On the road, no IBEU

02/abr

O clássico “On the road”, de Jack Kerouac, é a inspiração da exposição “Na estrada através do espelho”, do artista Jozias Benedicto, que será inaugurada no dia 04 de abril, às 18h30, na Galeria de Arte do IBEU, Jardim Botânico, Rio de Janeiro, RJ, com curadoria de Cesar Kiraly. Misturando artes visuais e literatura, a individual será composta por uma performance com o próprio artista ligada a uma série de pinturas na qual Benedicto tem trabalhado nos últimos dois anos. A performance dará origem a uma videoinstalação sonora site-specific que ficará em exibição na galeria. 

 

Durante a ação, Jozias Benedicto utilizará textos próprios e apropriados, escritos e pintados com tinta saída direto dos tubos sobre telas e outros suportes característicos de pintura. As escritas são invertidas, espelhadas, fazendo com que as palavras se transformem em sinais gráficos de difícil compreensão de sentido por parte dos espectadores.

 

“A partir de palavras escritas sem predeterminação e palavras escritas invertidas, tomei como norte para a performance site-specific um livro chave da literatura americana, o “On the road”, do escritor Jack Kerouac, escrito de forma contínua, como uma escrita automática. A obra trouxe uma inversão dos conceitos, como se tudo escrito após ele, e dos outros autores da sua da chamada “Geração Beat”, passasse a ser lido “ao contrário” da escrita convencional da literatura que os antecedeu”, analisa o artista.  

 

Na abertura da exposição, todas as 200 telas serão geradas por Benedicto, em uma ação ininterrupta, na qual ele estará distante dos espectadores, isolado como um escritor beat. Tendo como base o rolo de telex no qual Jack Kerouac registrou o livro – que mede 36m x 22cm e está exposto em Paris -, o artista irá refazer o percurso do escritor, não em um rolo de papel e sim em um suporte tradicional de pintura. As telas terão 12x18cm em seus chassis, pinturas da série “Através do espelho”, e que, colocadas em linha, chegam ao comprimento do manuscrito original de “On the road”.   

 

Estas pequenas telas serão afixadas à medida que serão pintadas, em uma linha horizontal que eventualmente se bifurca, como uma estrada. Ao fundo, de um cavalete de pintura transformado em uma “máquina sonora”, ouve-se a voz de Kerouac, distorcida, invertida, com a velocidade alterada, contraposta a outras vozes e outros temas da vida do artista.   

 

“A ação é ininterrupta e extenuante. Atividade mental e muscular. Escrevo e pinto incessantemente sobre as telas, sempre da direita para a esquerda, palavras que vem a minha mente, em escrita automática, a partir de minhas leituras prévias do “On the road”, completa Jozias Benedicto. 

 

Com esta exposição, o artista inaugura um novo espaço expositivo na Galeria do Ibeu, ocupando as vitrines na parte externa do local. Serão feitas duas pinturas diretamente sobre a parede, dialogando com a temática da exposição, representando textos do livro “Alice no País do Espelho”, escritos normalmente da esquerda para a direita e espelhados da direita para a esquerda.  

 

Segundo o curador Cesar Kiraly, “sob efeitos da leitura do “On The Road”, do Jack Kerouac, Jozias Benedicto realiza performance em que escreve frases de trás para frente em pequenas telas. A escrita é predominantemente de cor escura e o fundo sobretudo claro. Os suportes são colocados em linha que envolve todas as paredes da galeria. A atmosfera é completada por um cavalete sonoro”.  

 

 

Sobre o artista

 

Jozias Benedicto é escritor e artista visual. Vive e trabalha na cidade do Rio de Janeiro. Nos últimos anos vem desenvolvendo pesquisa com videoinstalações que unem literatura (ficção) e artes visuais (vídeo), trabalho já mostrado em diversas exposições coletivas no Brasil e no exterior.  Teve sua formação artística através de cursos com Ivan Serpa, Anna Bella Geiger, Rubens Gerchman, João Magalhães, Charles Watson e Suzana Queiroga, entre outros.
 
Até 27 de abril.

