Larry Bell na White Cube/SP

14/fev

Importante nome da arte contemporânea norte-americana, o artista Larry Bell terá pela primeira vez uma mostra dedicada exclusivamente ao seu trabalho no Brasil na White Cube, Vila Mariana, São Paulo, SP. A mostra, denominada “The Carnival Series”, apresenta séries de  pinturas e esculturas inéditas, além de outros trabalhos produzidos nas décadas de 80 e 90.

 

Bell iniciou sua carreira no começo dos anos 60, quando a cena de artes plásticas americana fazia a transição do Expressionismo Abstrato e o Pop Art para o Minimalismo, e fez parte do movimento “Light and Space” (Luz e Movimento), formado por um grupo seleto de artistas renomados, como Robert Irwing – com quem chegou a ter aulas de pintura em aquarela -, James Turrell, Peter Alexander, Craig Kauffman, John McCracken, Doug Wheeler e Maria Nordman, entre outros. O artista deu os primeiros passos na pintura, mas logo passou a criar colagens usando vidro e espelho, materiais que obtinha em seu trabalho diurno numa loja de molduras. Essas assemblages foram o embrião das chamadas “caixas de sombra”, pequenas instalações que, por sua vez, evoluíram para as “Esculturas em Cubo”, talvez a sua série mais icônica. Durante o processo de produção das faces parcialmente refletivas destes cubos, Bell descobriu uma técnica de revestimento industrial metálica, com a qual conseguia cobrir uniformemente uma superfície de vidro, um tipo de acabamento que subvertia visualmente o volume espacial e a translucidez da escultura. O artista aprimorou ainda mais o método que inventara ao adquirir o seu próprio tanque a vácuo, uma máquina de grandes proporções que possibilitou novas explorações e diferentes maneiras de manipular esse procedimento.

 

Dez obras da famosa série de Bell conhecida como “Mirage Paintings” (Pinturas de Miragem), que consiste em trabalhos compostos por camadas de papéis de origens diversas, películas e tinta acrílica aplicada, integram a mostra em São Paulo. Concebidas a partir do final dos anos 80, as colagens continuam a brincar com temas de ambiguidade espacial e ilusão ótica. As obras ganham suas formas não apenas através da interferência do alumínio na superfície dos materiais, mas também na compressão, absorção e aderência das películas à tela, por meio de um processo de laminação aquecida. A exposição inclui “Spider Web”, a primeira “Mirage Painting” criada por Bell, “Second Chance” e “Leon”, todas de 1988, além de trabalhos mais recentes da série, como “Chequered Demon #193” (1990) e “The Vertical Landscape #192” (1990), nas quais aprofundou a sua experimentação com materiais, a pintura gestual e passou a usar uma palheta de cores mais clara, fatores que elevaram o nível de complexidade das obras.

 

A série de colagens “The Mardi Gras” ou “The Carnival Series”, modo como Bell se refere a elas, são suas mais coloridas e festivas montagens até o momento. Nestes trabalhos, o artista revisita a forma feminina clássica, apresentando a figura sentada de maneira audaciosamente Pop, que ele descreve como carnaval, daí o nome da mostra. Em suas colagens mais recentes, ele apoia-se na linguagem do Cubismo com montagens de bordas sinuosas cortadas que se assemelham à figura feminina ou, talvez, o formato curvado de um violão. Bell repetiu estas formas em três esculturas, suspensas por fios de nylon, feitas com Mylar, uma película de poliéster, revestidas em ambos os lados para criar uma superfície espelhada. Em seguida, ele faz uma espécie de nó com o próprio filme, criando um objeto cinético multidimensional que constantemente reflete e refrata a sempre variável luz natural do espaço que o cerca.

