Baravelli, a retrospectiva

02/abr

A partir de 11 de abril, a retrospectiva de Luiz Paulo Baravelli pode ser conferida na Galeria Marcelo Guarnieri, Jardins, São Paulo, SP.

 
Aos 72 anos de idade e cinco décadas de intensa produção, Luiz Paulo Baravelli é um artista que opta pelo método distinto do caminho da sensibilidade. Suas obras feitas de idas e vindas, como em “emaranhados”, dialogam com a arquitetura – seu campo de formação – com a figura do corpo feminino, a poesia de W. H. Auden, e, sobretudo, com o espírito de contestação – poética – que compõe o cenário de um possível pós-modernismo

 
Foi na cidade de São Paulo, como aluno e parceiro de Weslley Duke Lee, que formou, ao lado de nomes proeminentes como Carlos Fajardo, Frederico Nasser e Jose Rezende, a Escola Brasil. Além da crítica à produção da época, destacavam a produção artística como experiência de ensino, reavaliando movimentos importantes e contemporâneos como a Pop Art e o Tropicalismo.

 
“Analisar os cinquenta anos de produção nos leva a reflexão sobre as mudanças globais ocorridas ao longo desse período, e, também, nos faz refletir sobre como esse conjunto de obras dialoga conosco no tempo presente”, conta o curador e marchand Marcelo Guarnieri.

 
A ênfase da retrospectiva de São Paulo recai sobre o trabalho de pintura do mestre. Autoafirmando-se como um pintor, mesmo no trabalho das peças tridimensionais, a abordagem concilia as três dimensões com o pictórico.

 
Para a individual de São Paulo, serão apresentadas 60 obras, entre 10 pinturas/recortes e 50 croquis e desenhos dos anos 60 até os dias atuais, que serviram de base para as respectivas obras expostas. Trabalhando de madrugada em seu atelier – parando, apenas, quando o dia começa – o recorte faz jus à fama de incansável artista que Baravelli carrega. Antes de produzir qualquer obra em relevo, executa vários esboços, croquis, e faz extensa pesquisa de materiais. Sua sensibilidade é a do tempo, incluindo aí a paciência de se “perder”, horas a fio, no labirinto da criação, no qual a forma e a vida não se separam. Sua obra é um testemunho que ultrapassa um começo e um fim, uma narrativa linear, para que possamos enxergar sinais de dentro, como a luz da noite.

 
“Para um visitante que não conheça meu trabalho esta exposição pode trazer uma perplexidade. A variedade do trabalho é enorme e, sem consultar as etiquetas, é difícil adivinhar as datas em que as obras foram feitas. Penso uma explicação que pode ser redutiva, mas serve para começar: lá atrás, no começo da década de 60 me propus a ter uma sensibilidade em vez de ter um método. Naquela época predominava aqui o concretismo, com suas regras, rigores e tabus. Visitando as exposições deles eu pensava: o que estas artistas fazem quando não estão pintando? Será que andam na rua, olham para as pessoas e as coisas? Por que isso não aparece no trabalho? Porque não enfrentam o mundo em sua riqueza e complexidade em vez de se confinar a uma clausura árida e metódica?”, reflete Baravelli sobre o seu trabalho.

 

 
De 11 de abril a 09 de maio.

Catunda no Galpão Fortes Vilaça

01/abr

A nova exposição de Leda Catunda no Galpão Fortes Vilaça, Barra Funda, São Paulo, SP, apresenta pinturas, gravuras, aquarelas, colagens e esculturas, além de um papel de parede estampado desenvolvido especialmente para a mostra. Com o título “Leda Catunda e o gosto dos outros”, a artista traz para o corpo de suas obras um apanhado de referências pop em que questiona conceitos de beleza, exotismo, o bom e o mau gosto.