 

Dias na Paulo Darzé

23/mar

A Paulo Darzé Galeria, Salvador, Bahia, apresenta mostra contendo 16 trabalhos de Antonio Dias, artista que marca profundamente a arte brasileira desde os anos 60 com uma obra exemplar na utilização das mais variadas formas e materiais para criação de ideias estéticas, através de um estilo muito pessoal na depuração de uma poética plástico-visual, o que o tornou um dos mais importantes artistas na arte internacional hoje. Artista de vanguarda, sua atuação marca profundamente a arte brasileira desde os anos 60 com uma obra exemplar na utilização das mais variadas formas e materiais para criação de ideias estéticas, através de um estilo muito pessoal na depuração de uma poética plástico-visual, o que o tornou um dos mais importantes artistas de sua geração e da arte internacional hoje, estando sua obra em várias coleções particulares e acervos de museus, como o de Arte Moderna de Nova Iorque.

 

 

Sobre o artista

 

Antonio Dias nasceu em Campina Grande, Paraíba, em 1944. Muda-se para o Rio de Janeiro em 1958, onde estuda com Oswaldo Goeldi na Escola Nacional de Belas Artes. Sua primeira mostra data de 1962, e em 1964 conquista o Prêmio Isenção de Júri no Salão Nacional de Arte Moderna. Ganha em 1965 o Prêmio de Pintura da Bienal de Paris. Neste ano passa a residir na Europa, em Colônia, Alemanha, alternando daí por diante seu tempo entre o Brasil e a Europa. Antonio Dias tem participação intensa em coletivas e bienais (da Bienal de São Paulo participou várias vezes a partir de 1981), e entre suas exposições individuais mais recentes temos: 1999, Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian (retrospectiva), Lisboa; Galerie Walter Storms, Munique; 2000, Museu de Arte Moderna da Bahia e Museu de Arte Contemporânea de Curitiba (Paraná); 2001, Museu de Arte Moderna de São Paulo.

 

 

Até 20 de abril.

Fotos de Alice Quaresma

21/mar

A Casa Nova, Jardim Paulista, São Paulo, SP, apresenta no dia 24 de março, o projeto solo “Coisas da Vida”, da artista carioca Alice Quaresma. O projeto é inédito e traz como foco o questionamento do movimento e cronologia através da fotografia. Para a sala de projeto solo da Casa Nova, a artista criou um mural fragmentado usando fotografias e paneis coloridos pendurados individualmente criando profundidade e distanciamento entre cada imagem e cor. A instalação permite que o público percorra o trabalho de forma que se surpreendam com a fotografia panorâmica da cidade natal da artista, Rio de Janeiro, ao fundo da sala.
Além disso, o projeto “Coisas da Vida” contemplará seis obras únicas, onde Alice Quaresma cria linhas e marcas gestuais sobre fotografias tiradas no Rio de Janeiro, nos últimos 15 anos. A artista continua investigando os limites da fotografia como um objeto de precisão e verdade. A geometria e marcas gestuais são elementos constantes nos trabalhos da artista, nos quais investiga maneiras de romper com formas representadas nas fotografias. Decisões subjetivas e ocasionais são constantes e aparentes em seus trabalhos, de modo que aproximam suas obras a acontecimentos da vida, trazendo um olhar poético para pequenos encontros e desencontros do dia a dia, criando assim, uma história sem cronologia.

 

 

Sobre a artista

 

Alice Quaresma nasceu no Brasil em 1985 e vive atualmente em Nova York. Possui em seu currículo uma série de prêmios, convites para projetos especiais e residências, incluindo o renomado Prêmio da Foam Talent em Amsterdã. Em 2017, Alice participou de exposições coletivas e individuas na Europa, Estados Unidos e Brasil e integrou um grupo de artistas em duas residências nos Estados Unidos e teve seus trabalhos publicados em revistas, jornais e sites importantes no Brasil, Japão, EUA e Europa. Cursou o MFA no Pratt Institute em 2009 e foi selecionada como umas das vencedoras do prémio PS122 durante o mesmo ano.

 

 

De 24 de março a 21 de abril.

 

Livro na Carpintaria

20/mar

Bárbara Wagner & Benjamin de Burca, realizam o lançamento do livro “Edifício Recife”, no dia 22  de março na Carpintaria, Jardim Botânico, Rio de Janeiro, RJ, promovendo ainda um bate-papo com os artistas e a curadora Lisette Lagnado.

