Alquimia Abstrata no Centro Cultural Correios

03/mai

Imagens emergem da alquimia das cores, do contraste entre claro e escuro que serve de base para pinceladas e espatuladas através dos movimentos síncronos e assíncronos na superfície da tela. Assim a curadora e artista Renata Costa define os trabalhos de Andréa Noronha, Cosme Martins, Deborah Netto e Miguel Nader que se juntam a ela expondo na coletiva “Alquimia Abstrata”, inaugurada no dia 1º de maio, no Centro Cultural Correios RJ, no Centro. A mostra reúne, até meados de junho, 25 obras que expressam o processo produtivo e criativo de cada um dos artistas, conectando-se através do tempo pela gestualidade e formando superfícies pictóricas cheias e vazias, resultando em uma mistura de pigmentos que formam cores e tons. Na abertura houve um show com o artista Duda Anízio. A mostra estará em cartaz até 15 de Junho.

O conjunto expositivo ressalta as diversas possibilidades de expressar a arte através da (re) utilização de materiais: Cosme Martins, por exemplo, parte do aproveitamento de tecidos e papelões que seriam descartados. Já Deborah Netto emprega a técnica de encáustica, enquanto Miguel Nader aposta em misturas fluidas e geométricas. André Noronha e Renata Costa exploram os efeitos de luz e formas.

“A magia alquímica do processo criativo de cada um desses artistas, leva o interlocutor a uma viagem pela sua imaginação fluida e pessoal. A imensidão de possibilidades estimula novas formas de registrar o seu imaginário, apresentando volumes que saltam ao olhar do espectador”, diz Renata Costa, curadora e artista.

Sobre os artistas

Andréa Noronha

A trajetória da artista visual Andréa Noronha, nascida em Belém (PA) é delineada por sua participação na cena artística da região norte do país, bem como no cenário nacional e internacional. Recentemente a artista tem se dedicado a pesquisas de novas técnicas com tintas e texturas diversificadas no seu próprio ateliê. Seu enfoque contemporâneo a trouxe do figurativo para o abstrato, estilo que a deixa mais livre para utilizar a fluidez de cores vibrantes e dourados solares em suas obras.

Cosme Martins

Cosme Martins, artista visual autodidata, nasceu na cidade de São Bento (MA). Na década de 1980, mudou-se para o Rio de Janeiro com o objetivo de expandir o reconhecimento do seu trabalho artístico, obtendo orientação de grandes nomes da pintura como Rubens Gerchman, Luiz Aquila, Aluísio Carvão, Kate Van Scherpenberg e José Maria Dias da Cruz, dentre outros. A evolução do artista o levou a obter prêmios e participações em salões importantes, como MNBA-RJ e MAM-SP. Na fase atual observa-se a presença de texturas, e reaproveitamento de materiais que seriam descartados como restos de tecidos e papelão. A variedade de cores presentes em sua obra é movida pela sensibilidade do artista que diz não conseguir chegar a um limite até que sua agonia seja substituída pela sensação de prazer ao terminar suas telas.

Deborah Netto

Deborah Netto é artista visual nascida no Rio de Janeiro, bacharel em Pintura pela EBA- UFRJ. O trabalho da artista passou por diversas fases até chegar na pintura com encáustica, técnica que apesar de pouco difundida, é uma das mais remotas do mundo, mesclando diversos materiais e suportes. Em várias de suas obras, é possível observar linhas de arabescos que surgem das manchas de cores, padrões  florais e abstratos, cuja interpretação varia de acordo com o observador. O foco inicial é claro em ritmos abstratos da cor que remete a uma natureza interior, dialogando com o imaginário do observador.

Miguel Nader

Miguel Nader nasceu em São Paulo, formou-se em Odontologia no Rio de Janeiro. Em 1998, começou a frequentar o Atelier-escola na Urca e posteriormente, a EAV do Parque Lage, onde estudou Pintura e História da Arte. Em 2022, passou a se dedicar exclusivamente à arte, sendo movido a criar suas composições abstratas inicialmente inspiradas em fotos de paisagens cósmicas, tendo foco na existência de “fluxos”, que se mesclam entre si, gerando imagens interligadas fluídas, coloridas e de contornos orgânicos. Observa-se em sua produção atual, três tipos de abstrações, realizadas alternadamente, composições abstratas fluídas, as mistas ou puramente geométricas onde as formas orgânicas estão ausentes.

