Manfredo 40 anos de arte

23/mar

Artista ganha livro publicado pela Réptil Editora e duas exposições em sua homenagem: Paço Imperial e Galeria Patricia Costa

 

 

Nascido na pequena Jacinto, no Vale do Jequitinhonha, o artista Manfredo de Souzanetto ganhou o mundo ainda jovem. Morou em Paris, expôs nos Estados Unidos, em vários países da Europa, e conquistou reconhecimento internacional por seu trabalho. Ao completar 40 anos de carreira, o mineiro recebe merecida homenagem, com livro e duas exposições no Rio de Janeiro.

 

 

No dia 12 de abril será lançado o livro “Manfredo de Souzanetto – Paisagem Ainda Que”, pela Réptil Editora, com 240 páginas, na Galeria Patricia Costa, Shopping Cassino Atlântico, Copacabana, Rio de Janeiro, RJ, com toda a trajetória do artista que tem o dom de tornar o improvável concebível e de produzir obras ao mesmo tempo simples e complexas, evidentes e enigmáticas.

 

 

O livro conta com textos dos críticos Julio Castañon Guimarães, Anne-Marie Lugan Dardigna e biografia de Clarisse Meireles. A obra, trilingue (português, inglês e francês), reúne mais de 150 imagens de trabalhos do artista.

 

 

Ainda na Galeria Patricia Costa o público poderá conferir, de 12 a 30 de abril, obras mais recentes de Manfredo. Serão expostas sete pinturas inéditas, com dimensões variadas, produzidas entre 2015 e 2016. “O meu método de trabalho passa sempre por um projeto, por um desenho e às vezes por um protótipo a partir do qual construo a obra”, explica o artista.

 

Manfredo também está em cartaz no Paço Imperial, Centro, Rio de Janeriro, RJ, até 29 de maio, com a mostra “Paisagem ainda Que”. A exposição, com curadoria de Luiz Eduardo Meira de Vasconcellos, reúne 32 obras, distribuídas em quatro salas, com trabalhos produzidos pelo artista de 1976 até os dias de hoje. A primeira tem 13 pinturas, feitas em Paris, na década de 70, das quais algumas nunca foram expostas. Na segunda e terceira salas estão obras produzidas de 1980 a 2015 e, na quarta, são apresentadas documentações fotográficas de trabalhos com intervenções pictóricas na natureza. A série Na Mina de Caulim, produzida em Juiz de Fora, após sua volta de Paris recebeu o prêmio de melhor conjunto de obras no IV Salão Nacional da Funarte em 1980.

 

 

Em 1974, Manfredo já denunciava a destruição da paisagem em sua primeira exposição individual, “Memória das Coisas Que Ainda Existem”, em Belo Horizonte. Na época lançou também o adesivo com a inscrição “Olhe Bem As montanhas”. A mostra inspirou uma crônica de Carlos Drummond de Andrade, que mais tarde faria também um poema com este nome.

 

 

É na natureza também que Manfredo busca a matéria-prima para suas obras. O artista produz os pigmentos, tirados de minérios das Minas Gerais, responsáveis por seus únicos e incontestáveis tons de rosas, ocres, vermelhos, amarelos e cinzas. “Comemorar quatro décadas de trabalho tem sido muito interessante para mim. É uma oportunidade de revisitar o meu trabalho e preencher as lacunas deixadas”, diz.

 

 

O projeto “Manfredo de Souzanetto 40 anos de Arte” tem produção de Paulo Branquinho Escritório de Arte e coordenação geral da Galeria Patricia Costa.

