O Legado de Ayrson Heráclito, Emanoel Araujo & Mestre Didi.

13/mar

 

A Galeria Simões de Assis, Curitiba, PR, apresenta até 26 de abril, as representações do sagrado e do espiritual sob o olhar da tríade baiana Ayrson Heráclito, Emanoel Araujo e Mestre Didi, referências na iconografia das religiões afrodiaspóricas. Com curadoria de Daniel Rangel, a exposição apresenta a prática de cada um dos artistas em esculturas, aquarelas, relevos e fotografias.

A geometria sagrada dos relevos e esculturas em madeira e metal de Emanoel Araujo, artista, curador e fundador do Museu AfroBrasil, está presente em importantes coleções, como: LACMA – Los Angeles County Museum of Art (EUA), Museum of Fine Arts (Boston), PAMM – Pérez Art Museum Miami (EUA), Tate (Londres), MASP – Museu de Arte de São Paulo, Pinacoteca de São Paulo (Brasil), entre outras.

As esculturas em tronco de palmeira, couro pintado e miçangas do artista-sacerdote Mestre Didi integram coleções de destaque, incluindo o MAM – Museu de Arte Moderna da Bahia (Salvador), o MAM – Museu de Arte Moderna de São Paulo e o MASP – Museu de Arte de São Paulo.

Os “Juntós”, em aquarelas e esculturas em metal, e as fotografias de Ayrson Heráclito, artista, curador e professor, fazem parte de acervos do Museu Solomon R. Guggenheim (Nova York), Museum der Weltkulturen (Frankfurt), MAR – Museu de Arte do Rio, MAM – Museu de Arte Moderna da Bahia (Salvador), MON – Museu Oscar Niemeyer (Curitiba), entre outros.

Uma tríplice aliança yorubaiana¹.

