Revisitando a trajetória de Alberto Teixeira.

08/set

A Galeria Berenice Arvani, Jardim Paulista, São Paulo, SP, inaugura no dia 16 de setembro a exposição “Alberto Teixeira – 100 anos”, sob curadoria de João J. Spinelli. A mostra apresenta uma seleção de trabalhos que percorre diferentes momentos da produção do artista. A mostra reúne trabalhos que permitem revisitar a trajetória do artista e promover um resgate histórico de sua obra oferecendo ao público redescobrir aspectos centrais de sua trajetória e a evolução de sua linguagem pictórica ao longo de seis décadas.

O artista iniciou sua carreira em Portugal, explorando a aquarela para registrar paisagens do Algarve e da região praiana de Estoril. A vivacidade de seus trabalhos iniciais já chamava atenção pela composição e pelo domínio técnico da aquarela, garantindo sua participação em exposições coletivas importantes em Lisboa e Estoril. Em 1950, Alberto Teixeira e sua família emigraram para o Brasil, dando início a um novo capítulo de sua obra, marcado por novas paisagens, experiências urbanas e encontros com artistas e professores que influenciariam sua evolução estética.

Entre cursos de gravura no Museu de Arte de São Paulo (MASP) e sessões de modelo vivo na Sala de Arte da Biblioteca Municipal, sua formação técnica e teórica ganhou novos contornos. Foi também nesse período que integrou o Atelier Abstração, coletivo do qual fazia parte Samson Flexor. Entre os fundadores, manteve trocas constantes sobre o abstracionismo em um ambiente de experimentação e diálogo que abriu novos caminhos para sua produção pessoal. Como observa João J. Spinelli: “Os resultados finais foram sínteses formais e conjuntos de relações de contrastes inusitados. Tudo isso, tão diferente do que eu fazia antes na pintura, causou bastante impacto, mas vinha também com o sabor da surpresa, do inesperado, da descoberta (…) assim o assunto ou tema que tudo originara passava a ser secundário e a beleza e a harmonia passavam a ser o principal.”

Participações em Bienais de São Paulo e viagens à Europa e aos Estados Unidos permitiram a Alberto Teixeira contato direto com a produção de artistas como Paul Klee, Picasso, Hans Hartung, Mark Rothko e Karel Appel, além de experiências com movimentos como o Expressionismo Abstrato, Minimal Art e Pop Art. Esses encontros contribuíram para a ampliação de seu repertório e para a consolidação de um estilo próprio, no qual o equilíbrio entre composição, cor e transparência nas aquarelas se tornou marca registrada de sua obra. João J. Spinelli reforça a singularidade da pintura do artista: “Uma característica do trabalho de Alberto Teixeira é a fidelidade a uma linguagem do desenho e da pintura. Ela serviu desde o princípio para traduzir um sentimento de inquietação e perplexidade, quando linhas e cores procuravam assumir uma função interpretativa e de registro psicológico que se ampliaria em toda a evolução das suas realizações.” Opercurso expositivo evidencia tanto a evolução de sua linguagem quanto o diálogo constante entre tradição e inovação em sua produção, reforçando a relevância de Alberto Teixeira para a pintura brasileira e para a história do abstracionismo no país. Além de artista, Alberto Teixeira atuou como professor e formador de novas gerações, transmitindo seus conhecimentos e técnicas em instituições como a Pontifícia Universidade Católica de Campinas. Sua atuação como educador, assim como seu olhar atento à história da arte, consolidou uma carreira marcada pelo estudo, pela experimentação e pelo compromisso com a reflexão estética.

Até 31 de outubro.

Arthur Palhano novo artista representado.

A Galatea anuncia a representação do artista Arthur Palhano (1996, Rio de Janeiro). Artista visual formado pela Escola de Artes Visuais do Parque Lage em 2019. Sua prática é voltada à pintura, construída pela sobreposição, raspagem e escavação de camadas de tinta, em um processo que revela a historicidade das superfícies e ativa a memória inscrita nos objetos e imagens representados.

