MON realiza nova exposição internacional.

26/jun

“Re-Selvagem”, da artista francesa Eva Jospin, é a nova exposição internacional realizada pelo Museu Oscar Niemeyer (MON) e a primeira mostra da artista no Brasil. Com curadoria de Marcello Dantas, a inauguração aconteceu no Olho e Espaços Araucária. A exposição reúne nove obras de grandes dimensões, entre elas instalações e desenhos, além de dois vídeos. A matéria-prima das instalações é o bordado de seda e o papelão, mas a artista também usa madeira, bronze, tecido e outros materiais.

“Eva Jospin no Museu Oscar Niemeyer reforça nossa missão de conectar o público paranaense com o que há de mais relevante na arte contemporânea mundial”, afirma a secretária de Estado da Cultura, Luciana Casagrande Pereira. “Esta exposição ainda reafirma a diretriz de diplomacia cultural que o Paraná estabelece com a França, em um ano especialmente significativo, marcado pelas celebrações do Ano do Brasil na França e da França no Brasil”.

A diretora-presidente do MON, Juliana Vosnika, afirma que a sensibilidade da artista francesa Eva Jospin fica evidente nesta exposição. “Ao abordar a natureza e o tempo em poéticas obras de arte, ela evoca nossa memória afetiva”, diz.

O curador Marcello Dantas conta que Eva Jospin é conhecida por seu meticuloso trabalho de criar, com as próprias mãos, ilusões de um mundo imaginário – arquiteturas silenciosas e espaços naturais abundantes, que nascem do gesto paciente e obsessivo de devolver à matéria um sentido de origem. “A floresta, para Jospin, é mais que uma representação da natureza. É um lugar simbólico, onde o mistério, o inesperado e a transformação acontecem”, diz Marcello Dantas. “Como nos contos antigos, suas florestas são territórios onde nos perdemos para nos reencontrar”. Em “Re-Selvagem”, o visitante atravessa trilhas de papel e sombra, entra em universos de folhagens esculpidas, experimentando uma espécie de rito íntimo. As formas evocam memórias esquecidas, despertam imagens do inconsciente coletivo e provocam silêncio.

Sobre a artista.

Eva Jospin nasceu em 1975 em Paris, onde formou-se na École Nationale Supérieure des Beaux-Arts. Nos últimos 15 anos, vem criando florestas meticulosas e paisagens arquitetônicas, que explora por meio de diversas mídias. Desenhadas a tinta ou bordadas, esculpidas em papelão ou em bronze, suas obras evocam jardins barrocos italianos, decorações rocaille do século XVIII e grutas artificiais. Foi residente na Villa Medici, em Roma, em 2017, e eleita para a seção de Escultura da Academia de Belas Artes em 2024. Entre suas exposições internacionais, destacam-se: “Inside”, no Palais de Tokyo, em Paris (2014); “Sous-Bois”, no Palazzo dei Diamanti, em Ferrara (2018); “Eva Jospin – Wald(t)räume”, no Museum Pfalzgalerie, em Kaiserslautern (2019); “Among the Trees”, na Hayward Gallery, em Londres (2020); “Paper Tales”, no Het Noordbrabants Museum, em Den Bosch (2021); “Galleria”, no Musée de la Chasse and Nature, em Paris (2021); “Panorama”, na Fondation Thalie, em Bruxelas (2023); e “Palazzo”, no Palais des Papes, em Avignon (2023). Em 2024, apresentou duas novas exposições individuais: “Selva”, no Museo Fortuny, em Veneza, durante a 60ª Bienal de Veneza, e “Eva Jospin – Versailles” na Orangerie do Castelo de Versalhes. Também desenvolveu diversas instalações de grande porte como parte de encomendas especiais, incluindo “Panorama” (2016), no centro do Cour Carrée do Louvre, e “Cénotaphe” (2020), na Abadia de Montmajour. Além disso, criou uma série de painéis bordados para o desfile Dior Haute Couture 2021-2022 (Chambre de Soie, 2021).

 Sobre o curador.

