Rio dos Pássaros Pintados e o Rio de Janeiro.

14/abr

 

Exposição coletiva no Instituto Cervantes, Botafogo, Rio de Janeiro, RJ, reúne artistas uruguaios e brasileiros, exaltando a cultura e as belezas naturais de cada um.

“Entre o Rio dos pássaros pintados e o Rio de Janeiro”, exibição coletiva que abre no dia 17 de abril, no Instituto Cervantes do Rio de Janeiro, vai além da exposição de obras de arte; é uma imersão num diálogo visual e emocional que liga o Uruguai e o Brasil. Artistas, cada um narrador em sua própria linguagem pictórica, convergem para explorar e celebrar os laços que constroem um rico elo entre essas duas nações. Esta exposição é um convite a uma viagem sensorial, onde cores vibrantes, formas evocativas e narrativas visuais se entrelaçam para criar uma ponte que ultrapassa fronteiras geográficas.

“Além das diferenças estilísticas, as obras partilham um fio condutor na exploração de temas comuns que ressoam profundamente em ambas as culturas. Estes temas, longe de serem isolados, realçam a rica interligação entre as tradições de ambos os países, estabelecendo pontes que transcendem fronteiras ao refletirem as particularidades de cada contexto. As obras não só celebram a diversidade, mas também promovem um diálogo enriquecedor entre os universos de cada cultura, convidando a uma reflexão partilhada sobre o humano, o cultural e o natural. Cria-se assim uma união simbólica que, longe de dissolver as diferenças, as integra numa narrativa comum, o que fortalece a riqueza deste intercâmbio”, diz Carolina Laxalt, coordenadora da exposição.

O título é uma ode poética à essência dos dois países que ressoa com a beleza natural e a liberdade: “Río de los Pájaros Pintados”, tradução de “Uruguai”, evoca a serenidade de suas paisagens e a melodia de sua fauna. Sua história é um símbolo da identidade uruguaia, uma testemunha silenciosa da vida e da cultura do país, fonte de inspiração para inúmeros artistas e poetas. O “Rio de Janeiro”, por outro lado, é um turbilhão de vitalidade, um caldeirão de culturas onde a arte floresce em cada esquina. Música, dança e pintura se entrelaçam numa sinfonia de criatividade, refletindo toda a sua alegria e diversidade. O rio, na sua forma mais abstrata, constitui uma ponte metafórica, unindo estas duas terras através da linguagem universal da arte.

Entre os artistas participantes estão os uruguaios Mercedes Davison, Graciela Montedónico, Miriam Pereyra, Susana Gelbert, Virginia Armand Ugón, Carlos Barrera e Mauricio Borgarelli, e os brasileiros Norielem Martins, David Pedrosa e Paulo de Lira. Empregando ampla gama de técnicas, desde a pintura a óleo e acrílica a técnicas mistas experimentais, demonstram a versatilidade e expressividade da pintura. Eles apresentam uma rica paleta estilística, incluindo paisagens que capturam a essência da natureza, obras surrealistas que desafiam a realidade, abstrações que convidam à introspecção e composições panistas que brincam com forma e cor. Suas obras exploram temas universais, como a beleza da paisagem, a força da figura feminina, a riqueza das tradições (candombe, tango, murga) e do quotidiano do campo e da cidade, o mar, bem como temas que mergulham na identidade e na memória.

Até 27 de abril.

Humanismo e naturalidade na fotografia.

O fotógrafo paraense Luiz Braga celebra 50 anos de carreira com a exposição “Arquipélago imaginário” no IMS Paulista. Com curadoria de Bitu Cassundé e assistência de Maria Luiza Meneses, a mostra reúne 258 fotografias sendo que 190 são inéditas para o público. No dia da abertura, Luiz Braga e a equipe de curadoria participaram de uma conversa com o público sobre a exposição. O evento é gratuito.

Luiz Braga (1956) nasceu, vive e trabalha em Belém do Pará. Começou a carreira em 1975, fotografando em preto e branco, e na década de 1980 descobriu as cores vibrantes da visualidade ribeirinha. Desde então retrata o cotidiano desse universo, sempre evitando os estereótipos. Com humanismo e naturalidade, suas fotografias mostram uma relação próxima com as pessoas e os ambientes retratados, utilizando técnicas em preto e branco, infravermelho e cores. Atualmente desenvolve um ensaio de longa duração na Ilha de Marajó, no Pará.

Celebrando uma trajetória no MAR.