Para a cultura iorubá, o tempo é um evento circular. Passado, presente e futuro se confundem e entrelaçam entre si. A Bahia, terra mãe do Brasil, foi também o porto de chegada da cultura iorubana. Provinda sobretudo da Nigéria, mas também do Benin e do norte do Togo, o iorubá é a etnia mais presente em Salvador, no dia a dia das pessoas e também nos principais terreiros de candomblé da cidade, por exemplo. Essa presença vêm sendo abordada por artistas de diferentes gerações e estilos desde o final dos anos 1940, começo dos 1950, quando podemos perceber um afloramento de um movimento moderno genuinamente baiano. Não somente pela incorporação de temáticas relacionadas à presença da cultura afrodiaspórica – sobretudo na capital e no recôncavo baiano -, mas também pela inserção de referências da cultura popular relacionada ao barro, à terra, ao couro; referenciais dos povos indígenas; e ainda uma presença de artistas afrobrasileiros abordando sua própria cultura. A exposição Legado: Mestre Didi, Emanoel Araújo e Ayrson Heráclito reúne justamente três baianos expoentes máximos dessa tradição. Diferentes tempos reunidos em um mesmo espaço que vai além de uma conexão evidentemente cronológica, cuja existência é real. A contribuição aqui é de todos para todos, como em uma encruzilhada. É fato que Mestre Didi (1917 – 2013) influenciou Emanoel Araújo (1940 – 2022) e que ambos influenciaram Ayrson Heráclito (1968). No entanto, é verdade também que a contribuição aqui acontece em três vias, como em uma via de mão-tripla onde caminhos se cruzam e fortalecem as estradas individuais. Se a trajetória vanguardista de Mestre Didi pavimentou o caminho para Emanoel Araújo, este consolidou a estrada. Não somente com sua produção como artista, mas sobretudo com seu trabalho como curador e introdutor da arte negra no circuito artístico nacional. De fato, Ayrson Heráclito atualmente transita nessa estrada, no entanto, vem ampliando gradativamente o alcance desse legado para ele e para os outros, sobretudo a nível internacional.  Simultaneamente à abertura dessa exposição em Curitiba, o Museo del Barrio em Nova York inaugurou a primeira grande mostra individual do Mestre Didi fora do Brasil. Ayrson foi um dos curadores² desse projeto que, de certa forma, está apresentando ao sistema de arte internacional essa produção única de origem “yorubaiana”. Didi, além de artista, foi um grande sacerdote do candomblé, sendo filho sanguíneo de Mãe Senhora, uma das mais importantes ialorixás da Bahia, que também foi mãe-de-santo de Jorge Amado, Pierre Verger e Carybé. Sua produção escultórica representa símbolos, cores e formas das ferramentas, ícones, animais, folhas e materiais provindos do candomblé. Obras de taliscas de dendê trançadas, que fazem referência direta ao Ibiri – uma ferramenta da orixá Nanã que o artista ressignificou com grande liberdade formal e, também, espiritual. Mestre Didi criou inúmeras dessas esculturas, “totens” energéticos, com variações cromáticas e distintos tamanhos. É evidente que as obras dele dialogam diretamente com a produção aqui apresentada por Ayrson Heráclito, sendo a série Juntó uma homenagem ao Mestre Didi. Ayrson Heráclito é atualmente o principal artista e articulador da arte afrobrasileira no circuito artístico. Sua produção vêm alcançando gradativo interesse internacional, sendo sua obra adquirida por importantes museus recentemente, como o Art Institute of Chicago; Museu Gunggenhein de Nova York; Museu Reina Sofia e Coleção Thyssen, ambas de Madrid; Museu Inhotim, em Minas Gerais; Museu Afro Brasil Emanoel Araújo, MASP e Pinacoteca de São Paulo; Museu de Arte do Rio; MAC Bahia; Museu Oscar Niemeyer, de Curitiba, além de dezenas de coleções particulares. As esculturas de metal e aquarelas da série Juntó fazem parte de um panteão de obras energéticas iniciadas pelo artista em 2020, nas quais também referencia as tradições yorubaianas. De acordo com o próprio artista “no candomblé, Juntó é a junção de dois orixás – um principal, outro complementar – que regem a vida dos indivíduos. Nas minhas esculturas, realizo essa junção utilizando-me de símbolos e objetos relacionados às divindades, permitindo assim uma ampla combinação aritmética dos 16 principais orixás cultuados no Brasil”. A aproximação temática e, ainda nesse caso, estética, entre a produção de Mestre Didi e Ayrson Heráclito coloca o trabalho de Emanoel Araújo como um elo que transpassa essa união. O rigor das formas e a importância das cores na produção do artista coloca, à primeira vista, suas obras atreladas a um campo mais formalista da arte. No entanto, a releitura dos mesmos símbolos, cores e ícones presentes nos trabalhos dos outros dois artistas estão na base visual das esculturas, pinturas e desenhos de Araújo. Sua trajetória como artista se confundiu com sua exitosa carreira de curador e gestor cultural. Além de diretor do Museu de Arte da Bahia e da Pinacoteca de São Paulo, Emanoel Araújo foi Secretário Estadual de Cultura de São Paulo, criador e diretor do Museu Afro Brasil, e realizou centenas de mostras fundamentais para a inserção da produção africana e afrodiaspórica no país, a exemplo da mítica “A mão Afro-Brasileira – Significado da contribuição artística e histórica”, primeira grande retrospectiva da produção negra no Brasil, realizada em 1988, no Museu de Arte Moderna de São Paulo, da qual Mestre Didi fez parte. Sem dúvidas, os caminhos dos três estão intercruzados e “amarrados em folha de arruda”, sendo o trabalho de um fundamental para o desenvolvimento do trabalho do outro. A exposição Legado: Mestre Didi, Emanoel Araújo e Ayrson Heráclito celebra essa união, e apresenta o sumo da arte moderna, pós-moderna e contemporânea produzida na Bahia e no Brasil. Como diz um sábio oriki (ou provérbio iorubano): “Exu acertou um pássaro ontem com uma pedra que só atirou hoje”. Axé!

