barcelona), entre outros.

 

Cildo Meireles realizou sua última retrospectiva no Rio de Janeiro no ano 2000, apresentada no Museu de Arte Moderna. Na atual exposição na Mul.ti.plo, sendo gestada há dois anos, o público poderá ver um conjunto importante de obras, que lidam com noções de Física, Economia e Política, temas recorrentes nas obras de Cildo Meireles. Entre as 16 peças reunidas, quatro são inéditas e estão sendo produzidas em segredo. As surpresas só serão reveladas no dia da abertura.

 

“A ideia da mostra se consolidou há dois anos, no meu ateliê, com o Paulo Venancio, a partir de um objeto criado há décadas que sintetiza a instalação-performance “Sermão da Montanha: Fiat Lux”, apresentada há exatos 40 anos, em 1979, no Centro Cultural Candido Mendes. Foi uma provocação à ditadura militar, durando apenas 24 horas. Muito pouca gente viu. Desde então, guardo essa maquete e agora, finalmente, concluí o trabalho”, explica o artista. “Eu também já tinha combinado uma exposição na Mul.ti.plo com o meu amigo Maneco Müller”. Sócio da galeria, Maneco dá uma pista de outra obra surpresa da mostra: a participação da locutora Iris Lettieri, cuja voz ecoou por décadas, anunciando as partidas e chegadas no aeroporto do Galeão, no Rio. “Um dia, Cildo me revelou um projeto, concebido nos anos 70, que só poderia ser realizado com a voz única dela. Não perdi tempo. Fui ao encontro de Iris e conseguimos realizar o desejo do Cildo, com a mesma fala impecável e inesquecível”, explica Maneco.

 

“A exposição apresentará múltiplos de Cildo Meireles, que trazem em si o pensamento das grandes instalações do artista”, explica o curador. Uma delas, por exemplo, tem ligação com “Metros”, trabalho apresentado numa emblemática exposição na Documenta, em Kassel, Alemanha, em 2002. “Os objetos e gravuras reunidos exemplificam o pensamento de grandes trabalhos de Cildo, sendo alguns pouco vistos”, diz ele. O público poderá conferir uma nova edição das notas de “Zero Dólar” (1978-1994).

 

Considerado um dos artistas mais importantes de sua geração, o premiado Cildo Meireles possui obras no acervo de uma das maiores instâncias de consagração da arte contemporânea do mundo, a Tate Gallery, onde expôs ao lado de Mark Rothko, em 2008. Obras do artista fazem parte também da Coleção Cisneros (NY e Caracas), Pérez Art Museum (Miami, EUA), Fundação Serralves (Lisboa, Portugal), Inhotim (Brumadinho, Brasil), MAC (Niterói, Brasil), etc. Com sucessivas participações na Bienal de Veneza (Itália) e na Documenta (Kassel, Alemanha), Cildo traz no currículo ainda exibições individuais no MoMA e no Metropolitan, em Nova York. Atualmente, o artista está com uma grande exposição em São Paulo, SP, no SESC Pompeia. “Para essa individual no Rio, procurei reunir o mais significativo conjunto de múltiplos do Cildo, numa espécie de retrospectiva, de forma que as duas se complementassem”, conclui Paulo Venancio.

 
Sobre o artista

 

