Exposição de Rosana Paulino

12/abr

O Museu de Arte do Rio – MAR, Centro, Rio de Janeiro, RJ, inaugura no dia 13 de abril a exposição “Rosana Paulino: a costura da memória”. Após temporada de sucesso na Pinacoteca, em São Paulo, a maior individual da artista já realizada no Brasil chega à cidade com 140 obras produzidas ao longo dos seus 25 anos de carreira. Assinada por Valéria Piccoli e Pedro Nery, curadores do museu paulistano, a mostra reúne esculturas, instalações, gravuras, desenhos e outros suportes, que evidenciam a busca da artista no enfrentamento com questões sociais, destacando o lugar da mulher negra na sociedade brasileira.

 

Rosana Paulino surge no cenário artístico nos anos 1990 e se distingue, desde o início de sua prática, como voz única de sua própria geração. Os trabalhos selecionados, realizados entre 1993 e 2018, mostram que sua produção tem abordado situações decorrentes do racismo e dos estigmas deixados pela escravidão que circundam a condição da mulher negra na sociedade brasileira, bem como os diversos tipos de violência sofridos por esta população.

 

Um dos destaques da mostra é a “Parede da Memória”. Realizada quando a artista ainda era estudante, a instalação é composta por 11 fotografias da família Paulino que se repetem ao longo do painel, formando um conjunto de 1.500 peças. As fotos são distribuídas em formatos de “patuás” – pequenas peças usadas como amuletos de proteção por religiões de matriz africana. O mural se transforma em uma denúncia poética sobre a invisibilidade dos negros e negras que não são percebidos como indivíduos. Quando os 1.500 pares de olhos são postos na parede, “encarando” as pessoas, eles deixam de ser ignorados.

 

A exposição também conta com uma série lúdica de desenhos feitos por Rosana Paulino, na qual a artista revela sua fascinação pela ciência e, em especial, pela ideia da vida em eterna transformação. Os ciclos da vida de um inseto são feitos e comparados com as mutações no corpo feminino, por exemplo. A instalação “Tecelãs”, de 2003, composta de cerca de 100 peças em faiança, terracota, algodão e linha, leva para o espaço tridimensional o tema da transformação da vida explorado nos desenhos. Em alguns de seus trabalhos a relação de ciência e arte é destacada, como em “Assentamento, de 2013. A série retrata gravuras em tamanho real de uma escrava feitas por Ausgust Sthal para a expedição Thayer, comandada pelo cientista Louis Agassiz, que tinha como objetivo mostrar a superioridade da raça branca às demais. Para Paulino, “a figura que deveria ser uma representação da degeneração racial a que o país estava submetido, segundo as teorias racistas da época, passa a ser a figura de fundação de um país, da cultura brasileira. Essa inversão me interessa”, finaliza a artista.

 

 

Sobre a artista

 

Doutora em Artes Visuais pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo – ECA/USP, especialista em gravura pelo London Print Studio, de Londres e bacharel em gravura pela ECA/USP. Foi bolsista do programa bolsa da Fundação Ford nos anos de 2006 a 2008 e CAPES de 2008 a 2011. Em 2014 foi agraciada com a bolsa para residência no Bellagio Center, da Fundação Rockefeller, em Bellagio, Itália. Como artista vem se destacando por sua produção ligada a questões sociais, étnicas e de gênero. Seus trabalhos têm como foco principal a posição da mulher negra na sociedade brasileira e os diversos tipos de violência sofridos por esta população decorrente do racismo e das marcas deixadas pela escravidão. Possui obras em importantes museus tais como MAM – Museu de Arte Moderna de São Paulo; UNM – University of New Mexico Art Museum e Museu Afro-Brasil – Pão Paulo.

 

TARSILA NO MASP 

05/abr

Tarsila do Amaral (Capivari, SP, 1886 – São Paulo, 1973) é uma das maiores artistas brasileiras do século XX e figura central do Modernismo. Esta exposição que o MASP, Avenida Paulista, São Paulo, SP, exibe é a mais ampla exposição já dedicada à artista, reunindo 92 obras a partir de novas perspectivas, leituras e contextualizações.

 

De família abastada, de fazendeiros do interior de São Paulo, Tarsila desenvolveu seu trabalho com base em em vivências e estudos em Paris a partir de 1923. Por meio das aulas com André Lhote  e Fernand Léger, aprendeu a devorar os estilos modernos da pintura europeia, como o Cubismo, de maneira antropofágica e produzir algo singular. É importante chamar atenção para a noção de antropofagia, criada por Oswald de Andrade: um programa poético através do qual intelectuais brasileiros canibalizariam referências culturais europeias com o objetivo de digeri-las e criar algo único e híbrido, além de incluir elementos locais, indígenas e afro-atlânticos. De volta ao Brasil, declarou: “Sou profundamente brasileira e vou estudar o gosto e a arte dos nossos caipiras. Espero, no interior, aprender com os que ainda não foram corrompidos pelas academias”.

 
O enfoque da exposição é o “popular”, noção tão complexa quanto contestada, e que Tarsila explorou de diferentes modos em seus trabalhos ao longo de toda a sua carreira. O popular está associado aos debates sobre uma arte ou identidade nacional e a invenção ou construção de uma brasilidade. Em Tarsila, o popular se manifesta através das paisagens do interior ou do subúrbio, da fazenda ou da favela, povoadas por indígenas ou negros, personagens de lendas e mitos, repletas de animais e plantas, reais ou fantásticos. Mas a paleta de Tarsila (que serve de inspiração para as cores da expografia) também é popular: “azul puríssimo, rosa violáceo, amarelo vivo, verde cantante”.