Arthur Palhano parte de imagens, de memória e objetos cotidianos – como facas, sapatos e pequenos ícones domésticos – que, ao serem transpostos para a pintura, adquirem densidade simbólica. Em suas obras, esses elementos também dialogam com categorias tradicionais da pintura, como as discussões acerca de figura e fundo e o gênero natureza-morta, para tensioná-las e ressignificá-las.

O artista está entre a seleção de obras da Galatea para a 15ª edição da feira ArtRio, que ocorre entre 10 e 14 de setembro, na Marina da Glória, no Rio de Janeiro. No primeiro semestre de 2026, Arthur Palhano vai realizar sua primeira exposição solo em São Paulo, na Galatea. Entre as exposições que participou, destacam-se: Pequenas pinturas III (Coletiva, Auroras, São Paulo; Partial Objects (duo com Kian Mckeown, MAMA Projects, New York, USA; Do desenho (Coletiva, Centro Cultural dos Correios, Rio de Janeiro e Dogma (individual, Portas Vilaseca, Rio de Janeiro.

Arthur Palhano também é representado por Portas Vilaseca no Rio de Janeiro, e tem parceria com Arr Gallery, em Hangzhou, e Mama Projects, em Nova York.

Curso com Manuela Eichner.

03/set

Antiarte colagem e subversão no MAM São Paulo.

Programação: Colagem e Surrealismo, O surgimento da colagem, Dadaísmo, Colagem e Pop-art, Colagem e fotografia.

Datas: 25 de setembro, 02, 09 e 16 de outubro.

Curso online – Ao vivo, via plataforma de videoconferência – Aulas gravadas disponibilizadas apenas por tempo determinado – Contempla certificado no final.

O curso abordará a colagem em perspectiva analisada pelo trabalho e desenvolvimento da técnica por artistas de vanguarda. Arranjadas por uma linha de tempo não histórica, as aulas traçam as contribuições de artistas/ativistas, não só na técnica da colagem, mas para as discussões de gênero, insurgência e provocações da sociedade de suas épocas. Público-alvo: artistas, interessados em criatividade e na técnica da colagem.

Curso com Manuela Eichner.

Sobre a ministrante.

Manuela Eichner é artista multifacetada, formada em Escultura pela UFRGS. Natural de Arroio do Tigre, vive e trabalha entre São Paulo e Berlim. Sua prática abarca vídeos, performances, oficinas colaborativas, instalações, murais e experiências ambientais. Nessas diferentes frentes, recorre sistematicamente a princípios de colagem, ruptura e embaralhamento da unidade espacial. Participou de diversos programas pelo mundo, como Rumos Itaú Cultural, Utropic em Poznań, ZK/U em Berlim, AnnexB e Brooklyn Brush em Nova York, Arte Pará em Belém, Art Madrid Feria em Madrid, JUNTA Festival Internacional de Dança de Teresina, Piauí, In[s]urgências 2018 no AGORA Collective, Berlin, Fikra Bienal de Design Gráfico em Sharjah, IASPIS Residência em Malmö, CND Centre National de la Danse em Paris e Karaôke Infinito no Museu da Língua Portuguesa em São Paulo.

Dois artistas na galeria A Gentil Carioca.

02/set

A Gentil Carioca, Higienópolis, São Paulo, SP, anuncia, em sua sede paulistana, a primeira exposição do artista colombiano Carlos Jacanamijoy no Brasil. Intitulada “Ambi Yaku” – expressão em quéchua que significa “água que cura” -, a mostra evoca a relação vital entre natureza, espiritualidade e ancestralidade. No andar superior da galeria, Ana Silva apresenta “Contemplação do Vazio”, sua segunda individual na galeria. Atualmente em cartaz na coletiva “O Poder de Minhas Mãos”, no Sesc Pompeia, a artista reúne composições de atmosfera onírica, que expandem a poética de seu trabalho e costuram tempos, territórios e memórias. As aberturas acontecem em 03 de setembro, coincidindo com o início do circuito da Travessa Dona Paula, encontro de colecionadores, patronos e curadores no contexto da 36ª Bienal de São Paulo.

