Décio Vieira, homenageado

04/abr

Da abstração ao neoconcretismo: uma homenagem a Décio Vieira. Esta exposição é um dos frutos da profícua parceria firmada em 2016 entre o Sistema Fecomércio RJ, por meio do Sesc, e o Museu de Arte do Rio – MAR. Focada no projeto Partiu MAR!, programa de formação continuada de professores e visitas educativas ao museu, a parceria estende-se também ao programa curatorial, permitindo que sejam realizadas exposições de forma conjunta, de modo a ampliar o alcance deste programa para além da capital carioca.

 

Esta é a primeira vez que o MAR apresenta uma mostra fora de sua sede, na Praça Mauá, além de ser uma das mais ricas parcerias curatoriais que desenvolvemos até então. Foi por conta da vontade de pensar coletivamente que surgiu este projeto, nascido de um olhar prospectivo sobre a complexidade da história do Palácio Quitandinha, onde hoje funciona a unidade de Petrópolis do Sesc. Esta é, portanto, uma preciosa oportunidade de expansão das perspectivas e das ações do Museu de Arte do Rio.

 

 

Museu de Arte do Rio – MAR

 

A mostra parte de um marco fundamental para a história da arte brasileira, a 1ª Exposição nacional de arte abstrata, realizada aqui, no Palácio Quitandinha, em 1953. Sob a organização geral de Edmundo Jorge e Décio Vieira – e por meio de articulações que envolveram também a Associação Petropolitana de Belas Artes e o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro –, a exposição foi um dos momentos inaugurais de afirmação social de uma arte não figurativa no Brasil.

 

Pouco programática em termos de escolhas estéticas e políticas dentro do campo da abstração, e diferentemente de iniciativas posteriores, a 1ª Exposição nacional de arte abstrata não buscava afirmar um paradigma construtivo único, mas abrir espaço para as liberdades de investigação então em efervescência. “Da abstração ao neoconcretismo: uma homenagem a Décio Vieira” apresenta, por um lado, uma contextualização histórica do campo da arte do Rio de Janeiro entre as décadas de 1940 e 1950 e, por outro, a trajetória pessoal de Décio, articulando o indivíduo à coletividade como forma de dar a ver a instauração de um ambiente moderno no país. Além de organizador da mostra, ele foi também o artista premiado pelo júri formado por Mário Pedrosa, Niomar Muniz Sodré e Flávio de Aquino.

 

Não apenas sua importância para a exposição e o ambiente de consolidação de uma arte não figurativa no país, mas também a contribuição e permanente revolução de Décio Vieira para a arte são evidenciadas nesta mostra. Integrante do Grupo Frente – responsável pela afirmação de uma agenda de arte concreta no Brasil -, logo depois ele passou a desenvolver sua obra em chave neoconcreta, evidenciando uma produtiva inquietação. Sua trajetória da “abstração ao neoconcreto” fala da singularidade da obra de Décio e nos adverte do inquestionável lugar de importância do estado do Rio de Janeiro diante da cultura brasileira.

 

 

Até 09 de julho.

Nelson Felix no MAM-Rio

O Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Parque do Flamengo, Rio de Janeiro, RJ, inaugura no próximo dia 08 de abril a exposição “Trilha para 2 lugares e trilha para 2 lugares”, com trabalho homônimo inédito de Nelson Felix – a quarta e última parte da série “O Método Poético para Descontrole de Localidade”, iniciada em 1984. A obra reúne a vivência do artista em dois locais distintos: Citera, uma ilha na Grécia, e a cidade de Santa Rosa, no pampa argentino.  A palavra trilha, repetida duas vezes no título da exposição, tem duplo significado: o percurso percorrido pelo artista e a presença sonora. Um cabo de aço atravessará o espaço do MAM, em tensão máxima, a ponto de emitir um som que será captado e amplificado. Com um total de 270 metros – 35 metros estirados a 60 centímetros do chão e o restante tensionado em volta de pilastras do Museu – o cabo de aço aponta para duas direções: Citera e Santa Rosa.  