Cildo Meireles nasceu no Rio de Janeiro, RJ, 1948. Inicia seus estudos em arte em 1963, na Fundação Cultural do Distrito Federal, em Brasília, orientado pelo ceramista e pintor peruano Barrenechea (1921). Começa a realizar desenhos inspirados em máscaras e esculturas africanas. Em 1967, transfere-se para o Rio de Janeiro, onde estuda por dois meses na Escola Nacional de Belas Artes (ENBA). Nesse período, cria a série “Espaços Virtuais: Cantos”, com 44 projetos, em que explora questões de espaço, desenvolvidas ainda nos trabalhos “Volumes Virtuais” e “Ocupações” (ambos de 1968 – 1969). É um dos fundadores da Unidade Experimental do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM/RJ), em 1969, na qual leciona até 1970. O caráter político de suas obras revela-se em trabalhos como “Tiradentes – Totem-monumento ao Preso Político” (1970), “Inserções em Circuitos Ideológicos: Projeto Coca – Cola” (1970) e “Quem Matou Herzog?” (1970). No ano seguinte, viaja para Nova York, onde trabalha na instalação “Eureka/Blindhotland”, no LP “Sal sem Carne” (gravado em 1975) e na série “Inserções em Circuitos Antropológicos”. Após seu retorno ao Brasil, em 1973, passa a criar cenários e figurinos para teatro e cinema e, em 1975, torna-se um dos diretores da revista de arte Malasartes. Desenvolve séries de trabalhos inspirados em papel moeda, como “Zero Cruzeiro” e “Zero Centavo” (ambos de 1974 – 1978) e “Zero Dólar” (1978 – 1994). Em algumas obras, explora questões acerca de unidades de medida do espaço ou do tempo, como em “Pão de Metros” (1983) ou “Fontes” (1992). Em 2000, a editora Cosac & Naify lança o livro “Cildo Meireles”, originalmente publicado, em Londres em 1999, pela Phaidon Press Limited. Participa das Bienais de Veneza, 1976; Paris, 1977; São Paulo, 1981, 1989 e 2010; Sydney, 1992; Istambul, 2003; Liverpool, 2004; Medellín, 2007; e do Mercosul, 1997 e 2007; além da Documenta de Kassel, 1992 e 2002. Tem retrospectivas de sua obra feitas no IVAM Centre del Carme, em Valência, 1995; no The New Museum of Contemporary Art, em Nova York, 1999; na Tate Modern, em Londres, 2008; e no Museum of Fine Arts de Houston, 2009. Recebe, em 2008, o Prêmio Velázquez das Artes Plásticas, concedido pelo Ministério de Cultura da Espanha. Em 2009, é lançado o longa-metragem “Cildo”, sobre sua obra, com direção de Gustavo Moura. No mesmo ano, expõe no Museu d´Art Contemporani de Barcelona, Espanha, e no MUAC – Museu Universitário de Arte Contemporáneo, na Cidade do México. Em 2011, realiza a “Ocupação Cildo Meireles”, com curadoria de Guilherme Wisnisk, no Itaú Cultural, São Paulo. Em 2013, expõe no Centro de Arte Reina Sofía, Palácio de Velásquez, com curadoria de João Fernandes, em Madri, Espanha; e também no Museu de Arte Contemporânea de Serralves, Porto, Portugal. Em São Paulo, apresenta mostra no Centro Universitário Maria Antonia, com curadoria de João Bandeira. Em 2014, expõe em Milão, Itália, no HangarBicocca, com curadoria de Vicente Todolí. No Brasil, expõe na Galeria Luisa Strina, São Paulo; na Dinamarca, na Kunsthal 44 Møen. Em 2015, expõe na Galerie Lelong, Nova York, EUA. Em 2019, abre a grande exposição “Entrevendo”, no SESC Pompeia, São Paulo.

 

Sobre a curadoria

 

Paulo Venancio Filho. Curador, crítico de arte, professor titular na Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro e pesquisador do CNPq. Publicou textos sobre vários artistas brasileiros, entre eles Antonio Manuel, Hélio Oiticica, Cildo Meireles, Lygia Pape, Waltércio Caldas, Mira Schendel, Franz Weissmann, Iole de Freitas, Carlos Zilio, Anna Maria Maiolino, Eleonore Koch e Nuno Ramos. Foi curador das seguintes exposicões: O corpo da escultura: a obra de Iole de Freitas 1972-1997(MAM-SP, 1997/Paço Imperial, 1997), Century City: Art and Culture in the Modern Metropolis (Tate Modern, Londres, 2001), Iberê Camargo: Diante da Pintura (Pinacoteca do Estado de São Paulo, 2003), Soto: A construção da imaterialidade (CCBB, Rio de Janeiro, 2005/Instituto Tomie Othake, 2006/MON, Curitiba, 2006), Anna Maria Maiolino: Entre Muitos (Pinacoteca do Estado de São Paulo, 2005/Miami Art Central, 2006), Fatos/Antonio Manuel (CCBB, São Paulo, 2007), Time and Place: Rio de Janeiro 1956-1964 (Moderna Museet, Estocolmo, 2008), Nova Arte Nova (CCBB, Rio de Janeiro, 2008), Hot Spots (Kunsthaus Zürich, 2009), Cruzamentos (Wexner Center for the Arts, Columbus, 2014), Possibilities of the Object: Experiments in Brazilian Modern and Contenporary Art (The Fruitmarket Gallery, Glasgow, 2015) e Piero Manzoni (MAM-SP, 2015).

Esculturas em aço no MAM/Rio

31/out

O Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Parque do Flamengo, Rio de Janeiro, RJ, apresenta a partir de 09 de novembro de 2019 a exposição “Força Precisão Leveza – aço e criação artística”, que destaca o uso do aço como material na produção de três grandes artistas, de diferentes gerações: Amilcar de Castro (1920-2002), Franz Weissmann (1911-2005) e Waltercio Caldas (1946). Com curadoria de Franklin Espath Pedroso, as cerca de 30 esculturas – reunidas em uma área de 1.800 metros quadrados no segundo andar do Museu – pertencem ao Instituto Amilcar de Castro, Instituto Franz Weissmann, Waltercio Caldas, Pinakotheke Cultural, ao próprio Museu e à Coleção Gilberto Chateaubriand/MAM Rio, entre outros acervos.

 

A exposição celebra “o ingresso da Ternium como mantenedora do Museu”, informam Paulo Albert Weyland Vieira e Henrique J. Chamhum, diretores do MAM. A mostra tem ainda o apoio do IED (Istituto Europeo di Design), que desenvolveu a programação visual e, junto com o curador, o projeto expográfico.

