Primeira exibição individual no Rio de Janeiro.

24/jan

 

A exposição “Marcelo Silveira – Entre o mar, o rio e a pedra”, entra em exibição na galeria Nara Roesler, Ipanema, Rio de Janeiro. Marcelo Silveira é um  celebrado artista pernambucano que realiza sua primeira mostra individual na cidade.

Com mostras individuais em várias cidades brasileiras e no exterior, Marcelo Silveira tem participado de importantes exposições coletivas, como a 29ª Bienal Internacional de São Paulo, em 2010, duas edições da Bienal do Mercosul, em Porto Alegre (2015 e 2005), a  4ª Bienal de Valência, no Centro del Carmen, no Museo de Bellas Artes de Valencia, Espanha, em 2007, e o Panorama da Arte Brasileira – “Contraditório”, com curadoria de Moacir dos Anjos, aberto em outubro de 2007 no Museu de Arte Moderna de São Paulo, e que seguiu em fevereiro seguinte para a Sala Alcalá 31, em Madrid, e foi visitado pelo então Ministro Gilberto Gil, dentro da programação da ARCO 2008, quando o Brasil foi o país convidado. Atualmente Marcelo Silveira está presente na coletiva Fullgás – Artes Visuais e Anos 1980 no Brasil, no Centro Cultural Banco do Brasil Rio de Janeiro. Nara Roesler tem exposto o trabalho do artista nos últimos 25 anos, em seus espaços em São Paulo e em Nova York, e agora propicia sua primeira individual no Rio de Janeiro.

O artista consolidou sua trajetória ao longo de 40 anos como um dos grandes nomes da cena contemporânea. Mostrará esculturas em madeira cajacatinga pertencentes às séries “Bolofotes”, “Sementes” e “Peles”, além de obras da série “Cabeludas”, feitas com crina equina e aço inoxidável, e três obras da série “Hotel Solidão”, com colagens criadas a partir de capas e contracapas de edições brasileiras da revista “Grande Hotel”, que foram editadas entre 1947 e 1955. As obras foram selecionadas pelo artista em conjunto com o núcleo curatorial da Nara Roesler. O texto crítico é de Daniela Name, que fará uma visita guiada à exposição junto com o artista na abertura.

Em cartaz de 11 de fevereiro até 05 de abril.

Influências de produções intelectuais e artísticas.

21/jan

Vozes Negras: legados intelectuais e artísticos para a formação do Brasil, curso oficiado por José Rivair Macedo no Instituto Ling, Bairro Três Figueiras, Porto Alegre, RS.

Em que medida as criações literárias, artísticas e teóricas de personalidades negras oferecem novas contribuições para o entendimento da sociedade brasileira? Em três encontros, o curso se propõe a explorar, de maneira panorâmica, as trajetórias e as influências das produções intelectuais e artísticas de autores negros no Brasil a partir da metade do século XIX. O objetivo é descrever, examinar, interpretar e cotejar o rico e diversificado conjunto de obras escritas, visuais e sonoras, identificando seus temas recorrentes, conceitos estruturantes e a circulação de suas ideias em diferentes contextos históricos e sociais da história brasileira

Sobre o ministrante.

José Rivair Macedo é Doutor em História Social pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo – FFLCH-USP; professor de História da África no curso de História e no Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS; coordenador da Rede Multidisciplinar de Estudos Africanos do Instituto Latino-Americano de Estudos Avançados – ILEA; coordenador do Grupo Èkè Edé Yorubá: Estudos de História e Cultura Yorùbá na África, vinculado ao de Estudos Africanos, Afro-brasileiros e da Universidade Federal do Rio Grande do Sul – NEABI-UFRGS.

Carlito Carvalhosa em retrospectiva.

16/jan

Nesta primeira exposição retrospectiva da obra instalativa do artista Carlito Carvalhosa (1961-2021) no Sesc Pompeia, São Paulo, SP, as obras estão remontadas conforme o projeto original. Ocupando o galpão principal do espaço projetado por Lina Bo Bardi, foram selecionadas quatro obras que evocam os principais materiais utilizados pelo artista em suas instalações: postes de iluminação pública, lâmpadas fluorescentes, tecidos e gessos, além das ativações sonoras.

Curadoria de Luís Pérez-Oramas e Daniel Rangel, e curadoria adjunta de Lúcia Stumpf.

Até 9 de fevereiro.