 

Em uma pequena sala fechada e toda forrada por espuma, haverá três monitores onde serão exibidos vídeos que registram a vivência do artista em cada um dos locais. As imagens foram feitas por Guilherme Begué e Cristiano Burlan, este último  há quatro anos se dedica a fazer um filme sobre o artista. Caixas de som irão reproduzir o som emitido pela tensão do cabo de aço, que se somará ao som ambiente dos vídeos, constituindo assim, a sua trilha sonora. A estrutura de edição das imagens, que ora se duplicam ora se alternam nos monitores, se assemelha a uma composição musical para três instrumentos.

 

O trabalho de Nelson Felix torna assim o museu dúbio instrumento: musical e uma espécie de bússola, formalizada na direção que indica o cabo de aço no espaço expositivo, a mesma percorrida pelo artista no globo terrestre.

 

A série “O Método Poético para Descontrole de Localidade” sempre teve na poesia seu ponto de partida. No trabalho apresentado no MAM Rio, foi a obra do poeta francês Mallarmé, principalmente seu poema “Um lance de dado jamais abolirá o acaso”, que determinou o início do processo. Nelson Felix lançou sobre um mapa-múndi um dado com o número seis em todas as faces, em data e hora estabelecidas, e em local incidental do curso de uma estrada. Daí surgiram os dois locais-eixo do trabalho: Citera e Santa Rosa (pampa argentino).  Em Citera, lançou o dado ao mar, em Santa Rosa, o enterrou. Nesses lugares, o artista desenhou compulsivamente, durante várias horas, impregnado do ambiente e ao mesmo tempo deixando sua marca nele, como se fundisse à paisagem.

 

Depois de estar em Citera, Nelson Felix observou que “vários artistas realizaram obras sobre a peregrinação a esta ilha: Watteau, Gerard de Nerval, Verlaine, Victor Hugo, Debussy, mais recentemente Theo Angelopoulos, e principalmente Baudelaire, grande influência de Mallarmé”. E descobriu ainda outro fato curioso em comum a esses artistas: com exceção de Watteau, todos haviam frequentado o café-restaurante Closerie des Lilas, em Paris, fundado em 1847. Nelson Felix se sentiu impelido a ir, ele mesmo ao local, e de lá acrescenta algumas imagens aos vídeos da exposição.

 

 

A palavra da curadoria

 

 

Trilha para 2 lugares e trilha para 2 lugares, de Nelson Felix, inscreve-se com destaque na programação do MAM de 2017. Tal destaque, entretanto, não se restringe ao reconhecimento da importância inegável de sua obra para a produção contemporânea brasileira. Ao acolher esse projeto da série Método poético para descontrole de localidade (iniciada com o projeto 4 cantos feito pelo artista, a convite da Fundação Serralves, em 2007, na cidade do Porto, em Portugal, o museu também reitera sua vocação experimental e vincula, uma vez mais, seu nome a outras mostras emblemáticas de artistas e movimentos artísticos brasileiros aqui realizadas. Finalmente, Trilha para 2 lugares e trilha para 2 lugares soma-se ao nosso programa de exposições temporárias, cuja dinâmica é complementar àquela das mostras do acervo – ou seja, revelar outros pontos de vista da produção de artistas que fazem parte de nossa coleção.

 

De acordo com Felix os trabalhos dessa série “visam traduzir uma ideia de espaço simultâneo, de construção poética que amalgamam locais por meio do desenho […]. Nesse sentido, esculturas, desenhos, ações, fotografias, vídeos e deslocamentos ilustram um texto formando uma noção de lugar que se submete a um desenho no globo terrestre.” A confluência desses espaços diversos, fundamentados experiencialmente, só pode fazer sentido e ser produzida com base num “método poético para descontrole de localidade” marco que separa a ambiguidade poética característica da arte da experimentação cientificamente regulada.

