O Panorama do Ateliê por Luiz Aquila.

30/mai

Quem já teve o privilégio de estar com o artista Luiz Aquila em seu ateliê sabe o quão prazeroso é vivenciar o seu processo criativo, sempre brindado com muitas histórias de vida. Em “Panorama do Ateliê”, grande individual que será inaugurada no dia 14 de junho, no Paço Imperial, Centro, Rio de Janeiro, RJ, o curador Lauro Cavalcanti propõe um prolongamento deste espaço, proporcionando um pouco dessa experiência.

Com projeto expográfico de Ana Luisa Dias Leite, a mostra ocupa três salas do edifício histórico, tendo um espaço destinado a desenhos menores que estarão dispostos em mesas com vidro, bem como um álbum de serigrafias.

A produção tem estado acelerada como nunca. Em julho deste ano, haverá outra individual do artista, intitulada “A Escolha do Artista”. Será na Galeria Patrícia Costa, que o representa há mais de 20 anos e estará em cartaz simultaneamente.

A Escrita da Pintura

por Lauro Cavalcanti)

Esta exposição de Luiz Aquila, “Panorama do Ateliê”, apresenta pinturas, desenhos e gravuras, em sua maioria inéditas, realizadas nos últimos dez anos deste século XXI. O ateliê é o seu local de ação e a pintura o campo a ser explorado. O desenho, na sua definição, assemelha-se ao dedilhar de um músico deixando sons aleatórios prontos a lhe mostrar caminhos de harmonia e composições que irão quase sempre desaguar em telas. Numa direção inversa, gravuras em grande formato exploram temas com origem pictórica, além de possuírem os atrativos especiais naquilo intrínseco à sua artesania.

Em “Quase Tudo”, sua retrospectiva no mesmo Paço Imperial em 2012, vi-me tentado a escolher o subtítulo “Never Ending Tour” emulando o nome encabeçando todas as apresentações de Bob Dylan. Nelas, além de músicas novas, há sempre o exercício de dar constantemente versões novas a clássicos muitas vezes apenas reconhecíveis por algumas palavras de suas letras.  O conceito de um som único e totalizante, em permanente movimento, é um dos modos pelos quais o bardo de Minnesota expressa a “Zeitgeist” da virada dos séculos XX e XXI.

Voltando ao Luiz Aquila, parece-me que um procedimento similar lhe norteou nos múltiplos ateliês ao longo de sua trajetória. Todas as suas telas são nomeadas principiando pelo termo “A pintura”. A partir daí alternam-se referências a pequenos fatos do cotidiano, citações a pessoas de seu círculo, uma notícia do dia, fatos aleatórios… Os nomes, propositalmente, raramente descrevem a obra em si reafirmando a sua irredutibilidade. Um dos títulos desses novos trabalhos chamara-me atenção: “A Pintura e o seu Picadeiro continuam”. Um jeito de afirmar a continuidade ao lado de uma certa imprevisibilidade de suas ações: um território que pode ser de lutas, divertimento, ironias, heróis, “clowns” e surpresas. É possível traçar tipologias e agrupamentos no seu trabalho recente. Nalgumas uma cor explode e domina o campo, sobrepondo-se, ou melhor, definindo embates das pinceladas, todavia, ainda visíveis. De certo modo é o minimalismo possível para uma abstração gestual na qual um tom tudo passa a dominar. Podemos pensar numa família composta pelas telas “A pintura e a pergunta da pintura”, com paleta privilegiando o sombrio, “Novo Desenho antigo” e “Pintura para Manitas del Plata” ambas dominadas por tons vibrantes de rosa, magenta e amarelo. “A Pintura e as velhas paredes” apresenta uma rara referência direta à arquitetura tema dominante de sua formação, não fosse ele filho de Alcides da Rocha Miranda, um dos mais sensíveis arquitetos da era de ouro do movimento carioca de construções.  Formas egressas diretamente do vocabulário modernista, tratadas com alegria desconstrutiva, apresentam o trio “A pintura e seu idílio”, “A Pintura e suas Bacantes” e “A Pintura para meninos e meninas”. A eletricidade disruptiva rompe a organização estrutural em “A Pintura sob a Lava” tal uma avalanche inevitável que a existência por vezes nos prega. “A Pintura, o azul e linhas submersas” traz a novidade de linhas horizontais delimitando áreas de cor e uma diagonal que procura, em vão, entrar na conversa.  Pode-se perceber um artista revisitando lógicas antes exploradas assim como criando pujantes desafios. Em resposta à “Pintura admirada por seu autor” impõe-se o rico fruir dos visitantes ao desvendar o panorama de seu ateliê que poderia ser expresso por “As pinturas e seus encantos nos espectadores”.