Reconhecido como um dos principais nomes da arte indígena contemporânea nas Américas, Carlos Jacanamijoy (n. 1964, Putumayo, Colômbia) apresenta obras inéditas desenvolvidas durante residência no Rio de Janeiro. Sua pintura, de dimensão quase sinestésica, compõe partituras visuais em que cores e gestos se transformam em murmúrios, silêncios e explosões sonoras. Os títulos em quéchua, língua aprendida com a avó, reafirmam a resistência cultural e prestam tributo às gerações anteriores: “O quéchua é uma língua muito doce. Talvez eu sinta isso porque é minha língua materna ancestral em risco de extinção, e porque sinto nostalgia de fazer parte de uma cultura de língua milenar, silenciada, esquecida, invisibilizada (…). Sua sonoridade abre um portal de memórias muito imersas na natureza que me viu crescer e que eu via enquanto crescia.”

Para Carlos Jacanamijoy, a arte é uma linguagem de liberdade, capaz de “desfolclorizar e descolonizar”, rompendo estereótipos que historicamente reduziram os povos indígenas a representações folclóricas ou exóticas. Ao afirmar-se como artista – sem rótulos limitadores como “arte indígena” -, Carlos Jacanamijoy reivindica um espaço de dignidade, diálogo e reconhecimento. Suas obras integram coleções de prestígio, como o National Museum of the American Indian – Smithsonian Institution (Washington, D.C., EUA), Biblioteca Luis Ángel Arango (Banco da República, Bogotá), Museu de Arte Moderna de Bogotá e o Museo La Tertulia (Cali), consolidando-o como figura fundamental na arte contemporânea latino-americana.

A pesquisa de Ana Silva (n. 1979, Calulo, Angola) toma o bordado como linguagem plástica para refletir sobre heranças culturais, afetividade e identidade. Bordados, pigmentos e tecidos são sobrepostos e tensionados, ganhando densidade poética. O gesto manual, também uma escolha política, resgata tradições ligadas ao trabalho doméstico e feminino, articulando delicadeza e força, intimidade e potência. Suas obras integram as coleções do Centre Pompidou; Fondation H – Paris; Fonds de Dotation agnès b., PAMM: Pérez Art Museum Miami, e Fondation Gandur pour l’Art.

Na individual “Contemplação do Vazio”, Ana Silva apresenta obras inéditas produzidas em residência artística em São Paulo, nas quais investiga o vazio como espaço de potência e transformação: “Nesta série, parto do princípio de que o vazio não é sinônimo de ausência, mas de potencial. Um espaço em expansão, tal como o universo, traz consigo a possibilidade da criação, da transformação e da leveza. Tal como a respiração – que se expande e contrai -, o vazio pulsa, ressoa e oferece um refúgio ao movimento da existência.”, diz a artista.

Diferentes gerações e abordagens.

Transe - 001

A Gomide&Co e a Act Arte, Jardins, São Paulo, SP,  apresentam até 15 de novembro, “Transe”, coletiva organizada com Fernando Ticoulat, que também assina o texto crítico.

Reunindo artistas de diferentes gerações e abordagens, a mostra propõe um percurso que investiga a arte como meio ativo de reorganização dos sentidos, da linguagem e da percepção. A partir de diferentes suportes e abordagens, observa como processos técnicos e simbólicos estruturam a criação artística em diálogo com transformações históricas, culturais e tecnológicas. “A arte é um campo de condensação energética em forma sensível, do cósmico no íntimo, […] que reconfigura o mundo a partir de suas entranhas”, comenta Fernando Ticoulat.

O conceito da exposição parte do imaginário radical das décadas de 1960 e 1970, marcado por contracultura, psicodelia, lutas sociais, descobertas científicas e pela busca espiritual, quando a ciência já não bastava para explicar os novos limites da mente, do tempo e da realidade. “Transe” propõe um mergulho em práticas que operam por transformação: obras como sistemas abertos, em constante ativação, que mais do que representar o mundo, o refazem. A exposição inclui obras de Luiza Crosman, Antonio Dias, Rubens Gerchman, Karla Knight, Montez Magno, Cildo Meireles, Mira Schendel, Camile Sproesser, Megumi Yuasa, entre outros.

Jonathas de Andrade obras inéditas e recentes.

