Vik Muniz na Paulo Darzé

27/jun

Vik Muniz é artista plástico, fotógrafo e pintor, conhecido internacionalmente por usar materiais inusitados em suas obras, como lixo, açúcar e chocolate. Pela primeira vez na Bahia, não só com uma individual, apresentando a criação de novas obras, a exposição Handmade retoma caminhos e procedimentos que já havia trilhado no passado, investigando de forma aguda e sintética a tênue fronteira entre realidade e representação, entre o objeto original e sua cópia. A abertura acontece no dia 04 de julho, das 19 às 22 horas, na Paulo Darzé Galeria, Salvador, Bahia, com temporada até 10 de agosto.

 

No dia 05 de julho, o artista abre uma nova mostra no Museu de Arte Moderna, Solar do Unhão, sob o título Imaginária, trabalhos criados a partir de milhares de recortes de catálogos de exposições, onde revisita a arte sacra, através das figuras dos santos. “Os santos, exemplos de pessoas que colocaram a sua fé acima da própria vida, sempre exerceram um enorme fascínio nas mentes artísticas. Não é por coincidência que a história da arte esteja tão relacionada à história da fé. Grande parte do que admiramos na história da arte está objetivamente relacionada à arte sacra e, subjetivamente, ao ato de acreditar. Eu, como artista contemporâneo, sempre ansiei compartilhar os temas que tanto colaboraram para o desenvolvimento da cultura das imagens”.

 

HANDMADE

 

O público não verá em Handmade obras realizadas a partir de imagens conhecidas, tampouco referências a materiais mundanos – aspectos comuns no trabalho do artista. Vik alude nesta mostra à vasta tradição da arte abstrata, destilando para isso suas fórmulas básicas na criação de maneiras inusitadas de meditar sobre a imagem e o objeto, sobre a ambiguidade dos sentidos e a importância da ilusão, onde traça a constante preocupação do artista em transcender as dimensões simbólicas da imagem. Além da paradoxal relação entre imagem e objeto e do recorrente uso de estratégias ilusionistas – “A ilusão é um requisito fundamental de todo tipo de linguagem”, diz, “esses trabalhos flertam com a arte conceitual e estabelecem um intenso diálogo com a arte abstrata, cinética e concreta. Sobretudo, pelo interesse comum em relação às teorias da Gestalt, mais especificamente nos campos da psicologia e da ciência”. Repetição, ritmo, profundidade, espaçamento, uso das cores primárias ou gradações sutis de cinza e preto estão entre as questões caras à abstração e que compõem o alfabeto com o qual Vik lida em Handmade. Mas vai, além disso, ao lançar mão do vocabulário construtivo para mais uma vez colocar em questão o estatuto da imagem no mundo contemporâneo. “A exposição mostra um artista diferente e que sou eu ao mesmo tempo”, conclui.

 

Handmade explora a natureza da percepção, da realidade e da representação, e desafia questões de materialidade. As obras de Handmade remetem aos princípios fundamentais da arte abstrata propriamente dita – cor, composição, forma e ritmo – e se servem de conexões com movimentos da arte abstrata, como a op art, a arte conceitual e o construtivismo. As obras são excepcionalmente ricas em alusões, exigindo dos espectadores o direcionamento da atenção para os próprios materiais e os levando a refletir sobre o seu processo de criação. Como sugere o título da série, estas obras únicas são resultado de um processo híbrido que integra elementos artesanais ou físicos – sobretudo pintura e colagem – com fotografia digital de alta resolução. Estes estudos abstratos e materiais convidam o espectador a investigar mais de perto a dicotomia entre o objeto físico e sua representação, e, ao mesmo tempo, reinventam as possibilidades de construção da imagem fotográfica. A complicada relação imagem-objeto ressaltada nestas obras funciona sempre nos dois sentidos. O que se espera que seja uma foto não é; e o que se espera que seja um objeto é uma imagem fotográfica. Numa época em que tudo é reproduzível, a diferença entre a obra e a imagem da obra quase não existe. Os resultados da investigação e da experimentação são complexas composições, cada obra individual apresentando combinações de diferentes técnicas – papel e papelão são pintados, recortados e organizados em uma superfície, e em seguida são fotografados para poderem ser manipulados novamente. Depois são reorganizados e fotografados de novo, criando, assim, múltiplas camadas de volume, sombras e planos pictóricos. As formas geométricas simples e as cores primárias criam uma tensão e uma impressão de movimento dinâmico. Ao criar diferentes camadas que revelam elementos subjacentes e suas fotografias, inventa-se uma verdadeira trompe-l’œil onde os objetos e seus correspondentes fotográficos se entrelaçam em um jogo visual de ilusões.