Fernando Cocchiarale e Fernanda Lopes

 

 

Sobre o artista

 

Nascido no Rio de Janeiro, em 1954, Nelson Felix ocupa lugar de destaque na cena contemporânea desde 1978, quando integrou a exposição “Artistas Cariocas”, na Fundação Bienal de São Paulo, até a recente mostra individual “O Oco” (2015), na Pinacoteca do Estado de São Paulo. Com diversos prêmios, residências e exposições no Brasil e no exterior, o artista participou ainda de várias bienais, como a III Trienal de Desenho (1986), no Germanishes National museum, em Nuremberg, Alemanha; XXIII Bienal Internacional de São Paulo (1996); Bienal do Barro (1998), no Centro Cultural de Maracaibo, Venezuela; II Bienal do Mercosul (1999), em Porto Alegre; Brasil + 500 anos, Mostra do Redescobrimento, Bienal de São Paulo (2000); V Bienal do Mercosul (2005), em Porto Alegre; Bienal no Instituto Tomie Ohtake (2010), em São Paulo; Bienal do Vento Sul (2011), em Curitiba.

 

 

 

De 08 de abril a 04 de junho.

“Jardim de Guerra”, de Neville D´Almeida

29/mar

O filme “Jardim de Guerra”, de 1968, de Neville D´Almeida, será exibido no Cine Joia, em Copacabana, quase 50 anos após sua produção. Recolhido pela censura em 1968, o filme será apresentado ao público por ocasião da exposição “Permissão para falar”, que tem curadoria de Fernanda Lopes e está em cartaz na galeria Athena Contemporânea até o dia 1º de abril.

 

A exibição do filme “Jardim de Guerra” será precedida do curta-metragem “Redenção”, de 2017, que tem direção de Neville D’Almeida e Joaquim Haickel, e seguida de debate com Neville, a curadora Fernanda Lopes e a artista plástica Laura Belém, uma das artistas da exposição “Permissão para falar”, cujo trabalho motivou a exibição do filme. Na mostra, a artista apresenta a obra “Hoje tem cine”, de 2015, em que cria letreiros em neon com títulos dos filmes que marcaram a história do Cine Palladium, um dos cinemas mais importantes de Belo Horizonte. Dentre estes filmes, está o “Jardim de Guerra”, apresentado pela primeira vez no cinema mineiro.

 

“Jardim de Guerra” é o primeiro filme do cineasta Neville D’Almeida, com argumento e roteiro do cineasta com Jorge Mautner. O longa foi proibido e interditado e jamais exibido comercialmente. Preste a completar 50 anos, o filme inaugurou a quinzena dos Realizadores do festival de Cannes, em 1969, foi premiado no festival de Brasília e exibido em vários festivais na Europa. Foi consagrado como um dos ícones do cinema experimental e do cinema de invenção.

 

 

 

Sobre a exposição

 

 

“Permissão para falar”, em cartaz na Athena Contemporânea, tem a palavra como ponto de partida e reúne obras recentes e inéditas de destacados artistas da cena contemporânea brasileira: Laura Belém, Lais Myrrha, Vanderlei Lopes, Yuri Firmeza (que apresenta uma obra em parceria com Frederico Benevides), Paula Scamparini, Diego Bressani, Beto Shwafaty, Jaime Lauriano e Sara Ramo. Em comum, todas as obras trazem palavras, com interesse especial em seus uso e variações de significados. Muitas delas possuem escritas, literalmente, mas nem todas. Neste caso, a palavra é a base de construção de um discurso, que traz mais de um significado. “A exposição tem como ponto de partida a palavra. Não a palavra isolada, com significado único e fixo, mas sim a palavra como construção e como discurso, que pode assumir diferentes características e leituras a partir do ponto de vista e do contexto de leitura. Nenhuma palavra pode ser lida sozinha, isolada, fora de contexto. Toda fala é construída, se constrói a partir de pontos de vista e referências, e não elimina a possibilidade de existência de outros olhares”, explica a curadora Fernanda Lopes, que ressalta que “essa é uma exposição interessada em pensar o lugar da fala e da escuta”.

 

 

Dia 29 de março de 2017, às 20h30

 

Cine Joia – Av. Nossa Sra. de Copacabana, 680 – Copacabana

 

Programação:

 

Curta-metragem “Redenção” (2017), Direção: Neville D’Almeida e Joaquim Haickel, Guarnicê Produções, 15 min.