 

 

 

Sobre o artista

 

Pintor, desenhista e escultor, Manfredo de Souzanetto começou a estudar desenho aos 16 anos. Em 1967, mudou-se para Belo Horizonte e ingressou na Escola Guignard em 1969. Estudou arquitetura na Universidade Federal de Minas Gerais de 1972 a 1975. Em 1975, expôs no 5° Salão de Arte Universitária, em Belo Horizonte, e recebeu como prêmio uma bolsa para estudar na França. Morou em Paris até 1979, onde frequentou a École Nationale Louis Lumière e a École Nationale Supérieure des Beaux Arts. Retornou ao Brasil em 1980 e reside no Rio de Janeiro. No ano seguinte, ingressou na Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro, onde concluiu o curso de gravura. Em 1985, foi contemplado com o prêmio de viagem ao exterior no 8° Salão Nacional de Artes Plásticas, promovido pela Fundação Nacional de Arte – Funarte, no Rio de Janeiro. Durante seis meses, entre 1999 e 2000, foi artista residente na École Nationale Supérieure d’Art Décoratif de Limoges-Aubusson, na França. Em sua carreira, já participou de mais de 50 exposições, entre elas a 12ª Bienal Internacional de São Paulo, na década de 70, coletivas no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro e no Museu de Arte Moderna de São Paulo, na década de 80, e individuais no Museu Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro, em 2010 e na Fundação Brasilea em Basel, Suíça, em 2013.

 

 

 

 

Planopinturas na SIM

15/mar

A SIM Galeria, Curitiba, Paraná, realiza exposição individual de nova série de trabalhos assinados por Tony Camargo. O artista recebeu texto de apresentação de Arthur do Carmo e a obras obedecem a titulação geral de “Planopinturas”, o mesmo título da mostra.

 

 

A Arquitetura Originária das Coisas

 

Como se constroem abrigos físicos para as ideias? Como tornar matérias invisíveis em algo palpável, sem se restringir à representação, mantendo suas complexas dinâmicas espaciais e temporais? O trabalho de Tony Camargo sempre envolveu a construção de aparelhos que de alguma maneira desvendam o funcionamento do mundo, apreendendo essas descobertas de real num espaço determinado, entre linhas e planos. O seu laboratório de fenômenos se constitui pelos próprios materiais e conceitos envolvidos. Ao lidar com a pintura, entretanto, surgem problemas incalculáveis, como criar um abrigo físico para a cor, em sua energética ambivalente de onda e partícula.

 

Seu trabalho nos mostra o quanto ainda somos primitivos, mesmo em nossos mais avançados processos tecnológicos. Os poucos elementos formais que temos à disposição são combinados infinitas vezes por projetistas, produzindo todas as coisas de nossa paisagem humana. Olhe ao redor: verá execuções de círculos ovais em maçanetas e sistemas de portas, quadrados, retângulos e suas metades triangulares nas paredes e nos telhados, distâncias formadas por linhas nas ruas, nos mapas e tantas outras formas que estruturam nossa sociedade. Diferentes materiais formando todos os sistemas artificias da vida. Por desbravar os interiores das máquinas, em seus funcionamentos e matérias, como tintas automotivas, conhecidas como laca nitrocelulose, além de verniz poliuretano e outras sobre pesadas chapas de MDF, Tony Camargo alcança um poder de síntese estrutural sobre os recursos que temos disponíveis, assim como já havia alcançado outras sínteses em trabalhos anteriores, reduzindo imagens de massa plenamente virtuais e midiáticas com suas Planopinturas Iconográficas.

 

As suas Novas Planopinturas operam por uma matemática sideral, paisagens formadas por elementos reduzidos a suas formas originárias de conceito – quadrados, retângulos, círculos, semicírculos ovais, indicativos de movimentos, obtendo um cálculo capaz de suspender o fenômeno pintura em pleno acontecimento. Tony faz uma redução do mundo, e põe seu funcionamento em estado de inércia, vibrátil e estático. As atmosferas conquistadas por esses trabalhos mantém um corpo que vibra sem cessar. Como se campos de cor ganhassem um corpo para se presentificar diante do nosso olhar. Ao invés de movimentos efêmeros, a cor tomada por um estado de inércia, permanente em seu movimento.

 

Arthur do Carmo, fev. 2016

 

 

De 16 de março a 30 de abril.