Exposição de Nelson Leirner

14/mar

A Galeria Silvia Cintra + Box 4, Gávea, Rio de Janeiro, RJ, abre seu calendário de 2018 com “A  Nova Revolução Industrial”,  exposição individual de Nelson Leirner. Com curadoria de Lilia Schwarcz, a exposição apresentará ao público nove tapeçarias que foram produzidas manualmente, reproduzindo os projetos do artista, por um grupo de tecelões durante o último ano.

 

A “nova revolução” proposta por Leirner é na realidade uma volta no tempo, quando o mundo não estava dominado pelas máquinas da revolução industrial, e nem pela tecnologia que recentemente inundou nossas vidas, mudando inclusive a forma como nos relacionamos com o tempo. E é exatamente a essa forma de produção artística que Leirner tem se dedicado: o artesanal.

 

As tapeçarias que já foram moda, e atualmente são vistas como algo kitsch, ganham no universo de Leirner uma graça que lhe é peculiar. Uma natureza-morta bordada ganha a companhia de frutas de plástico, partituras em preto e branco saem do papel para virarem um grande tapete, assim como as teclas de um piano. Mas o grande homenageado da exposição é o italiano Alighiero Boetti e seus “Maps of the world”, também uma série de bordados onde o artista suprimia países, alterava fronteiras e criticava todo tipo de jogo político. Desta vez é com ele que Leirner dialoga criando novas versões para o mapa mundi e aguçando e atualizando as tensões e ironias que já eram presentes na obra do italiano. Nas obras da mostra, o mundo aparece ora como um quebra cabeça, ora se desfazendo em fios, com o oriente refletindo o ocidente e também com novas representações territoriais. Todo o processo de feitura das obras também vai estar presente na exposição. Uma vitrine no centro da galeria abrigará as lãs e agulhas usadas pelos artesãos e também uma série de fotos deles trabalhando durante as várias etapas do projeto.

 

É desta forma que Leirner pretende fazer um convite ao espectador para se rebelar contra a aceleração em que estamos vivendo. Ver essas tapeçarias é compartilhar de um tempo bem gasto e pensar no significado simbólico do trabalho manual. Perder tempo também pode ser ganhar.

 

 

 

 

De 17 de março a 21 de abril.

Obras de Krajcberg

A mostra organizada por Márcia Barrozo do Amaral reúne em sua a galeria, no Shopping Cassino Atlântico, Copacabana, Rio e Janeiro, RJ, a partir do dia 15 de março, importantes trabalhos, – muitos deles inéditos -,  de diversas fases artísticas de Frans Krajcberg. São 15 peças produzidas entre os anos 1960 e 1917.

 

A exposição proporciona um rico passeio pela carreira do artista. Entre as raridades, um livro arte de madeira com duas gravuras. Krajcberg produziu apenas 60 destas “caixas”, que hoje estão espalhadas pelo mundo e desmembradas. Um trabalho incomum chama a atenção: uma paleta em tão de azul vai surpreender o público acostumado aos trabalhos do artista em tons terrosos e de vermelho.

 

“Esta exposição é uma forma de homenagear Krajcberg ao apresentar alguns trabalhos nunca antes expostos”, afirma a galerista, que fez questão de apresentar muitas peças da técnica na qual ele era um mestre – relevo em papel. No total, são quatro trabalhos deste tipo, que revelam toda genialidade do artista. O púbico ainda vai poder conferir obras das mais diversas vertentes artísticas, como duas esculturas da famosa série “Sombra”, uma pintura sobre madeira, entre outros trabalhos.

 

“A obra de Frans Krajcberg é tão rica e abrangente, que inclui praticamente todas as técnicas mais conhecidas: escultura, pintura, desenho, litografia e fotografia. Sem contar a que ele desenvolveu e usou ao longo da carreira: o relevo em papel. O exemplo mais impactante desta técnica é quando ele usa a areia, molhada pela água do mar, como matriz destes relevos”, avalia Marcia Barrozo do Amaral.