 

“Força Precisão Leveza – aço e criação artística” propõe ao público uma reflexão sobre o uso do aço nas obras desses grandes artistas, seus diferentes processos e abordagens, e de que maneira eles desenvolveram questões como leveza, equilíbrio, geometria e matemática. O curador buscou aproximações sutis entre os trabalhos, ao invés de agrupar as obras por artistas. As obras percorrem um arco de tempo dos anos 1950 aos 2000.

 

“São três artistas de diferentes gerações e com um rico universo, e reunimos pela primeira vez este conjunto de esculturas, em que o público poderá observar a versatilidade e o desenvolvimento deste material neste período da história da arte brasileira”, diz Franklin Pedroso. “Vale lembrar que todas as obras aqui reunidas tiveram origem naqueles elementos brutos e primários que, submetidos à ação transformadora da ciência e da indústria, resultaram em um elemento chamado aço, ao qual cada um desses três artistas conferiu nova e diferente significação através de seus respectivos processos criativos”. O curador conclui afirmando que “nada transforma mais do que a arte. A arte transforma a vida e transforma o público, que por sua vez também transforma a obra de arte, que só adquire sua plena significação em virtude dessa interação com o espectador”.

 

Obras/Artistas

 

De Amilcar de Castro estarão 11 obras, de tamanhos variáveis, a mais antiga delas de 1955: “Shiva” (1955), em ferro, 90x150x155cm, que há décadas não era vista em exposições. Além do acervo do Instituto Amilcar de Castro, esculturas do artista pertencentes à Pinakotheke Cultural e à Coleção do MAM integrarão a exposição. Nos jardins projetados por Burle Marx, estará ainda uma escultura bem conhecida do público: “Sem título” (2000), de 240cm x 194,5 x 94 cm, doação feita ao Museu pelo poeta e crítico Ferreira Gullar.

 

Franklin Pedroso destaca que Amilcar de Castro “quase sempre utiliza placas densas e grossas de aço e simplesmente as dobra com tamanha suavidade como se fossem simples folhas de papel. Ele apenas faz incisões como se fossem linhas e dobra o aço. Com essas incisões cria os espaços vazios que às vezes o olho comum não é capaz de perceber em um primeiro instante”.

 

De Franz Weissmann estarão as obras históricas “Coluna concreta” (1951/2003), de 224 x 60 x 60 cm, um ícone da história da arte brasileira, e “Torre” (“Coluna neoconcreta I”, 1957), de 140 x 55 x 55 cm, além de “Sem título” (1957/2003), e outras das décadas de 1970, 1980 – como “Flor tropical” (1980) -, 1990 e a mais recente, “Espaço circular” (2004/2011), de 206 x 187 x 115 cm. Weissmann é o artista brasileiro com mais obras em espaços públicos.

 

O curador destaca que Weissmann “foi um dos grandes nomes do projeto construtivo brasileiro e sua obra é uma referência para muitos”. “Ele costuma trabalhar com placas de aço mais finas, mas nem por isso com menor força. Ele corta e as une com solda. São milhares de combinações num grande jogo de encaixes e repetições”, aponta.

 

De Waltercio Caldas estarão obras pouco conhecidas no Brasil, como “Mar de Exemplo” (2014), só vista no ano de sua criação no Sesc Belenzinho, em São Paulo, em aço inoxidável e acrílico, que ocupará uma área de 30m x 15m, e “O Incidente” (1995), nunca vista no Brasil. E complementam esculturas emblemáticas do artista que combinam aço inoxidável e fio de algodão ou lã, dos anos 1990 e 2000.

 

Franklin Pedroso afirma que “as obras de aço de Waltercio Caldas são sempre muito bem polidas e de grande precisão. Muitas vezes ele as combina com outros elementos que aparentemente são opostos ao aço: um simples fio de lã ou algodão ou até mesmo o vidro. Meticulosamente planejadas e executadas, suas obras expõem bem sua narrativa poética. São excepcionais, de pura harmonia e plenas de significados”.

 

“Maior produtora de aço da América Latina, a Ternium opera, desde 2016, na cidade do Rio de Janeiro, sua maior unidade operacional, gerando mais de nove mil empregos e promovendo ações e projetos sociais no seu entorno”, apontam Paulo Albert Weyland Vieira e Henrique J. Chamhum, diretores do MAM.

 

Projeto Educativo

 

O programa educativo Eu, Você e o MAM irá realizar atividades artístico-educacionais desenvolvidas especialmente para que se vivencie a exposição “Força Precisão Leveza – aço e criação artística”, disponibilizando inclusive transporte a escolas públicas e entidades sem fins lucrativos cadastradas, de toda a área do Grande Rio.

Fernanda Candeias, Gerente de Relações com a Comunidade da Ternium, ressalta a importância de apoiar ações que promovem arte e cultura. “A nossa prioridade é sempre incentivar o desenvolvimento social na cidade do Rio de Janeiro, em especial na comunidade de Santa Cruz. Ficamos muito felizes com a oportunidade de colaborar com a realização desta exposição, fomentando assim, arte e cultura para o nosso município”, disse.

Até 02 de fevereiro de 2020.