Daniel Rangel.

¹ O termo “Yorubaiano” foi o título da exposição individual de Ayrson Heráclito, com curadoria de Marcelo Campos e Ana Maria Maia.

² Rodrigo Moura, curador geral do museu, foi o outro curador da mostra. A exposição fica em cartaz de 13/03 a 13/07/2025.

Explorando o volume e o ar.

11/mar

Iole de Freitas inaugura a exposição “Fazer o ar”, no Paço Imperial, Centro, Rio de Janeiro, RJ, com sua mais recente e inédita produção. Com mais de 50 anos de trajetória, Iole de Freitas continua produzindo e experimentando novos materiais. A partir do dia 15 de março, ela apresenta sua mais nova pesquisa com curadoria do poeta Eucanaã Ferraz.

A mostra terá cerca de 16 trabalhos inéditos, que exploram o volume e o ar. Obras em grandes dimensões chamadas “Mantos”, feitas com papel glassine, com tamanhos que chegam a quase 4 metros, esculturas da série inédita “Algas”, em aço inox, e a obra “Escada”, feita há dois anos, mas que ganhará uma montagem inédita na exposição. Em 2023, o Paço Imperial apresentou uma mostra com trabalhos históricos de Iole de Freitas, feitos na década de 1970; agora, esta exposição, totalmente inédita, apresenta a produção de uma das mais importantes artistas plásticas brasileiras.

Grandes volumes brancos da série “Mantos”, ocuparão as paredes e o chão das salas da exposição. Originalmente, o papel glassine é usado como embalagem para obras de arte, conservando e acondicionando-as. “É um papel que foi pensado para proteger uma obra, aqui ele não existe como um envoltório, mas como algo que, trabalhado, guarda em si a expressão de uma linguagem. Gosto de deslocar a funcionalidade das coisas, subvertendo-as: tomo a capa da coisa e faço dela substância da forma”, afirma a artista.

A pesquisa para estes trabalhos começou há cerca de quatro anos. Para realizá-los, o papel é preenchido com ar, inflando-o e criando grandes superfícies, que então recebem água, areia e cola, que vão moldando, esculpindo e estruturando o papel até formarem os Mantos. Alguns ainda ganham novos elementos, como cobre, palha e pedras gipsitas. “Iole testa em cada obra as verdades físicas de seu corpo e do material que utiliza. Basta ver para inferirmos o quanto as formas nasceram da peleja, da disputa entre o gesto e o papel. É flagrante a atuação de uma inteligência física. O papel era liso, neutro, sem corpo nem memória, sem ar, inerte, ausente. Iole soprou nele. Deu a ele o sopro da vida. O papel, agora, está vivo. Veja: ele respira”, afirma o curador Eucanaã Ferraz.

Durante o período da exposição, o grupo Laboratório 60 – formado por Bea Aragão, Bento Dias, Cecília Carvalhosa, Gil Duarte e Ísis Lua – fará uma apresentação de dança no espaço expositivo, interagindo com as obras da artista. A exposição terá um catálogo a ser lançado ao longo do período da mostra.

Sobre a artista.