Hill House Residency

14/mar

A artista paulistana Thais Beltrame, desde pequena, desprezava o lápis de cor e rabiscava compulsivamente os livros de sua mãe com uma caneta bic. Hoje, a artista emprega a sutileza meticulosa do nanquim e aquarela para revelar uma atmosfera peculiar e melancólica, questões existenciais universais representadas de forma ácida, porém extremamente delicada, recriando todo o brilho, escuridão e descobrimentos de uma infância, também com temas de ansiedade adulta e memórias.  Seus desenhos, gravuras e instalações, referências de seu trabalho como ilustradora, trazem cenas de florestas, pequenas cidades ou ambientes domésticos, onde animais e pessoas parecem desempenhar um papel no desenrolar de uma história. Mas nos trabalhos da artista não há história precisa; os personagens parecem aguardar, em uma reflexão do que passou e em um momento de espera contemplativa por uma história que está por vir.

 

A ênfase em uma paleta de cores restrita, porém pensada, que permitem uma poesia única e minimalista, característica do trabalho de Thais Beltrame, ganha novas cores e formatos na mostra inédita que a artista apresenta na Galeria Movimento, Shopping Cassino Atlântico, Copacabana, Rio de Janeiro, RJ, com abertura marcada para o dia 31 de março. Pode-se dizer que a exposição “Primeiro as Florestas,” (assim mesmo, com uma vírgula no final) se coloca como um “antes e depois” na trajetória da artista. O fio condutor da mostra foi inspirado na experiência que Thais Beltrame passou no fim do ano passado na Hill House Residency, onde ela ficou por 15 dias sozinha em uma cabana na floresta, perto de East Jordan, Michigan. Tendo como companhia a natureza e os animais, que segundo a artista só apareceram mesmo no fim da viagem, Thais passou a usar muito mais as cores da aquarela nos trabalhos que estarão na mostra. Entre folhas e pinhos a artista, que levou consigo certas expectativas acerva de estar isolada no meio de uma floresta, teve a destruição desta idealização e percebeu que existe um grande abismo entre humanos e a natureza. O momento de imersão na floresta a levou aos desenhos de observação e experimentação com cores na aquarela. A série “amor fati” foi criada na floresta. Aceitar a vida pelo que ela é. Desenhou aquilo que via e que a rodeava, de certa forma um ambiente inóspito e hostil. Já as obras que contém dobras, sejam elas livros-sanfona, ou assemblages, foram criadas antes da experiência na floresta. São na sua maioria paisagens de montanha ou horizontes com a lua, que ironicamente não faziam parte da paisagem na qual ficou inserida. Tem também a terceira parte, os trabalhos feitos após a volta da floresta. Desenterrar a terra. São desenhos onde o vácuo está presente. Arrancar uma árvore é a única maneira pra se enxergar o céu.

 

A mostra que apresenta 30 trabalhos inéditos divide-se em antes, durante e depois de Hill House (Que tem como spot o papel, alguns sanfonados, ou em formato de livro de artista.  A maioria pequenos, com 60 por 80 cm, alguns mais compridos, de 1m, uma enorme variedade). As sensações como expectativa, romantismo, observação, fragilidade e descobrimento tomam conta das obras que resultaram nesta exposição.

 

Dentro da estrutura de narrativa de cada trabalho, um vasto repertório de temas como amor, beleza, raiva e solitude são sutilmente introduzidos e elaborados, dando peso à aparência exterior de simplicidade. Atrelado às animais como cavalos, corvos e besouros, que preenchem sua paisagem artística, estas âncoras emocionais salientam a densa capacidade de Thais para contar histórias e conectar os personagens e a vida que eles carregam de um trabalho para o outro.

 

 

Sobre a artista

 

Formada em Artes Plásticas no Columbia College Chicago, a artista vive e trabalha em São Paulo, seus trabalhos já foram expostos em galerias e feiras de arte internacionais na Inglaterra, Estados Unidos e Brasil. Foi publicada uma matéria de doze páginas na revista americana Juxtapoz Arts & Culture sobre a artista. Thais foi convidada a criar uma instalação colaborativa na ilha de St. Barths, no Caribe, e teve seu trabalho selecionado pela Canson para representar o Brasil em um concurso para artistas que trabalham em papel, posteriormente exposto no Petit Palais, Paris, França.

 

 

De 31 de março a 30 de abril.