 

 

Natureza-Morta no MAM Rio

03/abr

O MAM RIO, Parque do Flamengo, Rio de janeiro, RJ, apresenta a partir do próximo dia 06 de abril, a exposição “Alegria – A Natureza-Morta nas Coleções MAM Rio”. Com o mesmo título de uma instalação de Adriana Varejão, a exposição investiga este importante gênero da pintura, em obras em diversos suportes pertencentes ao acervo do Museu criadas por 35 artistas de várias gerações. Com curadoria de Fernando Cocchiarale e Fernanda Lopes, a mostra reúne mais de 40 obras – entre pinturas, esculturas, vídeos, fotografias e instalações – produzidas por 39 artistas de diferentes gerações. A exposição dá continuidade às investigações de gêneros da pintura a partir dos acervos do Museu, mostradas em “Constelações – O Retrato nas Coleções MAM Rio” e “Horizontes – A Paisagem nas Coleções MAM Rio”, em cartaz até o próximo dia 12 de maio de 2019.

 

Com o mesmo título de um backlight fotográfico de Adriana Varejão, de 1999, a exposição busca revelar não só a dimensão mais histórica do gênero natureza-morta, mas também “possibilidades de releituras contemporâneas desse conceito”, como informam os curadores. O conjunto de obras não foi reunido “somente com base no enquadramento estrito das obras nas características evidentes deste gênero, mas também na livre correlação dos trabalhos com o sentido mais geral da exposição”, explicam. “Sob tal licença, “Alegria” também transborda do âmbito da pintura, da gravura, do desenho e da fotografia, para aquele, expandido, da escultura, do vídeo e de instalações para traçar um panorama aberto desse gênero da pintura no Brasil no exterior”, contam Fernando Cocchiarale e Fernanda Lopes.

 

Os artistas que integram a exposição são de várias gerações, como Volpi, Guignard, Dacosta, Vicente do Rego Monteiro, a portuguesa Lourdes Castro, Wilma Martins, Adriana Varejão, Ivens Machado, Karin Lambrecht, Artur Barrio e Raul Mourão.

 

 

Natureza-Morta

 

A natureza-morta, da mesma forma que o retrato e a paisagem, foi um dos grandes gêneros da pintura europeia, entre os séculos XV e XVI, na Renascença. “Esses gêneros ganharam corpo como alternativa às pinturas de cenas religiosas, proibidas nos países que aderiram à reforma protestante, como a Holanda, que viu nascer o primeiro mercado de arte de que se tem notícia”, dizem os curadores. “As naturezas-mortas podem ser caracterizadas pela representação de objetos inanimados, vistos de uma curta distância. Sua escala intimista, somada à composição feita com base em motivos banais, mas agradáveis – frutas, flores, alimentos e objetos familiares ao olhar burguês – não significava, porém, que tais pinturas tivessem um teor laico-secular, apenas contemplativo, função que somente se consolidaria no começo do modernismo. Ainda que tratassem de cenas domésticas, essas pinturas, a despeito de sua fatura naturalista, tinham um teor simbólico então acessível a todos: evocavam o agradecimento pelo pão nosso de cada dia, conquistado pelo trabalho humano, sob a bênção divina”. O gênero atravessou os tempos, e na segunda metade do século XIX as naturezas-mortas já haviam se libertado de sua simbologia protestante inicial, e se tornaram “fundamentais para a revolução que permitiu à pintura superar a ênfase no tema que a havia marcado no romantismo e no neoclassicismo – batalhas, coroações, funerais e casamentos reais, pintados em formatos grandiosos que direcionavam o olhar para a narrativa e não para a própria pintura”. Os curadores complementam: “A banalidade temática das naturezas-mortas abriu caminho para a contemplação exclusiva de elementos cromáticos, formais, espaciais e compositivos, que não só se tornaram essenciais para a fruição modernista, como abriram caminho para a arte abstrata com Wassily Kandinsky, em 1910”.

 

 

Artistas expositores

 

Alberto da Veiga Guignard, Alfredo Volpi, Vicente do Rego Monteiro, Aldo Bonadei, Iberê Camargo, Milton Dacosta, Maria Leontina, Glauco Rodrigues, Lourdes Castro, Anna Bella Geiger, Wilma Martins, Luis Humberto, Eduardo Costa, Ivens Machado, Wanda Pimentel, Artur Barrio, Waltercio Caldas, Vilma Slomp,Claudia Jaguaribe, Karin Lambrecht, Brígida Baltar, Jorge Barrão,Roberto Huarcaya, Marcos Chaves, Edgard de Souza, Franklin Cassaro, Katia Maciel, Adriana Varejão, Efrain Almeida, Raul Mourão, José Damasceno, Julio Bernardes, Pedro Calheiros, Rodrigo Braga e Felipe Barbosa.

 

 

De 06 de abril a 07 de julho.