 

 

Sobre o artista

 

Larry Bell nasceu em Chicago, em 1939, e hoje vive e trabalha entre Los Angeles e a cidade de Taos, no Novo México. Suas obras já percorreram diversos museus dos EUA, em mostras individuais, que incluem o Pasadena Art Museum, Califórnia (1972); Oakland Museum of Art, Califórnia, 1973; Fort Worth Art Museum, Dallas, 1975 e 1977; Washington University, Missouri, 1976; Detroit Institute of Arts, Michigan, 1982; Museum of Contemporary Art, Los Angeles, 1986; Denver Art Museum, Colorado, 1995 e o Albuquerque Museum, Novo México, 1997. Mais recentemente, o artista realizou exposições solo no Kunstmuseum Bergen, Noruega, 1998, e no Reykjavik Municipal Art Museum, Islândia, 1998, além de uma retrospectiva no Carré d’Art Musée d’art Contemporain de Nimes, France, (2011. Em 2012, Bell participou da grande mostra coletiva ‘Pacific Standard Time: Art in LA 1945-1980’, sediada no Getty Center, em Los Angeles, que celebrou a arte contemporânea da Costa Oeste americana daquele período. Em outubro de 2014, o Chinati Foundation, em Marfa, Texas, inaugura uma exposição dedicada exclusivamente às grandes instalações de vidro de Larry Bell.

 

 

De 18 de fevereiro a  22 de março.

Krajcberg em Paris

12/fev

Uma escultura de Frans Krajcberg, denominada “Fragmento Ecológico nº5”, datada 1973/1974, faz parte da Coleção Permanente do Centre National d´Art et de Culture George Pompidou, em Paris, desde o final da década de 70. O acervo tem um sistema de rodízio e, atualmente, a escultura encontra-se em exposição. A imagem do espaço expositivo do Centro Pompidou, que ilustra esta nota, é de autoria do próprio Krajcberg. O artista é representado no Brasil pela Galeria Márcia Barrozo do Amaral, Copacabana, Shopping Cassino Atlântico, Rio de Janeiro, RJ.

 

A Cara do Rio 2014

11/fev

Depois de sucessivas edições que ocuparam o Centro Cultural Correios com grande sucesso de público,  a coletiva “A Cara do Rio 2014/Qual é a cara do Rio?” mudou de endereço e inaugurou a Villa Olívia Artes – a primeira Galeria da Zona Portuária, no charmoso Morro da Conceição.

 

O desafio proposto pelo curador Marcelo Frazão aos quarenta expositores foi responder, em linguagem artística,  a  pergunta:  QUAL É A CARA DO RIO? Agora o público vai poder conferir o resultado de todo este processo criativo, englobando  pinturas esculturas, desenhos, fotografias, vidro, cerâmica e gravuras.  Os 40 trabalhos são assinados por Fernando Duval, Solange Palatnik,  Paulo Villela,  Sonia Madruga, Carlomagno, Clare Caulfield, Mauricio Barbato, Paula Erber,  Newton Lesme, Regina Guimmarães, Ana catarina Hallot entre vários outros.

 

O conjunto dos trabalhos expostos na mostra “A Cara do Rio”,  marcada pela diversidade e por ser multifacetada, oferece ao espectador uma pequena mas significativa  representação de ângulos de nossa cidade,  a partir da memória afetiva ou visual  de cada artista.  Já o catálogo da exposição,  reunindo  o perfil dos artistas integrantes da exposição,  vai além de fornecer dados sobre os autores,  funcionando  também como um anuário dos artistas que estão em atividade na cidade e nem sempre tem espaço para levar seus trabalhos ao público,  como explica Frazão.

 

Para esta exibição a artista plástica Marina Vergara, numa ode à mulher,  preparou uma monumental escultura com 4 metros de altura  para a fachada do antigo sobrado da Ladeira João Homem, número 13, onde se localiza a Villa Olivia.

 

Tendo iniciado em 2003,  a mostra “A Cara do Rio” chega a sua décima edição  apostando  na renovação e na continuidade do talento dos artistas.

 

 

Até 03 de abril.

Registro: Lúmen na Casa Daros

A Casa Daros, Botafogo, Rio de Janeiro, RJ, apresentou a performance “Lúmen”, do artista João Penoni, dentro da exposição “Le Parc Lumière – Obras cinéticas de Julio Le Parc”. O artista convidou o público a percorrer o circuito da exposição, e na última grande sala escura, onde está suspensa no teto a obra cinética e luminosa “Continuel-lumière au plafond”, realizou a performance “Lúmen”, na qual movimentava-se com o corpo inteiramente coberto por lâmpadas de LED. Há nove anos João Penoni investiga o corpo, e sua relação com o espaço e a luz, e para isso utiliza sua experiência em acrobacia aérea, atividade que pratica desde antes de seus estudos na Escola de Artes Visuais do Parque Lage e de design na PUC Rio, onde se graduou. Em 2012 fez residências e exposições em Londres, e participou do festival Rio Occupation, também na capital inglesa.  No Brasil, tem feito exposições individuais e participado de coletivas.