Larissa de Souza Fé Feitiço.

06/jan

“A fé sempre foi um veículo para enfrentar as dificuldades da vida. Desde criança, eu me alimentava de fé nas pequenas coisas que me rodeavam: uma pedra bonita que encontrava no caminho logo se transformava em um amuleto de proteção. Mesmo sem ter a dimensão dos problemas sociais que me cercavam e que me marcaram desde a minha primeira infância, já sentia a necessidade de me sentir protegida espiritualmente, sobrenaturalmente… Acredito que nós, seres humanos, assim como fazemos parte da natureza e somos a natureza, também possuímos poderes transformadores por meio da fé. E a fé de que falo não se refere estritamente ao sentido religioso.

A magia popular, que chamamos de simpatias no Brasil, e tudo o que envolve esse preceito, é fascinante. O conceito místico dos símbolos, a intenção que depositamos, os saberes das ervas, as histórias de uma crença que permeia o imaginário de um povo e que se transmite por meio da oralidade são aspectos que me intrigam. Há um mistério no fato de não sabermos a raiz de onde tudo começou, mas acho interessante como esse conceito se distribui no imaginário coletivo, independentemente da religião. Isso me faz refletir sobre como esses saberes se perdem à medida que a modernidade avança.

Nesta exposição, quis retratar alguns saberes que aprendi na minha infância com os mais velhos, e também crenças que, já adulta, aprendi por meio da minha experiência em Angola, ouvindo pessoas e perguntando às tias que vendem ervas nas praças. O Brasil tem uma ligação muito forte com a cultura banto, que se misturou à cultura indígena brasileira. Vejo o quanto temos em comum, em termos de crenças populares. Dentro dessa produção, também navego no meu inconsciente, com algumas pinturas surrealistas que me fazem pensar que é no inconsciente que a fé também reside.”

Abertura, 28 de janeiro na Simões de Assis, Jardins, São Paulo.

 

 

 

 

Imagens quilombolas de Amanda Tropicana.

12/dez

A Fundação Pierre Verger, Salvador, Bahia, lança o catálogo da exposição fotográfica “Raízes”, de Amanda Tropicana, que apresenta imagens das comunidades quilombolas de Caetité, no sudoeste da Bahia. O catálogo, com 54 páginas, foi editado pela Fundação Pierre Verger e faz parte do projeto 16 Ensaios Baianos. Com a exposição “Raízes”, a artista buscou dar visibilidade ao cotidiano e à luta das comunidades de Lagoa do Mato, Vereda dos Cais e Sapé, localizados a cerca de 600 km de Salvador.

A exposição “Raízes”, que é a terceira edição da série, foi realizada em parceria com a Cáritas Brasileira Regional Nordeste 3 e também destaca a presença de lideranças femininas quilombolas. Nas edições anteriores, o projeto 16 Ensaios Baianos já trouxe os ensaios “Vaqueirama”, de Ricardo Prado, e “Herança do Pai”, de João Machado.

As fotografias de “Raízes” foram capturadas como parte de uma iniciativa para dar visibilidade às necessidades e à resistência destas comunidades. A venda das fotografias durante a exposição será revertida para as próprias comunidades fotografadas, deduzidos os valores de custo de impressão e as comunidades receberão exemplares do catálogo da exposição.

Além da exposição Amanda Tropicana expande seu portfólio com projetos que investigam as relações culturais entre a Bahia e os países africanos. Recentemente, ela desenvolveu o projeto “Foto-Diáspora: Moçambique”, pesquisa fotográfica que, por meio de várias imersões, examina as conexões culturais entre a Bahia e os países africanos envolvidos na diáspora forçada do século XIX. O projeto teve sua primeira circulação em Maputo e Ponta D’Ouro, em Moçambique, e passagens rápidas por Johanesburgo, na África do Sul. Em 2025, o projeto se expandirá para outros dois países africanos.

Exposição fotográfica Raízes, de Amanda Tropicana na Galeria da Fundação Pierre Verger, no Centro Histórico de Salvador.

COMUNICADO

10/mai

Diversas premiações

06/dez

A Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, RS, venceu duas categorias do Prêmio Açorianos de Artes Plásticas: Destaque Instituição e Destaque Publicações, com o catálogo “Magliani”. 