 

 

Sobre o artista

 

Falecido em novembro de 2017, Frans Krajcberg chegou ao Brasil em 1948, com 27 anos, após ter lutado na 2° Guerra Mundial por acaso.  Chegou ao país sem ter amigos e sem conhecer a língua. E aqui renasceu. “Nasci deste mundo que se chama “natureza”. O grande impacto da natureza foi no Brasil que senti. Aqui eu nasci uma segunda vez. Aqui eu tive a consciência de ser homem e de participar da vida com minha sensibilidade, meu trabalho, meu pensamento. Aqui me sinto bem”, afirmou o artista. Frans Krajcberg viveu em Monte Alegre, no Paraná, onde produziu a série de pinturas denominadas “Samambaias”, em São Paulo, no Rio, sempre trabalhando, sempre criando. Morou em Paris, onde manteve um atelier. Viveu em Ibiza, ali iniciou a série de relevos sobre pedra que lhe valeram o Prêmio de Pintura, na IV Bienal de São Paulo (1957) e na Bienal de Veneza (1964). De volta ao Brasil, Krajcberg se estabeleceu em Minas Gerais, na região de Itabirito e travou conhecimento com os pigmentos naturais de origem ferrosa, que se tornaram marca registrada em seus trabalhos. Foi a época dos relevos em papel, das esculturas em madeira lavada, entre outros trabalhos. Em 1972, mudou-se para Nova Viçosa e construiu a sua “Casa na Árvore” pousada num pequizeiro. Dali partiu inúmeras vezes para Amazônia, para o Pantanal, Marajó, São Luiz, sempre registrando a beleza destas regiões do Brasil, sua grande paixão. Mas, principalmente, denunciando a destruição da natureza, as queimadas, a extinção das tribos indígenas. Como consequência destas viagens, Krajcberg introduziu o fogo na sua obra – é a época das esculturas queimadas, que tanto impacto causaram no público que visitou a exposição de Bagatelle, ponto alto do ano Brasil-França. Frans Krajcberg, além de artista plástico mundialmente renomado, com obras nos mais importantes museus, é excelente fotógrafo.

 

Em suas viagens à Amazônia, ao interior de Minas Gerais e ao Pantanal assistiu cenas chocantes de destruição ambiental. Esses registros feriram tal maneira sua sensibilidade, que estão sempre presentes em suas obras, principalmente nas “esculturas queimadas”. A importância de sua obra no contexto da ecologia mundial é indiscutível. A viagem que fez ao Alto Amazonas com o crítico e filósofo Pierre Restany, quando redigiram e lançaram o “Manifesto Rio Negro”, foi um marco fundamental em seu trabalho: toda sua atenção se voltou para a preservação da natureza. Outro aspecto deste protesto são as fotos – registro vivo da tragédia – cujo impacto é extraordinário. Assim, grande defensor das causas ecológicas, acumulou, ao longo de décadas, um importante acervo de fotografias, reunindo não só imagens da riqueza da flora brasileira, como das agressões por ela sofrida.

 

 

De 15 de março a 06 de abril.

Arnaldo de Melo no Rio

12/mar

No dia 13 de março, Cassia Bomeny Galeria, Ipanema, Rio de Janeiro, RJ, inaugura a primeira exposição individual do artista Arnaldo de Melo no Rio de Janeiro. Com curadoria de Franz Manata, serão apresentadas 15 obras inéditas, dentre pinturas – sobre tela, madeira e papel – e monotipias do artista, que começou sua trajetória em 1979, e já expôs em importantes instituições, como MASP e MAC/USP, em São Paulo; Palácio Das Artes, em Belo Horizonte, Centro Cultural Correios, no Rio de Janeiro, entre outros. Nos últimos anos, artista esteve afastado do circuito das artes, dedicando-se ao mestrado e ao doutorado em arquitetura, mas sem nunca deixar de pintar.

 

As obras que serão apresentadas na Cassia Bomeny Galeria foram produzidas no segundo semestre de 2017 e mostram a mais recente produção do artista, cuja formação artística se deu em Berlim, onde morou entre 1987 e 1990, e em Nova York, onde viveu entre 1984 e 1985, época em que predominava efervescência artística influenciada pelo início da arte de rua e o esplendor de carreiras em rápida ascensão através de linguagens e narrativas imediatistas e espontâneas como a “pop-art”, a “action painting” e a performance. Essa vivência influenciou a sua obra até hoje.