Rio, junho de 2025.

Em cartaz até 10 de agosto.

Design e cotidiano na Coleção Azevedo Moura.

A exposição Design e cotidiano na Coleção Azevedo Moura, realizada sob curadoria de Adélia Borges, em cartaz no Museu do Ipiranga, São Paulo, SP, apresenta um extenso conjunto de objetos colecionados especialmente no Rio Grande do Sul, que permitem refletir sobre as formas tradicionalmente excludentes de pensar o passado brasileiro. Reunidos pela sensibilidade do olhar do casal Maria Cristina e Carlos Azevedo Moura, esses objetos formam uma das maiores coleções brasileiras relativas à imigração de italianos e alemães chegados ao Sul do país a partir do século 19.

A coleta foi feita pelo casal ao longo de muitos anos e chega a milhares de itens. São móveis, utensílios domésticos, ferramentas, fotografias que nos ajudam a entender como uma coleção representa o dia a dia dessas pessoas enquanto construíam uma nova vida no Brasil.

Até 28 de setembro.

Mostra de Sebastião Salgado na FIRJAN.

Mostra começou uma semana após a morte de um dos maiores fotógrafos da história. A Casa Firjan, em Botafogo, na Zona Sul do Rio, abriu a exposição “Trabalhadores”, a primeira do fotógrafo Sebastião Salgado no Rio após sua morte, no dia 23 deste mês. A mostra com 149 fotos de um dos nomes mais importantes nomes da fotografia documental mundial na história já estava prevista e agora ganha ares de homenagem.

“Fomos surpreendidos e ficamos profundamente entristecidos com a notícia da morte de Sebastião Salgado. Originalmente, nosso objetivo era celebrar a genialidade de Salgado em vida, mas agora essa exposição ganha um significado ainda mais profundo: uma homenagem a esse grande homem, profissional e ativista que deixou um legado incomparável para a arte e para a consciência social”, diz a nota da Casa Firjan.

A exposição reúne fotografias em preto e branco, clicadas entre 1986 e 1992, que integram o livro “Trabalhadores”. As imagens retratam homens e mulheres em diversas atividades de trabalho ao redor do mundo, em cenas marcadas por força, dignidade e resistência.

Segundo os organizadores, a mostra estimula uma reflexão sobre o papel do trabalho em tempos de mudanças aceleradas. A curadoria e o design da exposição são assinados por Lélia Wanick Salgado, viúva do fotógrafo e parceira de longa data em seus projetos.

A experiência estética e política de Miguel Afa.

A Gentil Carioca, Higienópolis, apresenta até 23 de agosto “Um céu para caber”, primeira exposição individual de Miguel Afa em São Paulo. Com texto de apresentação da curadora e pesquisadora Lorraine Mendes, a mostra reúne um conjunto inédito de pinturas que exploram os limites e as expansões do afeto como experiência estética e política. O céu, aqui, surge como metáfora de amplitude e possibilidade: lugar de acolhimento, respiro e entrega.

Miguel Afa nasceu em 1987, no Rio de Janeiro, RJ. Iniciou sua trajetória artística em 2001, por meio do graffiti, nas ruas do Complexo do Alemão, onde nasceu e cresceu. Mais tarde, formou-se pela Escola de Belas Artes da UFRJ. Sua obra propõe uma reconfiguração poética da imagem do corpo periférico, contrapondo os estigmas da marginalização com cenas que evocam afeto, cuidado e resistência. Através de uma paleta cromática enigmática – que não ameniza, mas adensa a narrativa – Migeul Afa constrói cenas que, ao mesmo tempo, revelam o visível e o invisibilizado. Em sua pintura, cor é discurso: esmaecer não é apenas gesto técnico, mas ato de lembrança e posicionamento.