 

Em “Lúmen” o corpo incorpora a luz e passa a ser “um corpo iluminante”, em um desenvolvimento da pesquisa do artista que antes usava, ao contrário, a claridade externa. Dessa maneira, a “presença viva do artista fica registrada no espaço escurecido da performance”, desenhando e esculpindo em movimento, na penumbra, com a luz de seu próprio corpo, em um diálogo com a obra de Julio Le Parc, que usa a luz, também em movimento. O corpo do artista passa a “iluminar o olhar do espectador”.

A linguagem múltipla de João Machado

A Caixa Cultural, Centro, Rio de Janeiro, RJ, inaugurou a exposição “Atlas”, individual com 20 obras do artista plástico João Machado. Sob a curadoria de Antônio Cava, a mostra apresenta trabalhos produzidos entre 2008 e 2013, como esculturas, desenhos, gravuras, fotografias e uma videoinstalação. “Atlas” é a primeira grande individual brasileira do artista que tem carreira consolidada em Paris, onde viveu até o ano passado.

 

A curadoria optou por uma montagem panorâmica que permite ao expectador participar da “viagem” do artista. “O que me atrai no trabalho do João, além da contemporaneidade dos temas abordados e da experimentação em diferentes suportes, é a sua natureza espiritual na conjugação de tempo e espaço. Sua obra é ao mesmo tempo autobiográfica e universal. Possui uma brasilidade intrínseca, principalmente no que diz respeito a natureza”, afirma o curador Antonio Cava.

 

 

Sobre João Machado:

 

Filho do também artista Juarez Machado, João mudou com o pai para Paris aos oito anos. Formou-se em arte pela École de Beaux Arts, de Paris, e em cinema pelo Art Center College, de Los Angeles. Com uma sólida carreira como artista plástico na Europa e Estados Unidos, também realizou alguns filmes como, Sons of Saturn (2006) e The Champagne Club (2001).

 

 

Até 09 de março.

Graphos:Brasil apresenta Lippe Muniz

A galeria Graphos:Brasil, Copacabana, Rio de janeiro, RJ, inaugurou a exposição “História da Melancolia”, individual do artista plástico Lippe Muniz. A mostra reúne cerca de 50 obras produzidas desde 2010, apresentando diferentes séries cuja temática aborda a condição humana.  A partir de imagens coletadas em feiras de antiguidades, em velhos álbuns de fotografia ou em revistas antigas, o artista trata com uma ótica ultra contemporânea de temas recorrentes no imaginário humano: “Falo da morte usando imagens do passado. Logo, a memória e a história tornam-se elementos chaves em minha problemática. Toda a minha poética é baseada na ideia de uma arte trágica. Colagem, desenho, pintura, instalação e performance se entrecruzam, se contaminam e criam uma obra única. Talvez uma Gesamtkunstwek (obra de arte total),” diz o artista. Na obra de Lippe Muniz cenas de conflitos e do cotidiano sob a ótica da opressão social e da construção de utopias, criam uma atmosfera onde passado e presente, memória e atualidade convergem de forma incisiva.  A exposição apresenta telas impregnadas de tinta negra, instalações, assemblages e apurados desenhos em grafite. As obras são marcadas por textos escritos à mão e por detalhes pictóricos que flertam com o surrealismo, na medida em que a incorporação de objetos do dia a dia e sua consequente resignificação por meio da colagem reforçam a poética metafórica dos trabalhos. Para a crítica literária Lívia Letícia “os muitos negros que saem da palheta de Lippe se entrelaçam à poesia da palavra-tinta em diferentes línguas, para invadir e dilacerar as tramas históricas e as cavernas da memória, deslocando sentidos, pelo riso melancólico e nervoso que macula e tatua com cicatrizes a História e a história. Marcas na memória: arte suja, bela e feia”.