Renata Costa

Renata Costa é curadora, artista visual e arquiteta, nascida no Rio de Janeiro. Na FAU-UFRJ, estudou História da Arte e da Arquitetura. A artista adotou o abstracionismo e as técnicas acrílica/óleo como forma de externar sua criatividade. Sua poética baseia-se na liberdade de pensamento, contrastando cores fortes, texturas e espatuladas que representam elementos espaciais, da natureza e formas orgânicas e imperfeitas. Participou de diversas exposições coletivas no Brasil e no exterior, tendo em 2023 realizado sua primeira exposição individual. Recebeu reconhecimento por Mérito Artístico na Luxembourg Art Prize e realizou curadoria e produção de exposições individuais e coletivas  no CCC-RJ e recentemente no Espaço Alienista.

Transmuta‡Æo alquimia e resistˆncia

A Gentil Carioca anuncia a exposi‡Æo “Transmuta‡Æo: alquimia e resistˆncia”, exibi‡Æo individual de Marcela Cantu ria aberta no Pa‡o Imperial, Centro, Rio de janeiro, RJ.

A mostra, que tem curadoria de Aldones Nino e assistˆncia curatorial de Andressa Rocha, contar  com cerca de 20 obras da artista, incluindo trabalhos recentes e in‚ditos. “Cantu ria nÆo se limita a pintar; ela conjura, diariamente engajando-se em uma pr tica que se assemelha … magia, capaz de remodelar a realidade, redefinir narrativas e transformar perspectivas. Como uma alquimista contemporƒnea, cada tela age como um encantamento, um chamado … reflexÆo e … transforma‡Æo. Ela propäe uma reinven‡Æo constante da cria‡Æo art¡stica, estabelecendo conexäes entre m£ltiplas temporalidades”, afirmam os curadores no texto que acompanha a exposi‡Æo.

No dia da abertura foi realizada uma visita guiada pela exposi‡Æo com Marcela Cantu ria e Andressa Rocha.

Memórias de Jeane Terra

26/abr

Anita Schwartz Galeria de Arte, Gávea, Rio de Janeiro, RJ, convida para uma conversa com a artista Jeane Terra em torno de sua exposição “Mekong: Memórias e correntezas”, no dia 29 de abril, às 18h. A mostra reúne dezenove trabalhos da artista, resultado de sua viagem pelo rio Mekong, em 2023, no Laos, Cambodja e Vietnã. Meio de transporte, de moradia, de pesca de subsistência e ainda território de conflitos, o Mekong, maior rio asiático, abriga 24 hidrelétricas. Jeane Terra tem como principal interesse em sua prática artística “as curvas da memória”, os deslocamentos forçados e o impacto nas populações da ação humana sobre o meio ambiente. Ela pesquisa locais que não existem mais, e no caso desta produção atual “lugares que podem vir a desaparecer”. “É um registro antes do fim”, diz. A exposição termina no dia 04 de maio.

No térreo estão os trabalhos em pele de tinta, uma mistura de pigmentos e aglutinantes, que depois de seca a artista recorta em quadrados de 1cm, e aplica sobre a tela reticulada. Neste espaço está a maior obra, “Mekong, O Grito” (2024), monotipia sobre pele de tinta, com 263,5 cm de altura por 657 cm de largura.

No segundo andar estão obras em monotipia sobre pau a pique, com imagens das ruínas dos templos de Angkor, no Cambodja. O texto crítico que acompanha a exposição é de Cecília Fortes, consultora artística da Anita Schwartz.

Exposição e palestra no IBEU

A exibição da mostra “Hecatombe”, individual de Alessandra Vaghi, segue até o dia 30 de abril na Galeria de Arte IBEU, Jardim Botânico, Rio de Janeiro, RJ. No dia 29, às 18h, haverá uma conversa com o curador, Luiz Alberto Oliveira a exposição apresenta uma instalação com sacos de carvão e reúne obras como vídeos, fotografia e esculturas em cerâmica. Durante o coquetel para os convidados, a partir das 17h, serão apresentadas sessões do vídeo A Última Ceia.