Iole de Freitas (Belo Horizonte, 1945. Vive e trabalha no Rio de Janeiro) iniciou sua formação em dança contemporânea no Rio de Janeiro, para onde se mudou aos seis anos de idade. Estudou na Escola Superior de Desenho Industrial da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e, em 1970, mudou-se para Milão (Itália), onde trabalhou como designer no Corporate Image Studio da Olivetti, sob a orientação do arquiteto Hans von Klie. Neste mesmo período, iniciou sua produção artística e sua participação em exposições. Ao longo de mais de cinco décadas de carreira, participou de importantes mostras internacionais, como Bienal dos Jovens de Paris (França, 1975), Bienal de São Paulo (1981, 1998), 5ª Bienal do Mercosul (2005) e a Documenta 12, de Kassel (Alemanha, 2007), além de individuais e coletivas em várias cidades do mundo, contando em 2023 as exposições no IMS (Instituto Moreira Salles) e no Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo. Seus trabalhos integram importantes coleções, como a do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo; Museus de Arte Moderna de São Paulo e do Rio de Janeiro; Museu de Arte Contemporânea de Niterói; Museu de Belas Artes do Rio de Janeiro; Museu de Arte do Rio; Bronx Museum (EUA); Museu de Arte Contemporânea de Houston (EUA); Museu Winnipeg Art Gallery (Canadá) e Daros Foundation (Suíça).

Em cartaz até 11 de maio.

Catálogo para a poética de Tunga.

10/mar

O Instituto Ling, Bairro Três Figueiras, Porto Alegre, RS, realizou o lançamento do catálogo da exposição “A poética de Tunga – uma introdução”, marcando também o encerramento e visitação da mostra.

O evento contou com uma conversa aberta ao público entre o curador Paulo Sergio Duarte e o convidado Munir Klamt, artista, curador, professor e grande entusiasta da obra de Tunga. O catálogo foi distribuído gratuitamente entre os participantes.

A mostra apresentou uma seleção de mais de 60 obras, entre bidimensionais e esculturas de diferentes fases, grande parte delas inéditas, expondo temas e conceitos que atravessam toda a poética do artista. Esta foi a primeira exposição individual de Tunga em Porto Alegre, considerado uma das figuras mais emblemáticas da cena artística nacional.

 

Exposição Casa Própria.

Mostra celebra 10 anos de trajetória de Ana Hortides com obras inéditas que investigam arquitetura e identidade popular.

O Paço Imperial apresenta de 15 de março a 11 de maio a exposição Casa Própria que marca a primeira individual da artista Ana Hortides, no Rio de Janeiro,  sua cidade natal. Com curadoria de Lucas Albuquerque, a mostra faz um panorama de sua produção ao longo de dez anos, incluindo obras inéditas que investigam a casa, explorando sua materialidade. Cimento e azulejos se fundem na sua pesquisa, que parte da arquitetura do subúrbio carioca para expandir sua visão sobre o habitar no Brasil. A produção é da Atelier Produtora.

Nascida e criada em Vila Valqueire, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, Ana Hortides constrói sua poética artística a partir de elementos visuais característicos dos subúrbios e periferias. Em sua pesquisa, materiais comuns à construção civil popular – como cimento queimado e ladrilhos – são transformados em estruturas que tensionam a familiaridade e o estranhamento. Escadas, lajes e fachadas, referências ao saber técnico de pedreiros e trabalhadores informais, surgem em dimensões variadas, descolando-se de suas funções originais e desafiando convenções espaciais e as fronteiras entre arte, política e identidade social.

“Apresentada de maneira ampla pela primeira vez na cidade do Rio, a produção da artista propõe ao visitante o indomado silêncio do doméstico. Protuberâncias feitas em cimento e ladrilhos multiplicam-se ao longo da exposição, como um tumor que cresce desordenadamente. A cera vermelha, comum ao chão das casas de subúrbio, ergue-se feito cortina, abandonando sua dureza para tornar-se maleável. Mesmo fachadas distantes, como os raio-que-o-parta paraenses, aparecem como primos não convidados, expandindo o espaço expositivo. A casa própria, que para alguns é um objetivo de vida inegociável, aqui revela uma faceta mais inquietante“, declara Lucas Albuquerque, curador da mostra.

Além da exposição, Casa Própria oferece um seminário com a artista, o curador e pesquisadores. O evento abordará temas como arquitetura popular, arte periférica e protagonismo feminino na produção artística, e ocorrerá durante o lançamento do catálogo impresso e digital (e-book), ambos distribuídos gratuitamente. A mostra também conta com audiodescrição das obras e intérpretes de Libras na visita guiada e seminário, garantindo acessibilidade às pessoas com deficiência.