 

Sobre o artista

 

Vik Muniz (Vicente José de Oliveira Muniz) nasceu em São Paulo, no dia 20 de dezembro de 1961. Formou-se em Publicidade na Fundação Armando Álvares Penteado – FAAP, em São Paulo. Em 1983, mudou-se para Nova Iorque. Atualmente vive e trabalha entre Rio de Janeiro e Nova York. Vik Muniz iniciou sua carreira artística ao chegar à Nova York em 1984, realizando sua primeira exposição individual em 1988. A partir desta data, começou a desenvolver trabalhos que faziam uso da percepção e representação de imagens usando diferentes técnicas, a partir de materiais como o açúcar, chocolate, catchup, gel para cabelo e lixo. Naquele mesmo ano, criou desenhos de fotos que memorizou através da revista americana Life. Fotografou os desenhos e a partir de então, pintou as fotos para conferir um ar de realidade original. A série de desenhos foi denominada “The Best of Life”. Vik Muniz fez trabalhos inusitados, como a cópia da Mona Lisa de Leonardo da Vinci, usando manteiga de amendoim e geleia, como matéria prima. Com calda de chocolate, pintou o retrato do pai da psicanálise, Sigmund Freud. Também recriou muitos trabalhos do pintor francês Monet. Alcançou reconhecimento internacional como um dos artistas mais inovadores e criativos do século 21. Conhecido por criar o que ele descreve como ilusões fotográficas, trabalhando com uma surpreendente variedade de materiais não convencionais – incluindo açúcar, diamantes, recortes de revista, calda de chocolate, poeira e lixo – para meticulosamente criar imagens antes de registrá-las com sua câmera. Suas fotografias muitas vezes citam imagens icônicas da cultura popular e da história da arte, desafiando a fácil classificação e envolvendo de maneira divertida o processo de percepção do espectador. Sua produção mais recente propõe um desafio ao público ao apresentar trabalhos que colocam o espectador constantemente em xeque sobre os limites entre realidade e representação, como atesta a obra Two Nails (1987/2016), cuja primeira versão pertence ao MoMA de Nova York. Em 2005, Vik lançou um livro denominado “Reflex – A Vik Muniz Primer”, contendo uma coleção de fotos de seus trabalhos já expostos. Uma de suas exposições mais comentadas foi denominada “Vik Muniz: Reflex”, realizada no University of South Florida Contemporary Art Museum, também exposta no Seattle Art Museum Contemporary e no Art Museum em Nova York. O processo de trabalho consiste em compor imagens com os materiais, normalmente perecíveis, sobre uma superfície e fotografá-las, resultando no produto final de sua produção. Em 2010, foi produzido um documentário intitulado “Lixo Extraordinário” sobre o trabalho de Vik Muniz, com catadores de lixo de Duque de Caxias, cidade localizada na área metropolitana do Rio de Janeiro. A filmagem recebeu um prêmio no festival de Berlim na categoria Anistia Internacional e no Festival de Sundance. O artista também se dedicou a fazer trabalhos de maior porte. Um deles foi uma série de Imagens das Nuvens, a partir da fumaça de um avião, e outras feitas na terra, a partir do lixo. No dia 7 de setembro de 2016, na abertura dos “Jogos Paraolímpicos Rio 2016″, Vik Muniz, um dos diretores da cerimônia, criou uma obra de arte formada por peças de um quebra-cabeça que eram levadas por cada delegação, com o nome do país de um lado e a foto dos atletas do outro. Cada peça era colocada no centro do palco do Maracanã, e com a colocação da última peça, pelo artista, formou-se um enorme coração que começou a pulsar com o uso de projeção de luzes. A obra de arte fez referência ao conceito central da cerimônia resumido na frase: “O coração não conhece limites”. Uns dos mais recentes trabalhos de Vik Muniz são os 37 mosaicos que decoram as paredes internas do novo trecho do metrô de Nova Iorque, que liga a Rua 72 à Segunda Avenida. Inaugurado em dezembro de 2016, obra que durou três anos para ser concluída, e que explora os diversos tipos de frequentadores do metrô de Nova Iorque. Nesta sua trajetória vem realizando prestigiadas exposições em instituições como o International Center of Photography, New York; Fundació Joan Miró, Barcelona; Museo d’Arte Contemporanea, Rome; Museu de Arte Moderna de São Paulo; Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro; Tel Aviv Museum of Art e Long Museum, Shangai. Suas exposições recentes incluem Vik Muniz: Handmade (Nichido Contemporary Art, NCA, Tóquio, Japão, 2017); Afterglow: Pictures of Ruins (Palazzo Cini, Veneza, Itália, 2017); Vik Muniz (Museo de Arte Contemporáneo, Monterrei , México, 2017); Vik Muniz: A Retrospective (Eskenazi Museum of Art, Bloomington, EUA, 2017); Vik Muniz (High Museum of Art, Atlanta, EUA, 2016); Vik Muniz: Verso (Mauritshuis, The Hage, Holanda, 2016); Escola Vidigal – 15ª Mostra Internazionale di Architettura | La Biennale di Veneza (Veneza, Itália, 2016); Une Saison Brésilienne | Vik Muniz na Coleção Géraldine e Lorenz Bäumer (Maison Européenne de la Photographie, Paris, França, 2016); Lampedusa, 56a Bienal de Veneza, (Naval Environment of Venice, Itália, 2015) e Vik Muniz: Poetics of Perceptions (Lowe Art Museum, Miami, EUA, 2015).