Segundo Luiz Alberto Oliveira, “o conjunto de trabalhos artísticos que Alessandra Vaghi nos apresenta sob este título oferece várias dimensões de reflexão. A mais imediata diz respeito a uma inflexão que vivemos na sociedade contemporânea: a hecatombe é das matas, em favor dos bovinos. Um segundo viés de devastação ampla foi o da conversão de madeira em carvão, em particular para uso em siderúrgicas. Deixando de fabricar ar, a mata fornece fogo para forjar o ferro; a contemplação dos sacos alinhados de lenho carbonizado inevitavelmente nos questiona sobre sua origem.”

Sobre os trabalhos em vídeo, produzidos e performados pela artista, Luiz Alberto Oliveira nos diz: “De Jorge Luis Borges aos paradoxos quânticos e às histórias em quadrinhos, o conceito de multiverso se disseminou largamente em nossa cultura. O rol de questionamentos que Alessandra nos traz tão sutilmente talvez tenham como eixo integrador, fundacional ainda que indiscernível, fulgurante ainda que obscuro, o mistério mesmo de que as Deusas arcaicas eram símbolo: o da potência multiversal do feminino.”

Bruno Dunley em exibição na Nara Roesler Rio

16/abr

A Nara Roesler, Ipanema, Rio de Janeiro, RJ, convida para a abertura da exposição “Pequenas Alegrias”, com 20 trabalhos inéditos de Bruno Dunley, no dia 18 de abril, com curadoria de Pedro França. As obras em “Pequenas Alegrias” são o resultado de um ano de trabalho de Bruno Dunley, um dos expoentes da nova geração de pintores brasileiros. A mostra permanecerá em cartaz até 01 de junho.

A adoção de pinturas em formato reduzido é um dos principais eixos dessa exposição individual do artista. Depois de explorar os grandes formatos durante sete anos – mostrado em duas  individuais, em 2020 e 2023 – Bruno Dunley se volta para trabalhos em menores dimensões. A pesquisa com materiais pictóricos e suas propriedades – muito também  em função da Joules & Joules, a fábrica de tintas a óleo artesanais fundada em 2020 por ele e seu amigo e também artista Rafael Carneiro – o levaram a pensar em novas soluções plásticas e pictóricas para seus trabalhos.

“Após as exposições com telas de três metros por dois metros e pouco, senti a necessidade de experimentar mais as soluções pictóricas, por causa dos materiais e meios que estavam entrando no meu pensamento, no meu cotidiano, por conta da Joules”, conta. “Daí, surgiu a ideia de fazer pequeno, para eu poder testar soluções, e chegar mais perto das coisas de uma forma mais rápida”, diz.

O pequeno formato possibilita um aspecto mais fluído e experimental na concretização de seu pensar artístico. Nas palavras do artista, existe um forte componente “desenhístico” nessas novas pinturas. Esse aspecto não se dá apenas em função de seu caráter experimental, mas também pela leveza, agilidade e gestualidade que esse formato possibilita. Ainda que sejam trabalhos inéditos, as obras presentes em “Pequenas Alegrias” revisitam momentos anteriores da trajetória de Bruno Dunley: “Em 2014, durante uma viagem para a Serra da Capivara, deparei com uma série de desenhos e pinturas rupestres realizados pelos primeiros habitantes do lugar. Ainda que fossem anteriores ao próprio conceito de arte e extremamente simples, eram carregados de significados, e fundamentais para organizarem o imaginário de um grupo. Naquele momento (estes desenhos) tiveram influência em minha poética e, agora, voltam a ser revisitados”. Bruno Dunley ressalta também o fato de que, ainda que se tratem de trabalhos diminutos, estes são repletos de detalhes, tanto de natureza temática, como elementos figurativos, resquícios de paisagens e seres reduzidos a formas essenciais, até elementos de natureza técnica, como sutis gradações tonais e elementos táteis.

Nova artista representada pela Fortes D’Aloia & Gabriel

Tatiana Chalhoub

A produção de Tatiana Chalhoub é estruturada segundo os parâmetros técnicos e formais da pintura, expandidos por meio da cerâmica, em relevos de superfície acidentada ou fragmentada. A fusão entre imagem e matéria que tem lugar em seus trabalhos faz com que manchas de pigmento em acabamentos esmaltados ou oxidados ganhem contornos de paisagem ou natureza morta. Peças soltas, fragmentos e resíduos são processados em reinterpretações da natureza, da história da arte ou de anotações mentais, reunindo esses pedaços díspares num mundo marcado por matizes líquidos e tons aquáticos. Em peças suspensas entre ícones e atmosferas em pequena escala, Chalhoub abraça o acaso e a imprevisibilidade da prática de ateliê, projetando soluções pictóricas a partir de quebras, ruídos e desvios de processo.