 

 
Catunda frequentemente analisa o poder exercido pela cultura pop de converter imagens e objetos em signos de status social e pertencimento. Debruça-se, portanto, sobre o gosto das pessoas e suas relações com conforto, identificação e consumo. Ela se apropria de objetos do cotidiano (em geral toalhas, cobertores e roupas), separando-os por temas ou semelhanças, e então realiza interferências que lhes atribuem novas cores, volumes e texturas. Não escapam ao seu olhar a morbidade das camisetas de rock (presentes nas pinturas Botão e Botão II), a objetificação da mulher na publicidade (em MG – Mulheres Gostosas), a profusão das selfies de férias (em Indonésia), os locais exóticos idealizados pelo universo do surfe (na série Ásia).

 

 
Os conceitos de bom gosto e de belo, tão rígidos outrora, são assumidos  pela artista como parâmetros dinâmicos na sociedade contemporânea, diluídos em valores que eventualmente englobam o kitsch e o cafona. Leda Catunda, sensível a essas mutações, procura reconhecer esse novo belo presente no gosto dos outros e assim identificar a ânsia desenfreada do indivíduo de ver-se representado em uma imagem.

 

 
Todas as obras da exposição foram realizadas tomando por base a estrutura dos desenhos no papel de parede. São padrões que, na prática da artista, geralmente surgem nas aquarelas, multiplicam-se nas gravuras e ganham corpo em pinturas e esculturas. O papel de parede, por sua vez, age como síntese do seu vocabulário particular, marcado por contornos arredondados e macios. A exposição contempla todos esses suportes, sendo possível observar, por exemplo, a gravura Drops transfigurar-se nas pinturas da série Borboleta. Com esse diálogo, Catunda explicita o sentido de unidade entre as diversas linguagens desenvolvidas ao longo de sua trajetória.

 

 

 

 
Sobre a artista

 

 
Leda Catunda nasceu em São Paulo em 1961, cidade onde vive e trabalha. Entre suas exposições individuais, destaca-se a mostra Pinturas Recentes, no Museu Oscar Niemeyer (Curitiba, 2013) e que itinerou também para o MAM Rio (Rio de Janeiro, 2013); além de Leda Catunda: 1983-2008, mostra retrospectiva realizada na Estação Pinacoteca (São Paulo, 2009). Uma das expoentes da chamada Geração 80, a artista esteve nas antológicas Como Vai Você, Geração 80?, Parque Lage (Rio de Janeiro, 1984); e Pintura como Meio, MAC-USP (São Paulo, 1983). Sua carreira inclui ainda participações em três Bienais de São Paulo (1994, 1985 e 1983), além da Bienal do Mercosul (Porto Alegre, 2001) e da Bienal de Havana (Cuba, 1984). Sua obra está presente em diversas coleções públicas, como: Instituto Inhotim (Brumadinho); MAM Rio de Janeiro; Fundação ARCO (Madrid, Espanha); Stedelijk Museum (Amsterdã, Holanda); além de Pinacoteca do Estado, MAC-USP, MASP, MAM (todas de São Paulo).

 

 

 

 

 
De 11 de abril a 23 de maio.

Polípticos de Bruno Veiga

31/mar

A nova exposição individual de Bruno Veiga, “Polípticos”, acontece na Galeria da Gávea, Rio de Janeiro, RJ, traz uma reflexão sobre Brasil contemporâneo e texto de apresentação de Iatã Cannabrava. Desdobramento de um processo de observação que começou nas eleições de 2014, a exposição é composta por fragmentos de imagens dos candidatos com as quais cidadãos cariocas foram obrigados a conviver diariamente durante o período eleitoral do ano passado. Nos banners pelas ruas, os retratos mostravam olhares e sorrisos muito semelhantes, uma consequência direta da supremacia da estratégia publicitária sobre diferenças políticas. Os cartazes eram muito parecidos e, ao mesmo tempo, tão distantes quando registrados em macrofotografia, técnica usada pelo fotógrafo neste trabalho.