 

“O Arnaldo de Melo pintor é incansável na exploração de meios, formas e suportes para sua representação artística. Suas referências vêm de observações, vivências e introspecção enraizadas em seu atento e curioso olhar desde os primórdios de sua carreira artística”, afirma Tereza de Arruda no texto que acompanha a exposição.

 

 

Obras em exposição

 

Na exposição, serão apresentadas sete pinturas em grandes dimensões, com tamanhos que chegam a 2mX3m, em tinta acrílica sobre tela e madeira, que seguem o expressionismo abstrato. “Arnaldo de Melo bebeu nas duas fontes que originaram esta vertente artística: a intensidade do expressionismo alemão banhado no antifigurativismo das Escolas abstratas da Europa, como o Futurismo, Bauhaus e Cubismo. Devemos considerar que este movimento surgiu nos Estados Unidos e especificamente em Nova York no iníco da década de 50. Ambos contextos foram vivenciados ‘in loco’ pelo artista no início de sua carreira, emanando tentáculos que o influenciam até a atualidade”, ressalta Tereza de Arruda.

 

A exposição também terá cinco pinturas em acrílica sobre papel, uma pintura em acrílica sobre colagem e duas monotipias. “As telas e assemblages, por ele criadas como suporte através da junção e sobreposição de molduras e outros materias com que se depara, recebem um tratamento pictórico semelhante a uma camuflagem a tornar a superfície homogênea através da criação de formas e contornos que se complementam mantendo a abstração como gesto e intenção”, conta Tereza de Arruda.

 

 

 

Influências artísticas

 

O artista sempre enfatiza sua escolha pela pintura gestual a partir de sua inserção no ambiente onde se deu a pintura abstrata-expressionista do imediato pós-guerra, sendo de Kooning, bem como outros artistas ligados a New York School – a exemplo de Jackson Pollock, Robert Motherwell, Franz Kline e Lee Krasner – influencias marcantes em seu trabalho até os dias atuais. Vale lembrar, todavia, que na primeira metade dos anos 1980 as mais potentes galerias de arte de Nova York, cotidianamente visitadas por Arnaldo nos dois anos de sua permanência naquela cidade, exibiam em frenética rotatividade exposições dos pintores neo-expressionistas alemães, italianos e norte-americanos (Baselitz, Lüpertz, Penck, Hödicke, Chia, Clemente, Schnabel, Salle, entre muitos outros) que, exacerbando figurações e temáticas conectadas ao Zeitgeist – vivido e discutido em conjunto com a literatura, a música e as contradições políticas e ideológicas -, também resgatavam os gestos pictóricos e a escala de trabalhos consagrados do abstrato-expressionismo.

 

Nesse sentido, a “ponte” entre a abstração e a figuração estabelecida na pintura de Arnaldo de Melo sempre esteve em constante diálogo, marcadamente pelas influências obtidas nesse seu período de formação. Segundo o artista, interessa-lhe incursões figurativas não como narrativas a substanciar um longo período de trabalho, mas tão somente para abordar situações de um “som ao redor”: uma vez em Berlim, por exemplo, o artista passou cerca de um ano trazendo às telas imagens de imensos Kebaps, estes alusivos à forte presença da comunidade turca na cidade.

 

Para Arnaldo de Melo, a arte lhe serve como um “exercício de liberdade”, daí o cuidado para não se alongar por caminhos que logo poderiam lhe comprometer para além daqueles atinentes à pintura, à sua paleta de cores que incorpora a preferência pelas aguadas e os gestos rápidos mais aproximados de uma “escrita” como, aliás, foi a caligrafia oriental fonte de interesse para os abstrato-expressionistas americanos.