 

Jardim de Guerra (1968), 100min., Classificação: 16 anos.

 

Debate com o diretor Neville D´Almeida, a curadora Fernanda Lopes e artista plástica Laura Belém.

 

Exposição “Permissão para falar”

 

Galeria Athena Contemporânea, Rio de Janeiro, Shopping Cassino Atlântico

Fiaminghi no IAC

28/mar

Inaugurando o calendário do ano, o IAC, Instituto de Arte Contemporânea, Vila Mariana, São Paulo, SP, apresenta mais uma ação de seu Grupo Experimental de Curadoria, “Fiaminghi – Pensamentos compostos”, dando continuidade ao programa de exposições que busca divulgar o acervo da instituição, constituído por importantes arquivos de artistas brasileiros.

 

Esta exposição reúne um expressivo número de obras e documentos entre desenhos, esboços, projetos, produtos gráficos e estudos realizados por Hermelindo Fiaminghi (São Paulo, 1920 – 2004), desde os anos 1950 até a década de 1990. Dos desenhos e projetos, passando por suas experiências junto ao Grupo Ruptura, a produção em têmpera e os offsets dos anos 1970, a exposição traz um importante panorama da obra de Fiaminghi, ao mesmo tempo em que apresenta aspectos de seu pensamento visual e modo de produção.

 

Com uma obra plástica marcada pela forte influência de suas experiências profissionais como litógrafo da indústria gráfica e como publicitário, a mostra revela aspectos fundamentais das soluções poéticas encontradas pelo artista. A imagem fotográfica tem papel crucial nas questões sobre cor e sua relação com a luz. O artista passa a denominar de corluz a produção na qual utiliza, de maneira extremamente original e criativa, a presença dos fotolitos e das provas gráficas, acentuando os efeitos criados por uma enorme ampliação das retículas.

 

Fiaminghi, junto com outros artistas, aderiu ao Grupo Ruptura em 1955 e ajudou a organizar, em 1956, a 1ª Exposição Nacional de Arte Concreta. Sobre esse período, o próprio Fiaminghi afirma que somente na 3ª Bienal de São Paulo se deu conta – devido à crítica que o enquadrou na arte concreta – de que ele era um artista concreto. Foi nessa época que buscou descobrir do que se tratava esse tipo de arte e quais seus pressupostos. Ao refletir sobre essa fase, o artista afirmou que “O quadro concreto começa quando você chega. (…). Na arte concreta a coisa é limpa, é clara! O que você está vendo, é!”

 

 

Sobre o artista

 

Hermelindo Fiaminghi nasceu em São Paulo em 1920. Tornou-se conhecido como pintor e desenhista, mas também atuou profissionalmente como publicitário, litógrafo e artista gráfico. Suas experiências profissionais, em todas essas áreas correlatas, influenciaram mutuamente sua pesquisa imagética. No Liceu de Artes e Ofícios, foi aluno entre 1936 e 1941, onde estudou com Waldemar da Costa. Trabalhou em várias empresas de publicidade e, também, na indústria gráfica. Participou das mudanças iniciadas pelos movimentos construtivos e aderiu ao Grupo Ruptura. Nesse âmbito, atuou junto aos poetas concretos, desenvolvendo o projeto gráfico de vários poemas.

 

Frequentou o atelier de Alfredo Volpi de 1959 a 1966. Junto com Cordeiro, Féjer, Mauricio Nogueira Lima e Décio Pignatari, fundou, em 1958, o Atelier Livre do Brás. Ali desenvolveu a série virtuais, considerada como uma passagem da produção construtiva, vinculada aos pressupostos concretos, para uma pesquisa na qual começa um trabalho de desconstrução, tornando suas formas e o uso de cores e do espaço menos rígidas. A partir dos anos 1960, passa a nomear parte importante de sua produção com o uso adaptado do termo corluz. Nessa fase, utiliza retículas na forma de fotolitos e o offset por meio do sistema CMYK de cores, no qual cada cor é impressa separadamente. Por outro lado, nessa mesma década, começa a trabalhar com têmpera e, nela, da mesma forma, privilegia os estudos com a cor.