 

Em 2001, representou o Brasil no Pavilhão da 49a Bienal de Veneza. Em dezembro de 2008, o MoMA sediou Artist’s Choice: Vik Muniz, Rebus, como parte de uma série de exposições com artistas convidados. Também foi convidado da edição do ano 2000 da Bienal de Whitney, no Whitney Museum of American Art; da 24ª Bienal Internacional de São Paulo; e da 46ª Corcoran Biennial Exhibition:Media/Metaphor, na Corcoran Gallery of Art em Washington, DC. Seus trabalhos fazem parte de coleções de arte públicas como a do Museum of Modern Art, Nova York;Guggenheim Museum, New York; Tate, London; Metropolitan Museum of Art, Nova York; Los Angeles Museum of Contemporary Art, Los Angeles; Tate Gallery, Londres; Centre Georges Pompidou, Paris; Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofia, Madri; e do Museum of Contemporary Art, Tokyo. O trabalho do artista também é tema do filme Lixo Extraordinário (Waste Land), indicado ao Oscar de melhor documentário em 2010. Em 2011, foi nomeado Embaixador da Boa Vontade da UNESCO.

Glauco Rodrigues em Paris

22/abr

 

A obra de Glauco Castilhos Rodrigues, com sua brasilidade, índios, papagaios, verdes, amarelos e azuis, inicia um giro que começa com exposição retrospectiva em Paris na École Nationale de Beaux-Arts. O artista morreu em 2004 no Rio de Janeiro. Em 2012, Nicolas Bourriaud, diretor da École Nationale des Beaux-Arts de Paris, esteve no Rio de Janeiro, conheceu no Museu de Arte Moderna, a coleção de quadros do artista, que pertencia a Coleção Gilberto Chateaubriand e selecionou mais de 20 obras.

 

Bourriaud, um dos mais respeitados teóricos de arte na Europa, escolheu a arte de Glauco Rodrigues para compor um novo espaço na École des Beaux, em sua inauguração. Nicolas Bourriaud também visitou o atelier do artista e em contato com Norma Estellita Pessôa, viúva do artista e responsável por sua obra, escolheu mais alguns trabalhos para compor a exposição. Para a viúva que luta pela preservação do legado de um dos maiores nomes da arte contemporânea brasileira, é um reconhecimento. “Bourriaud fez apreciações bastante interessantes sobre a trajetória pictórica de Glauco, tudo isso é um grande reconhecimento ao excepcional artista que ele foi e é. Estou me preparando para esse grande momento”, diz Norma Estellita Pessôa.

 

Conferência

 

No dia 25 de abril, em Paris, na Sala de Conferências da École des Beaux-Arts, Roberto  Cabot realiza a conferência “Glauco Rodrigues, decodificar o dispositivo moderno”. A arte brasileira começou no início dos anos 60 e 70 do século XX, uma desconstrução do modernismo, e, portanto, sua própria identidade nacional, criando pilares que sustentam grande parte da produção brasileira contemporânea atual. Um pólo desta desconstrução é Glauco Rodrigues, que teve uma carreira solo, mas, no entanto, crucial. A conferência de Roberto Cabot oferece uma contextualização da obra de Glauco Rodrigues através de uma análise das circunstâncias históricas e abordagens artísticas no Brasil nos anos de 1960 à 1970.

 

Sobre o artista

 

Glauco Rodrigues nasceu em Bagé, RS, em 1929, e morreu no Rio de Janeiro, RJ, em 2004. Pintor, desenhista, gravador, ilustrador e cenógrafo. Começou a pintar, como autodidata, em Bagé, em 1945. Alguns anos depois, passa a frequentar, com bolsa de estudos da Prefeitura de Bagé, a Escola Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro. Em 1951 funda o Clube de Gravura de Bagé, com Glênio Bianchetti e Danúbio Gonçalves. Nesse período, passa a residir em Porto Alegre e integra o Clube de Gravura da capital, fundado por Carlos Scliar e Vasco Prado. Em 1958, transfere residência de Porto Alegre para o Rio de Janeiro e a seguir reside em Roma, de 1962 a 1965, lá realiza exposição individual na Embaixada do Brasil e participa de exibições coletivas em diversos países europeus. Ao retornar, integra importantes exposições como “Opinião 66”, no MAM-Rio. A obra de Glauco Rodrigues no fim da década de 1950 se aproxima da abstração, mas no começo dos anos 1960, volta à figuração quando o artista começa a produzir sob o impacto da arte pop, tratando com humor temas nacionais, inspirando séries como “Terra Brasilis”, de 1970, “Carta de Pero Vaz de Caminha”, de 1971, “No País do Carnaval”, de 1982, entre outras. Após o prêmio Golfinho de Ouro Artes Plásticas do Governo do Rio de Janeiro, publica o livro “Glauco Rodrigues”, de autoria de Luis Fernando Veríssimo, no qual reúne a quase totalidade de sua obra. Em 1999 recebe o Prêmio Ministério da Cultura Cândido Portinari de Artes Plásticas.

 

A partir de 24 de abril.

Casa Daros no Rio

10/abr

Após uma demorada espera, em função de obras realizadas para adaptação do espaço, a Casa Daros, Botafogo, Rio de Janeiro, RJ, iniciou atividades com a exposição coletiva “Cantos Cuentos Colombianos”. A exposição revela ao público a diversidade de pesquisas e técnicas dos artistas Doris Salcedo, Fernando Arias, José Alejandro Restrepo, Juan Manuel Echavarría, María Fernanda Cardoso, Miguel Ángel Rojas, Nadín Ospina, Oscar Muñoz, Oswaldo Macià e Rosemberg Sandoval, com obras pertencentes à Coleção Daros Latinamerica. A mostra foi apresentada inicialmente em Zurique, Suíça, em duas partes: a primeira, de outubro de 2004 a janeiro de 2005; e a segunda, de janeiro a abril de 2005, tendo sido a maior mostra de arte colombiana contemporânea já realizada na Europa. Naquela ocasião, a mostra funcionou como uma reavaliação dessa geração de artistas da arte colombiana no mundo. A curadoria é de Hans-Michael Herzog.