A poética de Tunga.

17/fev

Segue em cartaz até 08 de março no Instituto Ling, Bairro Três Figueiras, a exposição “A poética de Tunga – uma introdução”.

Com curadoria de Paulo Sergio Duarte, a mostra apresenta uma seleção de mais de 60 obras bidimensionais e esculturas de diferentes fases, grande parte delas inéditas, expondo temas e conceitos que atravessam toda a poética do artista.

Esta é a primeira exposição individual de Tunga na cidade de Porto Alegre, considerado uma das figuras mais emblemáticas da cena artística nacional.

 

Em exposição na Central.

10/fev

Mariana Manhães apresenta a exposição individual “O lado de fora dos olhos fechados”a partir do dia 15 de fevereiro, sábado, na Central Galeria.

A mostra marca a mudança na prática da artista, que, após um período de silêncio, experimenta novos materiais e soluções formais para as obras apresentadas.

“Meu interesse é entrar em algo que não tenha nome, que não seja nem instalação, nem escultura, e sim, todas as coisas juntas” conta Mariana Manhães.

 A artista foca, nesta exposição, na invenção de organismos e seus espaços próprios.

“Seres organizados em círculo nesta sala, como num alinhamento megalítico, evocam a distribuição de elementos numa floresta, onde habitam entes que vemos e que não vemos. Ronda o mistério; sinto que há um ritual em curso, embora não seja capaz de nomeá-lo.”

Escreve Ana Avelar, que assina o texto crítico da mostra.

Mostra na Anita Schwartz Galeria.

07/fev

A Anita Schwartz Galeria de Arte, Gávea, Rio de Janeiro, RJ,  inaugurou a programação de exposições de 2025 com “Inatividade contemplativa”, quinta edição do Projeto GAS, sob a curadoria de Cecília Fortes. Inspirada no livro “Vita contemplativa: ou sobre a inatividade”, do filósofo sul-coreano radicado na Alemanha, Byung-Chul Han, a nova exposição reverência a pausa, o respiro e a fruição do tempo livre como um momento de repouso sagrado que reúne em si intensidade vital. É um convite à suspensão do tempo, uma afirmação do elemento contemplativo.

“Inatividade contemplativa” bebe dessa fonte e reúne obras de artistas representados pela Anita Schwartz Galeria de Arte e alguns convidados, que se conectam com o princípio da contemplação como um momento rico de fruição. Completam o projeto duas ativações que se conectam à proposta conceitual, a serem realizadas em fevereiro e março, respectivamente: um sarau de poesia conduzido pela poeta carioca Luiza Mussnich, e uma prática de respiração consciente e de meditação sonora (sound healing), com Guga Dale e Victor Chateaubriand.

Os artistas e as obras

Adriana Vignoli apresenta esculturas, objeto e desenho-colagem que abordam a relação entre plantas e cosmologia, e a transmutação de materiais. Da apreciação de diferentes rios do Brasil nasce “Confluência”, composição digital de Claudia Jaguaribe. Em série recente, Fernando Lindote parte da contemplação das cores, formas e texturas das flores.   Gabriela Machado incorpora as formas da natureza e a observação do ambiente que a rodeia em paineis de grande escala e cores vibrantes. Luiz Eduardo Rayol manifesta o sublime através de “Toda a história do mundo”, uma pintura de contorno irregular. Rosana Palazyan registra em bordado a memória das folhas que viu nascer, das plantas adormecidas que germinaram no jardim e foram replantadas na terra do Parque da Catacumba. Thiago Rocha Pitta incorpora em afresco e aquarela elementos captados pela retina em momentos de observação minuciosa do céu, durante a noite: um eclipse, um cometa, a imagem do mapa celeste. E as composições abstratas de Tiago Mestre partem de uma constante observação do mundo e incorporam elementos como fogo, fumaça, corpos celestes e terrestres.