 

 

Sobre o artista

 

Arnaldo de Melo vive e trabalha em São Paulo. Frequenta a Hochschule der Künste Berlin (hoje Universität der Künste), com bolsa DAAD, concentrando-se em pintura sob orientação de Karl-Horst Hödicke (1987-1990). Em período anterior (1984-1985), reside e trabalha com pintura em Nova York. Em 2006, conclui o curso de Arquitetura na Escola da Cidade, em São Paulo. Em seguida, parte para a pós-graduação na FAU-USP em História e Fundamentos da Arquitetura e do Urbanismo concluindo, em 2014. Em 2015 é contemplado pelo Prêmio ProAC do Governo do Estado de São Paulo. Dentre suas exposições individuais destacam-se se “West-Berlin 1987-199: trabalhos sobre papel (2017), Sé Galeria, São Paulo”, “Círculos Urbanos” (2016), Phosphorus, São Paulo; a exposição no Palácio das Artes (1994), Belo Horizonte; “Selecionados do Centro Cultural São Paulo” (1992), Fundação Bienal, São Paulo; as mostras no Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (1992) – MAC/USP, e na Galerie Röpke (1990), Berlim, entre outros. Dentre suas exposições coletivas estão “A Arte que Permanece – Coleção Chagas Freitas” (2014), no Museu Nacional dos Correios, Brasília e Centro Cultural dos Correios, Rio de Janeiro; “Selecionados do Centro Cultural São Paulo” (1991), no Museu de Arte de São Paulo – MASP; “Freie Berliner Kunstausstellung” (1998), Messehallen am Funkturm, West-Berlin; “Salão Nacional de Arte” (1980), FUNARTE, Rio de Janeiro, entre outras.

 

 

Sobre a galeria

 

Cassia Bomeny Galeria (antiga Um Galeria) foi inaugurada em dezembro de 2015, com o objetivo de apresentar arte contemporânea, expondo artistas brasileiros e internacionais. A galeria trabalha em parceria com curadores convidados, procurando elaborar um programa de exposições diversificado. Tendo como característica principal oferecer obras únicas, associadas a obras múltiplas, sobretudo quando reforçarem seu sentido e sua compreensão. Explorando vários suportes – gravura, objetos tridimensionais, escultura, fotografia e videoarte.
Com esse princípio, a galeria estimula a expansão do colecionismo, com base em condições de aquisição, bastante favoráveis ao público. Viabilizando o acesso às obras de artistas consagrados, aproximando-se e alcançando um novo público de colecionadores em potencial. A galeria também abre suas portas para parcerias internacionais, com o desejo de expandir seu público, atingindo um novo apreciador de arte contemporânea, estimulando o intercâmbio artístico do Brasil com o mundo.

Matsutani na Bergamin & Gomide

09/mar

A galeria Bergamin & Gomide, Jardins, São Paulo, SP, exibe “Takesada Matsutani: Selected Works 1972 – 2017″, uma seleta de obras de Takesada Matsutani. Nascido no Japão e membro da segunda geração do grupo Gutai, Takesada Matsutani participou em 2017 da mostra Grafite Works, em Nova York e da 57ª Bienal de Veneza, Itália.

 

Entre as características que marcam a obra de Takesada Matsutani, artista japonês radicado em Paris, está o material utilizado para compor seus trabalhos: a cola de vinil – uma espécie de adesivo de contato de aderência rápida e flexibilidade após a secagem. O artista representa a nova tomada do expressionismo abstrato e estará presente na exposição inédita no Brasil que a Bergamin & Gomide apresenta a partir do dia 03 de março, em parceria com a galeria Hauser & Wirth e organizada com Olivier Renaud-Clément.

 

Em seus primeiros experimentos, Matsutani impregnou a superfície da tela com elementos bulbosos, usando sua própria respiração para criar formas inchadas e rompidas, evocando carne e feridas. A carreira do artista começou nos anos 1960 como membro-chave da “segunda geração” na Gutai Art Association, o inovador e influente coletivo de arte do Japão na pós-guerra. Um dos mais importantes artistas ainda em produção, Matsutani continua a demonstrar o espírito de Gutai, transmitindo a reciprocidade entre o gesto puro e a matéria-prima. Suas pinturas, desenhos e esculturas envolvem temas do eterno e ecoam os intermináveis ​​ciclos de vida e morte.

 

Para a exposição na Bergamin & Gomide, foram selecionadas cerca de 20 trabalhos com grafite, cola de vinil, colagem e acrílico, entre outros materiais, tendo como suporte o papel, a tela e a madeira. Nos últimos três anos, Matsutani realizou as exposições individuais no Manggha Museum of Japanese Art and Technology (Krakow, 2018), na Hauser & Wirth Los Angeles (Los Angeles, 2017), na Hauser & Wirth, Zurique, (Suíça, 2016), no Otani Memorial Art Museum, “Correntes”, Nishinomiya (Japão, 2015) e na Hauser & Wirth New York (Nova York, 2015).