 

Até 08 de setembro.

Adriana Varejão no MALBA

09/abr

 

Chama-se “Adriana Varejão: Historia en los márgenes”, retrospectiva dos 22 anos de carreira da artista, agora no MALBA, Museo de Arte Latinoamericano de Buenos Aires, Buenos Aires, Argentina. Nascida no Rio de Janeiro, Adriana Varejão tornou-se um dos nomes mais importantes e valorizados da arte contemporânea brasileira. Foram selecionadas 40 obras especialmente para esta ocasião, oriundas do acervo da artista, coleções particulares e institucionais.

 

Suas obras encontram-se em museus como o Guggenheim, NY; Tate Modern, Londres; Fondation Cartier pour l´art Contemporain, Paris; Fundación “La Caixa”, Barcelona e Inhotim Centro de Arte Contemporânea, Brumadinho, MG, Brasil. Participou de quase uma centena de exposições entre mostras coletivas e bienais internacionais. Entre as exposições individuais realizadas, destacam-se: Centro Cultural de Belém, Lisboa, Portugal; Hara Museum, Tóquio, Japão; Fondation Cartier, Paris, França; MAM-São Paulo, São Paulo, SP, Brasil e MAM-Rio, Rio de Janeiro, Brasil.

 

“Margem remete a mar, mas também àquilo que está fora do centro”, daí o título da mostra. Para Adiana Varejão, “a história é algo vivo, o passado não é fechado nem morto, mas está sendo constantemente recriado, e essa é uma das principais motivações do trabalho”. A exposição foi realizada pelos museus MAM-SP e MAM-Rio e a curadoria é de Adriano Pedrosa.

 

Até 10 de junho.

Pinakotheke: Mabe, livro e exposição

08/abr

Ao comemorar dez anos de atividades na cidade de São Paulo, a Pinakotheke, Morumbi, São Paulo, SP, inaugura a exposição “Manabu Mabe (1924-1997) anos 1950 e 1960″ que reúne 36 pinturas, a maioria inédita, das décadas de 1950 e 1960 e lança um livro correlato de autoria de Paulo Herkenhoff, uma iniciativa do Banco BTG Pactual. Nesta exposição, a galeria introduz o sistema QR Code para que os visitantes visualizem em seus celulares e tablets informações complementares de cada obra: vídeos, áudios e novas referências.

 

A mostra ressalta a produção de Mabe a partir do abstracionismo, nas décadas de 1950 e 1960, período em que o artista alcança o reconhecimento máximo. O núcleo principal das obras reunidas refere-se à coleção Profili, formada na década de 1960 por Arturo Profili, amigo de Mabe e seu primeiro agente, fundador da Galeria Sistina em São Paulo e da Galeria Profili na Itália, onde Mabe realizou bem sucedidas exposições. Esta coleção nunca exposta na sua totalidade representa o melhor da produção do artista deste período.

 

Já o livro homônimo, concebido pela Edições Pinakotheke (bilíngue português-inglês) apresenta texto do crítico Paulo Herkenhoff, excertos de textos publicados no Brasil e no exterior e mais de 150 reproduções. A publicação “Manabu Mabe (1924-1997) anos 1950 e 1960″ traz ainda uma cronologia ilustrada com fotos de diversas épocas da vida do artista.

 

Conforme destaca Paulo Herkenhoff, o estudo da produção de Mabe implica compreender seus embates, suas conquistas, hesitações e contradições, a persistência dos liames orientais em sua produção, a excelência do ato pictórico-caligráfico e o sentido de sua pintura no contexto da modernidade brasileira do pós-guerra.  “Sua pintura permite, na verdade, compreender o modo de recepção intelectual da arte abstrata no processo liderado pela Bienal de São Paulo e, mesmo, indicar as fragilidades e incongruências na compreensão conceitual da pintura vigente”, afirma o crítico. Segundo ele, ainda, os artistas brasileiros nascidos no Japão, como Mabe, Tomie, Shiró, trazem um traço, um nome próprio ideogramático (e a língua, o olhar, a caligrafia pictórica, uma visão de mundo que expande o campo da pintura).

 

Sobre o artista

 

Manabu Mabe, pintor, gravador, ilustrador, nasce no Japão em 1924. Emigra com a família para o Brasil em 1934. Trabalha na lavoura de café no interior de São Paulo. Interessado em pintura, começa a pesquisar em revistas japonesas e livros sobre arte e inicia a prática da pintura em 1945. No fim da década de 1940, muda-se para a cidade de São Paulo. Integra-se ao Grupo Seibi e participa das reuniões de estudos do Grupo 15. Na década de 1950 tem participação ativa no contexto da arte brasileira torna-se um dos artistas mais destacados do abstracionismo informal no país.