 

Segundo Bruno Veiga, uma das ideias da exposição é chamar atenção para os detalhes que o olho humano não vê, como as retículas que formam a impressão de uma imagem digital. “É importante não ignorar o fator político. Faço uma reflexão sobre a tendência, desde a queda do Muro de Berlim, da convergência das práticas dos partidos da centro-direita até a centro-esquerda e o consequente aumento da percepção pelo cidadão de que ‘os políticos são todos iguais’, ponto de vista com o qual eu não concordo. Optei então por discutir essa realidade por meio de jogos de profundidade e da plasticidade, um caminho mais subjetivo”.

 

 

Sobre o artista

 

Bruno Veiga tem 13 individuais no currículo, entre elas Paisagem Blindada (2013, Galeria da Gávea, Rio de Janeiro), Território Suburbano (2013, Parque das Ruínas, Rio de Janeiro), Garagem Hermética (2013, FotoRio, Centro Municipal de Arte Helio Oiticica, Rio de Janeiro) e Pedras Portuguesas (2010, Galeria da Gávea, Rio de Janeiro), para citar as mais recentes. Sua trajetória como fotógrafo começou nos anos 80, com trabalhos para os jornais O Globo e Jornal do Brasil, e seguiu nos anos 90 na Agência Tyba, como freelancer. Já em 1995, abriu a Strana Agência Fotográfica. Suas obras podem ser encontradas em coleções do Brasil e exterior, como a Maison Européene de la Photographie, de Paris, o Instituto Itaú Cultural, de São Paulo e no MAM-RJ.

 

 

Até 15 de maio.

Cores na SIM galeria

A dinâmica SIM galeria, Curitiba, PR, apresenta a exposição individual de pinturas de Rafael Alonso com “Calça de ginástica” e curadoria de Felipe Scovino.

 

 

A palavra do curador

 

Calça de ginástica: ontem e hoje

 

Nesse universo onde se mistura saúde e disciplina com o corpo, o artista expõe de forma crítica o consumo desmensurado da sociedade. Há um certo descarte e rapidez no uso desses tênis, calças e shorts. E essas características de certa forma são deslocadas para uma pincelada rápida e veloz que Alonso aplica sobre as telas. Se a indústria da moda vende seus produtos como algo que reflete um despojamento, um bem-estar consigo mesmo, as pinturas de Alonso convergem para um ponto distante: comportam-se de forma estranha a esse corpo disciplinado. São exageradamente coloridas e em alguns momentos ressaltam ou ampliam marcas ou símbolos que estavam camuflados, entre outros tantos, e que são encontrados em bermudas ou em tênis de corrida multicoloridos.

 

Estas pinturas repousam sobre um terreno em que são estimulados sentidos contraditórios, porque se há uma aversão por conta de um estímulo cromático que causa um certo choque no uso de cores muito díspares em seu conjunto, por outro lado esse mesmo sistema estimula um jogo óptico que possui um acento Pop e afirmo não apenas por uma trama de cores e formas que o aproxima desse universo mas substancialmente pelo caráter corrosivo do Pop e principalmente pelos acentos irônico e, como já dito, debochado.

 

O trabalho de Alonso oxigena o estado da pintura contemporânea, numa cena em que muitas vezes penso estar inchada de “novos” valores, métodos ou estratégias, todos eles, claro, bem questionáveis. Como um cronista contemporâneo, seu trabalho expõe as incongruências da sociedade, experimenta outros campos de atuação para a cor ao mesmo tempo em que não retira a pintura do seu modelo crítico de refletir sobre o seu tempo e lugar.  (Felipe Scovino).

 

 

De 31 de março a 02 de maio.

No Centro de Artes Hélio Oiticica

O Centro de Artes Hélio Oiticica, Centro, Rio de Janeiro, RJ, apresenta a exposição panorâmica “Osmar Dillon – não objetos poéticos”, composta de objetos, desenhos e documentos do artista Osmar Dillon produzidos entre 1959 e 1972. A curadoria é de Izabela Pucu com a colaboração do pintor Roberto Feitosa.