Marcello Dantas é um renomado curador, diretor artístico e produtor brasileiro, reconhecido por sua abordagem interdisciplinar que integra arte, tecnologia e experiências sensoriais imersivas. Nascido no Rio de Janeiro em 1968, Marcello Dantas possui uma formação acadêmica diversificada: estudou Relações Internacionais e Diplomacia em Brasília, História da Arte e Teoria do Cinema em Florença, e graduou-se em Cinema e Televisão pela New York University, onde também realizou pós-graduação em Telecomunicações Interativas. Ao longo de sua carreira, Marcello Dantas foi responsável pela concepção e direção artística de diversos museus e pavilhões, tanto no Brasil quanto no exterior. Também é conhecido por curar exposições de grande impacto, que atraem vasto público e crítica especializada. Entre elas “Ai Weiwei: Raiz”, do artista chinês Ai WeiWei, e “Invisível e Indizível”, do artista espanhol Jaume Plensa, ambas no Museu Oscar Niemeyer.

Sobre o MON.

O Museu Oscar Niemeyer (MON) é patrimônio estatal vinculado à Secretaria de Estado da Cultura. A instituição abriga referenciais importantes da produção artística nacional e internacional nas áreas de artes visuais, arquitetura e design, além de grandiosas coleções asiática e africana. No total, o acervo conta com aproximadamente 14 mil obras de arte, abrigadas em um espaço superior a 35 mil metros quadrados de área construída, o que torna o MON o maior museu de arte da América Latina.

Até 03 de agosto.

Artistas brasileiros contemporâneos em Paris.

25/jun

A mostra coletiva “Le Brésil illustré” é uma revisão histórica. A exposição, sediada na Maison de l’Amérique Latine, em Paris, reúne obras de 15 artistas brasileiros contemporâneos que confrontam, ressignificam e desviam a iconografia do pintor francês Jean-Baptiste Debret – autor da célebre “Viagem pitoresca e histórica ao Brasil”.

Com curadoria de Jacques Leenhardt e Gabriela Longman, a exposição propõe um mergulho crítico sobre como a imagem do Brasil foi construída a partir de um olhar europeu. E mais: mostra como artistas indígenas, negros e mestiços brasileiros vêm hoje subvertendo esse imaginário, criando novas narrativas para os corpos antes silenciados ou exotizados por Debret.

Entre os participantes estão nomes como Denilson Baniwa, Gê Viana, Jaime Lauriano, Livia Melzi e Anna Bella Geiger. Utilizando linguagens diversas – fotografia, vídeo, escultura, instalação -, suas obras não apenas comentam Debret, mas inserem-se como resposta direta ao projeto colonial que ele, ainda que involuntariamente, ajudou a consolidar. A proposta não é destruir o passado, mas criar novos significados a partir dele – muitas vezes com humor, ironia e potência simbólica. A mostra integra a programação do Ano do Brasil na França e deve chegar ao Museu do Ipiranga, em São Paulo, no segundo semestre deste ano. “…Mas o mais importante é o que ela revela: uma geração que não aceita ser apenas retratada. Uma geração que reivindica o direito de imagem – e que faz disso um gesto político”, diz Matheus Paiva, internacionalista, formado pela Universidade de São Paulo, e produtor cultural.

José Medeiros e o Instituto Tomie Ohtake.

Esta exposição é uma realização do Ministério da Cultura, via Lei Federal de Incentivo à Cultura (Lei Rouanet), e do Instituto Tomie Ohtake, Pinheiros, São Paulo, SP, com a correalização do Ipeafro –  Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros e da coleção Abdias Nascimento Memória em Ação. A exposição reúne cerca de 110 itens, entre fotografias e documentos provenientes do acervo do Ipeafro, que iluminam a histórica colaboração entre o Teatro Experimental do Negro (TEN) e o fotógrafo José Medeiros (1921-1991) ao longo de quase duas décadas.