 
Boa parte da crítica em torno de Tarsila feita até hoje no Brasil enfatizou suas filiações e genealogias francesas, possivelmente em busca da legitimação internacional da artista, mas assim marginalizando os temas, as personagens e as narrativas populares que ela construiu. Hoje, após bem-sucedidas mostras nos Estados Unidos e na Europa, podemos olhar para Tarsila de outras maneiras. Nesse sentido, os ensaios e comentários sobre suas obras incluídos na exposição e no catálogo são elementos fundamentais deste projeto. Não por acaso a polêmica pintura “A negra” recebe atenção especial dos autores e é um trabalho central na mostra. Outra peça que fará uma boa repercussão na exibição é a presença do famoso “Abaporu”, obra cedida especialmente pelo MALBA, Buenos Aires, Argentina.

 
“Tarsila popular” não busca esgotar essas discussões, que levam em conta também questões de raça, classe e colonialismo, mas apontar para a necessidade de estudar essa artista tão fundamental em nossa história da arte a partir de novas abordagens.

 

Esta exposição faz parte de uma série que o MASP organiza reconsiderando a noção de “popular”: desde “A mão do povo brasileiro 1969/2016″ e “Portinari popular”, em 2016, até “Agostinho Batista de Freitas”, em 2017, e “Maria Auxiliadora”, em 2018. “Tarsila Popular” é organizada no contexto de um ano inteiro dedicado a artistas mulheres no MASP em 2019 sob o título de “Histórias das mulheres, histórias feministas”. A exposição dialoga com duas outras dedicadas a artistas que exploraram a noção do popular de diferentes maneiras: “Djanira: a memória de seu povo”, em cartaz até 19 de maio, e “Lina Bo Bardi: Habitat”, até 28 de julho.

Tarsila popular tem curadoria de Fernando Oliva, curador do MASP.

 

 

Até 28 de julho.

“O Alienista” na Fortes D’Aloia & Gabriel

03/abr

A Fortes D’Aloia & Gabriel apresenta “O Alienista”, a nova exposição de Rivane Neuenschwander na Galeria, Vila Madalena, São Paulo, SP. A artista mineira exibe obras em escultura, pintura e vídeo permeadas por temas como medo, sexualidade, política e violência. Baseando-se em referências diversas da literatura e da cultura popular, os trabalhos propõem narrativas fragmentadas, “ficções dentro de ficções”, que convocam o público a refletir sobre a irracionalidade reinante na atualidade, no país e no mundo.

 

Desde 2013, Rivane Neuenschwander desenvolve uma ampla pesquisa sobre medos de crianças através de projetos que já passaram por Londres, Dresden, Bogotá, entre outras. Seu interesse pelo tema volta-se tanto para as investigações psicanalíticas sobre o medo e suas variantes (a fobia, a angústia e o pânico), como também pelo medo como afeto fundamental a ser manipulado no âmbito político, o que tem levado à ascensão de governos autoritários em várias partes do mundo. A série “Assombrados”, de 2019, é o mais recente desdobramento dessa pesquisa e trata-se de pinturas em tecido de grande formato que empregam as tradicionais técnicas de colchas de retalhos. O ponto de partida da nova série foram as oficinas que precederam a exposição de Rivane no Museu de Arte do Rio, “O Nome do Medo”, de 2017, realizadas na Escola de Artes Visuais do Parque Lage. O trabalho combina os medos nomeados pelas crianças nas oficinas (como bala perdida, fome, estupro) com os desenhos que elas criaram para representar outros temores associados à primeira infância (barata, cobra, fantasma). A artista reinterpreta as ilustrações como silhuetas para então fragmentar texto e imagem através das colchas, signo de conforto e acolhida.

 

O aspecto onírico ressoa também em “O Alienista”, de 2019, a obra que dá título à exposição, composta por cerca de vinte bonecos feitos com tecido, papel machê, garrafas de vidro e outros materiais. Rivane inspira-se no livro homônimo de Machado de Assis, publicado originalmente em 1882, no qual um médico funda o hospício Casa Verde. Após internar compulsoriamente todos os habitantes da cidade, conclui que ele mesmo deve ser hospitalizado, questionando enfim os limites entre loucura e sanidade. A exposição promove a transposição dos personagens do livro para o atual contexto do país, apresentando os lunáticos através de alegorias de animais ou plantas, sobre pedestais em planos variados. A artista atribui a cada um deles uma alcunha – “O Juiz de Fora”, “O Terraplanista”, “O Barbeiro” e “A Viúva” são alguns deles – borrando os limites entre ficção e realidade.

 

Em “Trópicos Malditos, Gozosos e Devotos”, de 2018 – 2019, – título inspirado, por sua vez, no livro “Museu de Arte do Rio, “O Nome do Medo”, de 2017, realizadas na Escola de Artes Visuais do Parque Lage. Rivane faz pinturas sobre madeira que mesclam as clássicas Shungas (xilogravuras eróticas japonesas, populares especialmente nos séculos XVII e XVIII) com elementos da literatura de cordel. De maneira semelhante à de “O Alienista”, a obra aproxima-se da fábula para revelar uma narrativa perversa, permeada pela violência. Seres antropomórficos com falos e vulvas aparecem em meio a um vermelho-sangue, indicando o estupro como prática inaugural da miscigenação do Brasil.