 

 
Revisão histórica

 
O Centro de Artes Hélio Oiticica apresenta uma singela exposição do arquiteto, artista e poeta Osmar Dillon (Belém, 1930-RJ, 2013), cuja obra integrava poesia e pintura resultando em trabalhos categorizados como livros-poemas e não objetos verbais. Vivendo no Rio na época da eclosão do Neoconcretismo, participou das Exposições de Arte Neoconcreta de 1960 e 1961, fundamentais para os posteriores desenvolvimentos artísticos brasileiros.

 
Embora tenha se ligado ao movimento e estado presente nestes eventos, Osmar Dillon, que parece ter sido um homem discreto, não alcançou a mesma notoriedade dos colegas Lygia Clark, Lygia Pape e Hélio Oiticica, ou Ferreira Gullar, cuja obra poética-plástica veio acompanhada de um discurso conceitual sofisticado que gerou a “Teoria do não objeto” (1960).

 
Esta exposição procura contribuir para o reposicionamento da obra de Dillon na história da arte brasileira do século XX, apoiando-se em uma pesquisa correta e reunindo trabalhos e projetos executados entre 1960-73, sendo alguns praticamente inéditos. Como aponta a curadora Izabela Pucu, as obras reunidas mostram o interesse de Dillon na relação entre palavra e visualidade. A curadoria, construída em parceria com o companheiro de vida do artista, Roberto Feitosa, dá ao conjunto um ar sutilmente amoroso e despojado, evidenciado logo no início do percurso com uma carta de Feitosa sobre/para Dillon, datilografada em papel amarelado e emoldurada. Ali ficamos sabendo que o artista era um homem muito criativo, de bons amigos e reservado, desinteressado em self-marketing e networking — o que explicaria de certo modo a pouca visibilidade que sua obra recebeu nas últimas décadas.

 
A exposição, que é curta, tem trabalhos formalmente curiosos, agradáveis e bem literais no sentido de se quererem entender como literatura, imagem e desenho. Dillon, formado em arquitetura em 1954, testemunhou o desenvolvimento da arte concreta e do design no Brasil, e tais referências são marcantes no conjunto de não objetos e livro-poemas selecionados.

 

 
A FRUIÇÃO DO TOQUE

 
Fica claro que estas obras tridimensionais feitas em madeira, papel, ferro, espelho ou acrílico, participativas ou não, expressam imagens que se completam pela matéria e sua forma, em uma pesquisa artística consonante com discursos da arte dos anos 1960-70. Bons exemplos são a escultura-poema-objeto “Arte e Sopro” (1960-1961) e o totem “Boca-Eco/Sexo-Ovo” (1970). É possível tocar em vários dos trabalhos, com e sem a orientação de um monitor, sendo essencial para a fruição dos livros-poema especialmente.

 
A mostra termina em uma sala grande com alguns desenhos e uma tela da série Devorantes, de 1969, todos de inspiração surrealistas, que não chegam a despertar grande interesse por aparentarem ser uma amostra muito pequena do que foi uma grande pesquisa do artista. Neste espaço também se encontram os desenhos/projetos da série “Estudo para um Monumento Vivencial I, II e III” (1961-1970) que dialogam de modo complexo com o horizonte e a arquitetura da recém inaugurada Brasília. Em uma parede, documentos e artigos de jornal ajudam a contar a trajetória de Dillon entre os anos 1960-70, assim como um pouco do cenário da arte de vanguarda do período.

 
Ao lado desses registros, quinze poemas do artista, datilografados em papel amarelado e emoldurados, encerram o percurso de modo tocante. São composições muito simples e ritmadas, que de certa maneira concentram o pensamento que dá corpo aos trabalhos tridimensionais. Finda a visita fica a sensação de que Osmar Dillon ainda tem muito para ser estudado e exibido, sendo este só um primeiro passo, pequeno e importante, para uma revisão mais ampla de sua obra poética.
Fonte/texto: Daniela Labra/O Globo/Rio Show.