Em “Um céu para caber”, cada pintura é entregue como quem oferece uma dedicatória – à pintura, à vida, e às histórias que nela fazem figura. “Miguel Afa nos apresenta um conjunto de obras que versam sobre os limites daquilo que podemos chamar de amor. Se todos e cada um temos direito ao afeto, ao contato e às nuances de sentimentos que desabrocham ao se relacionar, o céu representa algo infinito, ilimitado, fecundo de possibilidades”, explica a curadora Lorraine Mendes.

A exposição continua no andar superior da galeria com uma seleção de obras inéditas que abordam temas ligados à intimidade e ao erotismo a partir de uma perspectiva sensível e crítica. Em função do conteúdo, essa parte da mostra terá classificação indicativa de 18 anos, respeitando as orientações para visitação de públicos diversos.

O Inventário Parcial de Luiz Dolino.

29/mai

No dia 14 de junho, o Museu de Arte Contemporânea de Niterói, RJ, inaugura a importante mostra do artista Luiz Dolino, “Inventário Parcial”, que contemplará telas de grandes dimensões produzidas recentemente, entre 2020 e 2025, exibidas em conjunto com algumas obras concluídas há 45 anos. Curado por Monica Xexéo, o evento tem sabor de dupla comemoração para o artista: além de estar completando 80 anos de vida, com esta exposição Luiz Dolino retorna à cidade onde foi criado, com a qual mantém forte vínculo. Na ocasião da abertura será lançado o livro de mesmo título, contendo ilustrações e textos de críticos arte, artistas e amigos pessoais, como Carlos Drummond de Andrade, Nélida Piñon, Frederico Moraes e Leonel Kaz.

Com mais de cinco décadas de carreira no Brasil e tendo percorrido países como Espanha, Portugal, Grécia, Áustria, Perú, Uruguai e Argentina, Luiz Dolino tem o trabalho reconhecido pela abstração geométrica. Marcadas pelo uso de cores e justaposições criativas, suas telas se destacam pela combinação que ele, como artista com formação também em ciências exatas, faz com singular precisão. Na casa-ateliê em Petrópolis, no meio da natureza exuberante, a produção segue em ritmo enérgico, como o espectador poderá testemunhar na mostra que ficará em cartaz até o dia 24 de agosto.

 O espectro luminoso da pintura de Luiz Dolino

por Monica F. Braunschweiger Xexéo.

A abordagem da exposição Inventário Parcial, título homônimo ao livro organizado Luiz Geraldo Dolino do Nascimento, no Museu de Arte Contemporânea de Niterói – MAC, por ocasião das celebrações do seu octogésimo aniversário, reflete o espectro de interesse do pintor que viveu e trabalhou por longo período no exterior, convivendo com renomados intelectuais contemporâneos, com os quais privou uma afetuosa amizade.  Com sólida e erudita formação, Dolino, residiu, no México e Bolívia, e, posteriormente, na Argentina, Uruguai, França e Portugal e essas experiências foram marcantes na sua formação e na descoberta da pintura como vocação. Idealizada para os espaços do MAC-Niterói, prestigiosa instituição cultural, projetada pelo arquiteto modernista Oscar Niemeyer (1907-2012), para abrigar, preservar e divulgar as transformações visuais na arte brasileira ao longo dos últimos anos, na então capital fluminense, a exposição Inventário Parcial, dialoga com o museu e sua singular coleção, aproximando relações geográficas e simbólicas.

Disciplinado, desenvolve na intimidade de seu ateliê, em Petrópolis, cidade serrana do Estado do Rio de Janeiro, seus trabalhos a partir de cuidadosa pesquisa de materiais e técnicas, na busca de assinatura própria. Diariamente, circula entre telas, cavaletes, pincéis, desenhos, mapotecas, traineis e livros, criando vigorosas e luminosas obras, com paleta cromática definida e elementos geométricos harmoniosos. Dolino recorda: “O caminho percorrido na busca de uma gramática pessoal levou-me ao encontro dos elementos de clara inspiração geométrica que são visíveis na decoração de objetos de uso cotidiano e ritualístico, assim como também no próprio corpo de nossos ancestrais indígenas, que cultivaram o gosto pelas formas simplificadas e estabeleceram uma linguagem capaz de expressar o seu universo simbólico por meio de um sofisticado código de formas geométricas”.