Mais do que documentar, a mostra busca evidenciar uma parceria artística que é, ao mesmo tempo, política e poética, ressaltando o papel fundamental do Teatro Experimental do Negro tanto na evolução do teatro moderno no Brasil quanto na afirmação da identidade negra nas artes e na esfera pública. A relação entre o Teatro Experimental do Negro e José Medeiros é de colaboração simbólica e prática: enquanto o grupo teatral lutava por representação e dignidade para pessoas negras no cenário artístico, o fotógrafo registrava e difundia essa luta com sensibilidade e respeito, contribuindo de forma decisiva para sua preservação na memória visual brasileira.

Fundado em 1944 por Abdias Nascimento, dramaturgo, ator, artista plástico, escritor, professor universitário, político e ativista dos direitos civis e humanos das populações negras brasileiras, o Teatro Experimental do Negro foi uma iniciativa pioneira no combate ao racismo e na promoção da cultura afro-brasileira por meio das artes cênicas. Abdias do Nascimento tinha como objetivo criar um espaço onde artistas negros pudessem se expressar com autonomia e dignidade, enfrentando o preconceito que os limitava a papéis estereotipados na sociedade e no teatro da época. Para Abdias Nascimento, o teatro era espelho e resumo da peripécia existencial humana – mas só poderia alcançá-la realmente ao incorporar a humanidade negro-africana em sua dimensão plena. A dignidade dos povos afrodescendentes e a dramaticidade de sua epopeia no Brasil, as quais Abdias do Nascimento e o Teatro Experimental do Negro buscaram projetar, transparecem nas imagens criadas por José Medeiros. Amigo e participante do Teatro Experimental do Negro, o olhar do fotógrafo abraçava e celebrava as pessoas e criações do grupo, tanto no palco como na cena cultural e política do país.

Vínculos artísticos e representatividade.

Ao longo dos 15 anos, a Galeria TATO, Barra Funda, São Paulo, SP, vem estabelecendo relações duradouras com artistas cujas pesquisas se desdobram em diferentes frentes do campo contemporâneo. A representação artística, dentro desse percurso, tem sido entendida não como um ponto de chegada, mas como um compromisso mútuo de continuidade, diálogo e construção.

A cada novo ciclo, a presença desses artistas na galeria se atualiza em exposições, publicações, inserções institucionais e feiras, refletindo processos em movimento e práticas que respondem ao tempo presente com escuta, rigor e imaginação. Ao compartilhar algumas dessas trajetórias, é possível reafirmar não apenas o vínculo entre artista e galeria, mas também o papel desse encontro no ecossistema mais amplo da arte.

A representação é uma camada entre outras tantas da atuação da TATO, que se constitui na intersecção entre acompanhamento crítico, inserção profissional e compromisso com processos contínuos de pesquisa.

Lançamento do catálogo Djanira 110 anos.

24/jun

A Pinakotheke Cultural, no Rio de Janeiro, e o Instituto Pintora Djanira convidam para o lançamento do catálogo “Djanira – 110 anos”, e visita guiada à exposição com os curadores Max Perlingeiro e Fernanda Lopes, no dia 24 de junho, às 19h. O livro bilíngue (port/ingl), tem 128 páginas e formato de 21cm x 27cm, com textos de Max Perlingeiro, Fernanda Lopes e Eduardo Taulois, diretor-geral do Instituto Pintora Djanira, além de uma cronologia da artista e imagens das obras.

Expressividade fotográfica em preto e branco.

Fotógrafo especializado na reprodução de obras de arte para catálogos e livros, Fernando Zago já trabalhou, ao longo de anos, para um grande número de artistas gaúchos, dos quais tornou-se próximo. O sentimento de amizade estimulou-o a fotografá-los em seus ateliês ou no StudioZ, de sua propriedade. O resultado poderá ser visto na exposição “Amigos Artistas”, que será inaugurada no dia 25 de junho no Museu de Arte do Paço, Praça Montevidéu, 10, Centro Histórico de Porto Alegre e permanecerá em cartaz até 19 de setembro.