33ª Bienal de São Paulo

06/set

Intitulada “Afinidades afetivas”, mostra com curadoria de Gabriel Pérez-Barreiro busca modelo alternativo ao uso de temáticas, privilegiando o olhar dos artistas sobre seus próprios contextos criativos

 

De 07 de setembro a 09 de dezembro de 2018, a 33ª Bienal de São Paulo – “Afinidades afetivas” vai privilegiar a experiência individual do espectador na apreciação das obras, em detrimento de um tema que favoreceria uma compreensão pré-estabelecida. O título escolhido pelo curador Gabriel Pérez-Barreiro – apontado pela Fundação Bienal de São Paulo para conceber a mostra – remete ao romance de Johann Wolfgang von Goethe “Afinidades eletivas”, de 1809, e à tese “Da natureza afetiva da forma na obra de arte”, de 1949, de Mário Pedrosa.

 

O título não tem o intuito de dar direcionamento temático à exposição, mas caracteriza a forma de organizar a exposição a partir de vínculos, afinidades artísticas e culturais entre os artistas envolvidos. Como no texto de Pedrosa, há uma proposta de investigação das formas pelas quais a arte cria um ambiente de relação e comunicação, passando do artista para o objeto e para o observador. Presença, atenção e influência do meio são as premissas que norteiam a curadoria desta edição, numa reação a um mundo de verdades prontas, no qual a fragmentação da informação e a dificuldade de concentração levam à alienação e à passividade.

 

O curador crê no aspecto positivo de uma mudança radical do sistema operacional da Bienal. Para esta edição, ao lado dos doze projetos individuais eleitos por Pérez-Barreiro, os sete artistas-curadores escolhidos por ele já definiram suas propostas expositivas, com total liberdade na escolha dos artistas e seleção das obras – a única limitação imposta a eles foi que incluíssem em suas exposições trabalhos de sua própria autoria.

 

 

Proposições curatoriais concebidas pelos artistas-curadores

 

A partir de seu interesse em questões como repetição, narrativa e tradução, Alejandro Cesarco (Montevidéu, Uruguai, 1975) realiza uma curadoria de obras de artistas que compartilham de suas inquietações conceituais e estéticas. Intitulada  “Aos nossos pais, “a mostra propõe questionamentos acerca de como o passado (a história) ao mesmo tempo possibilita e frustra potencialidades e de como ele pode ser reescrito pelo trabalho do artista, gerador de diferenças a partir de repetições”, explica. Além de Cesarco, participam da mostra artistas de três diferentes gerações, entre os quais Sturtevant (EUA, 1924 – França, 2014), Louise Lawler (EUA, 1947) e Cameron Rowland (EUA, 1988). “Dedicar esta exposição a uma relação primária (biológica ou adotiva, literal ou metafórica) é construir uma genealogia e uma tentativa de aproximação da fonte central de nossas interpretações, métodos, inibições, possibilidades e expectativas”.

 

Antonio Ballester Moreno (Madri, Espanha, 1977) aborda sua curadoria na 33ª Bienal como forma de contextualizar um universo baseado na relação íntima entre biologia e cultura, com referências à história da abstração e sua interação com natureza, pedagogia e espiritualidade. Para tanto, ele relaciona a produção de filósofos, cientistas e artistas: “somos todos criadores de nosso próprio mundo, mas entendo que tamanha variedade de linguagens nos separou da noção do que nos é comum, então esta proposta salienta o estudo de nossas origens, sejam elas relacionadas a aspectos naturais, sociais ou subjetivos – os três eixos que organizam a exposição”, afirma. Intitulada sentido/comum, a mostra abarca desde brinquedos educativos das vanguardas históricas e obras da Escuela de Vallecas à presença de artistas contemporâneos. Dentre os participantes, encontram-se o filósofo e pedagogo Friedrich Fröbel (Alemanha, 1782-1852); Andrea Büttner (Alemanha, 1972); Mark Dion (EUA, 1961); e Rafael Sánchez-Mateos Paniagua (Espanha, 1979), que contribuiu também com a publicação educativa “Convite à atenção”.

 

Para sua exposição intitulada “O pássaro lento”, Claudia Fontes (Buenos Aires, Argentina, 1964) parte de uma metanarrativa: um livro fictício homônimo cujo conteúdo é desconhecido, salvo por alguns fragmentos e por seus vestígios materiais. Fontes e os artistas convidados apresentam trabalhos que ativam as aproximações entre artes visuais, literatura e tradução através de experiências que propõem uma temporalidade expandida. “A experiência de velocidade e lentidão são experiências políticas enraizadas no corpo. Ambas influenciam nossos entendimentos de espaço, distância e possibilidade.”, afirma Fontes. Em um processo curatorial horizontal e colaborativo, todos os participantes, à exceção de Roderick Hietbrink (Holanda, 1975), desenvolvem obras comissionadas para a ocasião: Ben Rivers (UK, 1972), Daniel Bozhkov (Bulgária, 1959), Elba Bairon (Bolívia, 1947), Katrín Sigurdardóttir (Islândia/EUA, 1967), Pablo Martín Ruiz (Argentina, 1964), Paola Sferco (Argentina, 1974), Sebastián Castagna (Argentina, 1965) e Žilvinas Landzbergas (Lituânia, 1979).