O Museu de Arte do Rio (MAR), Centro, Rio de Janeiro, RJ, inaugura a exposição “Dança Barbot!”, que celebra através de fotografias ilustrativas e vídeos, a trajetória do bailarino e coreógrafo Rubens Barbot (1949-2022).

A abertura acontece na terça-feira, dia 15 de abril, às 17 horas na galeria localizada no térreo do Pavilhão de Exposições do MAR. Às 18 horas haverá um coquetel para convidados.

A exposição “Dança Barbot!” apresenta a trajetória e as contribuições do bailarino e coreógrafo Rubens Barbot (1949-2022) para a dança contemporânea no Brasil. A exposição realizada em parceria com o Terreiro Contemporâneo é uma homenagem ao legado do renomado artista.

A curadoria é assinada por Marcelo Campos e Amanda Bonan, com os curadores assistentes Amanda Rezende, Thayná Trindade e Jean Carlos Azuos, além dos curadores convidados Gatto Larsen e Ricardo Brandão. Gatto Larsen foi parceiro de vida de Runens Barbot.

Nascido em Rio Grande (RS), Barbot iniciou seus estudos em dança com João Luiz Rolla, em Porto Alegre, em 1967. Com formação complementar na Escola de Ballet Contemporâneo de Buenos Aires, fundou no Rio de Janeiro, em 1990, a Cia. Rubens Barbot Teatro de Dança, a primeira companhia negra de dança contemporânea do país, voltada à valorização da cultura afro-brasileira.

A exposição apresenta fotografias, vídeos, figurinos e elementos cênicos que retratam os caminhos artísticos de Rubens Barbot. Entre os destaques estão registros de espetáculos, filmes e depoimentos de artistas que atuaram ao seu lado, além de imagens assinadas por fotógrafos como Renan Cepeda, Léo Aversa e Wilton Montenegro, que acompanharam sua trajetória.

“Dança Barbot!” ficará em cartaz no Museu de Arte do Rio de 15 de abril até 31 de agosto.

A obra de Tunga representada em Londres.

11/abr

A Lisson, em Londres, UK, inaugurou a primeira exposição dedicada à obra de Tunga (1952-2016), desde que passou a representar o trabalho do artista, ao lado da Almeida & Dale, em setembro de 2024.

A exposição apresenta obras chave para compreender o desenvolvimento e transformação da poética e da mitologia que cercam o trabalho de Tunga. O percurso parte de suas primeiras esculturas, que mobilizavam a figura de marionetes e seus manipuladores, culminando em Morfológicas (2014), a última série realizada pelo artista e apresentada em 2016, na exposição Pálpebras, em São Paulo. São incluídas na mostra, também, obras que refletem o momento no qual Tunga passa a utilizar materiais como garrafas, cristais, âmbar e líquidos, complementando o uso do cobre, ferro e vidro em seus trabalhos.

A exposição expande a apreensão pelo público internacional do vasto vocabulário elaborado pelo artista ao longo de décadas, além de marcar um retorno de Tunga à capital inglesa, onde, em 1989, realizou sua seminal exposição Lezart, na Whitechapel Gallery.

Até 17 de maio.

A cor como ferramenta de exame.

Julia Kater & Deni Lantz Alvorada Reveille.

A Galeria Simões de Assis, Balneário Camboriú, SC, apresenta até 12 de abril, Julia Kater & Deni Lantz: Alvorada / Reveille.

Texto de Lucas Albuquerque.

Alvorada. A primeira claridade. O instante crepuscular. A clara nata que prepara a chegada do sol. Um convite à redescoberta do mundo dia após dia. Esse momento, que tanto encantou os impressionistas no desejo fugaz de captar o preâmbulo cromático da precoce manhã, é o fio poético que une os trabalhos de Deni Lantz e Julia Kater. Seja nas colagens e recortes fotográficos de Kater ou nas pinceladas enceradas de Lantz, o que instiga esta seleção é menos o conteúdo de suas produções que a proposição imersiva em uma fenomenologia da cor, partilhada entre olho e pele na experiência sensível de suas poéticas. Uma aproximação que acentua a curiosa intenção de ambos sobre a figura, cuja aparição em suas composições se dá pelas bordas. Afeitos ao desejo de ultrapassar o invólucro aparente das coisas para vislumbrar as relações sensíveis que permeiam o tema representado e quem o representa, os artistas encontram como ferramenta de exame a cor. Valem-se da sensualidade das gradações cromáticas para propor novas maneiras de contemplar que muito se assemelham à primeira vista do dia, quando abrimos os olhos e vemos de modo borrado as formas fugidias do entorno. Lembra-nos, afinal, que alvorada é também toque do despertar, de recobrar os sentidos.