 

A partir de 1957 inicia a sua trajetória no campo da abstração. Manabu Mabe explora em suas obras o empastamento, a textura e o traço e se revela um colorista de porte. Ao voltar-se para o universo das formas caligráficas, percebe também as possibilidades de criar uma linguagem lírica com a cor. Dessa forma, em meados desta década começa a aproximar-se também de certos aspectos do tachismo.

 

Em 1959, Mabe alcança consagração nacional e internacional. Recebe o prêmio de melhor pintor nacional na V Bienal de São Paulo. Sobre a premiação de Mabe comentou o crítico Mario Pedrosa no que chamou de “ofensiva tachista e informal”: “Um jovem artista japonês desconhecido, Manabu Mabe, é o vitorioso. Mal chegado do interior de São Paulo, onde fazia seu estágio obrigatório de imigrante, Mabe ganha instantânea notoriedade. De gosto inefavelmente japonês, as manchas de Mabe têm um poder emocional de fácil comunicabilidade, e com elas inaugura-se em definitivo a voga tachista no Brasil”. Neste mesmo ano, é homenageado com o artigo “The Year of Manabu Mabe”, publicado na revista Time, em Nova York.

 

Vitorioso também na I Bienal de Paris, no ano seguinte recebeu o cobiçado Prêmio Fiat na XXX Bienal de Veneza. Daí em diante sua carreira segue em franca ascensão. Realiza grandes mostras nos Estados Unidos e na Europa; e pela primeira vez expõe no Japão, em 1965. A partir da década de 1970, cristaliza seus procedimentos anteriores – que reaparecem estilizadamente em quase toda sua produção, incorpora em seus quadros figuras humanas e formas de animais, apenas insinuadas ou sugeridas, mas em geral representadas em grandes dimensões. Paralelamente, as grandes massas transparentes e etéreas com que vinha trabalhando adquirem um aspecto de solidez.

 

Nos anos 1980 as figuras voltam em suas telas, mas em formas abstratas e sutis. As espatuladas mesclam as cores e surgem novas formas, novas cores. As composições são ricas em detalhes. Cada espaço da tela tem sua própria concepção e surgem as formas geométricas em contradição com as formas gestuais. As cores são cada vez mais vibrantes, sem agredir o espectador que contempla a obra.

 

No dia 30 de janeiro de 1979, um trágico acidente aéreo fez com que o artista perdesse uma quantidade significativa das melhores obras produzidas ao longo de sua carreira. Um avião cargueiro decola do aeroporto de Narita no Japão ao término da sua exposição e desaparece de forma misteriosa. De 1980 até a sua morte em 1997 realiza inúmeras exposições no Brasil e no exterior.

 

Até 18 de maio.

No Espaço Cultural Citi

O crítico de arte Jacob Klintowitz assina a apresentação e a curadoria da exposição individual de Manu Maltez no Espaço Cultural Citi, Paulista, São Paulo, SP. Artista multimídia, Manu Maltez é um destes artistas jovens que respira arte e utiliza todos os meios dos quais tem conhecimento para expressar-se seja desenho, gravura, música, ou atuando como instrumentista, editor e ilustrador.

 

Manu Maltez por Jacob Klintowitz

 

O fragmento e o paradoxo.

 

Talvez seja a intermitência na produção o que causa certa espécie em Manu Maltez. Eu acompanho o seu trabalho há muitos anos e tenho sempre a impressão de que ele cria por imersão profunda: a cada série um mergulho no incógnito. E, logo depois, ele se dedica à outra coisa. Assim ele desenha, faz gravura, compõe, toca contrabaixo, ilustra poemas e ficção que o emociona, edita livros. E esta amplitude de interesses explica porque a sua imagem pessoal é um pouco difusa. A nossa ainda é uma época de especialistas. O lado paradoxal, entre outros elementos, é que, após obter qualidade, ele parece desinteressado da continuação.

 

É claro que este artista se move por desafios formais. Encontrar o equivalente visual do poema “O corvo”, de Edgar Allan Poe é uma temeridade. Está longe de ser o melhor de Poe, mas é o mais famoso e o mais comentado. As traduções são inúmeras e este poema é acompanhado por um brilhante ensaio de Poe sobre a construção literária. É um paradoxo, pois o romântico e expressionista Poe faz um tratado cartesiano sobre o processo criativo do poema. Em minha opinião trata-se não de uma descrição veraz, do ponto de vista histórico, mas de outra obra de ficção. Esta contradição essencial deve ter atraído de maneira fatal Manu Maltez.

 

O que é fascinante é a qualidade do seu desenho. Feito de densidades diferentes, gestual e preciso ao mesmo tempo, muitas vezes ele lembra os esboços e estudos de mestres renascentistas. O acabamento contemporâneo, com o seu conceito de mostrar o processo do fazer – os andaimes da obra – pode recordar o que antigamente era só um estudo. É o caso de Maltez. Mas nele a memória associativa é requintada. E a sua gravura, para ficarmos no terreno visual, criada com o mínimo de elementos, retoma a extraordinária tradição brasileira da gravura que já nos deu Marcello Grassmann, Octávio Araújo, Mário Gruber, Maria Bonomi, Anna Letycia, Lívio Abramo, Oswaldo Goeldi, entre tantos outros importantes artistas.