 

“Enredo”, de 2016, é um vídeo em parceria com o neurocientista Sergio Neuenschwander que ocupa a sala do segundo andar da Galeria. Projetado em loop e com duração de 10:01 minutos, o filme indica em sua própria estrutura referências diretas “As Mil e Uma Noites”, famosa coletânea de contos populares do Oriente Médio, cuja origem remonta ao século IX. Na obra de Rivane, confetes de páginas do clássico são lançados sobre inúmeras teias de aranha, desenvolvendo uma narrativa abstrata à medida que a estrutura frágil da teia começa a ruir sob o peso do papel. A aranha surge aos poucos percorrendo o cenário e lidando com a intromissão da palavra. Na trilha sonora, o músico Domenico Lancellotti usa um tamburello para dar o tom de suspense e, ao mesmo tempo, atribuir novas camadas à miscelânea de referências da obra. O instrumento típico italiano é uma espécie de pandeiro usado para tocar a tarantela que, por sua vez, é historicamente associada ao tarantismo: a manifestação de febre e delírio causada pelo veneno da aranha.

 

 

Sobre a artista

 

Rivane Neuenschwander nasceu em Belo Horizonte, 1967, e atualmente vive e trabalha em São Paulo. Uma das mais consagradas artistas brasileiras de sua geração, possui ampla projeção internacional, com participações em: Bienal de São Paulo (2008, 2006 e 1998), Bienal de Istambul (2011), Bienal de Veneza (2005 e 2003), SITE Santa Fe (1999), entre outras. Suas exposições individuais recentes incluem: Alegoria del Miedo, NC-Arte (Bogotá, 2018); O Nome do Medo, MAR (Rio de Janeiro, 2017); The Name of Fear, Whitechapel Gallery (Londres, 2015); mal-entendidos, MAM-SP (São Paulo, 2014); A Day Like Any Other, New Museum (Nova York, 2010) – exposição itinerante que passou também por Mildred Lane Kemper Art Museum (Saint Louis), Scottsdale Museum of Contemporary Art (Scottsdale) e Irish Museum of Modern Art (Dublin); e At a Certain Distance, Malmö Konsthall (Malmo, 2010). Sua obra está presente em grandes coleções institucionais como: Tate Modern (Londres), Guggenheim (Nova York), MoMA (Nova York), TBA21 (Viena), MACBA (Barcelona), Fundación Jumex (Cidade do México), Inhotim (Brumadinho), MAM-SP (São Paulo), MAM Rio (Rio de Janeiro), entre outras.

Natureza-Morta no MAM Rio

O MAM RIO, Parque do Flamengo, Rio de janeiro, RJ, apresenta a partir do próximo dia 06 de abril, a exposição “Alegria – A Natureza-Morta nas Coleções MAM Rio”. Com o mesmo título de uma instalação de Adriana Varejão, a exposição investiga este importante gênero da pintura, em obras em diversos suportes pertencentes ao acervo do Museu criadas por 35 artistas de várias gerações. Com curadoria de Fernando Cocchiarale e Fernanda Lopes, a mostra reúne mais de 40 obras – entre pinturas, esculturas, vídeos, fotografias e instalações – produzidas por 39 artistas de diferentes gerações. A exposição dá continuidade às investigações de gêneros da pintura a partir dos acervos do Museu, mostradas em “Constelações – O Retrato nas Coleções MAM Rio” e “Horizontes – A Paisagem nas Coleções MAM Rio”, em cartaz até o próximo dia 12 de maio de 2019.

 

Com o mesmo título de um backlight fotográfico de Adriana Varejão, de 1999, a exposição busca revelar não só a dimensão mais histórica do gênero natureza-morta, mas também “possibilidades de releituras contemporâneas desse conceito”, como informam os curadores. O conjunto de obras não foi reunido “somente com base no enquadramento estrito das obras nas características evidentes deste gênero, mas também na livre correlação dos trabalhos com o sentido mais geral da exposição”, explicam. “Sob tal licença, “Alegria” também transborda do âmbito da pintura, da gravura, do desenho e da fotografia, para aquele, expandido, da escultura, do vídeo e de instalações para traçar um panorama aberto desse gênero da pintura no Brasil no exterior”, contam Fernando Cocchiarale e Fernanda Lopes.

 

Os artistas que integram a exposição são de várias gerações, como Volpi, Guignard, Dacosta, Vicente do Rego Monteiro, a portuguesa Lourdes Castro, Wilma Martins, Adriana Varejão, Ivens Machado, Karin Lambrecht, Artur Barrio e Raul Mourão.

 

 

Natureza-Morta

 

A natureza-morta, da mesma forma que o retrato e a paisagem, foi um dos grandes gêneros da pintura europeia, entre os séculos XV e XVI, na Renascença. “Esses gêneros ganharam corpo como alternativa às pinturas de cenas religiosas, proibidas nos países que aderiram à reforma protestante, como a Holanda, que viu nascer o primeiro mercado de arte de que se tem notícia”, dizem os curadores. “As naturezas-mortas podem ser caracterizadas pela representação de objetos inanimados, vistos de uma curta distância. Sua escala intimista, somada à composição feita com base em motivos banais, mas agradáveis – frutas, flores, alimentos e objetos familiares ao olhar burguês – não significava, porém, que tais pinturas tivessem um teor laico-secular, apenas contemplativo, função que somente se consolidaria no começo do modernismo. Ainda que tratassem de cenas domésticas, essas pinturas, a despeito de sua fatura naturalista, tinham um teor simbólico então acessível a todos: evocavam o agradecimento pelo pão nosso de cada dia, conquistado pelo trabalho humano, sob a bênção divina”. O gênero atravessou os tempos, e na segunda metade do século XIX as naturezas-mortas já haviam se libertado de sua simbologia protestante inicial, e se tornaram “fundamentais para a revolução que permitiu à pintura superar a ênfase no tema que a havia marcado no romantismo e no neoclassicismo – batalhas, coroações, funerais e casamentos reais, pintados em formatos grandiosos que direcionavam o olhar para a narrativa e não para a própria pintura”. Os curadores complementam: “A banalidade temática das naturezas-mortas abriu caminho para a contemplação exclusiva de elementos cromáticos, formais, espaciais e compositivos, que não só se tornaram essenciais para a fruição modernista, como abriram caminho para a arte abstrata com Wassily Kandinsky, em 1910”.