Colorbars de Marcelo Catalano

As obras de Marcelo Catalano são convidativas e propõem um mergulho, uma imersão dentro das cores. Conhecido como grande colorista, e pelas famosas “colorbars”, de cores pensadas e racionalizadas para parecerem aleatórias e reflexivas, o trabalho do artista lembra a cidade que se assemelha ao seu sobrenome, a Catalunha, cenário de alta musicalidade e cor. Após um ano se dedicando à nova série que se destaca pela evolução da técnica e acabamento, além da chegada do prata e das cores fluorescentes, agora a ideia é propor  um mergulho intenso nos seus tons fortes e quentes. Catalano abre a mostra “Superfície” que acontece no dia 31 de março, na Tramas Galeria de Arte, Shopping Cassino Atlântico, Copacabana, Rio de Janeiro, RJ.

 

As 12 telas (pintura sobre tela) inéditas convidam o público para uma viagem sensorial e estética das barras coloridas, que extravasam e invadem as paredes da galeria como uma linha melódica de suas composições de cores personalizadas, transparecendo ritmicamente como as teclas de um piano como se fosse uma composição real de várias entonações , sendo que de cores ao invés de sons.

 

A exposição ganha também obras que contém a palavra e a figura, recentemente introduzidas para o repertório do pintor/colorista que sempre alimentou o fascínio pela Pop Art e também pelas artes gráficas. A mostra “Superfície” é marcada pelas investigações das possibilidades da pintura na abstração geométrica e o gosto do artista pelas superfícies planas de cores chapadas.

 

Para a curadora Clarisse Tarran, que assina a exposição, “Superfície” nos traz um conjunto de obras que se relacionam como peças em um jogo aberto de vetores. “Marcelo Catalano caminha de suas linhas ritmadas para planos variáveis em volumes inesperados. A partir da marca primordial de sua pintura, as colorbars, com sua vibração ótica do espectro de cores intensas ou até ácidas, o artista vai nos provocando com pinturas-quase-objetos que se projetam, sutilmente, em um desdobramento da segunda para a terceira dimensão, nos remetendo a espaços topológicos. Questões pictóricas que nos levam à pergunta pintada em uma de suas telas: Why not?”, finaliza.

 

 

 

Sobre o artista

 

Jornalista por formação, e músico nas horas vagas (o artista foi guitarrista de uma banda de rock na década de 80 e excursionou pelo Brasil com o Double You na década de 90), neto do grande ator Humberto Catalano, que participou de mais de 60 filmes, começando no início do cinema mudo, Marcelo se inspira em tudo o que tem ritmo e camadas, como a música, a moda e a literatura. Iniciou os estudos de artes em março de 1999 na Escola de Artes Visuais do Parque Lage sob a supervisão de Ronaldo do Rego Macedo, Anna Bella Geiger, Fernando Cocchiarale e Daniel Senise, onde permaneceu até o outono de 2002.  Neste mesmo ano, recebeu o prêmio Heineken Novos Talentos da Pintura no Museu da República, Rio de Janeiro. Realizou exposições individuais em lugares como a Casa de Arte e Cultura Julieta de Serpa e Centro Cultural Cândido Mendes (Rio de Janeiro), Artefacto (Miami), Esfera (São Paulo) e coletiva na Galeria A gentil Carioca, entre outros espaços. Seus trabalhos já estiveram presentes em feiras como a Pinta (NYC) e SP Arte e estão em coleções como a do Heineken Museum (Amsterdam).

 

 

Até 30 de abril.

Luisa Editore na Oscar Cruz

11/mar

A Galeria Oscar Cruz, Vila Nova Conceição, São Paulo, SP, apresenta a segunda exposição individual da artista chilena radicada em São Paulo, Luisa Editore. A mostra traz obras inéditas, incluindo pinturas e colagens, que reafirmam o interesse da artista pelos processos da fatura da pintura e das suas etapas de produção. Luis Editores tem desenvolvido nos últimos anos, uma linguagem baseada na aplicação de fita adesiva para demarcar a pintura, e o seu uso posterior em outros suportes, como cartões. Criando assim, uma espécie de sistema, onde todo material é aproveitado e aplicado.