Realizado pela Coordenação de Artes Visuais da Secretaria Municipal de Cultura e Economia Criativa, a cerimônia ocorreu no Teatro Renascença. Também foram entregues os prêmios concedidos por parcerias. Carolina Grippa, curadora da exposição “Trama: Arte Têxtil no Rio Grande do Sul”, realizada em dezembro do ano passado pela Fundação Iberê Camargo e Ministério da Cultura/Governo Federal, com patrocínio da Petrobras, levou o prêmio de Jovem Curador(a), oferecido pela Aliança Francesa de Porto Alegre. Já Mauro Espíndola venceu o Prêmio de Residência Artística no Ateliê de Gravura, oferecido pela Fundação.

A Fundação Iberê Camargo tem o patrocínio do Grupo Gerdau, Itaú, Grupo Savar, Renner Coatings, Grupo GPS, Grupo IESA, CMPC, Savarauto Perto, Ventos do Sul, DLL Group, Lojas Pompéia e DLL Financial Solutions Partner; apoio da Renner, Dell Technologies, Pontal Shopping, Laghetto Hotéis, Coasa Auditoria, Syscom e Isend, e realização do Ministério da Cultura/ Governo Federal. 

 

The Speed of Grace

06/out

Nominada como “The Speed of Grace” é a exposição em cartaz com a curadoria de Larry Ossei-Mensah na Simões de Assis Galeria, Jardins, São Paulo, SP. Até 21 de outubro.

Sobre a exposição

“The Speed of Grace” é uma exposição coletiva que examina detalhadamente como os artistas visuais que representam o espectro da diáspora africana usam sua prática artística como uma plataforma para aprofundar e expor estruturas críticas que moldam a cultura contemporânea. Esses artistas produzem obras que revigoram caminhos inventivos de expressão cultural e provocam questionamentos, promovendo diversas formas de criatividade que utilizam materiais como fibras de palmeira, durags, sherpa, miçangas e papel de arroz para criar pinturas, esculturas e colagens que desafiam as definições convencionais de arte. Ao ampliar estas perspectivas afroatlânticas e ao dissipar estereótipos que muitas vezes rotularam injustamente os artistas negros (black and brown) como pouco sofisticados ou naifs, esta exposição presta homenagem à profundidade e complexidade da produção cultural proveniente da diáspora africana. Isto é especialmente digno de nota dados os esforços históricos para obscurecer as suas contribuições inestimáveis para a narrativa da história da arte.

“The Speed of Grace” aventura-se em um campo onde os artistas exploram a consciência coletiva da diáspora, filtrando as suas perspectivas por meio dos prismas do mito, folclore, história, imaginação e experiências pessoais. Cada artista apresentado nesta exposição incorpora o espírito de indivíduos que aproveitaram a sua arte para estabelecer uma contra-narrativa que abrange a autoconsciência, a intimidade e a desenvoltura. A construção deste conjunto de artistas situa a mostra como uma plataforma para pensar coletivamente sobre ideias pan-africanas e imaginar novos futuros encarnados e animados por vozes para aqueles que historicamente existiram à margem. Através da ação coletiva, as comunidades diaspóricas são empoderadas e podem exercer a sua influência para mudar o mundo. Os artistas apresentados em “The Speed of Grace” pensam como suas práticas podem desafiar estruturas de poder estabelecidas, questionar normas sociais e articular perspectivas diferenciadas, não-monolíticas e expansivas sobre as comunidades negras.

Ao oferecer à comunidade artística brasileira um encontro imersivo com uma diáspora artística africana mais ampla, a exposição tenta ampliar o sistema de raízes que sustenta o tecido da diáspora. Este esforço conectase apropriadamente com histórias de experiências negras e indígenas em várias diásporas, ressoando com as identidades multifacetadas dos visitantes, ao mesmo tempo que destaca as camadas compartilhadas que unem a sociedade humana. “The Speed of Grace” apresenta artistas da diáspora, locais e internacionais, que exalam engenhosidade criativa em sua prática. A exposição é ancorada por um ilustre grupo de artistas brasileiros como Larissa de Souza, Zéh Palito, Mestre Didi e Emanoel Araujo, que, por meio de suas práticas, ajudaram cuidadosamente a dar forma à exposição, criando macro e micro conversas entre as obras. Por exemplo, a justaposição de “Oxumaré (2022)”, de Emanoel Araújo, e “The 400 Colors of A Pearl/Los 400 Colores de Una Perla (2023)”, de Bony Ramirez, instiga um discurso convincente sobre o queer, a cor, a natureza e o misticismo ao lançar mão de abstração geométrica e realismo mágico, respectivamente. Esses momentos, salpicados ao longo da exposição, motivam o espectador a desenvolver vínculos estéticos e conceituais com os trabalhos apresentados, cultivando uma experiência profundamente pessoal e reflexiva.