 

Além da exposição na Bergamin & Gomide, Matsutani realizará uma programação paralela na JAPAN HOUSE São Paulo, na Avenida Paulista. Entre 06 e 11 de março, o espaço receberá duas obras do artista, além de performances exclusivas. Uma delas, aberta ao público, será realizada no dia 11 e integrará a programação do evento Paulista Cultural; iniciativa que prevê uma programação especial em diversas instituições da Avenida Paulista, como Casa das Rosas, Centro Cultural Fiesp, Instituto Moreira Salles, Itaú Cultural e MASP. Criada pelo governo japonês em São Paulo, Los Angeles e Londres, a JAPAN HOUSE se propõe a ser um ponto de difusão de todos os elementos da cultura contemporânea japonesa para a comunidade internacional com programação cultural e vivências abertas ao público.

 

Contos Saloméicos

05/mar

No momento em que as questões feministas estão no centro de nove entre dez debates acalorados pelo mundo, a artista visual Ana Luiza Rego abre a exposição “Contos Saloméicos”, onde apresenta sua “Salomé avatar”, fazendo uma releitura contemporânea da polêmica figura bíblica. Coincidentemente, a abertura acontece na data em que é comemorado o Dia Internacional da Mulher, na Galeria Patricia Costa, no Shopping Cassino Atlântico, Copacabana, Rio de Janeiro, RJ, com curadoria de Fernando Cocchiarale. São ao todo nove telas a óleo sobre linho, de grandes e pequenos formatos, onde a narrativa deixa de lado a história bíblica em si, para falar de momentos de solidão, de reflexão, de euforia e poder, numa abordagem com alguns toques de humor. Todas têm nomes femininos, como Sofia, Diana, Isadora… Trata-se de uma Salomé ligeiramente subversiva às convenções sociais ainda vigentes, com uma leitura absolutamente individual e aberta às mais diversas interpretações. A artista ressalta uma curiosidade: Salomé inspirou, por dois mil anos, grandes nomes da Arte, todos masculinos, como Oscar Wilde, Carlos Saura, Strauss, Caravaggio, Regnault, Klimt e Flaubert, entre outros. Seja qual for a interpretação, as obras apresentam composições levadas ao extremo, convidando o olhar do espectador a circular pela superfície da tela, conduzido pelas pinceladas, pela matéria e pelo uso de cor.

 

 

A história de Salomé

 

Salomé era filha de Filipe Antipas e Heródia, que depois deixa o primeiro marido para viver com o irmão deste, Herodes Antipas. Em uma festa em que Salomé dança para Herodes, ele, encantado, diz a ela que pedisse o que quisesse como prêmio, até parte do seu reino. Heródia, no entanto, sentindo-se difamada por João Batista, que pregava para o povo que ela era uma prostituta por ter largado Filipe para se casar com o cunhado, pede a cabeça do evangelizador.

 

Fernando Cocchiarale fala sobre o trabalho de Ana Luiza Rego:

 

“Em 2007 escrevi que as pinturas de Ana Luíza Rêgo essencialmente nunca se afastaram das referências práticas e discursivas que marcaram fortemente sua geração (a chamada geração 80). Passados mais de 10 anos, verifico que − ao lado das transformações poéticas observáveis em seu processo criativo − podemos afirmar  que estas referências permanecem até hoje como essenciais  à sua pintura. Sob a influência genérica do neoexpressionismo alemão, os jovens da nossa Geração 80 esquentaram o corpo-a-corpo com a obra, numa recusa explícita ao distanciamento decorrente de processos mais racionalizados que prevaleceram nas duas décadas anteriores: o grito de uma subjetividade expressa pelo fazer. O trabalho de Ana Luzia Rego e o de outras artistas brasileiras, como Adriana Varejão, Beatriz Milhazes e Cristina Canale, apesar de suas notáveis diferenças, pertence inequivocamente a essa genealogia”.