Ao percorrer a exposição descobrimos os contornos da prática do seu pensamento e processo de criação. São pinturas, gravuras e esculturas, construídas nas últimas cinco décadas, com movimentos definidos, emoção e rigor. De formatos e tamanhos diversos suas obras são refinadas. Quadrados e retângulos dialogam em poética sintonia, criando objetos que pulsam e atraem o nosso olhar, abrindo horizontes e janelas desdobráveis que nos estimulam a reflexão. Estudado por importantes historiadores da arte, críticos de arte e museólogos, Dolino fez da pintura o seu território, a sua poesia, a sua existência.

Até 24 de agosto.

O pop brasileiro.

A década de 1960, marcada por tensões políticas, transformações sociais e a chegada de novas linguagens artísticas ao Brasil, é o pano de fundo da nova exposição da Pinacoteca, “Pop Brasil: Vanguarda e Nova figuração, 1960-70″. Com 250 obras de mais de cem artistas do período na Pina Contemporânea, Luz, São Paulo, SP, é a maior mostra do museu no ano.

As obras, muitas exibidas em conjunto pela primeira vez, são principalmente do acervo da Pinacoteca e da Coleção Roger Wright – que estão em comodato com a instituição há anos. Fazem parte artistas como Hélio Oiticica, Pietrina Checcacci, Nelson Leirner e Cláudio Tozzi.

Quem entra na sala expositiva encontra o conjunto original de bandeiras serigrafadas do “Happening das Bandeiras” (evento artístico realizado em 1968 no Rio), revelam Pollyana Quintella e Yuri Quevedo, curadores.

Depois segue-se uma sala com obras que homenageiam ícones populares da época, como o cantor Roberto Carlos e astronautas, elevados ao status de celebridades com a corrida espacial. Em outro espaço, peças fazem críticas à ditadura militar (1964-1985). Ao lado, trabalhos sobre as mudanças de comportamento da sociedade ganham destaque. O trajeto expositivo termina em uma retrospectiva sobre a transformação da arte dos anos 1950.

Adoração/Na instalação criada em 1966, Nelson Leirner exibe uma espécie de palco que revela uma imagem do cantor Roberto Carlos, acessada por meio de uma catraca. Mesclando símbolos católicos com a imagem do artista em neon, reflete sobre a lógica da indústria cultural.

O Bandido da Luz Vermelha/O quadro de Cláudio Tozzi faz referência ao caso de João Acácio Pereira da Costa, criminoso que ganhou o apelido Bandido da Luz Vermelha e ficou conhecido por assaltos e homicídios em São Paulo. Nele, o artista remete à linguagem das histórias em quadrinhos com a pintura de uma mulher que se pergunta se o homem entrará em sua casa durante a madrugada.

Envolvimento/A série de Wanda Pimentel, feita em 1968, retrata um corpo feminino em um ambiente doméstico anárquico, retratado com linhas e enquadramento e precisos. A obra levanta questões sobre papéis de gênero.

Matéria e Forma/Também de Nelson Leirner, mostra a transformação da matéria-prima em produto de consumo por meio de uma instalação com um tronco de árvore, do qual sai uma cadeira pronta.

Parangolés/Um dos trabalhos mais radicais de Hélio Oiticica, são vestimentas feitas com tecidos e plásticos que têm a intenção de integrar o espectador à obra de arte, que pode experimentar suas réplicas. O artista é conhecido por questionar o uso de suportes tradicionais na produção artística.

O Povo Brasileiro/O conjunto de cinco bandeiras da artista Pietrina Checcacci faz parte do movimento “Happening das Bandeiras” e tem desenhos que tematizam questões ligadas à formação de uma família tradicional, aos problemas da classe média e à performance da política.

O Presente/Em 1967, a artista Cybèle Varela fez caricaturas que ironizam a figura dos generais da ditadura militar, como forma de resistência ao govern

Fonte: Isabela Bernardes/Guia Folhas.

Instrumento para pensar o tempo.