 

O artista expôs em várias Bienais Internacionais de São Paulo, em exposições individuais e coletivas e sua obra faz parte de importantes coleções públicas e privadas no Brasil e no exterior. Além disso, atuou como professor, júri e membro de conselhos. Faleceu em 2004 também na cidade de São Paulo. Desde 2017, o Instituto de Arte Contemporânea abriga seu arquivo pessoal.

 

 

Sobre o Grupo Experimental de Curadoria do IAC

 

Já pela segunda vez, o Instituto de Arte Contemporânea abre espaço para que o processo curatorial – das coleções e das exposições – seja colocado em questão por meio do envolvimento de distintos personagens e, portanto, de múltiplos olhares sobre seu acervo. A criação do Grupo Experimental de Curadoria envolveu, na preparação da exposição “Fiaminghi – Pensamentos compostos”, formações conceituais diferenciadas em uma elaboração final coletiva. O processo de conhecimento do arquivo pessoal de Hermelindo Fiaminghi tem sido bastante rico: seus desenhos, gravuras, fotolitos, offsets, pinturas, fotografias, projetos, estudos, revelam-se de maneira inusitada, a cada novo olhar. Trabalhar em conjunto e contar com diversas consultorias tem sido um processo complexo e bastante afinado com a própria produção de Fiaminghi que foi um pesquisador incessante e que, a partir de um certo momento, compreendeu – e nos deu a conhecer – sobre a importância fundamental da des-construção para a compreensão da arte como manifestação. Suas despaisagens e desretratos são ‘apenas’ mais uma faceta dessa personalidade inquieta e riquíssima que, agora, o Grupo Experimental de Curadoria do Instituto de Arte Contemporânea apresenta ao seu público.

 

 

Sobre o IAC

 

O Instituto de Arte Contemporânea – IAC, entidade cultural sem fins lucrativos, foi criado com a finalidade principal de preservar documentos e difundir a obra de artistas brasileiros de tendência construtiva. Os arquivos destes artistas, entre eles Willys de Castro, Sérgio Camargo, Amilcar de Castro (em parceria com o Instituto Amilcar de Castro), Sérvulo Esmeraldo, Luis Sacilotto, Lothar Charoux e, mais recentemente, Hermelindo Fiaminghi têm na instituição um espaço próprio para a exposição e pesquisa com documentação arquivística, bibliográfica e museológica, armazenada em banco de dados específico. Os acervos têm finalidade de pesquisa e divulgação da obra dos artistas por meio do trabalho com seus documentos preparatórios (cartas, agendas, esboços etc.). Assim, podem ser usados em exposições internas ou cedidos a outras instituições, em publicações, em estudos e quaisquer outros usos de caráter cultural e/ou acadêmico.

 

O IAC pesquisa, coleta, organiza e disponibiliza quaisquer fontes de informação sobre os artistas relacionados em seu acervo e, através de uma interface online, permite que pesquisadores de qualquer parte do mundo acessem seu banco de dados. Promover ações educativas e intercâmbios culturais com museus e instituições com a mesma linguagem em outros países também estão entre os objetivos da instituição. Desde julho de 2011, o IAC funciona no primeiro andar do Centro Universitário Belas Artes de São Paulo, na Vila Mariana.

 

 

Até 01 de julho.

Dentro

“Dentro” é a primeira mostra do programa Sala de Encontro. Foi desenhada como conjunto plural que reúne, justapõe e integra em um vasto campo poético, obras que proporcionam abordagens situadas além da mera contemplação, convidando o público à reflexão e mergulho no universo complexo da arte. No dia 28 de março, às 16h, teremos conversa aberta ao público com a presença dos artistas e do curador.

 

Artistas convidados : Carla Guagliardi, Cildo Meireles, Sérgio Sister, Waltercio Caldas.

 

Obras do acervo MAR
Amilcar de Castro, Belmiro de Almeida,Dias & Riedweg, Gustavo Rezende, Kimi Nii, Kurt Klagsbrunn, Mario Cravo Neto, Mira Schendell, Montez Magno e Reis Junior.