As fagulhas luminosas inaugurais são aqui sugeridas por Lantz ainda em tons soturnos. A textura riscada, quase ríspida, de alguns trabalhos, se dá pelo uso experimental da própria tinta: em seu estado endurecido, ela é pressionada diretamente contra o suporte, criando sulcos e rastros do caminho percorrido pelo pincel. Outros, todavia, carregam consigo uma camada sedosa, resultado do uso da cera de abelha junto à paleta cromática. Nesses diferentes acabamentos, em que o olho consegue tocar a superfície, repousam as mais tenras sensações das qualidades de incidência da luz sobre objetos e paisagens. É de maneira dúbia, contudo, que a realidade é, para Lantz, o tudo e o nada. Tudo, visto que em cada uma das telas é um pequeno índice da relação de equidade e escuta que o artista presta à terra, aos seus seres vegetais, aos fungos que a revolvem, e, enfim, a todo o ecossistema natural que resvala em sua prática pictórica, sempre embebida de seu aprendizado com a natureza. Nada, pois há um tanto de imaginação nossa, como do artista, em traçar um paralelo de composições tão abstratas com um tema em específico. Neste jogo de relações bipolares, sua pintura se torna, fundamentalmente, um campo de ensaio em que cada peça é o resultado de uma tênue equação entre o desejo do mundo material e o modo como Lantz maneja o espaço dessa dança.

Julia Kater, por sua vez, tem um compromisso com a imagem completamente divergente da premissa da fotografia clássica de capturar o instante ideal. Seu interesse é o de liberar a fotografia de sua função primeva. Por meio de recortes, faz um desenho-colagem de resquícios fotográficos de paisagens, sobrepondo-as na intenção de construir um outro horizonte. Assim, a superfície planar fotográfica, tão voltada à ilusão, conquista a tridimensionalidade em blocos configurados para agrupar as minuciosas camadas. O gesto do corte, por sua vez, cria outros desenhos – que podem ser percebidos como silhuetas de montanhas ou de dunas de areias, ou como a transmutação de uma sensação rítmica de um corpo perante uma música ou som. Aqui, seus trabalhos estabelecem uma ideia de variação pela cor, traçada na recombinação de fotografias de diferentes momentos do dia. O gesto do corte estabelece o ritmo da leitura das camadas sobrepostas, enquanto experimentos analógicos partilham do mesmo desejo de captura de algo que foge à representação fotográfica, atendo-se às falhas e borrões que conduzem o espectador a tatear a incerteza. Talhadas em tiras de céus, mares e incidências de luz natural, as composições de Kater rearticulam o sentido deste mundo para ansiar a chegada de um outro, inédito, ainda que mediante a evocação de um imaginário de tantas outras cenas de paisagens quaisquer.

Alvorada sugere um jogo entre o amanhecer e o anoitecer. Na relação quase tátil que Lantz e Kater estabelecem com a cor, os ciclos do dia e suas oscilações entre claridade e escuridão tornam-se alegorias mediadas pelas pinceladas e composições reunidas aqui. Lamber o céu, tatear o horizonte: o convite à candura de quem abre os olhos e é irradiado pelas faixas de luz da manhã como se fosse a primeira vez.

Lucas Albuquerque.

Até 12 de abril.

Obras de coleção.

10/abr

 

O Presidente da Câmra Municipal de Odivelas, Portugal, Hugo Martins, convida e anuncia a abertura da exposição “Metamorfoses: O Universo de Renato Rodyner”, composta de pinturas e esculturas do artista brasileiro Renato Rodyner na Coleção do arquiteto Luis Nóbrega, no dia 15 de abril na Galeria D. Dinis no Centro de Exposições de Odivelas.

A mostra estará em cartaz até 01 de junho.

Um gesto de desejo e pertencimento.

No meu jardim tudo se mistura

A Ocre Galeria, bairro São Geraldo, 4° Distrito, Porto Alegre, RS, apresenta a exposição individual “no meu jardim tudo se mistura”, de Téti Waldraff (Sinimbu, RS, 1959), com curadoria de Paula Ramos. A mostra revela o profundo vínculo da artista com a Natureza, que se manifesta em sua prática de desenhar, pintar e criar a partir das formas orgânicas e dos ciclos de vida observados em seus jardins.

