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AGENDA CULTURAL

Esculturas de Leandro Gabriel

O livro “Leandro Gabriel. Esculturas”, edição do autor e patrocínio Vallourec, projeto gráfico Clara Gontijo, foi lançado no final de 2015. E o crítico de arte Jacob Klintowitz escreveu um texto especialmente para esta edição.

 

Depoimento de Jacob Klintowitz

 

Há muito eu acredito que o maior mistério não é a morte ou o nascimento, ainda que impactantes. Penso, como Oscar Wilde, que o maior mistério do nosso planeta é a existência do amor. Tenha o amor o nome que tiver – maternal, paternal, misericórdia, caridade, amizade, filial, terreno, sagrado, profano – ele é feito de transcendência e empatia e isto escapa das justificativas da evolução das espécies ou do materialismo histórico. Pessoalmente considero sagrado o amor, o único sentimento que nos permite a intuição do cosmos. Este texto, a seguir, que escrevi sobre a obra de Leandro Gabriel é significativo para mim, pois é a primeira vez que junto estes dois conceitos: o do amor agregador e o do processo criativo capaz de gerar a forma. O artista repete em si o mito ancestral da criação do mundo: ele converte a matéria inerte (o caos) em forma (o cosmos). De repente habitou em mim a certeza de que o gesto criador é um ato amoroso.

 

É um livro antológico com vários textos de críticos de arte, artistas e jornalistas. Eu escrevi o meu texto especialmente para esta edição sem saber quais seriam os meus companheiros de jornada e fiquei feliz ao verificar a alta qualidade da companhia e ter nela alguns amigos diletos: Angela Ancora de Luz, Carlos Perktold, Luis Sérgio de Oliveira, Marcus Lontra, Miguel Gontijo, Paulo Laender, Sérgio Vaz e Tatiana Lima da Silva.

 

 

Leandro Gabriel.

 

A primeira vez.

por Jacob Klintowitz

 

É possível que estas formas inusitadas e originais nos lembrem do vocabulário mecânico e industrial da nossa época. Há nelas alguma coisa de construído, de encaixe, a aparência de conexões, o tom terroso e uniforme que costuma assumir o que é eminentemente prático e objetivo. Mas esta percepção é desmentida porque estas formas resultam inobjetivas, elas não produzem nada e também não são condutos a ligar à fonte ao consumo.

 

Quem sabe estas formas nos remetam à natureza, já que podem tão facilmente serem associadas às árvores e, em conjunto, a pequenos bosques? Contudo, falta certa simetria e a emergente pulsação que até o mais severo dos cactos possui.

 

E, no entanto, estas formas criadas pelo escultor Leandro Gabriel, além da extrema sedução de sua aparência que induz às associações imagéticas, se impõe por sua inteireza, por estar em si mesmo e não conexa com formas históricas, e por existir pela primeira vez. O prazer que ela provoca durante a contemplação se deve à surpresa que o olhar encontra e ao lúdico desejo de decifração. A relação imediata é de acréscimo e, portanto, de verdadeira comunicação, aquela que acrescenta ao receptor enriquecimento do seu repertório.

 

Já não é necessário ao artista referenciar diretamente ao conhecido. É evidente que o conhecido não é sinônimo de existente. E o que em certo momento foi chamado de arte não objetiva não tem mais sentido se compararmos a expressão  puramente emocional com a fotografia do macro e do micro. Cósmica ou partícula, o seu registro visual foi antecipado pela arte. O que Leandro Gabriel faz é tornar forma as suas sensações e intuições ainda não contaminadas por uma civilização que incessantemente produz formas consumíveis.

 

Leandro Gabriel pertence à família artística que concebe formas originais porque aquém da sua personalidade social. É uma tribo rara, mas que tem o seu direito à existência graças ao habeas corpus preventivo inventado pelo século vinte europeu.

 

A humanidade se defronta com dois mistérios. O primeiro é a capacidade de inventar seres, entidades com vida própria, de origem razoavelmente desconhecida, que nos abrem o horizonte para uma realidade última e alargam o nosso conceito de real. Estes seres tem o nome de formas e estão abrigados numa vaga entidade conceitual chamada arte. O segundo mistério é o amor, mais significativo do que o nascimento e a morte. No campo da arte, dos artistas e da criação de formas, estes dois mistérios, a invenção e o amor, podem andar juntos. É o caso do escultor Leandro Gabriel.

 

 

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