 

 

Artistas expositores

 

Alberto da Veiga Guignard, Alfredo Volpi, Vicente do Rego Monteiro, Aldo Bonadei, Iberê Camargo, Milton Dacosta, Maria Leontina, Glauco Rodrigues, Lourdes Castro, Anna Bella Geiger, Wilma Martins, Luis Humberto, Eduardo Costa, Ivens Machado, Wanda Pimentel, Artur Barrio, Waltercio Caldas, Vilma Slomp,Claudia Jaguaribe, Karin Lambrecht, Brígida Baltar, Jorge Barrão,Roberto Huarcaya, Marcos Chaves, Edgard de Souza, Franklin Cassaro, Katia Maciel, Adriana Varejão, Efrain Almeida, Raul Mourão, José Damasceno, Julio Bernardes, Pedro Calheiros, Rodrigo Braga e Felipe Barbosa.

 

 

De 06 de abril a 07 de julho.

Museu Afro Brasil, 15 anos

29/mar

 

O Governo do Estado de São Paulo, a Secretaria da Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo e o Museu Afro Brasil anuncia a abertura da exposição  “Museu Afro Brasil, nos seus 15 anos, celebra São Paulo – Uma iconografia urbana” que acontecerá no próximo dia 06 de abril. Com mais de 500 objetos que traçam uma cronologia de São Paulo desde a sua transformação em povoado até tornar-se uma megametrópole cosmopolita, a exposição retrata a multiplicidade étnica e cultural da cidade.

 

Fotografias na Simões de Assis/SP

28/mar

Denominada “Eixo-Êxtase | A Fotografia no Ambiente Modernista” e sob a curadoria de Eder Chiodetto, a Simões de Assis Galeria de Arte, Cerqueira César, São Paulo, SP, apresenta obras assinadas por Alexander Calder , Eduardo Salvatore, Gaspar Gasparian, Geraldo de Barros, German Lorca, Gertrudes Altschul,  M. Laert Dias, Marcel Giró, Maria Martins, Moussia, Paulo Pires, Paulo Suzuki, Thomaz Farkas e Willys de Castro .

 

 

Eixo-Êxtase

A Fotografia No Ambiente Modernista 

Os ecos dos movimentos dadaísta e surrealista que abalaram e modificaram por completo o status da arte nas primeiras décadas do século XX, conferindo a mesma uma maior complexidade na forma de entender as vicissitudes humanas, os labirintos do inconsciente e, por conseguinte, a forma de pensar o papel da arte, demoraram cerca de 25 anos para criar abalos significativos na fotografia brasileira.

 

Na década de 1920 a fotografia havia experimentado na Europa, por intermédio de artistas como Man Ray (1890-1976) e Lázló Moholy-Nagy (1895-1946), entre outros, um voo libertário a partir do qual deixara definitivamente de se ater somente à sua vocação documental. Essa nova fotografia passou a representar o sensorial e as parcelas não visíveis da psique humana. Aqui no Brasil a linguagem, quando muito, seguia a cartilha que pregava uma mimese entre fotografia e a pintura acadêmica de temas românticos.

 

No final da década de 1940, no entanto, os fotoclubistas brasileiros, capitaneados por Geraldo de Barros, investiram na experimentação, privilegiando a forma ao referente. Por meio de justaposições, cortes, uso exacerbado dos contrastes entre o preto-e-branco, solarizações e ataques físicos aos negativos, entre outras estratégias, esses pioneiros ampliaram o repertório semântico da fotografia.

 

Essa releitura tropical do que ocorrera no contexto da arte fotográfica europeia, passaria por uma digestão antropofágica, como sugeria o poeta Oswald de Andrade (1890-1954) em seus manifestos.

 

Em 1924, Oswald de Andrade, figura central da Semana de Arte Moderna de 1922, escreveu em tom crítico e jocoso o Manifesto Pau-Brasil e, em 1928, o Manifesto Antropófago. Em linhas gerais, esses textos propunham não renegar a cultura estrangeira, mas “devorá-la” para digeri-la fazendo-a passar por um filtro – “o estômago” – de referências nacionais. Ao final desse processo deveriam surgir obras e conceitos a partir da somatória do “nós + eles”, ou seja, um saber e uma cultura híbridos.

 

Num trecho do Manifesto Pau-Brasil, Oswald conclama os artistas a pensar o mundo e a representação dentro do campo da arte a partir das “novas formas da indústria, da viação, da aviação. Postes. Gasômetros Rails. Laboratórios e oficinas técnicas. Vozes e tics de fios e ondas e fulgurações. Estrelas familiarizadas com negativos fotográficos. O correspondente da surpresa física em arte…”.

 

É curioso que a fotografia surja de passagem num dos mais importantes momentos da arte brasileira. Essa citação atesta, de certa forma, que a fotografia brasileira estava ainda distante de perceber suas possibilidades narrativas e poéticas. Os “negativos fotográficos” até a metade da década de 1940 permaneciam focados na objetividade do registro e da documentação do entorno realista e não na potência lúdica contida na irradiação da luz das estrelas. Oswald conclamava, assim, um olhar de viés para a realidade circundante, um mergulho no sensorial em contraponto a arte de caráter figurativo.