Coletivamente, estes artistas redefinem fronteiras e dissipam estereótipos, criando uma mostra que convida os espectadores a mergulhar nas narrativas multifacetadas da diáspora africana. As suas criações transcendem as limitações geográficas, promovendo conexões através da criatividade partilhada, da resiliência e do compromisso de remodelar os diálogos culturais. “The Speed of Grace” prova o poder da arte para unificar, inspirar e transformar. “Grace” (Graça) encapsula a realeza, elegância e autoconfiança inerentes às identidades dessas comunidades. Apesar dos esforços históricos para apagá-los, a sua proeminência perdura e prospera. Suas criações funcionam como mais do que meros exemplos: são pontes que atravessam divisões culturais e ligam cantos díspares do globo. Estes artistas preenchem a lacuna entre os continentes por meio da criatividade partilhada, dando origem a uma linguagem visual poderosa que transcende as barreiras linguísticas e ressoa universalmente. As suas obras, nascidas de uma resiliência inabalável e de uma determinação inabalável de desafiar as convenções, são meios que canalizam a vibração e a tenacidade da diáspora.

Nas pinceladas, costuras e esculturas, uma força dinâmica une o passado e o presente, apagando as fronteiras que antes separavam culturas e gerações. Alimentados por um compromisso inato de remodelar os diálogos culturais, estes artistas construíram uma exposição que mostra os seus talentos artísticos e encoraja os espectadores a envolveremse com diversas experiências e narrativas. À medida que o público entra neste mundo imersivo de criatividade, é convidado a participar de uma conversa global para refletir sobre as lutas partilhadas, os triunfos e o legado duradouro da diáspora africana. Em essência, “The Speed of Grace” surge como o epítome do potencial transformador inerente à arte, um testemunho da capacidade da criatividade para transpor lacunas, desafiar normas e cultivar mudanças duradouras.

Larry Ossei-Mensah

Artistas participantes

Amoako Boafo | Anthony Akinbola | April Bey, Bony Ramirez | Deborah Roberts | Derrick Adams, Emanoel Araujo | Hank Willis Thomas, Larissa de Souza | Ludovic Nkoth | Mestre Didi, Serge Attukwei Clottey | Tunji Adeniyi-Jones, Zandile Tshabalala | Zéh Palito.

Suassuna, Brennand, Samico e dos Santos

03/out

A BASE, de Daniel Maranhão, Jardim Paulista, abre a exposição “Ressonância Armorial” com Ariano Suassuna, Francisco Brennand, Gilvan Samico e Miguel dos Santos, texto crítico de Denise Mattar e 30 obras entre pinturas, esculturas e objetos dos quatro artistas mais representativos no Movimento Armorial, uma iniciativa artística cujo objetivo seria criar uma arte erudita a partir de elementos da cultura popular do Nordeste brasileiro que buscava convergir e orientar todas as formas de expressões artísticas: música, dança, literatura, artes plásticas, teatro, cinema, arquitetura, etc. A abertura é no dia 07 de outubro, ficando em cartaz até 11 de novembro.

Em um primeiro momento, em 2020, Daniel Maranhão inseriu o Movimento Armorial, em seu segmento de artes plásticas, no cenário cultural paulistano com a exposição “Samico e Suassuna – Lunário Perpétuo”, que marcou a reinauguração da BASE pós-pandemia, agora, com “Ressonância Armorial”, amplia o número de artistas que trabalharam os mesmos conceitos.

As “iluminogravuras” – termo criado pela junção das palavras iluminura e gravura, de Ariano Suassuna, retornam à galeria acompanhadas de publicações, raros LPs do “Quarteto Armorial”, do múltiplo artista Antônio Nóbrega, e trechos do longa metragem “Auto da Compadecida” dirigido pelo pernambucano Guel Arraes. Suassuna, idealizador do Movimento Armorial, nos anos 1970, assim o conceitua: “A Arte Armorial Brasileira é aquela que tem como traço comum principal a ligação com o espírito mágico dos “folhetos” do Romanceiro Popular do Nordeste (Literatura de Cordel), com a Música de viola, rabeca ou pífano que acompanha seus “cantares”, e com a xilogravura que ilustra suas capas, assim como com o espírito e a forma das artes e espetáculos populares, com esse mesmo Romanceiro, relacionados”.