Entre suas exposições individuais recentes estão Romper o dia, crack of dawn, Fortes D’Aloia & Gabriel, São Paulo, Brasil (2024); Mais uma casa, Kubik Gallery + Espaço Cama, São Paulo, Brasil (2022); On the grass, 1111 Project Space, Budapeste, Hungria (2019) e O brilho do bronze, Galeria Ibeu, Rio de Janeiro, Brasil (2015). Entre suas últimas exposições coletivas estão Contra-flecha: gestos de amor, práticas de sedução, Almeida & Dale, São Paulo, Brasil (2024); Nunca só essa mente, nunca só esse mundo, Carpintaria, Rio de Janeiro, Brasil (2023); Desmanchar, desfaz, Quadra, São Paulo, Brasil (2022).

Acontece na Casa Museu Eva Klabin

15/abr

Baseada no livro “Um Teto Todo Seu”, de Virginia Woolf, a exposição “Uma Casa Toda Sua” está em cartaz até 23 de junho na Casa Museu Eva Klabin, Lagoa, Rio de Janeiro, RJ.

A curadora Isabel Portella une Eva Klabin e Virginia Woolf em um pensamento comum, convidando catorze artistas mulheres com discursos e poéticas bastante diversos para trazer propostas instigantes e interferências no espaço. São elas: Bel Barcellos, Carolina Kaastrup, Claudia Hersz, Daniela Mattos, Dora Smék, Julie Brasil, Karola Braga, Lyz Parayzo, Mariana Maia, Marlene Stamm, Panmela Castro, Patrizia D’Angello, Sani Guerra e Simone Cupello (foto).

O livro “Um Teto Todo Seu” é uma coletânea de palestras de Virginia Woolf ministradas em faculdades de Cambridge, em 1929. Na obra, a autora reflete sobre as condições sociais da mulher e sua produção literária, bem como as dificuldades para que elas tenham uma posição de destaque e possam se expressar livremente, características ainda presentes nos dias de hoje. Virginia Woolf defende que a mulher precisa ter domínio sobre a sua vida e autonomia financeira para poder criar.

No período em que o livro foi publicado, Eva Klabin tinha apenas 25 anos, mas já adotava os princípios de Virginia Woolf. Ao mesmo tempo que vivia intensamente suas viagens e estudos, ela também precisava de um espaço privado, um pedaço do mundo onde sua individualidade existisse isoladamente. Na casa da Lagoa – onde hoje funciona a Casa Museu – Eva Klabin reuniu peças vindas de civilizações e épocas diversas para conservá-las ao alcance dos olhos, no lugar onde vivia.

“O que proponho é uma exposição só com artistas mulheres independentes. Mães solo, mulheres negras, lésbicas, trans, periféricas, deficientes, idosas e mulheres livres que fazem seus trabalhos com garra e força, independentes de críticas e do mundo fálico dos curadores homens que habitam o nosso cenário artístico atual. No encontro da arte com tantos desejos e conquistas, celebremos a figura de mulheres que ousaram transgredir, oferecendo à vida o que têm de mais íntimo e sagrado”.

Isabel Portella – curadora

Exposições simultâneas no Recipiente Porongo

O Centro Cultural Recipiente Porongo, Botafogo, Rio de Janeiro, RJ, inaugura dia 19 com duas exposições simultâneas: “Brotar”, coletiva com curadoria de Shannon Botelho com a participação de 30 artistas da cena contemporânea atual. São eles: Aline MacCord, Amador e Jr. Segurança Patrimonial Ltda, Ana Klaus, Camile Soares, Cibele Nogueira, Cibelle Arcanjo, Edu Monteiro, Eloá Carvalho, Fernanda Sattamini, Gabriela Noujaim, Hugo Houayek, Ju Morais, Julia Arbex, Karin Cagy, Kika Diniz, Luanda, Marcelo Monteiro, Mariana Guimarães, Maria Baigur, Maria Palmeiro, Paloma Carvalho, Patrizia D’Angello, Rafael Adorján, Rafael Prado, Rafa Diås, Raul Leal, Stefanie Ferraz, Thadeu Dias, Ursula Tautz, Vanessa Freitag e “Perspectivas para além da visão”, exibição individual de Michele Martines com curadoria de Renata Santini.