No segundo andar da galeria, Bruna Snaiderman nos instiga a desvendar o efeito óptico de sua obra laminada. Lenora de Barros saltita nas sílabas do silêncio com a sua poesia performática. Maria Baigur capta nosso olhar pelo movimento de marés improváveis, enquanto Maritza Caneca hipnotiza nossos sentidos num registro particular de luz e cor. Nathalie Ventura suscita reflexões acerca do sentido da existência e nossa relação com o meio-ambiente. E Thiago Rocha Pitta apresenta aquarelas em pequenos formatos, sugerindo reflexões acerca do ambiente natural e do universo onírico.

Até 22 de março.

Interações e tensões plásticas.

04/fev

 

A Nara Roesler São Paulo convida para abertura, em 06 de fevereiro, da exposição “A Cor entre Linhas”, que investiga a relação dinâmica entre cor e linha, suas mútuas interações e tensões plásticas, presentes nas obras de grandes artistas, de diferentes linguagens: Abraham Palatnik, Amelia Toledo, Antonio Dias, Artur Lescher, Carlito Carvalhosa, Fabio Miguez, Jose Dávila, Milton Machado, Mira Schendel, Sérgio Sister, Tomie Ohtake.

A mostra tem como ponto de partida a instalação inédita “Entrelinhas”, em latão e linhas de multifilamento, medindo 5 metros de altura, por 5,90 metros de largura e 8,40 metros de comprimento, criada especialmente por Artur Lescher para o projeto, idealizado pelo Núcleo Curatorial da Nara Roesler.

Abraham Palatnik, nome fundador da arte cinética, explorou esses elementos plásticos visando à obtenção de dinamismo e jogos óticos, que terminavam por engajar o espectador na composição, que assim passa a ter uma relação mais ativa com a obra. Nas pinturas de Tomie Ohtake, por seu turno, a relação entre linha e cor se dá de modo tácito, meditativo, com amplas áreas cromáticas, compostas de discretos tonalismos, entrecortadas por linhas absolutas e sinuosas. Já Amelia Toledo enxerga essa relação principalmente através da linha do horizonte, que explora por meio de paisagens nas quais retém apenas os elementos essenciais, trabalhando dessa forma no limite entre figuração e abstração.

No trabalho de Mira Schendel, a linha se apresenta de maneira caligráfica, em especial em suas monotipias, realizadas a partir da década de 1960, e feitas sobre papel de arroz. Essas obras apresentam traços, linhas e grafismos que parecem flutuar ante o fundo branco do suporte, servindo, ao mesmo tempo, como material precípuo da comunicação escrita e signo visual independente. Dentre os artistas que participaram do processo de retomada da pintura em uma chave contemporânea a partir da década de 1980, integram a mostra Sérgio Sister, Fabio Miguez e Carlito Carvalhosa. No trabalho do primeiro, a relação entre linha e cor extrapola o plano pictórico, se detendo também na tridimensionalidade, de modo que sua poética termina por contribuir para a ideia de pintura expandida. Carlito Carvalhosa, por seu turno, utiliza como suporte chapas de alumínio espelhadas ou mesmo espelhos, sob os quais aplica matéria pictórica, por vezes através de grandes áreas de cor, e seu gestual acaba por se fazer presente em linhas que imprime sobre a matéria, destacando o que está “por baixo” da cor. Em Fabio Miguez, na sua produção mais recente, a relação entre linha e cor caminha na projeção de espacialidades e arquiteturas, em que o artista faz releituras de pinturas de grandes mestres do Renascimento italiano, porém removendo das cenas os personagens e conservando apenas as situações espaciais.

