Olá, visitante

AGENDA CULTURAL

As múltiplas dimensões da temporalidade.

“Em busca do tempo roubado” é o atual cartaz da Galeria de Arte Flexa, Leblon, Rio de Janeiro, RJ, com curadoria de Luisa Duarte, tendo Daniela Avellar e Lucas Alberto como curadores assistentes. A mostra reúne cerca de 80 obras que buscam abordar as múltiplas dimensões da temporalidade. Os três núcleos que compõem a coletiva se apresentam como capítulos de uma espécie de pedagogia do tempo: “O herói como garrafa”, “Frequência dos hábitos” e “A pele do tempo”.

Em busca do tempo roubado

Secularmente, a passagem do dia foi medida pelo lento deslocamento dos astros. Hoje, a interface do mundo clareia e anoitece regida pela modulação do brilho das telas, simbolizada por um pequeno sol nos aparelhos de celular. Em um estranho paradoxo, temos o dia disposto na palma da mão, enquanto a experiência do seu desdobrar escorre entre os dedos.

Em busca do tempo roubado se dedica a abordar distintas formas de temporalidade em contraposição ao mundo 24/7 – aquele no qual nos distanciamos da realidade sensível à medida que habitamos, grande parte das horas, zonas digitais cujas telas, sempre lisas e limpas, simulam uma temporalidade para a qual as marcas do tempo nunca chegam. Ou ainda: aquele que se descortina a partir de dinâmicas ininterruptas de estímulos, que acabam por nos fazer reféns de uma constante atenção distraída.

Os três núcleos que compõem a exposição se apresentam como capítulos de uma espécie de pedagogia do tempo. O herói como garrafa propõe um deslocamento da centralidade do imaginário heroico ao privilegiar o ordinário. Em A teoria da bolsa de ficção, Ursula K. Le Guin (1929-2018) faz menção a um glossário inventado por Virginia Woolf (1882-1941) no qual a palavra “herói” é substituída pelo termo “garrafa”. Tal operação encena um gesto crítico à reincidência da tônica heroica nos modos de contar histórias. Assim, a atenção ao ordinário recolhe, no tecido dos dias, as narrativas mínimas e as possíveis surpresas que habitam as malhas do comum.

Em Frequência dos hábitos recordamos que, na repetição dos gestos mais banais – escovar os dentes, riscar um fósforo, cortar uma fruta – podem habitar desvios inauditos. Assim, a repetição surge como recurso poético que aponta para o cotidiano como campo de invenção e subversão.

Já em A pele do tempo, o tempo se revela por sua densidade, menos como medida homogênea cronometrada e antes como matéria sensível. E se a pedra fosse uma metáfora para o relógio? Como mediríamos as horas? Tal pergunta parece sugerir a existência de fusos horários próprios a cada matéria, desobedientes às cronologias já catalogadas.

Luisa Duarte – curadora

Daniela Avellar – curadora assistente

Lucas Alberto – curador assistente

Deixe uma resposta

O seu endereço de email não será publicado Campos obrigatórios são marcados *

Você pode usar estas tags e atributos de HTML: <a href="" title=""> <abbr title=""> <acronym title=""> <b> <blockquote cite=""> <cite> <code> <del datetime=""> <em> <i> <q cite=""> <s> <strike> <strong>

Sua mensagem foi enviada com sucesso!