 

 

São apresentadas três séries e um conjunto de objetos e uma instalação:

 

“Weltwehmut” – desenhos que tem por base imagens fotográficas combinadas com novos elementos, objetos, estranhas formas negras e fragmentos textuais, denotam impressões do absurdo, solidão, tristeza, opressão e morte.

 

“História da Melancolia” – série de pinturas negras que explora as possibilidades de criação pictórica sem a presença marcante da cor. São vestígios de rabiscos, respingos e as camadas de tinta preta (e branca) cortado por linhas vermelhas finas semiprecisas que formam estruturas geométricas e desenham um espaço quase que gráfico. As estruturas geométricas nos remetem ao desejo construtivo de ordem e de utopia e em meio a massa pictórica escura da obra, evocam lucidez.  A colagem de imagens do passado, imagens fotográficas de anônimos e figuras históricas, achadas nas gavetas da memória trazem consigo nostalgia e melancolia. A visão de um passado trágico, da história traumática de um homem que gravita entre o incerto e a finitude.

 

“Homens Carregam Homens Desde Que Eu Me Conheço” – Pinturas negras sobre papel feitas sob o impacto visual, sensível e intelectual das manifestações políticas que povoaram as ruas do mundo nos últimos anos.

 

“Objetos e instalação” – objetos (assemblages) e instalações criados a partir da combinação de imagens e objetos coletados ao acaso, mas que carregam uma memória, uma história, e que quando combinados (muitas vezes de forma precária) exprimem uma condição frágil, de equilíbrio precário, numa metáfora da própria condição humana.

 

Repletas de referências históricas, literárias e filosóficas, as obras desdobram-se em muitas camadas, proporcionando um convite à reflexão – nem sempre fácil, mas necessária – de temas humanos, demasiado humanos.

 

 

Sobre o artista

 

Lippe Muniz nasceu em Duque de Caxias, RJ, em 1986. Estudou Gravura na Escola de Belas Artes da UFRJ, frequentou os cursos Arte Hoje, Performance: O Corpo Como Linguagem e o Aprofundamento na EAV Parque Lage, e o curso Pósmodernidade:  A arte na Contemporaneidade na Escola de Belas Artes da UFRJ. Participa do Programa de residência Master der Fremde=Master der Heimat – Wortwedding Lade für Kunst und Poesie, residindo por um ano em Berlim na Alemanha. Participou de diversas exposições coletivas no Brasil e na Alemanha. Na Alemanha apresentou as individuais: A Minha Euforia Eu Carreguei Para um Canto Longe, Wortwedding Lade für Kunst und Poesie, Berlim, Alemanha, 2012; e Bühne für Kohle, Stöcke und Schweigen, Kunsthof Jena, Jena, Alemanha, 2010.

 

Até 1º de março.

Luigi Ghirri no IMS-Rio

06/fev

O Instituto Moreira Salles, Gávea, Rio de Janeiro, RJ, exibe – após temporada em São Paulo -, a primeira grande retrospectiva do fotógrafo italiano Luigi Ghirri. Dono de uma vasta produção e de um talento incomum para explorar a linguagem fotográfica, Ghirri foi uma figura fundamental da cena artística italiana, mas apenas depois de sua morte começou a ser redescoberto e consagrado no mundo todo. Essa nova fase da exposição ganha quase 100 novas obras e documentos do artista e sua passagem por São Paulo a colocou entre as cinco exposições mais bem avaliadas de 2013 da Veja São Paulo e mereceu a terceira colocação de melhor exposição do ano segundo o jornalista Silas Martí.

 

A exposição “Luigi Ghirri. Pensar por imagens. Ícones, Paisagens, Arquitetura” é uma das maiores exposições já realizadas sobre o fotógrafo e foi organizada segundo três caminhos centrais ao seu universo: a investigação dos ícones visuais que povoam o mundo contemporâneo; uma releitura da paisagem italiana, baseada num profundo conhecimento da história da arte; e uma indagação sobre os modos de viver, habitar e perceber o espaço.

 
A exposição apresenta quase 300 fotografias, a maior parte delas cópias de época, além de provas de impressão, livros de artista e outros objetos que ajudarão entender a carreira fascinante do fotógrafo que foi também editor, curador e um grande pensador da fotografia.