A Nara Roesler São Paulo convida para a abertura de “Permanência Relâmpago”, exposição com obras inéditas e recentes do celebrado artista Jonathas de Andrade (1982, Maceió, residente em Recife). A curadoria é de José Esparza Chong Cuy, diretor-executivo e curador-chefe da Storefront for Art and Architecture, em Nova York.

“Permanência Relâmpago” abrange três conjuntos de obras a que Jonathas de Andrade vem se dedicando nos últimos dois anos, em torno dos jangadeiros da praia de Pajuçara, em Maceió, que navegam em jangadas de madeira e velas tradicionais, levando turistas às piscinas naturais, e os canoeiros do Rio São Francisco, no sertão de Alagoas, próximo à Ilha do Ferro, que usam canoas de velas quadradas duplas de grande escala, notavelmente gráficas, em um circuito de competições de forma recreativa e esportiva.  Ambas as manifestações representam culturas náuticas seculares transmitidas de pai para filho, praticadas por comunidades de pescadores e barqueiros, revelando um jogo cultural que tensiona intimamente tradição, patrimônio, turismo e economia.

A exposição oferece ao público uma primeira vista, privilegiada, da pesquisa em andamento para um comissionamento feito em 2023 pelo Victoria and Albert Museum, em Londres, a convite de Catherine Troiano, curadora do departamento de fotografia da instituição. Em novembro de 2025, obras inéditas produzidas por Jonathas de Andrade dentro desta pesquisa serão exibidas no V&A, quando passarão a integrar a coleção do Museu. Em “Permanência Relâmpago”, Jonathas de Andrade questiona os sistemas em transformação que moldam identidade, trabalho e memória. Suas instalações, filmes e obras conceituais atuam como arquivos vivos, reativando histórias orais, saberes marginalizados e tradições artesanais.

A exposição terá três eixos de trabalhos. Na série “Jangadeiros Alagoanos”, Jonathas de Andrade usa como suporte as velas originais das jangadas marítimas, usadas na praia de Pajuçara, marcadas pelo sol e pelo uso. No segundo conjunto de trabalhos, “Canoeiros Neoconcretos”, o artista parte das velas de padrões gráficos ousados utilizados pelos canoeiros do Rio São Francisco, próximo à Ilha do Ferro, paisagem carregada de histórias de seca, migração e sobrevivência no Sertão.

Em outra série, “Puro torpor do transe do sol”, as velas gráficas dos barcos no Rio São Francisco inspiram composições abstratas com pintura automotiva, “dando volume escultórico e objetual aos campos de cor que atravessam o rio, na corrida das canoas e as velas gigantes”, comenta o artista.

O terceiro eixo da exposição é a estreia do filme “Jangadeiros e Canoeiros”, que terá uma sala especial para sua exibição. A trilha sonora é de Homero Basílio, profícuo percussionista e produtor musical que colaborou em diversos filmes de Jonathas de Andrade.

Até 26 de outubro.

MAM São Paulo encontra Instituto Tomie Ohtake.

Se os lugares importam, deslocar-se é se transformar – sem, no entanto, apagar os rastros do que já se foi. A arte, nesse contexto, é um campo privilegiado para apreender as camadas de tradução, opacidade, atrito e reinvenção que marcam o movimento de pessoas, formas e histórias. Foi com esse olhar que se iniciou a colaboração entre o Instituto Tomie Ohtake e o Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM São Paulo), num momento em que a coleção do museu paulista se coloca em circulação pela cidade e enquanto o Instituto Tomie Ohtake preparava uma exposição dedicada à obra de Édouard Glissant. Logo começamos a conversar sobre o quanto a coleção do MAM São Paulo carrega marcas da demografia heterogênea do país e de sua maior metrópole; sobre como a história de nossas instituições é definida por trânsitos e mutações; e sobre como tanto modernidade quanto contemporaneidade estão imbuídas de legados de trocas e disputas entre territórios, linguagens e pessoas. Glissant usava a expressão aqui-lá para sublinhar que “aqueles que estão aqui vêm sempre de um “lá”, da vastidão do mundo”. Seu foco era afirmar que cada pessoa e comunidade carregam rastros de outras paisagens, línguas e culturas, e que por isso nenhum lugar é homogêneo ou pode ser compreendido como uma unidade coerente. Para o poeta, ao contrário do que alguns afirmam, a diversidade resultante dos movimentos entre territórios enriquece a experiência dos lugares, colocando-os em relação com todas as línguas e lugares do mundo. Partindo dessa premissa, a exposição propõe um exercício de escuta e aproximação, em que as obras da coleção do MAM são reunidas a partir do cruzamento de rastros – ora em ressonância, ora em desvio. Mais do que ilustrar deslocamentos, as obras os incorporam como matéria, gesto e pensamento.