O MuBE, Jardim Europa, São Paulo, SP, inaugurou exposição inédita da artista e escultora Laura Vinci. Com curadoria de Agnaldo Farias, FLUXOS, aborda as relações das obras com as questões da natureza e da paisagem, conectando com o espaço arquitetônico em movimento e reflexões sobre o tempo e explora as interfaces da arte, arquitetura e ambiente, enquanto dialoga com a icônica arquitetura do MuBE, projetada pelo arquiteto Paulo Mendes da Rocha.

“Laura Vinci transforma o espaço em organismo sensível. Em FLUXOS, ela faz da matéria um instrumento para pensar o tempo, a impermanência e as forças invisíveis que nos atravessam. Sua obra não se impõe, mas se insinua, instaurando uma escuta do ambiente e uma desaceleração do olhar. O público percorrerá os ambientes do museu ao sabor de uma atmosfera habitada por acontecimentos que provocarão a desaceleração de seus passos; um encadeamento de experiências a um só tempo sensoriais e contemplativas, dele exigindo atenção e escuta.”, comenta Agnaldo Farias, curador da exposição

Composta por estruturas metálicas e sistemas mecânicos, como nas peças com vapor a frio, que é empregado como matéria efêmera ocupando o espaço de forma orgânica e imprevisível, a instalação evoca a presença do ar e de forças invisíveis, instaurando um ritmo silencioso e constante. O público é convidado a percorrer o ambiente e se deixar afetar por uma atmosfera que provoca desaceleração, atenção e escuta do espaço, propondo assim uma experiência sensorial e contemplativa. A mostra “FLUXOS” é uma continuidade da pesquisa poética de Laura Vinci sobre estados de transformação, presença e impermanência. Ao ocupar o espaço do MuBE, se integra à arquitetura brutalista do museu e revela, em sua leveza e escala, uma dinâmica marcada pela impermanência.

A produção de Laura Vinci, transita por escultura, instalação e intervenções, com ênfase em experiências sensoriais e materiais em transformação. Ao longo de sua carreira, participou de importantes mostras institucionais, como a Bienal de São Paulo, além de realizar exposições individuais em grandes instituições de arte. Sua obra integra acervos públicos e privados e é reconhecida por sua sutileza formal e profundidade conceitual.

Até 07 de setembro.

A brasilidade de Djanira.

28/mai

A Pinakotheke Cultural, no Rio de Janeiro, e o Instituto Pintora Djanira apresentam a partir de 02 de junho a exposição “Djanira – 110 anos”, com 50 trabalhos da grande pintora que retratou o Brasil e seu povo. A mostra tem  curadoria de Max Perlingeiro e Fernanda Lopes. No dia 10 de junho, às 19h, haverá o lançamento do catálogo e visita guiada à exposição com os curadores.

A artista que expressou em sua pintura o profundo amor pelo povo brasileiro e sua terra é celebrada nesta mostra, que percorre seus trinta e sete anos de trajetória com 50 obras – grande parte delas nunca mostradas ao público – em núcleos temáticos que marcaram sua produção: retratos, religiosidade, ritos, mitos e sonhos, paisagem, trabalho e cotidiano, registros do Brasil e os desenhos, inéditos,”Aventuras de Procopinho”, que fez em 1948 para ilustrar o livro da peça infantil escrita por Lúcia Benedetti, a ser encenada pelo ator Procópio Ferreira. Além das pinturas de Djanira, o público verá documentos, fotografias, recortes de jornais sobre a artista, e ouvirá áudios, distribuídos pelas salas de exposição, com trechos do depoimento que Djanira deu para o Museu da Imagem e do Som, em 1967. Acompanha a exposição um livro bilíngue (port/ingl), com 128 páginas, com textos de Max Perlingeiro, Fernanda Lopes e Eduardo Taulois, diretor-geral do Instituto Pintora Djanira, além de uma cronologia da artista e imagens das obras presentes na exposição.

O curador Max Perlingeiro afirma sobre Djanira: “Sua vida era pintar”. “No decorrer de sua vida, participou ativamente do meio cultural e social no Rio de Janeiro. Seu reconhecimento e sua contribuição para a arte moderna brasileira se traduzem nas inúmeras exposições internacionais recentes”. Max Perlingeiro destaca ainda que “a Pinakotheke, ao longo dos seus 45 anos, tem apoiado as iniciativas de preservação da memória e do legado de artistas. Nossa primeira ação foi com o Projeto Portinari, em 1979. Atualmente, realiza uma parceria com o Instituto Pintora Djanira”, que tem como missão “preservar, pesquisar e disseminar a obra e a memória desta importante artista brasileira, assim como o contexto histórico-cultural do modernismo brasileiro, no qual a sua produção se insere”.