“Não se pode fazer retrato sem tomar em consideração o caráter e o aspecto do motivo. O retrato bem-sucedido exige uma combinação de conhecimentos técnicos, interesse pelas pessoas e compreensão das inibições criadas pela câmera”, diz Fernando Zago. As 34 fotos da mostra são em preto e branco, no estilo clássico, com fundos neutros, luz dura e alto contraste para ganhar mais expressividade.

O curador da exposição, lembra que esse tipo de retrato, produzido por artistas, tem longa tradição na História da Arte. “Podemos referir os exemplos icônicos de Man Ray, Andy Warhol e Robert Mapplethorpe, que também imortalizaram colegas artistas. Por serem capturas feitas por um fotógrafo-artista, os registros transcendem a mera semelhança superficial, buscando momentos que vão além da instantaneidade”, declarou o professor José Francisco Alves.

Os homenageados

A galeria de mulheres artistas homenageadas é composta por Adri Hernandez, Ana Norogrando, Clara Pechansky, Helena Kanaan, Lenir de Miranda, Maria Tomaselli, Marília Fayh, Marilice Corona, Maristela Salvatori e Zoravia Bettiol. A dos homens é integrada por Alfredo Nicolaievsky, Britto Velho, Carlos Tenius, Carlos Wladimirsky, Eduardo Haesbaert, Hidalgo Adams, Hô Monteiro, José Carlos Moura, Luiz Gonzaga, Gustavo Nakle, Paulo Chimendes, Paulo Amaral, Paulo Porcella e Ricardo Aguiar. Foram retratados em vida e já faleceram Danúbio Gonçalves, Ena Lautert, Gelson Radaelli, Henrique Fuhro, José Luiz Roth, Lou Borghetti, Mário Röhnelt, Nelson Jungblut, Paulo Peres e Plinio Bernhartd.

Patrimônio cultural

Depois de encerrada a exposição, as fotografias produzidas por Fernando Zago passarão a integrar o acervo da FUNDACRED, que patrocina o projeto do artista. A FUNDACRED detém um grande acervo de obras de autores gaúchos, “um patrimônio cultural de valor inestimável para o Rio Grande do Sul”, avalia o presidente da Fundação, Nivio Lewis Delgado. Esse acervo é composto por mais de 700 obras de artistas como Aldo Locatelli, Eugênio Latour, João Fahrion, Leopoldo Gotuzzo, Oscar Boeira, Pedro Weingartner e Augusto Luiz de Freitas, entre outros.

Uma parceria inédita.

A Galatea Salvador, Rua Chile, 22 – Centro, BA, e a Luciana Brito Galeria apresentam “Regina Silveira:Tramadas”, a primeira exposição individual da artista na capital soteropolitana, com abertura no dia 04 de julho, das 18h às 21h. A inauguração da mostra coincide com a Semana da Independência da Bahia, celebrada no dia 02 de julho.

Fruto de uma parceria inédita, a exposição tem curadoria de Adriano Casanova e Tomás Toledo, conta com texto crítico de Ana Maria Maia e reúne obras emblemáticas de Regina Silveira, muitas delas inéditas no Brasil, que sintetizam sua pesquisa em torno do bordado ao longo dos anos.

Elemento recorrente na obra de Regina Silveira desde 1999, o uso do bordado em ponto de cruz, entendido como codificação da imagem, remete a uma herança trans-histórica e intercultural, relacionada à própria história remota da alfabetização das mulheres, em sua trajetória de resistência.

Uma grande instalação site-specific será destaque da mostra. Intitulada “Malfeitos”, faz parte da série dos “bordados malfeitos” e ganha uma reativação inédita adaptada à fachada de vidro da galeria, convidando o público a conhecer mais. Outros trabalhos apresentados incluem “Dreaming of Blue II” (2016), painel em cerâmica com sobrevidrado, em diálogo com a série histórica de gravuras “Risco” (1999), além de gravuras da série “Armarinhos” (2002-2003), representando elementos relacionados à prática do bordado, como agulha, botão e alfinete, e as serigrafias “Tramada” (Pink) (2014) e “Blue Skies” (2015).

Até 11 de outubro.

Mostra institucional de Manuel Messias.