A exposição se estrutura em dois núcleos, distribuídos em salas distintas, cada qual tensionando, à sua maneira, os modos de estar no mundo a partir da experiência do deslocamento e da relação com o outro. As obras presentes no espaço entre as salas introduzem algumas formas fundamentais dessa tensão: o texto, o mapa, e o isolamento. A primeira sala reúne obras marcadas por travessias físicas e simbólicas – migrações, diásporas, exílios, deslocamentos voluntários ou forçados, externos ou internos. Essas obras não apenas tematizam o movimento, mas o incorporam em suas matérias, gestos e construções formais. Elas apontam para as dinâmicas geopolíticas, afetivas e institucionais que moldam quem pode ou não circular, permanecer ou retornar. Aqui, o deslocar-se é compreendido como experiência complexa, feita de perdas, reinvenções e resistências.

A segunda sala se volta para as tensões entre corpo, território e identidade. Reúne obras que elaboram, por meio de imagens, superfícies e símbolos, processos de afirmação individual e coletiva – modos de inscrever a presença em contextos marcados por silenciamento, normatividade ou violência. Essas obras não se pretendem fixas ou ilustrativas: tratam de negociações sempre em curso, onde o corpo se torna lugar de disputa e de criação de sentido.

Cada uma dessas salas é orientada por uma obra que, em sua forma, já enuncia a instabilidade das fronteiras. Em uma, a multiplicidade de bandeiras de diferentes cidades brasileiras, de um mesmo estado, revela o caráter fragmentado e imaginativo dos signos cívicos que organizam o espaço nacional. Em outra, os retratos de pessoas em condição migrante – vendedores ambulantes que falam outras línguas, portam outros gestos, e vivem a precariedade de quem não pôde permanecer onde pertencia – tornam visível uma face cotidiana e estrutural da exclusão. Essas duas entradas não apenas introduzem os núcleos da exposição, mas também operam como dispositivos de leitura que colocam em relação o que se verá a seguir: deslocamentos e afirmações, mapas e corpos, simetrias e tensões, ausências e resistências. Ao caminhar entre as salas, o visitante é convidado a perceber como a arte – e as coleções – podem se tornar campos sensíveis, em que ecos do “lá” se inscrevem no “aqui”, e onde o entre-lugar se faz espaço de sentido.

Ana Roman, Cauê Alves, Gabriela Gotoda e Paulo Miyada, curadores.

Até 02 de novembro.

As engrenagens de Gabriela Mureb.

 

A Central galeria, Higienópolis, São Paulo, SP, apresenta a partir de 02 de setembro a exibição individual de Gabriela Mureb, “Cavalo-vapor”. A exposição inaugura a nova sede da galeria, ocupando os dois andares do espaço com instalações, esculturas e um filme.

Artista em destaque na Trienal do New Museum em 2021 e na 13ª Bienal do Mercosul em 2023, Gabriela Mureb elabora, em sua obra, ruídos entre corpo, objetos técnicos e máquinas, em trabalhos que se apresentam ora como sobreposições de engrenagens, ora como sistemas em funcionamento.

Alberto Pitta na Nara Roesler.

