- Acará / Pará / Brasil. 05/09/2017. Foto: Octavio Cardoso.
A FGV Arte, Botafogo, Rio de Janeiro, RJ, inaugurou a exposição “Adiar o fim do mundo”, com curadoria de Paulo Herkenhoff e Ailton Krenak, pensador indígena, escritor e ativista ambiental, membro da Academia Brasileira de Letras e uma das vozes mais influentes do pensamento contracolonial contemporâneo. Coincidindo com o período da COP 30, a mostra articula arte, ecologia e filosofia em torno de um enunciado que é, ao mesmo tempo, uma advertência e um convite: adiar o fim do mundo é reinventar o presente.
Inspirada na produção e no pensamento de Ailton Krenak, a exposição reúne mais de 100 obras de diferentes períodos e contextos culturais, com técnicas e suportes que abordam as urgências da crise ambiental, o legado do colonialismo, o racismo estrutural e os modos de resistência dos povos originários e das comunidades tradicionais. Mais do que uma metáfora, “Adiar o fim do mundo” é uma proposição estética e política que entende a arte como instrumento de reencantamento do mundo e de reconstrução das relações entre humanos e natureza. “Não se trata de uma exposição sobre o fim, mas sobre a continuidade da vida”, afirma Paulo Herkenhoff. “A arte aqui é compreendida como um território de insurgência e imaginação, capaz de propor novas alianças entre corpo, natureza e espírito. O diálogo com Krenak nos convida a repensar o lugar da arte dentro de uma ecologia da existência.”. “Enquanto insistirmos em olhar o planeta como um objeto a ser explorado, seguiremos acelerando o colapso. A arte, ao contrário, nos chama a ouvir a Terra e a reconhecer que ela também sonha, sente e fala.”
Entre os nomes reunidos pelos curadores estão Adriana Varejão, Alberto da Veiga Guignard, Aluísio Carvão, Anna Maria Maiolino, Ayrson Heráclito, Berna Reale, Camille Kachani, Cildo Meireles, Claudia Andujar, Evandro Teixeira, Hélio Oiticica, Ivan Grillo, Jaider Esbell, Jaime Lauriano, Marcos Chaves, Nádia Taquary, Niura Bellavinha, pajé Manoel Vandique Kaxinawá Dua Buse, Rodrigo Braga, Sandra Cinto, Sebastião Salgado, Siron Franco, Thiago Martins de Melo, Tunga e muitos outros. A coletiva inclui também 11 obras comissionadas, concebidas especialmente para a mostra, dos artistas Cabelo, Cristiano Lenhardt, Daniel Murgel, Ernesto Neto, Hugo França, Keyla Sobral, Rosana Palazyan, Rodrigo Bueno, Souza Hilo e do coletivo de artistas indígenas Apinajé.
O projeto ocupa todos os espaços da FGV Arte – instalações e jardins comissionados na esplanada e nos pilotis, além de obras na galeria principal -, estabelecendo um percurso imersivo em diálogo com a arquitetura modernista e o entorno da cidade. A exposição se amplia com ações educativas, oficinas e programas públicos que refletem a dimensão formativa e comunitária do projeto. Para Paulo Herkenhoff, o encontro entre arte contemporânea e pensamento indígena é um gesto de deslocamento epistemológico. “A modernidade ocidental construiu a ideia de humanidade como centro do mundo. Essa exposição propõe um deslocamento: o humano volta a ser parte de um ecossistema simbólico e espiritual”, reflete o curador.
Paulo Krenak conclui com um alerta poético e provocador: “Precisamos inverter o discurso da sustentabilidade, abrir fendas na lógica. Se o pensamento racional não dá conta de salvar o planeta, talvez o gesto poético possa”. Assim, “Adiar o fim do mundo” afirma-se como um manifesto visual pela vida em tempos de crise, em que a arte atua como linguagem de resistência, gesto de esperança e convocação ao cuidado com a Terra – organismo vivo, casa comum e horizonte possível.
A mostra permanecerá em cartaz até 21 de março 2026.