Para Téti Waldraff, o ato de desenhar e pintar é também um gesto de desejo e pertencimento. É no cotidiano entre Porto Alegre e Faria Lemos, cercada por árvores, arbustos e flores, que ela encontra matéria e inspiração. O jardim é espaço de cultivo e de criação, um território onde o natural e o artístico se fundem. Ali, o ato de observar o desabrochar das flores se transforma em linhas, cores e formas. Seu ateliê é móvel, adaptável: um banco, um bloco de notas, papéis soltos. Em cada gesto, emerge o desejo de registrar o instante e a matéria viva que o compõe.

A exposição expande essa experiência sensível, ao mesmo tempo em que desdobra pesquisas formais e conceituais realizadas em projetos anteriores, a exemplo da série “Nos rastros do Jardim de Giz”. Produzidos durante o período de isolamento social, imposto pela Pandemia, os desenhos da série surgiram a partir do painel produzido por pela artista junto ao Centro Cultural da UFRGS, em março de 2019.

No dia 12 de abril, às 11h, a Ocre Galeria promove uma conversa com Téti Waldraff e mediação da curadora Paula Ramos, crítica, historiadora de arte e professora do Instituto de Artes da UFRGS. O evento é uma oportunidade para o público conhecer mais sobre o processo criativo da artista e os caminhos que levaram à construção da exposição. A entrada é franca e o espaço tem acessibilidade.

Até  03 de maio.

Design versus Desigualdades.

09/abr

O Polo Cultural ItaliaNoRio, Centro, Rio de Janeiro, RJ, inaugura a primeira exposição do ano apontando soluções de designers brasileiros, ítalo-brasileiros e italianos para as desigualdades do mundo contemporâneo.

Como o design pode transpor as desigualdades e direcionar o olhar para novas possibilidades, tanto no presente quanto no futuro? Esta é a pergunta que permeia a exposição “Design versus Desigualdades: Projetar um mundo melhor”, que estará aberta ao público a partir do dia 16 de abril. Sob curadoria de Alexandre Rese e Carol Baltar, ambos do Instituto Europeu de Design  (IED Rio), foram selecionadas peças do Instituto Campana e dos designers Franz Cerami, Bernardo Senna, Débora Oigman, Flávia Souza, Giácomo Tomazzi, Giorgio Bonaguro, Gustavo Bittencourt, Jorge Lopes, Júlio Augusto da Silva, Karol Suguikawa, Marco Zanini, Marcos Bravo, Marcos Husky, Maria O’Connor, Paulo Goldstein, Pedro Galaso, Philipe Fonseca, Rafo Castro, Ricardo Graham, Sofia Gama, Pedro Leal, Thiago Antonelli e Thélvyo Veiga, Thiago José Barros e Zanini de Zanine. Mesmo apresentando diferentes propósitos, todas as criações refletem o seu tempo, celebram a diversidade, a inovação e a investigação, explorando soluções e apontamentos que instigam o público a conhecer, experimentar e repensar o papel multidisciplinar do design. Cada criação é um convite à reflexão e à ação, demonstrando que o design não se limita apenas à estética e funcionalidade, podendo também ser utilizado como uma potente ferramenta de transformação social.

Como um elo de ligação com a Itália, a exposição integra a programação referente ao Italian Design Day (IDD) de 2025 uma campanha de promoção a nível global do design e criatividade italiana, promovida pelo Ministério das Relações Exteriores e Cooperação Internacional da Itália cujo tema é inspirado no Salone Del Mobile de Milão (que acontece de 8 a 13 de abril este ano) e no mote da Triennale Di Milão, “Desigualdades: Como Consertar as fraturas da Humanidade”. As instalações do térreo do espaço são dedicadas ao Compasso d´Oro, mais importante condecoração do design italiano, com imagens dos vencedores dos prêmios desde o ano 2000.

Ao longo dos dois meses de exposição, o Polo Cultural ItaliaNoRio sediará um ciclo de seminários, workshop e encontros sobre as temáticas das desigualdades e o impacto do design nas suas mais variadas facetas, atuando na resolução e redução dos conflitos do mundo contemporâneo.