A memória pessoal de um artista

12/abr

O artista Pedro Carneiro, inaugura no dia 14 de abril de 2024, às 13h, no Sesc Madureira, Rio de Janeiro, RJ, sua maior exposição individual: “Antes que a Memória me Esqueça”. Aproximadamente 40 obras – entre pinturas, vídeos e fotografias – ocuparão os espaços expositivos do térreo da instituição. A fé, a religiosidade, o sonho e a sobrevivência diante da violência e do racismo também estão nos trabalhos de Pedro Carneiro. O curador Raphael Couto distribuiu as obras do artista em três grandes núcleos: o primeiro, relacionado ao cotidiano, ao ambiente familiar e afetivo; o segundo, lúdico, o movimento em busca dos sonhos; e o terceiro com obras que fazem comentários mais diretamente políticos. Os trabalhos de Pedro Carneiro partem de sua memória pessoal, principalmente em torno das matriarcas de sua família: as avós materna e paterna, que moravam juntas com as tias do artista em Oswaldo Cruz, bairro vizinho a Madureira. A morte da avó Ridete, em 2023, e a isquemia sofrida pela outra avó, Luiza, provocaram no artista uma urgência em registrar suas memórias. “Ainda que sejam relacionadas a minha memória, tento encontrar um lugar familiar na memória de todos que vejam meus trabalhos”, diz. “A memória é frágil, ela pode se perder, mas resistimos e queremos que ela persista o máximo de tempo possível. Mesmo quando eu partir, eu quero que algumas coisas sejam lembradas”.

O público é recebido pelas fotografias das duas avós, Ridete e Luiza, as matriarcas “anfitriãs” da exposição. Nesta primeira parte, estarão duas séries de pinturas de plantas: “Raízes”, plantas usadas como proteção por religiões afro-brasileiras, destacadas sobre um fundo de spray dourado; e “Do Quintal nº 240″, com plantas do quintal da avó Ridete, com o fundo em tom de rosa, uma característica do trabalho do artista.

“Há um rosa nos quintais, carrancas e álbuns de famílias, nas espadas de São Jorge e numa Coca-Cola na mesa do bar. Um rosa onde o cotidiano é mágico e banal, onde se cata o feijão na mesma mesa em que se lê uma história de super-herói. Há um rosa mágico, entre nuvens contempladas de um quintal no subúrbio, uma rosa dos ventos alegórica e pop. E há um rosa direto e absurdo, que avermelha no sangue dos corpos pretos vitimados ao portar pinhos sóis, guarda-chuvas e furadeiras. Rosa acobreado nos cartuchos de traçantes que riscam a paisagem tal qual Pedro risca a parede. O rosa de Pedro Carneiro é manchado, dissonante, colorido”, destaca Raphael Couto.

Cenas do ambiente familiar estão nas pinturas “Naquela mesa”, “Retomar a memória esquecida”, “Antes de mudar a história da arte da minha rua”, “Aprendendo a respirar”, e as avós, em “Raízes, Vó Luiza” e “Raízes, Ridete”. Em “Take it easy, my brother Charles”, um policial de costas, em silhueta, olha para uma paisagem. “Um dado muito discrepante é que o Brasil tem a polícia que mais mata, e também a que morre mais. Um policial preto que mata um preto. Quero discutir esse sistema. Como se constrói e se perpetua”.

A segunda parte de “Antes que a Memória me Esqueça” tem um caráter mais lúdico, e aborda a luta pela realização dos sonhos, a fé, o respiro necessário para admirar a vida, as curas. Pedro Carneiro diz que “faz parte de nossa vida “parar e olhar o céu”, em uma apropriação do Cartola” – as pinturas “Ao mergulhar no céu” e “Leste – Oeste”. “É importante observarmos um autocuidado, nos protegermos, cuidarmos uns dos outros, e trabalhar para melhorar nossa realidade”. Esses temas estão em obras como a pintura “Herói-tropicaos-marginal”, “Fé: levei as dores para serem lavadas no mar. I e II”, “Caminhar no mundo” e “Carranca”, uma instalação com sal grosso e resina epóxi, que “transpira” com o tempo, criando uma crosta, e uma poça em volta, sem no entanto perder a forma.