 

Manu Maltez é um jovem artista de talento afirmativo. A amplitude de suas realizações é animadora. Este admirador de Kafka, Goya, Fellini, Grassmann, Goeldi, Rosa, Stravinsky, Poe, Glauber, Tom, Iberê, Thelonius Monk, tem nos habituado à pequenas séries de alta qualidade. Fragmentos. Agora, na passagem para a maturidade artística, talvez seja a hora de nos apresentar uma sinfônica completa.

 

Até 24 de maio.

Vik Muniz: Espelhos de papel

27/mar

Vik Muniz inaugura a sua primeira mostra na Galeria Nara Roesler, Jardim Europa, São Paulo, SP, espaço que passou a representá-lo no Brasil desde o ano passado e no qual ele inicialmente estreou, em novembro último, no papel de curador, assinando uma coletânea dedicada à Op-art. “Espelhos de papel”, a nova exposição, com onze obras inéditas, é a primeira individual de Muniz em São Paulo desde 2010.

 

As obras apresentadas pertencem à nova série “Imagens de Revista 2”, na qual o artista vem trabalhando nos últimos dois anos. Tendo mais uma vez a fotografia como objeto final de sua produção, Vik volta a se apropriar dos fragmentos de revistas., utilizando papéis rasgados, criteriosamente escolhidos a partir de imagens de publicações variadas. “Elas precisam ser rasgadas para parecerem mais acidentais, como se tivessem caído ali como confetes”, diz ele sobre o processo de colagens.

 

Vik Muniz joga com os limites da representação, recompondo imagens de obras referenciais que já fazem parte do repertório visual do espectador. A série atual parte do constante interesse do artista pelas ilusões de ótica e pelas brincadeiras, que ele diz explorar igualmente a sério. Vik conta que em visitas a museus observou que os espectadores, às vezes, se moviam para frente e para trás, numa espécie de transe, enquanto exploravam a fronteira mágica entre conceito e objeto. Para ele, justo nesse ponto de transição dá-se o encontro que considera o sublime em arte: “Esses são os momentos que contêm em sua transcendência a própria natureza da representação”.

 

Em seu texto de apresentação da mostra “Espelhos de papel”, o jornalista Christopher Turner observa que, à primeira vista, as obras parecem familiares, uma galeria de imagens famosas.“Mas quando olhadas de perto elas não são o que parecem”. Cada quadro é uma colagem composta por centenas de imagens artisticamente arrumadas de acordo com a gradação de cores: “Esse vertiginoso mosaico de imagens superpostas, que dissolvem o plano do quadro numa multiplicidade de pontos focais, foi escaneado e ampliado para que o espectador possa ver os cabelos, as fibras e até a celulose do papel cortado nas bordas”, escreve Turner.

 

O conjunto de fotografias digitais C-print em grandes formatos, que constitui a montagem da Galeria Nara Roesler, foi selecionado pelo próprio Vik Muniz. A mostra “Espelhos de papel” inclui composições a partir das pinturas de Monet, Coubert, de Kooning e Wilhelm Eckersberg, entre outras. Os trabalhos foram produzidos nos estúdios do Brooklyn, em Nova York, e da Gávea, Rio de Janeiro, cidades entre as quais o artista se divide atualmente.

 

Para a crítica e curadora Luisa Duarte, “…sua obra abriga uma espécie de método que solicita do público um olhar retrospectivo diante do trabalho. Para “ler” uma de suas fotos, é preciso indagar o processo de feitura, os materiais empregados, identificar a imagem, para que possamos, enfim, nos aproximar do seu significado. A obra coloca em jogo uma série de perguntas para o olhar, e é nessa zona de dúvida que construímos nosso entendimento”.

 

Simultaneamente à mostra solo de Vik Muniz, a Galeria Nara Roesler apresenta, na programação paralela do projeto Roesler Hotel, a individual “Atacama: 1234567” – da curadora chilena Alexia Tala, que traz pela primeira vez ao Brasil a obra do artista britânico Hamish Fulton.

 

Sobre o artista

 

Vik Muniz nasceu em 1961, em São Paulo, SP. Vive e trabalha em Nova York e Rio de Janeiro. Participou de inúmeras bienais, como da 49ª Bienal de Veneza, Itália, 2001; 24ª Bienal Internacional de São Paulo, Brasil, 1998; Bienal de Arte Contemporânea de Moscou, Rússia, 2009, entre outras. “Vik”, no Centro de Arte Contemporânea de Málaga, Espanha, 2012; “Relicário”, no Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo, Brasil, 2011; e “Vik Muniz”, no Nichido Contemporary Art, em Tóquio, Japão, 2010, são suas mais recentes exposições individuais. Algumas das mostras coletivas de que participou são: “Swept Away”, no Museum of Arts and Design, em Nova York, 2012, e “Pure Paper”, na Rena Bransten Gallery, em São Francisco, 2011, ambas nos Estados Unidos; “Fragments latino-américains’, na Maison de l’Amérique Latine, em Paris, França, 2010; e “Surface Tension”, no Metropolitan Museum of Art, em Nova York, Estados Unidos, 2009. Suas obras integram acervos como os do Centre Georges Pompidou, em Paris, França; Guggenheim Museum, em Nova York, Estados Unidos; Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofía, em Madri, Espanha; e Inhotim – Instituto de Arte Contemporânea, em Brumadinho, MG, Brasil.