Fernanda Lopes assinala que a exposição é “uma celebração histórica da vida e da produção da artista, além do seu olhar afetuoso e interessado para o Brasil e da sua fundamental contribuição para a nossa história da arte”. “Ver sua obra agora é também constatar a atualidade das suas imagens e da sua maneira de enxergar o mundo à sua volta, além de uma importante contribuição para o pensamento sobre o Brasil e a arte brasileira de hoje. “Falo o brasileiro simples, uma linguagem que muita gente só entende quando é falada com sotaque de academia”, resumiu certa vez a artista”.

Até 19 de julho.

Ancestral Afro-Américas no CCBB RJ.

27/mai

Mostra apresenta até 01 de setembro, obras de renomados artistas afrodescendentes do Brasil e dos EUA, como Emanoel Araújo, Abdias Nascimento, Simone Leigh, Leonardo Drew, Rosana Paulino e outros.

Reunindo cerca de 160 obras de renomados artistas negros do Brasil e dos Estados Unidos, a exposição “Ancestral: Afro-Américas” chega ao Centro Cultural Banco do Brasil Rio de Janeiro a partir do dia 04 de junho. Com direção artística de Marcello Dantas e curadoria de Ana Beatriz Almeida, a mostra celebra as heranças e os vínculos compartilhados entre os povos afrodescendentes brasileiros e norte-americanos no campo das artes visuais, promovendo uma reflexão crítica sobre a diáspora africana. A mostra conta também com um conjunto de adornos comumente chamado de “joias de crioula”, indumentária usada por mulheres negras que alcançavam a liberdade no período colonial brasileiro, especialmente na Bahia, como forma de expressar sua ancestralidade, e uma seleção de arte africana da Coleção Ivani e Jorge Yunes, com curadoria de Renato Araújo da Silva. Os segmentos buscam localizar, por um lado, as brechas em que a ancestralidade africana se fez presente durante o Brasil colonial, e, por outro, seus elementos na arte produzida em seu território de origem.

A exposição ocupará todas as oito salas do primeiro andar do CCBB RJ com obras de artistas como Emanuel Araújo, Abdias Nascimento, Simone Leigh, Sonia Gomes, Leonardo Drew, Mestre Didi, Melvin Edwards, Lorna Simpson, Kara Walker, Arthur Bispo do Rosário, Carrie Mae Weems, Monica Venturi, Julie Mehretu, entre outros.

Faz parte da exibição a obra de Abdias Nascimento, ícone do ativismo cultural no Brasil, amplamente reconhecido por suas contribuições à valorização da cultura afro-brasileira e por ter recebido o Prêmio Zumbi dos Palmares. Entre os artistas norte-americanos, Kara Walker se destaca com sua arte provocativa, que examina questões históricas e sociais, que lhe rendeu o prestigiado Prêmio MacArthur. Julie Mehretu é outra presença significativa, reconhecida por suas complexas pinturas que estabelecem um diálogo com a geopolítica atual. Complementando esse panorama, a destacada artista brasileira Rosana Paulino traz um olhar crítico sobre raça e identidade, ressaltando a diversidade e a profundidade das vozes representadas na mostra. Ainda se somam a eles nomes como o da jovem artista Mayara Ferrão, que utiliza a inteligência artificial para repensar cenas de afeto entre pessoas negras e indígenas não contadas pela “história tradicional”; e Arthur Bispo do Rosário, com seus mantos bordados e objetos que transcenderam o tempo e subverteram o conceito de beleza e loucura. Reforçando o diálogo poderoso sobre identidade, cultura e história, e refletindo a complexidade da experiência humana, há obras de Kerry James Marshall, Carrie Mae Weems e Betye Saar.

Núcleo de Arte Africana.