 

Para sua exposição,”Stargazer II [Mira-estrela II]”, Mamma Andersson (Luleå, Suécia, 1962) reúne um grupo de artistas que têm inspirado e nutrido sua produção como pintora. A seleção inclui uma ampla gama de referências, como ícones russos do século 15, os “outsiders” Henry Darger (EUA, 1892-1973) e Dick Bengtsson (Suécia, 1936-1989); e artistas contemporâneos como a cineasta Gunvor Nelson (Suécia, 1931) e o piloto de caça e artista sonoro Åke Hodell (Suécia, 1919-2000), entre outros. Em comum, todos os participantes compartilham o interesse pela figuração expressiva e pelo corpo humano. “Estou interessada em artistas que trabalham com a melancolia e a introspecção como um modo de vida e uma forma de sobrevivência”, afirma Andersson. A exposição inclui também uma quantidade significativa de pinturas de Andersson, estabelecendo um diálogo vibrante entre sua obra e suas inspirações artísticas.

 

A curadoria de Sofia Borges (Ribeirão Preto, Brasil, 1984), “A infinita história das coisas ou o fim da tragédia do um”, parte de interpretações filosóficas sobre a tragédia grega para mergulhar em uma colagem de referências mitológicas e investigar os limites da representação e da impossibilidade da linguagem enquanto instrumento de mediação do real. “Eu passei anos procurando, através da imagem, desvendar o estado de representação das coisas, até que entendi se tratar de uma questão sem solução, visto que ela é na verdade o problema do significado. A linguagem é em si trágica, porque ambígua, e não se pode usar uma matéria para falar de outra”, explica. Seu projeto expositivo se constrói a partir de um modelo curatorial misto em que a seleção de peças específicas é acompanhada por trabalhos comissionados. Uma das particularidades da proposta – que inclui obras de Jennifer Tee (Holanda, 1973), Leda Catunda (Brasil, 1961), Sarah Lucas (UK, 1962) e Tal Isaac Hadad (França, 1976), entre outros – é sua ativação por um programa de experimentações ao longo da duração da Bienal.

 

Waltercio Caldas (Rio de Janeiro, Brasil, 1946), que sempre considerou a história da arte como material de trabalho, projeta na curadoria “Os aparecimentos” obras de diversos artistas confrontadas com trabalhos de sua autoria. “Visto que a produção de um artista trata de inúmeras questões que variam ao longo do tempo, escolhi obras que desviam do que mais se conhece de cada um deles e se destacam por seu valor e especificidade. O resultado da relação entre as peças escolhidas passou a ser o principal interesse desta seleção”, explica. Caldas propõe uma reflexão sobre a poética, a natureza das formas e das ideias e suas implicações na atividade artística desde o final do século 19. “Procurei, através da tensão entre obras muito diversas, as surpresas esclarecedoras que resultam destes confrontos”, comenta. A partir de uma visão desafiadora do artista sobre sua própria obra e dos enfrentamentos muitas vezes inusitados – como entre trabalhos de Victor Hugo (França, 1802-1885), Jorge Oteiza (Espanha, 1908-2003) e Vicente do Rego Monteiro (Brasil, 1899-1970) – abrem-se novas possibilidades de leitura para a arte.

 

Para seu projeto expositivo intitulado “sempre, nunca”, composto exclusivamente por obras comissionadas,Wura-Natasha Ogunji (St. Louis, EUA, 1970) convidou as artistas Lhola Amira (África do Sul, 1984), Mame-Diarra Niang (França, 1982), Nicole Vlado (EUA, 1980), ruby onyinyechi amanze (Nigéria, 1982) e Youmna Chlala (Líbano, 1974) para criar, assim como ela, novos trabalhos em um processo curatorial colaborativo e horizontal. A produção dessas seis artistas “concilia aspectos íntimos (como corpo, memória e gesto) a épicos (arquitetura, história, nação)”, explica Ogunji. “Em diálogo aberto e contínuo, nossos projetos individuais abarcam práticas e linguagens distintas, que convergem em ideias e questões cruciais para a experimentação, a liberdade e o processo criativo”. O trabalho dessas artistas é afetado por suas histórias individuais e pelas complexas relações que mantêm com suas terras, nações e territórios. “Suas obras quebram as narrativas hegemônicas e abraçam interrupções como aberturas necessárias”, complementa a artista-curadora.

 

 

Os projetos individuais selecionados por Gabriel Pérez-Barreiro

 

Entre os doze projetos individuais escolhidos pelo curador, três deles são de artistas homenageados: Aníbal López (Cidade da Guatemala, Guatemala, 1964-2014), Feliciano Centurión (San Ignacio, Paraguai, 1962 – Buenos Aires, Argentina, 1996) e Lucia Nogueira (Goiânia, Brasil, 1950 – Londres, Reino Unido, 1998). “Eu queria artistas que fossem históricos, mas ao mesmo tempo não consagrados, ou seja, que esses núcleos não fossem apenas a reiteração de nomes que já conhecemos. Os artistas homenageados são pouco conhecidos na América Latina, mas são expoentes de sua geração, então trazê-los à Bienal é uma forma de resgatá-los do desaparecimento da história da arte e mostrá-los para as novas gerações”, diz Pérez-Barreiro. Para o curador, a realização dessas exposições também significa uma contribuição expressiva da Fundação Bienal na pesquisa, catalogação e recuperação desses acervos.