O Polo Cultural ItaliaNoRio é uma iniciativa do Consulado Geral da Itália no Rio, em parceria com o Instituto Italiano de Cultura (IIC) e do Instituto Europeu de Design (IED) de Rio: “Acreditamos que o design pode ser uma ferramenta poderosa para melhorar a qualidade de vida e enfrentar os desafios da desigualdade em suas diversas formas. É com grande entusiasmo que o Consulado Geral da Itália no Rio de Janeiro, o Instituto Italiano de Cultura (IIC) e o Instituto Europeu de Design (IED Rio) têm a honra de apresentar essa mostra”, destaca o Cônsul Geral da Itália, Massimiliano Iacchini. O projeto conta com produção da Artepadilla e patrocínio da Ternium, Tenaris, Grupo Autoglass, Instituto Cultural Vale e Generali Seguros, via Lei de Incentivo à Cultura, e aportes diretos da TIM Brasil e Saipem do Brasil.

Bergère de chapas de moeda, rostos de artesãs bordados e crânio de fóssil humano do Museu Histórico Nacional reproduzido: alguns exemplos do que será mostrado Partindo da ideia da missão dada ao design, cujo objetivo prático é a resolução de “problemas”, muitas vezes, do cotidiano, a mostra reuniu designers que abordam diferentes temáticas, em variadas superfícies e plataformas de representação. Os projetos apresentados nessa exposição buscam na adversidade e nas desigualdades alternativas para pensar a vida por outro ângulo. Como, por exemplo, o Instituto Campana, que selou parceria com a Associação de Bordadeiras de Entre Montes, em Alagoas, e Novos Sítios, no Sergipe. A partir dessa parceria, foram criadas luminárias com os rostos das próprias artesãs bordados, imprimindo protagonismo a essas mulheres com saberes ancestrais. Sofia Gama, uma jovem designer de ascendência indígena, resgatou com a avó fazeres manuais que reforçam sua identidade, refletindo em peças que fazem uma interação entre designs vestíveis e arte.

A Poltrona Moeda Bergère do Zanini de Zanine apresenta uma estrutura perfurada feita de chapa de moeda, que anteriormente moldava as moedas de 10 centavos ainda em circulação no país. Outro projeto que ilustra a proposta da mostra é o escaneamento em 3D feito pelo BioDesgin Lab da PUC-Rio, que permite desde o entendimento detalhado do corpo humano, servindo como apoio a profissionais da saúde para procedimentos complexos, até a impressão usando as cinzas do Museu Histórico para imprimir e recriar o crânio da Luzia, reproduzindo o registro mais antigo já encontrado da ocupação humana na América Latina. Há também peças do italiano Marco Zanine, um dos fundadores do movimento Memphis, que revolucionou o design e a arquitetura mundial nos anos 70/80. A exposição traz para o Polo Cultural ItaliaNoRio outros tantos projetos que se somam à pluralidade que o design pode alcançar, desde questões religiosas, raciais, de gênero, sustentáveis, mas acima de tudo reconhecíveis e de identificação com público.

“Em um mundo marcado por profundas desigualdades, o design emerge como uma ferramenta poderosa para transformar realidades e construir pontes entre diferentes contextos sociais. A exposição “Design versus Desigualdades: Projetar um mundo melhor” propõe um diálogo urgente e necessário, reunindo designers brasileiros, ítalo-brasileiros e italianos em torno de soluções criativas e inclusivas. Através de novas linguagens visuais, materiais inovadores e abordagens sustentáveis, a mostra convida o público a refletir sobre como o design pode contribuir para promover um futuro mais justo e equilibrado”, afirma um dos curadores, Alexandre Rese.

De 16 de abril a 14 de junho.

As diferentes cores da terra.

A Almeida & Dale, São Paulo, SP, anuncia a correpresentação da artista e pesquisadora Marlene Almeida (1942, Bananeiras, PB) em parceria com a galeria Marco Zero, de Recife.

Com uma prática interdisciplinar, Marlene Almeida combina conhecimentos literários, científicos e artísticos na investigação de um objeto comum à sua produção desde a década de 1970: a terra. Em expedições que realiza, a artista cataloga e armazena amostras de terras de diferentes cores e são guiadas por um projeto audaz: o Museu das Terras Brasileiras, que visa a identificação e estudo das cores encontradas em diferentes formações geológicas do território nacional. Em sua trajetória, Marlene Almeida também se nutriu de extensa atuação na militância ecológica e política. Nesse contexto, por exemplo, fundou e dirigiu o Centro de Artes Visuais Tambiá, onde durante uma década coordenou intercâmbios internacionais entre artistas, com destaque para os projetos desenvolvidos em parceria com a Alemanha.