 

Em “AllaBreve, instalação que dá nome à exposição, onze cartões são alinhados por uma paleta de tons de vermelho encontrados em cada cartão. Nesta operação, ela descreve o trajeto inverso da pintura, como se respondesse a questão: realinhar algo que foi desconstruído e buscar um fio de nexo nas obras.

 

O título da exposição funciona quase que por antítese, referindo-se mais ao campo da música e da matemática, do que ao seu significado literal (“à maneira de” – “com rapidez”) – que sugere um ritmo bastante rápido. Visto que na pintura a óleo, a fatura é lenta, longa, permanente, profunda.

 

Na série de aproximadamente doze pinturas de médio e pequenos formatos, em sua maioria, passa a pensar o espaço por justaposição de grades, com deslocamentos modulados pelas espessuras das fitas adesivas. Nestas telas notamos a clareza da matemática, dada pela repetição do eixo ortogonal, que preenche o campo da pintura. Enquanto em outras telas destaca os cortes e rupturas dos planos das grades, para obter prováveis espaços de aberturas, cantos e frestas de luz. Referências à Arquitetura e ao automatismo dos processos da própria pintura estão lançados.

 

Há de se destacar, que no percurso da exposição duas pinturas contém grandes percentuais de campos negros, chegando a 80% uma delas. Essas obras foram as primeiras que foram criadas para a exposição e demarcam um provável hiato. Nota-se a partir daí, um interesse peculiar no espaço da tela e da pintura. Além da representação de possíveis plantas de arquitetura ou cidades em vista aérea, o olhar estaria mais aproximado do espaço desejado, em direção a um caminho onde a própria linguagem torna-se mais clara. Como se na escuridão,encontrasse o mínimo de clarão para ancorar o exercício da pintura.

 

 

 

Até 29 de abril.

Segunda ocupação artística

09/mar

A artista visual Magrela é a convidada para esta segunda de ocupação artística, realizada pelo Instituto de Pesquisa e Memória Pretos Novos (IPN), Gamboa, Rio de Janeiro, RJ, com a curadoria de Marco Antonio Teobaldo, idealizador do projeto.

 

A partir de um vasto repertório que reflete os problemas sociais dos grandes centros urbanos, o trabalho da artista surge como um multifacetado discurso sobre a indiferença a todo tipo de violência, intolerância racial, religiosa e de gênero. Uma denúncia social de alto porte e impacto.

 

Destaque na última ArtRua, Magrela criará uma grande pintura mural diretamente sobre as paredes da galeria. O resultado poderá ser conferido a partir do dia 12 de março na Galeria Pretos Novos, a rua Pedro Ernesto, 32.

 

 

De 12 de março a 14 de maio.

Na Marcelo Guarnieri

A exposição coletiva apresentada na Galeria Marcelo Guarnieri, Jardins, São Paulo, SP, explora os aspectos encontrados na produção de artistas que tratam do gênero “Natureza-morta”. A mostra não se dedica a traçar um compêndio de artistas que trabalham ou trabalharam com o tema, mas em realizar um recorte específico dentro da produção de Ana Sario, Eleonore Koch, Flávia Ribeiro, Gabriela Machado, Iberê Camargo e Masao Yamamoto. Através da interseção de práticas diversas – pintura, desenho, escultura e fotografia – são exibidos alguns caminhos e interpretações a partir da tradição pictórica.

 

 

Sobre os artistas e a exposição

 
A exposição se inicia com Iberê Camargo (1914 – Restinga Seca, RS, Brasil / 1994 – Porto Alegre, RS, Brasil) e seu interesse por objetos prosaicos – carretéis e dados – que aparecem nas obras do artista como o elemento central, tudo gira em torno dessa busca em esgotar a imagem, de trazer para o plano a memória de infância e dar aos objetos um privilégio de existência.