 

Aníbal López, também conhecido por A-1 53167, o número de sua cédula de identidade, foi um dos precursores da performance em seu país. Sua obra, que inclui vídeo, performance, live act e intervenções urbanas, entre outras formas de expressão, tem forte caráter político e se volta para questões de disputas entre fronteiras nacionais, culturas indígenas, abusos militares e até do mercado de arte. Registros em vídeo e fotografias de ações efêmeras, realizadas como forma de protesto à objetificação e fetichização da arte, compõem a mostra.

 

O universo queer é abordado com delicadeza por Feliciano Centurión, que deixou seu país natal, o Paraguai, para radicar-se na Argentina, onde se tornou expoente da chamada geração “Rojas” (primeiros artistas a expor na galeria do Centro Cultural Rector Ricardo Rojas, da Universidad de Buenos Aires) até ser vitimado por complicações decorrentes da AIDS, aos 34 anos. Centurión trabalhava primordialmente com tecidos e bordados, incorporando peças como lenços e crochês comprados em feirinhas portenhas. Descendente de uma família de bordadeiras, ele se apropria de práticas artesanais como linguagem artística para expressar elementos de sua história pessoal a partir de uma tradição familiar comum na cultura paraguaia.

 

Ainda pouco conhecida no Brasil, a goiana Lucia Nogueira é uma figura essencial para compreender a arte britânica do período e desenvolveu uma carreira internacionalmente reconhecida. Suas esculturas e instalações, foco da individual incluída na 33ª Bienal, subvertem o utilitarismo de objetos com um humor sutil, tanto pela associação inusitada entre elementos quanto pelo jogo semântico constantemente presente em seus títulos, criando uma atmosfera de estranheza e poesia.

 

Projetos individuais de outros nove artistas, dos quais oito foram especialmente comissionados, completam a seleção de Pérez-Barreiro. Do grupo, o único a exibir um trabalho histórico é Siron Franco (Goiás Velho, Brasil, 1950), com a série de pinturas Césio/Rua 57. Nela, Franco eterniza a impressão de horror e isolamento causada pelo acidente radioativo acontecido em 1987 no Bairro Popular, em Goiânia, com o elemento Césio 137. Nascido e criado naquele bairro, o artista retornou à sua cidade natal logo após o acidente, na contramão da população local, deixando definitivamente o eixo Rio-São Paulo. Seus registros da catástrofe ambiental marcaram uma guinada em sua carreira, antes de temática irônica, para o uso de alegorias com elementos simbólicos.

 

Os oito artistas com projetos comissionados têm em comum o desenvolvimento de trabalhos que não se encaixam numa estrutura temática. “São pesquisas complexas que funcionam individualmente e não precisam de um contexto adicional para que o espectador se relacione com os trabalhos”, explica Pérez-Barreiro.

 

O portenho Alejandro Corujeira (Buenos Aires, Argentina, 1961) possui uma concepção formal leve e fluida, que parece querer captar o movimento da natureza. Ele terá esculturas e pinturas apresentadas na mostra. Denise Milan (São Paulo, Brasil, 1954) cria esculturas e instalações com grandes pedras e cristais. Na 33ª Bienal, a artista exibirá novos trabalhos nesses formatos.

 

O cotidiano serve de inspiração às obras de Maria Laet (Rio de Janeiro, Brasil, 1982), que exibirá um novo vídeo na 33a Bienal, e de Vânia Mignone (Campinas, Brasil, 1967), que trará pinturas inéditas. Nelson Felix (Rio de Janeiro, Brasil, 1954), que em seu “trabalho formal parece materializar uma consciência planetária”, nas palavras de Pérez-Barreiro, mostrará uma nova instalação escultórica.

 

As pesquisas de Bruno Moreschi (Maringá, Brasil, 1982) e Luiza Crosman (Rio de Janeiro, Brasil, 1987) se relacionam com a corrente da crítica institucional e fogem de suportes artísticos tradicionais. “Com esses artistas teremos, dentro da exposição, um olhar crítico sobre como a arte funciona, é exibida e justificada”, afirma Pérez-Barreiro. Partindo de uma abordagem pessoal e poética, Tamar Guimarães (Viçosa, Brasil, 1967), que une uma abordagem crítica sobre as instituições a preocupações poéticas e narrativas, apresentará um novo vídeo.

 

33ª Bienal de São Paulo – “Afinidades afetivas” de 07 de setembro a 09 de dezembro.

Terças, quartas, sextas, domingos e dom e feriados: 9h – 19h (entrada até 18h).

