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AGENDA CULTURAL

Adriana Coppio em Salvador

 

A Alban Galeria, Salvador, BA, anuncia a exposição “Mãe da Lua” de Adriana Coppio, primeira individual da artista na galeria. Esta é também a primeira mostra da artista paulista (nascida em Taubaté, em 1978), na Bahia. “Mãe da Lua”, título que dá nome a uma das telas do conjunto, reúne cerca de 30 obras da artista, entre pinturas e desenhos, evidenciando o aprofundamento de repertório estético e temático de Adriana Coppio, ao longo de uma trajetória artística de mais de duas décadas de produção. A mostra será aberta no dia 27 de abril, permanecendo em cartaz até 27 de maio.

Parte de uma geração de artistas concentrada em São Paulo, nas décadas de 1990 e no início dos anos 2000, Adriana Coppio sempre chamou atenção para seu trabalho pelo fato de que, na contramão de seus parceiros e colegas de geração, a artista fincou seu interesse pela pintura figurativa desde o início de sua trajetória até os dias atuais, ao passo em que as questões ligadas ao cenário da arte de então pareciam pender para a pintura abstrata e, mais além, para obras conceituais, performáticas e afins.

A opção de Adriana Coppio por uma pintura figurativa, no entanto, em nada diminui a radicalidade com que a artista assume tal escolha. À primeira vista, é natural que o espectador se coloque diante de uma de suas pinturas e seja tomado por certo torpor ou desconcerto diante das paisagens, personagens e lugares criados pela artista. Desde o início de sua produção artística, Adriana Coppio nos apresenta e conduz até um Brasil – e para além dele -que nos remete o cânone de nossa pintura moderna, por exemplo.

 

Figuras híbridas

Suas paisagens e espaços (rurais e domésticos) frequentemente são habitados por figuras híbridas (entre humanos, objetos inanimados que parecem dotados de vida, como bonecas antigas e, ainda, outros seres não passíveis de classificação imediata, veloz). Se a modernidade foi responsável por nos agraciar com produções de geniais artistas como Guignard, Di Cavalcanti, Maria Martins – dentre tantos outros e outras figuras incontornáveis – Adriana Coppio traça uma implacável busca por céus de tons cáusticos, imprecisos entre habitarem a noite ou o dia. Se, lá atrás, a luminosidade dos trópicos serviu de motivo para pinturas e obras diversas de nomes variados, na obra de Adriana Coppio vemos um Brasil na via oposta da representação arquetípica e saturada com que fomos atravessados até aqui.  Nas palavras do curador José Augusto Ribeiro, que escreve um ensaio crítico que acompanha a exposição: “A começar por uma luminosidade fluorescente, artificial e quase radioativa que invade o espaço das telas, vinda detrás das figurações, intrometendo-se aos poucos, pelas frestas, entre os motivos da pintura, até chegar, às vezes sólida, chapada, ao primeiríssimo plano (…). Essa luz psicodélica que trespassa as imagens de Coppio sucede do modo como a artista prepara suas telas para a realização do trabalho, por meio de um preenchimento homogêneo do “fundo”, que sela a trama do tecido, com tinta acrílica nas cores amarelo, verde ou rosa.”

A partir das palavras de José Augusto Ribeiro, podemos destacar também o processo pictórico da artista, cujas telas são realizadas com tinta acrílica, notadamente um material menos maleável e que permite poucas (ou quase nenhuma) negociação entre o artista e sua obra, durante o ato da pintura. Pigmento de secagem veloz, a tinta acrílica aparece aqui, nas pinturas de Adriana Coppio, com impressionantes cargas de fluidez, a deslizar pela tela em pinceladas vastas, típicas de quem emprega em suas telas, ao contrário, a tinta a óleo. Tal virtuosidade chama atenção nas obras da artista, ainda que esta seja apenas um aspecto de sua singular e amplamente reconhecida produção visual.

 

Referências cinematográficas

Impressionam também suas referências que, advindas de naturezas distintas, conjugam universos diversos no plano da tela. Do cinema de David Lynch aos livros de folclore brasileiro, de sua vivência no campo desde o início de sua vida até o misticismo de obras literárias como “O Livro Vermelho”, do suíço Carl Jung, pai da psicologia analítica. Deste modo, Adriana Coppio nos convida a percorrer sua exposição como se estivéssemos a assistir a um filme, frame a frame (ou quadro a quadro), ainda que fuja da ideia de uma narrativa fechada ou hermética.

“Quando vou começar um trabalho tenho que me concentrar muito, me fechando no ateliê e acessando o que me faz querer ser artista, que é o material que engloba todo o meu repertório de interesses encontrado até hoje. Como ponto de partida, utilizo imagens oriundas de materiais que me interessam e que servem como uma ponte ou ferramenta para o que se encontra na minha mente. Podem ser fotografias variadas, da minha família, ou outras que eu mesma fiz para capturar algo que me surpreendeu e instigou em determinado momento e quis levar comigo de alguma forma, assim como emprego referências de filmes ou ilustrações de livros que me são preciosos e inspiradores, alguns desde a infância. Em suma, faço um grande quebra cabeças de imagens, passo a observá-las e investigá-las incessantemente, de modo a vê-las todas juntas e construir uma espécie de colagem mental que já é, em si, o início do processo de construção das pinturas”, afirma a artista.

 

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