 

No mesmo sentido, Eleonore Koch (1926 – Berlim, Alemanha) toma como assunto prosaicas estruturas contemplativas – vasos, flores, mesas, cadeiras – com as quais, a artista sacraliza tais narrativas, como bem aponta  Theon Spanudis em correspondência com a artista: “(…) Eleonore sacraliza os objetos de uso diário. Contra a nossa mania profana de usar tudo como objeto de imediato consumo, ela reganha para o simples objeto sua dimensão sacral. Os amplos espaços sensíveis (que não são os espaços vazios e mortos dos matemáticos e cientistas), fazem parte integral de sua intenção de ressacralizar o objeto perdido no fluxo constante do consumo mecânico. Uma secreta poesia emana dos seus coloridos, objetos, configurações estranhas e seus espaços amplos e humanos.”

 

Flávia Ribeiro (1954 – São Paulo, Brasil) apresenta esculturas da série “Campos de acontecimentos e aproximações”, onde objetos de madeira e de bronze banhados a ouro são dispostos em cima de mesas de gesso. Uma composição onde a ordenação se dá pelos conjuntos de materiais com pesos, formas e funções díspares, todo o conjunto se aproxima de um desenho concebido no espaço, quase como um campo lunar.

 

Ana Sario (1984 – São Paulo, Brasil) exibe uma série de pequenas pinturas a óleo produzidas nos últimos meses, a escala diminuta do trabalho aproxima o espectador da imagem. A artista retrata com pincelada espessa um universo prosaico e interiorano – pato, árvore, varal, casa – há um embate entre a sutileza da cena retratada e a matéria densa da tinta. As pinturas se apresentam como frames de uma cena panorâmica.

 

Gabriela Machado (1960 – Joinville, SC, Brasil) tem realizado nos últimos anos esculturas em porcelana que, paralelo a produção pictórica, tem exibido seu interesse pela natureza em outras formas de execução. Os mesmos elementos encontrados nas pinturas aparecem nas esculturas – cor, gesto, camada – e principalmente a curiosidade da artista pelas possibilidades do material.

 

Masao Yamamoto (1957 – Gamagori, Japão) tanto na série “A Box of Ku” quanto “Nakazora” coloca em primeiro plano o ordinário, que se revela em sua produção sempre como algo de extrema importância. A partir de um olhar não ocidental o artista capta o que escapa aos olhos, o que sempre esteve lá e nunca foi percebido – penas, pedras, pratos são retratados com sutileza e poesia.

 

 

Até 30 de março.

Visão Fontana no IBEU

02/mar

No dia 08 de março será inaugurada a exposição individual “Visão Fontana”, de Bruno Belo, artista selecionado através do edital do Programa de Exposições Ibeu. A mostra, que acontece na Galeria de Arte Ibeu, Copacabana, Rio de Janeiro, RJ, tem curadoria de Bruno Miguel.

 

Em “Visão Fontana”, Bruno Belo reúne um recorte da sua produção recente. A mostra apresenta trabalhos em tela e papel, em grandes e pequenas dimensões, executados com tinta a óleo, acrílica, aquarela e pó de grafite, todos inéditos. As obras apresentadas são o resultado de um trabalho desenvolvido a partir das inter-relações e reordenação de fragmentos de imagens, textos, apropriações, referências cinematográficas e da fotomontagem, expondo “camadas” da poética do artista.

 

A pintura se revela gradativamente em uma imagem pouco referencial. A ideia não é reproduzir o visível, mas entorná-lo neste meio pictórico, de cores lavadas, permitindo que imagens extraídas de fontes dessemelhantes possam se fundir em um processo de sobreposição de camadas e transparências.

 

“A construção do trabalho deriva da ideia de ‘Cut Up’, de W. S. Burroughs, e surge a partir de um processo de constantes projeções de imagens sobre a tela, utilizando um equipamentos antigo de 100mm, e também fotografias extraídas de fontes diversas, gerando assim novas possibilidades e construções ao processo de pintura. Isto revela uma convergência que não é unívoca, não reproduz verdades, mas produz sentidos. As imagens se confundem à essa pintura, na qual ambas não dariam conta da experiência a que se referem”, conta Bruno Belo.