 

Os primeiros passos nessa direção foram dados pelo artista Geraldo de Barros (1923-1998), que havia estudado desenho e pintura e, como a maioria dos artistas da época, se empenhava no figurativismo. Após experiências com a pintura expressionista, Geraldo adquiriu uma câmera Rolleiflex e começou a investigar as possibilidades expressivas da fotografia.

 

Ao ingressar, em 1949, no Foto Cine Clube Bandeirante, Geraldo chocou-se com o estágio da fotografia. Imitações de naturezas mortas, paradoxalmente, ocupavam o lugar da representação da cidade dinâmica e veloz que as máquinas e os carros imprimiam no Brasil desenvolvimentista da metade do século XX.

 

Influenciado pelas teorias da Gestalt, ramo da psicologia que se aprofunda no estudo de como os indivíduos percebem as formas elementares da geometria, Barros radicalizava, para espanto dos fotógrafos mais puristas, na síntese dos volumes e dos jogos de luz e sombra em suas experimentações fotográficas.

 

As experiências de Barros – grande parte delas realizadas no laboratório fotográfico na casa do amigo German Lorca – incluíam fotomontagens, colagens e intervenções no negativo fotográfico que resultavam em abstrações e num pulsante elogio das formas. Linhas e volumes se redesenham em suas Fotoformas, gerando matizes em preto, branco e cinzas. Essa série influenciou vários outros artistas que se dedicavam a fotografia e pensavam em ecoar no Brasil aquilo que havia sido gestado nas vanguardas européias duas décadas atrás.

 

Hoje, olhando retrospectivamente, é possível perceber que o espírito iconoclasta que marcou o modernismo brasileiro e operou mudanças substanciais na nossa fotografia, colocando-a definitivamente no eixo das experimentações artísticas foi nutrido em grande parte pelo ambiente artístico que transbordava além dos limites do fotográfico.

 

A geração que revolucionaria a fotografia brasileira, tinha nesse primeiro momento artistas como Geraldo de Barros, Thomaz Farkas, German Lorca, Gaspar Gasparian, José Yalenti, Marcel Giró, Gertrudes Altschul e Eduardo Salvatore, entre outros. Contribui fortemente para a criação de um ambiente que ajudava a pensar o fotográfico fora dos cânones, as obras e os artistas que chegaram para a primeira grande mostra de arte moderna realizada fora das instituições europeias e norte-amerricanas: a 1a  Bienal de São Paulo, ocorrida em 1951. O pintor e escultor suíço Max Bill (1908-1994), premiado no evento, influenciou fortemente o movimento concretista brasileiro, que teve em Geraldo de Barros um de seus principais articuladores.

 

Participaram também dessa Bienal e da seguinte, o escultor e pintor estadunidense Alexander Calder (1898-1976), a pintora e escultora russa, radicada no Brasil, Moussia Pinto Alvez (1910-1986) e a escultora brasileira Maria Martins, agora reunidos com a geração de fotógrafos modernistas nessa mostra.

 

Entre as duas primeiras Bienais, em 1952, ocorreu a mostra Ruptura, no MAM-SP, marco inaugural da arte concreta brasileira, da qual Geraldo foi um dos artistas participantes ao lado de Waldemar Cordeiro e Luiz Sacilotto, entre outros. No mesmo ano de 1952, Calder ganhou o prêmio principal da Bienal de Veneza com um de seus icônicos móbiles.

 

O pensamento sobre o ritmo, a geometria, o movimento, a perda da gravidade, o ataque ao figurativismo e a dissolução do referente, somados à manifestação do inconsciente como nas obras de vocação surrealista da escultora brasileira Maria Martins (1894-1973) -, ajudariam a parcela mais irreverente dos fotógrafos brasileiros a repensar por completo as possibilidades semânticas do jogo fotográfico.

 

Eixo-Êxtase incita o público a perceber pontos de contato formais e ideológicos que marcam a produção fotográfica brasileira pós final dos anos 1940 com as esculturas e pinturas de artistas icônicos que expuseram por aqui a partir da 1Bienal de São Paulo. Esse espelhamento entre linguagens distintas, que apontam para uma nova forma de percepção do mundo, evidencia-se quando observamos a têmpera e o óleo realizados em 1944 e 1945, por Alexander Calder, com as séries “Fotoformas” e “Sobras”, de Geraldo de Barros, as edificações fotografadas por Thomaz Farkas e os jogos formais de Paulo Suzuki e M. Laerte Dias.

 

As formas orgânicas e expressivas das esculturas de Maria Martins e de Moussia, dialogam com imagens de Gertrudes Altschul, Eduardo Salvatore, Marcel Giró e Nelson Kojranski. A pintura “Pierrot”, 1953, de Wyllis de Castro, contém o mesmo jogo hipnótico de planos e justaposições que inspiram boa parte dos fotógrafos do período, como Gaspar Gasparian.

 

O móbile “Ensigne de Lunettes”, 1976, de Alexander Calder, é o epicentro de “Eixo-Êxtase”. Ao desafiar a gravidade, privilegiar a leveza, incorporar o movimento casual e um ritmo inesperado para o volume escultórico, o artista serviu de farol para as novas gerações a partir dos anos 1930. Suas passagens pelo Brasil foram decisivas para impulsionar as linguagens construtivas das décadas de 1950 e 1960.