23/jun

O Ministério da Cultura, via Lei Federal de Incentivo à Cultura (Lei Rouanet), e o Instituto Tomie Ohtake, Pinheiros, São Paulo, SP, apresentam até 03 de agosto a  exibição de “Manuel Messias – Sem limites”, que conta com o patrocínio do Nubank, mantenedor do Instituto Tomie Ohtake, e o apoio da Danielian Galeria. A exposição traz a assinatura dos curadores Marcus de Lontra Costa e Rafael Fortes Peixoto.

Primeira mostra individual institucional de Manuel Messias, a mostra reúne cerca de 70 xilogravuras e traça um panorama sensível e contundente de um artista que manteve uma produção contínua e coesa apesar de ter enfrentado grandes dificuldades por ser um homem negro, nordestino e que viveu nos limites da pobreza e da loucura. “Sem limites”, como ele próprio se definia, Manuel Messias é hoje reconhecido como um importante membro de sua geração e um dos mais destacados nomes da gravura brasileira do século XX.

A exposição perpassa três décadas de produção artística, revelando a potência poética e crítica de Manuel Messias dos Santos (1945-2001), sergipano radicado no Rio de Janeiro desde a infância. Segundo os curadores, foi através de sua mãe, que trabalhou como empregada doméstica na casa de nomes influentes da cena artística carioca, que Manuel Messias pôde frequentar aulas de arte no início dos anos 1960, particularmente o curso livre de Ivan Serpa no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro.

No Instituto Tomie Ohtake.

18/jun

Manfredo de Souzanetto, Série Olhe bem as montanhas, 1973-1974

O Ministério da Cultura, via Lei Federal de Incentivo à Cultura, e o Instituto Tomie Ohtake, São Paulo, SP, apresentam Manfredo Souzanetto – As montanhas, exposição com patrocínio do Nubank, mantenedor do Instituto Tomie Ohtake, e com apoio da Galeria Simões de Assis. Sob curadoria de Paulo Miyada, diretor artístico do Instituto Tomie Ohtake, a mostra ficará em cartaz até 03 de agosto.

Paralelamente às exposições Teatro Experimental do Negro nas fotografias de José Medeiros, Manuel Messias – Sem limites e Casa Sueli Carneiro em residência no Instituto Tomie Ohtake.

Propondo um mergulho na formação poética e crítica de um dos nomes mais singulares da arte contemporânea brasileira, a mostra reúne cerca de 50 obras produzidas entre as décadas de 1970 e 1990. São sobretudo desenhos, fotografias e pinturas – a grande maioria advindas do acervo de Manfredo Souzanetto, que as guardou por décadas, como se antevisse a importância desses trabalhos na constituição de sua trajetória.

Nascido em 1947 no norte do Vale do Jequitinhonha, o artista teve uma infância marcada pelas paisagens montanhosas e as riquezas naturais da região – especialmente às pedras, cerâmicas e pigmentos terrosos – elementos que mais tarde se tornariam centrais em sua produção artística. As obras selecionadas revelam o processo de amadurecimento do artista, acompanhando a sua produção durante o percurso que o levou de Minas Gerais ao Rio de Janeiro, passando por Belo Horizonte, Paris e Juiz de Fora.

Ainda que tenha se deslocado por diferentes centros urbanos e circuitos artísticos, Manfredo Souzanetto manteve uma profunda conexão com sua terra natal. Em sua obra as montanhas mineiras não são apenas formas geográficas, mas entidades afetivas e políticas, evocadas em cores, volumes e superfícies que desafiam fronteiras entre escultura, pintura e intervenção paisagística. Como Paulo Miyada afirma no texto curatorial, “As montanhas, aqui, são muitas e nenhuma. Elas são memória atávica e pensamento junto da paisagem, articuladas de modo visual, material, cromático. Elas, as montanhas, são parte do que constitui este mundo, essas obras e esse artista”, conclui.