Miguel dos Santos, que aos 79 anos figura como único integrante vivo do Movimento Armorial e que, atualmente, está no foco dos grandes colecionadores e instituições nacionais e internacionais, é apresentado de forma inédita na BASE. Como define Daniel Maranhão, “não há como se falar em Movimento Armorial, sem citar Miguel, um dos principais participantes.(…) É sabido que cada artista tem sua fase, ou época, mais prestigiosa; e, no caso de Miguel, são as décadas de 1970 e 1980 as mais importantes, de onde serão apresentadas oito obras, todas em óleo sobre tela, sendo que seis delas da década de 1970 e duas, em grande formato, da década de 1980, adquiridas ao longo de anos”. Sobre seu trabalho, Denise Mattar pontua: “Incorporando vestígios do passado e referências a deuses ancestrais, seu trabalho, personalíssimo, envereda pelo realismo mágico.”

Gilvan Samico possui obras inspiradas no Cordel desde os anos de 1960 o que o qualifica como um dos precursores do Movimento Armorial. “O virtuosismo técnico na arte da xilogravura, aliado ao imaginário das fantásticas histórias do Romanceiro Popular do Nordeste, apresentadas de forma hierática, quase sagrada, em “soberana simplicidade”, tornaram a obra de Samico a mais plena concretização das ideias armoriais – uma união perfeita de erudito e popular”, como define Denise Mattar. Dentre as xilogravuras, destacam-se: “Dama com Luvas” (1959) e “Suzana no Banho” (1966) (acervo do MoMA, NY), com tiragem limitada (20 exemplares).

Internacionalmente reconhecido como pintor e ceramista, Francisco Brennand exibe esculturas de grande porte e peças em cerâmica – painéis e placas – da década de 1960, “que evocam o mundo telúrico, sensual e provocador, característico de toda a sua produção”, segundo Denise Mattar.

“A reunião desses quatro artistas, na Galeria BASE, evidencia a ressonância do Movimento Armorial, potencializando seu resultado mágico e contestador, que remete às raízes profundas de nosso país.”  Denise Mattar

Renata Tassinari expõe na Mul.ti.plo

04/jul

Renata Tassinari expõe na Mul.ti.plo Espaço de Arte, Leblon, Rio de Janeiro, RJ, pinturas sobre o acrílico transparente, em formatos variados e tridimensionais. Como novidade, ela usa também acrílico espelhado, resultando em obras de muita luminosidade, gráficas e coloridas. A mostra, denominada “Construções planares”, ganhou texto crítico de Paulo Venancio Filho. A abertura fez parte do Quinta das Artes na Dias Ferreira, quando mais duas galerias (Lurixs e Quadra) abrem mostras na mesma rua, dia e horário, um circuito de exposições para ser percorrido a pé. A exposição traz ao Rio a obra da artista paulistana reconhecida pelo virtuosismo no uso da cor, apresentando suas inusitadas pinturas sobre acrílico que, antes utilizado como moldura, ganha status de tela. Obras de cores luminosas, inclusive espelhadas, que parecem se desprender do suporte, ganhando materialidade e solidez, ficando em cartaz até 18 de agosto.

Renata apresenta uma série de 12 pinturas sobre acrílico transparente. A novidade fica por conta da combinação com o acrílico espelhado, material incorporado recentemente à sua produção, resultando num conjunto de obras de surpreendente beleza e luminosidade. Em formatos tridimensionais inusitados, as pinturas de Renata ganham ares de objeto, num jogo de percepção entre o industrial e o manufaturado.

O fundamento do trabalho de Renata Tassinari é a cor. Sua paleta tem cores únicas, preparadas por ela mesma, a partir de misturas. “As cores são usadas levando em conta qualidades como transparência, opacidade, reflexos, texturas, num uso calculado e variado de experiências visuais. Esse domínio também se manifesta na escolha dos materiais – madeira, acrílico, espelho -, que se incorporam à pintura”, explica Paulo Venancio, professor titular do Departamento de História e Teoria da Arte da Escola de Belas Artes da UFRJ. Com a combinação virtuosa desses elementos, as cores de Renata Tassinari parecem se desprender do suporte, ganhando materialidade.