 

 

A Sala de Encontro

 

Sala de Encontro é um espaço imersivo dedicado a exposições especiais que propõem um encontro direto e intenso com o universo poético, plural e híbrido da arte. Destina-se a todos – e em especial a crianças e jovens – visando explorar e incitar a criação de meios de experimentação e reflexão em torno da arte. Abre uma nova perspectiva de ação para o espaço expositivo do museu, buscando aprofundar conceitos básicos do projeto do MAR: democratização do sistema e do instrumental da arte.

 

Nosso desejo é que esse espaço funcione como um campo experimental de troca e aprendizado entre dois mundos: o da arte e o de quem a experimenta, o da linguagem aberta da arte e o da linguagem que configura-se como instrumento e lugar do sujeito no mundo, o de um museu socialmente ativo e o de seu público.
Sala de Encontro convida para a permanência e engajamento do público em atividades que deverão ser realizadas em seu interior. Seu mobiliário visa acolher palestras, pequenos concertos, performances, etc. – e, em particular, receber programas de formação oferecidos pelo museu. Evandro Salles – Diretor cultural

Contaminações

27/mar

Será aberta no dia 28 de março, a exposição “Contaminações”, diálogos dos artistas Álvaro Franca, Cristiano Mascaro, Eder Santos, Franklin Cassaro, Heleno Bernardi e Roberto Evangelista com as obras “Eles eram muitos cavalos”, de Luiz Ruffato; “Zero”, de Ignácio de Loyola Brandão; e “O concerto de João Gilberto no Rio de Janeiro”, de Sergio Sant’Anna. Daniela Thomas e Felipe Tassara assinam a criação e o projeto expográfico. A mostra ficará aberta de 29 de março a 02 de julho no SESC Ipiranga, Rua Bom Pastor, 822, São Paulo, SP.

 

OPAVIVARÁ!

24/mar

Utupya/Lá na A Gentil Carioca

 

Erro de Português

 

Fosse uma manhã de sol

O índio tinha despido

O português.

Oswald de Andrade

 

Inspirado nessa utopia antropofágica, o OPAVIVARÁ! cria seu samba enredo para sua nova individual na galeria A Gentil Carioca, Centro, Rio de Janeiro, RJ. Nesse caminho entre o coração da mata e a cidade concreto existe um lugar de hibridismos inconcebíveis. Das raízes pré-históricas gravadas nas paredes das cavernas às cópias dos esquemas das estruturas modernizantes da ocidentalidade reside um povo. Um povo caboclo, vítima e fruto do encontro do índio com o europeu, que se espalhou por todo esse território fazendo coisas de sarapantar. O Brasil caboclo é o primitivismo de sua tecnologia adaptativa. A utopia tupi parte da devoração, da mixagem, mesclagem, mestiçagem, que se dão na pororoca dos encontros.

 

A mostra começa no térreo do segundo prédio da galeria, no coração da Saara, numa sorveteria tupi cabocla, lojinha de doces e travessuras. O Tupycolésão picolés de partes do corpo (rosto, pé, mão, peito, piroca) de diferentes sabores que percorrem uma diversa paleta de cores. Da encruzilhada da galeria, polinizando a SAARA, saem o Remotupy, uma canoa caiçara acoplada a um triciclo de tração elétrica que transforma as ruas em igarapés navegáveis; o carro Abre Caminho é nosso abre alas movido à tração humana, com quatro baldes chuveiros que inundam as esquinas com banhos de ervas prenhes da sabedoria ancestral dos pajés e curandeiros. No segundo andar do prédio, é instalada um ponto de acesso à Rede Social, 6 rede costuradas balançam abraçadas ao som de chocalhos feitos de tampas de garrafa pet. Completam a exposição um conjunto de três ocas móveis, onde é promovido um apitaço com sonoridades da floresta no meio do caos da selva urbana, e a DiscoOka, um ambiente envolvente karaoke tupy total que reverbera os antigos rituais de dança e cantoria na eletricidade de um mundo hiperconectado.

 

Lançamento da camisa educação nº 71 por Ernesto Neto e exposição de 27 de março a 03 de junho.