 

Enxergar as coisas por igual “moda ave”, como dizia Manoel de Barros ao falar sobre visão fontana, se aproxima do trabalho do artista através das mudanças de percepção e desconstrução de significados – permitindo que fragmentos e partes se relacionem, mimetismos, contágio… Não é para ilustrar a experiência, mas revelar a nova substância. A “consciência descrita por círculos”, em que a imagem é um desdobramento de camadas – é de outra natureza.

 

“A pesquisa de Bruno é madura, tecnicamente impecável, conceitualmente firme e arriscada ao não tentar se enquadrar nas características mais óbvias de nossa geração”, descreve Bruno Miguel, curador da exposição.

 

 

Sobre o artista

 

Bruno Belo nasceu no Rio de Janeiro, RJ, 1983. Vive e trabalha em Petrópolis/RJ. Artista, graduado em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Santa Úrsula, teve sua formação artística através de cursos livres e pelo acompanhamento e orientação de Luiz Ernesto, João Magalhães, Anna Bella Geiger, Fernando Cocchiarale, Glória Ferreira, Bruno Miguel e Daniela Labra. Foi selecionado para os programas da EAV e do Governo do Estado – Aprofundamento 2011; e Projeto de Pesquisa 2012. Participou de exposições no Brasil e exterior, dentre elas: Bienal do Recôncavo (BA); Declaring Independence (Eric Fischl Gallery, Phoenix, USA); 45º Salão De Arte Contemporânea (Piracicaba,SP); 13º Salão Nacional De Arte (Jataí, GO).

 

De 08 de março a 08 de abril.

Elegia para Israel Pedrosa

23/fev

Mestre Pintor Israel Pedrosa, adeus.

Breve notícia sobre o sonho do sonhador.

por Jacob Klintowitz

 

 

Na sua última semana entre nós Israel Pedrosa e eu falamos várias vezes por telefone. No dia 5 de fevereiro, ele estava contente por ter terminado o seu monumental livro “Dez aulas magistrais. Genealogia da cor inexistente.” e a sua voz estava risonha. A distância nos permite imaginar e eu via a sua alegria. No dia 7.2, num domingo, Israel morreu.

 

A minha opinião sobre as “Dez aulas…”,  se transformou, a seu pedido, numa epígrafe do livro. Seremos quatro no frontispício: Dante, Petrarca, Marco Luchesi e eu. Como sempre, quando homenageamos a obra do Israel, somos nós os honrados, como foi neste caso, ao me colocar junto com estes três gigantes.

 

 

A minha epígrafe é a seguinte:

 

“Não conheço nenhum livro nos séculos vinte e vinte e um que seja capaz de educar a nossa sensibilidade tanto quanto este “Genealogia da Cor Inexistente”. Talvez por não desejar nos convencer de nada, mas apenas contar de seu extremo amor aos deuses da arte, este livro seja ainda mais eficaz e comovente. Israel Pedrosa pertence a esta família artística dos que ampliam a nossa percepção. Muito jovem percorri bibliotecas à procura da minha verdadeira identidade. É uma felicidade, já provecto, encontrar num só livro tão claro panorama de artistas iluminados capazes de elevar a nossa sensibilidade e nos tornar mais humanos.”

 

Eu sabia do extremo amor de Israel Pedrosa por Cândido Portinari, seu mestre e amigo. Para alegrá-lo eu escrevi também uma frase para abrir o capítulo dedicado a Portinari. A lealdade histórica para Israel Pedrosa era um princípio fundamental de vida. Aliás, para mim, também.

 

 

Epígrafe para “Portinari”.

 

“Eu o considero o marco afirmativo do nosso modernismo,  criador de uma obra monumental, autor da odisseia sobre a nossa vida e a nossa gente. Além disto, a qualidade estética de Portinari, a grandeza de seus temas, a ousadia de interpretação e a coragem de escolha de assuntos, com dificuldades infinitas, o caracterizam como um grande artista. “

 

“Portinari é o narrador de mitos, o nosso Homero. E na sua obra encontramos a imobilidade da tragédia, o tempo paradigmático do símbolo e a ausência da agitação do simples drama. Portinari é a tessitura que organiza e forma a base da arte brasileira, a marca da nossa maturidade, o ponto alfa, do qual podemos contemplar o nosso panorama.”