 

Essas reverberações estéticas que visavam rever o eixo construtivo a partir do ideário modernista, criaram um ambiente de êxtase formal que foram incorporados nas pesquisas dos fotógrafos brasileiros, gerando um novo patamar para a fotografia de arte por aqui.

 

As “lunettes” do mobile de Calder constelam na Simões de Assis Galeria como as estrelas no firmamento do modernismo brasileiro, definitivamente “familiarizadas com negativos fotográficos”, como pedia Oswald de Andrade.

Eder Chiodetto

 

 

De 30 de março a 11 de maio.

Arte e Inteligência Artificial

Em “Das tripas coração”, individual que a artista visual Katia Wille apresenta na Galeria do Lago, Museu da República, Rio de Janeiro, Catete, RJ, apesenta obras com características originais. A ideia é estabelecer uma simbiose sensorial entre obras de arte e o espectador. Para que isso fosse possível, a artista desenvolveu, em parceria inédita com a Microsoft, um conceito que integra inteligência artificial ao ambiente, que será mostrado pela primeira vez em uma exposição de arte no Brasil. Utilizando a capacidade da inteligência artificial na nuvem, as obras reagem à presença de pessoas, se movimentam a partir da análise de sentimento do visitante e interagem por meio de movimentos diante de estímulos visuais, faciais e sonoros.

 

“Quero expor ao máximo a vulnerabilidade das relações humanas, e questiono como seria esticar-se para além do nosso ponto de ruptura? Fazer das tripas coração representa a eterna busca pelo impossível, alcançar o outro e estabelecer relações de ressonância. As membranas em látex são estruturas que reluzem, se movimentam, provocam sensações e se espalham pelo espaço como se quisessem respirar o ar que respiramos e pulsar com a frequência do nosso coração, indo além do diálogo entre obra e espectador. O objetivo final é começar a criar um espelho de nós mesmos nas obras: o corpo seria representado pelos braços robóticos e sensores responsáveis pelos movimentos, a mente pela inteligência artificial que aprende com os nossos sentimentos e dá os comandos para que os movimentos aconteçam e a alma é representada pela arte das membranas de eco látex pintadas como uma pele frágil e reluzente. Está estabelecida assim uma relação de confiança e imersão entre o artista, obra e público”, afirma Katia Wille.

 

A curadoria é de Isabel Sanson Portella, coordenadora e curadora da Galeria do Lago: “As obras de Katia Wille se espalham pelo espaço, suas figuras brilham com paixão e fúria. Os corpos incham em cor, elas balançam e torcem, pernas se estendem em uma dança que quer aproveitar e amplificar a vulnerabilidade das relações humanas, não suavizar”.

 

“A IA já não é algo distante do dia a dia das pessoas e a possibilidade de integração da inteligência artificial ao ambiente artístico, modificando a forma como interagimos com uma obra e a experiência que temos em uma exposição, mostra justamente isso. A Microsoft assumiu o compromisso de democratizar a IA e esse é um projeto que dialoga com esse propósito”, diz Maisa Penha, diretora de tecnologia para parceiros e IA na América Latina.

 

A ocupação do espaço expositivo se dá de forma fluida, com pinturas em painéis de grandes dimensões em tecido metalizado, dialogando com instalações em eco látex (material desenvolvido pela própria artista a partir da mistura de látex líquido, reciclado com tecidos e outros materiais). As obras em eco látex ficam suspensas pelo teto ou onduladas nas paredes. Trata-se de um material poroso, ora em forma de bolhas, ora esticado ou ondulado, o que permite destacar texturas e o brilho acobreado da superfície. As cores dos tecidos de base para as pinturas, em tons primários como o azul, vermelho e amarelo, contrastam com os tons metálicos das instalações.

 

As obras foram divididas em três momentos que se interconectam: encantamento, simbiose e irradiação. Marcado por tons de azul, o primeiro momento tem a intenção de mostrar uma mudança; a ordem das coisas foi invertida, os pés estão para o alto, algumas nadadoras e nadadores – figuras retratadas pela artista -, caindo, fazendo referência ao momento do Encantamento, ao “cair de amores”, à busca e ao encontro. A cor vermelha e seus sobretons pontuam o segundo momento: o desdobramento e a formação de amálgamas humanos, seres simbióticos, quando existe a busca pelo outro. Já o terceiro momento assinala o encontro do equilíbrio com a cor amarela, selando a formação do duplo perfeito onde não é necessário mais esforço, muito menos caber no outro, cada um com a sua identidade, irradiando- se mutuamente.

 

 

Sobre a artista

 

Katia Wille nasceu no Rio de Janeiro. É formada em artes visuais pela Universidade de Amsterdam, Holanda, e passou os últimos dez anos morando e trabalhando entre a Europa, a Ásia e o Brasil. As questões do feminino, da busca de sua essência e transformações, sempre povoaram as obras da artista, que pensa movimento e cor integrados ao todo. A delicadeza das formas, a ação que se desenvolve tanto em círculos e entrelaces, convida o espectador a mergulhar em águas míticas e se deixar levar pelos encantos do olhar de suas ninfas, pelo poder das deusas, pela força da mulher. Exposições individuais: “Mas Afinal: Quem tem medo de tamanha liberdade?” – Galeria VillaNova/SP; “Fluxofloração” – Centro Cultural da Justiça Federal/RJ; “Maria dos olhos de piscina” – H.Contemporaneo/RJ; “O Tudo Do Todo” – Z42 Arte Contemporanea/RJ ; “E daí? Eu adoro voar” – Tramas Arte Contemporânea/RJ; “CompulsArt” – Casa Ipanema/RJ; “As Nadadoras – Livre Galeria/RJ. Exposições coletivas:  “Um dia de sol” – Galeria Sal/RJ; “Arte brasileira na contemporaneidade” – InnGaleria/SP; “Para Todos” – Galeria Carpintaria/Fortes D’Aloia & Gabriel/RJ”; “Olhar Feminino” – Galeria André/SP; “Somos todos Clarisse” – Museu da República/Galeria do Lago/RJ; “A Máquina do Mundo – residência artística” – Z42/RJ; “Weel Chair Fest/ Rio Olympic Games” –  Boulevard Olímpico/RJ.  Publicações: “Arte brasileira na contemporaneidade” – Volume: III, Ornitorrinco – São Paulo, Brasil. Agosto 2018 Autora: Carmen Pousada; Prêmios e programas de residência artística: “European Union Visual Arts and Design Awards” – Tokyo (Japão), Março 2010; Z42 – Rio de Janeiro, Brasil.