 

De 2 de abril a 11 de maio.

O carretel de Iberê Camargo

A Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, RS, inaugura nova exposição, com a duração de um ano, na qual serão exibidas 21 pinturas, 32 gravuras e 4 desenhos de Iberê Camargo. entre 23 de março de 2013 e 23 de março de 2014. A curadoria é de Michael Asbury. Esta exposição apresenta o desenvolvimento da temática do carretel dentro da trajetória pictórica de Iberê Camargo. Sendo esta sua mais prolongada série de trabalhos, a mostra explora sua significação cambiante, da suposta aproximação às vanguardas construtivas do pós Guerra no Brasil, à relação da matéria da tinta ao drama psicológico do gesto.

 

O carretel é o tema mais recorrente na obra de Iberê, aludindo às memórias de sua infância. A exposição Iberê Camargo: o carretel – “meu personagem” exibe um mapeamento da trajetória do artista, mostrando o objeto representado de diversas formas: desde o gênero natureza-morta, inspirado no trabalho de Giorgio Morandi, até as interpretações mais abstratas.

 

A palavra do curador Michael Asbury

 

Ao considerar a significância da temática do carretel na obra de Iberê Camargo, verifica-se o desenrolar de argumentos muitas vezes antagônicos. Se para o artista essa forma tinha características afetivas vindas das suas mais longínquas memórias – seus brinquedos de infância que ele desenterrara do “fundo do rio da vida” –, a crítica, apesar do consenso sobre a posição privilegiada como tema na obra, tem apresentado ao longo dos anos várias hipóteses sobre o que leva o carretel a ter tal importância.

 

Organizados inicialmente em um arranjo frontal rítmico, primeiramente sobre mesas, os primeiros carretéis de Iberê invocam o legado de Morandi. Mais tarde, com o crescente abandono do artifício da perspectiva, apresentam-se cada vez mais próximos à superfície da tela que, à medida que a tinta engrossa, parece os engolir. É a partir desse procedimento que descrições contemporâneas sobre a metamorfose a que Iberê sujeita os carretéis vieram a considerá-los o último estágio do artista a caminho da abstração. Tal procedimento foi visto, no calor da hora, como prova de sua passagem ao informalismo, tendência bastante em voga no final dos anos 50 e início dos 60. Entretanto, a evidência de estudos preparatórios para suas composições, mesmo aquelas de aparência abstrata, nega tal associação, convidando, a partir dos anos 1990, hipóteses que aproximavam o artista das vanguardas construtivas, que, então, ganhavam crescente reconhecimento no incipiente cânone da arte brasileira. Os carretéis levariam o artista, dessa forma, a um processo que considerava o objeto forma autônoma na pintura, em que a memória pessoal vem a ser mera anedota. Há ainda outro posicionamento que considera a maestria da matéria pintada posição singular de um expressionismo levado a seus limites. O artista vem a ser o solitário, sobrecarregado pela dor da vida, melancólico sobre a irreversível perda da inocência que expressa sua condição existencial através de grossas tintas que, agora, se tornam metáforas de uma escorregadia, movediça e pessimista apreensão da vida.

 

Todas essas dimensões críticas privilegiam, no entanto, a pintura sobre os outros meios empregados por Iberê. A atual exposição visa justapor pinturas e gravuras com a intenção de provocar um desequilíbrio à estrutura crítica a qual os Carretéis têm sido submetidos, sugerindo uma ênfase na questão da repetição da forma ao ponto de reconsiderá-la, em toda sua ambiguidade entre o lúdico e o melancólico, signo do próprio ser.

 

De 23 de março de 2013 a 23 de março de 2014.

Livro de Ascânio MMM

26/mar

 

“Um imenso desafio de levantamento historiográfico à altura da obra de Ascânio MMM”. É assim que Paulo Herkenhoff, um dos mais respeitados curadores e críticos de arte do Brasil, define o livro “Ascânio MMM: Poética da Razão”, BEĨ Editora, que o autor lança, na Livraria da Travessa, Ipanema, Rio de Janeiro. A publicação é resultado de quatro anos e meio de trabalho. Foram mais de 50 conversas entre o crítico e o artista, que também abriu seus arquivos, depósito de obras e mapotecas, no ateliê, além de uma intensa troca de e-mails.

 

Nas quase 300 laudas de seu ensaio inédito, Herkenhoff propõe uma revisão crítica da trajetória e da obra do escultor carioca, como Ascânio MMM gosta de ser chamado – radicado no Rio de Janeiro desde 1959, quando tinha 17 anos, Ascânio nasceu em Fão, vila de origem medieval localizada no norte de Portugal.

 

“O sistema de valores da obra de Ascânio solicita que se examine sua gênese, até aqui insuficiente ou mesmo equivocadamente explorada. (…) Essa obra precisa ser explorada num plano retrospectivo que lhe defina com mais vigor o lugar histórico”, aponta o crítico, logo no primeiro dos 22 capítulos do livro.