 

Ghirri contribuiu, na década de 1970, para que a fotografia ganhasse importância artística na Itália. À tradição pictórica de seu país, uniu a sedução da fotografia colorida e da fotografia amadora. Neste ano, quando assumiu o cargo de curador-chefe de fotografia do MoMA, o francês Quentin Bajac declarou que Ghirri é o exemplo de gênio subestimado pelo museu, que recentemente o incorporou à sua coleção.

 

O trabalho de Ghirri se debruça sobre fontes variadas: as montagens espontâneas, os achados do cotidiano, as paisagens sublimes e também as mais banais, a arquitetura autoral e a anônima. Para Ghirri, o mundo é um espetáculo que o fotógrafo deve decifrar, interpretar e traduzir. Com influências tão distintas como o neorrealismo italiano, os pintores renascentistas, a fotografia americana e Bob Dylan, Ghirri reinventou os modos de olhar e expandiu os limites do fazer fotográfico. “Suas fotos impressionam por mostrar objetos cotidianos como se estivessem sendo vistos pela primeira vez ou paisagens banais como se fossem lugares oníricos, onde temos vontade de viver”, afirma a pesquisadora Marina Spunta em matéria publicada na revista ZUM #3.

 

O catálogo que acompanhará a exposição traz um longo portfólio de imagens, textos do próprio Ghirri, que era um escritor perspicaz, além de ensaios críticos dos curadores Francesca Fabiani, Laura Gasparini e Giuliano Sergio, e de Quentin Bajac (MoMA), do fotógrafo alemão Thomas Demand, de Bice Curiger (que apresentou Ghirri na Bienal de Veneza de que foi curadora), de Lorenzo Mammì e de Larissa Dryansky.

 

 
Sobre o artista

 

Luigi Ghirri nasceu em Scandiano, Reggio Emilia, no norte da Itália, em 1943. Começou a vida como topógrafo e designer gráfico, antes de se tornar fotógrafo no início dos anos 1970. Mais para fins da década, começou a ser conhecido no exterior: em 1979, foi convidado a expor na Light Gallery, em Nova York; em 1980, foi chamado para trabalhar no estúdio da Polaroid de Amsterdã; já em 1982, foi eleito um dos maiores fotógrafos do mundo na feira Photokina. Em alguns projetos, Ghirri colaborou com escritores como Geoff Dyer e o arquiteto Aldo Rossi. Morreu em 1992.

 

“Cada uma das fotografias do livro de Ghirri, explícitas e infinitamente misteriosas, não contém quase nenhum incentivo para avançarmos, para virarmos a página e ver a foto seguinte. Satisfazemo-nos com olhar e esperar, observar”. Geoff Dyer, ensaísta britânico e colunista do site da ZUM, sobre Kodachrome.

 

“Ghirri não se pauta pela poética do momento decisivo, pelo esforço de resumir no instante o significado inteiro de uma ação. É fotógrafo dos tempos longos, das permanências.” Lorenzo Mammi, crítico de arte.
“Ghirri fez muita coisa que eu não faço, e que provavelmente não farei – mas, sem dúvida, estou feliz que ele tenha feito.” William Eggleston, fotógrafo americano.

 

“No trabalho de Ghirri sempre há uma surpresa. As fotografias das maçãs na máquina de venda automática (Lucerna, 1971), por exemplo: é uma coisa tão comum, mas é também uma sensação e tanto. Transformar as coisas mais normais em sensações, e fazer isso repetidamente, é grande arte.” Thomas Demand, importante fotógrafo contemporâneo, sobre a obra do Ghirri.

 

A exposição “Luigi Ghirri. Pensar por imagens. Ícones, Paisagens, Arquitetura” é promovida por MAXXI Museo nazionale delle arti del XXI secolo, pela municipalidade de Reggio Emilia e pela região de Emilia Romagna, e tem curadoria de Francesca Fabiani, Laura Gasparini e Giuliano Sergio.

 

 

De 06 de fevereiro a 13 de abril.