Uma particularidade do trabalho de Renata, que pode ser conferida nessa exposição da Mul.ti.plo, é a pintura sobre o acrílico. Antes utilizado como moldura, a artista decide incorporar o material à sua obra, conferindo-lhe o status de suporte. Sobre ele, pela frente ou por trás, a artista aplica generosas camadas de tinta óleo ou acrílica. O resultado são cores ainda mais pulsantes e um acabamento mais limpo e sintético. “Depois de pronto, o trabalho pode até ter certa identidade industrial, mas na verdade é profundamente artesanal. São obras de imensa qualidade, que instigam o olhar, nos convidando a escapar de um mundo contaminado pelo excesso de imagens. A obra de Renata nos convoca a reagir a essa atrofia da percepção”, reflete Maneco Müller, sócio da Mul.ti.plo.

No trabalho singular de Tassinari destaca-se também a sua capacidade de espacialização. Suas obras têm geometrias variadas, como formas de L ou U. É o caso de Vermelho Dois L (235 x 200 cm). Algumas são criadas a partir da combinação de elementos diferentes, como Padaria III (40 x 120 cm). As bordas, inclusive, podem ser pintadas, como em Mata II (40 x 120 cm). “Entre as obras há também os múltiplos Leblon, criados especialmente para essa exposição, formados por 3 cores, que funcionam tanto na vertical como na horizontal”, conta a artista. “Outra novidade da pintura de Renata são os formatos alongados, fora de qualquer convenção pictórica”, como em Marola-Narciso (194 x 350 x 5 cm). O título da mostra pretende revelar o caráter planar de uma pintura que se constrói como objeto tridimensional. “A pintura de Renata é uma construção, feita de elementos separados em geral, que ela junta como se fossem objetos. É uma pintura tridimensional, construída como se fosse um objeto”, explica Paulo Venancio.

Extremamente prestigiada entre críticos, curadores e seus pares, Renata Tassinari iniciou sua carreira há mais de 30 anos. Sua primeira exposição foi em 1985, no Museu de Arte Moderna de São Paulo. “Ela poderia ser enquadrada na turma da Geração 80, mas sua pintura é diferente do que se fazia na época, abstrata. Assim como é diferente também da pintura atual, de algumas décadas para cá. São muitas sutilezas que, combinadas, fazem do trabalho dela uma obra única”, conclui Paulo Venâncio. A última mostra individual da artista no Rio foi em 2018, na galeria Lurixs. Antes, ela expôs no Paço Imperial, em 2015.

Sobre a artista

Renata Tassinari nasceu em São Paulo, SP, 1958. Formou-se em Artes Plásticas na Fundação Armando Álvares Penteado, FAAP, em 1980. Paralelamente, estudou desenho e pintura no ateliê dos artistas Carlos Alberto Fajardo e Dudi Maia Rosa. Nos anos 1980, realizou estampas com motivos indígenas para a Arte Nativa Aplicada-ANA. Nos últimos anos, a pintura de Renata Tassinari transformou-se em um campo fértil de pesquisas e inovações. O quadro deixou de ser um elemento neutro e passou a fazer parte da estrutura da obra. A artista pinta sobre uma superfície de acrílico, que, numa abordagem mais tradicional, seria parte do enquadramento de uma obra. Ao mesmo tempo, deixa a moldura de certas seções da obra cobrir apenas um papel em branco. Onde deveria haver a transparência do acrílico protetor de uma folha de desenho, passa a haver pintura e, inversamente, onde a folha de papel se deixa ver, há apenas o branco do papel que assim se transforma em cor. De início, os procedimentos acima se desdobravam em séries que alternavam as cores acrescentadas sobre o acrílico e o branco emoldurado das folhas de desenho. Com o tempo, ela passa a tratar partes do quadro como coisas, também outras coisas poderiam ser elementos das obras. Madeiras de diferentes colorações e ranhuras, e a inversão do avesso de uma moldura de acrílico, têm sido a prática mais recorrente. A cor sempre foi um elemento fundamental na obra da artista. Colocar cores num quadro e pelo quadro habitar o mundo com cores, essa é uma breve descrição do que ela sempre buscou. Entre o mundo e o quadro – ao tratar partes da obra também como coisas do mundo, como coisas palpáveis – agora surgem relações mais próximas, e percebemos um trinômio obra/cor/mundo sempre insinuando-se em seu trabalho.