 

O ensaio “historiográfico e teórico” de Paulo Herkenhoff reconstrói a trajetória de Ascânio MMM, desde a influência de aspectos culturais de sua origem portuguesa; sua formação na Escola Nacional de Belas Artes, 1963-1964 e na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, 1965-1969 – ambas da Universidade Federal do Rio de Janeiro; o esforço de construção da linguagem e de seus signos materiais; as proposições fenomenológicas e simbólicas de sua obra; sua participação no processo histórico da arte brasileira, sobretudo na Geração MAM (formada entre os anos 1960 e 1970 no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro); o âmbito de sua produção, seu programa estético, a poética e o sentido da obra; a vontade construtiva e o viés arquitetônico de sua escultura vinculado à questão social da habitação.

 

A história de Ascânio também é reconstruída ao longo das quase 400 imagens reunidas na publicação. Através delas, o leitor tem um panorama de sua produção artística, desde as torções da primeira escultura de 1964, passando por suas obras no espaço público do Rio de Janeiro, até chegar aos “Flexos” e às “Qualas”, seus trabalhos mais recentes.

 

Texto e imagens de Ascânio MMM: Poética da Razão revelam a obra de um artista construída a partir de diferentes influências e questões centrais na arte brasileira dos últimos 50 anos, suscitando ao longo de sua análise revisões críticas e historiográficas.

 

Este livro se configura como uma leitura obrigatória e uma nova possibilidade de encontro com a obra de Ascânio MMM e até mesmo com a história recente da arte brasileira. Para Paulo Herkenhoff, por mais de quatro décadas, desde os primórdios de seus estudos de arte em 1963, Ascânio MMM manteve uma produção consistente. Das torções da primeira escultura de 1964 aos Flexos e às Qualas não foi a forma que regeu as decisões, mas seu fundamento matemático e arquitetônico, os problemas espaciais convertidos em experiências do tempo.

 

Lançamento: 27 de março.

Toz lança livro

Quem é carioca ou costuma passear pela cidade com certeza já prestou atenção em algum desenho de Toz (Tomaz Viana), dono do traçado que mais se vê no Rio de Janeiro, que desde os anos 90, alegra e enfeita as paredes e muros através de sua arte cheia de cores. O artista é representado pela Galeria Movimento e já conquistou uma série de colecionadores, que hoje, devido à consagração do grafite como obra de arte, desejam os traços do movimento em suas paredes. Na virada para o século XXI, a cultura hip hop e os skatistas fortaleceram um tipo de tribo urbana capaz de criar um repertório para estes desenhos feitos com spray. Surgiu então uma poderosa geração de grafiteiros, que tem em Toz um de seus trunfos.

 

Apreciador de craques como Carlos Vergara, Waltércio Caldas, Bispo do Rosário, Luiz Zerbini, entre outros grandes, Toz, aos 36 anos, produziu em janeiro seu maior mural de grafite, de 2.100 metros quadrados, 30 metros de altura e 70 metros de largura. O artista usou 1.500 latas de tinta no painel que fica na Zona Portuária do Rio de Janeiro. Os holofotes aos trabalhos de Toz vieram com o talento do artista e seu grande parceiro e galerista Ricardo Kimaid. Esta trajetória de sucesso será contada no Livro “TOZ, TRAÇO E TRAJETÓRIA”, produzido de forma independente pelos dois amigos, para celebrar a e contar a história da arte de Toz. O livro, assinado pelo designer Marcelus Viana, tem texto de Toz e Ricardo e conta a história dos emblemáticos personagens através de uma seleção cronológica de telas representativas dos últimos cinco anos. O lançamento acontecerá na Galeria Movimento, Copacabana, Rio de Janeiro, RJ. “A idéia é que o público perceba e acompanhe a evolução do trabalho do artista, desde quando ele deixava sua marca nos muros da cidade até hoje, onde ele é convidado para os principais eventos de grafite do mundo”, conta Ricardo Kimaid.

 

Sobre o artista

 

Baiano, que veio para o Rio ainda adolescente, Toz inventou uma família de personagens misturando referências quase universais do grafite – a animação e os mangás japoneses – com seu mundo particular. No trabalho que sai das ruas para ganhar vida em telas, desenhos e objetos, ficam mais claras as referências às estamparias de tecidos populares no Mercado Modelo e à profusão de cores da Baixa do Sapateiro de sua infância em Salvador. Um americano, segundo marido de sua avó, o levava para pescaria e lhe explicava tudo sobre lulas e polvos. Este avô gringo e marítimo, quase um pirata, encheu seus personagens de memórias aquáticas: eles exploram o mundo em navios e caravelas e se transformam em seres vindos da água salgada. Nina, a mocinha linda e flutuante, mas melancólica e eternamente insatisfeita, frequentemente ganha uma cauda de sereia, traduzindo o mistério que as mulheres representam para o sexo oposto. Homem que não quer crescer ou neném com insights de ancião? O BB Idoso pode ser uma coisa ou outra, mas traduz de forma quase arquetípica uma geração com complexo de Peter Pan, que demorou a sair da barra da saia da mãe. Shimu, o mostro-ameba criado para atender à rapidez do spray, virou marca registrada da alegria e da esperança dentro da Família Toz, que se completa com o amigo-urso Julius e o esquentado Romeu. O personagem Insônia surgiu quando Toz se separou e começou a frequentar mais a noite. O Vendedor de Alegria, foi inspirado nos vendedores que vão pelas ruas com bolas coloridas.

 

Lançamento: 26 de março.