Quintas, sábados: 9h – 22h (entrada até 21h)

Estratégias Conceituais na Galeria Bergamin & Gomide

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A Galeria Bergamin & Gomide, Jardins, São Paulo, SP, reúne obras produzidas entre 1960 e 1980, período marcado por ditaduras militares na América Latina, e traz artistas como Hélio Oiticica, León Ferrari, Lygia Pape e Cildo Meireles. A produção artística na América Latina entre as décadas de 1960 e 1980 é tema de “Estratégias Conceituais”, em cartaz do dia 25 de agosto até 20 de outubro. A exposição apresenta obras de 42 artistas, com curadoria de Ricardo Sardenberg, e reflete um período histórico marcado por intensa repressão política em todo continente.

 

A mostra lança luz sobre um momento histórico muito semelhante ao atual, marcado pelo acirramento das disputas políticas, recrudescimento de iniciativas que incitam a censura, desmantelamento dos espaços de convívio e quebra da comunicação. Assim como ações coletivas e individuais de resistência por parte dos artistas, atuando por vezes à margem do sistema das artes visuais estabelecidas até então.

 

Entre os artistas selecionados estão nomes como Victor Grippo, León Ferrari, Hélio Oiticica, Lygia Pape, Cildo Meireles, Antonio Manuel, Anna Bella Geiger, Luis Camnitzer, Clemente Padín, Anna Maria Maiolino, Antonio Caro, Beatriz Gonzalez, entre outros.

 

“Estratégias Conceituais” quer dar visibilidade à criação da arte latina durante esses anos de transformação socioeconômica. Nesse contexto, são apresentadas diversas obras que foram utilizadas numa estratégia para contestar o regime vigente, muitas vezes burlando a censura, e estimular a conscientização da realidade, criando no processo novas formas de produção, apresentação e distribuição da arte.

 

“Calcados em seus contextos locais – principalmente com a ideia de meios de produção no espaço do subdesenvolvimento -, buscavam não apenas difundir o conhecimento, mas também propor novas formas de gerar conhecimento, sem se formalizarem em um movimento específico. Foram então reconhecidos como “artistas conceituais”. Porém, amplamente conscientes das estratégias formais de “desmaterialização” e das teorias da informação e da comunicação, os aqui apresentados introduzem conteúdos como ação e estratégia de intervenção política, poética,pedagógica e comunicativa. De diversas matizes ideológicas, as estratégias conceituais daquela época se baseiam em primeira instância no contexto local(geralmente político e de confronto), depois no contexto do subdesenvolvimento na América Latina e, por fim, numa “estratégia de inserção global”, explica Sardenberg.

 

 

Artistas de “Estratégias Conceituais”

 

3NÓS3

Adolfo Bernal

Anna Bella Geiger

Anna Maria Maiolino

Antonio Caro

Antonio Dias

Antonio Manuel

Artur Barrio

Beatriz González

Carlos Zilio

Cildo Meireles

Clemente Padín

Décio Noviello

Edgardo Antonio Vigo

Eugenio Dittborn

Felipe Ehrenberg

Graciela Carnevale

Guillermo Deisler

Grupo CAYC

Hélio Oiticica

Hudinilson Jr.

Ivens Machado

Jac Leirner

Jorge Caraballo

Julio Plaza

Lenora de Barros

León Ferrari

Letícia Parente

Liliana Porter

Luis Camnitzer

Luiz Alphonsus

Lygia Pape

Marcelo Brodsky

Montez Magno

Paulo Bruscky

Regina Silveira

Regina Vater

Roberto Jacoby

Umberto Costa Barros

Victor Gerhard

Victor Grippo

Waltercio Caldas

 

 

Sobre a Bergamin & Gomide

 

Criada em 2000 em São Paulo, por Jones Bergamin, a galeria Bergamin ficava numa casa da década de 1950 do arquiteto Vilanova Artigas nos Jardins. Apresentou importantes projetos, dentre eles, uma retrospectiva de Iberê Camargo,  exposições de Mira Schendel, Lygia Pape, Tunga e Miguel Rio Branco e projetos especiais como, por exemplo, “Através” em que a curadora Lisette Lagnado trouxe a público “Tteia”, obra icônica de Lygia Pape (hoje em exposição permanente em Inhotim). Em 2013, Antonia Bergamin, filha de Jones Bergamin, assumiu a direção da galeria com Thiago Gomide. Com foco em vendas privadas de artistas brasileiros e estrangeiros do período Pós-Guerra, a Bergamin & Gomide inaugurou seu novo espaço na rua Oscar Freire, em agosto do mesmo ano. Sem uma lista fixa e com flexibilidade para trabalhar um amplo número de artistas e exposições de diferentes temas, períodos e movimentos, o  programa da galeria conta com quatro exposições por ano, entre individuais e coletivas. Além disso a Bergamin & Gomide participa de feiras nacionais e internacionais como Art Basel, TEFAF NY Spring, Art Basel Miami Beach, Semana de Arte e SP-Arte e desenvolve parcerias com importantes galerias estrangeiras.