 

 
Até 23 de maio.

Volpi, uma homenagem

O pintor Alfredo Volpi é o tema de uma exposição panorâmica que leva seu sobrenome: “Volpi, uma homenagem”. A mostra é composta de 23 obras, sendo cinco delas inéditas, cartaz do Paulo Kuczynski Escritório de Arte, Cerqueira César, São Paulo, SP. A exibição apresenta – com seleção de trabalhos feita pelo marchand Paulo Kuczynski -, abriga paisagens, fachadas, figuras de santos e composições abstratas produzidas entre os anos 1930 e 1960. Obras que nunca foram exibidas poderão ser vistas na exposição, fazem parte de três fases do artista: uma marinha de Itanhaém do final da década de 30, uma fachada de casas da década de 50, os santos São Benedito e Santa Luzia do início dos anos 60, e uma composição de bandeirinhas do final dos 1960. A curadoria é de Paulo Venâncio Filho e o projeto expográfico traz a assinatura de Pedro Mendes da Rocha.

 

 

 

A palavra de Paulo Kuczynski

 

 

“Há anos planejo esta mostra. Foquei minha procura por obras que revelassem a linha evolutiva de Volpi, naquele que é considerado o melhor período do artista, que abrange o início dos anos 1930 a 1940, quando ele se concentra em suas notáveis marinhas e paisagens, passando pela década de 1950, com suas famosas fachadas e início do abandono da perspectiva, e os anos 1960, quando, com tão poucos elementos, ele cria uma abstração única na pintura.”.

 

 
Até 08 de maio.

Manzoni em São Paulo

O MAM – Museu de Arte Moderna de São Paulo, Parque Ibirapuera, Portão 3, São Paulo, SP, apresenta exposição significativa de Piero Manzoni, provavelmente o mais importante artista da Itália, e também da Europa, do pós-guerra.

 
Em sua breve trajetória artística de pouco mais de seis anos – Manzoni morreu em Milão em 1963 aos 29 anos -, produziu uma obra radical que ainda continua a surpreender e influenciar a arte e os artistas contemporâneos. Foi também um artista que procurou contatos e conexões com outros artistas e grupos, em especial o Grupo ZERO, buscando rearticular as vanguardas europeias do final dos anos 1950.

 
Fundou revista e galeria, e sua influente presença agiu, na época, além da Itália, na Alemanha, Dinamarca, Holanda e França. Seu agudo conceitualismo irônico que se revela em um trabalho – hoje icônico – como “Merda de Artista”, renovou uma tradição derivada de Marcel Duchamp e do Dadaísmo.

 
O artista foi considerado um pioneiro pesquisador de novos materiais sintéticos que utilizou na sua importante série de trabalhos monocromáticos intitulada de “Achromes”. Manzoni, mais que qualquer outro artista, representa a jovem vitalidade que buscava novas direções para a arte numa Itália e Europa culturalmente traumatizadas pela Segunda Guerra Mundial.

 
Esta breve mostra no Museu de Arte Moderna de São Paulo apresenta um resumo compreensivo da fase “clássica” de sua obra; desde os primeiros “Achromes” até suas últimas obras, passando por aquelas que hoje são consideradas exemplos do espírito radical das vanguardas europeias dos anos 1950/60.

 

 

 

De 08 de abril a 21 de junho.

Sergio Rodrigues em Milão

27/mar

A LinBrasil levará a Milão, Itália, nos meses de abril e maio a mostra “Tributo a Sergio Rodrigues”, uma homenagem ao grande mestre do mobiliário moderno brasileiro. Serão 15 móveis projetados pelo arquiteto e designer carioca, entre eles os mais icônicos, tais como sua primeira criação, o banco “Mocho”, de 1954, releitura de um exemplar do design vernacular brasileiro; a “Poltrona Mole” (Sheriff), de 1961, sua peça mais conhecida internacionalmente; a “Cadeira Kilin”, de 1973, exemplo da simplicidade construtiva que o caracterizou; e a “Poltrona Diz”, de 2002, um projeto da sua plena maturidade, apenas em madeira, que permite um extremo conforto ao usuário.