Em maio deste ano, Marlene Almeida apresentará exposições individuais na Fondation Walter Leblanc, em Bruxelas, e na Carlos/Ishikawa, em Londres, que sucedem sua mostra na galeria Marco Zero, Recife, em 2024. Entre suas exposições recentes, estão: Paisagens temporais: perspectivas em evolução, Almeida & Dale (2024); 38º Panorama da Arte Brasileira, Mil graus, realizada pelo MAM São Paulo no MAC USP, São Paulo (2024); 2ª Bienal Internacional de Arte em Cerâmica de Jingdezhen, China (2023) e ROOTED – Brasilianische Künstlerinnen, Vilsmeier-Linhares, Munique, Alemanha (2024).

O pensamento pictórico de Thiago Hattnher.

07/abr

Próximo cartaz da Almeida & Dale, Pinheiros, São Paulo, SP, “Beira do tempo”, será a primeira individual de Thiago Hattnher no Brasil, mostrando o resultado de uma relação persistente e meticulosa com a pintura.

A mostra estará em exibição até 31 de maio.

O artista propõe uma construção vagarosa, atenta. Tem por hábito trabalhar muitas telas simultaneamente, sem saber de antemão como o trabalho vai ser. Utilizando tinta a óleo, cuja secagem é lenta, ele sobrepõe camadas, criando campos de cor e de forma que oscilam entre harmonias e desequilíbrios, articulando-se em um jogo provocativo entre zonas neutras, áreas que sugerem jogos abstratos ou paisagens imaginárias, linhas que simulam horizontes, citações que remetem à paisagem ou ao gênero da natureza morta, evocando assim a história da pintura. São trabalhos, como diz Hattnher, muito mais motivados por atmosferas do que por narrativas. Aspecto que o artista reforça ao optar por não dar título às obras, nem as isolar por meio de molduras. Ao deixar a lateral visível, ele dá visibilidade às camadas de cores (verde limão, laranja florescente…) que, juntas, criam uma aparência brumosa, difícil de definir.

“Trata-se de um pensamento que reluta em fixar-se em ideia e em alcançar sua forma final”, sintetiza Julia de Souza no texto crítico da mostra Beira do tempo. “A cogitação de Hattnher se aproxima mais do pensamento, da meditação e da preparação do que do cálculo”, acrescenta ela. Longe de ser um instrumento para contar histórias, demonstrar virtuosismos ou construir lógicas precisas, a técnica torna-se uma investigação persistente e diária, que cria como que uma temporalidade alargada. “Isso traz uma lentidão na leitura que eu gosto que o trabalho tenha”, afirma Hattnher. Essa desaceleração temporal vai de encontro ao imediatismo contemporâneo. Remete à memória, como uma lembrança borrada, diz ele. Vistas em conjunto, as telas desafiam o espectador, convidando-o a descobrir elos e particularidades no interior de cada uma delas e também nos diálogos entre as várias obras, num movimento incessante de aproximação e afastamento, autonomia e síntese.

A exposição estabelece um diálogo profundo com a tradição pictórica, mas ao mesmo tempo a subverte, transformando a técnica em campo de experimentação e reflexão. Os formatos são normalmente pequenos e modulares. Há apenas uma tela um pouco maior, com 1,4 metro de largura, de um azul profundo, atmosférico, na qual “o impasse entre figura e fundo se exacerba”, como enfatiza Julia de Souza. O tipo de tinta usada é o mesmo, mas os materiais, técnicas e superfícies são diversos. Madeira, linho ou juta mais rústica absorvem a luz e a tinta de forma diferente, jogando com a percepção.

“Cada superfície me permite convocar uma imagem diferente”, destaca. Essas variações de ritmo, intensidade, duração – esse desenvolvimento errante, como ele diz – dão à obra algo de “notação musical”, como observa Mateus Nunes, atual curador do MASP, em seu texto crítico para a exposição que Hattnher realizou em Londres, no ano passado. Não por acaso, a dissertação de mestrado do artista na ECA-USP intitula-se, sugestivamente, Pintura, Silêncio e outros ruídos e trata das aproximações entre a produção de John Cage e Cy Twombly e sua própria investigação. Há uma inquietação permanente na forma como Hattnher constrói sua obra. A pintura desde sempre foi sua linguagem, desde antes de deixar São José do Rio Preto para estudar artes visuais em São Paulo, em 2009. “Nunca tinha sido apresentado a outras práticas, era o que eu conhecia”, brinca.