Três artistas na Inox

05/fev

Chama-se “ Diálogo: Um Chão Para Brincar, Um Céu Para Voar”, exposição coletiva dos artistas Adrianna eu, Lívia Moura e Renato Bezerra de Mello, com curadoria de Isabel Portella,  na Galeria Inox, Shopping Cassino Atlântico, Copacabana, Rio de Janeiro, RJ. Em exibição: cinco objetos, dois desenhos, um vídeo, uma fotografia e duas instalações. Um diálogo sutil entre esses três artistas. Ao se apropriarem sutilmente de suas poéticas eles criaram diálogos entre si, traçaram pontes, caminhos e comungaram das mesmas questões. O olhar desses artistas alcança outras verdades. Escadas, gaiolas e espirais guardam visões e ampliam o olhar do espectador.

 

Adrianna eu apresenta uma instalação e dois objetos que abordam o campo dos afetos, tema recorrente em seus trabalhos. Depois de uma visita ao oftalmologista e a possibilidade de “corrigir” seu grau, por meio de uma cirurgia, a artista decidiu não mudar nada para que seu olhar singular sobre o mundo se mantivesse. Logo depois, começou a esboçar uma série inteira de trabalhos relacionados a esse tema, que vai ser apresentando na Galeria Inox. São óculos antigos, suspensos no ar, que hora estão ligados por costura, hora pendem do teto da galeria na altura dos olhos, seguros por fios transparentes, hora se agrupam dentro de uma gaiola de pássaros. Para a artista, eles questionam as distâncias, os padrões, o que é perto e o que é longe na relação com o outro, com si mesmo e com o mundo.

 

Depois de alguns diálogos com o grupo, Lívia Moura teve uma sensação que a acompanha desde pequena, quando está para dormir, naqueles instantes de vigília. Uma sensação de ser extremamente minúscula em um espaço gigantesco ou ser gigantesca num espaço extremamente minúsculo. Desse sentimento, veio a instalação “Vigília”, criada em Lisboa e banhada na água benta do santuário de Nossa Senhora de Fátima. Quase como um altar, a escada de rendas brancas fica pairando no ar e se desmancha em uma nuvem. Ela não toca o chão, mas um fio ligado a ela chega até o chão e se espalha pela sala. No fim do fio está o rolo de linha que a tudo originou. As rendas são uma marca no trabalho da artista, onde atuam como uma rede de conexões com a grande paisagem, com a totalidade.

 

Renato Bezerra de Mello mostra um conjunto de obras em diferentes mídias (um vídeo, três objetos, um desenho e uma fotografia) tendo como ponto de partida o vídeo “Um chão para brincar”, no qual o artista trava um embate inglório com pequenos tubos de papel, muito leves, que tenta a todo custo manter de pé, sem muito sucesso. Este movimento contínuo evoca primeiramente a visão do perfil de uma grande cidade e suas constantes transformações, mas o espectador não deve se prender a isto, estabelecendo outras relações. Na sua queda os tubos emitem um belo som, compondo uma discreta peça musical surgida do acaso. Esses mesmos tubos serão apresentados na exposição, quer seja deitados sobre uma superfície plana (nos fazendo pensar numa maquete de uma pequena biblioteca de rolos em pergaminho); ou recolhidos em pequenos rolos condicionados em pequenas caixas, uns dentro dos outros. Além disso, numa alusão aos tubos também vai mostrar uma nova série de desenhos em grafite. Por fim, vai exibir uma fotografia escolhida entre várias que costuma fazer durante a elaboração de suas obras, um fragmento do seu processo de trabalho.

 

 

Adrianna Eu

 

Nasceu no Rio de Janeiro, em 1972, onde reside e trabalha. É formada pela EAV-Parque Lage. Realizou sua primeira exposição individual em 2005, Trabalhos Recentes, Comemorativa de 20 anos do Paço Imperial/RJ. Participou de diversas exposições coletivas nacionais e internacionais. Tem como um de seus temas as relações das pessoas com a própria identidade. Gosta de pensar que sua trajetória é traçada pelo desejo.