 
A exposição vai inaugurar em 14 de abril na Università degli Studi di Milano, à Via Festa del Perdono, 7.

 
A participação na semana de design de Milão obedece à estratégia da LinBrasil, editora licenciada de móveis projetados por Sergio Rodrigues, de fazer um tributo ao trabalho do mestre. O objetivo é promover o reconhecimento internacional não só de seu legado tangível de projetos realizados ao longo de 60 anos de atividades contínuas no design de móveis e na arquitetura, mas também de seu legado intangível como fonte de inspiração para a nova geração do design contemporâneo brasileiro que se orgulha de suas raízes culturais e não tenta mimetizar a linguagem internacional.

 
Em vez de optar por um local próprio, Gisèle Pereira Schwartsburd, CEO da LinBrasil,  desta vez decidiu se juntar ao evento Brazil S.A., que promove coletivamente empresas e criadores brasileiros e que este ano não se limitará ao período do Salão do Móvel.

 
Estabelecida em Curitiba, a LinBrasil se dedica exclusivamente à obra de Sergio Rodrigues (1927-2014), realizando parcerias com indústrias selecionadas para a produção. Muita atenção é dada à qualidade de fabricação, que segue os moldes e modelos originais e passou a incorporar o emprego de máquinas CNC de última geração aliado ao acabamento manual. Atenta à questão da utilização sustentável e apropriada da madeira, Gisèle optou pela utilização de tauari, madeira que tem o seu uso na indústria moveleira incentivado pelo Ibama, nas peças destinadas ao mercado brasileiro e sul-americano. Nos móveis destinados ao Hemisfério Norte, a escolha recaiu sobre a faia, pois, por ser de lá originária, essa espécie se comporta de forma mais estável frente às variações climáticas dos países do Norte. A empresa exporta para vários locais, especialmente Estados Unidos, Europa e Ásia.

 
A LinBrasil foi criada pela empreendedora Gisèle Pereira Schwartsburd, paulista radicada em Curitiba. Vinda de uma família de moveleiros e até então dedicada à dança, ela teve a ideia de criar a empresa em 1999, ao visitar uma exposição num shopping no Rio de Janeiro. “Há muito tempo eu não via ao vivo as poltronas de Sergio Rodrigues. Me reencantei com a sua brasilidade, a cultura brasileira inserida em um móvel de desenho moderno, a madeira maciça, os encaixes, as linhas curvas e sensuais. No entanto não havia nenhum lugar em que eu pudesse comprar suas criações. O mercado estava dominado naquele momento pelo design globalizado, e a genialidade do mestre estava inacessível”, relata Gisèle.

 
Peças que serão exibidas:

 
Banco Mocho, 1954; Cadeira Lucio, 1956; Poltrona Oscar, 1956; Poltrona Beto, 1958; Cadeira Cantu, 1958; Cadeira Cantú Alta, 1959; Poltrona Mole (Sheriff), 1961; Poltrona Moleca, 1963; Poltrona Beg, 1967; Poltrona Kilin, 1973; Poltrona Daav, 1983; Poltrona Katita, 1997; Banco Sonia, 1997; Banco de bar Nine, 2000 e Poltrona Diz, 2002.
 De 14 de abril a 24 de maio.

Rodrigo Matheus : Atração

A Galeria Fortes Vilaça, Vila Madalena, São Paulo, SP, apresentar “Atração”, a nova exposição de Rodrigo Matheus, com esculturas inéditas construídas a partir da associação entre objetos domésticos e peças industriais encontrados em diversas lojas da cidade de São Paulo. Ao unir em um só corpo materiais de natureza genérica, as obras invertem a lógica industrial da produção em massa, assim como as noções primárias sobre forma e função.