Mais do que um panorama histórico, a exposição convida o público a revisitar o gesto de olhar para a paisagem – como já propunha o artista em sua juventude com o emblemático adesivo “Olhe bem as montanhas”. Em um momento em que os territórios naturais enfrentam ameaças crescentes, as obras do artista oferecem uma reflexão sobre permanência, destruição e pertencimento. É um chamado para ver, com outros olhos, aquilo que insiste em permanecer: a paisagem como memória viva e a arte como forma de resistência.

O momento de Miguel Afa no Paço Imperial.

16/jun

O artista Miguel Afa inaugura sua nova exposição individual, “O vento continua, todavia”, no Paço Imperial, Centro, Rio de Janeiro, RJ. A mostra apresenta um conjunto de obras produzidas entre 2023 e 2025, e marca um momento de síntese e afirmação da trajetória do artista, iniciada em 2001 por meio do graffiti nas ruas do Complexo do Alemão, onde nasceu e cresceu.

Formado pela Escola de Belas Artes da UFRJ, Miguel Afa transita da rua para as instituições com uma linguagem pictórica profundamente marcada por seu percurso pessoal. Sua produção propõe uma reconfiguração poética da imagem do corpo periférico, contrapondo os estigmas da marginalização com cenas que evocam afeto, cuidado e resistência. Trabalhando com uma paleta cromática enigmática, Migeul Afa cria cenas que não suavizam, mas intensificam a complexidade de suas narrativas. Em sua obra, a cor é discurso, e o gesto de esmaecer é, mais do que técnica, ato de lembrança e posicionamento. Suas pinturas revelam simultaneamente o visível e o invisibilizado, tensionando o olhar e o imaginário social.

O texto de apresentação da exposição é assinado por Jeovanna Vieira, que reflete sobre o título da mostra, inspirado em uma frase de Vincent van Gogh: “Os moinhos não existem mais; o vento continua, todavia.” Jeovanna Vieira escreve: “O título da exposição fragmenta frase de Van Gogh, que em carta para o irmão Theo provoca: “Os moinhos não existem mais; o vento continua, todavia.” Diante da obra-itinerário produzida por Miguel Afa, somos conduzidos pelo vento pressupondo a teimosia primordial, que justifica tudo ainda estar.”

“O vento continua, todavia” estará em cartaz no Paço Imperial até o dia 10 de agosto. Um dos centros culturais mais importantes do país, com forte carga simbólica na história do Brasil, o Paço – edifício histórico do século XVIII que tem acolhido algumas das exposições mais relevantes do cenário nacional – é palco de diálogos essenciais sobre arte, cultura e memória brasileira. Agora, recebe a mostra que reafirma Miguel Afa como uma voz potente e em ascensão na arte contemporânea do país.

Miguel Afa vive e trabalha no Rio de Janeiro. Começou sua trajetória por meio do graffiti em 2001, nas ruas e becos do Complexo do Alemão, e estudou na Escola de Belas Artes – UFRJ. Seu trabalho reflete sobre o corpo periférico, contrapondo suas adversidades e propondo uma nova leitura imagética que potencializa e valoriza o afeto. Suas obras alternam entre a sensibilidade poética e mensagens políticas diretas.

O olhar do artista transforma o que captura, dando-lhe uma aura própria por meio das cores que utiliza. Sua paleta amena não é mero recurso estético: é essencial à composição, ampliando a complexidade do que é representado. Longe de neutra, a cor é discurso e um posicionamento diante das cenas retratadas. Esmaecer não é apenas um gesto pictórico, mas um ato de lembrança e questionamento, revelando tanto o visível quanto o invisibilizado.

Em 2024, participou das coletivas “Dos Brasis”, no Sesc Quitandinha, Petrópolis (itinerância da mostra apresentada no Sesc Belenzinho, São Paulo) e “O que te faz olhar para o céu?”, no Centro Cultural Correios Rio de Janeiro. No mesmo ano, realizou a individual “ENTRA PRA DENTRO”, na galeria A Gentil Carioca. Em 2023, realizou a individual “Em Construção” e participou da coletiva “Da Avenida à Harmonia”, ambas no Instituto Inclusartiz no Rio de Janeiro. Suas obras fazem parte de coleções de destaque, como a Jorge M. Pérez Collection.