 

 

Lívia Moura

 

Lívia Moura, 27 anos, nasceu e cresceu no Rio de Janeiro. Iniciou sua pesquisa poética nas artes plásticas aos 15 anos. Frequentou a Escola de Artes Visuais do Parque Lage, formou-se no Instituto de Artes da UERJ. Atualmente, vive e trabalha entre o Brasil e a Itália. Seus desenhos são como uma planta de arquitetura que se desdobra em instalações e performances. O resultado é uma produção multimidiática que inclui livros, fotografias e vídeos. Em março, Lívia fará uma exposição invidual na galería Dino Moora, em Nápoles, Itália.

 

 

Renato Bezerra de Mello

 

Natural de Pernambuco, mora no Rio de Janeiro há 30 anos, tendo trabalhado como arquiteto no restauro de bens tombados até o início dos anos 2000, quando vivendo em Paris passou a dedicar-se exclusivamente às artes plásticas. Já fez exposições em varios lugares do mundo e no Brasil. No momento, participa de uma exposição coletiva Play, no Museu Bispo do Rosário Arte Contemporânea, no Rio de Janeiro, assim como da itinerância da 17ºBienal de Cerveira, em Portugal.

 

 

De 19 de fevereiro a 22 de março.

RAQUEL ARNAUD APRESENTA DANIEL FEINGOLD

30/jan

Em 2014, quando Raquel Arnaud, Vila Fidalga, São Paulo, SP, completa 40 anos de dedicação à arte contemporânea, sua galeria inicia as atividades com uma exposição de telas e fotografias de Daniel Feingold. O conjunto de obras estabelece narrativas entre o espaço e seus desdobramentos, planos cromáticos e suas dobraduras, e revela uma longeva ambição por transcendência – o fundamento da poética do artista. Com curadoria do crítico norte-americano Robert C. Morgan, serão apresentadas oito telas e aproximadamente 30 fotografias.

 

O térreo da galeria foi dividido em dois ambientes, cada um recebendo uma família distinta de pinturas. O primeiro ambiente reúne duas pinturas monocromáticas preto sobre branco, também dípticos, intituladas “Yahweh”, Deus Judaico. De acordo com Robert C. Morgan, a escolha do “Deus Judaico” como título da série sugere mais do que um processo estritamente formal e a maneira com que a tinta escorrida (esmalte sintético), forma uma sorte de escrito religioso não é insignificante. “Ao contrário, é a própria essência que o artista está se esforçando para obter, como se a imprevisibilidade relativa da ação da tinta fosse parte de um plano aleatório, um universo construído sobre o impulso criativo, sugerindo uma espécie de espelho ou reflexão sobre o significado do ato criativo”, completa o curador.

 

No segundo ambiente estão os dípticos “Estrutura” e “Sócrates na Alice”. “São faixas formadas com tinta derramada (esmalte sintético), que não se movem em uma única direção e se cruzam com o uso de cores (principalmente primárias) de maneira altamente controlada, sugerindo uma versão mais comprimida de Mondrian”, afirma o curador.

 

Já as cerca de 30 fotografias apresentadas no primeiro piso são parte da série  “Homenagem ao Retângulo,” em paráfrase ao quadrado homenageado por Joseph Albers. Todas são abstrações geométricas em preto e branco, criadas a da topiária das árvores do “Jardin des Plantes”, em Paris. As imagens de Feingold são caligráficas, conectando-as ao grupo de telas e a maneira do artista de lidar com a fotografia. Para Feingold, a fotografia é simplesmente outra ferramenta por meio da qual se pode descobrir a pintura. “Tanto na pintura quanto na fotografia, o trabalho de Feingold sempre foi caligráfico no sentido dos escritos (religiosos). Sua obra é uma busca persistente pela ordem sistêmica. É um tipo de escrita pictórica, uma condensação de palavras que invocam a sua consciência como pintor”, reflete Morgan.