 
Rodrigo Matheus ativa o espaço da galeria de diversas maneiras: com  obras se erguendo do chão, penduradas no teto, suspensas, ou correndo ao longo das paredes − o que confere à mostra um caráter “instalativo”. Um exemplo é a obra “Abraço”, onde folhas e galhos de plantas artificiais são organizados em linha reta nas paredes. Esta instalação leva ao limite as relações entre construção e natureza ao atribuir qualidades arquitetônicas a elementos supostamente orgânicos.

 
Flauta reforça a ideia de ritmo com o qual cada peça se insere no espaço. Trata-se de uma pilha de objetos que se ergue até o teto, composta por uma mesa Saarinen, um barril, uma lâmina circular, um prato de bateria, um trompete, entre outros elementos. Sua construção depende de coincidências industriais entre medidas, resistência e forma. Através dela, o artista discute o caráter distópico do design moderno − hoje amplamente copiado e vendido no mundo inteiro em lojas como Ikea ou Tok&Stok. Os objetos que compõe Terra à Vista, por sua vez, são cabos, elásticos, âncoras e roldanas fixadas no teto. Peso e tensão configuram um desenho no espaço e alteram de maneira bem humorada a personalidade das peças que compõe o arranjo.

 
Com “Brise”, o artista cria uma espécie de  monumento com pequenos módulos de vidro e plástico. Em sua função original, essas estruturas seriam usadas como mostruários para exposição de produtos em lojas, mas no trabalho de Matheus tornam-se o próprio assunto. Evidencia-se aí o interesse do artista em dar destaque a elementos que, na tradição da arte e do design, são pensados para serem apenas suportes. Na inversão da lógica presente no trabalho de Matheus, a base já é a escultura.

 
As esculturas de “Atração” reafirmam o interesse do artista por temas como a natureza da representação, design, artificialidade. O arranjo preciso entre as partes que compõe cada trabalho provoca um jogo de relações inesperadas, que levam em conta suas qualidades inerentes, o circuito social e as relações de poder presentes  em cada componente da mostra. Através dessas articulações, Rodrigo Matheus aponta para o potencial poético e estético de objetos banais que, uma vez livres de função, revelam novas possibilidades de sentido e compreensão para além do que foram concebidos.

 

 
Sobre o artista

 
Rodrigo Matheus nasceu em São Paulo em 1974 e atualmente vive e trabalha em Paris, França. Suas exposições individuais recentes incluem: Coqueiro Chorão, Ibid Projects (Londres, Reino Unido, 2014); Do Rio e para é to Rio and from, Galeria Silvia Cintra + Box 4, (Rio de Janeiro, 2014); Colisão de Sonhos Reais em Universos Paralelos, Fundação Manuel António da Mota (Porto, Portugal, 2013). Suas exposições coletivas incluem: Imagine Brazil, Instituto Tomie Ohtake (São Paulo, 2015) − mostra itinerante originalmente exibida no Astrup Fearnley Museet (Oslo, Noruega, 2013); 3ª Bienal da Bahia, MAM-Bahia (Salvador, 2014); Champs Elyseés, Palais de Tokyo (Paris, França, 2013); 32ª Panorama da Arte Brasileira, MAM-SP (São Paulo, 2011); The Spiral and the Square, Bonniers Kontshall (Estocolmo, Suécia, 2011). Sua obra está presente em importantes coleções, como: Instituto Inhotim (Brumadinho); MAM Rio de Janeiro; MAM São Paulo. Um livro sobre o trabalho de Rodrigo Matheus está previsto para ser lançado no segundo semestre deste ano.

 

 
De 06 de abril a 09 de maio.

Retratos na Galeria Bergamin

A Galeria Bergamin, Jardins, São Paulo, SP, inaugura a exposição coletiva temática “Retratos: the last headline”. A curadoria é de Ricardo Sardenberg e entre os artistas participantes encontram-se obras assinadas por Nan Goldin, Pancetti, Di Cavalcanti, Lorenzato, Monvoisin, Leonilson, Marcos Chaves, Joaquín Torres-García, Alex Katz, Portinari e Guignard. De acordo com o curador, a mostra apresenta “…aproximadamente 50 obras de mais de 40 artistas do século XIX – época do apogeu do retrato como projeção do poder (no caso, a projeção do Império de D. Pedro II) – até os dias atuais..”