Em Milton Machado, o conjunto de telas “Terras”, que parecem evocar as cores e formas de tijolos, é composto de um fundo marrom e grids que vão de tons do vermelho ao preto. A matéria-prima empregada é pó de tijolo macerado, e o trabalho faz portanto menção ao material que pretende evocar. Jose Dávila, cujo principal interesse poético consiste em explorar tensões e equilíbrios resultantes da relação de materiais díspares, revisita a história da arte construtiva buscando composições formadas por linhas, planos e cores. Ao inserir, lado a lado, trechos desses trabalhos referenciais, acaba enfatizando a sensação de incompletude gerada por essa composição. Artur Lescher traz a exploração da relação entre linha e cor para o âmbito escultórico, objeto primordial de sua poética, levando em conta sobretudo a relação com o espaço.

Em cartaz até 15 de março.

A agenda da Galeria Contempo.

03/fev

 

Após realizar individual da artista Ana Durães, a agenda de exposições de 2025 começou aquecida na Galeria Contempo, Jardim América, São Paulo, SP. Será inaugurada no dia 15 de fevereiro, a primeira exibição coletiva do ano na casa da Gabriel Monteiro. “cons.tru.ção | definição em aberto” reunirá 13 artistas representados pelas sócias Marcia, Monica e Marina Felmanas: Aldir Mendes de Souza, Beto Fame, Greta Coutinho, João di Souza Luiz Dolino, Márcio Swk, Marina Ryfer, Natan Dias, Pavel, Renato Dib, Rubens Ianelli, Sérgio Guerini e Thiago Nevs.

Através de trabalhos nos mais distintos suportes, incluindo a pintura, a escultura e a instalação, cons.tru.ção aponta para o desenvolvimento recente de um grupo de artistas. Todos eles, jovens ou mais consolidados, comprovam que continuar produzindo é um exercício de reinvestir na construção de um sentido, ainda que seja ele pessoal e afetivo. A exposição poderá ser visitada até o dia 08 de março.

Sobre a Galeria Contempo.

Atuando no mercado desde 2013, a Contempo é um desdobramento da ProArte Galeria e foi idealizada por Monica, Márcia e Marina Felmanas. A galeria foi criada com o propósito de reunir a produção artística contemporânea, representando artistas emergentes e alguns já consolidados. Natan Dias, Thiago Nevs, Mario Morales, João Di Souza, Presto, Greta Coutinho, Marina Ryfler e J. Pavel Herrera são alguns dos que têm se destacado. A Contempo também agrega em seu portfólio obras produzidas por artistas visuais com carreiras consolidadas.

Cosmos – Outras Cartografias.

 

A Nara Roesler São Paulo convida para a abertura, em 06 de fevereiro, da exposição coletiva “Cosmos – Outras Cartografias”, com curadoria da artista Laura Vinci em parceria com o núcleo curatorial Nara Roesler. A ideia de mapas é discutida em 32 obras de 20 artistas de diferentes gerações e origens: Brígida Baltar, Paulo Bruscky, Jonathas de Andrade, Carlos Bunga, Jaime Lauriano, Ana Linnemann, André Vargas, Alfredo Jaar, Marina Camargo, Rivane Neuenschwander, Talles Lopes, Vanderlei Lopes, Arjan Martins, Carlos Motta, Nelson Leirner, Nelson Felix, Paulo Nazareth, Anna Bella Geiger, Runo Lagomarsino e Laura Vinci.

No dia da abertura Laura Vinci fará uma visita guiada à exposição às 19h.

Laura Vinci diz que “das várias crises que o nosso planeta enfrenta atualmente – sejam elas políticas, migratórias ou ambientais – o objetivo desta exposição é inspirar a reflexão sobre essas questões urgentes”. “Alguns trabalhos podem ter uma perspectiva mais política ou geopolítica, enquanto outros podem enfatizar preocupações ambientais. Juntas, as obras incentivarão um diálogo mais amplo sobre o mundo em que vivemos”, afirma a curadora.

Em cartaz até 15 de março.