 

 

Sobre a artista

 

Voltando de um hiato de alguns anos na pintura, a artista Ana Luiza Rego nunca descansou com sua vida dividida entre Rio e Nova York, além de frequentes idas à Europa, onde mantém laços familiares. Foram anos de pesquisas visitando exposições e museus pelo Brasil e exterior. Entre as exposições mais marcantes, destacam-se “Geraçōes” – Ana Luiza Rego e Rubens Gerchman – Museu da República – Rio; “Rio” – Galeria Patricia Costa; “Brasilialaniche Knust auf Papier” – MOYA – Museum of Young Art – Vienna; “Arte Brasileira Sobre Papel” – Fundação Medeiros e Almeida – Lisboa; “Arte Brazilleña sobre papel” – Palacio Maldonado – Madrid.

 

 

De 08 de março até 29 de março.

Nazareno no Rio

01/mar

No dia 06 de março, Luciana Caravello Arte Contemporânea inaugura a exposição “Um segredo é a palavra viva entre uma boca e um ouvido”, do artista paulistano Nazareno, com 16 obras, que giram em torno da palavra segredo e de seus significados, desde a noção básica aplicada ao senso comum até outras tradições. Serão apresentadas quatro obras tridimensionais e 12 desenhos sobre diversos suportes, como madrepérola, couro, papel, madeira, entre outros. Todos os trabalhos são inéditos e foram produzidos este ano especialmente para esta exposição.

 

O objetivo do artista é fazer com que o público reflita sobre a questão do segredo, que acompanha a humanidade desde a infância, chegando até a vida adulta e velhice. “As obras funcionam como passagens, tais como os segredos que uma vez revelados desencadeiam inúmeras possibilidades, são trabalhos onde nada se faz aparente e que de fato dependem da ativação do expectador atento”, afirma o artista.

 

Todos os trabalhos de Nazareno possuem título, que, de acordo com ele, é uma primeira pista para que o segredo da obra seja revelado. Quatro caixas óticas, com conteúdos diversos, fazem parte da exposição. Por um orifício, o espectador poderá visualizar o interior, descobrindo os segredos e objetos inseridos na obra.

 

Doze desenhos completam a mostra. Nazareno aborda em suas obras aspectos relativos a memória, infância, contos de fadas, entre outros. Um dos desenhos da mostra traz um gato, desenho infantil, no meio de uma aquarela de madeira, com diversas cores. “Cada cor tem um significado, é uma sensação. Por exemplo, dizemos que a pessoa ficou vermelha ou ‘amarelou’”, explica o artista.

 

Os suportes para os desenhos são diversos e alguns são feitos, por exemplo, sobre madrepérola, que por si só já é um segredo, uma vez que é encontrada dentro das conchas. Outros elementos usados pelo artista em suas obras, como o ouro, por exemplo, também são carregados de segredo. “Quem tem ouro, geralmente esconde”, ressalta. No trabalho do artista, o ouro também aparece escondido e não é visto por todos. A partir da mostra de desenhos com inclusão de textos e curtas narrativas o visitante adentrará no mundo criado por Nazareno. Ao tratar o segredo como uma “energia viva”, Nazareno nos apresenta obras onde códigos, cifras e enigmas surgem naturalmente, sugerindo ao espectador uma potencial busca por informações, dados ocultos, entre outros mistérios da socialização que costumamos chamar segredos. 

 

 

Sobre o artista

 

Graduado no bacharelado em artes visuais na Universidade de Brasília em 1998. Nazareno aborda em suas obras aspectos relativos à memória, infância, contos de fadas, narrativas, bem como a fragilidade do sujeito contemporâneo frente à impossibilidade de transcendência. Realizadas em variadas mídias como desenho, esculturas, instalações, vídeos, gravuras, entre outras, são trabalhos que potencializam a atenção do espectador pelo caráter de sua miniaturização evidenciando outras realidades e eventualmente conduzindo o adulto/espectador a um estranhamento em seu rebaixamento a uma condição infantil. Com uma carreira que conta com exposições nacionais e internacionais nos últimos quinze anos, além de prêmios e publicações em revistas, catálogos e livros de arte, as obras do artista estão em diversas coleções públicas e privadas.

 

 

Até 07 de abril.