A exposição celebra as conexões entre a herança africana e a arte contemporânea no Brasil e nas Américas, destacando a ancestralidade como uma grande fonte de criatividade artística. Desta forma, para ampliar o conceito, a mostra terá um núcleo de Arte Africana Tradicional, com curadoria de Renato Araújo da Silva, trazendo obras de povos de países como Nigéria, Benim, Guiné, Guiné-Bissau, Angola e República Democrática do Congo. A seção homenageia o continente de origem da humanidade, evidenciando a força das tradições e inovações culturais transmitidas ao longo do tempo.

Sobre os curadores.

Ana Beatriz Almeida é artista visual, curadora e historiadora da arte, com foco em manifestações africanas e na diáspora africana. Nascida em Niterói (Brasil), em 1987, é mestre em História da Arte e Estética pelo Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (USP) e atualmente é doutoranda em Estudos de Museus na University of Leicester, no Reino Unido. Almeida é também cofundadora e curadora da plataforma de arte 01.01, consultora curatorial do MAC-Niterói e foi curadora convidada do Glasgow International 2020/2021. Participou de residências curatoriais em Gana, Togo, Benim e Nigéria, durante as quais pôde se reconectar com parte de sua família que retornou ao Benim durante o período da escravidão. Como artista, desenvolveu ritos em homenagem àqueles que não conseguiram sobreviver à travessia atlântica durante o tráfico de escravizados. Sua técnica N’Gomku foi desenvolvida ao longo de cinco anos de pesquisa para a UNESCO sobre as tradições das comunidades afro-brasileiras do Baba Egum e da Irmandade da Boa Morte. Apresentou performances no Centro Cultural São Paulo, Itaú Cultural, SESC Ipiranga e Casa de Cultura da Brasilândia, em São Paulo; e na Bienal do Recôncavo, na Bahia. Ministrou um curso de verão sobre sua técnica de performance na Goldsmiths University, em Londres, Inglaterra, e participou da residência artística Can Serrat, em Barcelona, Espanha. O trabalho de Almeida integra a coleção permanente do Instituto Inhotim, em Brumadinho.

Renato Araújo da Silva graduou-se em filosofia em 2002 pela Universidade de São Paulo (USP). Pesquisador e curador, atua como consultor em arte africana das Coleções Ivani e Jorge Yunes desde 2018, Cerqueira Leite e Tomás Alvim, desde 2021. Assina exposições como curador de arte africana e asiática. Foi curador da exposição trilogia África, Mãe de Todos Nos (MON-Curitiba 2019) e da exposição “A Outra África trabalho e religiosidade” (Museu de Arte Sacra de São Paulo 2020), Crenças da Ásia – Museu de Arte Sacra e Diversidade Religiosa de Olímpia (2024). Além de ser autor de dezenas de catálogos de exposições, foi coautor do livro África em Artes (Museu Afro Brasil, 2015), é autor dos livros Arte Africana Máscaras e Esculturas 2 vols. (Beï 2024-225), Legados Arte Africana da Col. Cerqueira Leite (Unicamp-PUC-Campinas 2023), 5 mil anos de Arte Chinesa. (Instituto Confúcio 2024) e coautor de Sol Nascente a Col. de arte Japonesa Cerqueira Leite (PUC-Campinas 2024) e dos e-books Arte Afro-Brasileira altos e baixos de um conceito (Ferreavox 2016), “Temas de Arte Africana” (Ferreavox 2018), entre outros.

Sobre o diretor artístico.

Marcello Dantas é um premiado curador interdisciplinar com ampla atividade no Brasil e no exterior. Trabalha na fronteira entre a arte e a tecnologia, produzindo exposições, museus e múltiplos projetos que buscam proporcionar experiências de imersão por meio dos sentidos e da percepção. Nos últimos anos esteve por trás da concepção de diversos museus, como o Museu da Língua Portuguesa e a Japan House, em São Paulo; Museu da Natureza, na Serra da Capivara, Piauí; Museu da Cidade de Manaus; Museu da Gente Sergipana, em Aracaju; Museu do Caribe e o Museu do Carnaval, em Barranquilla, Colômbia. Realizou exposições individuais de alguns dos mais importantes e influentes nomes da arte contemporânea como Ai Weiwei, Anish Kapoor, Bill Viola, Christian Boltanski, Jenny Holzer, Laurie Anderson, Michelangelo Pistoletto, Studio Drift, Rebecca Horn e Tunga. Foi também diretor artístico do Pavilhão do Brasil na Expo Shanghai 2010, do Pavilhão do Brasil na Rio+20, da Estação Pelé, em Berlim, na Copa do Mundo de 2006. Foi curador da Bienal do Mercosul, realizada em 2022, em Porto Alegre, e é atualmente curador do SFER IK Museo em Tulum, no México. Formado pela New York University, Marcello Dantas é membro do conselho de várias instituições internacionais e mentor de artes visuais do Art Institute of Chicago.