Coleção Fundação Edson Queiroz

A Casa França-Brasil, Centro, Rio de Janeiro, RJ, apresenta a exposição “VIRAGENS: arte brasileira em outros diálogos na coleção da Fundação Edson Queiroz”. Construída há mais de três décadas com obras de variados períodos da arte brasileira, esta coleção caracteriza-se por ser uma das mais importantes do país, e encontra-se sediada na Universidade de Fortaleza, no Ceará. Curadoria de João Paulo Quintella, Laura Consendey, Marcelo Campos e Pollyana Quintella e expografia de Helio Eichbauer.

 

A proposta é construir diálogos múltiplos que perpassam alguns capítulos da arte brasileira com obras desde 1913, como a emblemática pintura de Lasar Segall, “Duas amigas”, até os anos 1980. A exposição é constituída por núcleos que apresentam abordagens mais amplas do que os convencionais movimentos e cronologias da história da arte, identificando obras que se relacionam às discussões da forma, aos referenciais da cultura, aos interesses psicológicos e a outros atravessamentos possíveis, observando não só a influência de um artista sobre seus sucessores, mas, antes, as evidências de que arte e sociedade são indissociáveis.

 

Dentre os 43 artistas participantes, constam nomes como Abraham Palatnik, Alfredo Volpi, Amilcar de Castro, Anita Malfatti, Antonio Bandeira, Antonio Gomide, Bruno Giorgi, Candido Portinari, Cícero Dias, Danilo Di Prete, Emiliano Di Cavalcanti, Ernesto de Fiori, Flávio de Carvalho, Frans Krajcberg, Franz Weissmann, Guignard, Hélio Oiticica, Hercules Barsotti, Hermelindo Fiaminghi, Iberê Camargo, Ione Saldanha, Ismael Nery, Ivan Serpa, José Pancetti, Judith Lauand, Lasar Segall, Lothar Charoux, Luiz Sacilotto, Lygia Clark, Maria H. Vieira da Silva, Maria Leontina, Maria Martins, Maurício Nogueira de Lima, Milton Dacosta, Mira Schendel, Rubem Valentim, Samson Flexor, Sérgio Camargo, Sérvulo Esmeraldo, Tomie Ohtake, Vicente do Rego Monteiro, Victor Brecheret e Willys de Castro.

 

A exposição também prevê um ciclo de falas com pesquisadores voltados para as questões da arte moderna brasileira.

 

 

De 25 de março a 25 de junho.

Retratos de Assis Horta

O Espaço Cultural BNDES, Centro, Rio de Janeiro, RJ, abriu ao público a exposição “Assis Horta: Retratos”, com mais de 200 fotografias em preto e branco em diversos formatos, do fotógrafo mineiro Assis Alves Horta, que se tornou uma referência ao registrar os primeiros retratos de operários legalmente registrados no Brasil, pela recém-criada carteira de trabalho, em 1943.

 

Assis Horta tem 99 anos e possui um acervo que contempla também cenas do patrimônio histórico nacional. A curadoria é do pesquisador Guilherme Rebello Horta, que revelou a raridade e importância deste acervo fotográfico em uma série de exposições já apresentadas em Ouro Preto, Diamantina, Tiradentes e Belo Horizonte, e em Brasília. A exposição, que chega agora ao Rio de Janeiro, é o desdobramento do projeto vencedor do XII Prêmio Marc Ferrez de Fotografia da FUNARTE – “Assis Horta: A Democratização do Retrato Fotográfico através da CLT”.

 

Guilherme Horta, que apesar do sobrenome, não é parente de Assis Horta, conta que a partir de 1° de maio de 1943, com a criação da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), milhares de trabalhadores precisaram tirar seus retratos para a carteira profissional – talvez em seu primeiro contato com uma câmera fotográfica. “A fotografia, que até então se destinava a retratar a sociedade burguesa, começou a ser descoberta pela classe operária. O retrato entrou na vida do trabalhador: realizou sonhos, dignificou, atenuou a saudade, eternizou esse ser humano, mostrou sua face”, destaca o curador. Assis Horta manteve estúdio fotográfico em Diamantina entre as décadas de 1940 e 1970, registrando em chapas de vidro praticamente toda a sociedade diamantinense da época. Seu acervo fotográfico de retratos da classe operária brasileira representa um corte nessa nova possibilidade da fotografia no Brasil e é o objeto dessa exposição, que decifra a gênese do trabalhador brasileiro legalmente registrado.