 

Israel Pedrosa  teve o sonho mais nobre que um artista pode ter; ele sonhou em pintar com a luz. E a sua vida foi a vivência desta vontade. A sua pesquisa sobre a cor e a refração da cor e a possibilidade de pintar também com a cor física, celebrada no livro “Da cor à cor inexistente”, é um momento nobre da arte no século vinte.  Pedrosa, pintor e professor, pintou e ensinou e a sua última aula levou 20 anos de preparo e é este “Dez aulas magistrais”.

 

Existem homens cuja vida é idêntica ao seu destino, a tal ponto que não podemos distinguir um do outro. Israel Pedrosa foi um destes raros. É impossível imaginar a vida de Israel Pedrosa sem a sua longa pesquisa sobre as cores e sobre o seu destino de acrescentar à sensibilidade da nossa época a poética do pintor: eu sou um pintor, disse Paul Klee. Israel Pedrosa poderia ter dito: eu sou um pintor que pinto a luz com a luz.

 

Durante os últimos vinte anos Israel Pedrosa estudou os métodos de pintar, “à maneira de”, dos seguintes artistas, que costumava chamar de “meus Deuses”: Leonardo da Vinci, Hieronymus Bosch, Vermeer de Delft, William Turner, Paul Cézanne, Vincent Van Gogh, Paul Klee, David Alfaro Siqueiros, Cândido Portinari, Jackson Pollock.  E durante este período escreveu e pintou a vida secreta, intima, destes artistas, para ele, Mestres Divinos. Ele nos contou e demonstrou como eles sentiam e como eles tornaram às suas intuições em obras primas.

 

Ao cabo de 20 anos, o último raio de sol de sua visão terminou com a última pincelada. Israel estava praticamente cego. Uma semana depois, eu acrescentei a minha opinião sobre este livro que acompanhei passo a passo, desde a ideia original, o primeiro desejo, até a sua finalização.

 

Na quarta feira, dia 4, ele me telefonou e disse que soubera tardiamente que o Octávio Araújo morrera. “Éramos quatro em Paris: Octávio, Gruber, Ventura e eu. Agora só resta eu e Ventura e ele está doente”. Ele me pediu que eu enviasse o texto que escrevi quando da morte do Octávio. Ele sabia que eu consideraria a grandeza do Octávio. Eu prometi e enviei o “Canto para Octávio Araújo”. Foi o último texto que o Israel Pedrosa leu, o relato da vida do seu velho amigo Octávio Araújo no que ela tinha de único escrito por este seu amigo de uma geração mais recente.

 

Não tenho vontade de dizer, como Simone de Beauvoir, no seu magnífico “A cerimônia do adeus”, quando da morte de Sartre: ”Sua morte nos separa. Minha morte não nos reunirá.”. Eu sinto que as pessoas significativas permanecem amalgamadas conosco, fazem parte indissolúvel do que somos.

Paisagem nas Américas

A exposição “Paisagem nas Américas: Pinturas da Terra do Fogo ao Ártico” entra em exibição na Pinacoteca do Estado de São Paulo, Luz, São Paulo, SP, neste final de mês. A mostra esteve recentemente em cartaz na Art Gallery of Ontario, em Toronto, Canadá, e no Crystal Bridges Museum of American Art, de Bentonville, nos EUA. Essa exposição nasceu de uma parceria inédita firmada em 2010 entre a Pinacoteca de São Paulo, a Art Gallery of Ontario e a Terra Foundation for American Art (Chicago, EUA) e trará ao Brasil obras de grandes artistas do continente americano, como os brasileiros Tarsila do Amaral e Pedro Américo, os americanos Frederic Church e Georgia O’Keeffe, os mexicanos José Maria Velasco e Gerardo Murillo, Dr. Atl, além dos canadenses Lawren Harris e David Milne, do venezuelano Armando Reverón, e dos uruguaios Pedro Figari e Torres-Garcia, entre outros.

 

 

De 27 de fevereiro a 29 de maio.