Estrelas Cadentes/Balas traçantes

No último segmento da exposição, estão trabalhos que discutem mais diretamente o racismo, a violência urbana, a segurança pública e o conceito de “bala perdida”.

Sobre o artista

Pedro Carneiro nasceu em 1988, Rio de Janeiro, RJ. Tem participado de exposições coletivas importantes, como “Carolina Maria de Jesus: Um Brasil para os brasileiros” – apresentada no Instituto Moreira Salles Paulista, e depois em itinerância em Sorocaba e São José do Rio Preto, em São Paulo, e no Rio de Janeiro, onde esteve no Parque Madureira, na Ocupação MAR, e no Museu de Arte do Rio (MAR). No MAR, Pedro Carneiro integrou também a mostra “Um Defeito de Cor”, que depois foi apresentada no Museu Nacional da Cultura Afro-Brasileira (Muncab), em Salvador, BA. Entre outras coletivas, também participou de “Parada 7″,  no Centro Cultural Hélio Oiticica e Centro Cultural da Justiça Federal, no Rio de Janeiro, e da Bienal do Mercosul, em Porto Alegre, RS.

Três exposições simultâneas

09/abr

No dia 17 de abril, o Paço Imperial, Centro, Rio de Janeiro, RJ, inaugura três exposições simultâneas: “Transmutação: alquimia e resistência”, da artista Marcela Cantuária, um dos nomes de maior destaque da cena de artes visuais da atualidade; “Davuls de Salé”, de Cadu, com a colaboração de Adriano Motta, Maneno Juárez e Virgilio Bahde, e “bassa danza”, de Nathan Braga. Em cartaz até 07 de julho.

Sobre Marcela Cantuária

Destaque da cena de artes visuais da atualidade, Marcela Cantuária apresentará a exposição “Transmutação: alquimia e resistência”, com obras recentes e inéditas. Com curadoria de Aldones Nino e assistência curatorial de Andressa Rocha, a mostra terá cerca de 20 obras da artista, que há cinco anos não faz uma exposição individual no Rio de Janeiro. No dia da abertura, às 17h, será realizada uma visita guiada com Marcela Cantuária e Andressa Rocha. “Cantuária não se limita a pintar; ela conjura, diariamente engajando-se em uma prática que se assemelha à magia, capaz de remodelar a realidade, redefinir narrativas e transformar perspectivas. Como uma alquimista contemporânea, cada tela age como um encantamento, um chamado à reflexão e à transformação. Ela propõe uma reinvenção constante da criação artística, estabelecendo conexões entre múltiplas temporalidades”, afirmam os curadores no texto que acompanha a exposição. “A exposição vai abordar diversos momentos da minha trajetória, desde onde a minha pintura começa, até onde estou neste momento”, conta a artista.

Dentre as obras inéditas, estão duas pinturas de “Mátria Livre”, pesquisa que a artista desenvolve há oito anos, elaborando, por meio de um vocabulário plástico-formal, narrativas sobre como reencantar figuras femininas de luta contra o capital, o colonialismo e o patriarcado. A espinha dorsal da série consiste em reverenciar aquelas que construíram e disputaram espaços na política, lutando com teoria e prática. As novas pinturas trazem a poeta grega Safo, que viveu na ilha de Lesbos, e Marleide Vieira, militante do MST de Pernambuco, assassinada no ano passado pelo marido ao pedir o divórcio. “Represento mulheres que inspiram ações, trazendo a minha perspectiva, mostrando principalmente a força feminina. São imagens de mulheres que, na maioria dos casos, existem ou existiram enquanto lutadoras. É como criar um panteão dessas mulheres, lugar de merecimento e de imortalidade também”, afirma a artista. Além das pinturas, estará em destaque na exposição a obra “A grande benéfica” (2021), um autorretrato, pintado sobre biombo, medindo 1,80m X 1,80m. “Será uma imagem ícone da exposição. Essa obra fala muito da relação que eu tenho com o tarô, fiz uma releitura da carta dois de copas, que representa o romance, e da carta do mundo, que é a realização, o ciclo, e mesclei com partes íntimas da minha vida”, conta Marcela Cantuária.