 

Para que o público conheça a potência da obra de Assis Horta, a exposição conterá três módulos. O primeiro módulo é representado pelo Decreto Lei que instituiu o uso da Carteira de Trabalho (CTPS), e os primeiros retratos 3×4 com data. As fotografias são impressas em papel fine art, e montadas em molduras de madeira sem vidro. Em seguida, o visitante encontrará um confronto entre a fotografia de identidade civil e o retrato como gênero artístico. Por fim, na terceira parte, serão apresentadas imagens do trabalhador no estúdio fotográfico. Sozinho, com os amigos ou com a família, o operário brasileiro, que já havia ganhado sua identidade de cidadão, adquiriu sua dignidade e imortalidade por meio do retrato fotográfico.

 

A mostra terá uma parte interativa: uma reprodução do antigo estúdio fotográfico “Foto Assis” permitirá ao visitante interagir com a exposição, fazendo suas próprias imagens (ou selfies) nos mesmos moldes das antigas, revivendo todo o cenário e o clima das fotografias de Assis Horta. Ao lado, vitrines com materiais do estúdio original: filmes, câmera e materiais de laboratório vão mostrar o processo de trabalho de Assis Horta. Por fim, haverá uma fotografia em grande formato, mostrando em 360 graus a cidade mineira de Diamantina, onde ficava o estúdio do fotógrafo.

 

 

Até 05 de maio.

Arte contemporânea angolana

A Caixa Cultural Rio de Janeiro, Centro, Rio de Janeiro, RJ, apresenta, na Galeria 3, a exposição “Daqui pra frente – Arte contemporânea em Angola”, com obras de três artistas da novíssima geração do país: Délio Jasse, Mónica de Miranda e Yonamine. Com a curadoria de Michelle Sales, a mostra exibe fotografias, vídeos e instalações, fazendo um mapeamento da fronteira estética entre a Angola de hoje e as imagens submersas e muitas vezes escondidas de um passado colonial recente. O projeto tem patrocínio da Caixa Econômica Federal e Governo Federal.

 

“A representação da fronteira, excessivamente recorrente no pensamento atual, discute as trocas culturais que ocorrem na situação de pós-independência que muitas das ex-colônias vivem hoje. “Na maioria das vezes, tais territórios são encarados como esquecidos, vigiados e vazios”, comenta a curadora Michelle Sales.

 

É justamente essa perspectiva que o trabalho dos artistas busca problematizar e questionar sob diferentes óticas. As obras de DélioJasse, por exemplo, consistem, num embate direto de referências que fazem alusão à crise de todo o modelo colonial e seus desdobramentos contemporâneos: guerra, exílio, perdas. Através do retrato de rostos escavados numa antiga feira de antiguidades de Lisboa, Délio nos coloca frente a frente com aquilo que mais as práticas coloniais se ocuparam de apagar: as identidades.

 

Já Mónica de Miranda mostra os pedaços de uma memória coletiva que resiste no tempo. Angolana da diáspora, seu trabalho atravessa diversas fronteiras e esboça uma paisagem de identidades plurais inspiradas pela própria existência e vivência de uma artista itinerante. Sua poética autoral e autorreferencial, inerente a uma geração que cresceu longe de casa, já lhe rendeu diversos prêmios internacionais.

 

E o trabalho de Yonamine remete à arte urbana, usando referências que vêm do grafite, da serigrafia e da pintura, num embate violento com o acúmulo cultural do caótico cenário político-econômico de Angola. A alusão ao tempo presente é recorrente na utilização de jornais como suporte. São muitas camadas históricas que se somam, produzindo imagens profundamente perturbadoras e desestabilizadoras. O artista fala de um país cujo passado foi sistematicamente apagado, seja pela Guerra Civil, pela ocupação russa, cubana e agora chinesa e coreana.

 

 

Até 14 de maio.