Entre a memória e a fantasia.

O artista Leo Stuckert estreia – dia 04 de junho – em exibição individual com a exposição “Luz e Sombra no meu Jardim” na Galeria Maria de Lourdes Mendes de Almeida, Ipanema, Rio de Janeiro, RJ. A cultura efervescente das décadas de 1970 e 1980, especialmente a trilha sonora icônica da época, é o ponto de partida da exposição. Com curadoria de Denise Araripe, texto crítico do historiador de arte André Sheik e produção da Monnerat Editorial, a mostra reúne 19 pinturas inéditas do artista, resultado de uma trajetória de mais de uma década de imersão sensorial e nostálgica.

A individual provoca uma ambiência híbrida entre memória e fantasia após quase quinze anos de dedicada pesquisa artística. O artista apresenta obras realizadas com tinta acrílica e transferência de imagens sobre tela e papel que evocam paisagens oníricas e psicodélicas, inspiradas em referências visuais da cultura pop, brinquedos, parques de diversão, histórias em quadrinhos, arquitetura urbana e música, fruto de suas memórias de infância. Cada tela é pintada ouvindo uma música diferente, usualmente rock brasileiro, inglês ou estadunidense, como também a MPB das décadas de 1970 e 80, e que definiram uma geração. Este universo particular é o que torna a mostra individual de Leo Stuckert um evento singular no calendário artístico.

“O trabalho de Leo implica reflexão, não apenas na escolha e captura do motivo, mas também nas escolhas de imagens que serão manualmente transferidas para a tela. Na entrega do seu fazer, sua prática estabelece uma conversa entre o olho, seu senso crítico e sua ação. Camadas de significados e gestos constroem um cenário ordinário, mas mesmo assim capaz de um lirismo profundo. Em tempos de vidas “sem tempo”, sua pintura é uma janela para momentos de quietude na correria urbana. Leo é um narrador de “não acontecimentos” que nos traz lembranças do que jamais vivemos.”

Denise Araripe.

A exposição vai além da exibição das telas. A programação inclui o lançamento do catálogo no dia 21 de junho, a partir das 14h, seguido de uma conversa com o artista, a curadora e o crítico. O encerramento, no dia 28 de junho, contará com uma celebração multissensorial com a apresentação musical dos artistas Luiz Badia, Osvaldo Carvalho e André Sheik, além da projeção de outras obras de Leo Stuckert.

Sobre o artista.

Leo Stuckert é artista visual graduado em Design pela ESDI/UERJ (1991). Desde 2017, participa de exposições coletivas e faz cursos na Escola de Artes Visuais do Parque Lage (EAV), no Rio de Janeiro/RJ, onde estudou com Luiz Ernesto, Bruno Miguel, Chico Cunha, Orlando Molica, Pedro Varela, Fabia Schnoor, Bernardo Magina e André Sheik. Em 2017, participou da residência artística Menorca Pulsar, na Espanha. Em 2018, integrou a 2ª edição da Bienal das Artes do SESC-DF, com curadoria de Jacob Klintowitz. Em 2019, expôs com o coletivo Entreoito na exposição homônima no Parque das Ruínas, em Santa Teresa, Rio de Janeiro/RJ. Participou, em 2021, do 1º Salão de Artes Visuais Galeria Ibeu Online. Em 2022, expôs no 27º Salão de Artes Plásticas de Praia Grande, Palácio das Artes, SP. Com o artista Pedro Mandarino, fez a exposição “Pessoas e Espaços”, no Espaço Cultural Correios Niterói/RJ, em 2023. No ano seguinte, a exposição seguiu para a Casa Amarela, dentro do Circuito Oriente em Santa Teresa, Rio de Janeiro/RJ, ambas com curadoria de Osvaldo Carvalho.