 

Até 31 de maio.

Visões de Iberê Camargo 

Para celebrar os 247 anos da cidade de Porto Alegre, a Fundação Iberê inaugurou a exposição “Visões da Redenção”. A mostra traz um recorte de 77 obras de Iberê Camargo (66 desenhos, três gravuras e oito pinturas), produzidas no início dos anos 1980 – quando o artista retornou à Capital gaúcha, após um período de 40 anos vivendo no Rio de Janeiro. Frequentador assíduo do Parque da Redenção, o artista gostava de observar o ir e vir das pessoas: anônimos, músicos, palhaços, ciclistas, moradores de rua e performers. De simples registros desses passeios, logo as anotações do artista ganharam um significado maior. Os “personagens” da Redenção foram convidados para aturem como modelos vivos em seu ateliê, e, muitos deles, desdobraram-se nas séries “Fantasmagoria”, “Ciclistas” e “Ecológica” (Agrotóxicos).

 

 

Teatro de rua 

 

Em 1985, Iberê Camargo assistiu a performance “A dúzia suja”, do grupo Ói Nóis Aqui Traveiz, se encantou com a apresentação e, durante um final de semana, transformou a Terreira da Tribo – como é chamado o espaço do grupo – em ateliê. Lá desenhou os atores vestidos com o figurino do espetáculo para a série “Ecológica”. A única exposição individual com o conjunto completo da série (mais de 20 guaches) foi realizada em 1986. Parte dela foi exposta em outras capitais do Brasil e Uruguai e, hoje, encontra-se em coleções particulares.

 

Para este trabalho, o artista expressou as formas da natureza e da condição humana, atingidas pela vida, por meio de árvores fantasmagóricas e de figuras que habitavam a cena, sem rumo. O parque mais tradicional da cidade – e palco para as mais diversas manifestações sociais, culturais e políticas – revelou-se como um portal, um deslocamento da realidade para outra ordem no tempo. Delírio e devaneio – um novo estar no mundo.

 

“Não há um ideal de beleza, mas o ideal de uma verdade pungente e sofrida, que é minha vida, e tua vida, é nossa vida nesse caminhar no mundo. Pinto porque a vida dói.” (Iberê Camargo).

 

“Acompanhei inúmeras jornadas de Iberê pela procura dessas imagens que nos ferem com delicadeza, cheias de visualidade e significados. Esses rascunhos, por si só, são maravilhosos, mas serviam para recriações na volta ao estúdio. Surgiam daí guaches sobre papel, elementos novos nas pinturas e potentes gravuras em metal. Foi num dia desses, quando o artista ainda morava na rua Lopo Gonçalves, que saímos a pé para mais um percurso no Parque da Redenção. Chegamos na fonte entre árvores, naquele momento riscada pela luz do sol: um cenário de filme. À volta dela vários mendigos conversavam e lavavam as suas roupas. O artista pareceu iluminado. Apenas com os olhos e a mão em movimento, executou desenhos lindos e fluidos como música. Depois num gesto de gratidão pagou os modelos: entregou uma nota de dinheiro a cada um deles e fomos embora. Nesse dia uma figura me provocou a atenção: o homem flagrado de frente, curvado sobre o espelho d’água da fonte, com o olhar fixo no artista e suas costas acima da própria cabeça, passava uma sensação simultânea de dignidade e sofrimento, como se estava pronto para carregar o peso do mundo”, conta o artista plástico Gelson Radaelli.

 

 

 

Até 21 de abril.

 

 

 

Maria Lynch na Baró

25/mar

Baró Galeria, Cerqueira César, São Paulo, SP, exibe até 18 e maio a eposição “Talismã: Uma Profecia da Cor”, individual da artista visual Maria Lynch, com curadoria de Marc Pottier. A individual apresenta 20 obras – pintura acrílica sobre tela -, de estética colorida, rica em contraste e de composições marcantes, elementos recorrentes na produção da artista. Alheios à realidade, os trabalhos ocupam um universo essencialmente abstrato e conceitual, porém não inteiramente isentos da representação.

 

Em “Talismã: Uma Profecia da Cor”, o visitante se torna protagonista de uma realidade enquadrada, mas não um prisioneiro. Nos trabalhos expostos, produzidos entre 2018 e 2019, há ausência da figura humana. “As formas e os objetos abstratos podem ser tridimensionais em tecido, ela sabe como desenvolver ambientes em que o público entre no trabalho (…). Na galeria Baró, ela convida a você entrar em seu céu, um universo onde muitas esferas plásticas transparentes são colocadas livremente no chão, permitindo que cada um imagine seu itinerário ou altere a ordem desses planetas, da forma em que estão jogados aos seus pés”, diz Marc Pottier. Questionada sobre sua principal inspiração para esta individual, Maria Lynch comenta: “São várias de interesse e convergência. A pintura por si, por exemplo, o ato de pintar, o ato de criar um mundo imaginário, onde eu coloco uma elaboração simbólica desses signos que nos afetam. Ou seja, são afetos em forma de pintura. São pluralidades que me transformam, são máquinas-desejantes (em referência a Deleuze e Guattari), atualidades das possíveis corporeidades”.