Sobre Cadu

Cadu apresenta a exposição “Davuls de Salé”, que contará com a participação de três colaboradores: Adriano Motta, Maneno Juárez e Virgilio Bahde. Com curadoria de Felipe Scovino, a exposição apresenta a diversidade de linguagens exploradas pelo artista individualmente e em parceria, através de fabulações debruçadas sobre a história da pirataria, organizadas pelo escritor Peter Lamborn Wilson em seu livro “Utopias Piratas” (1995). Entre os séculos XVI e XIX, corsários muçulmanos do Magreb devastaram navios europeus, escravizaram povos e fundaram a República Corsária Moura de Salé. Durante esse período, milhares de europeus se converteram ao Islã e se juntaram ao que Wilson chamará de “guerra santa pirata”. Essa forma anárquica de capitalismo, que os piratas tomam para si, encontra ecos nas esculturas, desenhos, filmes e instalações realizadas por Cadu e sua horda de rebeldes do mar. O mar serve de inspiração para a série de desenhos “Nadar Nada Mar”, realizados em grade formato sobre papel. Sereias, Krakens, Leviatãs e outras bestas marinhas amalgamam-se, constituindo quimeras através de grafite, colagem e óleo, num imaginário simbólico barroco de terror e deslumbramento. Reforçando a ideia de fabulação e a conexão intrínseca que seu trabalho tem com a linguagem, Cadu escreveu poemas para cada uma das obras, embaralhando referências das ciências, de cosmogonias e da literatura. Dentre os trabalhos em colaboração estão as esculturas sonoras Beijo para o Mar e Pio para o Píer com Maneno Juárez. Na primeira, 21 apitos divididos em três conjuntos são posicionados a uma distância relativa entre si na galeria, servindo de veículo para diálogos pneumáticos. As esculturas produzem notas musicais, indo do agudo ao grave, do brado ao sussurro. Já na segunda, utiliza-se a técnica tradicional peruana de modelagem para construção de vasos sonoros movidos por água.

Sobre Nathan Braga

A exposição “bassa danza”, do carioca Nathan Braga, é a primeira exibição solo em sua cidade natal, que marca seu retorno após três anos morando em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. Doutorando em Arte e Cultura Contemporânea (PPGARTES-UERJ), Nathan foi aluno intercambista de Belas Artes na Universidade de Salamanca, na Espanha, tendo sido o segundo brasileiro a receber a Bolsa Iberoamericana do Santander para tal curso. Com curadoria de Aldo Victorio Filho, serão apresentadas cerca de 25 obras pertencentes a quatro séries diferentes de trabalho, produzidas desde 2019 até hoje, nas quais o artista versa sobre o ponto de inflexão entre as figuras mitológicas de Thanatos e Eros, realçando o jogo erótico envolvido entre as obras e na relação delas com o público visitante.

“Pinturas, esculturas, cerâmicas não são colocadas como linguagens ou modalidades plásticas impermeáveis umas às outras, pois as obras expostas, a despeito da completude técnica e material nas quais se encerram, se afirmam em outra lógica para além da artesania suporte/técnica/material. Se articulam, pois, na indizível força que ativam em conjunto. Uma ópera, um concerto, uma fuga, um silêncio a depender do ir e vir de cada visitante. Uma dança.”, conta o curador Aldo Victorio Filho. A pesquisa para esta exposição se iniciou a partir da leitura que o artista fez do livro “Eros: o Doce-Amargo” de Anne Carson, no qual a autora vai pensar de forma ensaística as relações dicotômicas presentes no desejo, o jogo psicológico entre os amantes e a implicação histórica e social da representação ambígua dessas relações, através de análises iconográficas e semânticas, desde a Grécia Antiga. A aproximação entre arte e literatura tem sido um modus operandi do artista, que já dedicou uma exposição individual ao último livro publicado em vida pelo poeta Mário Quintana, fazendo dessa aproximação uma possibilidade de construção de famílias monstruosas, através de interdisciplinaridades, intermaterialidades e intertextualidades, objetivando borrar as fronteiras entre as coisas, como faz o próprio Eros.