 

 

Retratos: the last headline
Texto de Ricardo Sardenberg

 

Não estamos vivendo a extinção das espécies, mas a extinção da espécie humana. A extinção da história, do prazer, do amor e do tempo. O fim de tudo o que somos por dentro: o ser humano vive um processo de extinção interior, antes mesmo de sua extinção no mundo. Também por isso, esse processo é irrefreável. A partir de agora, devemos prestar homenagens a uma era em que se acreditava que o mundo seria eternamente melhor. Não será.

 

O retrato, hoje, é o mausoléu de si. O museu das coisas mortas e passadas. Parece que estamos esperando o último retrato, a última pose, o último olhar antes da extinção. Nossa transitoriedade torna-se evidente quando olhamos qualquer retrato. Já não existe mais o personagem do retratado, aquele que projeta o que acredita ser por meio do olhar, da pose, da indumentária. Assim como o personagem do retratista, tantas vezes afirmado como quem coloca tudo de si em uma obra, também se tornou, no fluxo de tempo, aquele que busca apenas o prazer instantâneo no registro de uma humanidade que, simplesmente, foi esvaziada pela obsessão do consumo. Hoje, ao observarmos um retrato, notamos que ele pode apenas estar despertando a nostalgia de um tempo em que se acreditava na existência de uma cultura. Cultura, no sentido de permanência das experiências em sociedade. Hoje, sabemos que as pessoas se vão. Outrora, guardávamos imagens para nos recordarmos das pessoas; atualmente, por outro lado, o retrato pode revelar uma autoafirmação, confirmando nossa existência vazia, como um corpo extinto por dentro.

 

Retratos: the last headline não é um exposição milenarista em busca do apocalipse. Mas sim uma homenagem em forma de instalação ao instituto do retrato, que cada vez mais passa a ter um sentido de presente fugaz. A instalação consiste na exposição de aproximadamente 50 obras de mais de 40 artistas do século XIX – época do apogeu do retrato como projeção do poder (no caso, a projeção do Império de D. Pedro II) – até os dias atuais, quando sua existência é irônica e efêmera. Nesse processo de passagem do tempo, percebemos senão um rastro das imagens passadas, das tradições dos álbuns fotográficos, e uma certa projeção de nostalgia por aquilo que as próximas gerações deixarão de reconhecer. O retrato é como um repositório da memória de pessoas e momentos especiais no fluxo da vida.

 

Talvez estejamos entronando a abstração conceitual, provando a vitória dos conceitos diante dos sentimentos. Trata-se de um mundo desromantizado no qual até aqueles que amamos são transformados em representações do presente, ou seja, estão ausentes de imagens passadas que devem ser recordadas. Os arquivos digitais de imagens de nossas pessoas mais queridas logo se transformam em arquivos descomunais compostos por milhares de fotos similares. Tais arquivos assemelham-se ao depósito de fotos policiais provindas dos porões de uma ditadura ou dos desaparecidos na guerra.

 

Guardamos uma vaga lembrança do momento em que registramos essas fotos, mas, ao mesmo tempo, são dezenas de imagens cuja pose é a mesma: uma pequena variação da direção do olhar ou um borrão na imagem, resultado da pressa em registrar o instante que depois ficaria esquecido nos porões de um HD externo. O HD externo, e aqui também acho que a “nuvem” é a sua realização em escala global, é o monumento ao esquecimento. E espero que a montagem dessa exposição faça jus ao que está esquecido dentro da caixinha digital, ou pelo menos torne-o visível. Nesse sentido, o retrato deixou de ser um memento.

 

 
Até 30 de abril.