 

Marc Pottier ainda destaca alguns trabalhos nos quais os fundos brancos desaparecem, e evocam a pintura “Talismã”, obra-prima e de referência de Paul Sérusier, produzida no Bois d’Amour em Pont-Aven, em 1888, supervisionado por Gauguin. “Para continuar com “Talismã”, a conselho de Gauguin, o jovem Sérusier foi convidado a pintar o que sentia e não o que via, a ir ao misterioso centro do pensamento. Como ele, Maria Lynch apresenta uma obra que não é inteiramente liberada da representação, mas que a sublima”, comenta e conclui: “Um talismã é um objeto que tem sinais consagrados, aos quais são atribuídas virtudes de proteção e de poder. Para alguns, o talismã mantém sua força a partir das imagens que carrega. Forças astrológicas, invocações e encantamentos em um turbilhão de cores e imagens para interpretar, esta nova série de obras de Maria Lynch é um terreno fértil de reflexões para o espectador”.

Alfredo Volpi e Bruno Giorgi

22/mar

Foram dez anos de pesquisas para construir uma exposição sobre a amizade entre dois grandes mestres da arte brasileira do século XX. “Estética de uma Amizade”, será exibida na Pinakotheke, Morumbi, São Paulo, SP, procura pontuar com memórias e produção artística os 50 anos de estreita convivência entre – o pintor Alfredo Volpi e o escultor Bruno Giorgi.

 

A mostra reúne cerca de 100 obras – a maioria apresentada ao público pela primeira vez, entre pinturas, desenhos e esculturas provenientes, da Coleção Leontina e Bruno Giorgi e colecionadores particulares. Os trabalhos são entremeados por fotografias, documentos, depoimentos e gravações com saborosas narrativas sobre esta amizade que perdurou de 1936 até a morte de Volpi em 1988.

 

No raro conjunto de numerosas pinturas de Volpi, esculturas, desenhos e telas de Bruno Giorgi, sobrepõem-se as obras surgidas de relações de amizades ou familiares, como os retratos de Mira Engelhardt e Gilda Vieira, feitos por Volpi, além de Judith, sua mulher, retratada por ele, e um desenho dedicado à sua única aluna Lore Koch; o retrato de Leontina Giorgi, as joias/esculturas projetadas por Giorgi; nus femininos assinados pelos dois artistas; retrato de Giorgi por Volpi e as cabeças de Volpi e Mario de Andrade esculpidas por Giorgi; as interpretações discordantes do poema “Balada de Santa Maria Egipcíaca” de Manuel Bandeira, que ambos fizeram em pintura; e até uma série de trabalhos concebidos na convivência da dupla. Há também as maquetes das obras de Brasília, quando os afrescos de Alfredo Volpi e as esculturas de Bruno Giorgi sublinharam a arquitetura de Oscar Niemeyer.

 

A exposição revela como o pintor, que se mudou com a família para o Brasil com apenas um ano de idade, e o escultor, ambos originários da mesma região italiana, a Toscana, compartilharam a fraterna relação e o saber artístico com igual intensidade. Não foram poucas as vezes que, com um esboço debaixo do braço, Volpi saiu de São Paulo e foi ao Rio de Janeiro discutir uma pintura com o amigo. Leontina, viúva de Bruno Giorgi, que muito contribuiu para a realização desta exposição, disponibilizando obras e arquivo, testemunhou muitas das longas conversas ou silêncios que os dois amigos gostavam de dividir. Ao mesmo tempo foram artistas que puderam comemorar juntos e reciprocamente virtuosas trajetórias: ambos participaram de prestigiosas exposições nacionais e internacionais, entre as quais em edições, às vezes coincidentes, como a Bienal de Veneza e a Bienal Internacional de São Paulo, além de conquistar vários prêmios no Brasil no exterior.

 

O projeto foi possível graças ao empenho dos curadores da exposição Max Perlingeiro e Pedro Mastrobuono, Leontina Ribeiro Giorgi, Instituto Volpi de Arte Moderna e à equipe da Pinakotheke. Com os arquivos do marido, Leontina Ribeiro Giorgi, gravou longas entrevistas, rememorando fatos históricos e pessoais. Nas suas pesquisas, Pedro, que é filho de Marco Antonio Mastrobuono, um dos primeiros colecionadores e amigo pessoal de Volpi, teve a oportunidade de encontrar informações preciosas, sobretudo entrevistas de Bruno Giorgi em Brasília, onde o pintor ítalo-brasileiro era constantemente mencionado.

 

Durante a exposição será lançada a publicação “Estética da Amizade – Alfredo Volpi e Bruno Giorgi” que, além do material da mostra, contém textos de David Léo Levisky, Rodrigo Naves e Mario de Andrade e dos curadores Max Perlingeiro e Pedro Mastrobuono, os quais destacam as personalidades que conviveram com a dupla, como Mário Schenberg, Lasar Segall, Sergio Milliet, e apresentam uma inédita biografia em ordem cronológica entrelaçada dos dois artistas, na qual é possível constatar como arte e amizade pulsavam em particular sintonia.

 

 

Até 25 de maio.