01/set

Uma das figuras centrais no Carnaval de Salvador, onde atua há mais de 45 anos, o artista Alberto Pitta tem recebido, no Brasil e no exterior, um crescente reconhecimento de sua produção, e participará da 36ª Bienal de São Paulo, a convite de Bonaventure Soh Bejeng Ndikung, que em 2023 já havia incluído obras suas na coletiva “O Quilombismo”, na Haus der Kulturen der Welt, em Berlim. Este ano, Alberto Pitta participou da exposição “Joie Collective – Apprendre a flamboyer”, no Palais de Tokyo, em Paris, entre outras. Na Nara Roesler São Paulo, Alberto Pitta irá mostrar, a partir de 02 de setembro, 24 trabalhos inéditos e recentes, em pintura e serigrafia sobre tela, além de desenhos sobre papel que mostram seu processo criativo, e ainda um carrinho de madeira, alusivo aos usados por vendedores de cafezinho em Salvador. A curadoria é de Galciani Neves.

Na abertura da exposição “Àkùko, Eiyéle e Ekodidé – Uma revoada de Alberto Pitta”, será lançado o livro “Alberto Pitta” (Nara Roesler Books, 2025), com 152 páginas, formato de 17,5 x 24,5 cm, capa dura com serigrafia, bilíngue (português/inglês) e texto de Galciani Neves – curadora da mostra – além de uma entrevista dada pelo artista a Jareh Das, curadora que vive entre a África Ocidental e o Reino Unido. A introdução é de Vik Muniz, amigo do artista desde que ambos participaram da exposição “A Quietude da Terra: vida cotidiana, arte contemporânea e projeto axé”, com curadoria de France Morin, no Museu de Arte Moderna da Bahia, em 2000.

A curadora destaca que na exposição três pássaros “aparecem com protagonismo nas telas de Pitta: Àkùko, Eiyéle e Ekodidé se espalham a partir de uma organização cromática do espaço da galeria Nara Roesler”. “Eles habitam a primeira série de trabalhos, na qual predominam composições em preto, branco, vermelho e amarelo, como se dessem boas-vindas ao público; em seguida explodem em cores vibrantes e composições multicoloridas, para encantar; e, por fim,acontecem na calmaria de telas brancas – onde distintos matizes de branco compõem o trabalho”.

Vik Muniz, na introdução do livro, afirma que “nos panos dos abadás, uniformes dos blocos afro e blocos de índios sua linguagem se moldou, impregnada de referências ancestrais e desafiada pela multitude de propostas temáticas resultante da autonomia criativa dos carnavalescos. Pitta é protagonista e produto desse encantamento pleno de tradição, mas não vazio de liberdade”.

Na Nara Roesler São Paulo, Alberto Pitta vai mostrar um carrinho de cafezinho, feito em madeira, na forma de um caminhão de brinquedo, em alusão aos “carrinhos de cafezinho”, muito comuns em Salvador, usados pelos vendedores ambulantes para vender café, normalmente já adoçado com açúcar, colocado em garrafas térmicas e servido em copos de plástico. Para a exposição “A Quietude da Terra: vida cotidiana, arte contemporânea e projeto axé”, em 2000, no Museu de Arte Moderna da Bahia, com curadoria de France Morin, Alberto Pitta desenvolveu um projeto inspirado no seu envolvimento duradouro com esses carrinhos de cafezinho, desde os treze anos de idade, quando criou seu primeiro carrinho de cafezinho.

Até 26 de outubro.

Pertencimento e resistência.

29/ago

O artista Tito Terapia (1977, São Paulo) participa da SP-Arte Rotas 2025, no estande E04, com um conjunto inédito de obras produzidas especialmente para a ocasião. A exposição também marca a representação do artista pela Galatea.

A feira, que acontece até 31 de agosto na Arca, em São Paulo, conta com pinturas em pequeno e médio formato que são produzidas com pigmentos naturais recolhidos na região da Zona Leste, onde Tito vive e mantém seu ateliê. Embora tenha iniciado a sua trajetória com a pichação, sua produção atual aponta para um caminho diverso, voltando-se para pinturas que transitam entre gêneros caros à tradição figurativa, como a paisagem e a natureza-morta.

Os trabalhos mesclam elementos do cotidiano e da memória, preservando histórias de lugares que já não existem e que em muitos casos foram consumidos pela especulação imobiliária em São Paulo. O processo manual e o uso de materiais locais reforçam a conexão entre sua produção e o território, atribuindo às telas um sentido de pertencimento e resistência.