 

 

Sobre o artista

 

Formou-se em Arquitetura na FAUSS, RJ 1983. Estudou: História da Arte e Filosofia com o crítico Ronaldo Brito, UFRJ 1988-1992; Teoria da Arte & Pintura e Núcleo de Aprofundamento, EAV Parque Lage, RJ 1988-1991; Mestrado no Pratt Institute, NY 1993. Principais exposições individuais: Galeria Mercedes Viegas, RJ 1997; “Espaço Empenado,” Paço Imperial, RJ 2001; “Amigos da Gravura,” Fundação Castro Maia, RJ 2001; Galeria Candido Portinari, UERJ, RJ 2002; “Pintura,” Centro Universitário Maria Antonia, SP 2003; Galeria Marília Razuk, SP 1996, 1999; Galeria Raquel Arnaud, SP 1996, 1999, 2002, 2006, 2014; Atelier Sidnei Tendler, Bruxelas 2011; “Acaso Controlado,” MAM RIO, RJ 2013; “Pintura em Fluxo,” Múltiplo Espaço Arte, RJ 2013.  Principais exposições coletivas: CCSP, SP 1991; “Gravidade e Aparência,” MNBA, RJ 1993; “Coleção Chateaubriand, O Moderno e Contemporâneo na Arte Brasileira,” MASP, SP 1998; “Crossing Lines,” Art in General, NY 1998; “Artists in the Marketplace,” Bronx Museum, NY 1998; “O Beijo,” Paço Imperial, RJ 1998; “Gestural Drawings,” Neuhoff Gallery, NY 2000; 5ª Bienal do Mercosul, RS 2005; “Chroma,” MAM RIO, RJ 2005; “Itaú Contemporâneo Arte no Brasil 1981-2006,” SP 2007; “Minus Space at PS1 Contemporary Art Center,” NY 2008; “Escape From NY,” Minus Space curatorial, Sidney/Aus 2007, Melbourne/Aus 2009, Wellington/NZ 2010; “The Machine Eats,” Frederico Sève Gallery, NY 2010; “Arte Brasileira e Depois na Coleção Itaú,” Paço Imperial, RJ 2011; “Cinéticos e Construtivos,” Galeria Carbono, SP 2013. A Galeria Raquel Arnaud representa Feingold desde 1993.

 

 

 De 30 de janeiro a 08 de março.

LiliRoze na Lume

A Galeria Lume, Itaim Bibi, São Paulo, SP, abre a exposição “Acervo: LiliRoze”, da fotógrafa franco-suíça LiliRoze, com curadoria de Paulo Kassab Jr. Composta por 10 obras da coleção pessoal do curador, são exibidas fotografias das séries “Eden”, “Colors” e “Vanité”, nas quais a artista expressa suas fantasias em ensaios que retratam o sentimento da mulher em harmonia com a vulnerabilidade e delicadeza das flores. A abertura da mostra contará também com uma performance de dança da bailarina Marina Droghetti.

 

Em “Eden”, verifica-se um ambiente de certa forma “frio”, no que se refere à temperatura de cor, onde LiliRoze fotografa o corpo de uma mulher nua, interagindo com plantas verdes, cena que remete ao título da série. Já na série “Colors”, distante da fotografia realista e no limiar da pintura, a fotógrafa revela a memória de uma sensação, dando a impressão de entrar na intimidade de seus modelos. Contornos imprecisos vistos como reminiscências de um sonho. Tudo se concentra em um segundo de abandono onde a graça e a intimidade se misturam em um gesto suspenso no tempo. Por sua vez, “Vanité” é um estudo sobre a natureza morta que exibe a fragilidade e o efêmero da existência.

 

Usando uma câmera de grande formato e filmes de Polaroid, o trabalho de LiliRoze é imbuído de intimidade, tendo como fonte de inspiração o desnudamento, a ideia da fragilidade e do abandono. Com pouca luz, filmes de baixa sensibilidade e longos períodos de exposição, sua obra se aproxima mais do imaginar do que da realidade, trazendo um leve desfoque e nuances que traduzem a imaginação da artista.

 

Paolo Roversi, Sarah Moon, Joel-Peter Witkins, Duane Michals são algumas das inspirações de LiliRoze para fazer suas imagens impressionistas, como ela mesma define. “Nunca expresso uma representação do real e sim algo próximo do imaginário, em que as cores e as formas contam uma história original”, afirma. Para Lili, a fotografia é uma realidade, porém uma realidade que provém das visões do fotógrafo. E as visões trazem consigo nossas fantasias, intimidades, loucuras, e outras pequenas coisas sem procedência.

 

 

De 30 de janeiro  a 20 de fevereiro.